Continuando minha maratona do famoso estúdio japonês, ainda na fase pré-ghibli, assisti a esse projeto do lendário diretor Isao Takahata. Uma obra muito curiosa e pessoal.
A história é uma fábula, inclusive divida em três encontros do personagem com animais falantes. Mas o tom é de um ''slice of life'', uma visão íntima de um violoncelista tentando entender sua relação com a música.
Tem algumas boas cenas, como a inicial que me lembrou muito Whiplash. Mas o ritmo mais cadenciado se torna monótono, e algum esforço para tornar a obra contemplativa acaba não sendo eficaz.
É uma ''típica'' obra de um diretor ainda se descobrindo. Muitas ideias dispersas e uma indefinição do tom da obra. Ainda assim, muito interessante, recheada de boa música e com um visual que destaca texturas semelhantes a algumas obras de arte.
Quarto filme da fase pré-ghibli, e o melhor trabalho na direção até então do Isao Takahata.
Um história bem definida, personagens com relações complexas e referências ao cinema faroeste e de gangues. Uma baita surpresa de um filme que eu não esperava absolutamente nada.
O que me impediu de gostar mais foi a distância entre as as tramas, parecia em certo ponto que eu estava vendo duas histórias sem conexão: Chie e sua família e a vingança dos Gatos de Bolas. Ambos bons arcos, mas pouco se comunicam.
Primeiro longa da carreira do gênio Miyazaki. O diretor já era conhecido desse universo do Lupin III, dirigindo a série de TV, e também já tinha experiências com roteiro de longas junto ao Takahata.
Uma aventura divertida, despretensiosa e acima de tudo bem conduzida. As cenas de investigação são bem elaboradas e a ação é galhofa e cativante. A trama recheada de reviravoltas e conspirações me deixaram interessado a todo momento. Animação fluida, com traços que estão entre o ''cartoonesco' e o realista, combinam com a trama absurdista. O nosso ''anti-heroi'' é carismático e rapidamente compramos suas ideias e seus objetivos
O melhor filme da chamada era ''pré-Ghibli'' até agora...
Ainda na fase ''Pré-Ghibli'', temos uma história interessante, cheia de personagens interessantes num universo pequeno, porém cheio complexidades.
Muita ação (prejudicada pelas escolhas ruins do diretor) que apresenta elementos fantásticos muito bonitos e cativantes, como os espectros de lobo e as criaturas no geral. A vila é bem genérica, e os campos de batalhas são sem vida.
A segunda parte do filme é mais interessante, pois parece haver alguma continuidade na história. A primeira metade é muito mal desenvolvida, parecia que estava vendo um ''recap'' de tão apressado que estava. Com isso, personagens e conceitos vão sendo inserido sem nenhuma sutileza, deixando o filme confuso e entediante.
É o primeiro filme do genial diretor Takahata, e apontado por muitos como o primeiro precursor do Ghibli, e nota-se vários elementos do famoso estúdio presentes desde já.
Tirando o vale da estranheza que aparece de vez em sempre nessa animação, com os rostos dos personagens (principalmente das formigas) eu fiquei bem impressionado com a história.
Lembro que quando criança eu não curtia esse filme, mas depois de velho... Acho que aproveitei mais. Uma colônia de formigas altamente militarizada e com pouca mobilidade entre classes deixa nascer dentro de si um levante fascista, com requintes nazistas.
Um filme que fala sobre a revolta da classe operária, a desigualdade de classes, a manipulação de massas, individualismo x coletivismo, utopia... e o roteiro é muito perspicaz em encaixar isso de forma a não se perder. A história do Z conduz essa trama, e os arcos dos personagens secundários expande a ideia inicial, e apresenta diversas perspectivas dentro da colônia.
O final é um pouco apressado, e de forma simplista, usando a ação, para resolver um conflito de complexidade considerável. Ainda assim, um ótimo filme que mostra a capacidade de uma animação passar mensagens adultas e afastar de vez o preconceito de que são produções infantis.
Um destaque ainda é o elenco desse filme: Sensacional.
Tem uma evolução muito grande no gráfico da Dream Works, e não só isso, a sequência consegue não repetir a história e expandir o universo da animação.
Ri em várias partes, com piadas pontualmente bem colocadas, não existe aquela piada pra quebrar o ritmo, está tudo muito encaixado na história. Além disso, está lotado de referências ao cinema, música e literatura, mescla a história de fábula medieval com a sociedade atual (anos 2000), principalmente com Hollywood. E novamente está lotado de críticas aos estereótipos de beleza e a conceitos estabelecidos das histórias de contos de fada.
Um daqueles filmes bizarros, como Antiviral (2012) e Possessor (2020), onde o Body Horror é usado de uma forma inédita pra mim. Uma ideia tão insana como um episódio de The Twilight Zone psicodélico, ultraviolento e grotesco.
O elemento de ficção científica é usado de uma forma totalmente inesperada, e só de comentar sobre acredito que seja um spoiler. Em linhas gerais, é sobre como nos ''tornamos outra pessoa'' ao passar por um trauma, e vemos o nosso ''antigo eu'' morrer. Também fala muito sobre como pessoas ricas alopram e fazem de países subdesenvolvidos o seu quintal pessoal, passando por cima de leis nacionais por conta de sua influência e corrupção política.
O bizarro é como uma bola de neve nesse filme, até se transformar em algo grotesco. É sujo, instigante e me prendeu a atenção pelas quase duas horas. Uma experiência muito interessante.
Conseguem trazer uma história excelente e pouco conhecida, com um elenco super talentoso e a maravilhosa Viola, e cobrem e tapam a maioria das coisas com conveniências, coincidências e os mais variados clichês de filmes de ação. Pra fechar o pacotão de filme de ação americano comum, tem que ter um brasileiro com o sotaque mais falso do mundo.
Cinema é uma arte, que por incrível que pareça, é subjetiva. Por mais que a maioria dos fascinados pela arte gostem e consumam histórias no padrão mais clássico, ainda sobra muito espaço para experimentos e tentativas de formatos ousados, inéditos e estranhos.
Há filmes que por mais que você tente assistir não vão te agradar, por que suas expectativas sobre um filme estão pautadas em sua experiência pessoal, e no conceito que cada um tem sobre como a arte deve ser realizada. Digo isso sobre mim mesmo. E é muito bom, vez ou outra, se entregar a um projeto como Skinamarink.
Assistindo de fones de ouvido e luzes apagadas, como tento sempre fazer com filmes de terror em casa, me deixei levar por uma das melhores experiências com o medo que já tive. Recordei várias sensações que tive com A Bruxa, O Bebê de Rosemary, as várias visitas a O Exorcista, e de 20 anos atrás quando assisti a Bruxa de Blair sem saber nada.
Skinamarink não é perfeito, já adianto, considero o final descompassado com o restante do ritmo do filme e pode ser que demore um pouco a ter aquela sensação de que está imerso no filme, talvez pela estranha escolha de não mostrar os personagens. Porém, o que me marca no cinema não são os filmes perfeitos, mas os sentimentos e sensações que cada obra e história desperta e marca em mim.
A primeira ponte de identificação com o filme é o contexto de infância em meados nos anos 90, e todos os elementos dessa época, a TV de tubo pequena com imagem chuviscando, os brinquedos espalhados pelo chão, de se ter um irmão e o medo do escuro.
Hoje nem mais sabemos como é o escuro daquela época propriamente, digo isso novamente por mim mesmo, rodeados de telas acesas o tempo inteiro (Você assiste filmes com um celular ligado na mão?). A maioria dos filmes simula a escuridão como uma tela preta ao fundo, quando na verdade não é bem assim. E como esse filme simula isso muito bem com a imagem granulada, dando densidade à escuridão, quase como se pudéssemos arrastá-la pelo ar como uma fumaça. O escuro engana nossa visão, entrega formas disformes para os olhos, e nossa imaginação projeta e enxerga tudo o que tememos. É uma escuridão palpável, e a todo momento do filme eu fiquei tentando encontrar algo nas sombras.
Ficar sozinho em casa sem os pais e ter que sair do quarto e ir dormir na sala, enxergar coisas se mexendo, sumindo, tudo faz parte de uma infância parecida com a minha, e uma imaginação parecida com a que me recordo. Essa conexão foi muito forte em todo o filme, e talvez isso tenha me aproximado do Kevin e Kaylee.
A história é muito ambígua, talvez até mais. Deixa muito espaço para as mais diversas teorias, e em meio a momentos assustadores e tensos eu tentava encaixar algumas dessas teorias na minha mente, procurando sentido e respostas. Mas isso pouco importa no geral pra mim, como disse, seria atribuir um significado convencional para uma experiência cinematográfica que não te pede isso. Além disso, qualquer pesquisa no Google ou Youtube trará as mais diversas teorias, e isso faz parte.
A imagem granulada parecia se mexer e fazer barulho, e a brilhante mixagem de som desse filme junto com a escolha de mostrar em quase 100% do tempo os cantos da casa, as paredes e tudo que está ao redor, me colocaram na pele do Kevin. Teve momentos de medo em que senti arrepios e os olhos lacrimejavam, e ao mesmo tempo eu ficava muito feliz por um filme de terror conseguir fazer isso comigo várias vezes enquanto eu assistia.
Provavelmente essa experiência pensada pelo diretor Kyle Edward Ball vai soar chata, pretensiosa ou sem sentido para quase todas as pessoas, mas pra mim valeu cada minuto. Cinemão experimental, cativante e assustador.
Memória, nostalgia, saudades e melancolia numa dança encantadora entre pai e filha. Um dos mais belos filmes que assisti recentemente. Minimalista, mas de uma experiência poderosíssima.
Quem conseguir se identificar com as lembranças de infância de pai e filho vai se emocionar. É um tempo que não volta mais, momentos compartilhados que ficaram na memória.
É sobre não entender o outro, mas mesmo assim amá-lo e amar compartilhar a felicidade, e entender que nem sempre tudo vai tá bem.
Olhar pro passado pode ser revigorante e até ter algum propósito ''didático'', mas as vezes é tão doloroso... E é importante manter essa dor com a gente, porque mesmo que machuque, é a memória com alguém que a gente ama, em um tempo que não volta mais.
De tudo que vi em 2022, esse filme foi o que mais me marcou.
A sensação que tive ao assistir, não entrando nos méritos do filme ainda, é de ter visto algo atemporal. Uma história que se passa num local isolado, que é um espelho do mundo e humanidade numa história minimalista sobre amigos em conflito. Um assunto e tema que por si só já alcançam todo tipo de público em qualquer que seja a era.
O roteiro, que é do próprio diretor Martin McDonagh, traz diálogos diretos e simples, que na superfície tratam de coisas triviais do cotidiano, mas que carregam um significado tão grandioso e reflexivo sob essa cortina de inocência que o protagonista carrega que chega a ser poético. O diálogo sobre ''se Deus se importa com a vida dos jumentos'' ou o diálogo final sobre os barulhos da guerra adicionam camadas e mais camadas nessa odisseia Irlandesa.
Os personagens são figuras memoráveis, não só os dois ex amigos, mas os personagens secundários. Cada um carrega consigo uma história e um peso, afetam e são afetados significantemente pelo desenrolar da história da dupla principal, tudo isso bem trabalhado e muito bem dividido num roteiro que considero primoroso.
O uso de cenários físicos e a reconstrução de época é impressionante, e ainda mais impressionante é o trabalho de fotografia em cima de tudo isso. Estonteante. Aliando isso a uma trilha sonora que consegue ser tensa, instigante e contemplativa temos uma experiência única em 2022 de cinema. Todo esse efeito é hipnotizante.
A Kerry Condon e o Barry Keoghan dividem bem todas as cenas com o protagonista. Colin Farrell tem um de seus melhores trabalhos e bate de frente com a gigante e imponente atuação do Brendan Gleeson. A direção é precisa, e consegue conduzir o filme tão bem que nem senti o tempo passar.
Além da história principal que usa a tragicomédia para narrar essa odisseia, existem tantos temas e tantas interpretações acerca das repostas dos personagens às dúvidas e questionamentos sobre a vida, que mais de uma semana depois ainda penso em alguns pontos. Você pode trazer uma interpretação desde um contexto histórico da Irlanda na década de 20 no século XX, até uma aflição existencialista, puramente humana sobre propósito, vida e a existência do mal. O mais interessante é que nada disso, em nenhum momento toma conta da história principal, a da superfície, e isso é sensacional.
Tive sensações diversas como o riso e espanto e sentimentos como aflição, melancolia, solidão, angústia e vários outros. Assistir esse filme foi uma experiência e tanto pra mim, já fiz uma revisita e estou realmente encantado com essa história.
Revendo nesse especial mês de Outubro um dos grandes clássicos do terror e do cinema!
Reassistir filmes que usam tantos simbolismos como esse é sempre bem especial, podendo aprender e perceber várias coisas que hora funciona como um foreshadow pro restante do filme, hora funciona como um adição mitológica/religiosa.
A primeira cena do filme já é intrigante demais. O primeiro contato com o mal. Um mal bruto, antigo e poderoso. Longe e distante do processo civilizatório, esquecido e enterrado. Em seguida, ao se apresentar os principais personagens da história, e a troca de cenário para uma cidade americana, usa-se muito o som de aviões, carros e metrô, dando uma ideia de que esse mal percorre e percorreu o mundo.
Sobre a apresentação dos personagens é muito importante destacar o brilhante roteiro, que costura quatro histórias paralelas e interliga todas elas com maestria, calma e sutiliza, e o mais impressionante, sem perder o impacto no desfecho. A Família MacNeil, o padre Damien, o investigador Kinderman e a misteriosa e mais religiosa narrativa do filme, o padre Merrin.
Existe uma grande preocupação na construção do ''diagnóstico'' de uma possessão, mostrando o terror dos exames médicos e o agravamento dos sintomas da Regan nas mãos de vários especialistas, até o ponto em que a ciência esgota suas hipóteses. A família MacNeil tem sua sanidade deteriorada por essa situação, chegando ao desespero absoluto.
O padre Damien, também um psiquiatra, com a recente perda de sua mãe e sua crescente apostasia, entra em choque com a realidade da família, e tem toda a sua realidade alterada. O grande personagem do filme pra mim, com dilemas e reflexões importantíssimas para o significado do longa, além de ser o grande ponto de identificação que tive com a obra.
Existe uma linha investigativa com menos destaque que as outras linhas de desenvolvimento do filme, mas muito pertinente, com alguns detalhes geniais, como a questão da janela e os questionamentos feitos a todo instante pelo Kinderman.
Por fim, o padre Merrin personifica o embate do bem contra o mal, puro e brutal. E com esse desfecho inesperado no seu arco, o filme nos presenteia com uma excelente reviravolta e um final inesquecível.
Trilha sonoro icônica, minimalista e maliciosa, e um trabalho sonoro impecável, usando momentos de silêncio e sons ambientes para gerar muita tensão. A direção do Friedkin é insana, com ângulos e movimentos sensacionais (A cena que o médico cai no chão e o único destaque é o rosto dele, ou a visão de fora pra dentro da casa a partir da escadaria e como isso é bem usado na resolução do filme quando se inverte a perspectiva).
É simplesmente um clássico atemporal, com efeitos visuais e maquiagem marcantes que não deixam o filme de 50 anos envelhecer mal. Influenciou uma geração inteira de filmes nessa temática, e incomparável em qualidade.
Um filme de premissa interessantíssima, que na primeira hora teve minha atenção completamente tomada.
A apresentação do universo Cyberpunk com toda aquela fotografia Noir, cheia de luzes e fumaça ao fundo, a trilha sonora e o visual caótico da cidade, com seus personagens integrados nesse cenários, é perfeitamente estabelecido. Junto disso, tem o conceito sensacional de uma tecnologia que é uma espécie de VR com sensações, e ao transitarmos pela podridão da cidade, vemos o mal uso dessa tecnologia com cenas bem pesadas e incômodas.
Porém, principalmente na parte final, fiquei um pouco cansado/frustrado com o rumo da história. Parecia que o filme começava a repetir as mesmas ideias, e pouco avançava. Momentos que me afastaram bastante do filme, como o Max explicando seus planos ao Lenny, ou a escolha da trama dos policiais para fechar a história e pior ainda aquele finalzinho. Fiquei meio dividido, sei lá kk
Tem alguns filmes que vou colocando na minha lista e quando finalmente vou ver, nem lembro mais porque estavam lá.
A Morte do Sr. Lazarescu é classificada, pelo próprio diretor, como uma comédia de humor negro, o que acho bastante questionável. Não foi a sensação que tive, mas a estrutura é claramente uma comédia de erros, e também um daqueles filmes pra se ver uma vez na vida, devido a tamanha angústia e realismo.
A história se passa em apenas uma madrugada e acompanha o protagonista passando por vários hospitais. É uma daquelas histórias que é tão bem contada e dirigida que parece um documentário, pra quem curte o Dogma 95 (Dogville, Festa de Família) é um prato cheio.
Temos a saga do protagonista e dos socorristas passeando e encontrando médicos e enfermeiras com as personalidades e atitudes mais variadas. Fala sobre solidão, descaso, falta de empatia e a cruel realidade que vivem médicos e pacientes todos os dias.
Fui surpreendido positivamente com esse filme, imaginava uma pegada clássica mas encontrei algo mais próximo de A Rainha Margot (1994).
O filme é belíssimo, consegue trabalhar algo complexo em apenas duas horas, e eu não sei se comprometeu algum fato histórico com isso. A virada final, com a transformação da Elizabeth na clássica figura da rainha com rosto branco é maravilhosa.
Existem muitas nuances de personagens secundários que ficaram mal trabalhadas pra mim. O personagem do Daniel Craig é muito mal aproveitado, e a trama envolvendo o vaticano é muito deslocada, por exemplo.
No geral, pra quem curte esses dramas palacianos é um ótimo filme.
Certamente meu favorito do ano até agora. É a mistura da mistura, o melhor exemplo do cinema contemporâneo e como a barreira entre os gêneros não existe, é tudo a mesma coisa em todo o tempo.
A história é contada de maneira complexa, mas nunca é confusa, e no primeiro ato é muito fácil se apegar aos personagens. Talvez a estrutura do final seja prolongada demais, e quando o filme sai totalmente do chão eu tenha tido alguma dificuldade em me conectar. Mas a parte final e sua conclusão compensa qualquer problema.
A direção e montagem são excelentes, as cenas de ação, as trocas de universo, o figurino, os efeitos práticos... é um filme super completo. As referências são um grande diferencial do filme pra mim, pois muitos referenciados são filmes que tenho como favoritos. Além das óbvias referências diretas como ''2001'', ''Sherlock Jr''., ''Matrix'', ''Goonies''.... tem referências sutis como a de ''Paprika'' e algumas que se encaixam perfeitamente dentro da trama, como é o caso de ''Amor à Flor da Pele''.
Apesar de ser uma história bem conhecida, não pude deixar de me surpreender em momentos pontuais. O roteiro consegue entregar um épico viking juntando uma visão intimista com uma jornada grandiosa de vingança.
A vingança é apresentada como um caminho de auto destruição, que como uma bola de neve, arrasta outras pessoas para ele. A atmosfera torna o misticismo e o mítico cúmplices desse mal, não apenas visões independentes, costumes ou delírios. Uma cultura e rituais arraigados no desprezo à mulher e a qualquer compaixão, o que pode demonstrar fraqueza.
Eu gostei de praticamente tudo, das cenas de ação bem ensaiadas em planos longos, da trilha sonora opressiva e da fotografia maravilhosa. A teatralidade das interpretações só perde a força em alguns momentos devido aos exageros no sotaque em inglês. E uma ou outra situação pode parecer conveniente demais, mesmo em uma atmosfera embriagada de misticismo.
Assim como em O Mestre e Trama Fantasma, temos o encontro entre dois personagens e essa interação sendo explorada como a linha que conduz o filme.
O interessante aqui é que não existe uma história do casal protagonista, na verdade, o desenvolvimento deles é por meio de participações em outras micro histórias da cidade. São alguns personagens super excêntricos que o casal e nós encontramos nesse percurso. De certa forma a cidade também se torna um personagem importantíssimo nesse relacionamento, porque além de lugares como lojas, escola ou bares, a cidade é formada de pessoas.
A inversão de perspectiva é muito bem feita. Uma hora estamos na visão do Gary e na outra da Alana sem nem perceber. Alguns acontecimentos importantes não são vistos, como uma paixão repentina ou uma decisão importante, mas tudo fica claro. Estar subentendido aqui é para reforçar que as escolhas individuais da vida de cada um nem sempre é acompanhada do parceiro. Deixa muito espaço para estabelecer a relação dos dois. Existe um balanço perfeito nisso, nem um deles se destaca mais ou menos.
O tom de humor é muito bem acertado, e junto com a reconstrução de época fui transportado para a San Fernando dos anos 70, eu comprei esse universo. Alguns eventos e personagens importantes são apresentados, interferindo muito na vida dos personagens, ou, em algumas vezes apenas sendo citada, com relevância nula.
As atuações são excelentes, e a química do casal principal é ótima. As participações do Bradley Cooper, Sean Penn, Tom Waits, Harriet Sansom são muito engraçadas, enquanto outras, como a do Ben Safdie, flertam com a dramédia.
É um filme delicioso de se ver. Um coming of age cativante, fugindo do desenvolvimento convencional e daquele clímax comum de comédias românticas onde próximo ao final do filme os personagens tem uma grande decisão para tomar e permanecerem juntos ou não, ou aparece alguma doença ou oportunidade de trabalho em outro lugar e todos aqueles clichês do gênero.
Esse não é um filme que se apega a reviravoltas apelativas, é leve e aposta no forte roteiro e nas interpretações para nos engajar. É sobre o vai e vem da vida, sobre como o amadurecimento não tem idade para acontecer, é sobre amizade e o primeiro amor, é sobre experimentar, é sobre tentar e errar.
Dentro da proposta do diretor é muito assertivo. Não é sobre mais uma grande história de amor e relacionamento, mas sobre compartilharmos momentos mágicos com os protagonistas.
Revisitei essa semana, assistindo pela primeira vez um dos meus filmes favoritos em 4K.
Toda vez que revejo um filme absorvo mais detalhes e algumas minúcias, e esse aqui, um clássico, pode ser revisitado quantas vezes quiser que sempre trará novos significados.
Aqui temos alguns nomes no ápice (que durou por muito tempo): Scorsese (Direção), De Niro (Atuação), Paul Schrader (Roteiro), Bernard Herrmann (Trilha Sonora), Marcia Lucas, Tom Rolf e Melvin Shapiro (Editores) e Michael Crawford Chapman (Cinematografia). O que eles fizeram aqui é nada menos do que soberbo. Sei que os nomes por trás de categorias técnicas são menos reconhecidos, mas apenas deem uma olhada nos trabalhos que eles estiveram envolvidos.
A trilha sonora é inconfundível, a composição do personagem feita pelo De Niro é icônica, o uso das luzes da cidade e a posição das câmeras de dentro do carro no qual olhamos pra fora simplesmente me jogam pra dentro do filme, numa experiência altamente imersiva e provocativa. Há um flerte com o Voyeurismo na narrativa, muito bem compreendida pela relação do motorista de taxi e seus passageiros.
Ao acompanhar a jornada melancólica e depressiva de Travis Bickle vamos conhecendo um pouco de sua personalidade, de suas ideias e pouquíssimo de seu passado. Paul Schrader aposta num estudo complexo de personagem, que gera momentos de surpresa ao vê-lo praticar algumas ações aparentemente contraditórias ou deslocadas. Além da ótima condução do Scorsese ao inserir o voice over, as interações do Travis com outros personagens sempre é imprevisível. Ele demonstra timidez e pro atividade, repulsa e desejo, coragem e indiferença, ódio e compaixão. É uma contradição ambulante pelas ruas de New York.
A violência do filme é impactante até demais, são momentos curtos de explosão emocional ou física, com consequências rápidas e aterradoras. A cidade é apresentada por um ponto de vista deturpado, mas não impopular, e sim, muito fidedigno. A leitura social de Travis é problemática e o filme, ciente disso, consegue escalar uma progressão narrativa até o limite, usando temas como sexo, violência, guerra, armas, prostituição infantil e tudo que possa ser usado de forma asquerosa.
O próprio cinema está sendo posto em revisão aqui. A relação de Travis com o cinema pornô, e a normalidade dessa relação, mostra o quão distante a hollywood clássica estava da realidade nos anos 60. A cena da ligação telefônica de dentro do prédio com três eras diferentes de telefones lado a lado é um dos grandes detalhes enriquecedores dessa minha revisita, trazendo mais significado à construção de universo.
Um filme que não envelheceu e mantêm sua mensagem atual, influenciando inúmeras obras e personagens ainda hoje, quase 50 anos depois.
como depois das suspeitas da filha recaírem sobre a mãe, e o processo de desintoxicação dela,
me incomodaram bastante, talvez na tentativa de impor ritmo e nos passar aquela sensação de frenesi.
As atuações são bem legais, por mais que exista alguma coisa na Sarah Paulson que me incomoda que ainda não sei explicar.
Direção competente, boas cenas de tensão, apesar da maioria delas sabermos onde chegariam. É um preço que se paga por se apegar demais a alguns conceitos, e o final mostra um pouco disso:
Qual a diferença que faz a menina ser filha real ou não?
. A cena final também ajuda a destruir um pouco a construção da Chloe como vítima, é simplesmente uma tentativa gratuita de choque, e de mais uma vez se agarrar a conceitos estabelecidos do gênero, de ter que colocar
um plot twist aparentemente deslocado no desfecho, e nesse filme não é aparentemente
.
Produções recentes sobre essa temática se provaram melhores que Run, como a minissérie The Act, que adapta uma horrível história real. Ainda assim, Run é um regular suspense curto, que dosa bem o terror físico e psicológico, com uma boa vilã e um ritmo agradável.
Paranoia, suspense, estudo de personagem, metalinguagem e análise social. Felizmente, essas ideias estão na mão do diretor certo.
Como já mencionei, o uso da metalinguagem, e talvez eu vá além, o sutil uso da metalinguagem na narrativa, pode até passar despercebido por algumas pessoas, mas creio que seja essencial para a compreensão do que estamos vendo. Inclusive é um dos motivos do filme ter seu título assim:
Caché = Escondido
Usando de forma brilhante esse artifício, Haneke explora os meandros, o interior, o preconceito e ódio arraigados nos cidadãos comuns, e tortura o protagonista de sua história com lapsos de seu backgroud, de sua infância e formação, gradualmente levando-o a confessar, agora para nós espectadores, o que estava escondido de nós esse tempo inteiro. Algo que somente Daniel e Haneke sabiam vêm a tona.
Uma experiência que nos despeja tensão, angústia, revolta e talvez até algum tipo de identificação. Um filme extremamente difícil de se acompanhar pelo ritmo, pela violência e pela chocante realidade pessimista, mas igualmente fenomenal e único.
Goshu: O Violoncelista
3.8 305 - Maratona Ghibli
Continuando minha maratona do famoso estúdio japonês, ainda na fase pré-ghibli, assisti a esse projeto do lendário diretor Isao Takahata. Uma obra muito curiosa e pessoal.
A história é uma fábula, inclusive divida em três encontros do personagem com animais falantes. Mas o tom é de um ''slice of life'', uma visão íntima de um violoncelista tentando entender sua relação com a música.
Tem algumas boas cenas, como a inicial que me lembrou muito Whiplash. Mas o ritmo mais cadenciado se torna monótono, e algum esforço para tornar a obra contemplativa acaba não sendo eficaz.
É uma ''típica'' obra de um diretor ainda se descobrindo. Muitas ideias dispersas e uma indefinição do tom da obra. Ainda assim, muito interessante, recheada de boa música e com um visual que destaca texturas semelhantes a algumas obras de arte.
6.5/10.
Chie, A Pirralha
3.8 164 - Maratona Ghibli
Quarto filme da fase pré-ghibli, e o melhor trabalho na direção até então do Isao Takahata.
Um história bem definida, personagens com relações complexas e referências ao cinema faroeste e de gangues. Uma baita surpresa de um filme que eu não esperava absolutamente nada.
O que me impediu de gostar mais foi a distância entre as as tramas, parecia em certo ponto que eu estava vendo duas histórias sem conexão: Chie e sua família e a vingança dos Gatos de Bolas. Ambos bons arcos, mas pouco se comunicam.
7/10.
O Castelo de Cagliostro
4.0 146 Assista Agora3 - Maratona Ghibli
Primeiro longa da carreira do gênio Miyazaki. O diretor já era conhecido desse universo do Lupin III, dirigindo a série de TV, e também já tinha experiências com roteiro de longas junto ao Takahata.
Uma aventura divertida, despretensiosa e acima de tudo bem conduzida. As cenas de investigação são bem elaboradas e a ação é galhofa e cativante. A trama recheada de reviravoltas e conspirações me deixaram interessado a todo momento. Animação fluida, com traços que estão entre o ''cartoonesco' e o realista, combinam com a trama absurdista. O nosso ''anti-heroi'' é carismático e rapidamente compramos suas ideias e seus objetivos
O melhor filme da chamada era ''pré-Ghibli'' até agora...
8/10.
Horus: O Príncipe do Sol
3.4 261 - Maratona Ghibli
Ainda na fase ''Pré-Ghibli'', temos uma história interessante, cheia de personagens interessantes num universo pequeno, porém cheio complexidades.
Muita ação (prejudicada pelas escolhas ruins do diretor) que apresenta elementos fantásticos muito bonitos e cativantes, como os espectros de lobo e as criaturas no geral. A vila é bem genérica, e os campos de batalhas são sem vida.
A segunda parte do filme é mais interessante, pois parece haver alguma continuidade na história. A primeira metade é muito mal desenvolvida, parecia que estava vendo um ''recap'' de tão apressado que estava. Com isso, personagens e conceitos vão sendo inserido sem nenhuma sutileza, deixando o filme confuso e entediante.
É o primeiro filme do genial diretor Takahata, e apontado por muitos como o primeiro precursor do Ghibli, e nota-se vários elementos do famoso estúdio presentes desde já.
5/10
Formiguinhaz
3.2 330 Assista Agora1 - Maratona DreamWorks
Tirando o vale da estranheza que aparece de vez em sempre nessa animação, com os rostos dos personagens (principalmente das formigas) eu fiquei bem impressionado com a história.
Lembro que quando criança eu não curtia esse filme, mas depois de velho... Acho que aproveitei mais. Uma colônia de formigas altamente militarizada e com pouca mobilidade entre classes deixa nascer dentro de si um levante fascista, com requintes nazistas.
Um filme que fala sobre a revolta da classe operária, a desigualdade de classes, a manipulação de massas, individualismo x coletivismo, utopia... e o roteiro é muito perspicaz em encaixar isso de forma a não se perder. A história do Z conduz essa trama, e os arcos dos personagens secundários expande a ideia inicial, e apresenta diversas perspectivas dentro da colônia.
O final é um pouco apressado, e de forma simplista, usando a ação, para resolver um conflito de complexidade considerável. Ainda assim, um ótimo filme que mostra a capacidade de uma animação passar mensagens adultas e afastar de vez o preconceito de que são produções infantis.
Um destaque ainda é o elenco desse filme: Sensacional.
8/10
Shrek 2
3.8 822 Assista AgoraTem uma evolução muito grande no gráfico da Dream Works, e não só isso, a sequência consegue não repetir a história e expandir o universo da animação.
Ri em várias partes, com piadas pontualmente bem colocadas, não existe aquela piada pra quebrar o ritmo, está tudo muito encaixado na história. Além disso, está lotado de referências ao cinema, música e literatura, mescla a história de fábula medieval com a sociedade atual (anos 2000), principalmente com Hollywood. E novamente está lotado de críticas aos estereótipos de beleza e a conceitos estabelecidos das histórias de contos de fada.
Uma aula de como se fazer uma sátira.
Piscina Infinita
3.0 354 Assista AgoraUm daqueles filmes bizarros, como Antiviral (2012) e Possessor (2020), onde o Body Horror é usado de uma forma inédita pra mim. Uma ideia tão insana como um episódio de The Twilight Zone psicodélico, ultraviolento e grotesco.
O elemento de ficção científica é usado de uma forma totalmente inesperada, e só de comentar sobre acredito que seja um spoiler. Em linhas gerais, é sobre como nos ''tornamos outra pessoa'' ao passar por um trauma, e vemos o nosso ''antigo eu'' morrer. Também fala muito sobre como pessoas ricas alopram e fazem de países subdesenvolvidos o seu quintal pessoal, passando por cima de leis nacionais por conta de sua influência e corrupção política.
O bizarro é como uma bola de neve nesse filme, até se transformar em algo grotesco. É sujo, instigante e me prendeu a atenção pelas quase duas horas. Uma experiência muito interessante.
A Mulher Rei
4.1 486 Assista AgoraConseguem trazer uma história excelente e pouco conhecida, com um elenco super talentoso e a maravilhosa Viola, e cobrem e tapam a maioria das coisas com conveniências, coincidências e os mais variados clichês de filmes de ação. Pra fechar o pacotão de filme de ação americano comum, tem que ter um brasileiro com o sotaque mais falso do mundo.
Skinamarink: Canção de Ninar
2.3 231 Assista AgoraCinema é uma arte, que por incrível que pareça, é subjetiva. Por mais que a maioria dos fascinados pela arte gostem e consumam histórias no padrão mais clássico, ainda sobra muito espaço para experimentos e tentativas de formatos ousados, inéditos e estranhos.
Há filmes que por mais que você tente assistir não vão te agradar, por que suas expectativas sobre um filme estão pautadas em sua experiência pessoal, e no conceito que cada um tem sobre como a arte deve ser realizada. Digo isso sobre mim mesmo. E é muito bom, vez ou outra, se entregar a um projeto como Skinamarink.
Assistindo de fones de ouvido e luzes apagadas, como tento sempre fazer com filmes de terror em casa, me deixei levar por uma das melhores experiências com o medo que já tive. Recordei várias sensações que tive com A Bruxa, O Bebê de Rosemary, as várias visitas a O Exorcista, e de 20 anos atrás quando assisti a Bruxa de Blair sem saber nada.
Skinamarink não é perfeito, já adianto, considero o final descompassado com o restante do ritmo do filme e pode ser que demore um pouco a ter aquela sensação de que está imerso no filme, talvez pela estranha escolha de não mostrar os personagens. Porém, o que me marca no cinema não são os filmes perfeitos, mas os sentimentos e sensações que cada obra e história desperta e marca em mim.
A primeira ponte de identificação com o filme é o contexto de infância em meados nos anos 90, e todos os elementos dessa época, a TV de tubo pequena com imagem chuviscando, os brinquedos espalhados pelo chão, de se ter um irmão e o medo do escuro.
Hoje nem mais sabemos como é o escuro daquela época propriamente, digo isso novamente por mim mesmo, rodeados de telas acesas o tempo inteiro (Você assiste filmes com um celular ligado na mão?). A maioria dos filmes simula a escuridão como uma tela preta ao fundo, quando na verdade não é bem assim. E como esse filme simula isso muito bem com a imagem granulada, dando densidade à escuridão, quase como se pudéssemos arrastá-la pelo ar como uma fumaça. O escuro engana nossa visão, entrega formas disformes para os olhos, e nossa imaginação projeta e enxerga tudo o que tememos. É uma escuridão palpável, e a todo momento do filme eu fiquei tentando encontrar algo nas sombras.
Ficar sozinho em casa sem os pais e ter que sair do quarto e ir dormir na sala, enxergar coisas se mexendo, sumindo, tudo faz parte de uma infância parecida com a minha, e uma imaginação parecida com a que me recordo. Essa conexão foi muito forte em todo o filme, e talvez isso tenha me aproximado do Kevin e Kaylee.
A história é muito ambígua, talvez até mais. Deixa muito espaço para as mais diversas teorias, e em meio a momentos assustadores e tensos eu tentava encaixar algumas dessas teorias na minha mente, procurando sentido e respostas. Mas isso pouco importa no geral pra mim, como disse, seria atribuir um significado convencional para uma experiência cinematográfica que não te pede isso. Além disso, qualquer pesquisa no Google ou Youtube trará as mais diversas teorias, e isso faz parte.
A imagem granulada parecia se mexer e fazer barulho, e a brilhante mixagem de som desse filme junto com a escolha de mostrar em quase 100% do tempo os cantos da casa, as paredes e tudo que está ao redor, me colocaram na pele do Kevin. Teve momentos de medo em que senti arrepios e os olhos lacrimejavam, e ao mesmo tempo eu ficava muito feliz por um filme de terror conseguir fazer isso comigo várias vezes enquanto eu assistia.
Provavelmente essa experiência pensada pelo diretor Kyle Edward Ball vai soar chata, pretensiosa ou sem sentido para quase todas as pessoas, mas pra mim valeu cada minuto. Cinemão experimental, cativante e assustador.
Nota: 8/10
Aftersun
4.1 699Memória, nostalgia, saudades e melancolia numa dança encantadora entre pai e filha. Um dos mais belos filmes que assisti recentemente. Minimalista, mas de uma experiência poderosíssima.
Quem conseguir se identificar com as lembranças de infância de pai e filho vai se emocionar. É um tempo que não volta mais, momentos compartilhados que ficaram na memória.
É sobre não entender o outro, mas mesmo assim amá-lo e amar compartilhar a felicidade, e entender que nem sempre tudo vai tá bem.
Olhar pro passado pode ser revigorante e até ter algum propósito ''didático'', mas as vezes é tão doloroso... E é importante manter essa dor com a gente, porque mesmo que machuque, é a memória com alguém que a gente ama, em um tempo que não volta mais.
Nota: 9.5/10
Os Banshees de Inisherin
3.9 566 Assista AgoraDe tudo que vi em 2022, esse filme foi o que mais me marcou.
A sensação que tive ao assistir, não entrando nos méritos do filme ainda, é de ter visto algo atemporal. Uma história que se passa num local isolado, que é um espelho do mundo e humanidade numa história minimalista sobre amigos em conflito. Um assunto e tema que por si só já alcançam todo tipo de público em qualquer que seja a era.
O roteiro, que é do próprio diretor Martin McDonagh, traz diálogos diretos e simples, que na superfície tratam de coisas triviais do cotidiano, mas que carregam um significado tão grandioso e reflexivo sob essa cortina de inocência que o protagonista carrega que chega a ser poético. O diálogo sobre ''se Deus se importa com a vida dos jumentos'' ou o diálogo final sobre os barulhos da guerra adicionam camadas e mais camadas nessa odisseia Irlandesa.
Os personagens são figuras memoráveis, não só os dois ex amigos, mas os personagens secundários. Cada um carrega consigo uma história e um peso, afetam e são afetados significantemente pelo desenrolar da história da dupla principal, tudo isso bem trabalhado e muito bem dividido num roteiro que considero primoroso.
O uso de cenários físicos e a reconstrução de época é impressionante, e ainda mais impressionante é o trabalho de fotografia em cima de tudo isso. Estonteante. Aliando isso a uma trilha sonora que consegue ser tensa, instigante e contemplativa temos uma experiência única em 2022 de cinema. Todo esse efeito é hipnotizante.
A Kerry Condon e o Barry Keoghan dividem bem todas as cenas com o protagonista. Colin Farrell tem um de seus melhores trabalhos e bate de frente com a gigante e imponente atuação do Brendan Gleeson. A direção é precisa, e consegue conduzir o filme tão bem que nem senti o tempo passar.
Além da história principal que usa a tragicomédia para narrar essa odisseia, existem tantos temas e tantas interpretações acerca das repostas dos personagens às dúvidas e questionamentos sobre a vida, que mais de uma semana depois ainda penso em alguns pontos. Você pode trazer uma interpretação desde um contexto histórico da Irlanda na década de 20 no século XX, até uma aflição existencialista, puramente humana sobre propósito, vida e a existência do mal. O mais interessante é que nada disso, em nenhum momento toma conta da história principal, a da superfície, e isso é sensacional.
Tive sensações diversas como o riso e espanto e sentimentos como aflição, melancolia, solidão, angústia e vários outros. Assistir esse filme foi uma experiência e tanto pra mim, já fiz uma revisita e estou realmente encantado com essa história.
Nota: 10
Pelos Caminhos do Inferno
3.9 78Um excelente episódio de The Twilight Zone, autraliano e (+18)
What Josiah Saw
3.4 60Se vocês soubessem o que o tal do Josias viu...
O Exorcista
4.1 2,3K Assista AgoraRevendo nesse especial mês de Outubro um dos grandes clássicos do terror e do cinema!
Reassistir filmes que usam tantos simbolismos como esse é sempre bem especial, podendo aprender e perceber várias coisas que hora funciona como um foreshadow pro restante do filme, hora funciona como um adição mitológica/religiosa.
A primeira cena do filme já é intrigante demais. O primeiro contato com o mal. Um mal bruto, antigo e poderoso. Longe e distante do processo civilizatório, esquecido e enterrado. Em seguida, ao se apresentar os principais personagens da história, e a troca de cenário para uma cidade americana, usa-se muito o som de aviões, carros e metrô, dando uma ideia de que esse mal percorre e percorreu o mundo.
Sobre a apresentação dos personagens é muito importante destacar o brilhante roteiro, que costura quatro histórias paralelas e interliga todas elas com maestria, calma e sutiliza, e o mais impressionante, sem perder o impacto no desfecho. A Família MacNeil, o padre Damien, o investigador Kinderman e a misteriosa e mais religiosa narrativa do filme, o padre Merrin.
Existe uma grande preocupação na construção do ''diagnóstico'' de uma possessão, mostrando o terror dos exames médicos e o agravamento dos sintomas da Regan nas mãos de vários especialistas, até o ponto em que a ciência esgota suas hipóteses. A família MacNeil tem sua sanidade deteriorada por essa situação, chegando ao desespero absoluto.
O padre Damien, também um psiquiatra, com a recente perda de sua mãe e sua crescente apostasia, entra em choque com a realidade da família, e tem toda a sua realidade alterada. O grande personagem do filme pra mim, com dilemas e reflexões importantíssimas para o significado do longa, além de ser o grande ponto de identificação que tive com a obra.
Existe uma linha investigativa com menos destaque que as outras linhas de desenvolvimento do filme, mas muito pertinente, com alguns detalhes geniais, como a questão da janela e os questionamentos feitos a todo instante pelo Kinderman.
Por fim, o padre Merrin personifica o embate do bem contra o mal, puro e brutal. E com esse desfecho inesperado no seu arco, o filme nos presenteia com uma excelente reviravolta e um final inesquecível.
Trilha sonoro icônica, minimalista e maliciosa, e um trabalho sonoro impecável, usando momentos de silêncio e sons ambientes para gerar muita tensão. A direção do Friedkin é insana, com ângulos e movimentos sensacionais (A cena que o médico cai no chão e o único destaque é o rosto dele, ou a visão de fora pra dentro da casa a partir da escadaria e como isso é bem usado na resolução do filme quando se inverte a perspectiva).
É simplesmente um clássico atemporal, com efeitos visuais e maquiagem marcantes que não deixam o filme de 50 anos envelhecer mal. Influenciou uma geração inteira de filmes nessa temática, e incomparável em qualidade.
Nota: 10
Não! Não Olhe!
3.5 1,3K Assista AgoraAs metáforas sobre espetacularização são muito mais interessantes que o desenvolvimento do filme.
Estranhos Prazeres
3.6 134 Assista AgoraUm filme de premissa interessantíssima, que na primeira hora teve minha atenção completamente tomada.
A apresentação do universo Cyberpunk com toda aquela fotografia Noir, cheia de luzes e fumaça ao fundo, a trilha sonora e o visual caótico da cidade, com seus personagens integrados nesse cenários, é perfeitamente estabelecido. Junto disso, tem o conceito sensacional de uma tecnologia que é uma espécie de VR com sensações, e ao transitarmos pela podridão da cidade, vemos o mal uso dessa tecnologia com cenas bem pesadas e incômodas.
Porém, principalmente na parte final, fiquei um pouco cansado/frustrado com o rumo da história. Parecia que o filme começava a repetir as mesmas ideias, e pouco avançava. Momentos que me afastaram bastante do filme, como o Max explicando seus planos ao Lenny, ou a escolha da trama dos policiais para fechar a história e pior ainda aquele finalzinho. Fiquei meio dividido, sei lá kk
A Morte do Sr. Lazarescu
4.0 33Tem alguns filmes que vou colocando na minha lista e quando finalmente vou ver, nem lembro mais porque estavam lá.
A Morte do Sr. Lazarescu é classificada, pelo próprio diretor, como uma comédia de humor negro, o que acho bastante questionável. Não foi a sensação que tive, mas a estrutura é claramente uma comédia de erros, e também um daqueles filmes pra se ver uma vez na vida, devido a tamanha angústia e realismo.
A história se passa em apenas uma madrugada e acompanha o protagonista passando por vários hospitais. É uma daquelas histórias que é tão bem contada e dirigida que parece um documentário, pra quem curte o Dogma 95 (Dogville, Festa de Família) é um prato cheio.
Temos a saga do protagonista e dos socorristas passeando e encontrando médicos e enfermeiras com as personalidades e atitudes mais variadas. Fala sobre solidão, descaso, falta de empatia e a cruel realidade que vivem médicos e pacientes todos os dias.
Elizabeth
3.8 303 Assista AgoraFui surpreendido positivamente com esse filme, imaginava uma pegada clássica mas encontrei algo mais próximo de A Rainha Margot (1994).
O filme é belíssimo, consegue trabalhar algo complexo em apenas duas horas, e eu não sei se comprometeu algum fato histórico com isso. A virada final, com a transformação da Elizabeth na clássica figura da rainha com rosto branco é maravilhosa.
Existem muitas nuances de personagens secundários que ficaram mal trabalhadas pra mim. O personagem do Daniel Craig é muito mal aproveitado, e a trama envolvendo o vaticano é muito deslocada, por exemplo.
No geral, pra quem curte esses dramas palacianos é um ótimo filme.
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraCertamente meu favorito do ano até agora. É a mistura da mistura, o melhor exemplo do cinema contemporâneo e como a barreira entre os gêneros não existe, é tudo a mesma coisa em todo o tempo.
A história é contada de maneira complexa, mas nunca é confusa, e no primeiro ato é muito fácil se apegar aos personagens. Talvez a estrutura do final seja prolongada demais, e quando o filme sai totalmente do chão eu tenha tido alguma dificuldade em me conectar. Mas a parte final e sua conclusão compensa qualquer problema.
A direção e montagem são excelentes, as cenas de ação, as trocas de universo, o figurino, os efeitos práticos... é um filme super completo. As referências são um grande diferencial do filme pra mim, pois muitos referenciados são filmes que tenho como favoritos. Além das óbvias referências diretas como ''2001'', ''Sherlock Jr''., ''Matrix'', ''Goonies''.... tem referências sutis como a de ''Paprika'' e algumas que se encaixam perfeitamente dentro da trama, como é o caso de ''Amor à Flor da Pele''.
Realmente, é um espetáculo de filme.
O Homem do Norte
3.7 935 Assista AgoraApesar de ser uma história bem conhecida, não pude deixar de me surpreender em momentos pontuais. O roteiro consegue entregar um épico viking juntando uma visão intimista com uma jornada grandiosa de vingança.
A vingança é apresentada como um caminho de auto destruição, que como uma bola de neve, arrasta outras pessoas para ele. A atmosfera torna o misticismo e o mítico cúmplices desse mal, não apenas visões independentes, costumes ou delírios. Uma cultura e rituais arraigados no desprezo à mulher e a qualquer compaixão, o que pode demonstrar fraqueza.
Eu gostei de praticamente tudo, das cenas de ação bem ensaiadas em planos longos, da trilha sonora opressiva e da fotografia maravilhosa. A teatralidade das interpretações só perde a força em alguns momentos devido aos exageros no sotaque em inglês. E uma ou outra situação pode parecer conveniente demais, mesmo em uma atmosfera embriagada de misticismo.
Licorice Pizza
3.5 596Assim como em O Mestre e Trama Fantasma, temos o encontro entre dois personagens e essa interação sendo explorada como a linha que conduz o filme.
O interessante aqui é que não existe uma história do casal protagonista, na verdade, o desenvolvimento deles é por meio de participações em outras micro histórias da cidade. São alguns personagens super excêntricos que o casal e nós encontramos nesse percurso. De certa forma a cidade também se torna um personagem importantíssimo nesse relacionamento, porque além de lugares como lojas, escola ou bares, a cidade é formada de pessoas.
A inversão de perspectiva é muito bem feita. Uma hora estamos na visão do Gary e na outra da Alana sem nem perceber. Alguns acontecimentos importantes não são vistos, como uma paixão repentina ou uma decisão importante, mas tudo fica claro. Estar subentendido aqui é para reforçar que as escolhas individuais da vida de cada um nem sempre é acompanhada do parceiro. Deixa muito espaço para estabelecer a relação dos dois. Existe um balanço perfeito nisso, nem um deles se destaca mais ou menos.
O tom de humor é muito bem acertado, e junto com a reconstrução de época fui transportado para a San Fernando dos anos 70, eu comprei esse universo. Alguns eventos e personagens importantes são apresentados, interferindo muito na vida dos personagens, ou, em algumas vezes apenas sendo citada, com relevância nula.
As atuações são excelentes, e a química do casal principal é ótima. As participações do Bradley Cooper, Sean Penn, Tom Waits, Harriet Sansom são muito engraçadas, enquanto outras, como a do Ben Safdie, flertam com a dramédia.
É um filme delicioso de se ver. Um coming of age cativante, fugindo do desenvolvimento convencional e daquele clímax comum de comédias românticas onde próximo ao final do filme os personagens tem uma grande decisão para tomar e permanecerem juntos ou não, ou aparece alguma doença ou oportunidade de trabalho em outro lugar e todos aqueles clichês do gênero.
Esse não é um filme que se apega a reviravoltas apelativas, é leve e aposta no forte roteiro e nas interpretações para nos engajar. É sobre o vai e vem da vida, sobre como o amadurecimento não tem idade para acontecer, é sobre amizade e o primeiro amor, é sobre experimentar, é sobre tentar e errar.
Dentro da proposta do diretor é muito assertivo. Não é sobre mais uma grande história de amor e relacionamento, mas sobre compartilharmos momentos mágicos com os protagonistas.
Taxi Driver
4.2 2,5K Assista AgoraRevisitei essa semana, assistindo pela primeira vez um dos meus filmes favoritos em 4K.
Toda vez que revejo um filme absorvo mais detalhes e algumas minúcias, e esse aqui, um clássico, pode ser revisitado quantas vezes quiser que sempre trará novos significados.
Aqui temos alguns nomes no ápice (que durou por muito tempo): Scorsese (Direção), De Niro (Atuação), Paul Schrader (Roteiro), Bernard Herrmann (Trilha Sonora), Marcia Lucas, Tom Rolf e Melvin Shapiro (Editores) e Michael Crawford Chapman (Cinematografia). O que eles fizeram aqui é nada menos do que soberbo. Sei que os nomes por trás de categorias técnicas são menos reconhecidos, mas apenas deem uma olhada nos trabalhos que eles estiveram envolvidos.
A trilha sonora é inconfundível, a composição do personagem feita pelo De Niro é icônica, o uso das luzes da cidade e a posição das câmeras de dentro do carro no qual olhamos pra fora simplesmente me jogam pra dentro do filme, numa experiência altamente imersiva e provocativa. Há um flerte com o Voyeurismo na narrativa, muito bem compreendida pela relação do motorista de taxi e seus passageiros.
Ao acompanhar a jornada melancólica e depressiva de Travis Bickle vamos conhecendo um pouco de sua personalidade, de suas ideias e pouquíssimo de seu passado. Paul Schrader aposta num estudo complexo de personagem, que gera momentos de surpresa ao vê-lo praticar algumas ações aparentemente contraditórias ou deslocadas. Além da ótima condução do Scorsese ao inserir o voice over, as interações do Travis com outros personagens sempre é imprevisível. Ele demonstra timidez e pro atividade, repulsa e desejo, coragem e indiferença, ódio e compaixão. É uma contradição ambulante pelas ruas de New York.
A violência do filme é impactante até demais, são momentos curtos de explosão emocional ou física, com consequências rápidas e aterradoras. A cidade é apresentada por um ponto de vista deturpado, mas não impopular, e sim, muito fidedigno. A leitura social de Travis é problemática e o filme, ciente disso, consegue escalar uma progressão narrativa até o limite, usando temas como sexo, violência, guerra, armas, prostituição infantil e tudo que possa ser usado de forma asquerosa.
O próprio cinema está sendo posto em revisão aqui. A relação de Travis com o cinema pornô, e a normalidade dessa relação, mostra o quão distante a hollywood clássica estava da realidade nos anos 60. A cena da ligação telefônica de dentro do prédio com três eras diferentes de telefones lado a lado é um dos grandes detalhes enriquecedores dessa minha revisita, trazendo mais significado à construção de universo.
Um filme que não envelheceu e mantêm sua mensagem atual, influenciando inúmeras obras e personagens ainda hoje, quase 50 anos depois.
Nota:10
Fuja
3.4 1,1K Assista AgoraAlgumas viradas bruscas,
como depois das suspeitas da filha recaírem sobre a mãe, e o processo de desintoxicação dela,
As atuações são bem legais, por mais que exista alguma coisa na Sarah Paulson que me incomoda que ainda não sei explicar.
Direção competente, boas cenas de tensão, apesar da maioria delas sabermos onde chegariam. É um preço que se paga por se apegar demais a alguns conceitos, e o final mostra um pouco disso:
Qual a diferença que faz a menina ser filha real ou não?
um plot twist aparentemente deslocado no desfecho, e nesse filme não é aparentemente
Produções recentes sobre essa temática se provaram melhores que Run, como a minissérie The Act, que adapta uma horrível história real. Ainda assim, Run é um regular suspense curto, que dosa bem o terror físico e psicológico, com uma boa vilã e um ritmo agradável.
Nota: 6/10
Caché
3.8 384 Assista AgoraParanoia, suspense, estudo de personagem, metalinguagem e análise social. Felizmente, essas ideias estão na mão do diretor certo.
Como já mencionei, o uso da metalinguagem, e talvez eu vá além, o sutil uso da metalinguagem na narrativa, pode até passar despercebido por algumas pessoas, mas creio que seja essencial para a compreensão do que estamos vendo. Inclusive é um dos motivos do filme ter seu título assim:
Caché = Escondido
Usando de forma brilhante esse artifício, Haneke explora os meandros, o interior, o preconceito e ódio arraigados nos cidadãos comuns, e tortura o protagonista de sua história com lapsos de seu backgroud, de sua infância e formação, gradualmente levando-o a confessar, agora para nós espectadores, o que estava escondido de nós esse tempo inteiro. Algo que somente Daniel e Haneke sabiam vêm a tona.
Uma experiência que nos despeja tensão, angústia, revolta e talvez até algum tipo de identificação. Um filme extremamente difícil de se acompanhar pelo ritmo, pela violência e pela chocante realidade pessimista, mas igualmente fenomenal e único.