Gostava mais de The Lost World quando era mais novo, por parecer mais como uma contnuação "legítima" de Jurassic park, mas agora é esse mesmo aspecto que me faz gostar um pouco mais do III. TLW falha na execução, por conta principalmente do roteiro e dos personagens, mas o III assume desde o início que é um filme B de alto orçamento, sem pretensões, sem tentar desenvolver a história da franquia. É uma sequência de pessoas fugindo de dinossauros que é tão curto que é até dificíl se incomodar tanto com os problemas, que esse filme tem muitos, mas funciona melhor como diversão descompromissada que o anterior.
O roteiro é absurdo: Grant volta nesse filme, e apesar de ter dito que nunca voltaria a uma ilha de dinossauros, é convencido por dinheiro. Essa parte até faz sentido, de uma forma triste: Grant é um pesquisador acadêmico, e financiamento nesse campo muitas vezes é difícil de aparecer. As pessoas que o contratam também mentem para ele sobre pousar na ilha, e efetivamente o sequestram. Os personagens, fora Grant e Eric, são estúpidos, mas o roteiro justifica a estupidez melhor que o anterior: Amanda e Paul são dois manés ricos que sabem nada da natureza, e os mercenários contratados que só estão no filme para morrer também sabem nada de dinossauros. A atitude do Billy é mais difícil de justificar, mas Grant aponta isso. Com o Eric, forçam a "armadura de roteiro" para crianças que os filmes anteriores tinham, com ele sobrevivendo na ilha sozinho por umas 8 semanas, o que é absurdo.
O maior problema do filme é como os dinossauros são retratados: houve um cuidado nos anteriores de mostrá-los como animais, matando para caçar e defender o território ou a cria. Aqui, o espinossauro é basicamente um vilão de slasher: persegue o grupo por toda a ilha sem motivo aparente, e cehga a destruir uma cerca reforçada. O roteiro chega a estabelecer uma motivação para a perseguição das raptores, mas a cena em que um deles quebra o pescoço de um dos mercenários e larga o corpo é algo que o Jason faria.
Não é um filme bom, no geral, mas como eu falei, o fato de basicamente abraçar o ridículo e a curta duração, para mim, o tornam uma experiência ao menos mais divertida que o anterior.
Apesar de também ter sido dirigido pelo Spielberg, The Lost World é uma continuação decepcionante que tem muito pouco do que torna original tão bom. É interessante que esse filme tenta contar uma história mais sombria e diferente que não é só uma repetição dos esventos do original, mas a execução é falha. O principal problema são os personagens: é muito difícil simpatizar com os mercenários da Ingen, mas os "mocinhos" para os quais você supostamente dever torcer são, na maioria, muito estúpidos e acabam causando a morte de pessoas inocentes com suas atitudes. Sarah, suposta especialista em vida selvagem, logo no começo tenta tocar em um dos dinossauros, o grupo, ao soltar os dinossauros, provavelmente leva à morte de várias pessoas que só estavam fazendo um trabalho, e Nick e Sarah acham uma boa ideia levar um bebê de tiranossauro para o trailer, o que leva à morte bem cruel de um dos únicos personagens sensatos do filme. Um mercenário morre de forma hilária para um dos dinossauros mais inofensivos da franquia porque decide se separar do grupo em uma ilha cheia de dinossauros, e um velociraptor, que é estabelecido como um predador muito perigoso, é derrotado pelas acrobacias de uma menina, porque Spielber quis forçar o aspecto "família" em algumas cenas. Claro, o motivo do rex atacar o grupo em uma das cenas é que Sarah, supostamenta especialista em comportamento de predadores no reino animal, insiste em manter uma roupa com sangue do filhote.
Parece que a estupidez dos personagens foi proposital, porque Malcolm, o mais sensato, constantemente aponta a estupidez alheia, mas apontar as falhas do o roteiro não o torna melhor, porque é estabelecido que os personagens deveriam ser mais espertos. Outro problema em relação ao anterior é a fotografia: tentaram algo mais "sombrio", mas só ficou mais escuro, mesmo. Um ponto interessante é que o primeiro filme usa um aspecto que valoriza o aspecto vertical da imagem, o que contribui para fazer o que precisa parecer grande realmente parecer grande, algo que nenhuma das continuações usou, e um aspecto do tipo "você pode não notar, mas seu cérebro notou". Perde-se também nas tomadas amplas do primeiro filme que valorizavam ambiente e cenário, deixando esse filmes sobre dinossauros em uma ilha com uma sensação claustrofóbica.
Muitos parecem gostar do ato final em San Diego, e acho que é a melhor parte do filme em comparação, mas eu acho que Jurassic Park sempre perde alguma coisa quando tentam sair das ilhas. Os efeitos são bons, serve como divertimento.
The Flash é um filme péssimo ao qual todos deveriam assistir. Sério. Funciona como uma autópsia que sumariza muito bem todos os problemas com as tentativas de fazer um universo cinematográfico DC para competir com a Marvel às pressas, e com filmes de super herói e de alto orçamento atuais, no geral. Tentaram algo no estilo de Days of Future Past, de "resetar" o universo por conta da bagunça anterior, mas parece que só o que aprenderam com o filme dos X-Men é que um dos principais envolvidos é alguém que deveria estar preso (não vou lembrar das acusações contra o Bryan Singer aqui, nesse ponto nem tenho mais energia para isso). Tentaram também entrar na história do multiverso que nesse ponto também já saturou, copiando da Marvel que copiou de outros filmes e obras melhores, e não fizeram isso bem: não acho Sem Volta para Casa muito bom, mas no mínimo do mínimo, tinha o apelo nostálgico; aqui, só trouxeram o bátima do Keaton com algum peso nesse aspecto, mas ele passa a impressão de não querer estar no filme. Não acho que exista muita nostalgia por O Homem de Aço de 2013. O roteiro é uma bagunça nonsense que não faz sentido em si, ou comparado aos filmes anteriores do DCU, os efeitos são ruins, e o conjunto te faz questionar para onde o roçamento foi. A atuação do Ezra Miller é muito ruim, o personagem é irritante, e tem mais de um dele no filme, para piorar.
The Flash é um filme que originalmente seria lançado há uns oito anos atrás, e é uma bagunça feita por estúdio de proporções fascinantes, até para os padrões do DCU. O roteiro é péssimo, as atuações são ruins, falha na tentativa de "remendar" o universo, e visualmente parece vômito em CGI (uma das cenas é, literalmente, vômito em CGI).
Não duvido que Desmond tenha sido um grande ser humano altruísta, mas esse filme é outro caso do Mel Gibson se apropriando de uma história real para fazer propaganda americana piegas e religiosa. O absurdo da cena inicial chega a ser cômico, com o roteiro implicando que Desmond se Desmond não tivesse visto um pôster de Caim e Abel na parede, ele não teria percebido que violência é ruim: acho que a imagem do irmão dele convulsionando de forma horrível não foi suficiente. Uma pessoa não arrisca a vida para salvar outras no front sem um mínimo de empatia humana.
O começo é bem típico de filmes modernos americanos piegas da II Guerra: filtro suave para dizer que é a década de 40, romance clichê colocado de forma clichê, e tudo executado de uma forma que deixa óbvio desde o início que sacrificaram autenticidade por uma formulinha básica e confortável. Depois vem a cena do treinamento, onde cada recruta é retratado como tendo uma personalidade única, caricata e facilmente distinguível, e Vince Vaughn falha em convencer como o "sargento durão". Tem até um cara que aparece pelado, para efeito cômico, e sofre nem perto do tipo de punição que ele sofreria por esse comportamento no exército americano na década de 40.
O filme depois tenta te convencer que Desmond sofre perseguição dentro de uma das instituições mais tradicionais americanas por ser adepto de uma das instituições americanas mais tradicionais. Isso é obviamente o Mel Gibson tentando forçar a narrativa de que adeptos de religiões baseadas na Bílblia sofrem perseguição sistêmica, o que é hilário no contexto ocidental. A única parte convicente é quando o pai do Desmond chega para dar carteirada. Tentam também te convencer que o altruísmo de Desmond é devido à fé dele, mas me desculpem, esse nível de altruísmo requer mais do que só "fé": aliás, pelo o que eu observo de típico comportamento "religioso", o que o pessoal chama de "fé" vai contra o altruísmo, na maioria dos casos.
As cenas de combate também não se salvam. Não sei porque muitos estão se referindo a elas como se fossem no mesmo nível de um filme como O Resgate do Soldado Ryan, porque apesar da guerra ser um negócio grotresco e violento, parece que Mel Gibson sacrificou autenticidade por violência e choque, o que tira o impacto que as cenas deveriam ter. Um exemplo na primeira batalha: vários soldados são mortos por uma metralhadora de alto calibre, mas logo depois, outro soldado consegue correr em campo aberto, na direção dos inimigos, usando só um torso como proteção, e uma pistola como arma, em uma situação em que nem conseguiria mirar direito. Isso não é "realismo", parece mais uma partida de Call of Duty. Eu não sou um especialista em combates históricos da II Guerra, então não vou afirmar com certeza, mas eu acho que mesmo as batlhas em trincheira do período dificilmente chegavam a um ponto em que soldados inimigos chegavam tãpo perto um do outro. Existe também, claro, a hipocrisia de um filme religioso tentar convencer que é "anti-guerra".
Tár é um filme que parece ter desanimado muitos pelo ritmo e pela frieza, mas isso é proposital e o que o torna tão efetivo. O formato é quase o de uma tese bem construída, que ao dispensar as "firulas" típicas do gênero, consegue ser um filme biográfico bem autêntico, principalmente se comparado a qualquer outro do tipo que normalmente é indicado ao Oscar, mesmo sendo uma biografia fictícia, ironicamente.
Tár começa com um argumento típico de separar a arte do artista, um que é confortável e que muitos, ao menos, afirmam concordar, mas sempre apresenta questionamentos a esse mesmo ponto. O argumento é inicialmente colocado pela própria compositora, de forma mais eloquente (alguns diriam "manipuladora"), mas nesse ponto, a audiência já está ciente que ela mesma está tentando encobrir um escândalo. Estamos cientes também que Lydia está encarregada de redigir uma apresentação ao vivo do compositor Gustav Mahler, e em entrevistas, ela menciona aspectos da vida do autor como essenciais para a sua obra, e assim o roteiro apresenta de forma sutil e orgânica à história uma inconsistência inerente ao argumento, que quando surge, não significa de fato "separar" o autor da obra, mas ressaltar suas virtudes pessoais, sendo ou não relevantes para seu trabalho, e ignorar qualquer atitude negativa, mesmo que tenham impactos reais. Em certo ponto, Tár também tenta argumentar que a questão do gênero não é relevante para o sucesso na indústria, mencionando grandes compositoras que criticaram esse aspecto, e durante todo o filme adota comportamento e posturas considerados tipicamente masculinos.
Mais ou menos a partir da segunda metade para o final, o filme apresenta as conclusões de suas ideias iniciais: Tár é alvo de manipulações análogas às quais tomou parte durante o filme, e apesar de ter "jogado o jogo" da indústria pelas suas "regras", suas atitudes não são ignoradas e ela sofre uma punição que a maioria dos seus colegas de profissão que também mentiram e manipularam não sofreram, e nunca sofrerão. A cena da "casa de massagens", no contexto do filme, é a compositora sendo confrontada, de forma intensa, com as consequências do tipo atitude "normalizada"com a qual ela contribuiu, em alguma medida. Durante o filme, vemos também como suas atitudes supostamente pessoais não são independentes de sua vida profissional, e sua deterioração psicológica quando perde o controle que pensava que tinha, por conta de uma personalidade arrogante e controladora típica da profissão, a do regente, que literalmente tem a tarefa de "controlar"o tempo.
Nada funcionaria se a execução não fosse excelente, claro: a atuação da Cate Blanchett é ótima, e o elenco de suporte também é muito bom: particularmente, gostei ver Noémie Merlant, de Retrato de uma Jovem em Chamas, em um dos papeis. O ritmo é bem construído, e o filme não é cansativo e nenhuma cena parece desnecessária, apesar da longa duração.
Depois desses últimos dois filmes, Scream virou mais uma franquia de slasher que teve continuações demais e desvirtuou tanto da proposta original que virou uma paródia de si mesma, e no caso de uma franquia cuja proposta original era ser uma paródia e crítica dos clichês típicos do gênero, isso não é bom. Já não achei o 3 bom, e o 4 não foi muito melhor, mas 5 e 6 me fizeram valorizar mais, em perspectiva, o quanto a visão do idealizador original importa no contexto da franquia e no roteiro, a falta da Neve Campbell, David Arquette e uma Courtney Cox apagada deixam claro o quanto a química e carisma do elenco principal sustentavam os quatro primeiros filmes. Scream 5 e 6 são muito mais próximos daquela série péssima produzida pela MTV do que dos quatro primeiros filmes, e infelizmente, e obviamente, não existe a possibilidade de Wes Craven retornar à franquia para um sétimo filme que resgata os elementos que tornaram o original tão memorável e relevante, como fez em A New Nightmare. Ao meu ver, a recepção positiva que esse sexto filme teve se deve principalmente a três tipos de público: pessoas que por algum motivo não gostaram do filme original, e não se importam com os elementos que o tornam bom; pessoas que nunca viram o original, ou qualquer um dos anteriores; pessoas que gostam da Jenna Ortega e acham que um ator carismático é suficiente para salvar o filme (mesmo que a personagem em si não seja muito interessante).
O filme não funciona dentro da própria proposta de ser uma crítica à mídia "True Crime" que ficou popular nos últimos, porque aborda o assunto de forma superficial em entrar nos detalhes que tornam o gênero tão controverso e nocivo, e comete o mesmo erro do quinto de filme, de reverenciar tanto e tão cegamente os primeiro filmes que acaba tendo uma reverência não irônica por aspectos que esses filmes criticavam. Um comentário sobre o True Crime no contexto da franquia é algo que poderia ter funcionado muito bem, mas esse filme simplesmente não entende a forma como os originais montam uma crítica, e ao invés de comentar sobre a tendência do gênero de romantizar psicopatas, banalizar violência e, em muitos casos, destruir a vida das vítimas com exposição midiática, é um filme que banaliza a violência e chega a romantizar aspectos que nos originais eram propositalmente mostrados como grotescos.
Sim, a questão da violência no filme é um ponto importante: a franquia sempre contou com um aspecto de irreverência e humor pastelão, mas pelo menos nos quatro primeiros, violência e sangue eram sempre mostrados como algo grotesco, desconfortável, algo sério, mesmo no contexto da história, até mesmo quando era usada para tirar sarro da estupidez dos assassinos. Aqui decidiram que seria uma boa ideia que uma das personagens reagisse a ser esfaqueada com uma piadinha, e conseguisse sair andando tranquilamente momentos depois. Scream VI tem as mortes mais gráficas da franquia, mas o tom inadequado e o elenco sem carism tiram todo o impacto e a importância que deveriam ter;
o filme sugere em vários momentos, inclusive no final, que ela pode se tornar outro assassino, o que é estúpido, principalmente no contexto da franquia.
Em aspectos positivos, Kirby volta, mas incluem ela na história de forma bem preguiçosa, com o clichê de personagem que volta trabalhando para o FBI, polícia ou alguma agência do governo, e no processo apagaram toda a personalidade dela. A história se passar em Nova York poderia ter sido um aspecto interessante, mas esse é um caso parecido com Sexta Feira 13 Parte VIII, onde isso não é aproveitado e a grande maioria das cenas poderia se passar em qualquer outro lugar que não faria diferença. Uma das primeiras cenas inclusive mostra um dos assassinos esfaqueando pessoas em uma loja de conveniências, quando na realidade provavelmente haveriam pelo menos umas duas pessoas além do caixa sacando uma arma assim que vissem o sujeito. Os assassinos são outro problema, porque assim como no filme anterior, e ao contrário dos originais, não houve uma preocupação em estabelecer consistência entre o comportamento específico de cada um, quando estão usando a fantasia. Os personagens, além de não terem carisma, são muito burros, pois em vários momentos eles têm a oportunidade de subjugar e desmascarar algum dos assassinos, mas sempre escolhem correr: um dos personagens principais é um fortão literalmente chamado Chad, que, sem dar spoilers, é mais forte que qualquer um dos assassinos. São muitos detalhes e problemas de consistência típicos de um slasher genérico, e acho que serve como entretenimento, mas a franquia já foi mais do que isso.
O comentário ficou longo, mas não tem spoiler. Não quer ler, não precisa responder "nem li", ou algo do tipo: não perca seu tempo ou meu, simplesmente ignore.
Nostalgia, referências e fidelidade superficial com o material original sozinhos não fazem um bom filme, e isso é tudo o que The Super Mario Bros. Movie tem a oferecer. É uma propaganda bem cara de 90 minutos da Nintendo que não te deixa esquecer que também é mais um produto cínico da Illumination. É uma fórmula que infelizmente tem funcionado bem nos últimos: básico, seguro e frenético para as crianças, mas com fator nostálgico, referências, e uma polidez superficial que tentam ofuscar as falhas e fazem com que determinados adultos façam o trabalho de defender o filme agressivamente contra qualquer crítica, por mais válida que seja. Deixando claro que se você gostou do filme sem a necessidade de atacar quem tem uma opinião diferente, ótimo, essa crítica não se aplica a você. Deixando claro também que o "argumento" de que "é um filme para crianças" não funciona, por vários motivos óbvios que eu não preciso listar aqui.
O aspecto mais controverso antes do lançamento foi a escolha dos atores que dublam os personagens, e isso é algo que prejudica o filme, porque obviamente a escolha foi feita, na maior parte, com base em popularidade, e não em quem era mais adequado para o papel. Não é de todo ruim: fiquei surpreso com o quão bem Jack Black incorpora Bowser (exceto naquela cena que foi feita com o propósito óbvio de virar um meme que é basicamente um clipe do Tenacious D), Toad ficou bom, Charles Martinet como o pai do Mário é uma das poucas referências que são justificadas, e John DiMaggio é sempre bom, mas esses dois últimos aparecem tão pouco que nem faz diferença. O problema é que no elenco principal, você não escuta os personagens, mas os atores: Chris Pratt soa como ele mesmo, Anya Taylor-Joy parece tentar esconder o sotaque britânico mais do que incorporar o personagem, e o Donkey Kong do Seth Rogen é o mesmo personagem que ele interpreta em qualquer outro filme, menos a maconha e os palavrões. Nem sei se é justo criticar os atores, nesse caso (Exceto Chris Pratt, que não é um bom ator no geral, mesmo) porque eu não sei quem poderia fazer esses diálogos soarem bem.
Acho que o mais frustrante, pelo menos para mim, é que esse filme representa um retrocesso, no geral, e como adaptação de um videogame. The Lego Movie já mostrou que é possível fazer um bom filme, com roteiro decente e que pode ser apreciado tanto por crianças quanto adultos, que também é cheio de referências para quem é nostálgico pela marca; Castlevania do Netflix, e principalmente Arcane e The Last of Us já mostraram que adaptações de videogames podem ser muito boas, mesmo que não comparadas a outras consistentemente péssimas do passado. Esse filme do Mario foi elogiado por uma suposta simplicidade, mas existe uma diferença entre simplicidade funcional e uma decisão cínica de seguir clichês batidos simplesmente porque o roteiro é só uma base para visuais e referências: a insistência nessa história de "jornada do herói" com Mario buscando a aprovação do pai e tem uma oportunidade bem conveniente estilo isekai de fazer isso só impede, junto com a estupidez constante típica da Illumination, impedem que a história abrace o absurdo e irreverência da própria proposta. Nesses mais de 40 anos de franquia, o personagem já foi colocado em jogos com boa escrita, realmente engraçados e até inteligentes (como é o caso dos RPGs), sem sacrificar irreverência. A animação, mesmo como uma propaganda do encanador, não mostra os melhores ou mais notáveis aspectos da franquia, mas é simplesmente uma vitrine dos seus aspectos mais imediatamente reconhecíveis, com um resquício de roteiro. Lembra o filme de Silent Hill de 2006, no sentido em que não se sustenta se analisado além do aspecto de fidelidade visual superficial. Pessoalmente, eu gosto mais da adaptação de 93, porque embora seja péssimo como filme, uma bagunça, é mais interessante por ter alguma criatividade envolvida no uso do material original.
Eu vi alguns comentários de pessoas dizendo que querem uma adaptação de The Legend of Zelda pela Illumination, mas acho que ninguém quer isso, de verdade. A recepção do público desse filme do Mario tem muito a ver com o fator novidade de ver o personagem em tela de forma mais ou menos fiel, mas é um sentimento que não vai se sustentar se fizerem algo similar: filmes semelhantes não associados a propriedades reconhecidas não tiveram boa recepção de crítica ou público, e a recepção da enxurrada de mídia Star Wars nos últimos anos demonstram que nem uma propriedade conhecida se sustenta só em visuais e nostalgia. Uma adaptação de TLoZ tem potencial para ser muito boa, nas mãos certas: talvez como uma série animada, ou um filme dos estúdios Ghibli.
Talvez eu tenha virado um babaca cínico, mesmo, porque Evil Dead Rise no geral é decente como filme de terror, e não deixa muito a desejar como um novo filme da franquia, e no geral achei melhor executado que o remake/reboot de 2013 (embora deixe a desejar em outros aspectos, em comparação), mas alguns aspectos eu não consigo relevar. Eu detesto o fato de que o cinema de terror aparentemente ainda não superou essa fase que começou nos anos 2000, com fotografia de baixa saturação e escura com a pretensão de criar suspense mas que só sacrifica clareza visual e serve para esconder CGI que não é muito bom; inclusive, estamos em 2023, e alguns estúdios e diretores ainda ainda acham que CGI meia boca pode ser convincente, ou se recusam a aceitar que efeitos práticos simplesmente funcionam melhor em determinados filmes, e Rise tem uns efeitos práticos muito bons. A cena de abertura do filme (que é bem desnecessária para a história) se passa durante o dia, com o céu limpo, mas tudo ainda é muito escuro. O aspecto da dinâmica familiar é interessante, e as atuações não são ruins, mas outros filmes de terror recentes (e que não são continuações) fizeram algo semelhante de forma mais efetiva; inclusive, parece que o roteiro tenta, ao mesmo tempo, ser um terror caricato e irreverente como a trilogia original, e ser algo mais sério, mas não consegue conciliar ambos. O final também me incomodou um pouco:
acho que comete o mesmo erro do filme de 2013 em simplesmente colocar referências aos filmes antigos, mas sem muita lógica, como o carro clássico aparecendo novamente, e a protagonista novamente encontrando uma motosserra, e ao mesmo tempo, o monstro no final vira uma criatura metafórica que faria sentido em Silent Hill, mas não faz muito sentido aqui.
Serve como entretenimento, foi divertido ver no cinema, mas acho que eu queria um pouco mais. Para mim, Drag me to Hell ainda é o mais próximo de um Evil Dead 4 a ser lançado nos cinemas.
Esses filmes Marvel pós Ultimato serviram para ressaltar que eu nunca me importei muito com essa continuidade do MCU, e mais com os méritos individuais de cada filme. Love and Thunder é um filme bobo, cheio de piadinhas forçadas, mas esse sempre foi a média do MCU, e ainda é um melhor filme no geral que Thor 1 e 2, não que seja dizer muito. O roteiro não é grande coisa, mas sejamos honestos, de todos os sei lá quantos filmes desse universo lançados até agora (mais de 30? Eu perdi a conta...), só uns dois e meio, talvez três, têm um bom roteiro, sem ressalvas, e dois desses são dos Guardiões da Galáxia, que são mais filmes do James Gunn do que do MCU, de qualquer forma. Love and Thunder ainda tem umas decisões criativas, e eu acho que a comédia funciona até certo ponto: eu gosto que os deuses são basicamente uma piada o filme todo, o que, sinceramente, é bem consistente com o universo estabelecido e as mitologias nas quais são baseados (de qualquer religião, na verdade, mas a sociedade atual ainda não está pronta para essa conversa); sem falar que Sam Neil, Matt Damon e o irmão do Chris Hemsworth interpretando Odin, Loki e Thor em um teatrinho meia boca dentro do universo do filme é uma piada que, pelo menos para mim, ainda não perdeu a graça.
O problema é quando o filme tenta enfiar umas tramas bem pesadas e tristes nesse contexto: a questão da Jane Foster parece forçada, e por mais que a atuação de Christian Bale seja boa, a história do vilão simplesmente não combina com esse filme. É compreensível que os fãs não tenham gostado por não atender às expectativas de um filme dentro da continuidade do MCU, mas é ridículo quando tentam desmerecer todos os trabalhos do Taika Waititi por conta desse: é bem óbvio que o diretor fez esse filme como parte de uma obrigação contratual e como uma forma de poder financiar os filmes menores que realmente quer fazer (e com Ragnarok foi a mesma coisa), e isso não torna filmes como What we do in the Shadows e The Hunt for the Wilderpeople piores, em comparação. Sinto dizer, mas Love and Thunder é só mais filme da Marvel que não importa tanto para quem realmente se interessa pelos trabalhos do diretor, ou cinema no geral. Serve como entretenimento leve e raso, como basicamente todo o MCU.
Poderia ter sido um estudo de personagem bem interessante, mas acaba ficando óbvio que é uma plataforma para Denzel Washington massagear o próprio ego e alavancar a própria carreira em uma história que tenta justificar e redimir as ações de um personagem deplorável. Denzel mastiga o cenário, e cospe só os ossos para o resto do elenco, mesmo que a atuação de Viloa Davis seja o verdadeiro destaque aqui. O personagem do Troy começa o filme falando, e nunca para de fato, interrompendo os outros personagens mais do que o Faustão interrompe os convidados: interrompe o filho para tentar justificar porque está tentando basicamente arruinar a vida do garoto, interrompe a mulher para tentar justificar o porque traiu, e até quando está sozinho interrompe o silêncio do filme para monologar. Eu gosto de histórias com personagens falhos, desde que não tente me enfiar goela abaixo que eu deva aceitar que esse personagem foi redimido, e é isso o que o roteiro de Fences tenta fazer, principalmente na última cena.
Essa continuação aparentemente sofreu do mesmo mal que afetou The Rise of Skywalker e Alien: Covenant: uma parcela do público que assistiu ao anterior criticou e encheu muito o saco em aspectos que nem eram problemas de verdade, ou exageraram os problemas, e o estúdio entregou o que essas pessoas supostamente queriam na continuação, mas naquele estilo que estúdio faz. O resultado é um filme que não agrada a quem gostou do primeiro, como eu, nem a quem não gostou.
No caso de Godzilla de 2014, reclamaram horrores que os monstros apareciam pouco e que a trama envolvendo os humanos era chata, embora as atuações fossem boas, os personagens bem desenvolvidos, e os filmes clássicos de "monstro" que são lembrados até hoje são os que têm forte elemento humano. Parece também que essas pessoas não ligaram para o ótimo trabalho que Gareth Edwards e a equipe de efeitos especiais fizeram com os monstros, realmente transmitindo a escala com truques de câmera e luz e sombra: embora aparecessem pouco, o cuidado nas cenas valia a espera. Em Godzilla II, os monstros aparecem bem mais, e cenas de luta entre eles são mais frequentes, mas isso significa também que as cenas não têm o mesmo cuidado do filme anterior, essas cenas são à noite para esconder alguns aspectos menos polidos dos efeitos, e é mais difícil de ver a ação se desenrolando. O filme tem bem mais cenas com monstros, claro, mas praticamente todas são péssimas nesse.
Também atendendo a pedidos, esse filme foca menos nos personagens humanos, o que só significa que eles não são bem desenvolvidos, a história é bem boba, e é difícil se importar com qualquer coisa que acontece na trama por conta disso. Esse filme tem Vera Farmiga e Charles Dance, dois ótimos atores, e mesmo assim eu nem consigo lembrar de detalhes da trama ou do desenvolvimento dos personagens; por outro lado, eu ainda lembro da história e motivações do Mercúrio e da Feiticeira Escarlate do filme anterior. Colocaram Millie Bobby Brown no filme, porque Stranger Things fez muito sucesso, mas um papel em que ela realmente tem que falar e agir só serviu para mostrar que ela não atua muito bem. Existem duas cenas em particular, uma de cada um dos filmes, que demonstram bem a diferença nas prioridades do roteiro e deixam bem claro um problema fundamental com o segundo: no filme de 2014, um soldado treinado sofre dano colateral de um dos monstros menores do filme, e o filme que ele sofreu, e se machucou feio; no filme de 2019, um monstro que é considerado um deus nesse universo lança um raio que cai a uns 5 metros de uma menina adolescente, ela cai no chão, mas depois levanta como se nada tivesse acontecido. Depois que Skull Island foi não muito bom, e Godzilla vs. Kong foi péssimo, é triste ver o potencial desperdiçado desse "monstroverso".
Martin McDonagh dirigindo um Colin Farrel interpretando um pesrsonagem deprimido é um dos meus gêneros de filme favoritos. Não vou falar mais, porque discussão no filmow já foi poluída a tal ponto que nos comentários tem os malas que se orgulham demais porque gostam de um filme com ritmo lento e se sentem superiores por isso, e os malas que realmente acreditam que não existe mérito em um filme só porque não gostam dele. Acaba sendo uma representação muito adequada do conflito entre Pádraic e Colm: ambos são muito chatos, apesar de tudo.
Lembra muito Corpse Party na premissa (provavelmente foram inspirados nas mesmas lendas urbanas japonesas), mas com bem menos foco em brutalidade e mais foco no drama adolescente. Isso não é necessariamente um problema, mas nesse filme parece que usaram só para aumentar a duração de forma artificial: tem inclusive uma parte onde a trama é interrompida só para os personagens irem à praia, que nesse tipo de história, é código para "filler" e fan service desnecessário e desconfortável (aqui pelo menos é só "filler", mesmo). Não existe tensão, porque a atmosfera de terror é constantemente interrompida, e nem os personagens levam a situação a sério na maior parte do tempo.
O maior problema é que Re/Member é obviamente uma produção de orçamento bem baixo e com pouco cuidado: as atuações são bem ruins, lembrando mais um dorama genérico do que um filme; os efeitos são fracos, e na maior parte do tempo, onde algum efeito prático deveria acontecer, eles cortam para sangue falso espirrando na parede ou em algum personagem, ou a cena é propositalmente escura para esconder a falta de efeitos.
Em algumas cenas o monstro supostamente está devorando os personagens, mas isso nunca é mostrado
. Quando o monstro finalmente aparece por completo, é uma fantasia bem tosca, que é grande, mas balança de um jeito que fica óbvio que só enfiaram uma pessoa lá dentro e mandaram ela andar pelo cenário, e acaba parecendo uma daquelas fantasias de dinossauro de meme, ou um boneco de olinda. Bem ruim, mas é só um filme perdido pelo Netflix.
Mantenho minha opinião de que Godzilla de 2014 foi um filme muito injustiçado pelo público. Parece que focaram demais no fato de Godzilla aparecer pouco para se darem conta de que é uma decisão consciente: historicamente, no cinema, os que são considerados os melhores filmes de "monstro" são os que têm um forte elemento humano no roteiro, e esse filme tem personagens decentes com boa atuação, e mostrar muito a criatura pode tirar o impacto dela aparecendo em tela. Também não funcionaria se a apresentação dos monstros não fosse interessante: existe um cuidado aqui pouco visto em filmes de criaturas gigantes, porque não basta o CGI ser bom, mas a forma como ele é empregado, os truques de câmera, iluminação e perspectiva usados para realmente transmitir uma sensação de escala e fazer o que é grande realmente parecer grande, e infelizmente parece ser algo que a maioria que assistiu ao filme não apreciou; a cena do salto em meio à fumaça, em particular, é uma demonstração do quão bem o filme comunica isso. Consigo pensar em poucos filmes que fazem isso de forma tão efetiva, e entre eles estão Jurassic Park e Monstros, outro filme do Gareth Edwards. Exemplo de como isso não ficou bem feito é dentro do próprio "monstroverso": nenhum outro filme teve esse cuidado do primeiro, mas em Godzilla vs. Kong em particular poderia ser um chimpanzé cutucando uma iguana em cima de uma maquete que não faria diferença em termos da escala transmitida.
Infelizmente, Godzilla de 2014 teve destino semelhante a filmes como Prometheus e The Last Jedi: houve muita reclamação focada no que eram reais problemas do filme, e os estúdios acharam que era uma boa ideia levá-las em consideração, do jeito deles, e as respectivas continuações são consideravelmente piores como resultado. Godzilla II tem mais cenas enolvendo monstros, e mais ação, mas o roteiro é péessimo, os personagens são pouco interessantes, e mesmo as cenas com as criaturas são bem menos criativas e interessantes; mas o sujeito que fez perfil fake para fazer propaganda de graça para um filme que é, em si, propaganda, e lucrou mais de US$ 1 bilhão acha a continuação bem melhor, então o que eu sei?
É uma comédia escrachada, mas também é uma retratação bem realista e sensível de como é amizade entre homens na adolescência. O filme também traz uma análise e uns temas que podem até ser considerados "maduros". A única parte que não bate com a realidade é que só um deles tem o costume de desenhar pênis em caderno, e quem já teve grupo de amigos entre durante o ensino fundamental e médio sabe que a maioria, se não todos, fazem isso.
Parece que Judd Appatow tentou fazer uma comédia que satiriza e critica a indústria cinematográfica e o mundo das celebridades, como Trovão Tropical, mas acerttou em uma porcaria tediosa que falha em ser inteligente, engraçado, ou mesmo chocante, e por algum motivo tem um elenco bom, como Movie 43. Nem Karen Gillian e Pedro Pascal conseguiram salvar esse filme para mim.
Mia Goth é uma ótima atriz, e quero deixar bem claro que também penso assim antes que exposição excessiva na mídia e fãs malas façam com que eu comece a ter uma reação negativa sempre que ela for mencionada. Pearl, na superfície, é mais um filme sobre a deterioração mental de um personagem que eventualmente acaba comentendo atos de violência, como Coringa, mas evita ser derivativo por conta de uma execução criativa. Eu gostei muito como o filme é apresentado inicialmente como um clássico da Era de Ouro do cinema, com uso de cores que tenta emular technicolor e uma trilha sonora que segue o tom dos clássicos americanos. Isso serve tanto para situar o filme temporalmente, durante a I Guerra Mundial (mesmo que filmes com cores não fossem comuns na época), como para estabelecer o estado mental da protagonista, com a justaposição das cenas violentas mais comuns a filmes de terror. Pearl é uma clássica história americana onde o protagonista vive em uma cidade pequena ou no meio do nada e sonha em sair de lá para "conquistar o mundo", que foi jogada em um moedor de carne junto com Texas Chainsaw Massacre e outros clássicos de terror da década de 70, e um pouco de drama de guerra europeu. A combinação acaba funcionando muito bem, e o resultado é um filme de terror com um roteiro bem sólido, mas é direto o suficiente que a galera mala que vive reclamando de "abstração", "metáforas" ou "alegorias" no gênero também vão gostar.
Já falaram bastante do monólogo no final, que é excelente, mas eu acho que a cena que vem logo depois também merece destaque: uma cena contínua, sem cortes, de uma perspectiva que transmite bem tensão, mas que filmes de terror raramente usam. É um aspecto que remete bastante aos clássicos que inspiraram Pearl, e por algum motivo, bem pouco utilizado. Meu problema com o filme é que fora Mia Goth e a atriz que interpreta a mãe da Pearl, o elenco é só "ok". Claro que não é um problema grande, porque esse é o show da Mia Goth, e a história é sobre uma pessoa que queria ser o centro das atenções, mas eu senti falta de outros personagens interessantes. Eu diria também que Pearl é tão bom e completo, que torna X praticamente irrelevante, mas isso é Maxxxine que vai definir. Bom filme, vale a pena.
Spielberg dirigiu vários filmes que é seguro afirmar que são clássicos incontestáveis, e é difícil achar alguém que não tenha pelo menos um filme dele entre os favoritos, eu incluso. O problema agora é eu não consigo deixar de pensar que O Resgate do Soldado Ryan foi o último filme realmente marcante que ele dirigiu, e embora ele tenha lançado alguns filmes interessantes até 2005, O Reino da Caveira de Cristal parece ter marcado o começo de uma espiral nos filmes do diretor, uma de indulgência excessiva com história americana e a própria carreira, sentimentalismo que passa um pouco do ponto, e o que quer que ele tentou demonstrar com Ready Player One. Os Fabelmans parece ser a culminação disso tudo (exceto RPO, ainda não consigo encaixar esse filme): é um filme auto-indulgente, com momentos de sentimentalidade que caem em melodrama, e que Spielberg fez principalemente para si. Aqui, Spielberg revisa a própria infância e adolescente pelas lentes (literalmente) de uma família fictícia, e o olhar pouco crítico em relação ao passado de um boomer americano que agora acha que filmes que saem direto em streaming não devem concorrer ao Oscar, mesmo que História de um Casamento e Roma sejam melhores que qualquer filme que ele lançou desde o começo dos anos 2000. The Fabelmans recebeu o que pode ser considerada uma indicação obrigatória da Academia, pois agora é seguro assumir que ano que Spielberg lança um filme é ano em que ele recebe indicações.
Eu sei que o filme é basicamente auto biográfico, mas também é um "filme", algo controlado que foi lançado para um grande público, então posso dizer que algo que me incomoda é a falta de foco: é a história de como Spiel.., quer dizer, Sammy decidiu seguir carreira em cinema, mas também é um drama familiar onde os pais dele têm problemas conjugais, mas também, em determinado momento, vira um drama de colégio cheios de clichê, incluindo os valentões que parecem que deveriam estar terminado a faculdade. Acho que tudo isso poderia ter sido apresentado de forma mais coesa e mais consistente, mas isso reflete outro problema: não me importaria tanto com isso se o filme realmente demonstrasse ser, ao menos em parte, biográfico. Tudo é muito romantizado, muito idealizado, muito artificial, até mesmo as cenas de conflito. The Fabelmans nunca deixa de parecer com mais um dos muitos filmes que tentam captar a nostalgia das décadas de 50 e 60 de forma não crítica. O mais próximo que chega de algo mais substancial é quando aponta que anti semitismo ainda era um grande problema nos EUA da época, mas isso é mostrado só através dos valentões clichê. O que me irritou em algumas cenas foi Spielberg se utilizando de um clichê bem mala, de crianças falando como adultos, e de forma confrontativa, no caso das irmãs do Sammy, e duvido que os pais teriam reagido tão bem, levando em conta o período. A cena
do valentão tendo um colapso por conta da forma como Sammy o retrata nas gravações eu tenho certeza que é só Spielberg inflando o próprio ego, e que não aconteceu de verdade.
O ritmo também não ajuda: o filme é bem repetitivo, algumas cenas duram tempo demais e continuam muito depois de deixar o ponto claro, incluindo a cena da dança (que achei até que começou a ficar desconfortável depois de um tempo, por conta da forma como é executada), e praticamente tudo o que envolve a trama do conflito conjugal. A atuação da Michelle Willians é ótima, a melhor do filme, mas a forma como muitas cenas com ela são esticadas, como a já mencionada dança e também a cena do filme dentro do armário, acaba cansando um pouco. Esse é um dos casos em que o filme poderia ter uma meia hora a menos e ainda contar a mesma história sem problemas.
A parte que eu mais gostei foi o final, quando David Lynch aparece interpretando John Ford, e eu acho que seria bom se o filme tivesse mais desses absurdos.
Obviamente muitos gostaram, mas não foi para mim. Achei muito indulgente, não justifica a própria duração, algumas cenas caíram muito no melodrama, muita romantização, e pouca preocupação em refletir sobre o período, em dizer qualquer coisa relevante no contexto em que o diretor se encaixava na época. A surpresa aqui vem do fato que eu achava que se eu fosse gostar menos de algum dos indicados ao Oscar desse ano que de Top Gun: Maverick, seria Elvis ou Avatar, e não um filme do Spielberg.
Se alguém quiser saber se um filme é realmente bom através do filmow, não veja os comentários positivos, mas veja se os comentários mais negativos transmitem um certo ar de frustração e desespero, usam muito termos como "superestimado" ou "delírio coletivo", que aqui no site são código para "não gostei, não sei dizer o por que, mas me incomodo que outros gostem" (e a culpa é dos próprios usuários que usam sem contexto ou explicação adequada, constantemente), tentativas de ofender opinião alheia, umas interpretações rasas só para chamar o filme de "raso", e claro, falta de argumentos reais. Todos os comentários com duas estrelas e meia ou menos que eu vi até agora demonstram algum desses pontos, então sim, o filme é bom. Deixando claro que ninguém é obrigado a gostar do filme ou achar bom, mas isso é diferente do tipo de comentário que um número considerável de pessoas adoram fazer aqui no filmow. Inevitável encontrar comentários similares em outras redes, mas o filmow tem um agravante bem óbvio, não vou especificar qual, porque aumenta as chances de eu receber respostas que provam meu ponto.
O título resume bem a proposta do filme, pois trata de vários assuntos diferentes, enquanto transita entre diferentes estéticas, gêneros cinematográficos, tons, emoções, usando o artifício atualmente bem comum do multiverso para justificar isso. Aqui, no entanto, o artifício é bem empregado, e é tirado máximo proveito do conceito para contar uma história: mesmo com essa duração de mais de duas horas, o filme se mantem consistente, e a suposta aleatoriedade sempre tem um propósito maior na trama. Toda mudança brusca de cenário, tom, de gênero cinematográfico, toda piada, por mais infantil que possa parecer, é executado de tal forma que o filme nunca perde o foco, e provavelmente vão achar que eu estou mentindo, mas eu nunca fiquei em dúvida do que o roteiro tentava comunicar em dado momento, ou por que escolheu escolheu comunicar daquela forma. Existem vários filmes de pequena escala por aí que mal conseguem manter um nínimo de consistência narrativa e temática (Fabelmans é um exemplo que eu vou comentar a respeito), e a execução desse filme dos Daniels deixa claro que os méritos vão muito além dos visuais.
Os efeitos especiais aqui são ótimos, e todo o aspecto visual complementa a narrativa. Mais impressionante é que esse filme teve um orçamento de US$ 25 milhões, e cada cena que tenta emular um gênero de filme diferente consegue ser melhor elaborada visualmente e mais interessante que exemplos de maior orçamento dos respectivos gêneros lançados recentemente. O filme também não seria tão bom se as atuações não fossem boas e os personagens não fossem bem escritos e interessantes, mas todos são, especialmente Michelle Yeoh e Jamie Lee Curtis; ver o garotinho de O Templo da Perdição interpretando a melhor pessoa de todos os universos e descendo a porrada com uma pochete é também algo que eu nunca pensei que descreveria.
Quanto a outras críticas, eu vi algumas pessoas chamando o filme de "raso", mas no mesmo comentário demonstram que não entenderam o suficiente, com uma interpretação rasa: esse é um filme que simplesmente não pode ser considerado raso, dado os temas que aborda e a forma como a história é executada. É claro que alguns vão dizer que o filme é frenético de forma pejorativa, feito para quem tem problema de atenção, mas isso não faz sentido, pois esse filme requer atenção para ser entendido. Alguns compararam com Interestelar, e também não funciona aqui: filmow é um dos únicos grupos de discussão online que boa parte dos usuários ainda consideram esse filme relevante ou clássico, e não, não é a mesma mensagem principal, e é executada de forma bem diferente. Se esse filme levar o Oscar vai ser um desses casos raros em que a Academia realmente premiou um dos melhores do anos.
Um dos raros casos onde o remake supera o original, por uma grande margem, Suspiria de 2018 é para o original o que The Thing de John Carpenter é para The Thing From Another World. Eu não vou fingir que essa nota reflete que eu entendi o filme totalmente, ou nem a maior parte dele, porque isso aparentemente exige conhecimento bem específico sobre acontecimentos da II Guerra, e o roteiro trata o assunto de tal forma que as linhas entre metáforas, surrealismo, a questão das "mães" e como elas se encaixam na história, e o porque da localização principal ser uma escola de dança ficam muito tênues e difíceis de distinguir. Também não vou fingir, no entanto, que entendimento absoluto é necessário para apreciar o filme, ou para ao menos entender que é efetivo na mensagem que passa, pois a sensação de desconforto, dúvida e confusão são parte do tipo de terror que o filme quer transmitir. Também não vou fingir que o original não é lembrado mais pelos visuais do que qualquer coisa, porque o roteiro estava em segundo plano naquele filme.
O remake expande em todos os aspectos do original, de forma bem literal: a uma hora a mais de duração servem para ressaltar o porque do convento das "mães" ser uma escola de dança, o papel da dança na trama principal, maior foco no aspecto da dança em si (que combina muito bem com o estilo da direção de Guadagnino). É também um filme muito mais gráfico e visceral, com mais sangue, e com corpos sendo dobrados de forma nada natural. A fotografia é um aspecto que vai bem na direção oposta do filme de 77: ao invés de cores vivas e primárias que pareciam propositalmente artificiais como forma de gerar desconforto, o remake tem uma fotografia mais sóbria, mais realista. Essa fotografia, adequadamente, segue o estilo de dramas de guerra europeus, e ironicamente, é bem mais próximo da estética típica dos filmes da década de 70 do que o próprio filme de 77. As atuações são muito boas, com Dakota Johnson no papel da protagonista mostrando que a abominável trilogia dos Cinquenta Tons de Cinza não foi uma boa representação dos talentos dela, e Tilda Swinton interpreta três personagens distintos, atestando pela qualidade dos efeitos e maquiagem do filme.
O filme é uma viagem, e acho que vale pela experiência. Depois desse, eu realmente quero que Guadagnino dirija remakes dos outros dois filmes da "Trilogia das Três Mães", Inferno e Mother of Tears, porque esses são casos de filmes que se beneficiariam de remakes, especialmente o péssimo Mother of Tears.
É um filme bem "ok", mas achei que iria gostar mais por ser uma homenagem ao clássico The Texas Chainsaw Massacre, um filme que eu gosto muito. Ainda é como uma continuação não oficial que é melhor que qualquer uma das continuações oficiais da franquia. Os temas abordados são interessantes, as atuações são boas (especialmente Mia Goth), a direção e fotografia são muito boas e mostram um entendimento do aspecto visual marcante do clássico de 74, mas achei que o filme durou mais do que deveria e acaba caindo demais em clichês que aparentemente tenta satirizar. Por melhor que a dupla atuação de Mia Goth seja, é inevitável eu comparar com a tripla atuação de Tilda Swinton no remake de Suspiria e sentir que aquele filme não recebeu a devida atenção.
Observação relevante: o crocodilo provavelmente é uma referência ao filme que Tobe Hooper dirigiu logo em seguida a TCM, Eaten Alive, e eu acho que a Bobby-Line, pela peruca loira e sotaque, também referenciam a protagonista do filme.
Bohemian Rhapsody é outra cinebiografia de alto orçamento lançada recentemente que busca lucro e uns Oscars, então não já não esperava muito além de um produto feito para ser facilmente digerível por qualquer público, com muitas licenças poéticas que deixam o filme caricato e desonesto. Essa adaptação, no entanto, vai além:ao mesmo tempo que tenta amenizar a história como um todo, ainda tenta pintar Freddy Mercury como o único membro do Queen que se envolvia nos excessos da vida de estrela do rock e tinha comportamento autodestrutivo. Ficou bem óbvio aqui que Brian May, Roger Taylor e John Deacon ficaram em cima dos roteiristas e do diretor para que qualquer ação "questionável" deles fosse deixada de fora; não posso dizer com certeza a respeito de Deacon, mas May e Taylor foram produtores executivos. Acho que ninguém comprou que eles eram "bonzinhos" e responsáveis da forma como foi mostrado no filme, e o efeito disso para os desavisados é que acaba fazendo Freddy parecer pior, simplesmente por contraste. Pelo menos para mim, analisando agora, faz com que eles pareçam ainda piores, nesse contexto: da forma como é mostrado no filme, eles praticamente não têm personalidade, então uma forma de interpretar é que a personalidade deles se resumia ao quanto aprontavam. Eu estou ciente que filmes biográficos mentem muito, mas isso vai além no quesito da falta de respeito com o espectador, um dedo do meio metafórico. Essa questão, claro, vem por cima dos pontos que o filme difere do que realmente aconteceu sem real justificativa, só para deixar essa biografia mais parecida com qualquer outro filme genérico.
A edição do filme é péssima, e isso é importante ressaltar, porque é um ponto onde existe pouca discordância, e de alguma forma o filme ganhou o Oscar de melhor edição. A Academia conseguiu tomar uma atitude ainda mais absurda no mesmo ano, dando o Oscar de melhor filme para Green Book, que consegue ser uma cinebiografia ainda mais desonesta e desrespeitosa que BR. Como ponto positivo, a atuação de Rami Malek foi muito boa, e a trilha sonora é excelente, mas isso obviamente não é mérito do filme.
Esse filme é realmente tão pior que os outros, ou os filmes do Kevin Smith sempre foram ruins e eu gostava porque meu gosto era ruim quando era mais novo? Eu comecei a questionar isso depois de assistir a esse "reboot", porque se eu gostava dos outros filmes do diretor, deveria gostar desse aqui, pois todos os elementos estão presentes, mas nada funciona. Kevin Smith quer tirar sarro de reboots mal feitos, nesse que provavelmente é o pior reboot lançado recentemente, e o humor referencial e meta não funciona quando está em algo consideravelmente pior do que tudo o que tenta tirar sarro. O roteiro faz piadas sobre como Kevin Smith não amadureceu, mas não é engraçado aqui, simplesmente por ser verdade: o filme parece algo escrito por um adolescente revoltado querendo mostrar os palavrões que aprendeu e reclamar do que não gosta no estado atual da cultura pop de forma bem rasa. Tudo parece tão desnecessário, vazio, forçado e pouco sincero que é dificíl se importar com qualquer coisa que acontece. Acho que eu gostei de ver algumas das participações, como Jason Lee e Joey Lauren Adams, pelo fator nostálgico, mas não importa o quanto eu goste desses atores, eles não estão no contexto mais adequado. Eu vi também que Clerks III simplesmente foi lançado e não houve muita divulgação nem comentários a respeito, e nem sei se quero assistir.
Jurassic Park III
3.1 488 Assista AgoraGostava mais de The Lost World quando era mais novo, por parecer mais como uma contnuação "legítima" de Jurassic park, mas agora é esse mesmo aspecto que me faz gostar um pouco mais do III. TLW falha na execução, por conta principalmente do roteiro e dos personagens, mas o III assume desde o início que é um filme B de alto orçamento, sem pretensões, sem tentar desenvolver a história da franquia. É uma sequência de pessoas fugindo de dinossauros que é tão curto que é até dificíl se incomodar tanto com os problemas, que esse filme tem muitos, mas funciona melhor como diversão descompromissada que o anterior.
O roteiro é absurdo: Grant volta nesse filme, e apesar de ter dito que nunca voltaria a uma ilha de dinossauros, é convencido por dinheiro. Essa parte até faz sentido, de uma forma triste: Grant é um pesquisador acadêmico, e financiamento nesse campo muitas vezes é difícil de aparecer. As pessoas que o contratam também mentem para ele sobre pousar na ilha, e efetivamente o sequestram. Os personagens, fora Grant e Eric, são estúpidos, mas o roteiro justifica a estupidez melhor que o anterior: Amanda e Paul são dois manés ricos que sabem nada da natureza, e os mercenários contratados que só estão no filme para morrer também sabem nada de dinossauros. A atitude do Billy é mais difícil de justificar, mas Grant aponta isso. Com o Eric, forçam a "armadura de roteiro" para crianças que os filmes anteriores tinham, com ele sobrevivendo na ilha sozinho por umas 8 semanas, o que é absurdo.
O maior problema do filme é como os dinossauros são retratados: houve um cuidado nos anteriores de mostrá-los como animais, matando para caçar e defender o território ou a cria. Aqui, o espinossauro é basicamente um vilão de slasher: persegue o grupo por toda a ilha sem motivo aparente, e cehga a destruir uma cerca reforçada. O roteiro chega a estabelecer uma motivação para a perseguição das raptores, mas a cena em que um deles quebra o pescoço de um dos mercenários e larga o corpo é algo que o Jason faria.
Não é um filme bom, no geral, mas como eu falei, o fato de basicamente abraçar o ridículo e a curta duração, para mim, o tornam uma experiência ao menos mais divertida que o anterior.
O Mundo Perdido: Jurassic Park
3.5 612 Assista AgoraSpoilers para um filme de mais de 20 anos.
Apesar de também ter sido dirigido pelo Spielberg, The Lost World é uma continuação decepcionante que tem muito pouco do que torna original tão bom. É interessante que esse filme tenta contar uma história mais sombria e diferente que não é só uma repetição dos esventos do original, mas a execução é falha. O principal problema são os personagens: é muito difícil simpatizar com os mercenários da Ingen, mas os "mocinhos" para os quais você supostamente dever torcer são, na maioria, muito estúpidos e acabam causando a morte de pessoas inocentes com suas atitudes. Sarah, suposta especialista em vida selvagem, logo no começo tenta tocar em um dos dinossauros, o grupo, ao soltar os dinossauros, provavelmente leva à morte de várias pessoas que só estavam fazendo um trabalho, e Nick e Sarah acham uma boa ideia levar um bebê de tiranossauro para o trailer, o que leva à morte bem cruel de um dos únicos personagens sensatos do filme. Um mercenário morre de forma hilária para um dos dinossauros mais inofensivos da franquia porque decide se separar do grupo em uma ilha cheia de dinossauros, e um velociraptor, que é estabelecido como um predador muito perigoso, é derrotado pelas acrobacias de uma menina, porque Spielber quis forçar o aspecto "família" em algumas cenas. Claro, o motivo do rex atacar o grupo em uma das cenas é que Sarah, supostamenta especialista em comportamento de predadores no reino animal, insiste em manter uma roupa com sangue do filhote.
Parece que a estupidez dos personagens foi proposital, porque Malcolm, o mais sensato, constantemente aponta a estupidez alheia, mas apontar as falhas do o roteiro não o torna melhor, porque é estabelecido que os personagens deveriam ser mais espertos. Outro problema em relação ao anterior é a fotografia: tentaram algo mais "sombrio", mas só ficou mais escuro, mesmo. Um ponto interessante é que o primeiro filme usa um aspecto que valoriza o aspecto vertical da imagem, o que contribui para fazer o que precisa parecer grande realmente parecer grande, algo que nenhuma das continuações usou, e um aspecto do tipo "você pode não notar, mas seu cérebro notou". Perde-se também nas tomadas amplas do primeiro filme que valorizavam ambiente e cenário, deixando esse filmes sobre dinossauros em uma ilha com uma sensação claustrofóbica.
Muitos parecem gostar do ato final em San Diego, e acho que é a melhor parte do filme em comparação, mas eu acho que Jurassic Park sempre perde alguma coisa quando tentam sair das ilhas. Os efeitos são bons, serve como divertimento.
The Flash
3.1 747 Assista AgoraThe Flash é um filme péssimo ao qual todos deveriam assistir. Sério. Funciona como uma autópsia que sumariza muito bem todos os problemas com as tentativas de fazer um universo cinematográfico DC para competir com a Marvel às pressas, e com filmes de super herói e de alto orçamento atuais, no geral. Tentaram algo no estilo de Days of Future Past, de "resetar" o universo por conta da bagunça anterior, mas parece que só o que aprenderam com o filme dos X-Men é que um dos principais envolvidos é alguém que deveria estar preso (não vou lembrar das acusações contra o Bryan Singer aqui, nesse ponto nem tenho mais energia para isso). Tentaram também entrar na história do multiverso que nesse ponto também já saturou, copiando da Marvel que copiou de outros filmes e obras melhores, e não fizeram isso bem: não acho Sem Volta para Casa muito bom, mas no mínimo do mínimo, tinha o apelo nostálgico; aqui, só trouxeram o bátima do Keaton com algum peso nesse aspecto, mas ele passa a impressão de não querer estar no filme. Não acho que exista muita nostalgia por O Homem de Aço de 2013. O roteiro é uma bagunça nonsense que não faz sentido em si, ou comparado aos filmes anteriores do DCU, os efeitos são ruins, e o conjunto te faz questionar para onde o roçamento foi. A atuação do Ezra Miller é muito ruim, o personagem é irritante, e tem mais de um dele no filme, para piorar.
The Flash é um filme que originalmente seria lançado há uns oito anos atrás, e é uma bagunça feita por estúdio de proporções fascinantes, até para os padrões do DCU. O roteiro é péssimo, as atuações são ruins, falha na tentativa de "remendar" o universo, e visualmente parece vômito em CGI (uma das cenas é, literalmente, vômito em CGI).
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraNão duvido que Desmond tenha sido um grande ser humano altruísta, mas esse filme é outro caso do Mel Gibson se apropriando de uma história real para fazer propaganda americana piegas e religiosa. O absurdo da cena inicial chega a ser cômico, com o roteiro implicando que Desmond se Desmond não tivesse visto um pôster de Caim e Abel na parede, ele não teria percebido que violência é ruim: acho que a imagem do irmão dele convulsionando de forma horrível não foi suficiente. Uma pessoa não arrisca a vida para salvar outras no front sem um mínimo de empatia humana.
O começo é bem típico de filmes modernos americanos piegas da II Guerra: filtro suave para dizer que é a década de 40, romance clichê colocado de forma clichê, e tudo executado de uma forma que deixa óbvio desde o início que sacrificaram autenticidade por uma formulinha básica e confortável. Depois vem a cena do treinamento, onde cada recruta é retratado como tendo uma personalidade única, caricata e facilmente distinguível, e Vince Vaughn falha em convencer como o "sargento durão". Tem até um cara que aparece pelado, para efeito cômico, e sofre nem perto do tipo de punição que ele sofreria por esse comportamento no exército americano na década de 40.
O filme depois tenta te convencer que Desmond sofre perseguição dentro de uma das instituições mais tradicionais americanas por ser adepto de uma das instituições americanas mais tradicionais. Isso é obviamente o Mel Gibson tentando forçar a narrativa de que adeptos de religiões baseadas na Bílblia sofrem perseguição sistêmica, o que é hilário no contexto ocidental. A única parte convicente é quando o pai do Desmond chega para dar carteirada. Tentam também te convencer que o altruísmo de Desmond é devido à fé dele, mas me desculpem, esse nível de altruísmo requer mais do que só "fé": aliás, pelo o que eu observo de típico comportamento "religioso", o que o pessoal chama de "fé" vai contra o altruísmo, na maioria dos casos.
As cenas de combate também não se salvam. Não sei porque muitos estão se referindo a elas como se fossem no mesmo nível de um filme como O Resgate do Soldado Ryan, porque apesar da guerra ser um negócio grotresco e violento, parece que Mel Gibson sacrificou autenticidade por violência e choque, o que tira o impacto que as cenas deveriam ter. Um exemplo na primeira batalha: vários soldados são mortos por uma metralhadora de alto calibre, mas logo depois, outro soldado consegue correr em campo aberto, na direção dos inimigos, usando só um torso como proteção, e uma pistola como arma, em uma situação em que nem conseguiria mirar direito. Isso não é "realismo", parece mais uma partida de Call of Duty. Eu não sou um especialista em combates históricos da II Guerra, então não vou afirmar com certeza, mas eu acho que mesmo as batlhas em trincheira do período dificilmente chegavam a um ponto em que soldados inimigos chegavam tãpo perto um do outro. Existe também, claro, a hipocrisia de um filme religioso tentar convencer que é "anti-guerra".
Tár
3.7 395 Assista AgoraSpoilers, provavelmente.
Tár é um filme que parece ter desanimado muitos pelo ritmo e pela frieza, mas isso é proposital e o que o torna tão efetivo. O formato é quase o de uma tese bem construída, que ao dispensar as "firulas" típicas do gênero, consegue ser um filme biográfico bem autêntico, principalmente se comparado a qualquer outro do tipo que normalmente é indicado ao Oscar, mesmo sendo uma biografia fictícia, ironicamente.
Tár começa com um argumento típico de separar a arte do artista, um que é confortável e que muitos, ao menos, afirmam concordar, mas sempre apresenta questionamentos a esse mesmo ponto. O argumento é inicialmente colocado pela própria compositora, de forma mais eloquente (alguns diriam "manipuladora"), mas nesse ponto, a audiência já está ciente que ela mesma está tentando encobrir um escândalo. Estamos cientes também que Lydia está encarregada de redigir uma apresentação ao vivo do compositor Gustav Mahler, e em entrevistas, ela menciona aspectos da vida do autor como essenciais para a sua obra, e assim o roteiro apresenta de forma sutil e orgânica à história uma inconsistência inerente ao argumento, que quando surge, não significa de fato "separar" o autor da obra, mas ressaltar suas virtudes pessoais, sendo ou não relevantes para seu trabalho, e ignorar qualquer atitude negativa, mesmo que tenham impactos reais. Em certo ponto, Tár também tenta argumentar que a questão do gênero não é relevante para o sucesso na indústria, mencionando grandes compositoras que criticaram esse aspecto, e durante todo o filme adota comportamento e posturas considerados tipicamente masculinos.
Mais ou menos a partir da segunda metade para o final, o filme apresenta as conclusões de suas ideias iniciais: Tár é alvo de manipulações análogas às quais tomou parte durante o filme, e apesar de ter "jogado o jogo" da indústria pelas suas "regras", suas atitudes não são ignoradas e ela sofre uma punição que a maioria dos seus colegas de profissão que também mentiram e manipularam não sofreram, e nunca sofrerão. A cena da "casa de massagens", no contexto do filme, é a compositora sendo confrontada, de forma intensa, com as consequências do tipo atitude "normalizada"com a qual ela contribuiu, em alguma medida. Durante o filme, vemos também como suas atitudes supostamente pessoais não são independentes de sua vida profissional, e sua deterioração psicológica quando perde o controle que pensava que tinha, por conta de uma personalidade arrogante e controladora típica da profissão, a do regente, que literalmente tem a tarefa de "controlar"o tempo.
Nada funcionaria se a execução não fosse excelente, claro: a atuação da Cate Blanchett é ótima, e o elenco de suporte também é muito bom: particularmente, gostei ver Noémie Merlant, de Retrato de uma Jovem em Chamas, em um dos papeis. O ritmo é bem construído, e o filme não é cansativo e nenhuma cena parece desnecessária, apesar da longa duração.
Oppenheimer
4.0 1,1KImpressão minha, ou esse filme já está na sessão "Estreias da semana" do site há pelo menos um mês?
Pânico VI
3.5 798 Assista AgoraDepois desses últimos dois filmes, Scream virou mais uma franquia de slasher que teve continuações demais e desvirtuou tanto da proposta original que virou uma paródia de si mesma, e no caso de uma franquia cuja proposta original era ser uma paródia e crítica dos clichês típicos do gênero, isso não é bom. Já não achei o 3 bom, e o 4 não foi muito melhor, mas 5 e 6 me fizeram valorizar mais, em perspectiva, o quanto a visão do idealizador original importa no contexto da franquia e no roteiro, a falta da Neve Campbell, David Arquette e uma Courtney Cox apagada deixam claro o quanto a química e carisma do elenco principal sustentavam os quatro primeiros filmes. Scream 5 e 6 são muito mais próximos daquela série péssima produzida pela MTV do que dos quatro primeiros filmes, e infelizmente, e obviamente, não existe a possibilidade de Wes Craven retornar à franquia para um sétimo filme que resgata os elementos que tornaram o original tão memorável e relevante, como fez em A New Nightmare. Ao meu ver, a recepção positiva que esse sexto filme teve se deve principalmente a três tipos de público: pessoas que por algum motivo não gostaram do filme original, e não se importam com os elementos que o tornam bom; pessoas que nunca viram o original, ou qualquer um dos anteriores; pessoas que gostam da Jenna Ortega e acham que um ator carismático é suficiente para salvar o filme (mesmo que a personagem em si não seja muito interessante).
O filme não funciona dentro da própria proposta de ser uma crítica à mídia "True Crime" que ficou popular nos últimos, porque aborda o assunto de forma superficial em entrar nos detalhes que tornam o gênero tão controverso e nocivo, e comete o mesmo erro do quinto de filme, de reverenciar tanto e tão cegamente os primeiro filmes que acaba tendo uma reverência não irônica por aspectos que esses filmes criticavam. Um comentário sobre o True Crime no contexto da franquia é algo que poderia ter funcionado muito bem, mas esse filme simplesmente não entende a forma como os originais montam uma crítica, e ao invés de comentar sobre a tendência do gênero de romantizar psicopatas, banalizar violência e, em muitos casos, destruir a vida das vítimas com exposição midiática, é um filme que banaliza a violência e chega a romantizar aspectos que nos originais eram propositalmente mostrados como grotescos.
Sim, a questão da violência no filme é um ponto importante: a franquia sempre contou com um aspecto de irreverência e humor pastelão, mas pelo menos nos quatro primeiros, violência e sangue eram sempre mostrados como algo grotesco, desconfortável, algo sério, mesmo no contexto da história, até mesmo quando era usada para tirar sarro da estupidez dos assassinos. Aqui decidiram que seria uma boa ideia que uma das personagens reagisse a ser esfaqueada com uma piadinha, e conseguisse sair andando tranquilamente momentos depois. Scream VI tem as mortes mais gráficas da franquia, mas o tom inadequado e o elenco sem carism tiram todo o impacto e a importância que deveriam ter;
nem as mortes de Dewey e Gale nos dois últimos filmes conseguiram ter algum impacto
o filme sugere em vários momentos, inclusive no final, que ela pode se tornar outro assassino, o que é estúpido, principalmente no contexto da franquia.
Em aspectos positivos, Kirby volta, mas incluem ela na história de forma bem preguiçosa, com o clichê de personagem que volta trabalhando para o FBI, polícia ou alguma agência do governo, e no processo apagaram toda a personalidade dela. A história se passar em Nova York poderia ter sido um aspecto interessante, mas esse é um caso parecido com Sexta Feira 13 Parte VIII, onde isso não é aproveitado e a grande maioria das cenas poderia se passar em qualquer outro lugar que não faria diferença. Uma das primeiras cenas inclusive mostra um dos assassinos esfaqueando pessoas em uma loja de conveniências, quando na realidade provavelmente haveriam pelo menos umas duas pessoas além do caixa sacando uma arma assim que vissem o sujeito. Os assassinos são outro problema, porque assim como no filme anterior, e ao contrário dos originais, não houve uma preocupação em estabelecer consistência entre o comportamento específico de cada um, quando estão usando a fantasia. Os personagens, além de não terem carisma, são muito burros, pois em vários momentos eles têm a oportunidade de subjugar e desmascarar algum dos assassinos, mas sempre escolhem correr: um dos personagens principais é um fortão literalmente chamado Chad, que, sem dar spoilers, é mais forte que qualquer um dos assassinos. São muitos detalhes e problemas de consistência típicos de um slasher genérico, e acho que serve como entretenimento, mas a franquia já foi mais do que isso.
Super Mario Bros.: O Filme
3.9 785 Assista AgoraO comentário ficou longo, mas não tem spoiler. Não quer ler, não precisa responder "nem li", ou algo do tipo: não perca seu tempo ou meu, simplesmente ignore.
Nostalgia, referências e fidelidade superficial com o material original sozinhos não fazem um bom filme, e isso é tudo o que The Super Mario Bros. Movie tem a oferecer. É uma propaganda bem cara de 90 minutos da Nintendo que não te deixa esquecer que também é mais um produto cínico da Illumination. É uma fórmula que infelizmente tem funcionado bem nos últimos: básico, seguro e frenético para as crianças, mas com fator nostálgico, referências, e uma polidez superficial que tentam ofuscar as falhas e fazem com que determinados adultos façam o trabalho de defender o filme agressivamente contra qualquer crítica, por mais válida que seja. Deixando claro que se você gostou do filme sem a necessidade de atacar quem tem uma opinião diferente, ótimo, essa crítica não se aplica a você. Deixando claro também que o "argumento" de que "é um filme para crianças" não funciona, por vários motivos óbvios que eu não preciso listar aqui.
O aspecto mais controverso antes do lançamento foi a escolha dos atores que dublam os personagens, e isso é algo que prejudica o filme, porque obviamente a escolha foi feita, na maior parte, com base em popularidade, e não em quem era mais adequado para o papel. Não é de todo ruim: fiquei surpreso com o quão bem Jack Black incorpora Bowser (exceto naquela cena que foi feita com o propósito óbvio de virar um meme que é basicamente um clipe do Tenacious D), Toad ficou bom, Charles Martinet como o pai do Mário é uma das poucas referências que são justificadas, e John DiMaggio é sempre bom, mas esses dois últimos aparecem tão pouco que nem faz diferença. O problema é que no elenco principal, você não escuta os personagens, mas os atores: Chris Pratt soa como ele mesmo, Anya Taylor-Joy parece tentar esconder o sotaque britânico mais do que incorporar o personagem, e o Donkey Kong do Seth Rogen é o mesmo personagem que ele interpreta em qualquer outro filme, menos a maconha e os palavrões. Nem sei se é justo criticar os atores, nesse caso (Exceto Chris Pratt, que não é um bom ator no geral, mesmo) porque eu não sei quem poderia fazer esses diálogos soarem bem.
Acho que o mais frustrante, pelo menos para mim, é que esse filme representa um retrocesso, no geral, e como adaptação de um videogame. The Lego Movie já mostrou que é possível fazer um bom filme, com roteiro decente e que pode ser apreciado tanto por crianças quanto adultos, que também é cheio de referências para quem é nostálgico pela marca; Castlevania do Netflix, e principalmente Arcane e The Last of Us já mostraram que adaptações de videogames podem ser muito boas, mesmo que não comparadas a outras consistentemente péssimas do passado. Esse filme do Mario foi elogiado por uma suposta simplicidade, mas existe uma diferença entre simplicidade funcional e uma decisão cínica de seguir clichês batidos simplesmente porque o roteiro é só uma base para visuais e referências: a insistência nessa história de "jornada do herói" com Mario buscando a aprovação do pai e tem uma oportunidade bem conveniente estilo isekai de fazer isso só impede, junto com a estupidez constante típica da Illumination, impedem que a história abrace o absurdo e irreverência da própria proposta. Nesses mais de 40 anos de franquia, o personagem já foi colocado em jogos com boa escrita, realmente engraçados e até inteligentes (como é o caso dos RPGs), sem sacrificar irreverência. A animação, mesmo como uma propaganda do encanador, não mostra os melhores ou mais notáveis aspectos da franquia, mas é simplesmente uma vitrine dos seus aspectos mais imediatamente reconhecíveis, com um resquício de roteiro. Lembra o filme de Silent Hill de 2006, no sentido em que não se sustenta se analisado além do aspecto de fidelidade visual superficial. Pessoalmente, eu gosto mais da adaptação de 93, porque embora seja péssimo como filme, uma bagunça, é mais interessante por ter alguma criatividade envolvida no uso do material original.
Eu vi alguns comentários de pessoas dizendo que querem uma adaptação de The Legend of Zelda pela Illumination, mas acho que ninguém quer isso, de verdade. A recepção do público desse filme do Mario tem muito a ver com o fator novidade de ver o personagem em tela de forma mais ou menos fiel, mas é um sentimento que não vai se sustentar se fizerem algo similar: filmes semelhantes não associados a propriedades reconhecidas não tiveram boa recepção de crítica ou público, e a recepção da enxurrada de mídia Star Wars nos últimos anos demonstram que nem uma propriedade conhecida se sustenta só em visuais e nostalgia. Uma adaptação de TLoZ tem potencial para ser muito boa, nas mãos certas: talvez como uma série animada, ou um filme dos estúdios Ghibli.
A Morte do Demônio: A Ascensão
3.3 817 Assista AgoraTalvez eu tenha virado um babaca cínico, mesmo, porque Evil Dead Rise no geral é decente como filme de terror, e não deixa muito a desejar como um novo filme da franquia, e no geral achei melhor executado que o remake/reboot de 2013 (embora deixe a desejar em outros aspectos, em comparação), mas alguns aspectos eu não consigo relevar. Eu detesto o fato de que o cinema de terror aparentemente ainda não superou essa fase que começou nos anos 2000, com fotografia de baixa saturação e escura com a pretensão de criar suspense mas que só sacrifica clareza visual e serve para esconder CGI que não é muito bom; inclusive, estamos em 2023, e alguns estúdios e diretores ainda ainda acham que CGI meia boca pode ser convincente, ou se recusam a aceitar que efeitos práticos simplesmente funcionam melhor em determinados filmes, e Rise tem uns efeitos práticos muito bons. A cena de abertura do filme (que é bem desnecessária para a história) se passa durante o dia, com o céu limpo, mas tudo ainda é muito escuro. O aspecto da dinâmica familiar é interessante, e as atuações não são ruins, mas outros filmes de terror recentes (e que não são continuações) fizeram algo semelhante de forma mais efetiva; inclusive, parece que o roteiro tenta, ao mesmo tempo, ser um terror caricato e irreverente como a trilogia original, e ser algo mais sério, mas não consegue conciliar ambos. O final também me incomodou um pouco:
acho que comete o mesmo erro do filme de 2013 em simplesmente colocar referências aos filmes antigos, mas sem muita lógica, como o carro clássico aparecendo novamente, e a protagonista novamente encontrando uma motosserra, e ao mesmo tempo, o monstro no final vira uma criatura metafórica que faria sentido em Silent Hill, mas não faz muito sentido aqui.
Serve como entretenimento, foi divertido ver no cinema, mas acho que eu queria um pouco mais. Para mim, Drag me to Hell ainda é o mais próximo de um Evil Dead 4 a ser lançado nos cinemas.
Thor: Amor e Trovão
2.9 973 Assista AgoraEsses filmes Marvel pós Ultimato serviram para ressaltar que eu nunca me importei muito com essa continuidade do MCU, e mais com os méritos individuais de cada filme. Love and Thunder é um filme bobo, cheio de piadinhas forçadas, mas esse sempre foi a média do MCU, e ainda é um melhor filme no geral que Thor 1 e 2, não que seja dizer muito. O roteiro não é grande coisa, mas sejamos honestos, de todos os sei lá quantos filmes desse universo lançados até agora (mais de 30? Eu perdi a conta...), só uns dois e meio, talvez três, têm um bom roteiro, sem ressalvas, e dois desses são dos Guardiões da Galáxia, que são mais filmes do James Gunn do que do MCU, de qualquer forma. Love and Thunder ainda tem umas decisões criativas, e eu acho que a comédia funciona até certo ponto: eu gosto que os deuses são basicamente uma piada o filme todo, o que, sinceramente, é bem consistente com o universo estabelecido e as mitologias nas quais são baseados (de qualquer religião, na verdade, mas a sociedade atual ainda não está pronta para essa conversa); sem falar que Sam Neil, Matt Damon e o irmão do Chris Hemsworth interpretando Odin, Loki e Thor em um teatrinho meia boca dentro do universo do filme é uma piada que, pelo menos para mim, ainda não perdeu a graça.
O problema é quando o filme tenta enfiar umas tramas bem pesadas e tristes nesse contexto: a questão da Jane Foster parece forçada, e por mais que a atuação de Christian Bale seja boa, a história do vilão simplesmente não combina com esse filme. É compreensível que os fãs não tenham gostado por não atender às expectativas de um filme dentro da continuidade do MCU, mas é ridículo quando tentam desmerecer todos os trabalhos do Taika Waititi por conta desse: é bem óbvio que o diretor fez esse filme como parte de uma obrigação contratual e como uma forma de poder financiar os filmes menores que realmente quer fazer (e com Ragnarok foi a mesma coisa), e isso não torna filmes como What we do in the Shadows e The Hunt for the Wilderpeople piores, em comparação. Sinto dizer, mas Love and Thunder é só mais filme da Marvel que não importa tanto para quem realmente se interessa pelos trabalhos do diretor, ou cinema no geral. Serve como entretenimento leve e raso, como basicamente todo o MCU.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraPoderia ter sido um estudo de personagem bem interessante, mas acaba ficando óbvio que é uma plataforma para Denzel Washington massagear o próprio ego e alavancar a própria carreira em uma história que tenta justificar e redimir as ações de um personagem deplorável. Denzel mastiga o cenário, e cospe só os ossos para o resto do elenco, mesmo que a atuação de Viloa Davis seja o verdadeiro destaque aqui. O personagem do Troy começa o filme falando, e nunca para de fato, interrompendo os outros personagens mais do que o Faustão interrompe os convidados: interrompe o filho para tentar justificar porque está tentando basicamente arruinar a vida do garoto, interrompe a mulher para tentar justificar o porque traiu, e até quando está sozinho interrompe o silêncio do filme para monologar. Eu gosto de histórias com personagens falhos, desde que não tente me enfiar goela abaixo que eu deva aceitar que esse personagem foi redimido, e é isso o que o roteiro de Fences tenta fazer, principalmente na última cena.
Godzilla II: Rei dos Monstros
3.2 651 Assista AgoraEssa continuação aparentemente sofreu do mesmo mal que afetou The Rise of Skywalker e Alien: Covenant: uma parcela do público que assistiu ao anterior criticou e encheu muito o saco em aspectos que nem eram problemas de verdade, ou exageraram os problemas, e o estúdio entregou o que essas pessoas supostamente queriam na continuação, mas naquele estilo que estúdio faz. O resultado é um filme que não agrada a quem gostou do primeiro, como eu, nem a quem não gostou.
No caso de Godzilla de 2014, reclamaram horrores que os monstros apareciam pouco e que a trama envolvendo os humanos era chata, embora as atuações fossem boas, os personagens bem desenvolvidos, e os filmes clássicos de "monstro" que são lembrados até hoje são os que têm forte elemento humano. Parece também que essas pessoas não ligaram para o ótimo trabalho que Gareth Edwards e a equipe de efeitos especiais fizeram com os monstros, realmente transmitindo a escala com truques de câmera e luz e sombra: embora aparecessem pouco, o cuidado nas cenas valia a espera. Em Godzilla II, os monstros aparecem bem mais, e cenas de luta entre eles são mais frequentes, mas isso significa também que as cenas não têm o mesmo cuidado do filme anterior, essas cenas são à noite para esconder alguns aspectos menos polidos dos efeitos, e é mais difícil de ver a ação se desenrolando. O filme tem bem mais cenas com monstros, claro, mas praticamente todas são péssimas nesse.
Também atendendo a pedidos, esse filme foca menos nos personagens humanos, o que só significa que eles não são bem desenvolvidos, a história é bem boba, e é difícil se importar com qualquer coisa que acontece na trama por conta disso. Esse filme tem Vera Farmiga e Charles Dance, dois ótimos atores, e mesmo assim eu nem consigo lembrar de detalhes da trama ou do desenvolvimento dos personagens; por outro lado, eu ainda lembro da história e motivações do Mercúrio e da Feiticeira Escarlate do filme anterior. Colocaram Millie Bobby Brown no filme, porque Stranger Things fez muito sucesso, mas um papel em que ela realmente tem que falar e agir só serviu para mostrar que ela não atua muito bem. Existem duas cenas em particular, uma de cada um dos filmes, que demonstram bem a diferença nas prioridades do roteiro e deixam bem claro um problema fundamental com o segundo: no filme de 2014, um soldado treinado sofre dano colateral de um dos monstros menores do filme, e o filme que ele sofreu, e se machucou feio; no filme de 2019, um monstro que é considerado um deus nesse universo lança um raio que cai a uns 5 metros de uma menina adolescente, ela cai no chão, mas depois levanta como se nada tivesse acontecido. Depois que Skull Island foi não muito bom, e Godzilla vs. Kong foi péssimo, é triste ver o potencial desperdiçado desse "monstroverso".
Os Banshees de Inisherin
3.9 571 Assista AgoraMartin McDonagh dirigindo um Colin Farrel interpretando um pesrsonagem deprimido é um dos meus gêneros de filme favoritos. Não vou falar mais, porque discussão no filmow já foi poluída a tal ponto que nos comentários tem os malas que se orgulham demais porque gostam de um filme com ritmo lento e se sentem superiores por isso, e os malas que realmente acreditam que não existe mérito em um filme só porque não gostam dele. Acaba sendo uma representação muito adequada do conflito entre Pádraic e Colm: ambos são muito chatos, apesar de tudo.
Re/Member
2.5 68 Assista AgoraLembra muito Corpse Party na premissa (provavelmente foram inspirados nas mesmas lendas urbanas japonesas), mas com bem menos foco em brutalidade e mais foco no drama adolescente. Isso não é necessariamente um problema, mas nesse filme parece que usaram só para aumentar a duração de forma artificial: tem inclusive uma parte onde a trama é interrompida só para os personagens irem à praia, que nesse tipo de história, é código para "filler" e fan service desnecessário e desconfortável (aqui pelo menos é só "filler", mesmo). Não existe tensão, porque a atmosfera de terror é constantemente interrompida, e nem os personagens levam a situação a sério na maior parte do tempo.
O maior problema é que Re/Member é obviamente uma produção de orçamento bem baixo e com pouco cuidado: as atuações são bem ruins, lembrando mais um dorama genérico do que um filme; os efeitos são fracos, e na maior parte do tempo, onde algum efeito prático deveria acontecer, eles cortam para sangue falso espirrando na parede ou em algum personagem, ou a cena é propositalmente escura para esconder a falta de efeitos.
Em algumas cenas o monstro supostamente está devorando os personagens, mas isso nunca é mostrado
Godzilla
3.1 2,1K Assista AgoraMantenho minha opinião de que Godzilla de 2014 foi um filme muito injustiçado pelo público. Parece que focaram demais no fato de Godzilla aparecer pouco para se darem conta de que é uma decisão consciente: historicamente, no cinema, os que são considerados os melhores filmes de "monstro" são os que têm um forte elemento humano no roteiro, e esse filme tem personagens decentes com boa atuação, e mostrar muito a criatura pode tirar o impacto dela aparecendo em tela. Também não funcionaria se a apresentação dos monstros não fosse interessante: existe um cuidado aqui pouco visto em filmes de criaturas gigantes, porque não basta o CGI ser bom, mas a forma como ele é empregado, os truques de câmera, iluminação e perspectiva usados para realmente transmitir uma sensação de escala e fazer o que é grande realmente parecer grande, e infelizmente parece ser algo que a maioria que assistiu ao filme não apreciou; a cena do salto em meio à fumaça, em particular, é uma demonstração do quão bem o filme comunica isso. Consigo pensar em poucos filmes que fazem isso de forma tão efetiva, e entre eles estão Jurassic Park e Monstros, outro filme do Gareth Edwards. Exemplo de como isso não ficou bem feito é dentro do próprio "monstroverso": nenhum outro filme teve esse cuidado do primeiro, mas em Godzilla vs. Kong em particular poderia ser um chimpanzé cutucando uma iguana em cima de uma maquete que não faria diferença em termos da escala transmitida.
Infelizmente, Godzilla de 2014 teve destino semelhante a filmes como Prometheus e The Last Jedi: houve muita reclamação focada no que eram reais problemas do filme, e os estúdios acharam que era uma boa ideia levá-las em consideração, do jeito deles, e as respectivas continuações são consideravelmente piores como resultado. Godzilla II tem mais cenas enolvendo monstros, e mais ação, mas o roteiro é péessimo, os personagens são pouco interessantes, e mesmo as cenas com as criaturas são bem menos criativas e interessantes; mas o sujeito que fez perfil fake para fazer propaganda de graça para um filme que é, em si, propaganda, e lucrou mais de US$ 1 bilhão acha a continuação bem melhor, então o que eu sei?
Superbad: É Hoje
3.6 1,3K Assista AgoraÉ uma comédia escrachada, mas também é uma retratação bem realista e sensível de como é amizade entre homens na adolescência. O filme também traz uma análise e uns temas que podem até ser considerados "maduros". A única parte que não bate com a realidade é que só um deles tem o costume de desenhar pênis em caderno, e quem já teve grupo de amigos entre durante o ensino fundamental e médio sabe que a maioria, se não todos, fazem isso.
A Bolha
2.3 78Parece que Judd Appatow tentou fazer uma comédia que satiriza e critica a indústria cinematográfica e o mundo das celebridades, como Trovão Tropical, mas acerttou em uma porcaria tediosa que falha em ser inteligente, engraçado, ou mesmo chocante, e por algum motivo tem um elenco bom, como Movie 43. Nem Karen Gillian e Pedro Pascal conseguiram salvar esse filme para mim.
Pearl
3.9 992Mia Goth é uma ótima atriz, e quero deixar bem claro que também penso assim antes que exposição excessiva na mídia e fãs malas façam com que eu comece a ter uma reação negativa sempre que ela for mencionada. Pearl, na superfície, é mais um filme sobre a deterioração mental de um personagem que eventualmente acaba comentendo atos de violência, como Coringa, mas evita ser derivativo por conta de uma execução criativa. Eu gostei muito como o filme é apresentado inicialmente como um clássico da Era de Ouro do cinema, com uso de cores que tenta emular technicolor e uma trilha sonora que segue o tom dos clássicos americanos. Isso serve tanto para situar o filme temporalmente, durante a I Guerra Mundial (mesmo que filmes com cores não fossem comuns na época), como para estabelecer o estado mental da protagonista, com a justaposição das cenas violentas mais comuns a filmes de terror. Pearl é uma clássica história americana onde o protagonista vive em uma cidade pequena ou no meio do nada e sonha em sair de lá para "conquistar o mundo", que foi jogada em um moedor de carne junto com Texas Chainsaw Massacre e outros clássicos de terror da década de 70, e um pouco de drama de guerra europeu. A combinação acaba funcionando muito bem, e o resultado é um filme de terror com um roteiro bem sólido, mas é direto o suficiente que a galera mala que vive reclamando de "abstração", "metáforas" ou "alegorias" no gênero também vão gostar.
Já falaram bastante do monólogo no final, que é excelente, mas eu acho que a cena que vem logo depois também merece destaque: uma cena contínua, sem cortes, de uma perspectiva que transmite bem tensão, mas que filmes de terror raramente usam. É um aspecto que remete bastante aos clássicos que inspiraram Pearl, e por algum motivo, bem pouco utilizado. Meu problema com o filme é que fora Mia Goth e a atriz que interpreta a mãe da Pearl, o elenco é só "ok". Claro que não é um problema grande, porque esse é o show da Mia Goth, e a história é sobre uma pessoa que queria ser o centro das atenções, mas eu senti falta de outros personagens interessantes. Eu diria também que Pearl é tão bom e completo, que torna X praticamente irrelevante, mas isso é Maxxxine que vai definir. Bom filme, vale a pena.
Os Fabelmans
4.0 389Spielberg dirigiu vários filmes que é seguro afirmar que são clássicos incontestáveis, e é difícil achar alguém que não tenha pelo menos um filme dele entre os favoritos, eu incluso. O problema agora é eu não consigo deixar de pensar que O Resgate do Soldado Ryan foi o último filme realmente marcante que ele dirigiu, e embora ele tenha lançado alguns filmes interessantes até 2005, O Reino da Caveira de Cristal parece ter marcado o começo de uma espiral nos filmes do diretor, uma de indulgência excessiva com história americana e a própria carreira, sentimentalismo que passa um pouco do ponto, e o que quer que ele tentou demonstrar com Ready Player One. Os Fabelmans parece ser a culminação disso tudo (exceto RPO, ainda não consigo encaixar esse filme): é um filme auto-indulgente, com momentos de sentimentalidade que caem em melodrama, e que Spielberg fez principalemente para si. Aqui, Spielberg revisa a própria infância e adolescente pelas lentes (literalmente) de uma família fictícia, e o olhar pouco crítico em relação ao passado de um boomer americano que agora acha que filmes que saem direto em streaming não devem concorrer ao Oscar, mesmo que História de um Casamento e Roma sejam melhores que qualquer filme que ele lançou desde o começo dos anos 2000. The Fabelmans recebeu o que pode ser considerada uma indicação obrigatória da Academia, pois agora é seguro assumir que ano que Spielberg lança um filme é ano em que ele recebe indicações.
Eu sei que o filme é basicamente auto biográfico, mas também é um "filme", algo controlado que foi lançado para um grande público, então posso dizer que algo que me incomoda é a falta de foco: é a história de como Spiel.., quer dizer, Sammy decidiu seguir carreira em cinema, mas também é um drama familiar onde os pais dele têm problemas conjugais, mas também, em determinado momento, vira um drama de colégio cheios de clichê, incluindo os valentões que parecem que deveriam estar terminado a faculdade. Acho que tudo isso poderia ter sido apresentado de forma mais coesa e mais consistente, mas isso reflete outro problema: não me importaria tanto com isso se o filme realmente demonstrasse ser, ao menos em parte, biográfico. Tudo é muito romantizado, muito idealizado, muito artificial, até mesmo as cenas de conflito. The Fabelmans nunca deixa de parecer com mais um dos muitos filmes que tentam captar a nostalgia das décadas de 50 e 60 de forma não crítica. O mais próximo que chega de algo mais substancial é quando aponta que anti semitismo ainda era um grande problema nos EUA da época, mas isso é mostrado só através dos valentões clichê. O que me irritou em algumas cenas foi Spielberg se utilizando de um clichê bem mala, de crianças falando como adultos, e de forma confrontativa, no caso das irmãs do Sammy, e duvido que os pais teriam reagido tão bem, levando em conta o período. A cena
do valentão tendo um colapso por conta da forma como Sammy o retrata nas gravações eu tenho certeza que é só Spielberg inflando o próprio ego, e que não aconteceu de verdade.
O ritmo também não ajuda: o filme é bem repetitivo, algumas cenas duram tempo demais e continuam muito depois de deixar o ponto claro, incluindo a cena da dança (que achei até que começou a ficar desconfortável depois de um tempo, por conta da forma como é executada), e praticamente tudo o que envolve a trama do conflito conjugal. A atuação da Michelle Willians é ótima, a melhor do filme, mas a forma como muitas cenas com ela são esticadas, como a já mencionada dança e também a cena do filme dentro do armário, acaba cansando um pouco. Esse é um dos casos em que o filme poderia ter uma meia hora a menos e ainda contar a mesma história sem problemas.
A parte que eu mais gostei foi o final, quando David Lynch aparece interpretando John Ford, e eu acho que seria bom se o filme tivesse mais desses absurdos.
Obviamente muitos gostaram, mas não foi para mim. Achei muito indulgente, não justifica a própria duração, algumas cenas caíram muito no melodrama, muita romantização, e pouca preocupação em refletir sobre o período, em dizer qualquer coisa relevante no contexto em que o diretor se encaixava na época. A surpresa aqui vem do fato que eu achava que se eu fosse gostar menos de algum dos indicados ao Oscar desse ano que de Top Gun: Maverick, seria Elvis ou Avatar, e não um filme do Spielberg.
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraSe alguém quiser saber se um filme é realmente bom através do filmow, não veja os comentários positivos, mas veja se os comentários mais negativos transmitem um certo ar de frustração e desespero, usam muito termos como "superestimado" ou "delírio coletivo", que aqui no site são código para "não gostei, não sei dizer o por que, mas me incomodo que outros gostem" (e a culpa é dos próprios usuários que usam sem contexto ou explicação adequada, constantemente), tentativas de ofender opinião alheia, umas interpretações rasas só para chamar o filme de "raso", e claro, falta de argumentos reais. Todos os comentários com duas estrelas e meia ou menos que eu vi até agora demonstram algum desses pontos, então sim, o filme é bom. Deixando claro que ninguém é obrigado a gostar do filme ou achar bom, mas isso é diferente do tipo de comentário que um número considerável de pessoas adoram fazer aqui no filmow. Inevitável encontrar comentários similares em outras redes, mas o filmow tem um agravante bem óbvio, não vou especificar qual, porque aumenta as chances de eu receber respostas que provam meu ponto.
O título resume bem a proposta do filme, pois trata de vários assuntos diferentes, enquanto transita entre diferentes estéticas, gêneros cinematográficos, tons, emoções, usando o artifício atualmente bem comum do multiverso para justificar isso. Aqui, no entanto, o artifício é bem empregado, e é tirado máximo proveito do conceito para contar uma história: mesmo com essa duração de mais de duas horas, o filme se mantem consistente, e a suposta aleatoriedade sempre tem um propósito maior na trama. Toda mudança brusca de cenário, tom, de gênero cinematográfico, toda piada, por mais infantil que possa parecer, é executado de tal forma que o filme nunca perde o foco, e provavelmente vão achar que eu estou mentindo, mas eu nunca fiquei em dúvida do que o roteiro tentava comunicar em dado momento, ou por que escolheu escolheu comunicar daquela forma. Existem vários filmes de pequena escala por aí que mal conseguem manter um nínimo de consistência narrativa e temática (Fabelmans é um exemplo que eu vou comentar a respeito), e a execução desse filme dos Daniels deixa claro que os méritos vão muito além dos visuais.
Os efeitos especiais aqui são ótimos, e todo o aspecto visual complementa a narrativa. Mais impressionante é que esse filme teve um orçamento de US$ 25 milhões, e cada cena que tenta emular um gênero de filme diferente consegue ser melhor elaborada visualmente e mais interessante que exemplos de maior orçamento dos respectivos gêneros lançados recentemente. O filme também não seria tão bom se as atuações não fossem boas e os personagens não fossem bem escritos e interessantes, mas todos são, especialmente Michelle Yeoh e Jamie Lee Curtis; ver o garotinho de O Templo da Perdição interpretando a melhor pessoa de todos os universos e descendo a porrada com uma pochete é também algo que eu nunca pensei que descreveria.
Quanto a outras críticas, eu vi algumas pessoas chamando o filme de "raso", mas no mesmo comentário demonstram que não entenderam o suficiente, com uma interpretação rasa: esse é um filme que simplesmente não pode ser considerado raso, dado os temas que aborda e a forma como a história é executada. É claro que alguns vão dizer que o filme é frenético de forma pejorativa, feito para quem tem problema de atenção, mas isso não faz sentido, pois esse filme requer atenção para ser entendido. Alguns compararam com Interestelar, e também não funciona aqui: filmow é um dos únicos grupos de discussão online que boa parte dos usuários ainda consideram esse filme relevante ou clássico, e não, não é a mesma mensagem principal, e é executada de forma bem diferente. Se esse filme levar o Oscar vai ser um desses casos raros em que a Academia realmente premiou um dos melhores do anos.
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraUm dos raros casos onde o remake supera o original, por uma grande margem, Suspiria de 2018 é para o original o que The Thing de John Carpenter é para The Thing From Another World. Eu não vou fingir que essa nota reflete que eu entendi o filme totalmente, ou nem a maior parte dele, porque isso aparentemente exige conhecimento bem específico sobre acontecimentos da II Guerra, e o roteiro trata o assunto de tal forma que as linhas entre metáforas, surrealismo, a questão das "mães" e como elas se encaixam na história, e o porque da localização principal ser uma escola de dança ficam muito tênues e difíceis de distinguir. Também não vou fingir, no entanto, que entendimento absoluto é necessário para apreciar o filme, ou para ao menos entender que é efetivo na mensagem que passa, pois a sensação de desconforto, dúvida e confusão são parte do tipo de terror que o filme quer transmitir. Também não vou fingir que o original não é lembrado mais pelos visuais do que qualquer coisa, porque o roteiro estava em segundo plano naquele filme.
O remake expande em todos os aspectos do original, de forma bem literal: a uma hora a mais de duração servem para ressaltar o porque do convento das "mães" ser uma escola de dança, o papel da dança na trama principal, maior foco no aspecto da dança em si (que combina muito bem com o estilo da direção de Guadagnino). É também um filme muito mais gráfico e visceral, com mais sangue, e com corpos sendo dobrados de forma nada natural. A fotografia é um aspecto que vai bem na direção oposta do filme de 77: ao invés de cores vivas e primárias que pareciam propositalmente artificiais como forma de gerar desconforto, o remake tem uma fotografia mais sóbria, mais realista. Essa fotografia, adequadamente, segue o estilo de dramas de guerra europeus, e ironicamente, é bem mais próximo da estética típica dos filmes da década de 70 do que o próprio filme de 77. As atuações são muito boas, com Dakota Johnson no papel da protagonista mostrando que a abominável trilogia dos Cinquenta Tons de Cinza não foi uma boa representação dos talentos dela, e Tilda Swinton interpreta três personagens distintos, atestando pela qualidade dos efeitos e maquiagem do filme.
O filme é uma viagem, e acho que vale pela experiência. Depois desse, eu realmente quero que Guadagnino dirija remakes dos outros dois filmes da "Trilogia das Três Mães", Inferno e Mother of Tears, porque esses são casos de filmes que se beneficiariam de remakes, especialmente o péssimo Mother of Tears.
X: A Marca da Morte
3.4 1,2K Assista AgoraÉ um filme bem "ok", mas achei que iria gostar mais por ser uma homenagem ao clássico The Texas Chainsaw Massacre, um filme que eu gosto muito. Ainda é como uma continuação não oficial que é melhor que qualquer uma das continuações oficiais da franquia. Os temas abordados são interessantes, as atuações são boas (especialmente Mia Goth), a direção e fotografia são muito boas e mostram um entendimento do aspecto visual marcante do clássico de 74, mas achei que o filme durou mais do que deveria e acaba caindo demais em clichês que aparentemente tenta satirizar. Por melhor que a dupla atuação de Mia Goth seja, é inevitável eu comparar com a tripla atuação de Tilda Swinton no remake de Suspiria e sentir que aquele filme não recebeu a devida atenção.
Observação relevante: o crocodilo provavelmente é uma referência ao filme que Tobe Hooper dirigiu logo em seguida a TCM, Eaten Alive, e eu acho que a Bobby-Line, pela peruca loira e sotaque, também referenciam a protagonista do filme.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraBohemian Rhapsody é outra cinebiografia de alto orçamento lançada recentemente que busca lucro e uns Oscars, então não já não esperava muito além de um produto feito para ser facilmente digerível por qualquer público, com muitas licenças poéticas que deixam o filme caricato e desonesto. Essa adaptação, no entanto, vai além:ao mesmo tempo que tenta amenizar a história como um todo, ainda tenta pintar Freddy Mercury como o único membro do Queen que se envolvia nos excessos da vida de estrela do rock e tinha comportamento autodestrutivo. Ficou bem óbvio aqui que Brian May, Roger Taylor e John Deacon ficaram em cima dos roteiristas e do diretor para que qualquer ação "questionável" deles fosse deixada de fora; não posso dizer com certeza a respeito de Deacon, mas May e Taylor foram produtores executivos. Acho que ninguém comprou que eles eram "bonzinhos" e responsáveis da forma como foi mostrado no filme, e o efeito disso para os desavisados é que acaba fazendo Freddy parecer pior, simplesmente por contraste. Pelo menos para mim, analisando agora, faz com que eles pareçam ainda piores, nesse contexto: da forma como é mostrado no filme, eles praticamente não têm personalidade, então uma forma de interpretar é que a personalidade deles se resumia ao quanto aprontavam. Eu estou ciente que filmes biográficos mentem muito, mas isso vai além no quesito da falta de respeito com o espectador, um dedo do meio metafórico. Essa questão, claro, vem por cima dos pontos que o filme difere do que realmente aconteceu sem real justificativa, só para deixar essa biografia mais parecida com qualquer outro filme genérico.
A edição do filme é péssima, e isso é importante ressaltar, porque é um ponto onde existe pouca discordância, e de alguma forma o filme ganhou o Oscar de melhor edição. A Academia conseguiu tomar uma atitude ainda mais absurda no mesmo ano, dando o Oscar de melhor filme para Green Book, que consegue ser uma cinebiografia ainda mais desonesta e desrespeitosa que BR. Como ponto positivo, a atuação de Rami Malek foi muito boa, e a trilha sonora é excelente, mas isso obviamente não é mérito do filme.
O Império (do Besteirol) Contra-Ataca: Reboot
2.9 49 Assista AgoraEsse filme é realmente tão pior que os outros, ou os filmes do Kevin Smith sempre foram ruins e eu gostava porque meu gosto era ruim quando era mais novo? Eu comecei a questionar isso depois de assistir a esse "reboot", porque se eu gostava dos outros filmes do diretor, deveria gostar desse aqui, pois todos os elementos estão presentes, mas nada funciona. Kevin Smith quer tirar sarro de reboots mal feitos, nesse que provavelmente é o pior reboot lançado recentemente, e o humor referencial e meta não funciona quando está em algo consideravelmente pior do que tudo o que tenta tirar sarro. O roteiro faz piadas sobre como Kevin Smith não amadureceu, mas não é engraçado aqui, simplesmente por ser verdade: o filme parece algo escrito por um adolescente revoltado querendo mostrar os palavrões que aprendeu e reclamar do que não gosta no estado atual da cultura pop de forma bem rasa. Tudo parece tão desnecessário, vazio, forçado e pouco sincero que é dificíl se importar com qualquer coisa que acontece. Acho que eu gostei de ver algumas das participações, como Jason Lee e Joey Lauren Adams, pelo fator nostálgico, mas não importa o quanto eu goste desses atores, eles não estão no contexto mais adequado. Eu vi também que Clerks III simplesmente foi lançado e não houve muita divulgação nem comentários a respeito, e nem sei se quero assistir.