Admito: não é o melhor filme do Almodóvar,mas acho também que não se pretendeu a ser - e a relação entre proposta, execução e resultado final precisa ser considerada aqui.
É um filme que evidentemente quer te levar a algum lugar e consegue, Pedro quer nos contar uma história, talvez a sua. Muitos filmes da obra de vida dele são intensos e densos, o que não é o caso de Dor e Glória, que segue ao desfecho leve, despretensioso e, sobretudo, simples. Minha avaliação desse novo longa pesa os elementos de identificação pessoal que pude apreender. As agonias melancólicas experienciadas cotidianamente por Salvador determinam aquilo que quase todo gay tenta supor no que tange seu futuro - em especial a relação complexa com uma mãe de figura forte e a relação com um homem do passado que não deu certo (mas que de alguma forma o levou a algum lugar melhor que o meu).
Solidão, luto, conformismo, melancolia, redescoberta de sentimentos e escolhas inconsequentes adornam essa belíssima narrativa, entregue 'meio friamente' pelas mãos do elenco? Talvez, e me pareceu fazer sentido numa perspectiva mais geral, se sentir neutro é uma realidade quase que diária, sem felicidade e sem mágoas com o passado, apenas neutralidade. Entregar neutralidade de forma natural não é tarefa fácil, é uma linha tênue que esbarra na mesmice inexpressiva, Charlize entrega neutralidade em Jovens Adultos sem confundir essa linha. Banderas entregou esse tom de neutralidade em alguém que não busca fazer pazes com sua história de vida, mas é levado a isso por determinados contextos e se vê numa posição nova.
Destaques que gostaria de comentar separadamente. 1) A estreia de Rosalía no cinema não poderia ser melhor. Está perfeita. 2) O reencontro com Federico... Poxa vida, que momento. Quase chorei. 3) Meu primeiro do Almodóvar no cinema, adorei ter essa experiência no meu atual contexto de vida. Foi importante.
Atuação dos pequenos não é menos que incrível e a de Lupita... dispensa avaliações - sensacional nas duas versões, sobretudo quando convergem na narrativa. O filme cria uma atmosfera interessante, como já observaram abaixo, mostra inclusive a pretensão de se tornar um clássico, mas, para tanto, precisaria terminar com menos pontas soltas. A ideia que engendra o enredo do filme é bastante autêntica, só me pareceu esvaziada de sentido, sim, porque as explicações são rasas e pouco verossímeis. Se teve intenção de explicar algo, que explicasse direito ou deixasse em off, totalmente a mercê da subjetividade do espectador. Achei as cenas de luta/conflito muito longas e isso não me comoveu, pelo contrário, me senti entediado. Quando os diálogos (poucos) eram inseridos, me animava mais. O filme, no geral, apresenta símbolos emblemáticos, como a reprodução da roda humana em Santa Cruz - achei genial, porque amarra o desfecho surpreendente. Mas, veja bem, tirando o caso personificado da trama (versões de Lupita), qual o sentido de tudo, como se dava tudo na versão "alternativa"? Não sei, não me desceu. Em suma, apresenta partes muito boas intercaladas com partes até bobas de tão simples e mornas.
Nessa seção de comentários há uma bela demonstração do quão lamentável é o nível de compreensão daqueles que não reconhecem um (necessário) exagero no uso do recurso da ironia. Como um professor meu disse uma vez: não é para todos. Ótimo documentário para esgarçar uma perspectiva razoável sobre como de fato se deu o processo de transição do fordismo à acumulação flexível, e os elementos imbricados nessa relação - globalização, neoliberalismo, alienação, ampliação das desigualdades, desemprego estrutural... É um ótimo instrumento para desenhar no nosso imaginário de onde surge a motivação propulsora do movimento antiglobalização que elegeu Trump. O ódio aos migrantes que rumam aos EUA em busca de melhores condições de vida nasce de uma situação enviesada: se lá atrás ficou a impressão de que mexicanos (etc.) roubaram nossos empregos [deles], por que agora eles querem vir pra cá [lá]? pra roubarem novamente? Muito bom! Michael Moore é excepcional.
Terry teve que orientar tanto Pitt quanto Willis pro que ele queria em termos de atuação no filme. Funcionou? sim, mas achei Brad too much. Não me convenceu. Acho que é porque trabalhei na saúde mental, enfim. Filme muito bom. Assisti com sua chegada ao Netfrix. Um clássico que sempre quis assistir. Achei o final meio difícil de digerir, porque é complexo, ou amplo demais, mas funciona. Com um pouco de exercício mental tudo faz sentido.
É um dos melhores filmes que já assisti. Comecei ontem sem grandes pretensões e me peguei um pouco entediado em algumas partes do início - que conforma uma introdução um tanto quanto cansativa. Mas esse é um filme que cresce, nos sentidos mais diversos que eu poderia aqui descrever. Ele não precisa, como alguns clássicos anticapitalistas, enunciar de forma objetiva seu paralelo com o metabolismo social do capitalismo, na verdade, ele apresenta essa intencionalidade de forma sutil, pouco a pouco, daí circunscreve paulatinamente o enredo numa contextualização que nos é próxima (aqui se precisa de um pouco de criticidade) - a da sociabilidade capitalista e suas contradições tão intensas. Não acho que caiba aqui uma reflexão sobre o sistema que nos submete para nossa própria sobrevivência, contudo vale frisar que sim, esse longa constrói bem a jornada de Curtis até Wilford, a jornada de um líder revolucionário até a personificação do bloco dominante (no sistema de classes sociais). O cinismo embromado na fala de Wilford e seus representantes que naturaliza as desigualdades no trem é o mesmo que a configuração moral dominante se utiliza para naturalizar os traços que enveredam nossa reprodução social. Os símbolos apresentados são emblemáticos, sobretudo ao fim. Aqui, o marasmo do princípio se explica com o desenrolar da trama: vai de uma história que parece "real" rumando a uma catarse no mais esdrúxulo sentido possível, bem como nosso processo de consciência até desvendar as mazelas que naturalizamos e paramos de combater. Tudo aqui se encaixa. Um filme em que o ponto forte não é a atuação (apesar de Octavia Spencer) nem os efeitos especiais, mas sim a reflexão que nos provoca. E sim, esses outros elementos se alternam entre mediano e imbatível.
Tava um pouco receoso de assistir a algum filme do Woody Allen depois de tanto alarde sobre as polêmicas com sua enteada/filha (sei lá). Decidi me deslocar disso pra tentar curtir a atuação maravilhosa (e tão falada) da Cate Blanchett, mas tive uma baita surpresa, ela não é a única que atua fora do normal nesse filme, o elenco todo apoia muito bem a narrativa do núcleo principal, Jasmine. É impossível não se identificar com a personagem principal em algum momento - tentando se encaixar, performando alguém que não existe pra impressionar, contando mentiras pra tornar o processo verossímil até as piores consequências que, num momento de desespero, podem partir de uma atitude pequena e impulsiva, mas que muda vidas inteiras pra sempre.
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Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraAdmito: não é o melhor filme do Almodóvar,mas acho também que não se pretendeu a ser - e a relação entre proposta, execução e resultado final precisa ser considerada aqui.
É um filme que evidentemente quer te levar a algum lugar e consegue, Pedro quer nos contar uma história, talvez a sua. Muitos filmes da obra de vida dele são intensos e densos, o que não é o caso de Dor e Glória, que segue ao desfecho leve, despretensioso e, sobretudo, simples. Minha avaliação desse novo longa pesa os elementos de identificação pessoal que pude apreender. As agonias melancólicas experienciadas cotidianamente por Salvador determinam aquilo que quase todo gay tenta supor no que tange seu futuro - em especial a relação complexa com uma mãe de figura forte e a relação com um homem do passado que não deu certo (mas que de alguma forma o levou a algum lugar melhor que o meu).
Solidão, luto, conformismo, melancolia, redescoberta de sentimentos e escolhas inconsequentes adornam essa belíssima narrativa, entregue 'meio friamente' pelas mãos do elenco? Talvez, e me pareceu fazer sentido numa perspectiva mais geral, se sentir neutro é uma realidade quase que diária, sem felicidade e sem mágoas com o passado, apenas neutralidade. Entregar neutralidade de forma natural não é tarefa fácil, é uma linha tênue que esbarra na mesmice inexpressiva, Charlize entrega neutralidade em Jovens Adultos sem confundir essa linha. Banderas entregou esse tom de neutralidade em alguém que não busca fazer pazes com sua história de vida, mas é levado a isso por determinados contextos e se vê numa posição nova.
Destaques que gostaria de comentar separadamente.
1) A estreia de Rosalía no cinema não poderia ser melhor. Está perfeita.
2) O reencontro com Federico... Poxa vida, que momento. Quase chorei.
3) Meu primeiro do Almodóvar no cinema, adorei ter essa experiência no meu atual contexto de vida. Foi importante.
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraGosto da reflexão que o filme provoca, embora isso fique mais a cargo da estética que do roteiro.
Nós
3.8 2,3K Assista AgoraAtuação dos pequenos não é menos que incrível e a de Lupita... dispensa avaliações - sensacional nas duas versões, sobretudo quando convergem na narrativa. O filme cria uma atmosfera interessante, como já observaram abaixo, mostra inclusive a pretensão de se tornar um clássico, mas, para tanto, precisaria terminar com menos pontas soltas. A ideia que engendra o enredo do filme é bastante autêntica, só me pareceu esvaziada de sentido, sim, porque as explicações são rasas e pouco verossímeis. Se teve intenção de explicar algo, que explicasse direito ou deixasse em off, totalmente a mercê da subjetividade do espectador. Achei as cenas de luta/conflito muito longas e isso não me comoveu, pelo contrário, me senti entediado. Quando os diálogos (poucos) eram inseridos, me animava mais. O filme, no geral, apresenta símbolos emblemáticos, como a reprodução da roda humana em Santa Cruz - achei genial, porque amarra o desfecho surpreendente. Mas, veja bem, tirando o caso personificado da trama (versões de Lupita), qual o sentido de tudo, como se dava tudo na versão "alternativa"? Não sei, não me desceu. Em suma, apresenta partes muito boas intercaladas com partes até bobas de tão simples e mornas.
Roger e Eu
3.8 34 Assista AgoraNessa seção de comentários há uma bela demonstração do quão lamentável é o nível de compreensão daqueles que não reconhecem um (necessário) exagero no uso do recurso da ironia. Como um professor meu disse uma vez: não é para todos. Ótimo documentário para esgarçar uma perspectiva razoável sobre como de fato se deu o processo de transição do fordismo à acumulação flexível, e os elementos imbricados nessa relação - globalização, neoliberalismo, alienação, ampliação das desigualdades, desemprego estrutural... É um ótimo instrumento para desenhar no nosso imaginário de onde surge a motivação propulsora do movimento antiglobalização que elegeu Trump. O ódio aos migrantes que rumam aos EUA em busca de melhores condições de vida nasce de uma situação enviesada: se lá atrás ficou a impressão de que mexicanos (etc.) roubaram nossos empregos [deles], por que agora eles querem vir pra cá [lá]? pra roubarem novamente? Muito bom! Michael Moore é excepcional.
Os 12 Macacos
3.9 1,1K Assista AgoraTerry teve que orientar tanto Pitt quanto Willis pro que ele queria em termos de atuação no filme. Funcionou? sim, mas achei Brad too much. Não me convenceu. Acho que é porque trabalhei na saúde mental, enfim. Filme muito bom. Assisti com sua chegada ao Netfrix. Um clássico que sempre quis assistir. Achei o final meio difícil de digerir, porque é complexo, ou amplo demais, mas funciona. Com um pouco de exercício mental tudo faz sentido.
Expresso do Amanhã
3.5 1,3K Assista grátisÉ um dos melhores filmes que já assisti. Comecei ontem sem grandes pretensões e me peguei um pouco entediado em algumas partes do início - que conforma uma introdução um tanto quanto cansativa. Mas esse é um filme que cresce, nos sentidos mais diversos que eu poderia aqui descrever. Ele não precisa, como alguns clássicos anticapitalistas, enunciar de forma objetiva seu paralelo com o metabolismo social do capitalismo, na verdade, ele apresenta essa intencionalidade de forma sutil, pouco a pouco, daí circunscreve paulatinamente o enredo numa contextualização que nos é próxima (aqui se precisa de um pouco de criticidade) - a da sociabilidade capitalista e suas contradições tão intensas. Não acho que caiba aqui uma reflexão sobre o sistema que nos submete para nossa própria sobrevivência, contudo vale frisar que sim, esse longa constrói bem a jornada de Curtis até Wilford, a jornada de um líder revolucionário até a personificação do bloco dominante (no sistema de classes sociais). O cinismo embromado na fala de Wilford e seus representantes que naturaliza as desigualdades no trem é o mesmo que a configuração moral dominante se utiliza para naturalizar os traços que enveredam nossa reprodução social. Os símbolos apresentados são emblemáticos, sobretudo ao fim. Aqui, o marasmo do princípio se explica com o desenrolar da trama: vai de uma história que parece "real" rumando a uma catarse no mais esdrúxulo sentido possível, bem como nosso processo de consciência até desvendar as mazelas que naturalizamos e paramos de combater. Tudo aqui se encaixa. Um filme em que o ponto forte não é a atuação (apesar de Octavia Spencer) nem os efeitos especiais, mas sim a reflexão que nos provoca. E sim, esses outros elementos se alternam entre mediano e imbatível.
Blue Jasmine
3.7 1,7K Assista AgoraTava um pouco receoso de assistir a algum filme do Woody Allen depois de tanto alarde sobre as polêmicas com sua enteada/filha (sei lá). Decidi me deslocar disso pra tentar curtir a atuação maravilhosa (e tão falada) da Cate Blanchett, mas tive uma baita surpresa, ela não é a única que atua fora do normal nesse filme, o elenco todo apoia muito bem a narrativa do núcleo principal, Jasmine. É impossível não se identificar com a personagem principal em algum momento - tentando se encaixar, performando alguém que não existe pra impressionar, contando mentiras pra tornar o processo verossímil até as piores consequências que, num momento de desespero, podem partir de uma atitude pequena e impulsiva, mas que muda vidas inteiras pra sempre.