Apesar de não ser uma história nova nem inspiradora, acabou sendo um dos filmes com maior potencial subversivo que vi nos últimos tempos, pela apropriação dos autores da história real que ocorreu no século XIX. As performances de Kristen Stewart, mas, principalmente, da Chlöe Sevigny são intensas e ilustram as consequências da repressão pela cultura patriarcal e burguesa daquela época. Apesar de serem apenas especulações obscuras sobre a fatídica história de Lizzie Borden,
interpretar os assassinatos baseado no tratamento que ela receberia caso seu romance com Bridget fosse descoberto, parece algo bem verossímil.
De uma forma ou de outra, é interessante devanear e preencher as lacunas da História obscura com algumas marcas de resistência…é o que precisamos fazer para sobreviver!
Esse filme é obviamente um produto do seu tempo e deve ficar dessa forma. Isso saiu antes de qualquer discussão sobre gênero e sexualidade realmente começarem a ser problematizados em nosso dia a dia. 2001 era a época de Will & Grace, do "amigo gay de estimação" e tantas outras asneiras, a época na qual filmes LGBT já estavam ganhando espaço, mas ainda com inúmeras concessões, ainda era ok fazer um pouquinho de piada com o fato de alguém sair do armário ou sobre heterossexuais indecisos, como é o caso de Jessica (afinal, bissexual não parece nem ser uma possibilidade válida).
O filme é repleto de jargões e lugares-comuns que já ouvimos tantas vezes em todos os tipos de mídia sobre estereótipos de homossexuais. Confesso que em alguns momentos dei umas risadinhas, mas, a começar pela protagonista, Jessica Stein, ela é totalmente desprezível, tive dificuldade em me identificar ou empatizar com ela, pelo fato de a todo momento ela ser narcisista e neurótica em um nível que beira o absurdo. O que salvou o filme foi a atuação da Heather Juergensen (que hoje é psicóloga, haha!)
Assim como várias comédias norte americanas dessa época, esta apenas tem um viés LGBT, mas deveria ficar esquecida aonde está, lá em 2001 mesmo.
Não há dúvida, a começar pelo título do filme, já é um testemunho da representatividade de pessoas trans no cinema latino-americano. Legal ver que Daniela Vega, a atriz e soprano chilena, foi a primeira mulher transexual a apresentar qualquer coisa que seja no Oscar, no ano de 2018!
Apesar de toda a fama, compreendo por quais motivos esse filme foi criticado negativamente, pelo fato de retratar a visão de um homem branco sobre a experiência de vida e sofrimento de pessoas trans. Concordo que ainda não é o ideal, o mais autoral, mas, também me lembro de um tempo no qual personagens trans eram performadas por atores cis, e de um tempo mais antigo ainda no qual essas personagens eram excluídas dos filmes e quando apareciam, era da forma mais patologizada possível.
Todas as micro-agressões, segregações, humilhações e violências que Marina sofre ao longo do filme deixaram um gosto amargo,
ainda mais com aquele início cheio de amor e promessas, mas compensa pelos trechos oníricos que exploram a sua vida subjetiva e pelo desfecho minimamente reconfortante.
Toda obra que retrate a experiência trans é válida, em minha opinião, mesmo que não seja aquela que o nosso imaginário nos leva a crer que é a universal para essa população.
Essa experiência cinematográfica foi tão impressionante que eu não queria que acabasse. A performance de Elsie Fisher provoca muita empatia, mesmo que você nunca tenha sido um pré-adolescente estranho, vai conseguir se colocar no lugar dela e sentir o isolamento e a alienação social pela qual ela passa. É uma fase difícil da vida, todos podemos concordar, mas é ainda mais se você é uma menina na transição da oitava série para o ensino médio.
O filme acaba por trazer uma mensagem muito empática e reconfortante pra meninas que estão passando por esse momento, cuja sensação de solidão e crescente pressão pra que entrem na adolescência costuma ser um fardo bem pesado para carregar.
Achei genial que ao final do filme ela conseguiu elaborar muitas das desilusões que ocorreram ao longo do ano e permitiu se abrir para fazer amizade com alguém que tinha bem mais a ver com ela. Desde a primeira vez que Gabe apareceu na tela, bem geeky na piscina com aquele óculos de mergulho, eu torci para que os dois começassem a ser amigos. O final é inspirador, toda a jornada da Kayla ilustra que você não precisa de um falso self para sobreviver! Pode, em alguns espaços, se permitir ser você mesma.
Esse assunto sempre vai me fazer lembrar a frase de Cecilia Lisbon (do livro "As Virgens Suicidas"), após tentar cortar os próprios pulsos, o médico lhe dá um sermão dizendo não entender como uma menina de 13 anos pode ter feito aquilo, ela responde: "Obviamente, doutor, você nunca foi uma menina de 13 anos".
Comecei achando chato mas foi crescendo e crescendo até se tornar pesado e extremamente relevante. Um filme necessário, genial por abordar basicamente alguns dos temais mais polêmicos hoje nos EUA (controle de armas e a tensão racial, particularmente na relação da população negra com a polícia), mas que também pode-se dizer que é realidade aqui no Brasil, aqui é mais velado, mas não passa longe.
Adorei o filme, o ritmo musical como algumas cenas foram construídas, para aliviar a pressão, enquanto outras te deixam sem fôlego. Não tenho críticas além do fato de que senti falta de uma representação mais profunda de personagens femininas, mas também entendo que o foco era em Collin e sua amizade com Miles, um homem branco que não compreendia muito bem a diferença entre os dois. A amizade entre os dois certamente trazia um alto grau de conotação política e isso explode ao final.
Outra questão interessante abordada pelo filme é o machismo que machuca muito os homens também, apesar disso não ser tão reconhecido ou falado sobre, fazendo com que eles propositalmente assumam comportamentos tóxicos e violentos para poder sobreviver, o que faz com se que coloquem mais em situações de risco, daí temos todos os índices de violência e mortes violentas, acidentes, etc. Não há como sair do filme de cabeça leve.
Tão aleatório quanto vários outros filmes do Jack Black, rs. Mas, gosto disso, o filme tem uma singularidade que o torna incomparável, até por ser inspirado em uma história real. Mas após algum tempo, acaba sendo facilmente esquecido..
Quando um filme se propõe a contar uma história real, é muito provavelmente porque o fenômeno ou a vida da pessoa em questão é extraordinária, em algum nível. Fiquei me perguntando o porquê dessa história ser contada em alguns momentos do filme, porque tive dificuldade em sentir empatia pelo Rick, mas, chegando quase ao final consigo compreender que, para além de algumas coisas aleatórias e mal exploradas, essa história é sobre pessoas que, em primeiro lugar, nunca tiveram a chance de se desenvolverem, negadas de seus direitos mais básicos, socialmente marginalizadas.
A relação de classe e raça é curiosa nesse filme, pois apesar de serem brancos, Rick e sua família também sofrem com algumas das mesmas questões que a população negra daquele bairro de Detroit (de forma diferente, é claro!). Isso é apontado por seus parceiros de gangue, todos homens negros, não importa o quanto Rick se identifique e se aproxime deles, se houver qualquer ação policial ou culpabilização, ele não vai ser punido da mesma forma, por ser branco. Curti muito a performance do Matthew McConaughey, da Jennifer Jason Leigh e da Bel Powley, só queria que tivessem mais tempo para mostrarem seus personagens, enquanto achei a atuação do Richie Merritt um porre, confesso.
Seguindo minha maratona binge-watching da filmografia do Matthew McConaughey, encontrei um filme com uma performance menos intensa dele (o que é raridade), mas não menos válida, ele funciona muito bem em comédias. EdTV é um filme de comédia, propriamente dito, mas tenta alcançar um nível de crítica social e drama familiar, não sei se é tão feliz em alcançar esse outro lado do espectro.
Gostei da aparição do Dennis Hopper, há tempos não via nada com ele, é louco ver que a aparência dele estava exatamente igual a como ele estava em Blue Velvet, há tipo, 13 anos antes desse filme, conservado no formol, total. Não acho coincidência que um ano antes tenha sido lançado "O Show de Truman", com uma premissa muito similar, abordando a temática do voyeurismo e da midiatização da vida privada, etc. Seria Ed TV um primo pobre da obra de Milos Forman?
Confesso que ri em várias cenas do filme, o humor pastelão funciona bem com o jeitão largadão e inocente do personagem do McConaughey, e foi divertido ver ele contracenando com o Woody Harrelson. Mas, penso que 120 min é um tempo de duração um tanto longo para uma comédia desse calibre, acho que tentaram enveredar por um caminho mais dramático, mas não funcionou. Percebi que justamente o que eu havia gostado no personagem do Ed Pekurny começou a me irritar após 1h de filme. Enfim, é um filme que proporciona algumas risadas mas envelheceu bem e acaba tratando dos temas aos quais se propõe de forma bem superficial.
Um slasher diferentão, pode passar despercebido em meio a tantos filmes desse subgênero na década de 80, mas possui certamente algumas qualidades. Apesar de alguns furos no roteiro e alguns trechos que parecem sem sentido algum - aquele roteiro que não se desenvolve naturalmente, parece uma obviedade para que a história possa acontecer - as personagens da família e o cenário em si, transmitindo o isolamento da paisagem do Pacífico Noroeste, são realmente sinistras.
Há algo de assombroso em famílias primitivas, que se recusam a participar da sociedade e ficam apenas convivendo e se reproduzindo entre si, impossível não lembrar da família criada por Tobe Hooper em Texas Chainsaw Massacre, mas também tenho certeza de que isso é um arquétipo bizarro que assombra as mentes humanas desde tempos imemoráveis. O choque cultural entre essas pessoas é o principal combustível do filme, e a prova de que um filme de terror não necessita de "jump scares" para funcionar, basta aquela trilha sonora (que me lembrou The Shining) e aquele efeito de loucura coletiva que aconteceu em certo momento do filme.
Tem tanta coisa genial pra falar sobre esse filme, mas por enquanto vou só me limitar a dizer:
Não consegui ir dormir por alguns dias sem lembrar de certos trechos, nem de repetir aquele barulho com a língua, não mais tão corriqueiro, ao longo do dia. Ótimo quando filmes de terror nos relembram que linguagem não verbal, às vezes, pode ser mais comunicativa e profunda do que palavras/falas. The horror...
Esperei demais desse filme, esperei afundar naquela nostalgia que todos que já assistiram a Stranger Things ou a última adaptação de "It" se deleitaram, saudade de um tempo nunca vivido (pelo menos pra mim, que sou filha dos anos 90), o prazer de poder fugir para um tempo no qual tudo parecia mais promissor, uma época de transição, tão neon quanto as roupas características. Mas, Summer of '84 foi apenas uma cópia barata, porque se aproveita de toda essa estética enquanto um pano de fundo pra uma história completamente mal elaborada, fragmentada e previsível.
Decepção do início ao fim, o "terror" não funciona de forma alguma, não há absolutamente desenvolvimento de personagens, não consegui me importar com ninguém do grupo de amigos nem com as vítimas...
- com exceção do Woody, isso também copiou de Stranger Things, né...
Além disso, os pais eram adultos completamente caricatos e irrelevantes, assim como a relação entre Nikki e Davey era improvável e desconfortável. Prefiro voltar para 2018 se é isso que o verão de '84 tem a oferecer.
O Exorcista III ganha o ponto positivo por ser dirigido pelo seu próprio criador, William Peter Blatty, o que eu acredito que tenha concedido maior ambientação de mistério à obra, ao invés do gore macabro pelo qual o público (e os estúdios) clamam. Gostei muito da atuação do George C. Scott, aqui num personagem mais contido e sólido, como pede a história, ao invés das figuras excêntricas e espontâneas pelas quais ele foi mais reconhecido no passado. Confesso que nunca imaginei que ele aceitaria um papel desses, mas, pode ser que chegue um momento em que o ganho financeiro pode pesar mais do que a paixão pela atuação...ossos do ofício, não é mesmo?
Brad Dourif, meu muso, com certeza carregou meu interesse nesse filme, apesar das suas aparições serem um tanto quanto confusas, mas sua atuação como o "Gemini Killer" transpirou terror e medo. No geral, a maioria dos efeitos especiais envelheceram muito mal, e o final pecou por uma total superexposição de última hora, acredito que teria se beneficiado mais da sutileza. Mas, trata-se de um filme do Exorcista, é preciso ver sopa de ervilha e pessoas agonizando.
Blatty queria que o título do filme fosse "Legion", por se inspirar na obra literária de sua autoria, de mesmo nome, publicada em 1983. O grande problema nesse filme está em carregar o peso da franquia "Exorcista", pois isso já vem com grandes expectativas por parte do público, bem como grandes investimentos financeiros e ideológicos. Por um lado, tentou ser um meio-termo entre filme de detetive e mistério sobrenatural, mas, falhou por não ter confiado o suficiente em seu próprio potencial em se transformar em algo maior do que apenas um primo pobre do filme de 1973.
Daí você tem cenas como a DAQUELAS VELHINHAS SE ARRASTANDO PELO TETO. Que coisa mais tosca e, ao mesmo tempo, perturbadora. Assim como boa parte dos "jump scares" ao longo do filme. Mas, este que foi o filme favorito do serial killer Jeffrey Dahmer realmente deve ter algo de minimamente perturbador.
Kathryn Bigelow consegue ser brega e icônica ao mesmo tempo de forma incrível nesse filme nostálgico dos anos 90. Apesar de se passar em uma realidade distópica, tem tudo o que é reminiscente dessa década (inclusive a ideia veio após as históricas revoltas nas ruas de L.A. em 1992, após o julgamento de Rodney King): caos nas ruas, politicamente incorreto, paranoia cibernética, vilões explicando suas motivações, música eletrônica e casais interraciais. Tão bom quanto Point Break, mas às vezes tem mais cara de um filme do James Cameron, o que é um tanto broxante.
Atuação genial do Takashi Shimura (tinha acabado de assisti-lo em "Anjo Embriagado"), e é incrível como cada filme do Kurosawa consegue criar um universo próprio, abordando tantos temas sobre a humanidade, nesse caso fala-se sobre vida e morte, burocracia, relações familiares, arrependimento e transformação, etc.
Parece-me que "Viver" é uma espécie de "A Felicidade não se Compra" japonês, com uma lição extremamente interessante, a ser considerada por todos. Diz de vivências que são comuns a todos os seres humanos e narra de forma sensível as complexidades de seus personagens, com uma linguagem que aposta no close-up das expressões faciais e em cenas longas para a construção do seu mise-en-scène.
A história faz pensar sobre o quanto muitas pessoas passam a sua vida em estado de completa alienação, se sacrificando a um propósito fantasioso que, no final das contas, somente serve para mantê-las naquela situação e evitar que se encontrem com seus próprios desejos. Quando Watanabe descobre o seu câncer, acredita que a saída pode ser tentar viver de forma extravagante, em um esforço para compensar pelos anos de inércia, quando, na verdade, tudo o que ele precisava fazer era olhar ao seu redor. A construção do parque é a concretização de um projeto que concilia o seu passado distante, quando era um funcionário cheio de ideais de mudança, com o seu presente, tendo se tornado um burocrata sem esperança, de uma forma muito redentora.
Além disso, "Viver" nos oferece um interessante retrato sobre vários hábitos, costumes e mentalidades orientais, uma verdadeira aula de cinema e cultura!
A cena do velório é particularmente memorável, e apesar de ter sido um pouco longa e maçante, foi uma decisão muito perspicaz do Kurosawa, pois coloca vários outros personagens falando suas impressões sobre o Watanabe, que admitiu não se conhecer muito bem. Logo, acredito que se ele estivesse pairando por ali de forma não-corpórea assistindo àquela cena, enquanto todos brigam para ter a última palavra sobre sua personalidade, ele riria.
Esse filme é muito único, difícil descrevê-lo ou tentar pensar em algum gênero correspondente...terrir? Ao revê-lo, após alguns anos, tenho outras percepções, gosto muito da história que é criativa e sagaz, do pique do filme, que não dá tempo pra respirar, e do humor das piadas e tiradas, satíricas e obscuras, mas se não fosse essa atmosfera, confesso que em alguns momentos pareceria uma produção da globo filmes (por conta de como brinca com os estereótipos de cada personagem...). Tentei assistir outro filme do diretor e "péssimo" não chega nem a descrever a experiência, acredito que esse filme tenha sido único em sua carreira mesmo.
O que seria da vida sem desejo? Seja ele consciente ou não, a possibilidade de entrar dentro do Quarto é maravilhosamente assustadora. O personagem mais importante talvez seja justamente o que não aparece no filme: "Porco-Espinho", pois a ele é revelado o seu desejo mais profundo. Seria a sala um reflexo do nosso inconsciente? um truque de mágica? o sentido da vida? Não sei, só sei que, a cada ano que revejo esse filme, fico mais e mais fascinada com o que pode ser extraído de cada cena, cada diálogo e cada silêncio. E aquela trilha sonora, caralho.
Superou minhas expectativas, apesar de já estarmos saturados de filmes sobre tabuleiros ouija, meninas possuídas e o velho "baseado em fatos reais" na corrida pelo filme que causa maior choque, senti que Verónica teve o mínimo cuidado em criar uma ambientação e desenvolvimento de personagem que foram ambos, credíveis.
Por isso, ainda é possível contar uma história cujos elementos já foram utilizados diversas vezes, em diversos filmes, contanto que conte e manipule isso de uma forma diferente, no mínimo, criativa. Nesse caso, achei bem interessante a metáfora produzida pela análise da personagem, uma menina de 15 anos (uma idade assombrosa, quer você brinque com tabuleiros ouija ou não), no limiar entre ser uma criança e tornar-se uma mulher...
além do fato de ela ocupar um papel quase "materno" em relação aos seus irmãos mais novos, pelo fato de sua mãe ser bastante ausente, trabalha fora, e o pai ser falecido. Nesse sentido, ela se encontra ocupando um papel que não é, digamos, adequado ao seu desenvolvimento naquele momento. No início do filme nós vemos ela observando uma menina pela janela que dá para outro prédio, e ela fica fascinada com a liberdade de expressão que é possibilitada àquela menina, dançando em seu quarto sozinha, enquanto ela não tem toda essa privacidade e precisa lidar com as necessidades urgentes e as tarefas que lhe sugam a energia (como bem demonstrado no sonho que ela tem das irmãs lhe mordendo)
No mais, gostei da ambientação que toma lugar nos anos 90, a trilha sonora tem uma atmosfera condizente com essa época, com tons nostálgicos de horror. A atuação da atriz principal é boa, principalmente considerando que é o seu primeiro filme. Só os efeitos especiais e certos jump-scares me deixaram decepcionada, mas vida que segue.
Reassistindo isso após muitos anos, tenho a impressão de sempre ter gostado do filme "amaldiçoado" que acidentalmente (ou não?) tirou a vida do Brandon Lee, um fato que se tornou indissociável do filme em si, talvez até mais memorável. Além dessa perda absurda, houveram vários outros acidentes minimamente estranhos que ocorreram durante as filmagens, o que sempre deixa aquela pulga atrás das orelhas dos mais supersticiosos.
O filme tem suas qualidades, não apenas por essa aura de mistério da vida urbana-noturna que o circunda, mas também transparece uma atmosfera perturbadora, com suas cores fortes em tons de vermelho e preto, e, no geral, o gostinho de anos 90 que traz (para mim, toda aquela estética grunge/punk dos figurinos, da maquiagem e da trilha sonora são muito nostálgicos, sou uma criança órfã dos 90's).
Talvez a pós-produção, devido à tragédia, tenha feito a opção de deixar muitos flashbacks e cortes mega editados nas cenas de lembrança do Eric Draven com a Shelly Webster, sei que ficou um tanto cansativo e isso mais alguns efeitos especiais não envelheceram tão bem (achei difícil encontrar um arquivo de boa qualidade na internet).
Além disso, o filme é bem equilibrado e tem também seus momentos de humor, mesmo mórbidos, como a cena em que os policiais estão de boas dentro do carro e vêem o carro do T-Bird com o Corvo passar voando por eles, e ao acelerarem para tentar pegá-los, um dos policiais derrama todo o café quente em si mesmo. Breves momentos mas são estes que também compõem essa obra para sempre lembrada e "amaldiçoada". Mal posso esperar pelo lançamento da nova edição da HQ aqui no Brasil, no mês que vem.
P.S.: o IMDb lista um remake de "O Corvo", com roteiro escrito por Nick Cave e atuação de Jason Momoa, para 2019. Não sei o que pensar disso.
Completamente fascinada pelo trabalho desse homem, a sua atenção minuciosa aos detalhes, o "production value" comparável ao de um filme para cada fotografia, a forma bela como ele tenta captar toda uma narrativa que está oculta no momento de captura de cada cena...aliás, curiosamente ou não, seu pai era psicanalista. Interessante a forma como ele flerta tanto com a fotografia documental, com inspirações de Diane Arbus (outra artista genial, que também busca aquilo que está à margem da sociedade), quanto com a fotografia enquanto ficção. Dá pra ficar dias analisando qualquer uma de suas fotografias e ainda ter muito o que pensar e falar. Uma inspiração a ser tomada para todo e qualquer artista.
Gosto muito da linguagem onírica da qual David Lynch sempre faz uso em suas obras, acredito que Estrada Perdida forma uma trilogia muito bem pensada, juntamente com Cidade dos Sonhos e Império dos Sonhos (apesar de não ter "sonho" no título, rs). Todos esses filmes parecem abordar a história de alguém que passa por uma situação profundamente conflituosa, a ponto de isso chegar a mexer na organização psíquica dessa personagem, fragmentando-a, aniquilando-a, apagando-a, como forma de constituição de delírio, e, ao mesmo tempo, de produção de saúde.
No caso de Estrada Perdida, o "Mystery Man" (chocada ao descobrir que é o Robert Blake quem o interpreta, eu havia assistido um filme com ele na mesma semana e estava fascinada no papel que ele teve como o assassino Perry Smith na adaptação de 1967 de In Cold Blood do Truman Capote. Logo depois de assistir Estrada Perdida, fiquei sabendo que, alguns anos após o filme, ele foi julgado e condenado por ter assassinado a própria esposa. Sinistro, né?), é a figura que assombra os espectadores, uma figura que aparenta ser onipresente, controlando espaço-tempo e parece saber mais sobre a procedência e o futuro do protagonista do que ele mesmo.
É interessante pensar o quanto o registro da câmera aparece como algo paradoxal, pensamos que, justamente por estar gravado em vídeo, tudo é certo e verdadeiro, mas no final percebemos que até mesmo esse relato pode ser imaginado/falso. Dá até pra fazer um paralelo com o uso da linguagem nos filmes do Lynch, ele mesmo já inferiu que nem tudo é para ser interpretado e perscrutado por um símbolo específico, essa mania irritante mas estruturante que nós temos ao assistir qualquer filme, tirar uma "mensagem", um "significado".
Enfim, mais um filme genial que justamente pela sua estrutura não-linear e não-lógica, pode ser revisitado tantas e tantas vezes de novo, sem nunca parecer o mesmo filme, assim como um sonho.
É estranho o fato de que as únicas mulheres envolvidas nesse projeto foram a atriz que fez a voz do computador e uma agente de casting, parte da produção. Mas enfim, é um filme de ficção científica da década de 80, e sabemos que os filmes clássicos do John Carpenter tem grande carga de testosterona, não deixa de ser um grande filme por conta disso.
Kurt Russell é quem carrega o filme, em toda a sua masculinidade idealizada enquanto herói e sabe-tudo badass, mas todos os outros membros da equipe trazem alguma riqueza de singularidade à história, que é simples e linear mas eficaz. Os efeitos especiais curiosamente não envelheceram, continuam tão empolgantes e assustadores quanto na época, dá até gosto de ver toda aquela gosma bizarra.
Lizzie
3.1 109 Assista AgoraApesar de não ser uma história nova nem inspiradora, acabou sendo um dos filmes com maior potencial subversivo que vi nos últimos tempos, pela apropriação dos autores da história real que ocorreu no século XIX. As performances de Kristen Stewart, mas, principalmente, da Chlöe Sevigny são intensas e ilustram as consequências da repressão pela cultura patriarcal e burguesa daquela época. Apesar de serem apenas especulações obscuras sobre a fatídica história de Lizzie Borden,
interpretar os assassinatos baseado no tratamento que ela receberia caso seu romance com Bridget fosse descoberto, parece algo bem verossímil.
De uma forma ou de outra, é interessante devanear e preencher as lacunas da História obscura com algumas marcas de resistência…é o que precisamos fazer para sobreviver!
Beijando Jessica Stein
2.8 149 Assista AgoraEsse filme é obviamente um produto do seu tempo e deve ficar dessa forma. Isso saiu antes de qualquer discussão sobre gênero e sexualidade realmente começarem a ser problematizados em nosso dia a dia. 2001 era a época de Will & Grace, do "amigo gay de estimação" e tantas outras asneiras, a época na qual filmes LGBT já estavam ganhando espaço, mas ainda com inúmeras concessões, ainda era ok fazer um pouquinho de piada com o fato de alguém sair do armário ou sobre heterossexuais indecisos, como é o caso de Jessica (afinal, bissexual não parece nem ser uma possibilidade válida).
O filme é repleto de jargões e lugares-comuns que já ouvimos tantas vezes em todos os tipos de mídia sobre estereótipos de homossexuais. Confesso que em alguns momentos dei umas risadinhas, mas, a começar pela protagonista, Jessica Stein, ela é totalmente desprezível, tive dificuldade em me identificar ou empatizar com ela, pelo fato de a todo momento ela ser narcisista e neurótica em um nível que beira o absurdo. O que salvou o filme foi a atuação da Heather Juergensen (que hoje é psicóloga, haha!)
Assim como várias comédias norte americanas dessa época, esta apenas tem um viés LGBT, mas deveria ficar esquecida aonde está, lá em 2001 mesmo.
Uma Mulher Fantástica
4.1 422 Assista AgoraNão há dúvida, a começar pelo título do filme, já é um testemunho da representatividade de pessoas trans no cinema latino-americano. Legal ver que Daniela Vega, a atriz e soprano chilena, foi a primeira mulher transexual a apresentar qualquer coisa que seja no Oscar, no ano de 2018!
Apesar de toda a fama, compreendo por quais motivos esse filme foi criticado negativamente, pelo fato de retratar a visão de um homem branco sobre a experiência de vida e sofrimento de pessoas trans. Concordo que ainda não é o ideal, o mais autoral, mas, também me lembro de um tempo no qual personagens trans eram performadas por atores cis, e de um tempo mais antigo ainda no qual essas personagens eram excluídas dos filmes e quando apareciam, era da forma mais patologizada possível.
Todas as micro-agressões, segregações, humilhações e violências que Marina sofre ao longo do filme deixaram um gosto amargo,
ainda mais com aquele início cheio de amor e promessas, mas compensa pelos trechos oníricos que exploram a sua vida subjetiva e pelo desfecho minimamente reconfortante.
Toda obra que retrate a experiência trans é válida, em minha opinião, mesmo que não seja aquela que o nosso imaginário nos leva a crer que é a universal para essa população.
Oitava Série
3.8 336 Assista AgoraEssa experiência cinematográfica foi tão impressionante que eu não queria que acabasse. A performance de Elsie Fisher provoca muita empatia, mesmo que você nunca tenha sido um pré-adolescente estranho, vai conseguir se colocar no lugar dela e sentir o isolamento e a alienação social pela qual ela passa. É uma fase difícil da vida, todos podemos concordar, mas é ainda mais se você é uma menina na transição da oitava série para o ensino médio.
O filme acaba por trazer uma mensagem muito empática e reconfortante pra meninas que estão passando por esse momento, cuja sensação de solidão e crescente pressão pra que entrem na adolescência costuma ser um fardo bem pesado para carregar.
Achei genial que ao final do filme ela conseguiu elaborar muitas das desilusões que ocorreram ao longo do ano e permitiu se abrir para fazer amizade com alguém que tinha bem mais a ver com ela. Desde a primeira vez que Gabe apareceu na tela, bem geeky na piscina com aquele óculos de mergulho, eu torci para que os dois começassem a ser amigos. O final é inspirador, toda a jornada da Kayla ilustra que você não precisa de um falso self para sobreviver! Pode, em alguns espaços, se permitir ser você mesma.
Esse assunto sempre vai me fazer lembrar a frase de Cecilia Lisbon (do livro "As Virgens Suicidas"), após tentar cortar os próprios pulsos, o médico lhe dá um sermão dizendo não entender como uma menina de 13 anos pode ter feito aquilo, ela responde: "Obviamente, doutor, você nunca foi uma menina de 13 anos".
Ponto Cego
4.0 142 Assista AgoraComecei achando chato mas foi crescendo e crescendo até se tornar pesado e extremamente relevante. Um filme necessário, genial por abordar basicamente alguns dos temais mais polêmicos hoje nos EUA (controle de armas e a tensão racial, particularmente na relação da população negra com a polícia), mas que também pode-se dizer que é realidade aqui no Brasil, aqui é mais velado, mas não passa longe.
Adorei o filme, o ritmo musical como algumas cenas foram construídas, para aliviar a pressão, enquanto outras te deixam sem fôlego. Não tenho críticas além do fato de que senti falta de uma representação mais profunda de personagens femininas, mas também entendo que o foco era em Collin e sua amizade com Miles, um homem branco que não compreendia muito bem a diferença entre os dois. A amizade entre os dois certamente trazia um alto grau de conotação política e isso explode ao final.
Outra questão interessante abordada pelo filme é o machismo que machuca muito os homens também, apesar disso não ser tão reconhecido ou falado sobre, fazendo com que eles propositalmente assumam comportamentos tóxicos e violentos para poder sobreviver, o que faz com se que coloquem mais em situações de risco, daí temos todos os índices de violência e mortes violentas, acidentes, etc. Não há como sair do filme de cabeça leve.
Quase um Anjo
3.3 179 Assista AgoraTão aleatório quanto vários outros filmes do Jack Black, rs. Mas, gosto disso, o filme tem uma singularidade que o torna incomparável, até por ser inspirado em uma história real. Mas após algum tempo, acaba sendo facilmente esquecido..
White Boy Rick
3.4 94 Assista AgoraQuando um filme se propõe a contar uma história real, é muito provavelmente porque o fenômeno ou a vida da pessoa em questão é extraordinária, em algum nível. Fiquei me perguntando o porquê dessa história ser contada em alguns momentos do filme, porque tive dificuldade em sentir empatia pelo Rick, mas, chegando quase ao final consigo compreender que, para além de algumas coisas aleatórias e mal exploradas, essa história é sobre pessoas que, em primeiro lugar, nunca tiveram a chance de se desenvolverem, negadas de seus direitos mais básicos, socialmente marginalizadas.
A relação de classe e raça é curiosa nesse filme, pois apesar de serem brancos, Rick e sua família também sofrem com algumas das mesmas questões que a população negra daquele bairro de Detroit (de forma diferente, é claro!). Isso é apontado por seus parceiros de gangue, todos homens negros, não importa o quanto Rick se identifique e se aproxime deles, se houver qualquer ação policial ou culpabilização, ele não vai ser punido da mesma forma, por ser branco. Curti muito a performance do Matthew McConaughey, da Jennifer Jason Leigh e da Bel Powley, só queria que tivessem mais tempo para mostrarem seus personagens, enquanto achei a atuação do Richie Merritt um porre, confesso.
Ed TV
2.9 80Seguindo minha maratona binge-watching da filmografia do Matthew McConaughey, encontrei um filme com uma performance menos intensa dele (o que é raridade), mas não menos válida, ele funciona muito bem em comédias. EdTV é um filme de comédia, propriamente dito, mas tenta alcançar um nível de crítica social e drama familiar, não sei se é tão feliz em alcançar esse outro lado do espectro.
Gostei da aparição do Dennis Hopper, há tempos não via nada com ele, é louco ver que a aparência dele estava exatamente igual a como ele estava em Blue Velvet, há tipo, 13 anos antes desse filme, conservado no formol, total. Não acho coincidência que um ano antes tenha sido lançado "O Show de Truman", com uma premissa muito similar, abordando a temática do voyeurismo e da midiatização da vida privada, etc. Seria Ed TV um primo pobre da obra de Milos Forman?
Confesso que ri em várias cenas do filme, o humor pastelão funciona bem com o jeitão largadão e inocente do personagem do McConaughey, e foi divertido ver ele contracenando com o Woody Harrelson. Mas, penso que 120 min é um tempo de duração um tanto longo para uma comédia desse calibre, acho que tentaram enveredar por um caminho mais dramático, mas não funcionou. Percebi que justamente o que eu havia gostado no personagem do Ed Pekurny começou a me irritar após 1h de filme. Enfim, é um filme que proporciona algumas risadas mas envelheceu bem e acaba tratando dos temas aos quais se propõe de forma bem superficial.
Tempo de Matar
4.1 567 Assista AgoraPOR QUE TODO MUNDO SUA TANTO NESSE FILME, Q AGONIA.
Anos 90
3.9 502Fuck! Shit! That was dope.
Os Anfitriões
3.4 47Um slasher diferentão, pode passar despercebido em meio a tantos filmes desse subgênero na década de 80, mas possui certamente algumas qualidades.
Apesar de alguns furos no roteiro e alguns trechos que parecem sem sentido algum - aquele roteiro que não se desenvolve naturalmente, parece uma obviedade para que a história possa acontecer - as personagens da família e o cenário em si, transmitindo o isolamento da paisagem do Pacífico Noroeste, são realmente sinistras.
Há algo de assombroso em famílias primitivas, que se recusam a participar da sociedade e ficam apenas convivendo e se reproduzindo entre si, impossível não lembrar da família criada por Tobe Hooper em Texas Chainsaw Massacre, mas também tenho certeza de que isso é um arquétipo bizarro que assombra as mentes humanas desde tempos imemoráveis. O choque cultural entre essas pessoas é o principal combustível do filme, e a prova de que um filme de terror não necessita de "jump scares" para funcionar, basta aquela trilha sonora (que me lembrou The Shining) e aquele efeito de loucura coletiva que aconteceu em certo momento do filme.
Aprile
3.8 10 Assista AgoraFilme sensível, neuroticamente poético e estranhamente ajustado ao momento o qual estamos passando no Brasil atualmente...situação SINISTRA!! haha
Hereditário
3.8 3,0K Assista AgoraTem tanta coisa genial pra falar sobre esse filme, mas por enquanto vou só me limitar a dizer:
Não consegui ir dormir por alguns dias sem lembrar de certos trechos, nem de repetir aquele barulho com a língua, não mais tão corriqueiro, ao longo do dia. Ótimo quando filmes de terror nos relembram que linguagem não verbal, às vezes, pode ser mais comunicativa e profunda do que palavras/falas. The horror...
O final foi meio Shyamalan, mas confesso que adorei!!
Verão de 84
3.4 411 Assista AgoraEsperei demais desse filme, esperei afundar naquela nostalgia que todos que já assistiram a Stranger Things ou a última adaptação de "It" se deleitaram, saudade de um tempo nunca vivido (pelo menos pra mim, que sou filha dos anos 90), o prazer de poder fugir para um tempo no qual tudo parecia mais promissor, uma época de transição, tão neon quanto as roupas características. Mas, Summer of '84 foi apenas uma cópia barata, porque se aproveita de toda essa estética enquanto um pano de fundo pra uma história completamente mal elaborada, fragmentada e previsível.
Decepção do início ao fim, o "terror" não funciona de forma alguma, não há absolutamente desenvolvimento de personagens, não consegui me importar com ninguém do grupo de amigos nem com as vítimas...
- com exceção do Woody, isso também copiou de Stranger Things, né...
Além disso, os pais eram adultos completamente caricatos e irrelevantes, assim como a relação entre Nikki e Davey era improvável e desconfortável. Prefiro voltar para 2018 se é isso que o verão de '84 tem a oferecer.
O Exorcista III
2.6 195 Assista AgoraO Exorcista III ganha o ponto positivo por ser dirigido pelo seu próprio criador, William Peter Blatty, o que eu acredito que tenha concedido maior ambientação de mistério à obra, ao invés do gore macabro pelo qual o público (e os estúdios) clamam. Gostei muito da atuação do George C. Scott, aqui num personagem mais contido e sólido, como pede a história, ao invés das figuras excêntricas e espontâneas pelas quais ele foi mais reconhecido no passado. Confesso que nunca imaginei que ele aceitaria um papel desses, mas, pode ser que chegue um momento em que o ganho financeiro pode pesar mais do que a paixão pela atuação...ossos do ofício, não é mesmo?
Brad Dourif, meu muso, com certeza carregou meu interesse nesse filme, apesar das suas aparições serem um tanto quanto confusas, mas sua atuação como o "Gemini Killer" transpirou terror e medo. No geral, a maioria dos efeitos especiais envelheceram muito mal, e o final pecou por uma total superexposição de última hora, acredito que teria se beneficiado mais da sutileza. Mas, trata-se de um filme do Exorcista, é preciso ver sopa de ervilha e pessoas agonizando.
Blatty queria que o título do filme fosse "Legion", por se inspirar na obra literária de sua autoria, de mesmo nome, publicada em 1983. O grande problema nesse filme está em carregar o peso da franquia "Exorcista", pois isso já vem com grandes expectativas por parte do público, bem como grandes investimentos financeiros e ideológicos. Por um lado, tentou ser um meio-termo entre filme de detetive e mistério sobrenatural, mas, falhou por não ter confiado o suficiente em seu próprio potencial em se transformar em algo maior do que apenas um primo pobre do filme de 1973.
Daí você tem cenas como a DAQUELAS VELHINHAS SE ARRASTANDO PELO TETO. Que coisa mais tosca e, ao mesmo tempo, perturbadora. Assim como boa parte dos "jump scares" ao longo do filme. Mas, este que foi o filme favorito do serial killer Jeffrey Dahmer realmente deve ter algo de minimamente perturbador.
Estranhos Prazeres
3.6 134 Assista AgoraKathryn Bigelow consegue ser brega e icônica ao mesmo tempo de forma incrível nesse filme nostálgico dos anos 90. Apesar de se passar em uma realidade distópica, tem tudo o que é reminiscente dessa década (inclusive a ideia veio após as históricas revoltas nas ruas de L.A. em 1992, após o julgamento de Rodney King): caos nas ruas, politicamente incorreto, paranoia cibernética, vilões explicando suas motivações, música eletrônica e casais interraciais. Tão bom quanto Point Break, mas às vezes tem mais cara de um filme do James Cameron, o que é um tanto broxante.
Viver
4.4 166 Assista AgoraAtuação genial do Takashi Shimura (tinha acabado de assisti-lo em "Anjo Embriagado"), e é incrível como cada filme do Kurosawa consegue criar um universo próprio, abordando tantos temas sobre a humanidade, nesse caso fala-se sobre vida e morte, burocracia, relações familiares, arrependimento e transformação, etc.
Parece-me que "Viver" é uma espécie de "A Felicidade não se Compra" japonês, com uma lição extremamente interessante, a ser considerada por todos. Diz de vivências que são comuns a todos os seres humanos e narra de forma sensível as complexidades de seus personagens, com uma linguagem que aposta no close-up das expressões faciais e em cenas longas para a construção do seu mise-en-scène.
A história faz pensar sobre o quanto muitas pessoas passam a sua vida em estado de completa alienação, se sacrificando a um propósito fantasioso que, no final das contas, somente serve para mantê-las naquela situação e evitar que se encontrem com seus próprios desejos. Quando Watanabe descobre o seu câncer, acredita que a saída pode ser tentar viver de forma extravagante, em um esforço para compensar pelos anos de inércia, quando, na verdade, tudo o que ele precisava fazer era olhar ao seu redor. A construção do parque é a concretização de um projeto que concilia o seu passado distante, quando era um funcionário cheio de ideais de mudança, com o seu presente, tendo se tornado um burocrata sem esperança, de uma forma muito redentora.
Além disso, "Viver" nos oferece um interessante retrato sobre vários hábitos, costumes e mentalidades orientais, uma verdadeira aula de cinema e cultura!
A cena do velório é particularmente memorável, e apesar de ter sido um pouco longa e maçante, foi uma decisão muito perspicaz do Kurosawa, pois coloca vários outros personagens falando suas impressões sobre o Watanabe, que admitiu não se conhecer muito bem. Logo, acredito que se ele estivesse pairando por ali de forma não-corpórea assistindo àquela cena, enquanto todos brigam para ter a última palavra sobre sua personalidade, ele riria.
O Dia da Besta
3.8 189Esse filme é muito único, difícil descrevê-lo ou tentar pensar em algum gênero correspondente...terrir? Ao revê-lo, após alguns anos, tenho outras percepções, gosto muito da história que é criativa e sagaz, do pique do filme, que não dá tempo pra respirar, e do humor das piadas e tiradas, satíricas e obscuras, mas se não fosse essa atmosfera, confesso que em alguns momentos pareceria uma produção da globo filmes (por conta de como brinca com os estereótipos de cada personagem...).
Tentei assistir outro filme do diretor e "péssimo" não chega nem a descrever a experiência, acredito que esse filme tenha sido único em sua carreira mesmo.
Stalker
4.3 503 Assista AgoraO que seria da vida sem desejo?
Seja ele consciente ou não, a possibilidade de entrar dentro do Quarto é maravilhosamente assustadora. O personagem mais importante talvez seja justamente o que não aparece no filme: "Porco-Espinho", pois a ele é revelado o seu desejo mais profundo. Seria a sala um reflexo do nosso inconsciente? um truque de mágica? o sentido da vida?
Não sei, só sei que, a cada ano que revejo esse filme, fico mais e mais fascinada com o que pode ser extraído de cada cena, cada diálogo e cada silêncio. E aquela trilha sonora, caralho.
Verônica: Jogo Sobrenatural
3.1 546 Assista AgoraSuperou minhas expectativas, apesar de já estarmos saturados de filmes sobre tabuleiros ouija, meninas possuídas e o velho "baseado em fatos reais" na corrida pelo filme que causa maior choque, senti que Verónica teve o mínimo cuidado em criar uma ambientação e desenvolvimento de personagem que foram ambos, credíveis.
Por isso, ainda é possível contar uma história cujos elementos já foram utilizados diversas vezes, em diversos filmes, contanto que conte e manipule isso de uma forma diferente, no mínimo, criativa. Nesse caso, achei bem interessante a metáfora produzida pela análise da personagem, uma menina de 15 anos (uma idade assombrosa, quer você brinque com tabuleiros ouija ou não), no limiar entre ser uma criança e tornar-se uma mulher...
além do fato de ela ocupar um papel quase "materno" em relação aos seus irmãos mais novos, pelo fato de sua mãe ser bastante ausente, trabalha fora, e o pai ser falecido. Nesse sentido, ela se encontra ocupando um papel que não é, digamos, adequado ao seu desenvolvimento naquele momento. No início do filme nós vemos ela observando uma menina pela janela que dá para outro prédio, e ela fica fascinada com a liberdade de expressão que é possibilitada àquela menina, dançando em seu quarto sozinha, enquanto ela não tem toda essa privacidade e precisa lidar com as necessidades urgentes e as tarefas que lhe sugam a energia (como bem demonstrado no sonho que ela tem das irmãs lhe mordendo)
No mais, gostei da ambientação que toma lugar nos anos 90, a trilha sonora tem uma atmosfera condizente com essa época, com tons nostálgicos de horror. A atuação da atriz principal é boa, principalmente considerando que é o seu primeiro filme. Só os efeitos especiais e certos jump-scares me deixaram decepcionada, mas vida que segue.
O Corvo
3.8 692"Can't rain all the time..."
Reassistindo isso após muitos anos, tenho a impressão de sempre ter gostado do filme "amaldiçoado" que acidentalmente (ou não?) tirou a vida do Brandon Lee, um fato que se tornou indissociável do filme em si, talvez até mais memorável. Além dessa perda absurda, houveram vários outros acidentes minimamente estranhos que ocorreram durante as filmagens, o que sempre deixa aquela pulga atrás das orelhas dos mais supersticiosos.
O filme tem suas qualidades, não apenas por essa aura de mistério da vida urbana-noturna que o circunda, mas também transparece uma atmosfera perturbadora, com suas cores fortes em tons de vermelho e preto, e, no geral, o gostinho de anos 90 que traz (para mim, toda aquela estética grunge/punk dos figurinos, da maquiagem e da trilha sonora são muito nostálgicos, sou uma criança órfã dos 90's).
Talvez a pós-produção, devido à tragédia, tenha feito a opção de deixar muitos flashbacks e cortes mega editados nas cenas de lembrança do Eric Draven com a Shelly Webster, sei que ficou um tanto cansativo e isso mais alguns efeitos especiais não envelheceram tão bem (achei difícil encontrar um arquivo de boa qualidade na internet).
Além disso, o filme é bem equilibrado e tem também seus momentos de humor, mesmo mórbidos, como a cena em que os policiais estão de boas dentro do carro e vêem o carro do T-Bird com o Corvo passar voando por eles, e ao acelerarem para tentar pegá-los, um dos policiais derrama todo o café quente em si mesmo. Breves momentos mas são estes que também compõem essa obra para sempre lembrada e "amaldiçoada". Mal posso esperar pelo lançamento da nova edição da HQ aqui no Brasil, no mês que vem.
P.S.: o IMDb lista um remake de "O Corvo", com roteiro escrito por Nick Cave e atuação de Jason Momoa, para 2019. Não sei o que pensar disso.
Gregory Crewdson: Brief Encounters
3.7 3Completamente fascinada pelo trabalho desse homem, a sua atenção minuciosa aos detalhes, o "production value" comparável ao de um filme para cada fotografia, a forma bela como ele tenta captar toda uma narrativa que está oculta no momento de captura de cada cena...aliás, curiosamente ou não, seu pai era psicanalista.
Interessante a forma como ele flerta tanto com a fotografia documental, com inspirações de Diane Arbus (outra artista genial, que também busca aquilo que está à margem da sociedade), quanto com a fotografia enquanto ficção. Dá pra ficar dias analisando qualquer uma de suas fotografias e ainda ter muito o que pensar e falar. Uma inspiração a ser tomada para todo e qualquer artista.
Estrada Perdida
4.1 469 Assista AgoraGosto muito da linguagem onírica da qual David Lynch sempre faz uso em suas obras, acredito que Estrada Perdida forma uma trilogia muito bem pensada, juntamente com Cidade dos Sonhos e Império dos Sonhos (apesar de não ter "sonho" no título, rs). Todos esses filmes parecem abordar a história de alguém que passa por uma situação profundamente conflituosa, a ponto de isso chegar a mexer na organização psíquica dessa personagem, fragmentando-a, aniquilando-a, apagando-a, como forma de constituição de delírio, e, ao mesmo tempo, de produção de saúde.
No caso de Estrada Perdida, o "Mystery Man" (chocada ao descobrir que é o Robert Blake quem o interpreta, eu havia assistido um filme com ele na mesma semana e estava fascinada no papel que ele teve como o assassino Perry Smith na adaptação de 1967 de In Cold Blood do Truman Capote. Logo depois de assistir Estrada Perdida, fiquei sabendo que, alguns anos após o filme, ele foi julgado e condenado por ter assassinado a própria esposa. Sinistro, né?), é a figura que assombra os espectadores, uma figura que aparenta ser onipresente, controlando espaço-tempo e parece saber mais sobre a procedência e o futuro do protagonista do que ele mesmo.
É interessante pensar o quanto o registro da câmera aparece como algo paradoxal, pensamos que, justamente por estar gravado em vídeo, tudo é certo e verdadeiro, mas no final percebemos que até mesmo esse relato pode ser imaginado/falso. Dá até pra fazer um paralelo com o uso da linguagem nos filmes do Lynch, ele mesmo já inferiu que nem tudo é para ser interpretado e perscrutado por um símbolo específico, essa mania irritante mas estruturante que nós temos ao assistir qualquer filme, tirar uma "mensagem", um "significado".
Enfim, mais um filme genial que justamente pela sua estrutura não-linear e não-lógica, pode ser revisitado tantas e tantas vezes de novo, sem nunca parecer o mesmo filme, assim como um sonho.
O Enigma de Outro Mundo
4.0 981 Assista AgoraÉ estranho o fato de que as únicas mulheres envolvidas nesse projeto foram a atriz que fez a voz do computador e uma agente de casting, parte da produção. Mas enfim, é um filme de ficção científica da década de 80, e sabemos que os filmes clássicos do John Carpenter tem grande carga de testosterona, não deixa de ser um grande filme por conta disso.
Kurt Russell é quem carrega o filme, em toda a sua masculinidade idealizada enquanto herói e sabe-tudo badass, mas todos os outros membros da equipe trazem alguma riqueza de singularidade à história, que é simples e linear mas eficaz. Os efeitos especiais curiosamente não envelheceram, continuam tão empolgantes e assustadores quanto na época, dá até gosto de ver toda aquela gosma bizarra.