Fui assistir a esse filme uma década atrasada, simplesmente é um daqueles filmes famosos que todos falaram, em algum momento, e você sabe que é bom, mas, por algum motivo, acaba não indo atrás. Gostei muito de "Shaun of the Dead", que é um filme de comédia bem icônico e que, com certeza, se destaca de toda uma leva de subgêneros do estilo "besteirol". Com "Hot Fuzz" não é diferente, e agora tenho a tese mais forte de que os melhores filmes de humor são de fora dos EUA.
Simon Pegg encarna muito bem o papel do policial neurótico que passa por uma experiência transformadora, gostei que o filme faz paródia de tantos clichês de filmes de horror e filmes de "policial". Vale a pena pelo passatempo, se você está procurando um filme de comédia com um pouco mais de sagacidade e ironia.
Um belo exemplo de filmes "Pre-Code" de Hollywood, no qual os temas considerados muito maduros ou "pesados" para o público em geral, são abordados de forma mais aberta. Aqui, acompanhamos Thymian, uma garota privilegiada de classe média que é segregada de sua família após cometer um ato considerado imoral...a partir disso, observamos sua vida tornar contornos cada vez mais irreversíveis em relação a seu estilo de vida anterior.
Achei interessante o quanto o filme tem um senso de justiça próprio, e, apesar de ser melodramático, não tem um efeito moralizante sobre o desenrolar dos eventos (isso teria acontecido, caso o filme tivesse sido produzido após o lançamento do Código Hays, o cineasta teria sua ideia totalmente mudada para se conformar às regras moralizantes do manual, ou então, mais provavelmente, o filme nunca nem sairia do primeiro esboço).
Louise Brooks é, certamente, quem carrega o filme, se não fosse sua figura icônica, sensual e misteriosa e, ao mesmo tempo, ingênua, "Diary of a Lost Girl" teria sido totalmente esquecido hoje. Adoro as expressões exageradas que caracterizam os filmes mudos, onde o importante era conseguir transmitir a emoção do momento para que quebrassem a barreira imposta pelo silêncio, apesar de hoje ser visto como uma atuação caricata, acredito que seja uma forma de arte muito bela e hoje, nostálgica.
Terence Stamp comendo geral, total pica das galáxias, criatura espacial caótica feita para destruir a família tradicional italiana.
Entendo que é pra ser uma crítica a burguesia, além de deixar aberto a tantas outras interpretações, tudo é construído e desconstruído de forma tão simbólica e artística que é preciso abstrair muito (inclusive sobre a real função de um filme, também uma indústria cultuada pela burguesia e suas regras) pra conseguir chegar até o final sem cansar.
Curto demais os filmes do Kieslowski, é uma tradição de cinema que nos faz refletir sobre questões existenciais, ao mesmo tempo em que apresenta dilemas humanos, situações extraordinárias e adversas pelas quais os protagonistas vivenciam e nós não estaremos nunca livres de experienciar. O mais importante é que diz muito sobre a condição de adaptação, de resiliência do humano frente o sofrimento e a absurdez da vida, tentamos encontrar sentido onde, muitas vezes, só há a dor de se deparar com o real.
No caso de "Przypadek", é um exercício muito instigante, tenho certeza que a maioria das pessoas já o fez, o de tentar imaginar os diferentes destinos que a sua vida poderia assumir, como seria sua vida caso tivesse feito ou não tal escolha, o que também sempre será muito angustiante.
Tantos filmes de ficção científica já foram feitos sobre o tema, versando sobre ideias complexas como o Gato de Schrödinger, teorias sobre universos paralelos, buracos negros, efeito borboleta, que seja...Kieslowski nos apresenta a ideia do "acaso" diante de uma forma que pode parecer simplista perto de explicações científicas, mas que é incrivelmente efetiva enquanto filme. O modo como ele consegue produzir seus filmes sem necessitar de nenhum artifício além de uma narrativa bem amarrada e de uma boa história humana, é simplesmente fascinante, assim, consegue nos deixar vidrados na tela pela vida toda.
O ator Boguslaw Linda é incrivelmente carismático, foi um prazer (por vezes angustiante) poder acompanhar Witek através de diferentes caminhos, todos são inspiradores pois trazem, cada um, seus altos e baixos. Realmente me importei com o que acontecia ao personagem, me identifiquei com o que ele sentia, seguir uma intuição que pode ser um sonho, sem que haja qualquer garantia de que as coisas vão ficar bem...justamente essa oscilação entre equilíbrio e instabilidade e o pouco controle que temos frente a certos acontecimentos (até que ponto será que realmente temos escolha sobre nossas vidas?) são questões existencialistas muito interessantes trazidas por Kieslowski.
Fui assistir a esse filme um tanto duvidosa pois não curto tanto romances (muito menos Beatles), e é algo que eu acho que não combina com nenhum dos dois atores envolvidos. Mas, ao final, creio que eles deram o melhor de si (a Jessica Chastain foi produtora, inclusive), só não consegui, particularmente, sentir o que o filme queria que eu sentisse...primeiro, porque a duração foi longa demais, senti que se arrastou por tanto tempo até se tornar quase monótono e ansiogênico; em segundo lugar, só eu achei que o James McAvoy e a Jessica Chastain formam um casal muito improvável? Por mais que eles sejam ótimos, cada um à sua própria maneira, não parece haver "química" entre eles, não consigo acreditar que eles passaram por tudo aquilo juntos, entende? inclusive achei um tanto forçadas as cenas entre eles antes do ocorrido, como se estivessem justamente querendo nos convencer à força de que os dois se amam e chegaram a compartilhar momentos bons, blah blah blah, olha só como são íntimos. Talvez tenha sido uma questão apenas minha, não sei, fato é que é muito difícil de transmitir intimidade.
Em terceiro lugar, desde que eu li a sinopse, já sabia sobre o que se tratava, à medida que menos se fala sobre certo assunto, pode ter certeza que mais horrível ele é e mais difícil de ser falado sobre. Em resumo, é um filme interessante pra quem curte um romance sofrência, mas entrei em conflito com algumas das representações de amor romântico que são retratadas.
Não há como não lembrar de "The Broken Circle Breakdown" (a.k.a. "Alabama Monroe"), uma produção belga/holandesa lançada em 2012, que casualmente trata sobre o mesmo tema, mas de uma forma bem mais empática e genuína, na minha opinião.
Confesso, também, que não sou muito fã de roteiros que envolvem personagens com alguma doença terminal ou passando por período de luto, mais por questões pessoais mesmo, mas entendo que pode ser uma forma de pessoas que estão passando por isso na vida real, poderem elaborar suas experiências, se vendo representadas nos filmes. Mas, muitas vezes sinto que é um tema super explorado da forma errada, não é o caso aqui, felizmente, mas, senti falta de um roteiro mais elaborado, os diálogos e o desenrolar da trama parecem não chegar a lugar algum e no final me senti vazia.
Além de tudo, tem a questão de gênero, é inevitável perceber o quanto os estereótipos heteronormativos estão presentes na relação entre o Connor e a Eleanor: após a morte do filho, ele simplesmente tentou esquecer e ela não conseguiu superar; após a separação, ele ficou stalkeando ela mas se sentiu no direito de fazer sexo com outra pessoa (???), enquanto ela tentou suicídio, tentou seguir seu próprio caminho, tentou retomar o relacionamento após insistência dele, ficou sabendo que ele teve sexo casual, tentou fazer sexo casual e não conseguiu (porque mulher é sempre fiel ao seu homi, né gente????!!!)...depois disso, me poupe, fiquei ainda mais desacreditada desse amor.
Esse filme teria funcionado melhor como uma HQ, todo o desenrolar da trama e das cenas de ação requerem uma suspensão de pensamento por bastante tempo da sua duração, haha. Além disso, tenho um problema com filmes que tem cenas de ação "mirabolantes", e também com atores "A-list" no geral, nesse caso, Morgan Freeman e Angelina Jolie, a questão é que eles são tão famosos que a sua persona pública transcende qualquer talento para a atuação que eles possam ter. Como exceção, tem o James McAvoy que ainda não carrega o status de "estrelão", e que eu achei ótimo nesse filme, mas digamos que eu assistira qualquer coisa, mesmo, que tenha ele.
Logo, toda a viagem de conseguir desviar a trajetória das balas ser vista como uma super habilidade meio que não me impressionou de nenhuma forma, então, pra mim, o filme foi apenas uma diversão bem pontual e efêmera.
James McAvoy é o meu novo ator predileto, o nível de emoção que esse ser consegue expressar na face é inacreditável. Em uma mesma cena ele consegue ir de um extremo a outro, nos fazendo surfar dentro de uma onda caótica de sensações, similar ao que a mente de uma pessoa com Transtorno Afetivo Bipolar deve parecer (MAS, é importante apontar, a intenção do Irvine Welsh não foi retratar de uma forma educativa sobre transtornos mentais, inclusive, filmes da cultura pop geralmente mostram de forma errônea e até mesmo de forma romantizada a experiência de pessoas que possuem algum diagnóstico psiquiátrico. Assim, não acredito que dê pra dizer que Bruce Robertson é qualquer pessoa comum com diagnóstico de TAB...a não ser que seja alguém numa profunda crise maníaca, fora de controle, sem medicação, etc. e mesmo assim, me parece que ele tem traços mais fortes de personalidade antissocial do que propriamente bipolaridade, pois todo aquele nível de manipulação, narcisismo e violência gritam S-O-C-I-O-P-A-T-A, haha, mas enfim).
Antes de assistir, não sabia que era baseado em uma obra do Irvine Welsh, mas faz total sentido pela narrativa brusca e pela crueza das personagens (uma espécie de Chuck Palahniuk versão UK mais pesado ainda), pretendo ler o livro em breve. É realmente aquele tipo de filme, ame-o ou odeie-o, por conta da intensidade dos temas tratados, abuso de drogas, exploração de menores, assassinato, violência verbal e física, assédio moral e tantas outras formas de ser um péssimo ser humano. Às vezes é quase inacreditável o quanto Bruce é maldoso, manipulativo e observador, sempre tentando tirar o melhor proveito de qualquer situação para si. Apesar de todas essas questões pesadas e doentias, o filme é também incrivelmente engraçado, com um senso de humor único, cuja obscuridade e sagacidade são compararáveis (senão mais "sujo" que) às obras do John Waters. E é possível rir muito, contato que se veja aquilo como uma sátira muito obscura e triste sobre a humanidade como um todo (ou não), contanto que também se aprecie um tipo de humor sardônico e ferino sobre a sociedade.
Assisti ao filme duas vezes desde a semana passada, e revi diversas cenas (principalmente pérolas como a cena do trote pra "Bunty" e da pixação no banheiro, e é isso que transforma um filme em favorito pra mim, quando sinto vontade de rever após ter assistido recentemente, por não conseguir tirá-lo da minha cabeça. Robbo é um dos personagens mais detestáveis e carismáticos da história do cinema (e da literatura, por que não?), o que diz respeito a sua natureza dual, ao mesmo tempo em que ele é um verme desprezível (e só nós espectadores sabemos disso, sendo cúmplices através dos contatos visuais que ele faz com a câmera), em outros momentos também conseguimos captar algum tipo de sinceridade e fragilidade em seus olhos, principalmente da metade do filme para o final, quando seu colapso mental fica cada vez mais aparente e inevitável, bem como nas cenas-sonho com o dr. Rossi, em que ficamos sabendo um pouco sobre o passado traumático dele, etc.
Uma questão que me deixou mais intrigada do que o normal foi toda a questão dele se travestir como sua ex-esposa, fiquei pensando qual o sentido daquilo tudo? pois trouxe ainda mais condições mentais para a sua situação! Entendi que talvez fosse um dispositivo para mostrar o quanto Bruce estava em negação com a sua própria realidade, isto é, o abandono por sua família foi tão insuportável que ele precisou criar uma personagem que tapasse o "buraco", sua mente estava fragmentada (curioso que o McAvoy depois foi fazer "Split" com o Shyamalan, interpretou um protagonista que apresenta um conflito levemente parecido, esse ser humano tem ou não tem talento pra interpretar almas perturbadas?!). Me preocupa essa questão dele se travestir como mulher, porque novamente reforça a ideia de que a travestilidade e a transexualidade são coisas anormais, como já vimos em tantos outros filmes. Nesse caso, não é um artifício usado pra produzir um humor subversivo, como em John Waters, ao fazer humor com paródias de masculinidade e feminilidade, aqui é para mostrar o quanto Bruce estava adoecido. Enfim, talvez eu esteja esperando um movimento politicamente consciente de um filme que nunca pretendeu ser isso, em primeiro lugar.
Só sei que esse filme me horrorizou e fascinou ao mesmo tempo, a performance do James McAvoy, acima de todos os outros, igualmente ótimos, foi a melhor coisa que eu vi nos últimos tempos, e aquela cena final me deixou assombrada pra sempre, e isso é tudo o que eu peço do cinema.
Muitos amigos meus, desde o momento em que souberam que o filmão americanão, reboot da animação cyberpunk japonesa de 1996, estava em produção, juraram de pé junto que jamais iriam queimar suas retinas assistindo a esse excremento de celuloide. Eu fui um pouco mais aberta a possibilidades e acabei assistindo, sinceramente esperando uma renovação refrescante da história original.
Assisti a animação de 1996 há muito tempo atrás e agora fiquei mais a fim do que nunca de revê-la, afim de tirar o gosto indiferente e insosso que esse reboot me deixou...deveria ter confiado mais nos amigos. Pois, são tantos e tantos exemplos de filmes "estrangeiros" (sim, porque pegamos esse péssimo hábito de chamar de estrangeiro qualquer coisa que não saia da América do Norte), cujos remakes/reboots hollywoodianos transformam a ideia em algo compacto, rentável e mastigado para as massas. De Oldboy à trilogia Millennium, não consigo citar nenhum exemplo que tenha elevado a qualidade de seu predecessor.
Enfim, "A Vigilante do Amanhã" (que título bosta), como todos já sabiam de antemão, teve execução impecável, efeitos especiais inspirados em Blade Runner, Deus Ex, etc., mas, sinceramente, não me provocou nada, não me fez mexer nenhum músculo da face. Acho muito importante que a Scarlett Johansson esteja criando um nicho de personagens femininos em filmes de ação na carreira dela, assim, abrindo caminho para outras atrizes e produtoras, mas senti que esse filme, com o perdão da piadinha cretina, foi apenas uma casca vazia.
Achei genial o uso da temática do "oculto" em um filme de horror, enquanto geralmente é mostrado como algo do qual as pessoas querem fugir, nesse caso, Solomon e Sophia buscam adentrar de cabeça essa dimensão. Senti falta de uma exploração maior da história prévia das personagens e dos motivos que os levaram até aquele momento em suas vidas. Mas, pensando melhor, parece que o filme foi arquitetado justamente para ser dessa forma, se eles não podem sair fisicamente do círculo de sal ao redor da casa, nós, espectadores, também estamos confinados, simbolicamente, àquele espaço.
A Dark Song foi original em sua abordagem do oculto (mais especificamente, do ritual de magia sagrada de Abramelin) e de um relacionamento (não amoroso, diga-se de passagem, o que teria sido um golpe baixo) bizarro e circunstancial entre dois estranhos com passados obscuros. Foi um filme muito empolgante para o momento em que vivemos, no qual o gênero "horror" se tornou uma paródia de si mesmo. Mas, por outro lado, fiquei um tanto decepcionada com a execução do segmento final, talvez ter apostado em um desfecho mais abstrato e menos explícito tivesse se adequado melhor ao tom do filme, pois, da forma como foi, parece que a "mensagem" foi enfiada goela abaixo, sem deixar muito à nossa criatividade. De todo modo, um bom exercício de renovação pessoal através do horror, algo raro entre tantos litros de sangue jorrados em vão.
P.S.: Apesar de não ter gostado tanto do final, achei bem construídas as formas físicas dos "seres" do submundo e o anjo da guarda (bizarríssimo e levemente perturbador, diga-se de passagem). Depois fui ler um pouco sobre o tal "Livro de Abramelin", e faz sentido que eles tenham conduzido o desfecho daquela forma, já que é fiel ao que é trazido no livro.
Um dos clássicos do Werner Herzog que eu ainda não tinha me prestado a assistir, mas agora que já me redimi, posso dizer que carrega os mesmos elementos que tornam outros filmes dele tão geniais quanto, a habilidade de recriar um momento da História de forma tão colorida e realística, por mais que não saibamos como é ter vivido no interior da Europa no século XIX, nos passa a sensação de estarmos mergulhados nesse tempo-espaço.
O que me veio à cabeça enquanto assistia ao filme foi compaixão pela situação do K. Hauser, que, embora tenha sido vitimizado por não ter escolhido estar naquela condição, conseguiu de alguma forma explorar as potencialidades dentro de suas limitações. Embora subestimado e ridicularizado pela maioria das pessoas, bem como provável enquadrado em algum diagnóstico psiquiátrico incipiente, vemos que ele era capaz de um raciocínio muito singular, que muitas vezes surpreendia as pessoas, e de sentimentos humanos em sua forma mais pura.
Outro ponto que chama à atenção é o talento que as pessoas têm de encontrar formas de explorar outros mais vulneráveis. Desde o momento em que o Kaspar é encontrado reconhecido como "incapaz" (de ser um cidadão economicamente/moralmente ativo), autoridades masculinas tentaram maquinar as formas mais esdrúxulas de tirar proveito de sua situação, chegando a expô-lo em um circo de horrores (que, na minha opinião, não teve nada de horror, a não ser aquele apresentador semi-moribundo, né?!), até mesmo inventando impostos compensatórios, testando suas faculdades mentais, vendendo-o para a aristocracia, etc. quais outras formas de violação faltaram?
Mas, em meio a toda essa violência, Herzog também consegue capturar a beleza da peculiaridade dessa situação, mostrando às vezes que o espectro da experiência humana não é composto apenas por bem ou mal...mas, por outro lado, às vezes nos faz sentir como se a única solução fosse, realmente, um meteoro, rs.
Adorei as ambientações escuras e frias desse filme do Cronenberg, principalmente a vibe assombrosa e perturbadora, demonstrada pelos olhos das personagens (PQP, Ralph Fiennes realmente sabe interpretar uma alma perturbada, vai dizer?) ou em detalhes, como nas bugigangas que Spider carrega nos bolsos, ou as quatro camisas enxovalhadas que ele veste, a fragmentação de sua mente em presente/passado...o qual ainda está acontecendo para ele, se repetindo dolorosamente, em um loop. Psiquicamente, não há tempo cronológico.
Gostaria de ler o livro que deu origem à adaptação, tenho certeza de que traz descrições que "desafiam" muito mais nossas mentes. Acho que Cronenberg foi um pouco mais sutil em sua linguagem visual, não caberiam explosões sangrentas de crânios ou habilidades paranormais nesse aqui, embora em alguns momentos eu tenha me perguntado como o personagem fazia para "observar sua própria cena"...mas, não era tão complexo quanto o título aparentava. Após o encaminhamento da história, temos vários indícios sobre o que se trata, e, por não deixar muito à imaginação, acredito que o filme tenha perdido um pouco do brilho, mas, ao que se propõe, acredito que consegue atingir muito bem seu objetivo...
Fui assistir consciente, não esperando uma grande obra que me fizesse refletir sobre a minha própria existência, mas sim um pequeno filme sem compromisso, que trouxesse alguns momentos memoráveis e que fosse tão brega e ruim, que acabaria se tornando bom...em outras palavras, um guilty pleasure. Acredito que os realizadores (o que achei interessante e que é o grande diferencial do filme, é que a diretora é uma mulher!!) realmente levaram a sério e tentaram construir um filme bom, com sua própria singularidade, mas o desenrolar da história acaba caindo em lugares-comuns, muitas vezes, bem cretinos.
Há vários elementos que conseguem separar Poison Ivy de cair totalmente naquela categoria, filmes exploitation/soft porn/melodramáticos medíocres dos anos 90, o que não quer dizer que não esteja com um pézinho dentro da cova. Um desses elementos é a presença carismática da Drew Barrymore, que aliás, geralmente consegue salvar seus próprios filmes, por mais bomba que sejam, aqui, ela parece muito confortável e espontânea no papel de "Ivy", que, no fundo, acaba sendo uma grande colagem de personagens femininos com síndrome de Lolita e Transtorno de Personalidade Borderline, que já vimos tantas vezes antes
daí pra explicar todo esse comportamento "desviante" da Ivy, são fornecidos apenas relatos soltos e sem muito nexo sobre ela ter um pai que não se importava com ela (daddy issues) e uma mãe dependente química que também não se importava com ela...alguma novidade?
Apreciei muito, no início, a forma como ela foi apresentada e que a narrativa era feita também por uma menina (inclusive, no início, pelos tons lésbicos, pensei que o filme fosse ser uma espécie de primo pobre de "Heavenly Creatures", mas não), Sylvie, personagem da Sara Gilbert, é um pouco mais interessante, pois apesar de incorporar alguns estereótipos da amiga nerd, tem um humor sagaz e uma personalidade que não parece ter saído direto de um manual de como escrever roteiros. Ri internamente das várias piadinhas e interpretações "psicanalíticas" (psicologia pop, quero dizer) que ela faz sobre ela mesma e sobre outros (por exemplo, que fumar é uma compensação oral por ela não ter sido amamentada e amada o suficiente pela mãe, etc.)
Pra mim, após esse breve período em que elas se conhecem e se tornam próximas, o filme se perdeu e desandou completamente (também é marcado, se vocês perceberem, pelo momento em que a Drew alisa o cabelo, a partir daí, ela realmente encarna a vilã de novela mexicana dissimulada). Depois disso, temos muitas sequências extremamente previsíveis, em alguns momentos pensei que estava assistindo ao cine privê. Lamentável, pois poderia ter tido mais potencial se tivesse seguido a vibe independente que teve no início do filme.
Há algum tempo não assistia a nenhum filme do diretor John Cassavetes, mas sempre fui fascinada pelo seu estilo intimista, close-ups intensos, sem medo de mostrar as subjetividades das personagens. Gena Rowlands, sua musa criadora (mas, penso que, na verdade, é o Cassavetes quem tem sorte de tê-la como protagonista), está senhora de todas as cenas. Assim como em "Uma Mulher sob Influência", chama à atenção uma narrativa incomum sobre uma figura feminina fora do ordinário.
No caso, Gloria Swenson (não tem como não lembrar da finada diva Gloria Swanson), apesar de nunca ficar explícito, tudo indica que ela teve um passado sombrio envolvendo a máfia, o que explica uma mulher branca ter ido morar em um condomínio aparentemente periférico da cidade de Nova York, bem como dela ter se tornado amiga de um casal inter-racial (pode ser totalmente normal pra nós hoje, mas, naquela época esses estereótipos tinham um poder muito maior), cuja presença ali naquele local também é compreensível, apenas o "pai de família" é branco. Gloria tentou se reabilitar e retomar uma nova vida no que parece ser uma segunda chance, mas o passado a reencontrou de uma forma ou de outra, e a chamou novamente para se posicionar (algo que ela hesita em fazer, no início).
Acho muito interessante a humanização, nem que seja nas entrelinhas, das personagens Phil e Gloria, enquanto os "mafiosos" são apenas homens sem identificação, de rostos iguais, o que combina com o seu distanciamento em relação a realizar uma tarefa tão desumana quanto a execução brutal de uma família inteira, por conta de dívidas. É interessante, também, a transformação que acontece na relação entre Phil e Gloria, o que, no início, começa como uma relação baseada apenas na sobrevivência, logo se transforma em afeto. Não consigo pensar em outra palavra pois não se trata de uma relação propriamente familiar, tampouco sexual (pela proibição social, mas é curioso que em vários momentos Phil se insinua para Gloria como um potencial interesse amoroso)
Freud, há um século atrás, já havia postulado que não devemos negar a sexualidade das crianças, o que também não quer dizer que deva ser tratada como a de uma pessoa adulta (até porque a infância e a adolescência que conhecemos hoje é uma criação social datada do início da modernidade, né). Outro ponto é que esse filme foi lançado na década de 1980, e a verdade é que o "politicamente correto" não era senso comum, consigo pensar em um número de filmes que trazem crianças em situações bastante sexualizadas e que hoje simplesmente não poderiam acontecer no cinema (ainda que haja certas tentativas que dão certo, como é o caso da obra master do Gregg Araki "Mysterious Skin", ou até mesmo "The Heart is Deceitful Above all Things" da Asia Argento). Ainda, pra mim não ficou clara qual é a idade certa do Phil, em vários momentos é mencionado que ele é uma "criança de 6 anos", mas não parece...se for isso mesmo, deixa os meus outros argumentos um pouco mais perturbadores.
Enfim, acredito que seja um filme bem singular, no sentido em que delineia um contexto social assustador, NY na década de 1980, retratada como terra sem lei, lugar caótico, sujo e impiedoso, e é nesse contexto que as relações se estabelecem: a relação entre Phil e Gloria, dois outsiders, excluídos, que sobreviveram e sobraram, e o que se constrói a partir disso é curioso e enriquecedor.
Big Gay Al e Winona Ryder, Satã e Saddam Hussein tendo DR's. Ah, cara, é exatamente como o título diz, é como se fosse um episódio de South Park, só que mais longo e melhor produzido, e com excessivos números musicais, sério, depois de um tempo chega a ficar maçante, e olha que sou fã de musicais.
Fui assistir não lembrando de muitos detalhes sobre a série original que passava na TV aberta no início dos anos 2000, lembro de alguns elementos e de que, como criança, gostava do entretenimento estilo super-heróis que salvam o dia, do duelo eterno entre bem vs. mal, bem como das cenas de ação e sequências previsíveis que sempre acabavam da mesma forma (lembro especificamente de pensar que as sequências de luta entre os megazords dos Power Rangers e dos vilões eram particularmente marcantes e empolgantes, apesar de também sentir que eram repetitivas...).
Acredito que o filme tenha sido particularmente entusiasmante para os fãs de longa data, vi como uma tentativa de presenteá-los com um tom de nostalgia, ao mesmo tempo em que tentou transformar a atmosfera quase infantil da série em um filme de ação de "alto calão", com muitos efeitos especiais de qualidade. Mas, por questões pessoais e também algumas técnicas, assistir ao filme não foi uma experiência tão marcante na minha vida cinematográfica, primeiramente, porque não sou muito fã de histórias estilo super-herói, ou Super Sentai. Em segundo lugar, entendo que a ideia original da "entidade Power Rangers" seja única, isto é, sendo mostrada ou não com efeitos de CGI de qualidade e atores hollywoodianos, continua sendo Power Rangers!
Mas, ainda assim, não consigo deixar de me incomodar com a forma maniqueísta através da qual esse tipo de filme é roteirizado, isto é, luta épica e aparentemente sem sentido entre forças da luz e da escuridão, mas, são personagens com diálogos e comportamentos tão escrachados e extremistas que acabam se tornando caricaturas de si mesmo, e depois de um tempo, nem importa mais se seu objetivo é o de controlar toda a galáxia ou sei lá o que. Mas eu entendo, faz parte de como a própria história foi idealizada, e tentar mudar isso talvez tivesse descaracterizado totalmente a obra, portanto, acredito que a proposta do filme foi fiel aos fãs que esperavam um upgrade da série e o conseguiram.
Notei, também, que, diferentemente da vilã (o que dizer de um nome como "Rita Repulsa"?), houve uma preocupação em retratar os Rangers como pessoas reais, achei muito interessante e realmente legal a ideia de integrar notas de diversidade aos personagens, Billy é alguém que faz parte do "espectro" autista, também dá a entender que Trini é lésbica, etc. E, de modo geral, todos os Rangers são adolescentes que estão passando por um momento difícil de suas vidas (pleonasmo?), inclusive cumprindo penas tipo medida sócioeducativa, haha, e desenvolveram um certo nível de resiliência para poder continuar a lidar com certos conflitos, o que também explica, de certa forma, o porquê de terem sido "destinados" a acharem as "moedas".
Tenho ensaiado ver esse filme há bastante tempo, desde que saiu, no ano passado, talvez o que tenha me impedido de fazê-lo com mais antecedência tenha sido a capa (sim, isso influencia bastante!), fórmula utilizada por tantos outros filmes que simpatizam com o gênero horror nos últimos anos (de cabeça, não consigo lembrar o nome exato, mas sei que existem vários...inclusive, se alguém souber como se chama esse estilo de arte, agradeço pela informação!), uma colagem artística de vários personagens e elementos que remetem ao filme que vamos assistir. Apesar de ser algo considerado "retrô", me remete mais a uma modinha que surgiu agora, na pós-modernidade, do que propriamente a filmes slasher dos anos 80, sinceramente não consigo lembrar de nenhum "clássico cult" do terror que tenha uma arte de capa parecida.
Mas, falando sobre o filme em si, adorei a forma como a história se desenrolou, talvez porque eu tenha ido assistir com uma mente aberta e total ignorância sobre o roteiro da história, a metalinguagem presente é realmente o forte do filme. Gosto de pensar que um filme assim, puramente sobre filmes, só poderia existir na nossa época atual, repleta de tentativas de resgate e nostalgia sobre coisas passadas. Por outro lado, se fala sobre um gênero há muito banalizado e enterrado (slashers estilo "Sexta-Feira 13" e "Halloween"), inclusive se aproveitando de seus clichês e figuras estereotipadas, mas que não é da forma que geralmente vemos hoje (remake, sequência, reboot, cópia des-original), mas sim de um jeito que agrega coisas novas a esse gênero de filmes.
Achei genial a história da "viagem no tempo" e a dimensão paralela do Camp Blue Finch, bem como o encontro entre essas personalidades do mundo "real" e da ficção (bem como o estranhamento de se descobrir um ser ficcional, já imaginaram?). Fiquei pensando, se a escolha não dependesse de mim e o destino fosse esse, em qual filme eu iria preferir estar presa dentro?
Enfim, além de ter apreciado o tom metalinguístico através do qual o filme foi sendo construído, também apreciei a sororidade que há entre personagens femininas, refletida no relacionamento mãe e filha da Nancy e da Max, o que mostra a profundidade que o filme conseguiu alcançar, não sendo apenas diversão barata ou masturbação nerd (como o próprio slasher Camp Blood), pelo contrário, confere uma dimensão mais realista e humana ao gênero, o que é massa.
Em primeiro lugar, preciso admirar o trabalho dessa mulher, Alice Lowe, que não apenas escreveu e dirigiu, como também atuou em seu próprio filme, algo que felizmente está começando a se tornar mais comum. Acabou sendo um filme bem diferente do que eu o imaginei, pensei que seria algo bem "À l'intérieur", com a Béatrice Dalle, mas acaba sendo um jogo equilibrado entre gore e humor obscuro.
Gostei porque, apesar de o final ser um tanto previsível, ao longo do filme ficamos imaginando até onde vai a realidade, e mesmo após a resposta, continuei querendo saber mais sobre o que tinha acontecido àquela personagem para ter chegado naquele ponto. Alice Lowe interpretou Ruth Fica a dica pra quem quiser procurar a fonte daquele filme antigo que Ruth assiste e se "inspira", chama "Crime Without Passion", de 1934.
p.s.: o final deixa claro que Ruth (ou Jessica?) tem algum tipo de transtorno mental, não se tratava de um bebê diabólico estilo "Baby Blood" (filme francês muito bom, recomendo!) ou até mesmo "O Bebê de Rosemary", a questão que fica é, esse transtorno é de stress pós-traumático após a morte acidental do marido e toda a experiência da gravidez ou era algo que já existia previamente?
Embaraçoso a forma como essa sequência totalmente inesperada tenta se aproveitar, até o último minuto, da genialidade do filme original. Se formos pensar, por um momento, é até interessante a ideia de reencontrar aqueles personagens peculiares duas décadas depois, mas...no final, será que realmente queríamos isso? será que realmente nos importamos?
Entendo que "T2" (até o título me enerva, T2 = Terminator 2?) tenha sido direcionado a pessoas que assistiram ao primeiro filme e estavam em seus 20 e tantos anos, portanto, poderiam se identificar novamente hoje aos 40, em suas respectivas crises de meia-idade. Por outro lado, sabe aqueles tios metaleiros que continuam usando as mesmas roupas e tendo a mesma atitude dos 20 aos 40? Pois é, de certa forma, não é mais tão legal ou rebelde ver Spud, Mark, Sick Boy e Begby serem os mesmos de sempre.
Além disso, tentaram abarcar muita coisa em um pequeno período de tempo, o que transformou o filme em uma sequência de colagens aleatórias, não tendo uma continuidade sólida, inclusive, O MAIS IRRITANTE, é o quanto força a barra pra repetir/reencenar cenas e momentos do primeiro filme, como uma tentativa desesperada de dizer que vale a pena estarmos assistindo àquilo. A história é totalmente sem pé nem cabeça e parece servir apenas como um artifício para relembrar de coisas que também já vimos acontecer.
foi aquela história sobre o Spud conseguir uma ressignificação da própria história através da escrita da sua vida, bem interessante, mas de qualquer forma, não compensa pelo resto do filme)
Gostaria de ter simplesmente continuado a imaginar (ou nem imaginar nada) o que teria acontecido aos quatro, ao invés de ter assistido a Trainspotting marketizado e moralizado.
"A Cura" foi tão longo, mas tão longo, que, a partir de certo ponto, eu já nem me importava mais em saber qual seria o grande segredo da instituição, ou entender a conexão entre as enguias, incesto e dentes caindo. Parece que o filme tenta ser complexo em níveis que nem mesmo dá conta de explicar, dando ares de ser uma mistura de "A Montanha Mágica", obra literária de Thomas Mann (que, diga-se de passagem, também tem por cenário um sanatório elite nos alpes suíços)...
cujos internos também são velhos ricos (em sua maioria) em busca de uma espécie de "cura" contra um mal-estar abstrato que os aflige (nesse caso, males respiratórios). Lá, eles também são inconscientemente incentivados a ficar internados, conforme o tempo vai se arrastando e os médicos vão prolongando o tratamento por tempo indeterminado. A diferença é que, no livro, a terapia não é através da água, mas sim pelo ar das montanhas Diria que "A Cura" é uma versão terror d'A Montanha Mágica, mostrando um elemento mórbido e sobrenatural que o livro omite (mas confesso que durante a leitura, que se estende infinitamente, tive a sensação de que qualquer coisa de estranho estava por acontecer!)
Juntamente com um toque de "Ilha do Medo" do Scorsese, onde os personagens são confrontados por verdades secretas...ou serão ilusões? Enfim, senti que houve pouco de original, e, após todo o desenrolar e do mistério que parece não findar, o clímax e o final do filme são conduzidos conforme a fórmula blockbuster, o que não compensa a jornada...
A "fórmula blockbuster" envolve um duelo entre bem x mal, bem como figuras masculinas violentando e salvando alguma figura feminina, a qual se torna um trofeu de batalha, esta, como sempre, sanguinária e incessante.
Achei o filme uma grande decepção, deixando várias questões em aberto (nada contra isso, inclusive, mas, nesse caso, deixou uma grande lacuna), acredito que se perdeu em sua própria pretensão de ser algo extremamente original e único.
P.S.: Uma das coisas mais clichés que consigo pensar em se tratando de cenas finais de filmes de terror é aquela sutil mudança de expressão facial do protagonista, induzindo o espectador a suspeitar de que há algo de errado. Era genial quando Hitchcock usou em Norman Bates, em Psicose, mas isso era 1960.
Há algum tempo não assistia a um filme independente (vulgo "B") tão empolgante e esteticamente horripilante (em um bom sentido). Nos últimos anos, temos assistido a uma onda de filmes de baixo orçamento, com roteiros similares uns aos outros, focados em histórias fáceis, com personagens superficiais e "jump scares" aos montes; uma onda de novos slashers (e posso citar inúmeros slashers da década de 70/80 que tinham mais conteúdo), cujo único propósito é trazer um entretenimento momentâneo para o público ao matar brutalmente todo o elenco, um atrás do outro (para uma crítica disso, vide "O Segredo da Cabana"). Exorcismos, tabuleiros ouija, found footages, etc. nada que realmente fuja do par óbvio ação-reação...em parte, é por essas e outras que o gênero horror é desprezado intelectualmente. The Void pode não ser nada criativo, tudo ali de certa forma já foi feito antes, dá pra sentir vibes que reverberam de HP Lovecraft até Clive Barker e David Cronenberg (tentáculos, cultos satânicos, muita gosma/sangue e transformações corporais), bateu uma onda nostálgica ao ver que pelo menos alguém ainda acredita que o horror não funciona apenas com CGI, que tem coragem de colocar a mão na massa e construir seus próprios monstros, custe o que sujar. Infelizmente, o filme peca em deixar o final demasiadamente em aberto, sem nenhum tipo de explicação mais específica, daí a sensação de "tá, é só isso?" que várias pessoas ficaram...mas, por outro lado, pra mim compensou pela coragem em tentar ser original. Recomendo para aqueles que são fãs old school do gênero e querem ver um bom e velho gore com tons existenciais. P.S.: A nível de curiosidade e coincidência, há também um jogo chamado "The Void", lançado em 2009, que também aborda essa questão metafísica do vazio/limbo, vida/morte, de uma forma estética bem gótica e obscura, tanto quanto o filme, vale a pena conferir.
Fãs dos primeiros filmes da franquia nunca estarão satisfeitos porque simplesmente se prendem a algo que nunca vai poder ser repetido, já teve seu momento no passado. Com o tempo, aprendi a não esperar mais do mesmo, entendo que algumas coisas precisam ser renovadas e evoluídas, se trouxer enriquecimento à história original, por que não? Não estamos falando de outro filme sem sentido de um super heroi qualquer, estamos falando do lore mais foda de toda a ficção científica do cinema.
Estou apreciando muito essa virada de atmosfera e tom que os dois últimos filmes tiveram (acredito que cada filme deve ser visto como um universo em si próprio, até porque Prometheus e Covenant são prequels), sem levar em conta os filmes 3 e 4 (psssst...), esse foco mais existencial/filosófico que as histórias têm tomado marcam uma grande diferença do slasher/ficção científica dos 2 primeiros filmes. O xenomorph em Covenant se tornou muito mais do que apenas o "8º passageiro",
eles se tornaram peças essenciais para pensarmos questões sobre a própria humanidade, trazendo muitas questões instigantes sobre a nossa própria gênese e destino, etc. enfim, achei simplesmente genial, Michael Fassbender faz um ótimo androide excêntrico.
Chumbo Grosso
3.9 532 Assista AgoraFui assistir a esse filme uma década atrasada, simplesmente é um daqueles filmes famosos que todos falaram, em algum momento, e você sabe que é bom, mas, por algum motivo, acaba não indo atrás. Gostei muito de "Shaun of the Dead", que é um filme de comédia bem icônico e que, com certeza, se destaca de toda uma leva de subgêneros do estilo "besteirol". Com "Hot Fuzz" não é diferente, e agora tenho a tese mais forte de que os melhores filmes de humor são de fora dos EUA.
Simon Pegg encarna muito bem o papel do policial neurótico que passa por uma experiência transformadora, gostei que o filme faz paródia de tantos clichês de filmes de horror e filmes de "policial". Vale a pena pelo passatempo, se você está procurando um filme de comédia com um pouco mais de sagacidade e ironia.
Diário de uma Garota Perdida
4.3 24Um belo exemplo de filmes "Pre-Code" de Hollywood, no qual os temas considerados muito maduros ou "pesados" para o público em geral, são abordados de forma mais aberta. Aqui, acompanhamos Thymian, uma garota privilegiada de classe média que é segregada de sua família após cometer um ato considerado imoral...a partir disso, observamos sua vida tornar contornos cada vez mais irreversíveis em relação a seu estilo de vida anterior.
Achei interessante o quanto o filme tem um senso de justiça próprio, e, apesar de ser melodramático, não tem um efeito moralizante sobre o desenrolar dos eventos (isso teria acontecido, caso o filme tivesse sido produzido após o lançamento do Código Hays, o cineasta teria sua ideia totalmente mudada para se conformar às regras moralizantes do manual, ou então, mais provavelmente, o filme nunca nem sairia do primeiro esboço).
Louise Brooks é, certamente, quem carrega o filme, se não fosse sua figura icônica, sensual e misteriosa e, ao mesmo tempo, ingênua, "Diary of a Lost Girl" teria sido totalmente esquecido hoje. Adoro as expressões exageradas que caracterizam os filmes mudos, onde o importante era conseguir transmitir a emoção do momento para que quebrassem a barreira imposta pelo silêncio, apesar de hoje ser visto como uma atuação caricata, acredito que seja uma forma de arte muito bela e hoje, nostálgica.
Teorema
4.0 198Sinopse sincera do filme:
Terence Stamp comendo geral, total pica das galáxias, criatura espacial caótica feita para destruir a família tradicional italiana.
Entendo que é pra ser uma crítica a burguesia, além de deixar aberto a tantas outras interpretações, tudo é construído e desconstruído de forma tão simbólica e artística que é preciso abstrair muito (inclusive sobre a real função de um filme, também uma indústria cultuada pela burguesia e suas regras) pra conseguir chegar até o final sem cansar.
Sorte Cega
4.1 62 Assista AgoraCurto demais os filmes do Kieslowski, é uma tradição de cinema que nos faz refletir sobre questões existenciais, ao mesmo tempo em que apresenta dilemas humanos, situações extraordinárias e adversas pelas quais os protagonistas vivenciam e nós não estaremos nunca livres de experienciar. O mais importante é que diz muito sobre a condição de adaptação, de resiliência do humano frente o sofrimento e a absurdez da vida, tentamos encontrar sentido onde, muitas vezes, só há a dor de se deparar com o real.
No caso de "Przypadek", é um exercício muito instigante, tenho certeza que a maioria das pessoas já o fez, o de tentar imaginar os diferentes destinos que a sua vida poderia assumir, como seria sua vida caso tivesse feito ou não tal escolha, o que também sempre será muito angustiante.
Tantos filmes de ficção científica já foram feitos sobre o tema, versando sobre ideias complexas como o Gato de Schrödinger, teorias sobre universos paralelos, buracos negros, efeito borboleta, que seja...Kieslowski nos apresenta a ideia do "acaso" diante de uma forma que pode parecer simplista perto de explicações científicas, mas que é incrivelmente efetiva enquanto filme. O modo como ele consegue produzir seus filmes sem necessitar de nenhum artifício além de uma narrativa bem amarrada e de uma boa história humana, é simplesmente fascinante, assim, consegue nos deixar vidrados na tela pela vida toda.
O ator Boguslaw Linda é incrivelmente carismático, foi um prazer (por vezes angustiante) poder acompanhar Witek através de diferentes caminhos, todos são inspiradores pois trazem, cada um, seus altos e baixos. Realmente me importei com o que acontecia ao personagem, me identifiquei com o que ele sentia, seguir uma intuição que pode ser um sonho, sem que haja qualquer garantia de que as coisas vão ficar bem...justamente essa oscilação entre equilíbrio e instabilidade e o pouco controle que temos frente a certos acontecimentos (até que ponto será que realmente temos escolha sobre nossas vidas?) são questões existencialistas muito interessantes trazidas por Kieslowski.
Dois Lados do Amor
3.4 244Fui assistir a esse filme um tanto duvidosa pois não curto tanto romances (muito menos Beatles), e é algo que eu acho que não combina com nenhum dos dois atores envolvidos. Mas, ao final, creio que eles deram o melhor de si (a Jessica Chastain foi produtora, inclusive), só não consegui, particularmente, sentir o que o filme queria que eu sentisse...primeiro, porque a duração foi longa demais, senti que se arrastou por tanto tempo até se tornar quase monótono e ansiogênico; em segundo lugar, só eu achei que o James McAvoy e a Jessica Chastain formam um casal muito improvável? Por mais que eles sejam ótimos, cada um à sua própria maneira, não parece haver "química" entre eles, não consigo acreditar que eles passaram por tudo aquilo juntos, entende? inclusive achei um tanto forçadas as cenas entre eles antes do ocorrido, como se estivessem justamente querendo nos convencer à força de que os dois se amam e chegaram a compartilhar momentos bons, blah blah blah, olha só como são íntimos. Talvez tenha sido uma questão apenas minha, não sei, fato é que é muito difícil de transmitir intimidade.
Em terceiro lugar, desde que eu li a sinopse, já sabia sobre o que se tratava, à medida que menos se fala sobre certo assunto, pode ter certeza que mais horrível ele é e mais difícil de ser falado sobre. Em resumo, é um filme interessante pra quem curte um romance sofrência, mas entrei em conflito com algumas das representações de amor romântico que são retratadas.
Não há como não lembrar de "The Broken Circle Breakdown" (a.k.a. "Alabama Monroe"), uma produção belga/holandesa lançada em 2012, que casualmente trata sobre o mesmo tema, mas de uma forma bem mais empática e genuína, na minha opinião.
Confesso, também, que não sou muito fã de roteiros que envolvem personagens com alguma doença terminal ou passando por período de luto, mais por questões pessoais mesmo, mas entendo que pode ser uma forma de pessoas que estão passando por isso na vida real, poderem elaborar suas experiências, se vendo representadas nos filmes. Mas, muitas vezes sinto que é um tema super explorado da forma errada, não é o caso aqui, felizmente, mas, senti falta de um roteiro mais elaborado, os diálogos e o desenrolar da trama parecem não chegar a lugar algum e no final me senti vazia.
Além de tudo, tem a questão de gênero, é inevitável perceber o quanto os estereótipos heteronormativos estão presentes na relação entre o Connor e a Eleanor: após a morte do filho, ele simplesmente tentou esquecer e ela não conseguiu superar; após a separação, ele ficou stalkeando ela mas se sentiu no direito de fazer sexo com outra pessoa (???), enquanto ela tentou suicídio, tentou seguir seu próprio caminho, tentou retomar o relacionamento após insistência dele, ficou sabendo que ele teve sexo casual, tentou fazer sexo casual e não conseguiu (porque mulher é sempre fiel ao seu homi, né gente????!!!)...depois disso, me poupe, fiquei ainda mais desacreditada desse amor.
O Procurado
3.4 1,5K Assista AgoraEsse filme teria funcionado melhor como uma HQ, todo o desenrolar da trama e das cenas de ação requerem uma suspensão de pensamento por bastante tempo da sua duração, haha. Além disso, tenho um problema com filmes que tem cenas de ação "mirabolantes", e também com atores "A-list" no geral, nesse caso, Morgan Freeman e Angelina Jolie, a questão é que eles são tão famosos que a sua persona pública transcende qualquer talento para a atuação que eles possam ter. Como exceção, tem o James McAvoy que ainda não carrega o status de "estrelão", e que eu achei ótimo nesse filme, mas digamos que eu assistira qualquer coisa, mesmo, que tenha ele.
Logo, toda a viagem de conseguir desviar a trajetória das balas ser vista como uma super habilidade meio que não me impressionou de nenhuma forma, então, pra mim, o filme foi apenas uma diversão bem pontual e efêmera.
Filth: O Nome da Ambição
3.7 487 Assista AgoraJames McAvoy é o meu novo ator predileto, o nível de emoção que esse ser consegue expressar na face é inacreditável. Em uma mesma cena ele consegue ir de um extremo a outro, nos fazendo surfar dentro de uma onda caótica de sensações, similar ao que a mente de uma pessoa com Transtorno Afetivo Bipolar deve parecer (MAS, é importante apontar, a intenção do Irvine Welsh não foi retratar de uma forma educativa sobre transtornos mentais, inclusive, filmes da cultura pop geralmente mostram de forma errônea e até mesmo de forma romantizada a experiência de pessoas que possuem algum diagnóstico psiquiátrico. Assim, não acredito que dê pra dizer que Bruce Robertson é qualquer pessoa comum com diagnóstico de TAB...a não ser que seja alguém numa profunda crise maníaca, fora de controle, sem medicação, etc. e mesmo assim, me parece que ele tem traços mais fortes de personalidade antissocial do que propriamente bipolaridade, pois todo aquele nível de manipulação, narcisismo e violência gritam S-O-C-I-O-P-A-T-A, haha, mas enfim).
Antes de assistir, não sabia que era baseado em uma obra do Irvine Welsh, mas faz total sentido pela narrativa brusca e pela crueza das personagens (uma espécie de Chuck Palahniuk versão UK mais pesado ainda), pretendo ler o livro em breve. É realmente aquele tipo de filme, ame-o ou odeie-o, por conta da intensidade dos temas tratados, abuso de drogas, exploração de menores, assassinato, violência verbal e física, assédio moral e tantas outras formas de ser um péssimo ser humano. Às vezes é quase inacreditável o quanto Bruce é maldoso, manipulativo e observador, sempre tentando tirar o melhor proveito de qualquer situação para si. Apesar de todas essas questões pesadas e doentias, o filme é também incrivelmente engraçado, com um senso de humor único, cuja obscuridade e sagacidade são compararáveis (senão mais "sujo" que) às obras do John Waters. E é possível rir muito, contato que se veja aquilo como uma sátira muito obscura e triste sobre a humanidade como um todo (ou não), contanto que também se aprecie um tipo de humor sardônico e ferino sobre a sociedade.
Assisti ao filme duas vezes desde a semana passada, e revi diversas cenas (principalmente pérolas como a cena do trote pra "Bunty" e da pixação no banheiro, e é isso que transforma um filme em favorito pra mim, quando sinto vontade de rever após ter assistido recentemente, por não conseguir tirá-lo da minha cabeça. Robbo é um dos personagens mais detestáveis e carismáticos da história do cinema (e da literatura, por que não?), o que diz respeito a sua natureza dual, ao mesmo tempo em que ele é um verme desprezível (e só nós espectadores sabemos disso, sendo cúmplices através dos contatos visuais que ele faz com a câmera), em outros momentos também conseguimos captar algum tipo de sinceridade e fragilidade em seus olhos, principalmente da metade do filme para o final, quando seu colapso mental fica cada vez mais aparente e inevitável, bem como nas cenas-sonho com o dr. Rossi, em que ficamos sabendo um pouco sobre o passado traumático dele, etc.
Uma questão que me deixou mais intrigada do que o normal foi toda a questão dele se travestir como sua ex-esposa, fiquei pensando qual o sentido daquilo tudo? pois trouxe ainda mais condições mentais para a sua situação! Entendi que talvez fosse um dispositivo para mostrar o quanto Bruce estava em negação com a sua própria realidade, isto é, o abandono por sua família foi tão insuportável que ele precisou criar uma personagem que tapasse o "buraco", sua mente estava fragmentada (curioso que o McAvoy depois foi fazer "Split" com o Shyamalan, interpretou um protagonista que apresenta um conflito levemente parecido, esse ser humano tem ou não tem talento pra interpretar almas perturbadas?!).
Me preocupa essa questão dele se travestir como mulher, porque novamente reforça a ideia de que a travestilidade e a transexualidade são coisas anormais, como já vimos em tantos outros filmes. Nesse caso, não é um artifício usado pra produzir um humor subversivo, como em John Waters, ao fazer humor com paródias de masculinidade e feminilidade, aqui é para mostrar o quanto Bruce estava adoecido. Enfim, talvez eu esteja esperando um movimento politicamente consciente de um filme que nunca pretendeu ser isso, em primeiro lugar.
Só sei que esse filme me horrorizou e fascinou ao mesmo tempo, a performance do James McAvoy, acima de todos os outros, igualmente ótimos, foi a melhor coisa que eu vi nos últimos tempos, e aquela cena final me deixou assombrada pra sempre, e isso é tudo o que eu peço do cinema.
A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell
3.2 1,0K Assista AgoraMuitos amigos meus, desde o momento em que souberam que o filmão americanão, reboot da animação cyberpunk japonesa de 1996, estava em produção, juraram de pé junto que jamais iriam queimar suas retinas assistindo a esse excremento de celuloide. Eu fui um pouco mais aberta a possibilidades e acabei assistindo, sinceramente esperando uma renovação refrescante da história original.
Assisti a animação de 1996 há muito tempo atrás e agora fiquei mais a fim do que nunca de revê-la, afim de tirar o gosto indiferente e insosso que esse reboot me deixou...deveria ter confiado mais nos amigos. Pois, são tantos e tantos exemplos de filmes "estrangeiros" (sim, porque pegamos esse péssimo hábito de chamar de estrangeiro qualquer coisa que não saia da América do Norte), cujos remakes/reboots hollywoodianos transformam a ideia em algo compacto, rentável e mastigado para as massas. De Oldboy à trilogia Millennium, não consigo citar nenhum exemplo que tenha elevado a qualidade de seu predecessor.
Enfim, "A Vigilante do Amanhã" (que título bosta), como todos já sabiam de antemão, teve execução impecável, efeitos especiais inspirados em Blade Runner, Deus Ex, etc., mas, sinceramente, não me provocou nada, não me fez mexer nenhum músculo da face. Acho muito importante que a Scarlett Johansson esteja criando um nicho de personagens femininos em filmes de ação na carreira dela, assim, abrindo caminho para outras atrizes e produtoras, mas senti que esse filme, com o perdão da piadinha cretina, foi apenas uma casca vazia.
Vozes da Escuridão
3.2 244Achei genial o uso da temática do "oculto" em um filme de horror, enquanto geralmente é mostrado como algo do qual as pessoas querem fugir, nesse caso, Solomon e Sophia buscam adentrar de cabeça essa dimensão. Senti falta de uma exploração maior da história prévia das personagens e dos motivos que os levaram até aquele momento em suas vidas. Mas, pensando melhor, parece que o filme foi arquitetado justamente para ser dessa forma, se eles não podem sair fisicamente do círculo de sal ao redor da casa, nós, espectadores, também estamos confinados, simbolicamente, àquele espaço.
A Dark Song foi original em sua abordagem do oculto (mais especificamente, do ritual de magia sagrada de Abramelin) e de um relacionamento (não amoroso, diga-se de passagem, o que teria sido um golpe baixo) bizarro e circunstancial entre dois estranhos com passados obscuros. Foi um filme muito empolgante para o momento em que vivemos, no qual o gênero "horror" se tornou uma paródia de si mesmo. Mas, por outro lado, fiquei um tanto decepcionada com a execução do segmento final, talvez ter apostado em um desfecho mais abstrato e menos explícito tivesse se adequado melhor ao tom do filme, pois, da forma como foi, parece que a "mensagem" foi enfiada goela abaixo, sem deixar muito à nossa criatividade. De todo modo, um bom exercício de renovação pessoal através do horror, algo raro entre tantos litros de sangue jorrados em vão.
P.S.: Apesar de não ter gostado tanto do final, achei bem construídas as formas físicas dos "seres" do submundo e o anjo da guarda (bizarríssimo e levemente perturbador, diga-se de passagem). Depois fui ler um pouco sobre o tal "Livro de Abramelin", e faz sentido que eles tenham conduzido o desfecho daquela forma, já que é fiel ao que é trazido no livro.
O Enigma de Kaspar Hauser
4.0 328Um dos clássicos do Werner Herzog que eu ainda não tinha me prestado a assistir, mas agora que já me redimi, posso dizer que carrega os mesmos elementos que tornam outros filmes dele tão geniais quanto, a habilidade de recriar um momento da História de forma tão colorida e realística, por mais que não saibamos como é ter vivido no interior da Europa no século XIX, nos passa a sensação de estarmos mergulhados nesse tempo-espaço.
O que me veio à cabeça enquanto assistia ao filme foi compaixão pela situação do K. Hauser, que, embora tenha sido vitimizado por não ter escolhido estar naquela condição, conseguiu de alguma forma explorar as potencialidades dentro de suas limitações. Embora subestimado e ridicularizado pela maioria das pessoas, bem como provável enquadrado em algum diagnóstico psiquiátrico incipiente, vemos que ele era capaz de um raciocínio muito singular, que muitas vezes surpreendia as pessoas, e de sentimentos humanos em sua forma mais pura.
Outro ponto que chama à atenção é o talento que as pessoas têm de encontrar formas de explorar outros mais vulneráveis. Desde o momento em que o Kaspar é encontrado reconhecido como "incapaz" (de ser um cidadão economicamente/moralmente ativo), autoridades masculinas tentaram maquinar as formas mais esdrúxulas de tirar proveito de sua situação, chegando a expô-lo em um circo de horrores (que, na minha opinião, não teve nada de horror, a não ser aquele apresentador semi-moribundo, né?!), até mesmo inventando impostos compensatórios, testando suas faculdades mentais, vendendo-o para a aristocracia, etc. quais outras formas de violação faltaram?
Mas, em meio a toda essa violência, Herzog também consegue capturar a beleza da peculiaridade dessa situação, mostrando às vezes que o espectro da experiência humana não é composto apenas por bem ou mal...mas, por outro lado, às vezes nos faz sentir como se a única solução fosse, realmente, um meteoro, rs.
Spider: Desafie Sua Mente
3.5 108 Assista AgoraAdorei as ambientações escuras e frias desse filme do Cronenberg, principalmente a vibe assombrosa e perturbadora, demonstrada pelos olhos das personagens (PQP, Ralph Fiennes realmente sabe interpretar uma alma perturbada, vai dizer?) ou em detalhes, como nas bugigangas que Spider carrega nos bolsos, ou as quatro camisas enxovalhadas que ele veste, a fragmentação de sua mente em presente/passado...o qual ainda está acontecendo para ele, se repetindo dolorosamente, em um loop. Psiquicamente, não há tempo cronológico.
Gostaria de ler o livro que deu origem à adaptação, tenho certeza de que traz descrições que "desafiam" muito mais nossas mentes. Acho que Cronenberg foi um pouco mais sutil em sua linguagem visual, não caberiam explosões sangrentas de crânios ou habilidades paranormais nesse aqui, embora em alguns momentos eu tenha me perguntado como o personagem fazia para "observar sua própria cena"...mas, não era tão complexo quanto o título aparentava. Após o encaminhamento da história, temos vários indícios sobre o que se trata, e, por não deixar muito à imaginação, acredito que o filme tenha perdido um pouco do brilho, mas, ao que se propõe, acredito que consegue atingir muito bem seu objetivo...
A Mulher do Pântano
2.9 304 Assista AgoraUma palavra? Excremento.
Relação Indecente
3.1 62Fui assistir consciente, não esperando uma grande obra que me fizesse refletir sobre a minha própria existência, mas sim um pequeno filme sem compromisso, que trouxesse alguns momentos memoráveis e que fosse tão brega e ruim, que acabaria se tornando bom...em outras palavras, um guilty pleasure. Acredito que os realizadores (o que achei interessante e que é o grande diferencial do filme, é que a diretora é uma mulher!!) realmente levaram a sério e tentaram construir um filme bom, com sua própria singularidade, mas o desenrolar da história acaba caindo em lugares-comuns, muitas vezes, bem cretinos.
Há vários elementos que conseguem separar Poison Ivy de cair totalmente naquela categoria, filmes exploitation/soft porn/melodramáticos medíocres dos anos 90, o que não quer dizer que não esteja com um pézinho dentro da cova. Um desses elementos é a presença carismática da Drew Barrymore, que aliás, geralmente consegue salvar seus próprios filmes, por mais bomba que sejam, aqui, ela parece muito confortável e espontânea no papel de "Ivy", que, no fundo, acaba sendo uma grande colagem de personagens femininos com síndrome de Lolita e Transtorno de Personalidade Borderline, que já vimos tantas vezes antes
daí pra explicar todo esse comportamento "desviante" da Ivy, são fornecidos apenas relatos soltos e sem muito nexo sobre ela ter um pai que não se importava com ela (daddy issues) e uma mãe dependente química que também não se importava com ela...alguma novidade?
Apreciei muito, no início, a forma como ela foi apresentada e que a narrativa era feita também por uma menina (inclusive, no início, pelos tons lésbicos, pensei que o filme fosse ser uma espécie de primo pobre de "Heavenly Creatures", mas não), Sylvie, personagem da Sara Gilbert, é um pouco mais interessante, pois apesar de incorporar alguns estereótipos da amiga nerd, tem um humor sagaz e uma personalidade que não parece ter saído direto de um manual de como escrever roteiros. Ri internamente das várias piadinhas e interpretações "psicanalíticas" (psicologia pop, quero dizer) que ela faz sobre ela mesma e sobre outros (por exemplo, que fumar é uma compensação oral por ela não ter sido amamentada e amada o suficiente pela mãe, etc.)
Pra mim, após esse breve período em que elas se conhecem e se tornam próximas, o filme se perdeu e desandou completamente (também é marcado, se vocês perceberem, pelo momento em que a Drew alisa o cabelo, a partir daí, ela realmente encarna a vilã de novela mexicana dissimulada). Depois disso, temos muitas sequências extremamente previsíveis, em alguns momentos pensei que estava assistindo ao cine privê. Lamentável, pois poderia ter tido mais potencial se tivesse seguido a vibe independente que teve no início do filme.
Relação Indecente
3.1 62Só queria dizer que o Brasil tem o maior talento fazer traduções moralizantes e toscas de títulos de filme, aff.
Glória
3.7 40Há algum tempo não assistia a nenhum filme do diretor John Cassavetes, mas sempre fui fascinada pelo seu estilo intimista, close-ups intensos, sem medo de mostrar as subjetividades das personagens. Gena Rowlands, sua musa criadora (mas, penso que, na verdade, é o Cassavetes quem tem sorte de tê-la como protagonista), está senhora de todas as cenas. Assim como em "Uma Mulher sob Influência", chama à atenção uma narrativa incomum sobre uma figura feminina fora do ordinário.
No caso, Gloria Swenson (não tem como não lembrar da finada diva Gloria Swanson), apesar de nunca ficar explícito, tudo indica que ela teve um passado sombrio envolvendo a máfia, o que explica uma mulher branca ter ido morar em um condomínio aparentemente periférico da cidade de Nova York, bem como dela ter se tornado amiga de um casal inter-racial (pode ser totalmente normal pra nós hoje, mas, naquela época esses estereótipos tinham um poder muito maior), cuja presença ali naquele local também é compreensível, apenas o "pai de família" é branco. Gloria tentou se reabilitar e retomar uma nova vida no que parece ser uma segunda chance, mas o passado a reencontrou de uma forma ou de outra, e a chamou novamente para se posicionar (algo que ela hesita em fazer, no início).
Acho muito interessante a humanização, nem que seja nas entrelinhas, das personagens Phil e Gloria, enquanto os "mafiosos" são apenas homens sem identificação, de rostos iguais, o que combina com o seu distanciamento em relação a realizar uma tarefa tão desumana quanto a execução brutal de uma família inteira, por conta de dívidas.
É interessante, também, a transformação que acontece na relação entre Phil e Gloria, o que, no início, começa como uma relação baseada apenas na sobrevivência, logo se transforma em afeto. Não consigo pensar em outra palavra pois não se trata de uma relação propriamente familiar, tampouco sexual (pela proibição social, mas é curioso que em vários momentos Phil se insinua para Gloria como um potencial interesse amoroso)
Freud, há um século atrás, já havia postulado que não devemos negar a sexualidade das crianças, o que também não quer dizer que deva ser tratada como a de uma pessoa adulta (até porque a infância e a adolescência que conhecemos hoje é uma criação social datada do início da modernidade, né). Outro ponto é que esse filme foi lançado na década de 1980, e a verdade é que o "politicamente correto" não era senso comum, consigo pensar em um número de filmes que trazem crianças em situações bastante sexualizadas e que hoje simplesmente não poderiam acontecer no cinema (ainda que haja certas tentativas que dão certo, como é o caso da obra master do Gregg Araki "Mysterious Skin", ou até mesmo "The Heart is Deceitful Above all Things" da Asia Argento). Ainda, pra mim não ficou clara qual é a idade certa do Phil, em vários momentos é mencionado que ele é uma "criança de 6 anos", mas não parece...se for isso mesmo, deixa os meus outros argumentos um pouco mais perturbadores.
Enfim, acredito que seja um filme bem singular, no sentido em que delineia um contexto social assustador, NY na década de 1980, retratada como terra sem lei, lugar caótico, sujo e impiedoso, e é nesse contexto que as relações se estabelecem: a relação entre Phil e Gloria, dois outsiders, excluídos, que sobreviveram e sobraram, e o que se constrói a partir disso é curioso e enriquecedor.
South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes
3.9 316 Assista AgoraBig Gay Al e Winona Ryder, Satã e Saddam Hussein tendo DR's. Ah, cara, é exatamente como o título diz, é como se fosse um episódio de South Park, só que mais longo e melhor produzido, e com excessivos números musicais, sério, depois de um tempo chega a ficar maçante, e olha que sou fã de musicais.
Power Rangers
3.2 1,1K Assista AgoraFui assistir não lembrando de muitos detalhes sobre a série original que passava na TV aberta no início dos anos 2000, lembro de alguns elementos e de que, como criança, gostava do entretenimento estilo super-heróis que salvam o dia, do duelo eterno entre bem vs. mal, bem como das cenas de ação e sequências previsíveis que sempre acabavam da mesma forma (lembro especificamente de pensar que as sequências de luta entre os megazords dos Power Rangers e dos vilões eram particularmente marcantes e empolgantes, apesar de também sentir que eram repetitivas...).
Acredito que o filme tenha sido particularmente entusiasmante para os fãs de longa data, vi como uma tentativa de presenteá-los com um tom de nostalgia, ao mesmo tempo em que tentou transformar a atmosfera quase infantil da série em um filme de ação de "alto calão", com muitos efeitos especiais de qualidade. Mas, por questões pessoais e também algumas técnicas, assistir ao filme não foi uma experiência tão marcante na minha vida cinematográfica, primeiramente, porque não sou muito fã de histórias estilo super-herói, ou Super Sentai. Em segundo lugar, entendo que a ideia original da "entidade Power Rangers" seja única, isto é, sendo mostrada ou não com efeitos de CGI de qualidade e atores hollywoodianos, continua sendo Power Rangers!
Mas, ainda assim, não consigo deixar de me incomodar com a forma maniqueísta através da qual esse tipo de filme é roteirizado, isto é, luta épica e aparentemente sem sentido entre forças da luz e da escuridão, mas, são personagens com diálogos e comportamentos tão escrachados e extremistas que acabam se tornando caricaturas de si mesmo, e depois de um tempo, nem importa mais se seu objetivo é o de controlar toda a galáxia ou sei lá o que. Mas eu entendo, faz parte de como a própria história foi idealizada, e tentar mudar isso talvez tivesse descaracterizado totalmente a obra, portanto, acredito que a proposta do filme foi fiel aos fãs que esperavam um upgrade da série e o conseguiram.
Notei, também, que, diferentemente da vilã (o que dizer de um nome como "Rita Repulsa"?), houve uma preocupação em retratar os Rangers como pessoas reais, achei muito interessante e realmente legal a ideia de integrar notas de diversidade aos personagens, Billy é alguém que faz parte do "espectro" autista, também dá a entender que Trini é lésbica, etc. E, de modo geral, todos os Rangers são adolescentes que estão passando por um momento difícil de suas vidas (pleonasmo?), inclusive cumprindo penas tipo medida sócioeducativa, haha, e desenvolveram um certo nível de resiliência para poder continuar a lidar com certos conflitos, o que também explica, de certa forma, o porquê de terem sido "destinados" a acharem as "moedas".
Terror Nos Bastidores
3.4 447 Assista AgoraTenho ensaiado ver esse filme há bastante tempo, desde que saiu, no ano passado, talvez o que tenha me impedido de fazê-lo com mais antecedência tenha sido a capa (sim, isso influencia bastante!), fórmula utilizada por tantos outros filmes que simpatizam com o gênero horror nos últimos anos (de cabeça, não consigo lembrar o nome exato, mas sei que existem vários...inclusive, se alguém souber como se chama esse estilo de arte, agradeço pela informação!), uma colagem artística de vários personagens e elementos que remetem ao filme que vamos assistir. Apesar de ser algo considerado "retrô", me remete mais a uma modinha que surgiu agora, na pós-modernidade, do que propriamente a filmes slasher dos anos 80, sinceramente não consigo lembrar de nenhum "clássico cult" do terror que tenha uma arte de capa parecida.
Mas, falando sobre o filme em si, adorei a forma como a história se desenrolou, talvez porque eu tenha ido assistir com uma mente aberta e total ignorância sobre o roteiro da história, a metalinguagem presente é realmente o forte do filme. Gosto de pensar que um filme assim, puramente sobre filmes, só poderia existir na nossa época atual, repleta de tentativas de resgate e nostalgia sobre coisas passadas. Por outro lado, se fala sobre um gênero há muito banalizado e enterrado (slashers estilo "Sexta-Feira 13" e "Halloween"), inclusive se aproveitando de seus clichês e figuras estereotipadas, mas que não é da forma que geralmente vemos hoje (remake, sequência, reboot, cópia des-original), mas sim de um jeito que agrega coisas novas a esse gênero de filmes.
Achei genial a história da "viagem no tempo" e a dimensão paralela do Camp Blue Finch, bem como o encontro entre essas personalidades do mundo "real" e da ficção (bem como o estranhamento de se descobrir um ser ficcional, já imaginaram?). Fiquei pensando, se a escolha não dependesse de mim e o destino fosse esse, em qual filme eu iria preferir estar presa dentro?
Enfim, além de ter apreciado o tom metalinguístico através do qual o filme foi sendo construído, também apreciei a sororidade que há entre personagens femininas, refletida no relacionamento mãe e filha da Nancy e da Max, o que mostra a profundidade que o filme conseguiu alcançar, não sendo apenas diversão barata ou masturbação nerd (como o próprio slasher Camp Blood), pelo contrário, confere uma dimensão mais realista e humana ao gênero, o que é massa.
Ódio
3.4 18Onde encontrar?
Prevenge
3.0 39Em primeiro lugar, preciso admirar o trabalho dessa mulher, Alice Lowe, que não apenas escreveu e dirigiu, como também atuou em seu próprio filme, algo que felizmente está começando a se tornar mais comum. Acabou sendo um filme bem diferente do que eu o imaginei, pensei que seria algo bem "À l'intérieur", com a Béatrice Dalle, mas acaba sendo um jogo equilibrado entre gore e humor obscuro.
Gostei porque, apesar de o final ser um tanto previsível, ao longo do filme ficamos imaginando até onde vai a realidade, e mesmo após a resposta, continuei querendo saber mais sobre o que tinha acontecido àquela personagem para ter chegado naquele ponto. Alice Lowe interpretou Ruth
Fica a dica pra quem quiser procurar a fonte daquele filme antigo que Ruth assiste e se "inspira", chama "Crime Without Passion", de 1934.
p.s.: o final deixa claro que Ruth (ou Jessica?) tem algum tipo de transtorno mental, não se tratava de um bebê diabólico estilo "Baby Blood" (filme francês muito bom, recomendo!) ou até mesmo "O Bebê de Rosemary", a questão que fica é, esse transtorno é de stress pós-traumático após a morte acidental do marido e toda a experiência da gravidez ou era algo que já existia previamente?
T2: Trainspotting
4.0 695 Assista AgoraCHOOSE REMAKES, CHOOSE REBOOTS, CHOOSE SEQUELS, CHOOSE HOLLYWOOD.
Embaraçoso a forma como essa sequência totalmente inesperada tenta se aproveitar, até o último minuto, da genialidade do filme original. Se formos pensar, por um momento, é até interessante a ideia de reencontrar aqueles personagens peculiares duas décadas depois, mas...no final, será que realmente queríamos isso? será que realmente nos importamos?
Entendo que "T2" (até o título me enerva, T2 = Terminator 2?) tenha sido direcionado a pessoas que assistiram ao primeiro filme e estavam em seus 20 e tantos anos, portanto, poderiam se identificar novamente hoje aos 40, em suas respectivas crises de meia-idade. Por outro lado, sabe aqueles tios metaleiros que continuam usando as mesmas roupas e tendo a mesma atitude dos 20 aos 40? Pois é, de certa forma, não é mais tão legal ou rebelde ver Spud, Mark, Sick Boy e Begby serem os mesmos de sempre.
Além disso, tentaram abarcar muita coisa em um pequeno período de tempo, o que transformou o filme em uma sequência de colagens aleatórias, não tendo uma continuidade sólida, inclusive, O MAIS IRRITANTE, é o quanto força a barra pra repetir/reencenar cenas e momentos do primeiro filme, como uma tentativa desesperada de dizer que vale a pena estarmos assistindo àquilo. A história é totalmente sem pé nem cabeça e parece servir apenas como um artifício para relembrar de coisas que também já vimos acontecer.
Um ponto que achei legal, no entanto...
foi aquela história sobre o Spud conseguir uma ressignificação da própria história através da escrita da sua vida, bem interessante, mas de qualquer forma, não compensa pelo resto do filme)
Gostaria de ter simplesmente continuado a imaginar (ou nem imaginar nada) o que teria acontecido aos quatro, ao invés de ter assistido a Trainspotting marketizado e moralizado.
A Cura
3.0 707 Assista Agora"A Cura" foi tão longo, mas tão longo, que, a partir de certo ponto, eu já nem me importava mais em saber qual seria o grande segredo da instituição, ou entender a conexão entre as enguias, incesto e dentes caindo. Parece que o filme tenta ser complexo em níveis que nem mesmo dá conta de explicar, dando ares de ser uma mistura de "A Montanha Mágica", obra literária de Thomas Mann (que, diga-se de passagem, também tem por cenário um sanatório elite nos alpes suíços)...
cujos internos também são velhos ricos (em sua maioria) em busca de uma espécie de "cura" contra um mal-estar abstrato que os aflige (nesse caso, males respiratórios). Lá, eles também são inconscientemente incentivados a ficar internados, conforme o tempo vai se arrastando e os médicos vão prolongando o tratamento por tempo indeterminado. A diferença é que, no livro, a terapia não é através da água, mas sim pelo ar das montanhas
Diria que "A Cura" é uma versão terror d'A Montanha Mágica, mostrando um elemento mórbido e sobrenatural que o livro omite (mas confesso que durante a leitura, que se estende infinitamente, tive a sensação de que qualquer coisa de estranho estava por acontecer!)
Juntamente com um toque de "Ilha do Medo" do Scorsese, onde os personagens são confrontados por verdades secretas...ou serão ilusões? Enfim, senti que houve pouco de original, e, após todo o desenrolar e do mistério que parece não findar, o clímax e o final do filme são conduzidos conforme a fórmula blockbuster, o que não compensa a jornada...
A "fórmula blockbuster" envolve um duelo entre bem x mal, bem como figuras masculinas violentando e salvando alguma figura feminina, a qual se torna um trofeu de batalha, esta, como sempre, sanguinária e incessante.
Achei o filme uma grande decepção, deixando várias questões em aberto (nada contra isso, inclusive, mas, nesse caso, deixou uma grande lacuna), acredito que se perdeu em sua própria pretensão de ser algo extremamente original e único.
P.S.: Uma das coisas mais clichés que consigo pensar em se tratando de cenas finais de filmes de terror é aquela sutil mudança de expressão facial do protagonista, induzindo o espectador a suspeitar de que há algo de errado. Era genial quando Hitchcock usou em Norman Bates, em Psicose, mas isso era 1960.
A Seita Maligna
3.0 292Há algum tempo não assistia a um filme independente (vulgo "B") tão empolgante e esteticamente horripilante (em um bom sentido). Nos últimos anos, temos assistido a uma onda de filmes de baixo orçamento, com roteiros similares uns aos outros, focados em histórias fáceis, com personagens superficiais e "jump scares" aos montes; uma onda de novos slashers (e posso citar inúmeros slashers da década de 70/80 que tinham mais conteúdo), cujo único propósito é trazer um entretenimento momentâneo para o público ao matar brutalmente todo o elenco, um atrás do outro (para uma crítica disso, vide "O Segredo da Cabana"). Exorcismos, tabuleiros ouija, found footages, etc. nada que realmente fuja do par óbvio ação-reação...em parte, é por essas e outras que o gênero horror é desprezado intelectualmente.
The Void pode não ser nada criativo, tudo ali de certa forma já foi feito antes, dá pra sentir vibes que reverberam de HP Lovecraft até Clive Barker e David Cronenberg (tentáculos, cultos satânicos, muita gosma/sangue e transformações corporais), bateu uma onda nostálgica ao ver que pelo menos alguém ainda acredita que o horror não funciona apenas com CGI, que tem coragem de colocar a mão na massa e construir seus próprios monstros, custe o que sujar.
Infelizmente, o filme peca em deixar o final demasiadamente em aberto, sem nenhum tipo de explicação mais específica, daí a sensação de "tá, é só isso?" que várias pessoas ficaram...mas, por outro lado, pra mim compensou pela coragem em tentar ser original. Recomendo para aqueles que são fãs old school do gênero e querem ver um bom e velho gore com tons existenciais.
P.S.: A nível de curiosidade e coincidência, há também um jogo chamado "The Void", lançado em 2009, que também aborda essa questão metafísica do vazio/limbo, vida/morte, de uma forma estética bem gótica e obscura, tanto quanto o filme, vale a pena conferir.
Alien: Covenant
3.0 1,2K Assista AgoraFãs dos primeiros filmes da franquia nunca estarão satisfeitos porque simplesmente se prendem a algo que nunca vai poder ser repetido, já teve seu momento no passado. Com o tempo, aprendi a não esperar mais do mesmo, entendo que algumas coisas precisam ser renovadas e evoluídas, se trouxer enriquecimento à história original, por que não? Não estamos falando de outro filme sem sentido de um super heroi qualquer, estamos falando do lore mais foda de toda a ficção científica do cinema.
Estou apreciando muito essa virada de atmosfera e tom que os dois últimos filmes tiveram (acredito que cada filme deve ser visto como um universo em si próprio, até porque Prometheus e Covenant são prequels), sem levar em conta os filmes 3 e 4 (psssst...), esse foco mais existencial/filosófico que as histórias têm tomado marcam uma grande diferença do slasher/ficção científica dos 2 primeiros filmes. O xenomorph em Covenant se tornou muito mais do que apenas o "8º passageiro",
eles se tornaram peças essenciais para pensarmos questões sobre a própria humanidade, trazendo muitas questões instigantes sobre a nossa própria gênese e destino, etc. enfim, achei simplesmente genial, Michael Fassbender faz um ótimo androide excêntrico.