Cine-biografias carregam um peso consigo mesmas por diversos aspectos, desde a abordagem correta dos personagens, até ao conhecimento prévio do público sobre aquela história, ou pelo menos de seu final. "Borg vs McEnroe” pisa em ovos nesses dois aspectos em específico, e entrega uma trama de emoção comedida. O roteiro de Ronnie Sandahl já desperta seu herói protagonista logo na primeira cena. Bjorn Borg é uma criança prodígio que sonha em ser tenista profissional, até o momento em que se torna 4 vezes campeão de um dos principais torneios do esporte: Wimbledon. Logo em seus primeiros momentos em tela, o personagem é mostrado como um ser humano forte (física e psicologicamente), frio e distante de todos, porém extremamente afetuoso com seu esporte ou pessoas que, verdadeiramente, compartilhem de seu sonho (sua mãe e técnico). Em momento algum o texto denota qualquer lado negativo nessas características, mas a exaltam como o auge de um atleta centrado e focado em seus objetivos. Constantemente voltando no tempo através de Flashbacks da infância/adolescência de Borg, utiliza-se aqui um paralelo com seu nemesis, McEnroe, um sujeito destoante de Borg, mas que carrega a mesma gana de vencer do protagonista, entretanto levando consigo a má fama de ser imprevisível, assim como era Borg na juventude. E aqui prevalece o principal erro do roteiro, ao exaltar Borg como herói e McEnroe como vilão, com apenas algumas cenas de - suposta - redenção do mesmo, mas que são logo encobriras pelas vivências hercúleas de Bjorn. Ao não tratar os dois personagens como verdadeiros protagonistas de uma história em comum (O número 1 no ranking e a vitória em Wimbledon), o filme já começa com a partida ganha, tal qual o público que já sabe seu final. O vencedor já está declarado, Match Point, entreguem o troféu para o campeão.
A direção e edição apenas carregam mais o filme de elementos desiguais (a quantidade de flashbacks da infância de Borg e os poucos momentos do jovem McEnroe), além da escolha da trilha sonora e paleta de cores para cada um dos atletas, o que agrega para o tom desejado em tela, mas sendo suas semelhanças e diferenças inerentes, é frustraste perceber que a direção nunca sabe exatamente quando colocá-las em cheque de forma orgânica e natural. Todo o caminhar da trama para seu épico final é carregado de frases de efeito e diálogos, mas sem muita criação de expectativa ao decorrer das partidas antes da grande final de campeonato. Alguns planos utilizados são belos e interessantes (como o zenital em cada lado da quadra, mostrando cada jogador e seus movimentos característicos) e os atores estão incríveis, encarnando visceralmente seus personagens. Os silêncios de Gudnason e seu rosto sem expressão chegam a assustar e LaBeouf - que sempre considerei ser um bom ator - transmite as ansiedades, ingenuidades e fúrias de McEnroe com maestria. Assistam alguns vídeos de seus excessos em quadra, no Youtube… a semelhança impressiona.
Em seus momentos finais, a grande lição de moral deixada é a do fair play, o jogo limpo e justo dentro e fora da quadra, porém, infelizmente, não é o que vimos nas outras uma hora e meia de projeção, onde um narrador muito do tendencioso apenas gritava de alegria para um lado enquanto se calava e mal se expressava para o outro… ironicamente ou não, assim também eram os atletas narrados, em questão. Cabe a nós vaiar ou aplaudir de pé.
Baseado no espetáculo teatral de mesmo nome, “Jesus Christ Superstar” é uma alegoria bíblica que remonta os últimos dias de Jesus Cristo na terra, passando por alguns de seus feitos relatados e sua crucificação. A diferença da obra para tantas outras, é a mudança do ponto de vista, retratando Judas como principal narrador, a ambientação mesclada entre o Império Romano e os anos 70 e a total falta de diálogos, sendo substituídos por músicas disco.
A escolha de colocar Judas como personagem central é corajosa, já que o mesmo é sempre tido como o máximo vilão encarnado, lembrado apenas por trair Jesus, O Rei. Durante os 2 primeiros atos, Judas questiona Jesus, tenta entendê-lo e demonstra suas motivações para realizar o feito ao qual ficara conhecido. Ao final (creio eu que a história de Jesus não seja Spoiler), ele questiona o próprio Deus e suas ações, as quais ele chama de “terrores e maldades", trazendo o peso de sua humanidade e chamando para si, certa benevolência do público que nunca antes havia sido explorada. O roteiro ignora o fato de que Judas nunca fora predestinado a realizar tal ato, mas - como ser humano - escolheu seu próprio caminho, porém, ao mostrar tal abordagem humana, já demonstra sua ousadia histórica.
Sem muitas explicações, desde os primeiros minutos, já ficar entendido a junção das épocas retratadas, seja a Jerusalém de outrora, como o colorido dos hippies dos anos 70, que “invadem" o território árido e seco com seus cabelos esvoaçantes, roupas escandalosas e até mesmo armas e óculos de sol (como na cena que remete a passagem de Jesus pelo templo, expulsando os vendedores e cambistas e rogando aquela casa como Casa de Oração ao Pai), realizando um paralelo interessante entre a época complicada que os Estados Unidos viviam e as mudanças que Jesus realizou na sociedade no seu período ministerial. Rapidamente, também nos acostumamos com as músicas entoadas, que caminham pelo glam rock, passando pelo Jazz e chegando a um pop burlesco muito bem representado na figura de Herodes, rei devasso e de extrema petulância para a época. Criadas por Tim Rice e Andrew Lloyd Webber, as canções contam o fim da caminhada de Jesus e trazem certas controvérsias, ao focar na suposta relação amorosa entre Maria Madalena e Jesus, buscar maior simpatia por Judas Iscariodes e questionar a santidade de Jesus, mostrando-o não como o Messias realizador de milagres e maravilhas, mas um homem comum na hora certa e momentos certos. Como cristão, renego completamente tais pensamentos, mas ainda sim, considero um feito interessante a abordagem musical realizada pela dupla.
Tendo sido gravado em Israel, as locações são belíssimas e utilizadas de tal forma que remetem a teatralidade da obra, fugindo do padrão apenas nos planos abertos e transições de efeito. Somado a isso, a realidade do elenco reduzido (vemos os mesmos atores e pouquíssimos extras), a produção dá uma impressão precária e de poucos recursos, com pequenos momentos de luxuosidade (como na cena de Herodes e do Julgamento de Cristo), mas ainda assim, são poucas as mudanças de cenários e ambientes. Os atores entregam uma qualidade vocal impecável (principalmente Carl Anderson como Judas e Yvonne Elliman como Maria Madalena), mas carecem de expressões e dramaticidade.
“Jesus Christ Superstar” é um prato cheio para polêmicas e controvérsias, já que toca em assuntos religiosos muito bem estabelecidos por séculos, como tantas outras obras como “A última tentação de Cristo”, “A Paixão de Cristo” e até o mais recente “Ressurreição”, mas ao deixar claro, desde seu início, o objetivo de - não somente - chocar, mas entreter sem medo algum de ser brega e espalhafatoso, o filme ganha pontos e mostra um lado mais leve e simples de uma história que é definida de diversas formas em diversas religiões pelo mundo. Como cristão, carrego minha fé pela Bíblia e o que nela está escrito, tendo convicção da vida e morte de Jesus e seu peso sobre minha vida, mas não posso negar e fechar os olhos para as tantas outras formas de identificação e percepção dessa história, e por mais que não venha a concordar com elas, nada me furta a curiosidade de ouví-las e respeita-las, mesmo que seja ao som de uma ópera rock hippie.
De imediato, a sinopse do filme remete a filmes como “Brokeback Mountain” e “Call Me By Your Name”, não somente devido ao romance homossexual, mas ao cenário da obra (pequenas cidades do interior) e em como o romance se inicia (a chegada de um outro rapaz). E de fato, “God's Own Country” trás similaridades com os filmes citados, porém, apresenta uma visão mais "experiente" de um romance, não apresentando uma trama de despertar da sexualidade, mas sim, personagens que já se aceitam como são e entendem o que querem um pelo outro. No início, Johnny é um personagem amargurado, limitado por seus parentes e sem grandes perspectivas de vida, como fica evidente na cena em que uma amiga universitária, que apenas quer vê-lo mais alegre e feliz, o chama para sair a noite, porém ele a desdenha, dizendo que ela não vive a “vida real” e acha que sabe tudo, apenas por cursar uma faculdade, algo que o mesmo não teve oportunidade, devido ao trabalho na fazenda ser a sua “vida real”, tendo ainda, sua limitação acentuada com a chegada de um novo funcionário apenas expondo suas fragilidades e como seu pai não confia em seu trabalho. Sendo seu único escape de prazer, o sexo casual com rapazes aleatórios, com os quais ele não mantém qualquer vinculo emocional e nem ao menos os beija (tal qual uma prostituta com seus clientes), ao decorrer da chegada de Gheorghe, um rapaz sério e que está ali apenas para cumprir seu trabalho de uma semana, Johnny logo se interessa e acredita que pode usa-lo e descarta-lo como sempre faz, porém Gheorghe o entende (“o lugar aqui é lindo, porém solitário”, ele diz) e apresenta a ele um outro mundo (como na cena em que ele sobe as colinas e Johnny corre atrás dele, ate chegar o cume e ver a paisagem com outros olhos), que faz com que Johnny se entregue pela primeira vez ao amor, entre beijos apaixonados, simples toques no corpo ou de um dedo na mão, em um difícil momento de sua vida.
Josh O’Connor e Alec Secareanu entregam ótimas performances de seus personagens, mesmo Alec tendo pouco material em mãos, já que grande parte do desenvolvimento de seu personagem é em função das mudanças que ele realiza na vida do outro, e nunca ao contrário, o que é uma falha do roteiro, que mantém suas atenções em Johnny de forma bidimensional, mas criando apenas uma faceta clara e simples para Gheorghe. Assim como Marvin e Deidre, que progridem durante toda a trama de forma esperada e sem muitas surpresas para o público e os acontecimentos que precedem o terceiro ato do filme já deixam a entender seus desfechos, assim como outras viradas convencionais da trama.
Carregada de belíssimas imagens do interior da Inglaterra, a fotografia de Joshua James Richards é simples e leve, ao retratar o romance do casal em planos fechados e sem muitos maneirismos ou movimentações de câmera. As locações vazias e com bastante verde remetem a solitude daquela região e personagens, assim como a falta de trilha sonora, que quando surge, quase ao final da projeção, causa certo estranhamento, mas logo preenche os ouvidos com a lindíssima letra de “The Days”, feita especialmente para o filme. Ao chegar em seu desfecho, “God's Own Country” transmite a sensação de uma história repetida, mas ainda trazendo em si o peso e a beleza de um romance inesperado e intenso, que mostra que a “vida real” é, pura e simplesmente, aquela em que nós buscamos e temos a oportunidade de viver.
É lá vamos nós falar de como Hollywood parece, gradativamente, perder seu interesse pela novidade e querer enfiar, goela a baixo, diversas continuações/remakes que, em sua maioria, são apenas caça-níqueis e oportunidades perdidas de frescor na indústria... mas esse não é o caso de T2 Trainspotting.
Danny Boyle volta, com todo o seu elenco para uma continuação não muito desejada pelos fãs xiitas do original, mas que sim, gerou curiosidade para aqueles que gostam do filme de 96 e gostariam de revisitar aquela Escócia/Inglaterra, junto daqueles personagens tão...... peculiares! Sendo assim, Boyle entrega 2:00 de puro frenesi colorido e meio distópico de um mundo dominado por tecnologia, celulares, telas pretas e câmeras de vigilância. O diretor não tenta esconder o fato de que este é o discurso em que pretende se agarrar e utiliza desses mesmos artifícios para caminhar na história, seja por dois personagens em uma loja assistindo, através de um tv, assaltados cometidos na mesma loja em questão, um celular tocando e revelando o local de esconderijo de um deles, ou até mesmo um encontro não desejado, através de uma cartela de viagra... como é dito no próprio filme (e no original) tudo ao nosso redor muda, mas a vida continua a mesma. Assim como os personagens principais, que mesmo 20 anos depois, carregam os mesmos ideais e pensamentos, porém, com pesos e consequencias diferentes, tendo em vista a forma como levaram suas vidas até então e as bagagens (mulheres, filhos empregos) que carregam, e o roteiro de John Hodge é perspicaz em nos atualizar do presente deles, mas sem qualquer tipo de estranhamento do público. Parecem apenas 20 horas desde que nós os vemos, e cada cena (ou easter egg) do filme original que nos é lembrada, é um aperto quente no coração.
Tendo um trabalho visual quase impecável (Boyle repete certos momentos icônicos do primeiro filme e atualiza em tantos outros, como nas cenas onde palavras e assinaturas ganham vida em tela), a manifestação levantada pelo filme também remete ao que foi realizado em 96. Apesar de ainda ser questionada e muitas vezes se apresentar de forma datada ou super exposta no filme (o discurso de Renton no restaurante é bem ensaiado), a abordagem com a tecnologia e suas explorações no mundo é o grande mote vicioso que encaramos no século 21. A grande sacada do filme original é nos elucidar o comportamento da sociedade daquela época e o que o futuro lhes espera, porém aqui, em 2017, o comportamento permanece o mesmo (tão dependente quanto), mas sem saber o que o futuro nos espera. O "socialmente aceitável" ainda é super debatido, vivenciado e almejado ("Choose a job, choose a washing machine...), e apenas foi atualizado ("Choose a job, choose a Facecook status"), mas sem qualquer perspectiva de uma vida, que não seja uma vida virtual bem aplicada. Choose your Future Choose Life Choose a Virtual Life
É muito complicado trabalhar o desconforto no cinema, pressupondo que exista uma linha tênue entre o gratuito e o intencional, gerando assim diversas e controversas emoções no público ao qual assiste a obra. O cineasta Yorgos Lanthimos consegue chegar na medida desta linha e apresenta um suspense psicológico traumatizante (se é que pode ser tratado dessa forma), tanto para seus personagens, como para quem os assiste.
"O Sacrifício do Cervo Sagrado" apresenta uma narrativa visual interessantes desde seu início, trabalhando muito bem, não só, o roteiro e seu caminhar até o fatídico final, mas também conversando com a fotografia que remete magistralmente a Kubrick em diversos momentos, o que é perfeito, já que os movimentos de câmera e a escolha de planos abertos em locais fechados, distanciam os atores de seu público e os tornam frágeis, assim como o roteiro lhes permite. Uma rima perfeitamente criada e muito bem executada
O elenco reduzido ganha força em tela a cada momento, não se apoiando em diálogos, mas criando tensão em pequenas e sutis expressões, determinando o sentimento de cada personagem e de toda a família em conjunto, como quando, sem que o público saiba ou entenda exatamente o que está acontecendo, Steven convida Anna para ir até a sala de estar, e sem muito dizer, os dois carregam o peso de sua história e futuras decisões, apenas em troca de olhares.
O roteiro de Efthymis Filippou e Lanthimos também traz uma curiosa alegoria religiosa - e a partir desse momento, descrevei uma percepção pessoal sobre a narrativa - ao colocar Martin como uma espécie de deus, se vingando das atrocidades cometidas pela sua criação. Sendo Steven um médico egocêntrico (como na cena em que diz que cirurgiões não cometem erros), pensando apenas em si mesmo, e Anna uma mãe seletiva (fazendo-a quase ignorar sua filha em certos momentos), Brian "surge" como alguém a coloca-los em seus devidos lugares de seres humanos falhos. E em seu final, ao perceberem isso, não apenas o seguem e o veneram
(Steven o prende em sua casa, mas não consegue matá-lo, assim como Kim o venera sexualmente e Anna beija seus pés em sinal de entrega, mesmo que obrigatória)
, entendendo que nada conseguiram fazer para mudar aquela situação em favor deles, sendo seus destinos, como família, já traçados.
Como realizar um filme sobre uma artista não muito bem vista pelo público e com uma história controversa e (ainda hoje) não muito bem explicada, deve ter sido a pergunta que rondou a mente de todos os envolvidos com este incrível filme. E a resposta não demora muito para surgir em tela, já que desde o início, percebemos não ser um filme de narrativa comum e, principalmente, não ser mais uma cinebiografia qualquer.
A melhor forma de humanizar Tonya Harding era transformando uma história duvidosa e cheia de dramas em uma comédia, e o roteiro de Steven Rogers funciona perfeitamente nesse sentido, trazendo uma tragicômica personagem, de caráter duvidoso, mas que é impossível de não se simpatizar, seja pelo histórico de abusos sofridos, como pela personalidade forte que gerou diversos tropeços na carreira. E mesmo que sejam carregadas de ironia, os momentos trágicos da vida de Tonya nunca perdem o peso necessário e transmitem a mensagem correta para o público.
Tal qual seu roteiro, brilhante também está o elenco que se doa de corpo e alma aos personagens e se mantém no nível desejado entre ódio e o amor do público, mostrando as diversas faces e versões da história.
Tem como principais pontos positivos a qualidade da animação, trilha sonora e história, porém padece um pouco na narrativa e os caminhos que escolhe pra guiar a história.
"Três Anúncios..." começa de uma forma muito simples e direta. Sem exatamente explicar muito quem são os personagens, suas histórias e motivações. O roteiro vai jogando essas informações ao decorrer de toda a narrativa, construindo (e desconstruindo) cada peça do tabuleiro até chegar ao, imprevisível desfecho. Frances McDormand, faz aqui, seu personagem mais importante desde "Fargo" (eu a amo em "Quase Famosos", mas ainda assim era um papel menor), mantendo sua Mildred da forma mais fria e calculista possível, dando espaço para pequenos momentos de explosão nas horas corretas e sem exageros sem sentido. Indicações e possíveis prêmios são óbvios, assim como para Sam Rockwell e seu policial Dixon, um sujeito racista, misógino e nem um pouco palatável, mas que tem uma escalada durante todo o filme e mantém a atenção e a certa simpatia, de um anti-herói, do público.
A direção, ótimo, Martin McDonagh garante fluidez a trama (que o próprio escreveu) ao optar por movimentos de câmera muito simples e poderosos (como a cena principal entre Dixon e Red, a tensão da cena do restaurante e do bar, no final) e uma ambientação sulista que beira ao vintage dos cenários e caracterizações de personagens. Mesclado a isso, o roteiro carregado de um humor negro desconfortante é essencial para a aproximação do público e garante momentos de tensão, tristeza e risos nos momentos mais inapropriados, mas muito bem pensados, carecendo apenas de certa descrença em momentos de total coincidências na trama, onde personagens se encontram de forma pontual e estratégica, por acaso e um flerte em tratar de temas essenciais, como racismo, pedofilia e machismo, que iniciam o filme de forma dura, mas logo vão sendo diluídos e tem conclusões leves e clichês:
como na mesma cena do bar do final, onde o casal de negros ajuda o policial branco Dixon. Essa cena me lembrou os exageros e obviedades do roteiro de "Crash - No Limite"
Creio eu que “Paterson” não seja um daqueles filmes onde se possa realizar uma crítica certeira ou direta. Não se pode dizer se é bom ou ruim, bem ou mal feito, muito menos coloca-lo em tal posição de positivo ou negativo. Jim Jarmusch realizou um filme único, onde a viagem é muito melhor do que a chegada ou a saída… tudo conta, desde a paisagem bela, até os problemas no percurso e os momentos de tédio, pois é assim que uma viagem deve ser, cheia de momentos particulares e internos. A vida de Paterson é tão simples, quanto tediosa, para não dizer, morosa. Trabalho, casa, esposa, bar, casa, trabalho, esposa, bar, casa… uma montanha russa que nunca desce ou sobe, apenas caminha em lenta marcha para um final não esperado ou desejado. Não se sabe como a vida chegou a aquele momento ou como seguirá em frente, apenas se vive um segundo por vez, sem apegos fúteis e onde um pequeno problema elétrico se torna o ápice de um dia “turbulento”. Paterson é simplista, amigável, amável e humano. Sua esposa é o oposto, sonhadora, viva, fulgaz e sem medo. Sabe muito bem o porque de estar ali, suas escolhas e imagina onde vá chegar, mesmo sem saber ao certo como e se, realmente, conseguirá realizar seus objetivos. (E é incrível como Jarmusch utiliza do visual, para exprimir isso, utilizando as cores preto e branco na casa do casal e, até mesmo, no conceito da duplicidade, jogado durante todo o filme em situações que vão ganhando um tom cômico brilhante). No meio disso, temos Doc, Romeu e Julieta, uma vida lotada de problemas e Marvin. Personagens secundários que garantem a morosidade de Paterson e não o deixam solitário em sua solitude. Assim como uma poesia não precisa de rima ou uma trama a ser contada, “Paterson" define uma semana da vida de uma pessoa comum, nos levando junto a essa viagem acalorada, e quando menos percebemos, outra semana começa e novas histórias precisam ser contadas.
Stephen Chbosky já havia demonstrado um grande esmero em tratar da infância e adolescência de seus personagens no excelente “As Vantagens de Ser Invisível”, filme que ele dirigiu, produziu e roteirizou tendo como base o seu próprio livro. Desta vez, o diretor assumi os mesmos papéis, mas com uma obra de outro escritor e com uma temática um pouco mais leve e infantilizada. O personagem principal, Auggie é uma criança como qualquer outra, cercada por tantas outras e até mesmo adultos e jovens que, vez ou outra, passam por problemas tão infantis como os dele, e nisso Chbosky acerta em cheio, mostrando que todos carecem de ajuda, e tentar comparar problemas e situações de vida nunca é válido, já que, nunca saberemos exatamente o que se passa na mente de cada pessoa e como são as ações e reações de cada um. Porém, o roteiro acaba caindo na própria armadilha, ao negligenciar algumas histórias em detrimento do “protagonismo” de seus personagens, como exemplo: os problemas sofridos pela amiga de Via, Miranda, são ofuscados pelos outros, devido a falta de empatia da personagem pelo público e ao próprio fato dela apresentar um problema tão importante quanto o dela própria: sua mãe. A necessidade de um “protagonismo” da personagem dentro de seu próprio arco negligencia todo o estofo narrativo do mesmo. Obviamente o foco principal do filme não é o plot dela, mas ao tentar alcançar diversos assuntos, o texto perde força em alguns pontos que poderiam ser evitados, entretanto, ao focar em Auggie, o saldo é positivo ao colocar o bullying de forma correta em tela e chamar a atenção de forma simples e direta para um assunto (ainda) complicado.
Ainda assim, a estrutura do roteiro, extremamente semelhante á do livro, deixa a trama mais arrastada e cheia de “novos começos” que demonstram certa preguiça em amarrar as histórias e, facilmente, utilizar a muleta da narração a cada “novo início” e de forma mais palatável, cada personagem é quase que descrito como unidimensional, estabelecendo mocinhos e vilões desde as primeiras aparições.
Em destaque, Julian, que apesar de ter uma redenção em seu arco vilanesco, termina com seus pais sendo tão cartunescos e canastrões como personagens de novelas mexicana.
Assim como a família Pullman, sem máculas, com pequenas falhas cotidianas, mas sempre justificáveis da melhor forma possível e Summer, que é introduzida de forma interessante para logo depois ser esquecida, quase que completamente, na história.
No quesito direção, Stephen toma algumas decisões interessantes para mostrar o mundo de Auggie, seus sonhos e desejos. Seja através de cameos divertidas ou efeitos sonoros (a contagem regressiva como a de um foguete, no momento em que Auggie está para entrar no pátio da escola), a mente do personagem é personificada em tela e ganha traços interessantes, somando a belíssima atuação de Jacob Tremblay (particularmente, gostaria de ver um ator verdadeiramente com a doença de Auggie, no papel, mas entendo as exigências dos estúdios) que desponta como uma das grandes promessas de Hollywood. Julia Roberts, Owen Wilson, Sonia Braga e Mandy Patinkin seguram bem o elenco adulto, e complementando o infantil, Millie Davis e o INCRÍVEL Noah Jupe, dão um show como os amigos do protagonista.
Ao chegar a seu desfecho, “Extraordinário" já arrancou diversas lágrimas de seu público e é impossível não sair da sala de cinema revendo suas relações: amigos, pais, irmãos, companheiros… tudo entra em cheque ao observar a forma como Auggie vê o mundo e o mundo observa Auggie, o verdadeiro sol que puxa os astros para perto de si e os engrandece (e é engrandecido) sem nem querer, nos fazendo mudar pontos de vista ao invés de nos cegarmos completamente.
Tem um ótimo começo, que reapresenta muito bem os personagens e garante uma alucinada sequencia de ação (quase) impecável. Mas logo após o primeiro conflito, o filme despenca para um par de situações sem o menor sentido, que promovem um inchaço visual e narrativo a trama. Algumas ideias são interessantes (a justificativa de toda a vilania da Poppy), mas outras são extremamente ofensivas e desnecessárias (toda a sequencia é Glastonbury quase me fez parar de assistir o filme), além de reviravoltas de impacto mal sucedidas e alguns personagens nada carismáticos (Whiskey). Mas pelo menos temos Elton John, que garante cenas hilárias (chorei de rir ao toque de Rocket Man) e a simpatia e química entre o trio Kingsman se manteve intacta desde o 1 filme.
Antes de Carros 2, a Pixar não havia errado e entregou para o público exímios exemplos de perfeição entre técnica de animação e histórias incríveis. Mas depois da fatídica continuação fraca e que visava apenas dinheiro ganho com bonequinhos, o estúdio derrapou mais algumas vezes (Universidade de Monstros, Valente, Procurando Dory....), mas também trouxe peças relevantes (O Bom Dinossauro e Divertida Mente), assim como "Viva - A Vida é uma festa", que para mim, é o filme mais emocionante de todo o estúdio. Falar de morte em um filme "para crianças" é muito desafiador, vide as clássicas mortes de Mufasa, mãe do Bambi etc... que chocaram e traumatizaram muita gente por aí, e a Pixar vem e faz um filme SOBRE a morte, que se passa no dia dos Mortos, conseguindo entregar um trabalho de pura competência narrativa e, mesmo quando se pensa que a história é simples, batida e fácil de prever, os roteiristas dão um tapa na cara do público e surpreendem crianças e adultos, com temas fortes, bem desenvolvidos e surpreendentes, em uma trama cheia de reviravoltas. Personagens interessantes e cativantes também acrescentam muito ao filme, assim como a trilha sonora e as músicas lindas, que dão o toque emocional final. Um filme sobre família, para família (de todas as formas) e de família. Imperdível!
O discurso sobre preconceito levantado é interessante, mas é uma bagunça de personagens e uma trama desnecessariamente confusa e sem muito nexo. Mas vale pela diversão e atuação da dupla principal.
PS: Para aqueles que acham que eu viajei no tempo, a Netflix passou o filme no painel deles da CCXP ;)
Inicialmente, "Valerian" cativa o pública de forma simples e direta. Sem diálogos e cansativas explicações, a abertura ao som de David Bowie abre um sorriso no espectador e o prepara para uma jornada épica e cheia de aventura entre seres intergaláticos, naves espaciais e muitos efeitos. 10 minutos de perfeição que, gradativamente, se perdem nas próximas 2 horas de projeção, reapresentando explicações, criando cenas desnecessárias e adiantando o climax exaustivamente. Tendo como escopo, uma saga de Hq's e um mundo vasto e cheio de mitologia, Luc Besson pesa a mão e carrega o filme com informações apaixonadas (o diretor é claramente um fã confesso da obra original), mas que pouco engrandecem o filme, apenas o enchem de gordura de roteiro e repetitivos momentos cansativos. Algo que também não colabora é o casal principal, que apesar de conseguir bons momentos sozinhos (Cara está, surpreendentemente bem e Dane entrega um trabalho decente), juntos não carregam a química necessária e falham no romance. Infelizmente, o sentimento final é falho e triste, exatamente pelo frenesi inicial que tanta empolga (na abertura, na cena do mercado no deserto, a perseguição de naves), mas que é logo esvaziado, mas que, em contrapartida, carrega um sentimento de esperança por uma possível continuação. Sem precisar de tantas explicações iniciais, Besson, talvez, trabalhe melhor sua história e a faça de forma mais coesa e redonda, já que no quesito visual, (como sempre) o diretor arrasa e entrega uma experiência absurdamente magnífica.
Falar de "Blade Runner" é correr em território perigoso. Incompreendido no lançamento, fracasso de bilheteria, alçado a peça cult e com diversos cortes. Talvez um dos filmes mais conturbados de todos os tempos, e lá vem os caras querendo fazer continuação. As chances de que tudo desse errado eram enormes, sem contar no gap de 30 anos entre um e outro e em como criar uma história que seja, tanto uma continuação como um projeto novo e atual. Felizmente chamaram Denis Villeneuve para comandar o barco e, um dos melhores diretores dos últimos anos, pode, não só, realizar uma belíssima continuação, como imprimiu seu estilo de forma sutil e arrebatadora. "Blade Runner 2049" é um ENORME exemplo de como ser honroso e moderno na mesma medida, sem inflar tramas ou elevar personagens de forma desnecessária e forçada. É um acerto e tanto, pra toda a mitologia criada por K Dick, assim como um ponto positivo para a (perfeita) filmografia de seu diretor. Atuações corretíssimas, fotografia de encher os olhos e uma trilha sonora poderosa. Tudo é calculado e perfeito, mas apenas um detalhe me deixou incomodado. Mas não um incomodo ruim e sim, um incomodo necessário. Transpondo, não somente, ambientação e visual direto do filme original, a continuação trás o ritmo lento e contemplativo na mesma medida, o que me incomoda (nos dois filmes!), mas não gostaria que fosse mudado. Certas cenas duram mais que o necessário, se estendem, são mastigadas gradativamente, mas carregam seu peso de forma magistral e me garantem o desconforto ousado de dizer: "Pense!" Sejam replicantes, humanos, humanamente replicantes ou meros seres vivendo em busca de um só objetivo, cada personagem do filme carrega sua história, sua lei e sua vida! E não importam respostas, perguntas ou dúvidas... apenas viva, sinta, seja
A frase "Happiness only real when shared" carrega tantos significados, que é impossível não terminar de assistir este filme sem ser impactado. A forma como Penn transcreve a vida de "Supertramp", é de uma beleza única e tudo compõe para que "Into the Wild" seja um dos clássicos contemporâneos!
Dentre tantos momentos tensos de "Dunkirk", um deles mostra um personagem sofrendo e, ao mesmo tempo, tendo noção que aquele sofrimento vale a pena. É basicamente isso que eu senti tendo visto 106 minutos de um grande filme de guerra, mas que nada teve a entregar. Nolan garante ao espectador, um frenesi sensorial que beira o inimaginável. Câmeras IMAX presas em aviões, efeitos sonoros de explodir caixas de som, imagens secas e viscerais de uma guerra sem muita esperança. Porém, o que sobra em espetáculo, perde-se em sentimento. Não condeno o artifício narrativo de não condecorar um protagonista/herói para sua história, afinal de contas, guerra é guerra e cada um é o herói de sua própria história, porém, ao distanciar seus personagens do público, a sensação de desimportância é evidente e, no final das contas, parece que "Dunkirk" não sabe o que quer ser para com o público. Os acontecimentos históricos tem sua relevância explícita, mas os objetivos de cada personagem ali mostrado são nulos e sem intensa gravidade. A falta de conexão para com a história fragiliza o final
que em toda sua majestade, só reforça a falta de norte conceitual e narrativo e assim, tanto eles quanto nós, não sabemos ao certo o que aquela guerra representou (no sentido narrativo do filme e não no histórico).
Tendo e vista que tinha uma grande oportunidade visual para realizar, Nolan eleva seu trabalho a um nivel de quase perfeição, aludindo seus fãs ferrenhos de que é o "novo Kubrick", porém, mesmo em uma filmografia extremamente diversificada, Kubrick conectava seus personagens com o público, em função da emoção, algo que Nolan ainda precisa aprender a fazer.
Um emaranhado de esquetes que não levam a lugar nenhum onde as situações não são engraçadas, mas sim criadas apenas para que a Dona Hermínia repita todos os seus trejeitos e bordões. Alguns deles funcionam de imediato, mas logo se tornam repetitivos e chatos. Certos plots são iniciados e logo esquecidos (como o aparelho de pressão) ou retornam momentos depois, como se nada tivesse ocorrido antes (a irmã de NY e a bissexualidade do filho), e mesmo assim, não são concluídos. Assim como o primeiro, tenta evocar (ou forçar) uma dramaticidade desnecessária, que não convence e apenas toma tempo de tela. Claramente faz sucesso com o público geral, tendo em vista o seu humor fácil e popular, mas tecnicamente, nāo tem o menor primor narrativo ou qualquer preocupaçāo lógica.
Desde seu inicio, "Logan" é tratado com imensa sensibilidade. Logo em sua luta inicial, já testemunhamos (sem qualquer explicação ou porquês) um personagem derrotado, e isso é evidenciado desde a falta de precisção em acertar um golpe, até a defeituosa garra, que cisma em não aparecer por completa, durante uma luta. Mas logo nosso herói se ergue, assume o controle, mas tudo porque atingiram seu carro, o qual é seu ganha pão e único bem material. E durante todo filme, essa dualidade de queda e levante, é evidenciada de forma magistral pelo diretor James Mangold. "Logan" trás, não somente, a ultima aventura de Hugh Jackman, no papel, como o Wolverine que todo fã sempre quis ver no cinema. É surpreendente ver o que os outros dois filmes solo do personagem, poderiam ter sido, se tivessem mais liberdade e ousadia de mostrar o lado bestial, e porque não, humano do personagem. Wolverine SEMPRE foi o astro central dos X-men nos cinemas e sua popularidade só cresceu ao decorrer dos anos, e talvez esse lado do personagem não coubesse tanto nos filmes "principais", mas termos tido que testemunhar a atrocidade que foi "X-men Origens" e o ótimo, mas defeituoso, "Imortal", foi um verdadeiro martírio. Mas graças a "Deadpool" (e seu sucesso estrondoso, mesmo sendo para maiores), podemos presenciar um Wolverine desbocado, furioso, emocionante e em seu melhor.
Toda a estética do filme conversa com a situação em que seus personagens estão. Vivendo em um futuro não tão distópico, mas ainda assim, triste, a fotografia investe em evidenciar as locações desérticas e isoladas, de muita aridez e extinto de sobrevivência, assim como todos os personagens principais, que em seus dois primeiros atos, são muito bem desenvolvidos. James Howlett, vivendo um dia após o outro, se afastando de confusões e fugindo da sombra do passado, assim como o Professor Xavier (Patrick Stewart merece prêmios por sua atuação aqui), que relembra o passado de forma nostálgica e triste, como nas cenas em que se encontra com uma família acolhedora (os diálogos sobre a escola e, logo após, quando está deitado na cama, evidenciam isso e são os grande momentos do personagem e do filme) e em todas as suas conversas com Logan, onde demonstram um desagrado pelo estilo de vida que vivem, mas se amam e só tem um ao outro. Até mesmo Calliban, aparece em uma encarnação peculiar de Stephen Merchant, que acrescenta peso, com sua atuação leve e solene, à narrativa. Por último, a menina Dafne Keen é um achado e, mesmo muda durante metade do filme, trás uma atuação espetacular como X-23 e, com sua pouca idade, realizar as cenas desse filme, foi um grande trabalho conjunto de direção e atuação.
Infelizmente, o filme peca por alguns clichês e momentos duvidosos.
Impossível não falar do vídeo da enfermeira e das coordenadas impressas nos quadrinhos dos X-men. A metalinguagem é ótima, mas essa importância que foi dada, é muito desnecessária (quando a enfermeira entrega as coordenadas para Logan, não precisavamos saber como ela as conseguiu.). E o vídeo fala por si próprio, de forma didática ao extremo e que foge, completamente da realidade. Apenas o modo mais fácil de apresentar todo o conceito do filme, direto na tela, mastigado. E o maior clichê de "Logan", fica na personificação do conceito central do personagem. Desde o início de toda a saga X-men, sabemos que Wolverine luta contra si mesmo e seu passado, mas era, REALMENTE necessário, colocar uma contra-parte sua, em formato de clone (quase que um Bizarro vs Superman), como evidência disso e ainda sendo utilizada como recurso narrativo? Apesar de sua primeira aparição ser importante e assustadoramente inesperada, sua inspiração é pífia e me remeteu ao Deadpool de "X-men Origens", já que temos um experimento de laboratório, mutante, com nome X-24... Deadpool era um experimento de laboratório, mutante, com nome de Arma XI. Horrível! Se tivessem utilizado o clone apenas na sua primeira aparição, como impulso para uma ameaça diferente (tvlz utilizando os próprios carniceiros, desperdiçados), no terceiro ato, não tivesse ficado tão ruim. Mas, apesar de ser bem mais contido e interessante, o terceiro ato peca, exatamente, por voltar ao clichê e não se utilizar das crianças mutantes de forma, realmente, empolgante. Uma pena.
Entretanto, "Logan" é a despedida perfeita de Hugh Jackman, no papel que definiu sua carreira nos cinemas. Ele e Wolverine sempre estarão juntos e, independente de quem vá assumir o papel daqui para frente (alguém o terá), o imaginário do grande público sempre irá remeter ao ator de musicais que, por sorte ou obra do destino, pode dar vida a um dos maiores super-heróis de todos os tempos. Foram 17 anos, 9 filmes e toda uma trajetória pra ficar marcada na história do cinema mundial.
Que grata surpresa em 2016. Um filme simples, singelo, mas que mexe com sentimentos tão diversos e vastos, que fica quase impossível mensurar suas qualidades. Tratando as relações entre pais e filhos de forma crua e muito bem executada no roteiro, Matt Ross apresenta uma família desconstruída na sua desfuncionalidade social, que encanta em suas sutilezas. Todo o elenco (muito bem escolhido) garante uma aproximação grata com o público, mas o real destaque fica com Viggo Mortensen, que se entrega numa papel delicado, cheio de nuances, sem nunca se perder. Apesar da irrealidade de algumas situações e conceitos (a questão do dinheiro da família, por exemplo), o filme garante outros tantos momentos de reflexão e, até mesmo, diversão, que o fazem um dos melhores filmes do ano, sem dúvida!
É sempre muito bom ver qualquer tipo de material novo de Star Wars. No cinema então, é um deleite poder sentar na poltrona da sala escura e visitar aquela galáxia tão distante. O que, até então, parecia esquecido e improvável, a Disney foi lá e fez. Repaginou a saga com uma nova trilogia e, agora, nos presenteia com uma história já contada, mas nunca antes vista. E foi lá e fez bonito, de novo!
Todo fã já imagina o final de ''Rogue One'', antes mesmo de ver o filme. Não é nenhum spoiler dizer que os rebeldes vão sim, conseguir os planos da Estrela Morte, entregar para a Princesa Leia e é aí que começa ''Uma Nova Esperança''... Mas o mais importante aqui não é o final, mas sim os meios, a missão que desencadeou toda uma guerra no universo e quem participou disso. E esses são os principais pontos positivos e negativos do filme. O roteiro trabalha a trama de forma interessante e simples, indo direto ao ponto, conduzindo o telespectador (as vezes explicando até demais) e apresentando novos planetas, civilizações e personagens. Como eu disse, a missão é o que importa, mas o problema surge quando nós não nos importamos com quem a está realizando.
A primeira trilogia de Star Wars segue um conceito muito parecido. A missão de destruir a Estrela da Morte e salvar a galáxia é o mote principal e algo importantíssimo para o entendimento e seguimento do roteiro, porém, são os seus personagens críveis e cativantes que nos fazem nos importar com tudo aquilo e entender que ''Star Wars'' é muito mais que um filme no espaço com naves em formato de hambúrguer e sabres brilhosos. ''Rogue One'' carece desse tipo de personagem, que cativa, que gera identificação no público e nos cria importância. Jyn, que é a protagonista da história, tem até um arco dramático bem delineado, mas que não tem alma e nasce e morre pobre. Chirrut Îmwe talvez seja o mais interessante, muito devido a seu ator que o encara com a seriedade e leveza necessárias, mas no geral, os personagens em si são levados pela trama, e não o contrário, se tornando apenas artifícios para o roteiro ir do ponto X para o ponto Y.
Porém, Gareth Edwards sabia muito bem o que estava fazendo quanto ao universo que tinha em mãos e nos entrega um fidelíssimo conceito visual, desde objetos de cena, cenários e figurinos clássicos, assim como trabalha muito bem as cenas de ação, com seus combates mirabolantes e utilizando efeitos práticos e visuais com maestria. Assim como, os easter eggs que permeiam TODO o filme (pisque e perderá alguns) trazem aquele afago ao fã e torna-se impossível não abrir um sorriso nas inúmeras aparições e, claro, no intenso final que, mesmo não tendo a força necessária, devido aos problemas com seus personagens, que citei antes, encerra o filme de forma coesa e trás a aparição mais visceral e amedrontadora do maior vilão de todos os tempos.
Borg vs McEnroe
3.7 47Cine-biografias carregam um peso consigo mesmas por diversos aspectos, desde a abordagem correta dos personagens, até ao conhecimento prévio do público sobre aquela história, ou pelo menos de seu final. "Borg vs McEnroe” pisa em ovos nesses dois aspectos em específico, e entrega uma trama de emoção comedida.
O roteiro de Ronnie Sandahl já desperta seu herói protagonista logo na primeira cena. Bjorn Borg é uma criança prodígio que sonha em ser tenista profissional, até o momento em que se torna 4 vezes campeão de um dos principais torneios do esporte: Wimbledon. Logo em seus primeiros momentos em tela, o personagem é mostrado como um ser humano forte (física e psicologicamente), frio e distante de todos, porém extremamente afetuoso com seu esporte ou pessoas que, verdadeiramente, compartilhem de seu sonho (sua mãe e técnico). Em momento algum o texto denota qualquer lado negativo nessas características, mas a exaltam como o auge de um atleta centrado e focado em seus objetivos. Constantemente voltando no tempo através de Flashbacks da infância/adolescência de Borg, utiliza-se aqui um paralelo com seu nemesis, McEnroe, um sujeito destoante de Borg, mas que carrega a mesma gana de vencer do protagonista, entretanto levando consigo a má fama de ser imprevisível, assim como era Borg na juventude. E aqui prevalece o principal erro do roteiro, ao exaltar Borg como herói e McEnroe como vilão, com apenas algumas cenas de - suposta - redenção do mesmo, mas que são logo encobriras pelas vivências hercúleas de Bjorn. Ao não tratar os dois personagens como verdadeiros protagonistas de uma história em comum (O número 1 no ranking e a vitória em Wimbledon), o filme já começa com a partida ganha, tal qual o público que já sabe seu final. O vencedor já está declarado, Match Point, entreguem o troféu para o campeão.
A direção e edição apenas carregam mais o filme de elementos desiguais (a quantidade de flashbacks da infância de Borg e os poucos momentos do jovem McEnroe), além da escolha da trilha sonora e paleta de cores para cada um dos atletas, o que agrega para o tom desejado em tela, mas sendo suas semelhanças e diferenças inerentes, é frustraste perceber que a direção nunca sabe exatamente quando colocá-las em cheque de forma orgânica e natural.
Todo o caminhar da trama para seu épico final é carregado de frases de efeito e diálogos, mas sem muita criação de expectativa ao decorrer das partidas antes da grande final de campeonato. Alguns planos utilizados são belos e interessantes (como o zenital em cada lado da quadra, mostrando cada jogador e seus movimentos característicos) e os atores estão incríveis, encarnando visceralmente seus personagens. Os silêncios de Gudnason e seu rosto sem expressão chegam a assustar e LaBeouf - que sempre considerei ser um bom ator - transmite as ansiedades, ingenuidades e fúrias de McEnroe com maestria. Assistam alguns vídeos de seus excessos em quadra, no Youtube… a semelhança impressiona.
Em seus momentos finais, a grande lição de moral deixada é a do fair play, o jogo limpo e justo dentro e fora da quadra, porém, infelizmente, não é o que vimos nas outras uma hora e meia de projeção, onde um narrador muito do tendencioso apenas gritava de alegria para um lado enquanto se calava e mal se expressava para o outro… ironicamente ou não, assim também eram os atletas narrados, em questão. Cabe a nós vaiar ou aplaudir de pé.
Jesus Cristo Superstar
3.8 186 Assista AgoraBaseado no espetáculo teatral de mesmo nome, “Jesus Christ Superstar” é uma alegoria bíblica que remonta os últimos dias de Jesus Cristo na terra, passando por alguns de seus feitos relatados e sua crucificação. A diferença da obra para tantas outras, é a mudança do ponto de vista, retratando Judas como principal narrador, a ambientação mesclada entre o Império Romano e os anos 70 e a total falta de diálogos, sendo substituídos por músicas disco.
A escolha de colocar Judas como personagem central é corajosa, já que o mesmo é sempre tido como o máximo vilão encarnado, lembrado apenas por trair Jesus, O Rei. Durante os 2 primeiros atos, Judas questiona Jesus, tenta entendê-lo e demonstra suas motivações para realizar o feito ao qual ficara conhecido. Ao final (creio eu que a história de Jesus não seja Spoiler), ele questiona o próprio Deus e suas ações, as quais ele chama de “terrores e maldades", trazendo o peso de sua humanidade e chamando para si, certa benevolência do público que nunca antes havia sido explorada. O roteiro ignora o fato de que Judas nunca fora predestinado a realizar tal ato, mas - como ser humano - escolheu seu próprio caminho, porém, ao mostrar tal abordagem humana, já demonstra sua ousadia histórica.
Sem muitas explicações, desde os primeiros minutos, já ficar entendido a junção das épocas retratadas, seja a Jerusalém de outrora, como o colorido dos hippies dos anos 70, que “invadem" o território árido e seco com seus cabelos esvoaçantes, roupas escandalosas e até mesmo armas e óculos de sol (como na cena que remete a passagem de Jesus pelo templo, expulsando os vendedores e cambistas e rogando aquela casa como Casa de Oração ao Pai), realizando um paralelo interessante entre a época complicada que os Estados Unidos viviam e as mudanças que Jesus realizou na sociedade no seu período ministerial.
Rapidamente, também nos acostumamos com as músicas entoadas, que caminham pelo glam rock, passando pelo Jazz e chegando a um pop burlesco muito bem representado na figura de Herodes, rei devasso e de extrema petulância para a época. Criadas por Tim Rice e Andrew Lloyd Webber, as canções contam o fim da caminhada de Jesus e trazem certas controvérsias, ao focar na suposta relação amorosa entre Maria Madalena e Jesus, buscar maior simpatia por Judas Iscariodes e questionar a santidade de Jesus, mostrando-o não como o Messias realizador de milagres e maravilhas, mas um homem comum na hora certa e momentos certos. Como cristão, renego completamente tais pensamentos, mas ainda sim, considero um feito interessante a abordagem musical realizada pela dupla.
Tendo sido gravado em Israel, as locações são belíssimas e utilizadas de tal forma que remetem a teatralidade da obra, fugindo do padrão apenas nos planos abertos e transições de efeito. Somado a isso, a realidade do elenco reduzido (vemos os mesmos atores e pouquíssimos extras), a produção dá uma impressão precária e de poucos recursos, com pequenos momentos de luxuosidade (como na cena de Herodes e do Julgamento de Cristo), mas ainda assim, são poucas as mudanças de cenários e ambientes.
Os atores entregam uma qualidade vocal impecável (principalmente Carl Anderson como Judas e Yvonne Elliman como Maria Madalena), mas carecem de expressões e dramaticidade.
“Jesus Christ Superstar” é um prato cheio para polêmicas e controvérsias, já que toca em assuntos religiosos muito bem estabelecidos por séculos, como tantas outras obras como “A última tentação de Cristo”, “A Paixão de Cristo” e até o mais recente “Ressurreição”, mas ao deixar claro, desde seu início, o objetivo de - não somente - chocar, mas entreter sem medo algum de ser brega e espalhafatoso, o filme ganha pontos e mostra um lado mais leve e simples de uma história que é definida de diversas formas em diversas religiões pelo mundo. Como cristão, carrego minha fé pela Bíblia e o que nela está escrito, tendo convicção da vida e morte de Jesus e seu peso sobre minha vida, mas não posso negar e fechar os olhos para as tantas outras formas de identificação e percepção dessa história, e por mais que não venha a concordar com elas, nada me furta a curiosidade de ouví-las e respeita-las, mesmo que seja ao som de uma ópera rock hippie.
O Reino de Deus
4.1 336De imediato, a sinopse do filme remete a filmes como “Brokeback Mountain” e “Call Me By Your Name”, não somente devido ao romance homossexual, mas ao cenário da obra (pequenas cidades do interior) e em como o romance se inicia (a chegada de um outro rapaz). E de fato, “God's Own Country” trás similaridades com os filmes citados, porém, apresenta uma visão mais "experiente" de um romance, não apresentando uma trama de despertar da sexualidade, mas sim, personagens que já se aceitam como são e entendem o que querem um pelo outro.
No início, Johnny é um personagem amargurado, limitado por seus parentes e sem grandes perspectivas de vida, como fica evidente na cena em que uma amiga universitária, que apenas quer vê-lo mais alegre e feliz, o chama para sair a noite, porém ele a desdenha, dizendo que ela não vive a “vida real” e acha que sabe tudo, apenas por cursar uma faculdade, algo que o mesmo não teve oportunidade, devido ao trabalho na fazenda ser a sua “vida real”, tendo ainda, sua limitação acentuada com a chegada de um novo funcionário apenas expondo suas fragilidades e como seu pai não confia em seu trabalho.
Sendo seu único escape de prazer, o sexo casual com rapazes aleatórios, com os quais ele não mantém qualquer vinculo emocional e nem ao menos os beija (tal qual uma prostituta com seus clientes), ao decorrer da chegada de Gheorghe, um rapaz sério e que está ali apenas para cumprir seu trabalho de uma semana, Johnny logo se interessa e acredita que pode usa-lo e descarta-lo como sempre faz, porém Gheorghe o entende (“o lugar aqui é lindo, porém solitário”, ele diz) e apresenta a ele um outro mundo (como na cena em que ele sobe as colinas e Johnny corre atrás dele, ate chegar o cume e ver a paisagem com outros olhos), que faz com que Johnny se entregue pela primeira vez ao amor, entre beijos apaixonados, simples toques no corpo ou de um dedo na mão, em um difícil momento de sua vida.
Josh O’Connor e Alec Secareanu entregam ótimas performances de seus personagens, mesmo Alec tendo pouco material em mãos, já que grande parte do desenvolvimento de seu personagem é em função das mudanças que ele realiza na vida do outro, e nunca ao contrário, o que é uma falha do roteiro, que mantém suas atenções em Johnny de forma bidimensional, mas criando apenas uma faceta clara e simples para Gheorghe. Assim como Marvin e Deidre, que progridem durante toda a trama de forma esperada e sem muitas surpresas para o público e os acontecimentos que precedem o terceiro ato do filme já deixam a entender seus desfechos, assim como outras viradas convencionais da trama.
Carregada de belíssimas imagens do interior da Inglaterra, a fotografia de Joshua James Richards é simples e leve, ao retratar o romance do casal em planos fechados e sem muitos maneirismos ou movimentações de câmera. As locações vazias e com bastante verde remetem a solitude daquela região e personagens, assim como a falta de trilha sonora, que quando surge, quase ao final da projeção, causa certo estranhamento, mas logo preenche os ouvidos com a lindíssima letra de “The Days”, feita especialmente para o filme. Ao chegar em seu desfecho, “God's Own Country” transmite a sensação de uma história repetida, mas ainda trazendo em si o peso e a beleza de um romance inesperado e intenso, que mostra que a “vida real” é, pura e simplesmente, aquela em que nós buscamos e temos a oportunidade de viver.
T2: Trainspotting
4.0 695 Assista AgoraÉ lá vamos nós falar de como Hollywood parece, gradativamente, perder seu interesse pela novidade e querer enfiar, goela a baixo, diversas continuações/remakes que, em sua maioria, são apenas caça-níqueis e oportunidades perdidas de frescor na indústria...
mas esse não é o caso de T2 Trainspotting.
Danny Boyle volta, com todo o seu elenco para uma continuação não muito desejada pelos fãs xiitas do original, mas que sim, gerou curiosidade para aqueles que gostam do filme de 96 e gostariam de revisitar aquela Escócia/Inglaterra, junto daqueles personagens tão...... peculiares!
Sendo assim, Boyle entrega 2:00 de puro frenesi colorido e meio distópico de um mundo dominado por tecnologia, celulares, telas pretas e câmeras de vigilância. O diretor não tenta esconder o fato de que este é o discurso em que pretende se agarrar e utiliza desses mesmos artifícios para caminhar na história, seja por dois personagens em uma loja assistindo, através de um tv, assaltados cometidos na mesma loja em questão, um celular tocando e revelando o local de esconderijo de um deles, ou até mesmo um encontro não desejado, através de uma cartela de viagra... como é dito no próprio filme (e no original) tudo ao nosso redor muda, mas a vida continua a mesma.
Assim como os personagens principais, que mesmo 20 anos depois, carregam os mesmos ideais e pensamentos, porém, com pesos e consequencias diferentes, tendo em vista a forma como levaram suas vidas até então e as bagagens (mulheres, filhos empregos) que carregam, e o roteiro de John Hodge é perspicaz em nos atualizar do presente deles, mas sem qualquer tipo de estranhamento do público. Parecem apenas 20 horas desde que nós os vemos, e cada cena (ou easter egg) do filme original que nos é lembrada, é um aperto quente no coração.
Tendo um trabalho visual quase impecável (Boyle repete certos momentos icônicos do primeiro filme e atualiza em tantos outros, como nas cenas onde palavras e assinaturas ganham vida em tela), a manifestação levantada pelo filme também remete ao que foi realizado em 96. Apesar de ainda ser questionada e muitas vezes se apresentar de forma datada ou super exposta no filme (o discurso de Renton no restaurante é bem ensaiado), a abordagem com a tecnologia e suas explorações no mundo é o grande mote vicioso que encaramos no século 21. A grande sacada do filme original é nos elucidar o comportamento da sociedade daquela época e o que o futuro lhes espera, porém aqui, em 2017, o comportamento permanece o mesmo (tão dependente quanto), mas sem saber o que o futuro nos espera. O "socialmente aceitável" ainda é super debatido, vivenciado e almejado ("Choose a job, choose a washing machine...), e apenas foi atualizado ("Choose a job, choose a Facecook status"), mas sem qualquer perspectiva de uma vida, que não seja uma vida virtual bem aplicada.
Choose your Future
Choose Life
Choose a Virtual Life
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraÉ muito complicado trabalhar o desconforto no cinema, pressupondo que exista uma linha tênue entre o gratuito e o intencional, gerando assim diversas e controversas emoções no público ao qual assiste a obra.
O cineasta Yorgos Lanthimos consegue chegar na medida desta linha e apresenta um suspense psicológico traumatizante (se é que pode ser tratado dessa forma), tanto para seus personagens, como para quem os assiste.
"O Sacrifício do Cervo Sagrado" apresenta uma narrativa visual interessantes desde seu início, trabalhando muito bem, não só, o roteiro e seu caminhar até o fatídico final, mas também conversando com a fotografia que remete magistralmente a Kubrick em diversos momentos, o que é perfeito, já que os movimentos de câmera e a escolha de planos abertos em locais fechados, distanciam os atores de seu público e os tornam frágeis, assim como o roteiro lhes permite. Uma rima perfeitamente criada e muito bem executada
O elenco reduzido ganha força em tela a cada momento, não se apoiando em diálogos, mas criando tensão em pequenas e sutis expressões, determinando o sentimento de cada personagem e de toda a família em conjunto, como quando, sem que o público saiba ou entenda exatamente o que está acontecendo, Steven convida Anna para ir até a sala de estar, e sem muito dizer, os dois carregam o peso de sua história e futuras decisões, apenas em troca de olhares.
O roteiro de Efthymis Filippou e Lanthimos também traz uma curiosa alegoria religiosa - e a partir desse momento, descrevei uma percepção pessoal sobre a narrativa - ao colocar Martin como uma espécie de deus, se vingando das atrocidades cometidas pela sua criação. Sendo Steven um médico egocêntrico (como na cena em que diz que cirurgiões não cometem erros), pensando apenas em si mesmo, e Anna uma mãe seletiva (fazendo-a quase ignorar sua filha em certos momentos), Brian "surge" como alguém a coloca-los em seus devidos lugares de seres humanos falhos. E em seu final, ao perceberem isso, não apenas o seguem e o veneram
(Steven o prende em sua casa, mas não consegue matá-lo, assim como Kim o venera sexualmente e Anna beija seus pés em sinal de entrega, mesmo que obrigatória)
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraComo realizar um filme sobre uma artista não muito bem vista pelo público e com uma história controversa e (ainda hoje) não muito bem explicada, deve ter sido a pergunta que rondou a mente de todos os envolvidos com este incrível filme. E a resposta não demora muito para surgir em tela, já que desde o início, percebemos não ser um filme de narrativa comum e, principalmente, não ser mais uma cinebiografia qualquer.
A melhor forma de humanizar Tonya Harding era transformando uma história duvidosa e cheia de dramas em uma comédia, e o roteiro de Steven Rogers funciona perfeitamente nesse sentido, trazendo uma tragicômica personagem, de caráter duvidoso, mas que é impossível de não se simpatizar, seja pelo histórico de abusos sofridos, como pela personalidade forte que gerou diversos tropeços na carreira. E mesmo que sejam carregadas de ironia, os momentos trágicos da vida de Tonya nunca perdem o peso necessário e transmitem a mensagem correta para o público.
Tal qual seu roteiro, brilhante também está o elenco que se doa de corpo e alma aos personagens e se mantém no nível desejado entre ódio e o amor do público, mostrando as diversas faces e versões da história.
Moana: Um Mar de Aventuras
4.1 1,5KTem como principais pontos positivos a qualidade da animação, trilha sonora e história, porém padece um pouco na narrativa e os caminhos que escolhe pra guiar a história.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista Agora"Três Anúncios..." começa de uma forma muito simples e direta. Sem exatamente explicar muito quem são os personagens, suas histórias e motivações. O roteiro vai jogando essas informações ao decorrer de toda a narrativa, construindo (e desconstruindo) cada peça do tabuleiro até chegar ao, imprevisível desfecho.
Frances McDormand, faz aqui, seu personagem mais importante desde "Fargo" (eu a amo em "Quase Famosos", mas ainda assim era um papel menor), mantendo sua Mildred da forma mais fria e calculista possível, dando espaço para pequenos momentos de explosão nas horas corretas e sem exageros sem sentido. Indicações e possíveis prêmios são óbvios, assim como para Sam Rockwell e seu policial Dixon, um sujeito racista, misógino e nem um pouco palatável, mas que tem uma escalada durante todo o filme e mantém a atenção e a certa simpatia, de um anti-herói, do público.
A direção, ótimo, Martin McDonagh garante fluidez a trama (que o próprio escreveu) ao optar por movimentos de câmera muito simples e poderosos (como a cena principal entre Dixon e Red, a tensão da cena do restaurante e do bar, no final) e uma ambientação sulista que beira ao vintage dos cenários e caracterizações de personagens. Mesclado a isso, o roteiro carregado de um humor negro desconfortante é essencial para a aproximação do público e garante momentos de tensão, tristeza e risos nos momentos mais inapropriados, mas muito bem pensados, carecendo apenas de certa descrença em momentos de total coincidências na trama, onde personagens se encontram de forma pontual e estratégica, por acaso e um flerte em tratar de temas essenciais, como racismo, pedofilia e machismo, que iniciam o filme de forma dura, mas logo vão sendo diluídos e tem conclusões leves e clichês:
como na mesma cena do bar do final, onde o casal de negros ajuda o policial branco Dixon. Essa cena me lembrou os exageros e obviedades do roteiro de "Crash - No Limite"
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraRevendo o filme hoje, só potencializou suas qualidades e me fez chorar tudo de novo! Que coisa linda
Paterson
3.9 353 Assista AgoraCreio eu que “Paterson” não seja um daqueles filmes onde se possa realizar uma crítica certeira ou direta. Não se pode dizer se é bom ou ruim, bem ou mal feito, muito menos coloca-lo em tal posição de positivo ou negativo. Jim Jarmusch realizou um filme único, onde a viagem é muito melhor do que a chegada ou a saída… tudo conta, desde a paisagem bela, até os problemas no percurso e os momentos de tédio, pois é assim que uma viagem deve ser, cheia de momentos particulares e internos.
A vida de Paterson é tão simples, quanto tediosa, para não dizer, morosa. Trabalho, casa, esposa, bar, casa, trabalho, esposa, bar, casa… uma montanha russa que nunca desce ou sobe, apenas caminha em lenta marcha para um final não esperado ou desejado. Não se sabe como a vida chegou a aquele momento ou como seguirá em frente, apenas se vive um segundo por vez, sem apegos fúteis e onde um pequeno problema elétrico se torna o ápice de um dia “turbulento”. Paterson é simplista, amigável, amável e humano. Sua esposa é o oposto, sonhadora, viva, fulgaz e sem medo. Sabe muito bem o porque de estar ali, suas escolhas e imagina onde vá chegar, mesmo sem saber ao certo como e se, realmente, conseguirá realizar seus objetivos. (E é incrível como Jarmusch utiliza do visual, para exprimir isso, utilizando as cores preto e branco na casa do casal e, até mesmo, no conceito da duplicidade, jogado durante todo o filme em situações que vão ganhando um tom cômico brilhante). No meio disso, temos Doc, Romeu e Julieta, uma vida lotada de problemas e Marvin. Personagens secundários que garantem a morosidade de Paterson e não o deixam solitário em sua solitude.
Assim como uma poesia não precisa de rima ou uma trama a ser contada, “Paterson" define uma semana da vida de uma pessoa comum, nos levando junto a essa viagem acalorada, e quando menos percebemos, outra semana começa e novas histórias precisam ser contadas.
A Qualquer Custo
3.8 803 Assista AgoraFazia tempo que eu não ficava tão tenso em um filme.
Extraordinário
4.3 2,1K Assista AgoraStephen Chbosky já havia demonstrado um grande esmero em tratar da infância e adolescência de seus personagens no excelente “As Vantagens de Ser Invisível”, filme que ele dirigiu, produziu e roteirizou tendo como base o seu próprio livro. Desta vez, o diretor assumi os mesmos papéis, mas com uma obra de outro escritor e com uma temática um pouco mais leve e infantilizada. O personagem principal, Auggie é uma criança como qualquer outra, cercada por tantas outras e até mesmo adultos e jovens que, vez ou outra, passam por problemas tão infantis como os dele, e nisso Chbosky acerta em cheio, mostrando que todos carecem de ajuda, e tentar comparar problemas e situações de vida nunca é válido, já que, nunca saberemos exatamente o que se passa na mente de cada pessoa e como são as ações e reações de cada um. Porém, o roteiro acaba caindo na própria armadilha, ao negligenciar algumas histórias em detrimento do “protagonismo” de seus personagens, como exemplo: os problemas sofridos pela amiga de Via, Miranda, são ofuscados pelos outros, devido a falta de empatia da personagem pelo público e ao próprio fato dela apresentar um problema tão importante quanto o dela própria: sua mãe. A necessidade de um “protagonismo” da personagem dentro de seu próprio arco negligencia todo o estofo narrativo do mesmo. Obviamente o foco principal do filme não é o plot dela, mas ao tentar alcançar diversos assuntos, o texto perde força em alguns pontos que poderiam ser evitados, entretanto, ao focar em Auggie, o saldo é positivo ao colocar o bullying de forma correta em tela e chamar a atenção de forma simples e direta para um assunto (ainda) complicado.
Ainda assim, a estrutura do roteiro, extremamente semelhante á do livro, deixa a trama mais arrastada e cheia de “novos começos” que demonstram certa preguiça em amarrar as histórias e, facilmente, utilizar a muleta da narração a cada “novo início” e de forma mais palatável, cada personagem é quase que descrito como unidimensional, estabelecendo mocinhos e vilões desde as primeiras aparições.
Em destaque, Julian, que apesar de ter uma redenção em seu arco vilanesco, termina com seus pais sendo tão cartunescos e canastrões como personagens de novelas mexicana.
No quesito direção, Stephen toma algumas decisões interessantes para mostrar o mundo de Auggie, seus sonhos e desejos. Seja através de cameos divertidas ou efeitos sonoros (a contagem regressiva como a de um foguete, no momento em que Auggie está para entrar no pátio da escola), a mente do personagem é personificada em tela e ganha traços interessantes, somando a belíssima atuação de Jacob Tremblay (particularmente, gostaria de ver um ator verdadeiramente com a doença de Auggie, no papel, mas entendo as exigências dos estúdios) que desponta como uma das grandes promessas de Hollywood. Julia Roberts, Owen Wilson, Sonia Braga e Mandy Patinkin seguram bem o elenco adulto, e complementando o infantil, Millie Davis e o INCRÍVEL Noah Jupe, dão um show como os amigos do protagonista.
Ao chegar a seu desfecho, “Extraordinário" já arrancou diversas lágrimas de seu público e é impossível não sair da sala de cinema revendo suas relações: amigos, pais, irmãos, companheiros… tudo entra em cheque ao observar a forma como Auggie vê o mundo e o mundo observa Auggie, o verdadeiro sol que puxa os astros para perto de si e os engrandece (e é engrandecido) sem nem querer, nos fazendo mudar pontos de vista ao invés de nos cegarmos completamente.
Kingsman: O Círculo Dourado
3.5 885 Assista AgoraTem um ótimo começo, que reapresenta muito bem os personagens e garante uma alucinada sequencia de ação (quase) impecável. Mas logo após o primeiro conflito, o filme despenca para um par de situações sem o menor sentido, que promovem um inchaço visual e narrativo a trama. Algumas ideias são interessantes (a justificativa de toda a vilania da Poppy), mas outras são extremamente ofensivas e desnecessárias (toda a sequencia é Glastonbury quase me fez parar de assistir o filme), além de reviravoltas de impacto mal sucedidas e alguns personagens nada carismáticos (Whiskey).
Mas pelo menos temos Elton John, que garante cenas hilárias (chorei de rir ao toque de Rocket Man) e a simpatia e química entre o trio Kingsman se manteve intacta desde o 1 filme.
Viva: A Vida é Uma Festa
4.5 2,5K Assista AgoraAntes de Carros 2, a Pixar não havia errado e entregou para o público exímios exemplos de perfeição entre técnica de animação e histórias incríveis. Mas depois da fatídica continuação fraca e que visava apenas dinheiro ganho com bonequinhos, o estúdio derrapou mais algumas vezes (Universidade de Monstros, Valente, Procurando Dory....), mas também trouxe peças relevantes (O Bom Dinossauro e Divertida Mente), assim como "Viva - A Vida é uma festa", que para mim, é o filme mais emocionante de todo o estúdio.
Falar de morte em um filme "para crianças" é muito desafiador, vide as clássicas mortes de Mufasa, mãe do Bambi etc... que chocaram e traumatizaram muita gente por aí, e a Pixar vem e faz um filme SOBRE a morte, que se passa no dia dos Mortos, conseguindo entregar um trabalho de pura competência narrativa e, mesmo quando se pensa que a história é simples, batida e fácil de prever, os roteiristas dão um tapa na cara do público e surpreendem crianças e adultos, com temas fortes, bem desenvolvidos e surpreendentes, em uma trama cheia de reviravoltas. Personagens interessantes e cativantes também acrescentam muito ao filme, assim como a trilha sonora e as músicas lindas, que dão o toque emocional final.
Um filme sobre família, para família (de todas as formas) e de família. Imperdível!
Bright
3.1 804 Assista AgoraO discurso sobre preconceito levantado é interessante, mas é uma bagunça de personagens e uma trama desnecessariamente confusa e sem muito nexo. Mas vale pela diversão e atuação da dupla principal.
PS: Para aqueles que acham que eu viajei no tempo, a Netflix passou o filme no painel deles da CCXP ;)
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
3.1 580 Assista AgoraInicialmente, "Valerian" cativa o pública de forma simples e direta. Sem diálogos e cansativas explicações, a abertura ao som de David Bowie abre um sorriso no espectador e o prepara para uma jornada épica e cheia de aventura entre seres intergaláticos, naves espaciais e muitos efeitos. 10 minutos de perfeição que, gradativamente, se perdem nas próximas 2 horas de projeção, reapresentando explicações, criando cenas desnecessárias e adiantando o climax exaustivamente.
Tendo como escopo, uma saga de Hq's e um mundo vasto e cheio de mitologia, Luc Besson pesa a mão e carrega o filme com informações apaixonadas (o diretor é claramente um fã confesso da obra original), mas que pouco engrandecem o filme, apenas o enchem de gordura de roteiro e repetitivos momentos cansativos.
Algo que também não colabora é o casal principal, que apesar de conseguir bons momentos sozinhos (Cara está, surpreendentemente bem e Dane entrega um trabalho decente), juntos não carregam a química necessária e falham no romance.
Infelizmente, o sentimento final é falho e triste, exatamente pelo frenesi inicial que tanta empolga (na abertura, na cena do mercado no deserto, a perseguição de naves), mas que é logo esvaziado, mas que, em contrapartida, carrega um sentimento de esperança por uma possível continuação. Sem precisar de tantas explicações iniciais, Besson, talvez, trabalhe melhor sua história e a faça de forma mais coesa e redonda, já que no quesito visual, (como sempre) o diretor arrasa e entrega uma experiência absurdamente magnífica.
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraFalar de "Blade Runner" é correr em território perigoso. Incompreendido no lançamento, fracasso de bilheteria, alçado a peça cult e com diversos cortes. Talvez um dos filmes mais conturbados de todos os tempos, e lá vem os caras querendo fazer continuação. As chances de que tudo desse errado eram enormes, sem contar no gap de 30 anos entre um e outro e em como criar uma história que seja, tanto uma continuação como um projeto novo e atual. Felizmente chamaram Denis Villeneuve para comandar o barco e, um dos melhores diretores dos últimos anos, pode, não só, realizar uma belíssima continuação, como imprimiu seu estilo de forma sutil e arrebatadora.
"Blade Runner 2049" é um ENORME exemplo de como ser honroso e moderno na mesma medida, sem inflar tramas ou elevar personagens de forma desnecessária e forçada. É um acerto e tanto, pra toda a mitologia criada por K Dick, assim como um ponto positivo para a (perfeita) filmografia de seu diretor.
Atuações corretíssimas, fotografia de encher os olhos e uma trilha sonora poderosa. Tudo é calculado e perfeito, mas apenas um detalhe me deixou incomodado. Mas não um incomodo ruim e sim, um incomodo necessário. Transpondo, não somente, ambientação e visual direto do filme original, a continuação trás o ritmo lento e contemplativo na mesma medida, o que me incomoda (nos dois filmes!), mas não gostaria que fosse mudado. Certas cenas duram mais que o necessário, se estendem, são mastigadas gradativamente, mas carregam seu peso de forma magistral e me garantem o desconforto ousado de dizer: "Pense!"
Sejam replicantes, humanos, humanamente replicantes ou meros seres vivendo em busca de um só objetivo, cada personagem do filme carrega sua história, sua lei e sua vida! E não importam respostas, perguntas ou dúvidas... apenas viva, sinta, seja
Na Natureza Selvagem
4.3 4,5K Assista AgoraA frase "Happiness only real when shared" carrega tantos significados, que é impossível não terminar de assistir este filme sem ser impactado. A forma como Penn transcreve a vida de "Supertramp", é de uma beleza única e tudo compõe para que "Into the Wild" seja um dos clássicos contemporâneos!
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraDentre tantos momentos tensos de "Dunkirk", um deles mostra um personagem sofrendo e, ao mesmo tempo, tendo noção que aquele sofrimento vale a pena. É basicamente isso que eu senti tendo visto 106 minutos de um grande filme de guerra, mas que nada teve a entregar.
Nolan garante ao espectador, um frenesi sensorial que beira o inimaginável. Câmeras IMAX presas em aviões, efeitos sonoros de explodir caixas de som, imagens secas e viscerais de uma guerra sem muita esperança. Porém, o que sobra em espetáculo, perde-se em sentimento. Não condeno o artifício narrativo de não condecorar um protagonista/herói para sua história, afinal de contas, guerra é guerra e cada um é o herói de sua própria história, porém, ao distanciar seus personagens do público, a sensação de desimportância é evidente e, no final das contas, parece que "Dunkirk" não sabe o que quer ser para com o público. Os acontecimentos históricos tem sua relevância explícita, mas os objetivos de cada personagem ali mostrado são nulos e sem intensa gravidade. A falta de conexão para com a história fragiliza o final
que em toda sua majestade, só reforça a falta de norte conceitual e narrativo e assim, tanto eles quanto nós, não sabemos ao certo o que aquela guerra representou (no sentido narrativo do filme e não no histórico).
Tendo e vista que tinha uma grande oportunidade visual para realizar, Nolan eleva seu trabalho a um nivel de quase perfeição, aludindo seus fãs ferrenhos de que é o "novo Kubrick", porém, mesmo em uma filmografia extremamente diversificada, Kubrick conectava seus personagens com o público, em função da emoção, algo que Nolan ainda precisa aprender a fazer.
Minha Mãe é Uma Peça 2
3.5 806Um emaranhado de esquetes que não levam a lugar nenhum onde as situações não são engraçadas, mas sim criadas apenas para que a Dona Hermínia repita todos os seus trejeitos e bordões. Alguns deles funcionam de imediato, mas logo se tornam repetitivos e chatos.
Certos plots são iniciados e logo esquecidos (como o aparelho de pressão) ou retornam momentos depois, como se nada tivesse ocorrido antes (a irmã de NY e a bissexualidade do filho), e mesmo assim, não são concluídos.
Assim como o primeiro, tenta evocar (ou forçar) uma dramaticidade desnecessária, que não convence e apenas toma tempo de tela.
Claramente faz sucesso com o público geral, tendo em vista o seu humor fácil e popular, mas tecnicamente, nāo tem o menor primor narrativo ou qualquer preocupaçāo lógica.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraDesde seu inicio, "Logan" é tratado com imensa sensibilidade. Logo em sua luta inicial, já testemunhamos (sem qualquer explicação ou porquês) um personagem derrotado, e isso é evidenciado desde a falta de precisção em acertar um golpe, até a defeituosa garra, que cisma em não aparecer por completa, durante uma luta. Mas logo nosso herói se ergue, assume o controle, mas tudo porque atingiram seu carro, o qual é seu ganha pão e único bem material. E durante todo filme, essa dualidade de queda e levante, é evidenciada de forma magistral pelo diretor James Mangold.
"Logan" trás, não somente, a ultima aventura de Hugh Jackman, no papel, como o Wolverine que todo fã sempre quis ver no cinema. É surpreendente ver o que os outros dois filmes solo do personagem, poderiam ter sido, se tivessem mais liberdade e ousadia de mostrar o lado bestial, e porque não, humano do personagem. Wolverine SEMPRE foi o astro central dos X-men nos cinemas e sua popularidade só cresceu ao decorrer dos anos, e talvez esse lado do personagem não coubesse tanto nos filmes "principais", mas termos tido que testemunhar a atrocidade que foi "X-men Origens" e o ótimo, mas defeituoso, "Imortal", foi um verdadeiro martírio. Mas graças a "Deadpool" (e seu sucesso estrondoso, mesmo sendo para maiores), podemos presenciar um Wolverine desbocado, furioso, emocionante e em seu melhor.
Toda a estética do filme conversa com a situação em que seus personagens estão. Vivendo em um futuro não tão distópico, mas ainda assim, triste, a fotografia investe em evidenciar as locações desérticas e isoladas, de muita aridez e extinto de sobrevivência, assim como todos os personagens principais, que em seus dois primeiros atos, são muito bem desenvolvidos. James Howlett, vivendo um dia após o outro, se afastando de confusões e fugindo da sombra do passado, assim como o Professor Xavier (Patrick Stewart merece prêmios por sua atuação aqui), que relembra o passado de forma nostálgica e triste, como nas cenas em que se encontra com uma família acolhedora (os diálogos sobre a escola e, logo após, quando está deitado na cama, evidenciam isso e são os grande momentos do personagem e do filme) e em todas as suas conversas com Logan, onde demonstram um desagrado pelo estilo de vida que vivem, mas se amam e só tem um ao outro. Até mesmo Calliban, aparece em uma encarnação peculiar de Stephen Merchant, que acrescenta peso, com sua atuação leve e solene, à narrativa.
Por último, a menina Dafne Keen é um achado e, mesmo muda durante metade do filme, trás uma atuação espetacular como X-23 e, com sua pouca idade, realizar as cenas desse filme, foi um grande trabalho conjunto de direção e atuação.
Infelizmente, o filme peca por alguns clichês e momentos duvidosos.
Impossível não falar do vídeo da enfermeira e das coordenadas impressas nos quadrinhos dos X-men. A metalinguagem é ótima, mas essa importância que foi dada, é muito desnecessária (quando a enfermeira entrega as coordenadas para Logan, não precisavamos saber como ela as conseguiu.). E o vídeo fala por si próprio, de forma didática ao extremo e que foge, completamente da realidade. Apenas o modo mais fácil de apresentar todo o conceito do filme, direto na tela, mastigado.
E o maior clichê de "Logan", fica na personificação do conceito central do personagem. Desde o início de toda a saga X-men, sabemos que Wolverine luta contra si mesmo e seu passado, mas era, REALMENTE necessário, colocar uma contra-parte sua, em formato de clone (quase que um Bizarro vs Superman), como evidência disso e ainda sendo utilizada como recurso narrativo?
Apesar de sua primeira aparição ser importante e assustadoramente inesperada, sua inspiração é pífia e me remeteu ao Deadpool de "X-men Origens", já que temos um experimento de laboratório, mutante, com nome X-24... Deadpool era um experimento de laboratório, mutante, com nome de Arma XI. Horrível!
Se tivessem utilizado o clone apenas na sua primeira aparição, como impulso para uma ameaça diferente (tvlz utilizando os próprios carniceiros, desperdiçados), no terceiro ato, não tivesse ficado tão ruim. Mas, apesar de ser bem mais contido e interessante, o terceiro ato peca, exatamente, por voltar ao clichê e não se utilizar das crianças mutantes de forma, realmente, empolgante. Uma pena.
Entretanto, "Logan" é a despedida perfeita de Hugh Jackman, no papel que definiu sua carreira nos cinemas. Ele e Wolverine sempre estarão juntos e, independente de quem vá assumir o papel daqui para frente (alguém o terá), o imaginário do grande público sempre irá remeter ao ator de musicais que, por sorte ou obra do destino, pode dar vida a um dos maiores super-heróis de todos os tempos. Foram 17 anos, 9 filmes e toda uma trajetória pra ficar marcada na história do cinema mundial.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraQue grata surpresa em 2016. Um filme simples, singelo, mas que mexe com sentimentos tão diversos e vastos, que fica quase impossível mensurar suas qualidades.
Tratando as relações entre pais e filhos de forma crua e muito bem executada no roteiro, Matt Ross apresenta uma família desconstruída na sua desfuncionalidade social, que encanta em suas sutilezas.
Todo o elenco (muito bem escolhido) garante uma aproximação grata com o público, mas o real destaque fica com Viggo Mortensen, que se entrega numa papel delicado, cheio de nuances, sem nunca se perder.
Apesar da irrealidade de algumas situações e conceitos (a questão do dinheiro da família, por exemplo), o filme garante outros tantos momentos de reflexão e, até mesmo, diversão, que o fazem um dos melhores filmes do ano, sem dúvida!
Rogue One: Uma História Star Wars
4.2 1,7K Assista AgoraÉ sempre muito bom ver qualquer tipo de material novo de Star Wars. No cinema então, é um deleite poder sentar na poltrona da sala escura e visitar aquela galáxia tão distante. O que, até então, parecia esquecido e improvável, a Disney foi lá e fez. Repaginou a saga com uma nova trilogia e, agora, nos presenteia com uma história já contada, mas nunca antes vista. E foi lá e fez bonito, de novo!
Todo fã já imagina o final de ''Rogue One'', antes mesmo de ver o filme. Não é nenhum spoiler dizer que os rebeldes vão sim, conseguir os planos da Estrela Morte, entregar para a Princesa Leia e é aí que começa ''Uma Nova Esperança''... Mas o mais importante aqui não é o final, mas sim os meios, a missão que desencadeou toda uma guerra no universo e quem participou disso.
E esses são os principais pontos positivos e negativos do filme.
O roteiro trabalha a trama de forma interessante e simples, indo direto ao ponto, conduzindo o telespectador (as vezes explicando até demais) e apresentando novos planetas, civilizações e personagens. Como eu disse, a missão é o que importa, mas o problema surge quando nós não nos importamos com quem a está realizando.
A primeira trilogia de Star Wars segue um conceito muito parecido. A missão de destruir a Estrela da Morte e salvar a galáxia é o mote principal e algo importantíssimo para o entendimento e seguimento do roteiro, porém, são os seus personagens críveis e cativantes que nos fazem nos importar com tudo aquilo e entender que ''Star Wars'' é muito mais que um filme no espaço com naves em formato de hambúrguer e sabres brilhosos. ''Rogue One'' carece desse tipo de personagem, que cativa, que gera identificação no público e nos cria importância. Jyn, que é a protagonista da história, tem até um arco dramático bem delineado, mas que não tem alma e nasce e morre pobre. Chirrut Îmwe talvez seja o mais interessante, muito devido a seu ator que o encara com a seriedade e leveza necessárias, mas no geral, os personagens em si são levados pela trama, e não o contrário, se tornando apenas artifícios para o roteiro ir do ponto X para o ponto Y.
Porém, Gareth Edwards sabia muito bem o que estava fazendo quanto ao universo que tinha em mãos e nos entrega um fidelíssimo conceito visual, desde objetos de cena, cenários e figurinos clássicos, assim como trabalha muito bem as cenas de ação, com seus combates mirabolantes e utilizando efeitos práticos e visuais com maestria. Assim como, os easter eggs que permeiam TODO o filme (pisque e perderá alguns) trazem aquele afago ao fã e torna-se impossível não abrir um sorriso nas inúmeras aparições e, claro, no intenso final que, mesmo não tendo a força necessária, devido aos problemas com seus personagens, que citei antes, encerra o filme de forma coesa e trás a aparição mais visceral e amedrontadora do maior vilão de todos os tempos.
Que a força sempre esteja conosco.
Linda de Morrer
2.5 204Esse pôster emulando o de Ninfomaníaca na cara dura Haha'