Giulio

Eu adoro o Johnny Depp - mesmo com os trejeitos sparrownianos viciados -, os alívios cômicos do filme são muito bons e o enredo sabe te trazer pra perto do personagem. Ainda assim, poderia ter sido conduzido um pouco melhor, principalmente no que diz respeito a fotografia e a direção de arte. Também acho que uns 20 minutos a mais poderia dar espaço pra desenvolver melhor alguns trechos eliminando a sensação de superficialidade que há em algumas cenas e diálogos.

O filme, ao contrário do que sugere o ritmo da trama, não é nada sútil. O que acontece nas entrelinhas tem um peso de chumbo. É preciso estar atento e deixar que a história narrada pelos detalhes, pelos planos de fundo, pela sonoplastia macabra nos conte, sob um outro prisma, um dos acontecimentos mais bestiais da história da humanidade. Outro aspecto interessante do longa, no meu ponto de vista, é que o enredo reitera a culpa de todos que estiveram envolvidos com o holocausto, dispensando, ludicamente, muitos dos argumentos utilizados pelos guardas da SS em julgamentos após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Uma narrativa bem interessante que demonstra de maneira clara os efeitos da tortura e dos mecanismos de poder utilizados contra povos originários. Filme conta com uma perspectiva historiográfica genérica, porém, proposital. Em nenhum momento tu sabe em qual lugar ou qual ponto cronológico da história do mundo a trama se passa, e isso fomenta ainda mais a sensação de insignificância geográfica e cultural desses povos para os colonizadores europeus. As atuações do filme são muito boas, gosto muito do Johnny Depp, contudo fica um gosto amargo, acredito que por ser um filme do Ciro Guerra, um dos grandes, diretor de filmes como "O abraço da serpente", eu esperava mais.