* Publicado em 23 de Junho de 2021 em meu Instagram @ulyssesrubinluersen
Ontem foi aniversário de lançamento dessa fofura aqui, Rejeitados pelo Diabo, patinho feio na carreira cinematográfica de Rob Zombie (aquele herege que destruiu a mitologia de Michael Myers, grande criação do mestre John Carpenter...). Transcrevo aqui o final do texto que publiquei em meu livro O Filme Nosso de Cada Dia: "Zombie me manipula a ponto de me fazer torcer por aquelas desprezíveis figuras. Eles são assassinos, frios, desprovidos de qualquer noção de humanidade, mas são também uma família perfeita, se amam incondicionalmente, são capazes de qualquer coisa para proteger seus semelhantes e só se permitem morrer se for lutando. Não seriam esses os mais altos valores conservadores? É um soco na cara da chatice, da hipocrisia, da dissimulação, da deturpação. O epílogo chega a me fazer lacrimejar, de tão belo e evocativo. Ao associar a clássica canção Free Bird, do Lynyrd Skynyrd, à doentia noção de liberdade dos personagens, Zombie faz um contundente questionamento em torno do real significado da tal liberdade. Os chatos que se ofendam. Um pedacinho do meu coração foi automaticamente preenchido assim que os créditos finais de Rejeitados pelo Diabo surgiram na tela." #RejeitadosPeloDiabo #TheDevilsRejects #RobZombie #FilmesdeTerror #Cinema
* Publicado em 4 de Julho de 2021, em meu Instagram @ulyssesinwonderland
Para simbolizar o Dia da Independência dos Estados Unidos da América, escolhi falar sobre três filmes cujas temáticas giram em torno da data, cada um por uma razão. Independence Day, por ser uma obra que ri de si mesma. Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão passado, por ser uma desconstrução da imagem americana de sociedade perfeita e este aqui, Nascido em 4 de Julho, por ser um dos mais devastadores retratos das ilusões da América. Ron Kovic é um jovem criado na tradição americana mais conservadora. Alistou-se para servir a seu país na Guerra do Vietnã, acreditando fervorosamente que nada poderia ser mais digno e engrandecedor que isso. Voltou paraplégico. Perdeu o amor de sua vida e a possibilidade de realizar seus sonhos, além de ser abandonado pelo país que tanto amou e no qual acreditou sem reservas durante toda a vida. Tornou-se ativista antiguerra e pelos direitos dos veteranos. Se esse filme me impactou nos anos 90, quando o conheci, ganhou um novo significado quando fui viver em Hollywood e vi senhores iguais a este da foto: em cadeiras de rodas, às vezes sem algum membro, com a bandeira americana (sempre) junto à cadeira e uma placa cuja mensagem, por mais variada, transmitia o mesmo recado: "Eu servi a este país. O que ganho é apenas uma medalha? Olhem pra nós!" Esse filme só poderia ser feito por um diretor: Oliver Stone. E ele extraiu do material toda a revolta, indignação e tristeza que a história pedia. Mas, além de toda a qualidade e importância, esfregou outra verdade na cara do mundo: Tom Cruise pode ser um ator excepcional, quando lhe derem o papel adequado. Ele não venceu o Oscar ao qual foi indicado por seu arrebatador desempenho em Nascido em 4 de Julho. Não importa, quem viu e se entregou à experiência de assistir a esse filme, jamais esqueceu de sua performance. Que estrela! Que filme! #NascidoEm4DeJulho #TomCruise #OliverStone #Cinema #Oscar #Filmes
Outro filme de que lembro na data de 4 de Julho, o Dia da Independência dos Estados Unidos da América, é esse aqui: o "bacanudo" (tô véio #midexa) Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, de Jim Gillespie. Assim como Independence Day, do qual falei hoje mais cedo, esse cultuado filme de terror dos anos 90 trata a data com ironia, bem mais do que o outro citado. Vejamos, o filme conta o drama de jovens que cometeram um crime involuntário e, um ano depois, nas vésperas do 4 de Julho, passam a receber mensagens de alguém que diz saber do que fizeram. O assassino desse filme é tão alegórico quanto o Michael Myers do Halloween original de John Carpenter. Ele representa a culpa da qual os personagens não conseguem escapar, por mais que tentem. Julie, a garota perfeita, torna-se apática e má aluna. Hellen, a popular e rainha do desfile da independência, não consegue realizar seu sonho se ser atriz e vive da falsa glória de uma coroa que deverá passar adiante justo no Dia da Independência. Barry, o valentão, tem sua masculinidade e sua suposta valentia postas à prova. Ray, o menino simples e correto, vive à sombra do pai e sem perspectivas de futuro. No 4 de Julho, apenas alguns deles têm suas vidas tiradas, mas todos têm as esperanças destruídas. Eles, que representam os estereótipos típicos do retrato da perfeita sociedade americana, a Terra dos Livres, são mortos no dia em que as ilusões que incorporam em suas superfícies são dizimadas pelas consequências de seus atos. Ironicamente, o Dia da Independência. Na próxima vez que pensares em chamar esse filme de "cópia de Pânico, de Wes Craven", tente rever esse trabalho assumidamente cafona, mas certamente inteligente (cortesia do roteirista Kevin Williamson, que de fato escreveu Pânico, mas cuja única ideia que reaproveitou aqui foi a de um assassino perseguindo jovens) e relevante, com olhos mais abertos. #FilmesDeTerror #Filmes #Cinema #EuSeioQueVocesFizeramNoVeraoPassado
*Publicado em 4 de Julho de 2021, em meu Instagram @ulyssesinwonderland
Transcrevo aqui um comentário, que postei no Facebook, sobre o sensacional Showgirls, de Paul Verhoven. Completo: muitas das obras mais importantes da História da Arte foram inicialmente rejeitadas e escarnecidas. Essa pérola do Cinema é mais uma delas.
"Do que riem, camaradas? O filme já foi defendido por Quentin Tarantino, Jacques Rivette, Jim Jarmush, Jonathan Rosembaum (num texto onde admite ter errado feio em seu primeiro julgamento), apareceu em 90% das listas recentes dos melhores dos anos 90, inclusive na Cahiers du Cinema, é um cult exibido em cinemas alternativos com pessoas que sabem todos os diálogos, foi exibido várias vezes no cemitério Hollywood Forever, sempre com ingressos esgotados, foi adaptado para peças de teatro camp de drag queens, gerou livros de análise e também sobre o impacto cultural, o documentário You Don't Nomi, que traz diversos pontos de vista, incluindo os mongos que não entenderam o filme, mas também as pessoas que identificaram o projeto estético irônico e auto-satírico da obra, que é francamente genial na maneira como mergulha na vulgaridade para expôr a podridão do showbusiness (usando a capital do jogo, Vegas, como clara analogia a Hollywood),além da deprimente situação das mulheres nesse jogo, obrigadas a se corromperem, caso queiram realizar seus sonhos. É também um dos filmes mais comentados da década em questão, ainda hoje. O impacto cultural é imenso. E o escândalo e a rejeição que essa obra sofreu dizem muito mais sobre quem a avalia que sobre a obra. Era exatamente esse o intuito de Verhoeven. Por isso, como disse no texto sobre o filme em meu livro, quem contou a melhor piada foi ele. ❤"
Há quem classifique o filme Na Natureza Selvagem (Into The Wild), de Sean Penn como "idealista", imagino. Para mim, parece bem distante disso. Penso que o filme é sobre um jovem que foi derrotado pela fragilidade de seu idealismo. Afinal, o personagem (baseado num homem que realmente existiu, retratado no igualmente belo livro de John Krakauer) abre mão do dinheiro e do conforto familiar para viver viajando, em contato com a natureza, mas refugia-se dentro de um ônibus, símbolo do mundo civilizado, quando o frio e os perigos da floresta o ameaçam. Ao longo do filme, acompanhamos seus discursos inflamados, sempre ingênuos e precipitados, além de reveladores de um inequívoco individualismo, que o próprio personagem não é capaz de notar. Ele pode ter sido, de fato, uma boa pessoa, com boas intenções, o que não significa que todos os seus atos foram benéficos para os outros ou para ele mesmo. Ao final, a mensagem fica explícita, quando o idealista deixa-se derrotar por uma plantinha venenosa, símbolo da natureza com a qual desejava reconectar-se. Mais uma vez, escondido dentro de um ônibus, mostrando que aquilo que o repugnava por representar um distanciamento entre o homem e sua natureza havia também tornado-se natural e indistinguível de sua existência. Sem perceber, recorreu ao mundo civilizado quando precisou de ajuda, uma triste ironia. A natureza, em diversos sentidos, acaba provando-se muito maior e mais poderosa do que ele jamais poderia compreender ou controlar. Sou solidário a essa figura, falha como todos os homens. Ele ousou desafiar o inatingível. Penso que sua derrota não o desmerece, apenas o torna trágico e fascinante. #IntoTheWild #NaNaturezaSelvagem #EmileHirsh #SeanPenn #Cinema
Memórias de criança deviam nunca deixar de ser apenas memórias. Tomemos como exemplo essa pérola aqui: A Princesa Xuxa e os Trapalhões, uma produção tão descarada em sua intenção de capitalizar em cima da figura de Xuxa - que estava no auge de sua popularidade - que usava o nome dela no título, apesar de sua personagem se chamar Xaron. Por minhas lembranças, tratava-se de uma aventura épica, com cenários e efeitos especiais maravilhosos. Um tempo atrás resolvi reassistir e... Socorro! Já na abertura, criada através de animação, surge um bizarro merchandising do caldo Maggi, com uma galinha brincalhona. Depois, Zacarias, Didi, Mussum e Dedé garantem o humor nonsense esperado. Pena que a história e o suposto roteiro são tão nonsense quanto. Nada faz qualquer sentido. Os cenários e figurinos são de fato criativos em seus designs, mas resultam puramente trash em sua materialização. O vilão é bizarro, com uma mania nunca explicada de surgir maquiado como uma espécie de drag queen intergaláctica. Os efeitos especiais têm momentos de inspiração, mas jamais atingem o claro objetivo de se equiparar ao que se fazia em Hollywood na época. Os ápices da bizarrice: uma cópia descarada da cena envolvendo uma lata de Coca Cola em Os Deuses Devem Estar Loucos (merchandising!!!), as "roupas" quase inexistentes de Xuxa, quando se une aos "rebeldes" e, acima de tudo, os inexplicáveis erros de continuidade no embate final contra o vilão RATAM (!!!). Meu veredito: a memória era bem melhor. #OsTrapalhões #Xuxa #Anos80
Um dos mais aclamados e premiados "filmes" nacionais de todos os tempos (em alguma realidade paralela). Com o elenco mais sensacional já reunido: Sérgio Mallandro, Andrea Veiga, Paulão (q), Paquitas, Paquitos, Irmãs Metralha, a lendária Banda Yahoo e a grande atriz e cantora Angel Mattos que, após ganhar 17 Oscars e 36 Grammys, foi misteriosamente esquecida. O "roteiro" é claramente inspirado no surrealismo dos anos 20 e 30, tamanho o desprezo pela lógica. A própria roteirista Yoya Wursch e o diretor Paulo Sérgio de Almeida admitem, nos extras do DVD, que a história foi escrita em uma semana e o texto era alterado constantemente. Nada faz sentido. O milionário produtor Diler Trindade admite a natureza picareta do próprio projeto ao contar que ouviu um garoto reclamar, após a primeira exibição de Lua de Cristal "Uma bobagem, tem que botar as Paquitas de Biquíni!" Na mesma hora ele ligou para quem tinha que ligar e iniciou a produção. E lá estão aquelas meninas de 11, 13, 14 anos, posando seminuas para agradar a meninos da mesma idade (e não só eles). Em uma cena, o lendário (kkk) Paquito Gigio invade o banheiro em que elas estão e pergunta "E aí, meninas! Vamo tomar um banhozinho junto?" Apropriado por demais. As músicas são francamente divertidas, seja pelas letras bizarras ("Se liga 16, careta é quem não mostra a cara, depende de você pra ficar Odara" OI???) ou pelas vozes ainda mais bizarras (a Paquita Ana Paula cantando a frase "Lembro a primeeeeira veeeeeeiiiiissssshhhh" é algo impossivel de descrever em palavras) ou ainda pela poesia pós-moderna, como no momento em que Zé Henrique do Yahoo canta "Nunca me programei, não sou computador e pra te amar fui aprendiz de professor" (Aaaaahhh!!!). As tentativas de criar personagens "descolados" são a definição de CRINGE, 30 anos antes de o termo se popularizar. O melhor exemplo é o instante em que Angel Mattos DO NADA interrompe um diálogo de outros para dizer, forçando toda uma marra: "Cara! Essa música é ótima! Essa festa vai ser demais! Tô nela, morou? Tô nela!"(👍). Na hora em que a coisa parece ter atingido o ápice da Bizarrice, chega o CAMINHÃO DO FAUSTÃO (!) e o resto só vendo pra crer. Um clássico trash.
Em Vidas Amargas, de Elia Kazan, Jimmy parece intimamente conectado aos anseios que caracterizaram toda uma geração. O filme, adaptado do romance A Leste do Éden, de John Steinbeck, se passa na América rural de 1917, quase entrando na Primeira Guerra Mundial, mas encaixa-se perfeitamente nos anos 50. Jimmy é Cal, que desafia a autoridade do pai, disposto a viver fiel a suas próprias verdades. É intrigante que os únicos três grandes papéis de Jimmy sejam clássicos absolutos. Claro que o são por seus próprios méritos, todos foram comandados por grandes diretores e contavam com elencos de peso. No entanto, não dá para negar que sua presença é fundamental em cada um deles. Como já comentei, é difícil separar o ator da figura pública. Conhecer um pouco sobre o mito torna ainda mais fascinante a experiência de vê-lo em cena, mas creio que o poder de suas interpretações pode fisgar mesmo aos que pouco sabem sobre ele. No momento mais icônico de Vidas Amargas, Carl tem uma dura discussão com o pai e termina praticamente implorando por afeto. Sabendo dos problemas pessoais de Jimmy com o pai na vida real e conhecendo eu método de atuação - naturalista, influenciado por Lee Strasberg -, torna-se impossível não se emocionar com a entrega. Seu sofrimento é genuíno, ele compreende o personagem, já que busca em si mesmo os mecanismos para interpretá-lo. Meu fascínio por essa figura nada tem de fanático. Penso que seus defeitos e fragilidades são fundamentais para a representatividade que possui na História e em minha vida. Jimmy não era um "rebelde sem causa", como ficou estigmatizado, era um jovem que sofria de profunda angústia existencial, mas que buscava conhecer a si mesmo e entender seu lugar no mundo. Sua causa era o direito de ser quem era, de "sonhar como fosse viver para sempre e viver como se fosse morrer hoje", e de fazer algo de relevante antes de morrer. Jimmy se foi cedo, mas seus 24 anos de existência foram suficientes para que fizesse jus a outra de suas grandes declarações: "A única verdadeira grandeza para um homem é tornar-se imortal".
Durante uma madrugada, quando era criança, tive a sorte de conhecer, pela televisão, o clássico Cantando na Chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly. Já sabia da existência do filme, graças às revistas e guias de vídeo que meus pais compravam, além de ter visto um pedaço da antológica cena em que Kelly transforma a chuva em símbolo da euforia causada por um momento romântico, na série documental Cem Anos de Cinema, da Rede Globo. Além dos famosos números musicais, que me encantam até hoje, esse é, sem dúvida, um dos grandes filmes em que Hollywood se permitiu satirizar a si mesma. A transição do Cinema mudo para o falado e a maneira como isso afetou a todos na indústria é representada de maneira espirituosa e criativa. Há ainda a presença luminosa da maravilhosa Debbie Reynolds, nada menos que a mãe de Carrie Fisher, nossa eterna Princesa Leia. A quem nunca assistiu por não gostar de musicais, um aviso: esse é um dos filmes mais consistentemente engraçados que você verá. Assistam aos clássicos. Apenas compreendendo de onde viemos, saberemos nos situar onde estamos... e nortear os caminhos que seguiremos.
Muito tempo passou até que decidisse ver E o Vento Levou novamente, após vê-lo na infância. O engraçado é que eu tinha certeza de que saberia antever todo o desenrolar. Foi chocante ver que o filme é muito diferente do que eu lembrava, causou-me imensa estranheza. A cena que julgava ser a final, quando Scarlett O'Hara declara que nunca mais passará fome, situa-se exatamente no meio do filme. Depois, nada acontece conforme o esperado. E o Vento Levou não é nem um pouco "clichê", como muitas pessoas que nunca o viram, ou que viram apegadas a prejulgamentos, gostam de classificá-lo. Tornou-se uma preciosidade à qual retorno sempre que posso. Pego-me boquiaberto diante da força das imagens. Mas não é "só visual", como o cinismo me instigaria a declarar. Raramente identifico tanta expressividade na tela. É exagerado, barroco, grandioso, mas cheio de arrebatamento e significado.
A cena da promessa de Scarlett sempre me emociona por motivos diversos, dos racionalizáveis aos inexplicáveis. Enternece-me a beleza da lógica que a montagem assume explicitamente nessa cena. Quando Scarlett jura jamais passar fome novamente, é filmada de baixo, surgindo imponente, grande. Então, a câmera começa a se afastar e ela fica pequenininha no centro do quadro, de maneira que revela a infinita desolação que a cerca. Ou seja, por mais que a cena reafirme Scarlett como uma mulher forte e decidida, deixa claro que, a partir dali, ela ainda terá que penar muito se estiver realmente empenhada em triunfar. Melhor, diz tudo isso apenas através das imagens, da associação de planos. É, ao mesmo tempo, simples e genial. É uma pintura em movimento, acompanhada da explosiva trilha sonora de Max Steiner, que até quem nunca viu o filme reconhece logo nos primeiros acordes. É cinema puro.
ps: este é apenas um trecho do texto sobre E o Vento Levou, publicado em meu livro O Filme Nosso de Cada Dia, de 2014. #EoVentoLevou #GoneWithTheWind #Cinema #Hollywood
De vez em quando, retorno a Casablanca, de Michael Curtiz. É sempre curioso, como se fosse a primeira vez. Há sempre algum detalhe que nunca havia notado. Mesmo a coleção de cenas antológicas e frases eternas parece fresca, como se o filme me avisasse que posso relacioná-lo ao tempo, contexto e estado de espírito que eu quiser, e ainda assim serei recompensado de alguma maneira. Casablanca é, para mim, a síntese do melhor que Hollywood consegue fazer. As atuações, a música, as situações, a luz, tudo é muito artificial. Só que, dentro da artificialidade dessa arte manufaturada, o filme atinge a perfeição. Eu acredito em Casablanca. Para mim, aquelas pessoas existem. Comovo-me quando os personagens entoam juntos o hino nacional francês, em contraponto à cantoria dos nazistas. Quando Rick e Ilsa se despedem, meu coração aperta. Emociona-me a decisão dele por sacrificar a paixão em nome de uma causa maior,bem como sua certeza de que essa é a melhor maneira de manter vivo tal sentimento. Fico imaginando o que aconteceu depois daquilo. Será que eles um dia vão se reencontrar? Fico torcendo para que algo os reúna novamente, ao mesmo tempo em que sei que não acontecerá. O filme me perturba, me assombra, só que de uma maneira gostosa. Já cheguei até a sonhar com os personagens. É sensacional sentir-se manipulado de maneira honesta, por mais esdrúxulo que isso pareça. A devoção que Casablanca provoca faz com que eu não me contente apenas com o que está na tela. Nesse sentido, o clássico é um tesouro mais valioso. Quanto mais pesquiso sobre a produção, mais claro fica que o filme foi uma série de coincidências e acidentes que acabaram resultando numa obra-prima. Por isso, além de tudo o que oferece enquanto obra de arte, Casablanca ainda me faz refletir sobre a imprevisibilidade, os acasos da vida. Ainda bem que uma dia alguém inventou o home video. Rick e Ilsa sempre terão Paris. E eu sempre terei Casablanca, para rever e reviver quando quiser. #Casablanca #Hollywood #Cinema
No fim da primeira década dos anos 2000, apaixonei-me por um filme que trata do choque entre duas realidades. A Partida (Okuribito), de Yojiro Takita, conta a história de Daigo, um jovem músico desempregado que vai trabalhar numa funerária, onde deve vestir e limpar os mortos, preparando-os para partirem dignamente. O trabalho é desprezado por sua esposa e por todos, tornando-o vítima de preconceitos. À medida que ele aprende a respeitar o ritual de passagem, nós aprendemos a reverenciar a singeleza daquela cultura. Um grande momento é quando a esposa o assiste exercendo sua função e passa a sentir orgulho, como acontece com o espectador. O grande golpe do filme, no entanto, é o final. Ali, a trama calmamente construída, na sensibilidade característica do cinema asiático, permite-se a uma explosão de dramaticidade, que culmina num clímax incomumente poderoso. Daigo aprende que a morte é a maior razão para que se valorize a vida, a maior prova do quanto somos sortudos por estarmos vivos. Na mais linda metáfora visual criada por Takita, ele ganha o direito de enxergar claramente o que antes só via de maneira embaçada. Nunca, em anos frequentando cinemas, me emocionei tanto durante uma sessão, tampouco lembro de ter visto tamanha comoção coletiva. O filme terminou, mas ninguém levantou. Todos permaneceram quietos, olhando para a tela, absorvendo aos poucos a obra de arte que acabavam de presenciar. ps: A Partida venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. #Okuribito #APartida #YojiroTakita #BestForeignPicture #AcademyAwards #Oscar #CinemaAsiatico #Cinema
Publicado originalmente em meu Instagram @ulyssesinwonderland
* Publicado em 1 de Junho, em meu instagram @ulyssesinwonderland
Hoje é aniversário de 30 anos de um dos melhores filmes de ação (e de qualquer gênero, como atesta sua presença na lista de Melhores Filmes de Todos os Tempos do American Film Institute, votada apenas por grandes nomes da indústria cinematográfica) já criados. Quando James Cameron lançou O Exterminador do Futuro 2 - Julgamento Final, já havia dirigido outros clássicos definitivos do gênero (o primeiro Exterminador do Futuro e a obra-prima Aliens - O Resgate), mas nesse mostrou que era um realizador tremendamente ambicioso. Ainda hoje, o filme é celebrado pelas inegáveis conquistas tecnológicas, mas será que é só isso? Há anos não o revejo, mas tenho certeza que, quando retornar a ele, sentirei novamente um arrepio passar por todo o corpo quando, ao final, a mitológica Sarah Connor declarar: "Se uma máquina, um Exterminador, pode aprender o valor da vida humana, talvez nós também possamos." Vê? Pode-se assistir aos filmes de James Cameron apenas para sentir a adrenalina causada pelos tiros e explosões, mas suas histórias, além de sempre ressignificarem mitos essenciais, contextualizando-os nos dilemas de nosso tempo, são guardiãs do mais puro humanismo. Percebem, por exemplo, que o herói John Connor, a única esperança de salvação para a humanidade, tem em seu nome as iniciais JC? Que figura ele, com esse nome e essa importância, representa simbolicamente nessa história? E Sarah, sua mãe, que carrega a responsabilidade de ser a mãe do homem mais importante de todos, quem é? Não vou responder, mas deixo a dica. Vamos hoje celebrar os 30 anos de um dos grandes espetáculos do cinema, mas peço que ao menos tentem enxergar essa obra além da superfície.
* Texto sobre a famosa cena em que Jack ensina Rose a "voar".
Todos conhecem essa cena. No entanto, essa imagem clássica de Titanic é tragicamente mal interpretada, até hoje. Vejamos: superficialmente, diríamos que ela representa a libertação de uma jovem privilegiada, que sente-se prisioneira em seu privilégio, pelas mãos de um pobre artista de espírito livre e sonhador. Ele a convence a abrir os braços como se fossem asas, para sentir-se voando como um pássaro. Lindo, né? Nem tanto. Pela força das imagens, da música, da montagem e da luminosa presença de Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, quase ninguém atentou para a maneira como essa cena termina: com a imagem vívida do Titanic, em seu esplendor de criação megalomaníaca humana - o navio inafundável - fundindo-se a seu futuro, uma carcaça que apodrece no fundo do mar e que abriga as almas de milhares de pessoas, em sua maioria pobres, que se foram quando o sonho de construir uma vida melhor na idealizada América afundou junto com o Titanic. Durante a primeira metade do filme, a câmera nos convida a conhecer o navio, por meio de portas que se abrem para nos receber. Começa de baixo, os operários, acima deles, os pobres, artistas, sonhadores, depois, a elite, fútil, alienada e, no topo, os donos do navio, que o projetaram e esperam colher os frutos de sua criação às custas do trabalho dos que estão abaixo. O navio simboliza o Ocidente - capitalismo! -, uma civilização à beira do colapso. É ela que afunda e leva consigo vidas humanas, principalmente os pobres. Jack e Rose lideram uma verdadeira rebelião, quando percebem que, mesmo na tragédia, os pobres ficam abaixo dos ricos. Jack escolhe morrer para salvar uma pessoa que goza dos privilégios que ele não tem, primeiro por amor a ela, depois por acreditar que ela levaria adiante o que aprendeu. Quando Rose morre, vemos seu último sonho, aquele em que passará a eternidade: Todas as pessoas, independente de classe ou qualquer fator que as separe ocupam juntas o salão principal do Titanic, livres, felizes e dignas. Titanic, de James Cameron, é sobre a ilusão dos sonhos capitalistas... e sobre a substituição de um ideal individualista pela utopia de uma sociedade justa. Isso sim é lindo. #Titanic
Publicado originalmente em meu Instagram @ulyssesinwonderland
Em 1996, o mitológico John Carpenter reviveu o anti-herói Snake Plissken, na continuação de seu cult Fuga de Nova York. Dessa vez, Los Angeles foi transformada numa prisão a céu aberto, isolada do resto da América, na qual são jogados todos os cidadãos indesejados. Os símbolos consagrados de L.A. são desconstruídos, principalmente os relacionados a Hollywood. SIM, na única ocasião em que JC pôde contar com uma superprodução bancada por um grande estúdio, fez uma anti-superprodução que retrata a própria Hollywood como um lugar tomado por imoralidade. Mas isso é quase nada perto das implicações que o mestre extrai da história: o Presidente dos Estados Unidos da América é uma clara caricatura de Ronald Reagan, sua polícia protetora da "ordem", usa uniformes que remetem ao nazismo, sua filha se chama Utopia, que ingênua, sequestra a si mesma para viver na prisão Hollywoodiana ao lado do revolucionário Cuervo Jones (Che Guevara!), venerado pelos prisioneiros. Em uma cena, após recusar ser salva por Plissken, uma garota morre com um tiro logo após afirmar que "a verdadeira prisão está do outro lado do muro", um momento melancólico, que destoa do tom escrachado do filme, mas esclarece que Carpenter tinha algo sério a dizer. Em outra, Plissken encontra um grupo de pessoas que se tornaram aberrações por meio de intervenções estéticas. E o elenco? Kurt Russell, David Carradine, Peter Fonda, Breckin Meyer, Bruce Campbell. Este é um filme anarquista em todos os sentidos (JC!). Entre Ronald Reagan e Che Guevara, Plissken escolhe a si mesmo. Cenas como a do surf na Grande Onda só irritaram a quem fez questão de não compreender a proposta. JC, em completo domínio da linguagem cinematográfica (e quando não?), destrói as "verdades" em torno dos dois sonhos opostos que caracterizaram o século XX, ao mesmo tempo em que desafia os critérios convencionais pelos quais se avalia filmes. FODAM-SE os "críticos", quase pode-se ouvir. Ao final, a mensagem é clara: a única revolução possível para a humanidade é destruir tudo o que "construímos"... e recomeçar do zero. Você chama isso de tosco? Eu chamo de obra-prima. John Carpenter é Deus.
Que tipo de apreciador da cultura pop não se diverte com isso aqui? #questionamentos Uma das coisas que mais gostava na saudosa Revista Set era a sessão de cartas. Entre as mensagens bacanas que recebiam, os editores faziam questão de incluir também as bizarras, raivosas e indignadas. Uma das que nunca esqueci foi de um fã de Sexta Feira 13, transtornado por ter a revista atribuído ao sensacionalmente ultrajante Jason X a nota 8,0, além de chamá-lo de "uma das melhores coisas que aconteceram no gênero nos últimos tempos." Dizia o moleque que isso era um absurdo, já que o filme não tinha suspense, zoava com a história de Jason, não tinha tempestades, nem bons personagens e atores. Um sonho: encontrar esse garoto e perguntar: "Além de tempestades, quais dessas características estão presentes nos demais filmes dessa série, tirando o primeiro, bicho?" É fácil compreender a revolta: quem reclama que um filme como esse é engraçado e escrachado se recusa a aceitar que existe nele uma proposta diferente daquela que os outros apresentaram. Tive a sorte de ver Jason X na estreia, com um público que, em sua maioria, comprou a ideia. O resultado? Aplausos, urros e gargalhadas a cada uma das sacadas geniais (SIM!) que se enfileiravam freneticamente na tela... e que zombavam de todos os defeitos e contradições da série Sexta Feira 13 (e do gênero em geral, que passava por uma crise na época). Quem sabe não foi esse o problema? Vamos avaliar as coisas, até as aparentemente inúteis, pelo que elas de fato são, e não pelo que achamos que deveriam ser. Jason X é galhofa? Claro que é. Mas é uma galhofa preciosa. Enjoy! ps: Se há uma lição ensinada por esse filme é a de que Jason é tão #badass que é preciso ser uma androide fodona e especialista em artes marciais para ser capaz de dar um pau nele. Nem Freddy Krueger conseguiu! 🤘 #JasonX #SextaFeira13 #FridayThe13hMovies #FridayThe13h #JasonVoorhees #Jason #FilmesdeTerror #Cinema #Filmes
Pérola que AMO ter em minha coleção: Sexta Feira 13 - Parte 8 - Jason Ataca em Nova York. O filme é desprezado até pelos fãs da famosa série de porcarias maravilhosas de terror. Para mim é um mistério que alguém leve esses filmes a sério, mas muitos levam e presencio isso todos os dias em grupos do Facetruque, como já presenciava em 1999, nos saudosos fóruns de fandoms. O que aflige os insatisfeitos é o fato de o filme só mostrar Jason agindo na parte suja e marginalizada de Manhattan, além de ter muitos erros de continuidade. Mais um mistério insolúvel: que tipo de espectador é capaz de não perceber logo na abertura que o filme busca ser uma sátira da imagem idealizada de Nova York e da própria série Sexta Feira 13? É evidente a subversão dos símbolos da cidade. Mais evidente ainda é a insistência em criar cenas de continuidade ilógica, para produzir humor. Há ainda várias cenas divertidíssimas de assassinatos bizarros, como aquela em que o valentão se cansa de tentar derrubar Jason e diz: "Ok, agora é sua vez", só para ter a cabeça arrancada com um soco e arremessada no lixo. E o meme antecipado em três décadas de Jason chutando o aparelho de som dos malandros de rua? Esse filme só perde para o clássico Jason X no escracho! Por favor! Assistam a essa pérola da maneira como deve ser assistida e percebam que é um dos filmes mais divertidos da série em questão ("o mais", segundo Guilherme de Martino em seu antigo Guia de Vídeo - Terror). Vida longa ao trash, bitches! Jason goes to hell... and still comes back. #SextaFeira13 #Jason #JasonVoorhees #FilmesdeTerror #Terror #Amos80
Vejo que tá todo o mundo FULO da vida, não é mesmo? Colegas, ouçam: quando bater aquela vontade de subir na cabeça do Cristo Redentor e pular, lembrem-se de que, como dizia Santa Xuxa, "Tudo o que tiver que ser será."
Reviravolta: mas pare para pensar, pela primeira vez na vida, que isso significa que existem coisas que NÃO SÃO PRA SER. Ou seja, a mensagem da música/filme Lua de Cristal é bastante ambígua.
Não estão convencidos? Assistam aos extras do DVD (devem estar disponíveis no YouTube, mas eu sou tão Cult e vintage que tenho esse clássico em casa...) e ouçam a própria Rainha dos Baixinhos falar que essa canção é o hino que define sua carreira e completar AFIRMANDO: "Se não acontecer, é por que não era pra ser, porque tudo o que tiver que ser, será."
"Acredite nos seus sonhos e os realizará!" é o que você aprendeu com Lua de Cristal, certo? Não. Você apenas obedeceu ao verdadeiro comando que esse espertíssimo produto cultural acionou: "Sonhe, sonhe, sonhe... e, enquanto isso, CONSUMA. E, se não realizar seus sonhos, CONFORME-SE. Não era pra ser. Aceita e compra 147 produtos da marca Xuxa pra compensar."
Espero não ter destruído a memória afetiva de ninguém. Mas, caso isso tenha acontecido, foi por que era pra ser.
Há anos percebo que existem alguns aparentes consensos sobre Flashdance, o primeiro grande sucesso do polêmico Adrian Lyne. 1. O de que é um filme popular, mas irrelevante. 2. O de que a mensagem do filme é sobre acreditar em seus sonhos, lutar e vencer. 3. O de que a protagonista de fato realizou seu sonho. Já sabem né? Vou mostrar que estão todos errados. Flashdance é inegavelmente influente, de um ponto de vista estético. As raízes publicitárias de Lyne são visíveis em cada fotograma, cada imagem foi minuciosamente planejada para causar o máximo de impacto, em detrimento do significado. Alguém não conhece ao menos meia dúzia de cenas desse filme, que até hoje são parodiadas ou literalmente recriadas em videoclipes, filmes e anúncios publicitários? O treinamento de Alex (Jennifer Beals) ao som de Maniac, a performance em que puxa uma corda e toma um balde de água sobre o corpo seminu, enquanto faz pose sentada numa cadeira ou a bombástica dança final, ao som do hino What A Feeling? Até quem nunca viu o filme tem essas cenas e músicas em seu subconsciente. O filme ajudou a definir a estética do videoclipe que é reproduzida até hoje e, no cinema, influenciou inúmeros filmes, incluindo Top Gun, de Tony Scott. O filme fala mais sobre fracasso que sobre sucesso. Um trauma de minha infância foi a queda de Jeannie, amiga de Alex, durante sua participação numa competição de patinação de gelo, o único momento em que seu pai se orgulhou dela (que após o fato tornou-se stripper). Richie, outro amigo, sonha em ser comediante stand up, mas ninguém ri de suas piadas. Apenas Alex tem perspectivas de triunfar. Ela NÃO realiza seu sonho, que era estudar numa conceituada escola de dança. O que faz no final é mostrar que não precisa dos métodos e valores conservadores da escola, calando a todos com uma performance alucinante, que quebra todas as regras... e indo embora sorrindo (ao som de Giorgio Moroder), sabendo que sua melhor professora é ela mesma. Ela descobriu que às vezes nossos sonhos estão errados. Flashdance é um dos filmes definitivos dos anos 80 e da cultura pop de sempre. E a trilha sonora é um clássico (mas faltou Gloria de Laura Branigan no LP) #Flashdance #Anos80
"Acredita mesmo em toda essa bobagem que acaba de dizer?" É com essa frase - e uma expressão estupefata de escárnio - que o personagem de Will Smith reage à explicação do de Jeff Goldblum sobre seu plano de desativar os escudos das naves alienígenas através de um vírus de computador. É também a frase em que Independence Day, de Roland Emmerich, explica a si mesmo. O grande valor desse filme para mim, que na época tinha 11 anos, era o fato de que ele recriava as ingênuas ficções científicas dos anos 50, que assisti com meu pai, adicionando os efeitos especiais e cenários de última geração dos 90. Guerra dos Mundos, uma das inspirações, terminava com os Aliens derrotados por um vírus. Qual seria o equivalente mais irônico a isso nos anos 90 que um vírus enviado por um Macintosh? Ponto. Vê? Esse filme é uma piada, cujo alvo é ele próprio. Em uma entrevista que vi, Emmerich exibiu um largo - e cínico - sorriso ao contar que um oficial do exército enviou uma carta reclamando que os uniformes do filme estavam todos errados. Ele já sabia. O famoso discurso do presidente interpretado por Bill Pullman, bem como sua ultrajante atitude de entrar num caça para combater ele mesmo o inimigo, também são encenados de maneira que escancara seu absurdo, sua audácia. Lembram que o verdadeiro salvador da pátria foi um bêbado falastrão e taxado de louco, interpretado por Randy Quaid? E o que dizer do final? Os destroços da nave inimiga caem dos céus como fogos de artifício, enquanto a filha do presidente diz "Feliz 4 de Julho, papai." Ufanista? Sim, mas não apenas isso. Todos os envolvidos riram ao criar esses absurdos e, se você riu, isso só prova que conseguiram o que queriam. Independence Day é, ao mesmo tempo, um dos mais perfeitos exemplos de entretenimento populista criados pelo cinema... e um dos blockbusters mais irônicos e fanfarrões também. AMO.
ps: foi esse filme que transformou Will Smith num astro global. É pouco?
ps 2: posteriormente, Emmerich se transformou num autêntico satirista, ainda que nem todos tenham percebido. Estou falando de O Dia Depois de Amanhã e... 2012. Revejam e repensem!
Em seu texto sobre Twister, de Jan de Bont (que não foi o maior sucesso de 1996 porque Roland Emmerich fez o ultrajante Independence Day), o grande Roger Ebert afirmou algo como "não há uma única metáfora neste filme." Com todo o respeito a Mr. Ebert, posso provar que ele estava tragicamente enganado. Twister inicia com um episódio traumático, onde Jo (a fantástica Helen Hunt), ainda criança, perde o pai para a força implacável de um tornado, o que a leva a desenvolver uma obsessão por estudar esses fenômenos (tornando-se cientista) a fim de desenvolver uma tecnologia capaz de prevê-los, para evitar mais tragédias. Jo é divorciada de Bill (o eterno coadjuvante mais querido do público, Bill Paxton) que também é um cientista com o mesmo objetivo e casou-se novamente com Dra. Melissa (Jami Gertz). Apesar de suas diferenças, Jo e Bill precisam se unir para caçar os tornados (sim! eles próprios se colocam em perigo!), com o intuito de lançar sensores eletrônicos em seu interior, enquanto Melissa dá chiliques a todo momento (Rubens Ewald Filho a definiu assim), acabando por abandonar, tomada pelo medo, a missão. Aos poucos, Jo e Bill se reaproximam, salvando um ao outro, enquanto enfrentam tempestades cada vez mais poderosas e destrutivas. O ponto culminante acontece quando ambos conseguem entrar, presos por cintas, no centro de um tornado do exato tamanho daquele que matou o pai de Jo. A cena mostra o maravilhamento no olhar de Helen Hunt, contemplando, em meio à fúria da natureza, a luz para onde aquele tubo de ar leva tudo o que encontra pela frente... a luz para onde seu pai foi sugado ao morrer. Ela se reconecta ao pai e finalmente o deixa partir. Twister é sobre as tempestades simbólicas (SIM!) de um casamento, de um divórcio, de um reatamento, de um luto... e de como existem pessoas que fogem covardemente dessas tempestades, enquanto outras se unem para enfrentá-las, estudá-las e aprender a evitá-las, por si e pelos outros. A conclusão não poderia ser melhor: quando essa união se consuma, é capaz de destruir traumas e mágoas. Que me perdoem Ebert e demais detratores mas, além de essencialmente metafórico, Twister, de Jan de Bont, é LINDO.
* Avaliação baseada na Director's Cut de Studio 54, de Mark Christopher.
A emblemática cena em que os icônicos @breckinmeyer e @ryanphillippe se beijam, na Director's Cut de Studio 54, de Mark Christopher.
A cena está entre os 45 minutos de material que a Miramax Films obrigou o diretor a remover, temendo que o público rejeitasse o protagonista bissexual e as cenas de sexo e uso de drogas.
Mas pera aí... É Studio 54, right? Qualquer espectador que se interessasse pelo tema esperaria ver tudo isso. O resultado? O filme se transformou numa aberração sem sentido e fracassou, em público e crítica.
A redenção, no entanto, levou apenas alguns anos para chegar: após lançar sua versão estendida, mais próxima à visão original do que seria o filme, Mark Christopher exibiu o corte completo de Studio 54 no Festival de Berlim, em 2015. Não deu outra, o filme tornou-se imediatamente cult, especialmente entre a comunidade LGBTQIA+.
O elenco é ótimo, cenários e figurinos idem, a trilha sonora é sensacional (Disco, bitches!)... mas o grande momento é justo a cena íntima entre Breckin e Ryan: tensa, dramática e brilhantemente interpretada - óbvio! - por ambos.
ps: bem que podiam lançar esse corte nos cinemas brasileiros, pra gente ver crentelho gritando "Cadê a Damares?" no cinema.
* Publicado originalmente em meu Instagram @ulyssesinwonderland, acompanhado de uma foto de Breckin Meyer e Ryan Phillippe na cena em questão.
Lá por 30 minutos de Cruella, pensei: estive certo em meus julgamentos prévios. Outro filme em que o diretor parece tão incapaz de contar uma história através das imagens, que faz com que toda e qualquer informação saia da boca de um narrador. Mas esperem. A contextualização da trama no centro da Revolução do Punk Rock, em Londres, não é mero detalhe: Cruella é apresentada como uma verdadeira rockstar, condição reforçada por sua forte ligação com a moda. Do híbrido entre moda e Rock 'n' Roll, surgem alguns dos momentos mais catárticos do cinema pop dos últimos anos, com destaque para o truque do vestido que muda de cor e para uma genial representação da ideia de "renascer das cinzas" (do lixo, no caso). No duelo entre duas grandes Emmas (Thompson não precisa provar nada...) há uma vencedora: Stone. Que estrela! Que complexidade dramática! E há também uma grande revelação, John McCrea, que interpreta Artie, um misto de David Bowie e Andy Warhol da moda (e o primeiro personagem assumidamente gay num filme Disney) com um carisma inspirador. O único momento em que este Cruella ameaça vestir a camisa de "filme da Disney" é na ideia populista da esperada punição do vilão. Mas até nisso esse filme foge do padrão: dessa vez o embate é entre duas impiedosas vilãs. Não diria que o filme "humaniza" Cruela. Ele atenta para o fato de que todo vilão um dia foi uma criança inocente... e que a sociedade e a vida despertam neles o mal. Que figurino! Que cenografia! Que trilha sonora extremamente bem selecionada (até Judy Garland toca!)! Disney, sua danada, não te perdoo por seus recentes pecados, mas dessa vez você mandou bem demais.
Rejeitados pelo Diabo
3.7 617 Assista Agora* Publicado em 23 de Junho de 2021 em meu Instagram @ulyssesrubinluersen
Ontem foi aniversário de lançamento dessa fofura aqui, Rejeitados pelo Diabo, patinho feio na carreira cinematográfica de Rob Zombie (aquele herege que destruiu a mitologia de Michael Myers, grande criação do mestre John Carpenter...). Transcrevo aqui o final do texto que publiquei em meu livro O Filme Nosso de Cada Dia:
"Zombie me manipula a ponto de me fazer torcer por aquelas desprezíveis figuras. Eles são assassinos, frios, desprovidos de qualquer noção de humanidade, mas são também uma família perfeita, se amam incondicionalmente, são capazes de qualquer coisa para proteger seus semelhantes e só se permitem morrer se for lutando. Não seriam esses os mais altos valores conservadores? É um soco na cara da chatice, da hipocrisia, da dissimulação, da deturpação. O epílogo chega a me fazer lacrimejar, de tão belo e evocativo. Ao associar a clássica canção Free Bird, do Lynyrd Skynyrd, à doentia noção de liberdade dos personagens, Zombie faz um contundente questionamento em torno do real significado da tal liberdade. Os chatos que se ofendam. Um pedacinho do meu coração foi automaticamente preenchido assim que os créditos finais de Rejeitados pelo Diabo surgiram na tela."
#RejeitadosPeloDiabo #TheDevilsRejects #RobZombie #FilmesdeTerror #Cinema
Nascido em 4 de Julho
3.7 242 Assista Agora* Publicado em 4 de Julho de 2021, em meu Instagram @ulyssesinwonderland
Para simbolizar o Dia da Independência dos Estados Unidos da América, escolhi falar sobre três filmes cujas temáticas giram em torno da data, cada um por uma razão. Independence Day, por ser uma obra que ri de si mesma. Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão passado, por ser uma desconstrução da imagem americana de sociedade perfeita e este aqui, Nascido em 4 de Julho, por ser um dos mais devastadores retratos das ilusões da América. Ron Kovic é um jovem criado na tradição americana mais conservadora. Alistou-se para servir a seu país na Guerra do Vietnã, acreditando fervorosamente que nada poderia ser mais digno e engrandecedor que isso. Voltou paraplégico. Perdeu o amor de sua vida e a possibilidade de realizar seus sonhos, além de ser abandonado pelo país que tanto amou e no qual acreditou sem reservas durante toda a vida. Tornou-se ativista antiguerra e pelos direitos dos veteranos. Se esse filme me impactou nos anos 90, quando o conheci, ganhou um novo significado quando fui viver em Hollywood e vi senhores iguais a este da foto: em cadeiras de rodas, às vezes sem algum membro, com a bandeira americana (sempre) junto à cadeira e uma placa cuja mensagem, por mais variada, transmitia o mesmo recado: "Eu servi a este país. O que ganho é apenas uma medalha? Olhem pra nós!" Esse filme só poderia ser feito por um diretor: Oliver Stone. E ele extraiu do material toda a revolta, indignação e tristeza que a história pedia. Mas, além de toda a qualidade e importância, esfregou outra verdade na cara do mundo: Tom Cruise pode ser um ator excepcional, quando lhe derem o papel adequado. Ele não venceu o Oscar ao qual foi indicado por seu arrebatador desempenho em Nascido em 4 de Julho. Não importa, quem viu e se entregou à experiência de assistir a esse filme, jamais esqueceu de sua performance. Que estrela! Que filme!
#NascidoEm4DeJulho #TomCruise #OliverStone #Cinema #Oscar #Filmes
Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado
2.9 1,1K Assista AgoraOutro filme de que lembro na data de 4 de Julho, o Dia da Independência dos Estados Unidos da América, é esse aqui: o "bacanudo" (tô véio #midexa) Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, de Jim Gillespie. Assim como Independence Day, do qual falei hoje mais cedo, esse cultuado filme de terror dos anos 90 trata a data com ironia, bem mais do que o outro citado. Vejamos, o filme conta o drama de jovens que cometeram um crime involuntário e, um ano depois, nas vésperas do 4 de Julho, passam a receber mensagens de alguém que diz saber do que fizeram. O assassino desse filme é tão alegórico quanto o Michael Myers do Halloween original de John Carpenter. Ele representa a culpa da qual os personagens não conseguem escapar, por mais que tentem. Julie, a garota perfeita, torna-se apática e má aluna. Hellen, a popular e rainha do desfile da independência, não consegue realizar seu sonho se ser atriz e vive da falsa glória de uma coroa que deverá passar adiante justo no Dia da Independência. Barry, o valentão, tem sua masculinidade e sua suposta valentia postas à prova. Ray, o menino simples e correto, vive à sombra do pai e sem perspectivas de futuro. No 4 de Julho, apenas alguns deles têm suas vidas tiradas, mas todos têm as esperanças destruídas. Eles, que representam os estereótipos típicos do retrato da perfeita sociedade americana, a Terra dos Livres, são mortos no dia em que as ilusões que incorporam em suas superfícies são dizimadas pelas consequências de seus atos. Ironicamente, o Dia da Independência. Na próxima vez que pensares em chamar esse filme de "cópia de Pânico, de Wes Craven", tente rever esse trabalho assumidamente cafona, mas certamente inteligente (cortesia do roteirista Kevin Williamson, que de fato escreveu Pânico, mas cuja única ideia que reaproveitou aqui foi a de um assassino perseguindo jovens) e relevante, com olhos mais abertos.
#FilmesDeTerror #Filmes #Cinema #EuSeioQueVocesFizeramNoVeraoPassado
*Publicado em 4 de Julho de 2021, em meu Instagram @ulyssesinwonderland
Showgirls
3.0 210 Assista AgoraTranscrevo aqui um comentário, que postei no Facebook, sobre o sensacional Showgirls, de Paul Verhoven. Completo: muitas das obras mais importantes da História da Arte foram inicialmente rejeitadas e escarnecidas. Essa pérola do Cinema é mais uma delas.
"Do que riem, camaradas? O filme já foi defendido por Quentin Tarantino, Jacques Rivette, Jim Jarmush, Jonathan Rosembaum (num texto onde admite ter errado feio em seu primeiro julgamento), apareceu em 90% das listas recentes dos melhores dos anos 90, inclusive na Cahiers du Cinema, é um cult exibido em cinemas alternativos com pessoas que sabem todos os diálogos, foi exibido várias vezes no cemitério Hollywood Forever, sempre com ingressos esgotados, foi adaptado para peças de teatro camp de drag queens, gerou livros de análise e também sobre o impacto cultural, o documentário You Don't Nomi, que traz diversos pontos de vista, incluindo os mongos que não entenderam o filme, mas também as pessoas que identificaram o projeto estético irônico e auto-satírico da obra, que é francamente genial na maneira como mergulha na vulgaridade para expôr a podridão do showbusiness (usando a capital do jogo, Vegas, como clara analogia a Hollywood),além da deprimente situação das mulheres nesse jogo, obrigadas a se corromperem, caso queiram realizar seus sonhos. É também um dos filmes mais comentados da década em questão, ainda hoje. O impacto cultural é imenso. E o escândalo e a rejeição que essa obra sofreu dizem muito mais sobre quem a avalia que sobre a obra. Era exatamente esse o intuito de Verhoeven. Por isso, como disse no texto sobre o filme em meu livro, quem contou a melhor piada foi ele. ❤"
#showgirls #paulverhoeven #paulverhoevensshowgirls #Hollywood #lasvegas #cinema #movies #filmes #showbusiness
Na Natureza Selvagem
4.3 4,5K Assista AgoraHá quem classifique o filme Na Natureza Selvagem (Into The Wild), de Sean Penn como "idealista", imagino. Para mim, parece bem distante disso. Penso que o filme é sobre um jovem que foi derrotado pela fragilidade de seu idealismo. Afinal, o personagem (baseado num homem que realmente existiu, retratado no igualmente belo livro de John Krakauer) abre mão do dinheiro e do conforto familiar para viver viajando, em contato com a natureza, mas refugia-se dentro de um ônibus, símbolo do mundo civilizado, quando o frio e os perigos da floresta o ameaçam. Ao longo do filme, acompanhamos seus discursos inflamados, sempre ingênuos e precipitados, além de reveladores de um inequívoco individualismo, que o próprio personagem não é capaz de notar. Ele pode ter sido, de fato, uma boa pessoa, com boas intenções, o que não significa que todos os seus atos foram benéficos para os outros ou para ele mesmo.
Ao final, a mensagem fica explícita, quando o idealista deixa-se derrotar por uma plantinha venenosa, símbolo da natureza com a qual desejava reconectar-se. Mais uma vez, escondido dentro de um ônibus, mostrando que aquilo que o repugnava por representar um distanciamento entre o homem e sua natureza havia também tornado-se natural e indistinguível de sua existência. Sem perceber, recorreu ao mundo civilizado quando precisou de ajuda, uma triste ironia. A natureza, em diversos sentidos, acaba provando-se muito maior e mais poderosa do que ele jamais poderia compreender ou controlar. Sou solidário a essa figura, falha como todos os homens. Ele ousou desafiar o inatingível. Penso que sua derrota não o desmerece, apenas o torna trágico e fascinante.
#IntoTheWild #NaNaturezaSelvagem #EmileHirsh #SeanPenn #Cinema
A Princesa Xuxa e os Trapalhões
2.7 204Memórias de criança deviam nunca deixar de ser apenas memórias. Tomemos como exemplo essa pérola aqui: A Princesa Xuxa e os Trapalhões, uma produção tão descarada em sua intenção de capitalizar em cima da figura de Xuxa - que estava no auge de sua popularidade - que usava o nome dela no título, apesar de sua personagem se chamar Xaron. Por minhas lembranças, tratava-se de uma aventura épica, com cenários e efeitos especiais maravilhosos. Um tempo atrás resolvi reassistir e... Socorro! Já na abertura, criada através de animação, surge um bizarro merchandising do caldo Maggi, com uma galinha brincalhona. Depois, Zacarias, Didi, Mussum e Dedé garantem o humor nonsense esperado. Pena que a história e o suposto roteiro são tão nonsense quanto. Nada faz qualquer sentido. Os cenários e figurinos são de fato criativos em seus designs, mas resultam puramente trash em sua materialização. O vilão é bizarro, com uma mania nunca explicada de surgir maquiado como uma espécie de drag queen intergaláctica. Os efeitos especiais têm momentos de inspiração, mas jamais atingem o claro objetivo de se equiparar ao que se fazia em Hollywood na época. Os ápices da bizarrice: uma cópia descarada da cena envolvendo uma lata de Coca Cola em Os Deuses Devem Estar Loucos (merchandising!!!), as "roupas" quase inexistentes de Xuxa, quando se une aos "rebeldes" e, acima de tudo, os inexplicáveis erros de continuidade no embate final contra o vilão RATAM (!!!). Meu veredito: a memória era bem melhor.
#OsTrapalhões #Xuxa #Anos80
Sonho de Verão
2.6 109Um dos mais aclamados e premiados "filmes" nacionais de todos os tempos (em alguma realidade paralela). Com o elenco mais sensacional já reunido: Sérgio Mallandro, Andrea Veiga, Paulão (q), Paquitas, Paquitos, Irmãs Metralha, a lendária Banda Yahoo e a grande atriz e cantora Angel Mattos que, após ganhar 17 Oscars e 36 Grammys, foi misteriosamente esquecida. O "roteiro" é claramente inspirado no surrealismo dos anos 20 e 30, tamanho o desprezo pela lógica. A própria roteirista Yoya Wursch e o diretor Paulo Sérgio de Almeida admitem, nos extras do DVD, que a história foi escrita em uma semana e o texto era alterado constantemente. Nada faz sentido. O milionário produtor Diler Trindade admite a natureza picareta do próprio projeto ao contar que ouviu um garoto reclamar, após a primeira exibição de Lua de Cristal "Uma bobagem, tem que botar as Paquitas de Biquíni!" Na mesma hora ele ligou para quem tinha que ligar e iniciou a produção. E lá estão aquelas meninas de 11, 13, 14 anos, posando seminuas para agradar a meninos da mesma idade (e não só eles). Em uma cena, o lendário (kkk) Paquito Gigio invade o banheiro em que elas estão e pergunta "E aí, meninas! Vamo tomar um banhozinho junto?" Apropriado por demais. As músicas são francamente divertidas, seja pelas letras bizarras ("Se liga 16, careta é quem não mostra a cara, depende de você pra ficar Odara" OI???) ou pelas vozes ainda mais bizarras (a Paquita Ana Paula cantando a frase "Lembro a primeeeeira veeeeeeiiiiissssshhhh" é algo impossivel de descrever em palavras) ou ainda pela poesia pós-moderna, como no momento em que Zé Henrique do Yahoo canta "Nunca me programei, não sou computador e pra te amar fui aprendiz de professor" (Aaaaahhh!!!). As tentativas de criar personagens "descolados" são a definição de CRINGE, 30 anos antes de o termo se popularizar. O melhor exemplo é o instante em que Angel Mattos DO NADA interrompe um diálogo de outros para dizer, forçando toda uma marra: "Cara! Essa música é ótima! Essa festa vai ser demais! Tô nela, morou? Tô nela!"(👍). Na hora em que a coisa parece ter atingido o ápice da Bizarrice, chega o CAMINHÃO DO FAUSTÃO (!) e o resto só vendo pra crer. Um clássico trash.
Vidas Amargas
4.2 177 Assista AgoraEm Vidas Amargas, de Elia Kazan, Jimmy parece intimamente conectado aos anseios que caracterizaram toda uma geração. O filme, adaptado do romance A Leste do Éden, de John Steinbeck, se passa na América rural de 1917, quase entrando na Primeira Guerra Mundial, mas encaixa-se perfeitamente nos anos 50. Jimmy é Cal, que desafia a autoridade do pai, disposto a viver fiel a suas próprias verdades. É intrigante que os únicos três grandes papéis de Jimmy sejam clássicos absolutos. Claro que o são por seus próprios méritos, todos foram comandados por grandes diretores e contavam com elencos de peso. No entanto, não dá para negar que sua presença é fundamental em cada um deles. Como já comentei, é difícil separar o ator da figura pública. Conhecer um pouco sobre o mito torna ainda mais fascinante a experiência de vê-lo em cena, mas creio que o poder de suas interpretações pode fisgar mesmo aos que pouco sabem sobre ele. No momento mais icônico de Vidas Amargas, Carl tem uma dura discussão com o pai e termina praticamente implorando por afeto. Sabendo dos problemas pessoais de Jimmy com o pai na vida real e conhecendo eu método de atuação - naturalista, influenciado por Lee Strasberg -, torna-se impossível não se emocionar com a entrega. Seu sofrimento é genuíno, ele compreende o personagem, já que busca em si mesmo os mecanismos para interpretá-lo. Meu fascínio por essa figura nada tem de fanático. Penso que seus defeitos e fragilidades são fundamentais para a representatividade que possui na História e em minha vida. Jimmy não era um "rebelde sem causa", como ficou estigmatizado, era um jovem que sofria de profunda angústia existencial, mas que buscava conhecer a si mesmo e entender seu lugar no mundo. Sua causa era o direito de ser quem era, de "sonhar como fosse viver para sempre e viver como se fosse morrer hoje", e de fazer algo de relevante antes de morrer. Jimmy se foi cedo, mas seus 24 anos de existência foram suficientes para que fizesse jus a outra de suas grandes declarações: "A única verdadeira grandeza para um homem é tornar-se imortal".
E quem é que vai dizer que James Dean morreu?
#JamesDean
Cantando na Chuva
4.4 1,1K Assista AgoraDurante uma madrugada, quando era criança, tive a sorte de conhecer, pela televisão, o clássico Cantando na Chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly. Já sabia da existência do filme, graças às revistas e guias de vídeo que meus pais compravam, além de ter visto um pedaço da antológica cena em que Kelly transforma a chuva em símbolo da euforia causada por um momento romântico, na série documental Cem Anos de Cinema, da Rede Globo.
Além dos famosos números musicais, que me encantam até hoje, esse é, sem dúvida, um dos grandes filmes em que Hollywood se permitiu satirizar a si mesma. A transição do Cinema mudo para o falado e a maneira como isso afetou a todos na indústria é representada de maneira espirituosa e criativa. Há ainda a presença luminosa da maravilhosa Debbie Reynolds, nada menos que a mãe de Carrie Fisher, nossa eterna Princesa Leia.
A quem nunca assistiu por não gostar de musicais, um aviso: esse é um dos filmes mais consistentemente engraçados que você verá.
Assistam aos clássicos. Apenas compreendendo de onde viemos, saberemos nos situar onde estamos... e nortear os caminhos que seguiremos.
...E o Vento Levou
4.3 1,4K Assista AgoraMuito tempo passou até que decidisse ver E o Vento Levou novamente, após vê-lo na infância. O engraçado é que eu tinha certeza de que saberia antever todo o desenrolar. Foi chocante ver que o filme é muito diferente do que eu lembrava, causou-me imensa estranheza. A cena que julgava ser a final, quando Scarlett O'Hara declara que nunca mais passará fome, situa-se exatamente no meio do filme. Depois, nada acontece conforme o esperado. E o Vento Levou não é nem um pouco "clichê", como muitas pessoas que nunca o viram, ou que viram apegadas a prejulgamentos, gostam de classificá-lo. Tornou-se uma preciosidade à qual retorno sempre que posso. Pego-me boquiaberto diante da força das imagens. Mas não é "só visual", como o cinismo me instigaria a declarar. Raramente identifico tanta expressividade na tela. É exagerado, barroco, grandioso, mas cheio de arrebatamento e significado.
A cena da promessa de Scarlett sempre me emociona por motivos diversos, dos racionalizáveis aos inexplicáveis. Enternece-me a beleza da lógica que a montagem assume explicitamente nessa cena. Quando Scarlett jura jamais passar fome novamente, é filmada de baixo, surgindo imponente, grande. Então, a câmera começa a se afastar e ela fica pequenininha no centro do quadro, de maneira que revela a infinita desolação que a cerca. Ou seja, por mais que a cena reafirme Scarlett como uma mulher forte e decidida, deixa claro que, a partir dali, ela ainda terá que penar muito se estiver realmente empenhada em triunfar. Melhor, diz tudo isso apenas através das imagens, da associação de planos. É, ao mesmo tempo, simples e genial. É uma pintura em movimento, acompanhada da explosiva trilha sonora de Max Steiner, que até quem nunca viu o filme reconhece logo nos primeiros acordes. É cinema puro.
ps: este é apenas um trecho do texto sobre E o Vento Levou, publicado em meu livro O Filme Nosso de Cada Dia, de 2014.
#EoVentoLevou #GoneWithTheWind #Cinema #Hollywood
Casablanca
4.3 1,0K Assista AgoraDe vez em quando, retorno a Casablanca, de Michael Curtiz. É sempre curioso, como se fosse a primeira vez. Há sempre algum detalhe que nunca havia notado. Mesmo a coleção de cenas antológicas e frases eternas parece fresca, como se o filme me avisasse que posso relacioná-lo ao tempo, contexto e estado de espírito que eu quiser, e ainda assim serei recompensado de alguma maneira. Casablanca é, para mim, a síntese do melhor que Hollywood consegue fazer. As atuações, a música, as situações, a luz, tudo é muito artificial. Só que, dentro da artificialidade dessa arte manufaturada, o filme atinge a perfeição.
Eu acredito em Casablanca. Para mim, aquelas pessoas existem. Comovo-me quando os personagens entoam juntos o hino nacional francês, em contraponto à cantoria dos nazistas. Quando Rick e Ilsa se despedem, meu coração aperta. Emociona-me a decisão dele por sacrificar a paixão em nome de uma causa maior,bem como sua certeza de que essa é a melhor maneira de manter vivo tal sentimento. Fico imaginando o que aconteceu depois daquilo. Será que eles um dia vão se reencontrar? Fico torcendo para que algo os reúna novamente, ao mesmo tempo em que sei que não acontecerá. O filme me perturba, me assombra, só que de uma maneira gostosa. Já cheguei até a sonhar com os personagens. É sensacional sentir-se manipulado de maneira honesta, por mais esdrúxulo que isso pareça.
A devoção que Casablanca provoca faz com que eu não me contente apenas com o que está na tela. Nesse sentido, o clássico é um tesouro mais valioso. Quanto mais pesquiso sobre a produção, mais claro fica que o filme foi uma série de coincidências e acidentes que acabaram resultando numa obra-prima. Por isso, além de tudo o que oferece enquanto obra de arte, Casablanca ainda me faz refletir sobre a imprevisibilidade, os acasos da vida. Ainda bem que uma dia alguém inventou o home video. Rick e Ilsa sempre terão Paris. E eu sempre terei Casablanca, para rever e reviver quando quiser.
#Casablanca #Hollywood #Cinema
A Partida
4.3 523 Assista AgoraNo fim da primeira década dos anos 2000, apaixonei-me por um filme que trata do choque entre duas realidades. A Partida (Okuribito), de Yojiro Takita, conta a história de Daigo, um jovem músico desempregado que vai trabalhar numa funerária, onde deve vestir e limpar os mortos, preparando-os para partirem dignamente. O trabalho é desprezado por sua esposa e por todos, tornando-o vítima de preconceitos. À medida que ele aprende a respeitar o ritual de passagem, nós aprendemos a reverenciar a singeleza daquela cultura. Um grande momento é quando a esposa o assiste exercendo sua função e passa a sentir orgulho, como acontece com o espectador. O grande golpe do filme, no entanto, é o final. Ali, a trama calmamente construída, na sensibilidade característica do cinema asiático,
permite-se a uma explosão de dramaticidade, que culmina num clímax incomumente poderoso. Daigo aprende que a morte é a maior razão para que se valorize a vida, a maior prova do quanto somos sortudos por estarmos vivos. Na mais linda metáfora visual criada por Takita, ele ganha o direito de enxergar claramente o que antes só via de maneira embaçada. Nunca, em anos frequentando cinemas, me emocionei tanto durante uma sessão, tampouco lembro de ter visto tamanha comoção coletiva. O filme terminou, mas ninguém levantou. Todos permaneceram quietos, olhando para a tela, absorvendo aos poucos a obra de arte que acabavam de presenciar.
ps: A Partida venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
#Okuribito #APartida #YojiroTakita #BestForeignPicture #AcademyAwards #Oscar #CinemaAsiatico #Cinema
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O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final
4.1 1,1K Assista Agora* Publicado em 1 de Junho, em meu instagram @ulyssesinwonderland
Hoje é aniversário de 30 anos de um dos melhores filmes de ação (e de qualquer gênero, como atesta sua presença na lista de Melhores Filmes de Todos os Tempos do American Film Institute, votada apenas por grandes nomes da indústria cinematográfica) já criados. Quando James Cameron lançou O Exterminador do Futuro 2 - Julgamento Final, já havia dirigido outros clássicos definitivos do gênero (o primeiro Exterminador do Futuro e a obra-prima Aliens - O Resgate), mas nesse mostrou que era um realizador tremendamente ambicioso. Ainda hoje, o filme é celebrado pelas inegáveis conquistas tecnológicas, mas será que é só isso? Há anos não o revejo, mas tenho certeza que, quando retornar a ele, sentirei novamente um arrepio passar por todo o corpo quando, ao final, a mitológica Sarah Connor declarar: "Se uma máquina, um Exterminador, pode aprender o valor da vida humana, talvez nós também possamos." Vê? Pode-se assistir aos filmes de James Cameron apenas para sentir a adrenalina causada pelos tiros e explosões, mas suas histórias, além de sempre ressignificarem mitos essenciais, contextualizando-os nos dilemas de nosso tempo, são guardiãs do mais puro humanismo. Percebem, por exemplo, que o herói John Connor, a única esperança de salvação para a humanidade, tem em seu nome as iniciais JC? Que figura ele, com esse nome e essa importância, representa simbolicamente nessa história? E Sarah, sua mãe, que carrega a responsabilidade de ser a mãe do homem mais importante de todos, quem é? Não vou responder, mas deixo a dica. Vamos hoje celebrar os 30 anos de um dos grandes espetáculos do cinema, mas peço que ao menos tentem enxergar essa obra além da superfície.
#Terminator2 #Terminator #JamesCameron #ExterminadordoFuturo2
Titanic
4.0 4,6K Assista Agora* Texto sobre a famosa cena em que Jack ensina Rose a "voar".
Todos conhecem essa cena. No entanto, essa imagem clássica de Titanic é tragicamente mal interpretada, até hoje. Vejamos: superficialmente, diríamos que ela representa a libertação de uma jovem privilegiada, que sente-se prisioneira em seu privilégio, pelas mãos de um pobre artista de espírito livre e sonhador. Ele a convence a abrir os braços como se fossem asas, para sentir-se voando como um pássaro. Lindo, né? Nem tanto. Pela força das imagens, da música, da montagem e da luminosa presença de Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, quase ninguém atentou para a maneira como essa cena termina: com a imagem vívida do Titanic, em seu esplendor de criação megalomaníaca humana - o navio inafundável - fundindo-se a seu futuro, uma carcaça que apodrece no fundo do mar e que abriga as almas de milhares de pessoas, em sua maioria pobres, que se foram quando o sonho de construir uma vida melhor na idealizada América afundou junto com o Titanic. Durante a primeira metade do filme, a câmera nos convida a conhecer o navio, por meio de portas que se abrem para nos receber. Começa de baixo, os operários, acima deles, os pobres, artistas, sonhadores, depois, a elite, fútil, alienada e, no topo, os donos do navio, que o projetaram e esperam colher os frutos de sua criação às custas do trabalho dos que estão abaixo. O navio simboliza o Ocidente - capitalismo! -, uma civilização à beira do colapso. É ela que afunda e leva consigo vidas humanas, principalmente os pobres. Jack e Rose lideram uma verdadeira rebelião, quando percebem que, mesmo na tragédia, os pobres ficam abaixo dos ricos. Jack escolhe morrer para salvar uma pessoa que goza dos privilégios que ele não tem, primeiro por amor a ela, depois por acreditar que ela levaria adiante o que aprendeu. Quando Rose morre, vemos seu último sonho, aquele em que passará a eternidade: Todas as pessoas, independente de classe ou qualquer fator que as separe ocupam juntas o salão principal do Titanic, livres, felizes e dignas. Titanic, de James Cameron, é sobre a ilusão dos sonhos capitalistas... e sobre a substituição de um ideal individualista pela utopia de uma sociedade justa. Isso sim é lindo. #Titanic
Publicado originalmente em meu Instagram @ulyssesinwonderland
Fuga de Los Angeles
3.0 180 Assista AgoraEm 1996, o mitológico John Carpenter reviveu o anti-herói Snake Plissken, na continuação de seu cult Fuga de Nova York. Dessa vez, Los Angeles foi transformada numa prisão a céu aberto, isolada do resto da América, na qual são jogados todos os cidadãos indesejados. Os símbolos consagrados de L.A. são desconstruídos, principalmente os relacionados a Hollywood. SIM, na única ocasião em que JC pôde contar com uma superprodução bancada por um grande estúdio, fez uma anti-superprodução que retrata a própria Hollywood como um lugar tomado por imoralidade. Mas isso é quase nada perto das implicações que o mestre extrai da história: o Presidente dos Estados Unidos da América é uma clara caricatura de Ronald Reagan, sua polícia protetora da "ordem", usa uniformes que remetem ao nazismo, sua filha se chama Utopia, que ingênua, sequestra a si mesma para viver na prisão Hollywoodiana ao lado do revolucionário Cuervo Jones (Che Guevara!), venerado pelos prisioneiros. Em uma cena, após recusar ser salva por Plissken, uma garota morre com um tiro logo após afirmar que "a verdadeira prisão está do outro lado do muro", um momento melancólico, que destoa do tom escrachado do filme, mas esclarece que Carpenter tinha algo sério a dizer. Em outra, Plissken encontra um grupo de pessoas que se tornaram aberrações por meio de intervenções estéticas. E o elenco? Kurt Russell, David Carradine, Peter Fonda, Breckin Meyer, Bruce Campbell. Este é um filme anarquista em todos os sentidos (JC!). Entre Ronald Reagan e Che Guevara, Plissken escolhe a si mesmo. Cenas como a do surf na Grande Onda só irritaram a quem fez questão de não compreender a proposta. JC, em completo domínio da linguagem cinematográfica (e quando não?), destrói as "verdades" em torno dos dois sonhos opostos que caracterizaram o século XX, ao mesmo tempo em que desafia os critérios convencionais pelos quais se avalia filmes. FODAM-SE os "críticos", quase pode-se ouvir. Ao final, a mensagem é clara: a única revolução possível para a humanidade é destruir tudo o que "construímos"... e recomeçar do zero. Você chama isso de tosco? Eu chamo de obra-prima. John Carpenter é Deus.
Jason X
1.8 626Que tipo de apreciador da cultura pop não se diverte com isso aqui? #questionamentos
Uma das coisas que mais gostava na saudosa Revista Set era a sessão de cartas. Entre as mensagens bacanas que recebiam, os editores faziam questão de incluir também as bizarras, raivosas e indignadas. Uma das que nunca esqueci foi de um fã de Sexta Feira 13, transtornado por ter a revista atribuído ao sensacionalmente ultrajante Jason X a nota 8,0, além de chamá-lo de "uma das melhores coisas que aconteceram no gênero nos últimos tempos." Dizia o moleque que isso era um absurdo, já que o filme não tinha suspense, zoava com a história de Jason, não tinha tempestades, nem bons personagens e atores. Um sonho: encontrar esse garoto e perguntar: "Além de tempestades, quais dessas características estão presentes nos demais filmes dessa série, tirando o primeiro, bicho?" É fácil compreender a revolta: quem reclama que um filme como esse é engraçado e escrachado se recusa a aceitar que existe nele uma proposta diferente daquela que os outros apresentaram. Tive a sorte de ver Jason X na estreia, com um público que, em sua maioria, comprou a ideia. O resultado? Aplausos, urros e gargalhadas a cada uma das sacadas geniais (SIM!) que se enfileiravam freneticamente na tela... e que zombavam de todos os defeitos e contradições da série Sexta Feira 13 (e do gênero em geral, que passava por uma crise na época). Quem sabe não foi esse o problema? Vamos avaliar as coisas, até as aparentemente inúteis, pelo que elas de fato são, e não pelo que achamos que deveriam ser. Jason X é galhofa? Claro que é. Mas é uma galhofa preciosa. Enjoy!
ps: Se há uma lição ensinada por esse filme é a de que Jason é tão #badass que é preciso ser uma androide fodona e especialista em artes marciais para ser capaz de dar um pau nele. Nem Freddy Krueger conseguiu! 🤘
#JasonX #SextaFeira13 #FridayThe13hMovies #FridayThe13h #JasonVoorhees #Jason #FilmesdeTerror #Cinema #Filmes
Sexta-Feira 13, Parte 8: Jason Ataca Nova York
2.6 354 Assista AgoraPérola que AMO ter em minha coleção: Sexta Feira 13 - Parte 8 - Jason Ataca em Nova York. O filme é desprezado até pelos fãs da famosa série de porcarias maravilhosas de terror. Para mim é um mistério que alguém leve esses filmes a sério, mas muitos levam e presencio isso todos os dias em grupos do Facetruque, como já presenciava em 1999, nos saudosos fóruns de fandoms. O que aflige os insatisfeitos é o fato de o filme só mostrar Jason agindo na parte suja e marginalizada de Manhattan, além de ter muitos erros de continuidade. Mais um mistério insolúvel: que tipo de espectador é capaz de não perceber logo na abertura que o filme busca ser uma sátira da imagem idealizada de Nova York e da própria série Sexta Feira 13? É evidente a subversão dos símbolos da cidade. Mais evidente ainda é a insistência em criar cenas de continuidade ilógica, para produzir humor. Há ainda várias cenas divertidíssimas de assassinatos bizarros, como aquela em que o valentão se cansa de tentar derrubar Jason e diz: "Ok, agora é sua vez", só para ter a cabeça arrancada com um soco e arremessada no lixo. E o meme antecipado em três décadas de Jason chutando o aparelho de som dos malandros de rua? Esse filme só perde para o clássico Jason X no escracho! Por favor! Assistam a essa pérola da maneira como deve ser assistida e percebam que é um dos filmes mais divertidos da série em questão ("o mais", segundo Guilherme de Martino em seu antigo Guia de Vídeo - Terror). Vida longa ao trash, bitches! Jason goes to hell... and still comes back.
#SextaFeira13 #Jason #JasonVoorhees #FilmesdeTerror #Terror #Amos80
Lua de Cristal
2.4 940 Assista AgoraVejo que tá todo o mundo FULO da vida, não é mesmo? Colegas, ouçam: quando bater aquela vontade de subir na cabeça do Cristo Redentor e pular, lembrem-se de que, como dizia Santa Xuxa, "Tudo o que tiver que ser será."
Reviravolta: mas pare para pensar, pela primeira vez na vida, que isso significa que existem coisas que NÃO SÃO PRA SER. Ou seja, a mensagem da música/filme Lua de Cristal é bastante ambígua.
Não estão convencidos? Assistam aos extras do DVD (devem estar disponíveis no YouTube, mas eu sou tão Cult e vintage que tenho esse clássico em casa...) e ouçam a própria Rainha dos Baixinhos falar que essa canção é o hino que define sua carreira e completar AFIRMANDO: "Se não acontecer, é por que não era pra ser, porque tudo o que tiver que ser, será."
"Acredite nos seus sonhos e os realizará!" é o que você aprendeu com Lua de Cristal, certo? Não. Você apenas obedeceu ao verdadeiro comando que esse espertíssimo produto cultural acionou: "Sonhe, sonhe, sonhe... e, enquanto isso, CONSUMA. E, se não realizar seus sonhos, CONFORME-SE. Não era pra ser. Aceita e compra 147 produtos da marca Xuxa pra compensar."
Espero não ter destruído a memória afetiva de ninguém. Mas, caso isso tenha acontecido, foi por que era pra ser.
#LuaDeCristal #Xuxa
Flashdance: Em Ritmo de Embalo
3.4 643 Assista AgoraHá anos percebo que existem alguns aparentes consensos sobre Flashdance, o primeiro grande sucesso do polêmico Adrian Lyne. 1. O de que é um filme popular, mas irrelevante. 2. O de que a mensagem do filme é sobre acreditar em seus sonhos, lutar e vencer. 3. O de que a protagonista de fato realizou seu sonho. Já sabem né? Vou mostrar que estão todos errados. Flashdance é inegavelmente influente, de um ponto de vista estético. As raízes publicitárias de Lyne são visíveis em cada fotograma, cada imagem foi minuciosamente planejada para causar o máximo de impacto, em detrimento do significado. Alguém não conhece ao menos meia dúzia de cenas desse filme, que até hoje são parodiadas ou literalmente recriadas em videoclipes, filmes e anúncios publicitários? O treinamento de Alex (Jennifer Beals) ao som de Maniac, a performance em que puxa uma corda e toma um balde de água sobre o corpo seminu, enquanto faz pose sentada numa cadeira ou a bombástica dança final, ao som do hino What A Feeling? Até quem nunca viu o filme tem essas cenas e músicas em seu subconsciente. O filme ajudou a definir a estética do videoclipe que é reproduzida até hoje e, no cinema, influenciou inúmeros filmes, incluindo Top Gun, de Tony Scott. O filme fala mais sobre fracasso que sobre sucesso. Um trauma de minha infância foi a queda de Jeannie, amiga de Alex, durante sua participação numa competição de patinação de gelo, o único momento em que seu pai se orgulhou dela (que após o fato tornou-se stripper). Richie, outro amigo, sonha em ser comediante stand up, mas ninguém ri de suas piadas. Apenas Alex tem perspectivas de triunfar. Ela NÃO realiza seu sonho, que era estudar numa conceituada escola de dança. O que faz no final é mostrar que não precisa dos métodos e valores conservadores da escola, calando a todos com uma performance alucinante, que quebra todas as regras... e indo embora sorrindo (ao som de Giorgio Moroder), sabendo que sua melhor professora é ela mesma. Ela descobriu que às vezes nossos sonhos estão errados. Flashdance é um dos filmes definitivos dos anos 80 e da cultura pop de sempre. E a trilha sonora é um clássico (mas faltou Gloria de Laura Branigan no LP) #Flashdance #Anos80
Independence Day
3.4 808 Assista Agora"Acredita mesmo em toda essa bobagem que acaba de dizer?" É com essa frase - e uma expressão estupefata de escárnio - que o personagem de Will Smith reage à explicação do de Jeff Goldblum sobre seu plano de desativar os escudos das naves alienígenas através de um vírus de computador. É também a frase em que Independence Day, de Roland Emmerich, explica a si mesmo. O grande valor desse filme para mim, que na época tinha 11 anos, era o fato de que ele recriava as ingênuas ficções científicas dos anos 50, que assisti com meu pai, adicionando os efeitos especiais e cenários de última geração dos 90. Guerra dos Mundos, uma das inspirações, terminava com os Aliens derrotados por um vírus. Qual seria o equivalente mais irônico a isso nos anos 90 que um vírus enviado por um Macintosh? Ponto. Vê? Esse filme é uma piada, cujo alvo é ele próprio. Em uma entrevista que vi, Emmerich exibiu um largo - e cínico - sorriso ao contar que um oficial do exército enviou uma carta reclamando que os uniformes do filme estavam todos errados. Ele já sabia. O famoso discurso do presidente interpretado por Bill Pullman, bem como sua ultrajante atitude de entrar num caça para combater ele mesmo o inimigo, também são encenados de maneira que escancara seu absurdo, sua audácia. Lembram que o verdadeiro salvador da pátria foi um bêbado falastrão e taxado de louco, interpretado por Randy Quaid? E o que dizer do final? Os destroços da nave inimiga caem dos céus como fogos de artifício, enquanto a filha do presidente diz "Feliz 4 de Julho, papai." Ufanista? Sim, mas não apenas isso. Todos os envolvidos riram ao criar esses absurdos e, se você riu, isso só prova que conseguiram o que queriam. Independence Day é, ao mesmo tempo, um dos mais perfeitos exemplos de entretenimento populista criados pelo cinema... e um dos blockbusters mais irônicos e fanfarrões também. AMO.
ps: foi esse filme que transformou Will Smith num astro global. É pouco?
ps 2: posteriormente, Emmerich se transformou num autêntico satirista, ainda que nem todos tenham percebido. Estou falando de O Dia Depois de Amanhã e... 2012. Revejam e repensem!
#IndependenceDay #RolandEmmerich
#FilmesdosAnos90
#Anos90
#Filmes
#Cinema
Twister
3.1 616 Assista AgoraEm seu texto sobre Twister, de Jan de Bont (que não foi o maior sucesso de 1996 porque Roland Emmerich fez o ultrajante Independence Day), o grande Roger Ebert afirmou algo como "não há uma única metáfora neste filme." Com todo o respeito a Mr. Ebert, posso provar que ele estava tragicamente enganado.
Twister inicia com um episódio traumático, onde Jo (a fantástica Helen Hunt), ainda criança, perde o pai para a força implacável de um tornado, o que a leva a desenvolver uma obsessão por estudar esses fenômenos (tornando-se cientista) a fim de desenvolver uma tecnologia capaz de prevê-los, para evitar mais tragédias. Jo é divorciada de Bill (o eterno coadjuvante mais querido do público, Bill Paxton) que também é um cientista com o mesmo objetivo e casou-se novamente com Dra. Melissa (Jami Gertz). Apesar de suas diferenças, Jo e Bill precisam se unir para caçar os tornados (sim! eles próprios se colocam em perigo!), com o intuito de lançar sensores eletrônicos em seu interior, enquanto Melissa dá chiliques a todo momento (Rubens Ewald Filho a definiu assim), acabando por abandonar, tomada pelo medo, a missão. Aos poucos, Jo e Bill se reaproximam, salvando um ao outro, enquanto enfrentam tempestades cada vez mais poderosas e destrutivas.
O ponto culminante acontece quando ambos conseguem entrar, presos por cintas, no centro de um tornado do exato tamanho daquele que matou o pai de Jo. A cena mostra o maravilhamento no olhar de Helen Hunt, contemplando, em meio à fúria da natureza, a luz para onde aquele tubo de ar leva tudo o que encontra pela frente... a luz para onde seu pai foi sugado ao morrer. Ela se reconecta ao pai e finalmente o deixa partir. Twister é sobre as tempestades simbólicas (SIM!) de um casamento, de um divórcio, de um reatamento, de um luto... e de como existem pessoas que fogem covardemente dessas tempestades, enquanto outras se unem para enfrentá-las, estudá-las e aprender a evitá-las, por si e pelos outros. A conclusão não poderia ser melhor: quando essa união se consuma, é capaz de destruir traumas e mágoas. Que me perdoem Ebert e demais detratores mas, além de essencialmente metafórico, Twister, de Jan de Bont, é LINDO.
Studio 54
3.3 117* Avaliação baseada na Director's Cut de Studio 54, de Mark Christopher.
A emblemática cena em que os icônicos @breckinmeyer e @ryanphillippe se beijam, na Director's Cut de Studio 54, de Mark Christopher.
A cena está entre os 45 minutos de material que a Miramax Films obrigou o diretor a remover, temendo que o público rejeitasse o protagonista bissexual e as cenas de sexo e uso de drogas.
Mas pera aí... É Studio 54, right? Qualquer espectador que se interessasse pelo tema esperaria ver tudo isso. O resultado? O filme se transformou numa aberração sem sentido e fracassou, em público e crítica.
A redenção, no entanto, levou apenas alguns anos para chegar: após lançar sua versão estendida, mais próxima à visão original do que seria o filme, Mark Christopher exibiu o corte completo de Studio 54 no Festival de Berlim, em 2015. Não deu outra, o filme tornou-se imediatamente cult, especialmente entre a comunidade LGBTQIA+.
O elenco é ótimo, cenários e figurinos idem, a trilha sonora é sensacional (Disco, bitches!)... mas o grande momento é justo a cena íntima entre Breckin e Ryan: tensa, dramática e brilhantemente interpretada - óbvio! - por ambos.
ps: bem que podiam lançar esse corte nos cinemas brasileiros, pra gente ver crentelho gritando "Cadê a Damares?" no cinema.
* Publicado originalmente em meu Instagram @ulyssesinwonderland, acompanhado de uma foto de Breckin Meyer e Ryan Phillippe na cena em questão.
Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio
3.8 1,4K Assista AgoraHoje o genial, revolucionário e ultrainfluente Evil Dead, de Sam Raimi, completa 40 anos do lançamento.
Se eu começar a falar sobre essa obra-prima vou escrever o novo Livro dos Mortos, então por enquanto deixo apenas o único veredito possível:
Eu AMO esse filme e todes que o fizeram acontecer.
PRICELESS
#EvilDead #SamRaimi #FilmeadeTerror #Cinema
Cruella
4.0 1,4K Assista AgoraLá por 30 minutos de Cruella, pensei: estive certo em meus julgamentos prévios. Outro filme em que o diretor parece tão incapaz de contar uma história através das imagens, que faz com que toda e qualquer informação saia da boca de um narrador. Mas esperem. A contextualização da trama no centro da Revolução do Punk Rock, em Londres, não é mero detalhe: Cruella é apresentada como uma verdadeira rockstar, condição reforçada por sua forte ligação com a moda. Do híbrido entre moda e Rock 'n' Roll, surgem alguns dos momentos mais catárticos do cinema pop dos últimos anos, com destaque para o truque do vestido que muda de cor e para uma genial representação da ideia de "renascer das cinzas" (do lixo, no caso). No duelo entre duas grandes Emmas (Thompson não precisa provar nada...) há uma vencedora: Stone. Que estrela! Que complexidade dramática! E há também uma grande revelação, John McCrea, que interpreta Artie, um misto de David Bowie e Andy Warhol da moda (e o primeiro personagem assumidamente gay num filme Disney) com um carisma inspirador. O único momento em que este Cruella ameaça vestir a camisa de "filme da Disney" é na ideia populista da esperada punição do vilão. Mas até nisso esse filme foge do padrão: dessa vez o embate é entre duas impiedosas vilãs. Não diria que o filme "humaniza" Cruela. Ele atenta para o fato de que todo vilão um dia foi uma criança inocente... e que a sociedade e a vida despertam neles o mal. Que figurino! Que cenografia! Que trilha sonora extremamente bem selecionada (até Judy Garland toca!)! Disney, sua danada, não te perdoo por seus recentes pecados, mas dessa vez você mandou bem demais.
#Cruella #Cinema #Disney #Filmes