O personagem Arthur expressa, metaforicamente, as centenas e milhões de indivíduos na sociedade capitalista que jamais conseguirão satisfazer as suas necessidades e potencialidades como seres humanos. Dessa maneira, a sociedade capitalista produz sofrimento no conjunto da população trabalhadora, dificultando a sobrevivência material das pessoas e gerando diversos desequilíbrios psíquicos e danos psicossociais. As relações sociais de alienação, dominação e exploração que a classe dominante e suas auxiliares submetem ao conjunto das classes desprivilegiadas relacionam-se com a violência fundante do modo de produção capitalista, que é um modo de produção classista e violento. A própria violência, a despeito de ser um resultado da ação individual de seres maus por natureza, tem raízes sociais, notadamente nas desigualdades sociais que, em meio à competição e à concentração da propriedade privada, impele uns indivíduos ao uso de constrangimentos físicos e morais para sobrepujar outros. Portanto, o processo de mortificação no capitalismo torna os trabalhadores incapazes de viverem em condições salutares nessa sociedade, destruindo-os fisicamente, psiquicamente e materialmente.
Para quem quiser conferir um texto que escrevi sobre o filme: Cinema e Crítica Social Blogspot
"O capital, que tem tão “boas razões” para negar os sofrimentos da geração trabalhadora que o circunda, é condicionado em seu movimento prático pela perspectiva de apodrecimento futuro da humanidade e, por fim, do incontrolável despovoamento tão pouco ou tanto como pela possível queda da Terra sob o Sol. [...] O capital não tem, por isso, a menor consideração pela vida do trabalhador, a não ser quando é coagido pela sociedade a ter consideração. À queixa sobre degradação física e mental, morte prematura, tortura do sobretrabalho, ele responde: Deve esse tormento atormentar-nos, já que ele aumenta o nosso gozo (o lucro)? De modo geral, porém, isso também não depende da boa ou da má vontade do capitalista individual." -- Karl Marx, O Capital (1967)
O filme é sobre a banda Kino do famoso músico russo Viktor Tsoi. Para quem ainda não conhece essa sonzeira, recomendo ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=Xk7v8Kp_6n0
A música Leto (Verão, em português) foi a referência para o título do filme.
Scarface sugere com ousadia rara no cinema americano que a ascensão, acumulação e a concentração capitalista, inseparáveis do controle e do alargamento dos mercados, não só são o fruto de uma série de crimes em cadeia como conduzem inevitavelmente ao isolamento e à sua própria destruição. É esta a trajetória que nos conduz a vida de Tony Montana. O gangsterismo da organização dirigida por Montana em nada difere da dos capitalistas e dos diplomatas americanos, todos eles aliados no mesmo movimento de corrupção e expansão imperialistas...
O filme nos mostra essa trajetória de ascensão desse personagem, denominado Louis Bloom, que, aos poucos, começa a produzir cada vez mais reportagens. Toda essa trajetória não é realizada de uma forma "aceitável", ou digamos, ética. Ela é inescrupulosa, condenável, pois a cada passo que o personagem avança, percebemos que estamos emaranhados em um conjunto de relações que são tão cruéis quanto o trabalho que Louis realiza. Assim, a diretora de um programa de jornal em uma emissora de tevê não vê problemas na transmissão de reportagens cada vez mais violentas, cruas e trágicas; os apresentadores desse mesmo jornal narram tais reportagens, como se fosse um espetáculo televiso que precisa ser noticiado incessantemente; a direção da emissora de tevê não mede esforços para manter essa forma de jornalismo para conseguir aumentar a audiência; entre outras relações envolvidas na trajetória de Louis que vão revelando as engrenagens de uma sociedade apodrecida. Portanto, o abutre do título do filme não se refere apenas ao Louis, o personagem principal que filma cadáveres mortos ou semi-mortos em busca do sucesso profissional, mas também àqueles que permitem que esses indivíduos, especialmente um Louis Bloom, consigam conquistarem espaço na sociedade através dessa forma de trabalho. Por isso, o jornalismo abordado no universo ficcional é desumano, mas ao mesmo tempo tornou-se prática comum, conquanto a sociedade ainda permita que a vida das pessoas seja quantificada através do cálculo da audiência televisiva. Logo, o lucro dessas empresas de jornalismo, entre diversas outras empresas na sociedade capitalista, são assim, produto da carniça, da exploração de vidas humanas e essa forma de atividade não está restrita a Louis, infelizmente, mas amplia-se a centenas e milhares de indivíduos que buscam manter e reproduzir essa sociedade através da exploração e da "desgraça alheia".
O filme pode ser assistido no youtube através desse link: https://www.youtube.com/watch?v=7zlmdPtrvX0&feature=youtu.be&list=PLAVWORAqllriok0PnUIFWK9WYic4ECkYd
O filme Momo e o Senhor do Tempo (Johannes Schaaf, Alemanha, 1986), baseada na obra literária infantil homônima, escrita por um dos melhores nomes da literatura infantil, Michael Ende (autor de História sem Fim e outras excelentes obras), trata de uma questão fundamental: o tempo. O tempo que os seres humanos perdem em sua vida e pensam que ganham e não percebem isso, pois é “como uma música, que já não ouvimos porque está sempre tocando”. A sociedade capitalista é fundada no domínio do tempo. Ao contrário de qualquer outra sociedade, o tempo assume um significado fundamental e pode ser resumido na frase, que aparece no filme, como não poderia deixar de ser, “tempo é dinheiro”. A produção de bens materiais (nesse caso específico, mercadorias) é realizada através da produção e extração de mais-valor, que é uma forma específica de exploração baseada no domínio do tempo no processo de trabalho.
O filme tematiza a questão do tempo sob forma metafórica, pois são os “senhores de cinza” que buscam roubar o tempo dos indivíduos. Uma das cenas mais importantes é quando um senhor de cinza faz o cálculo do uso do tempo do barbeiro, colocando o quanto ele gasta tempo com “coisas inúteis” (cuidado da mãe, levar flores para uma mulher, ir ao cinema, etc.). Assim, o filme mostra, metaforicamente, a desumanização e a destruição dos indivíduos por causa do controle do tempo realizado pelo capital (os senhores de cinza) e que as pessoas “não enxergam quem está mandando em seu mundo”. O tempo se torna um problema e seu uso se torna desumanizado e a serviço do capital. Por isso é “tempo roubado”. E outros aspectos derivados disso aparece: consumismo, competição, baixa qualidade de programas televisivos, etc.
O filme também abre espaço para se pensar questões existenciais, opondo um mundo de solidariedade em contraposição ao mundo da busca incessante de “tempo” (lucro). Obviamente que isso tudo aparece metaforicamente e por isso quem fica apenas no plano do universo ficcional verá apenas algo pouco compreensível como os senhores cinzentos, a tartaruga Kassiopeia, Casa de Lugar Nenhum, Mestre Hora, charutos, flor-hora, etc. e uma aventura de uma menina contra os vilões que querem dominar o tempo. Sem dúvida, é um filme que traz uma mensagem fundamental e que expressa elementos que estão presentes no livro no qual é baseado. Essa adaptação cinematográfica não deve ser comparada com a obra literária, pois são duas formas de arte diferentes e dizer que o livro tem mais riqueza é um truísmo, já que se fosse filmado o conjunto do que está nele seria produzir um filme de dezenas de horas. E nenhum cineasta faria, pois não teria “tempo” (dinheiro) e nem o público para assistir uma obra assim. O filme consegue trazer elementos essenciais da obra literária e, mesmo que pudesse ter trazido alguns elementos a mais, repassou o fundamental da mensagem que estava na obra literária e produziu uma excelente obra cinematográfica. Um filme humanista e axionômico, como poucos, e assim mostra sob forma ficcional uma questão fundamental de nossa época. -- Blog Cinema e Sociedade - Breves Análises Fílmicas
"Um elemento fundamental do filme é mostrar a força dos interesses e a sua relação com a verdade. Os profissionais da esfera científica possuem interesses próprios e estes limitam suas ações e processos de descoberta, inovação, assimilação de saberes externos, etc. Os interesses próprios constituídos na esfera científica entram em contradição com o compromisso com a verdade." -- Cf. A Esfera Científica no Cinema, Revista Alceu
"O informante complementa o processo de mostrar o funcionamento da esfera científica e revela sua ligação com o capital e sua reprodução. A saga de Jeffrey Wigand é a que foi seguida por poucos e evitada por milhares, revelando que os discursos sobre a ciência, geralmente produzido pelos próprios cientistas, nem sempre colocam aquilo que deveriam colocar sobre a imagem heroica do cientista, que existe e se manifesta em alguns casos, mas é mais exceção do que regra. Contrariar as regras, além de não ser desejável para quem compartilha os valores dominantes da nossa sociedade, pode ter consequências prejudiciais para os indivíduos." -- Cf. A Esfera Científica no Cinema, Revista Alceu
"O filme mostra a competição na academia e na produção científica, demonstrando que a universidade como instituição e com seus processos burocráticos e hierárquicos acabam sendo um obstáculo para o desenvolvimento do saber." Cf. A Esfera Científica no Cinema, Revista Alceu
O filme realiza uma crítica do fetichismo da ciência, mas não apresenta uma concepção alternativa, por falta de uma base teórica para a explicação da relação cérebro e objetivos, o que gera a solução metafísica e semirreligiosa. Além disso, ele manifesta determinados valores e concepções que expressam um humanismo burguês, isto é, uma preocupação humanista que não questiona as bases da sociedade desumanizada na qual se vive. As raízes sociais da produção intelectual e dos males que atingem a sociedade são esquecidas, apagadas, e a solução metafísica é a ciência com alma, e não a transformação social. Cf. Nildo Viana, Cinema e Mensagem (livro)
O filme O Mundo Fabuloso de Billy Liar (John Schlesinger, EUA, 1963) é um filme que aparentemente é despretensioso, mas, no fundo, trata de uma questão fundamental para os seres humanos. Billy Liar é um sonhador. Ele sonha para fugir da cotidianidade capitalista. O filme, no fundo, realiza uma contraposição entre tal cotidianidade e a insatisfação e sonhos que ela gera nos indivíduos. No início do filme, as donas de casa buscam fugir da cotidianidade massacrante na qual não podem desenvolver suas potencialidades através do rádio e da música, que promovem, com o locutor citando seus nomes, um reconhecimento social que faz ficar mais fácil suportar esse mundo vazio e repetitivo promovido pela divisão social do trabalho. Além dessas “satisfações substitutas”, para usar termo psicanalítico, há outra forma de fugir do cotidiano: o sonho acordado. Billy Liar ilustra essa forma de evasão e o universo ficcional do filme gira em torno disso.
O filme No Tempo das Diligências é um dos melhores filmes de John Ford, uma obra cultural de grande valor dentro da produção fílmica em geral. Ele mostra que qualquer gênero pode repassar mensagens críticas. Temos um filme que aponta para a percepção do preconceito, contrariando a imagem de que os indivíduos da classe dominante seriam civilizados, bons e honestos, e os da classe explorada seriam bárbaros, desonestos e maus. Assim, o humanismo se destaca no filme e é reforçado pela percepção crítica da lei, das injustiças e do preconceito que o filme revela. No entanto, o que podemos destacar como negativo é a falta de referência direta ao problema dos apaches, a solução individual do casal no final, o qual se configura como uma utopia abstrata, e a falta de apontamento para uma transformação social mais ampla. Portanto, o filme de John Ford se revela humanista abstrato, porque não explicita as contradições mais profundas e soluções mais amplas, a totalidade das relações sociais. Mesmo assim, o filme é um dos melhores de faroeste e que possui uma posição humanista devido a posição política do diretor John Ford, próximo do espectro da “esquerda” e autodeclarado como “socialista democrático”, o que o diferenciava de filmes comuns de faroeste naquela época. Se a produção cinematográfica naquela época, 1930, estava submetida ao capital cinematográfico, John Ford ainda conseguia deixar a sua marca pessoal nos filmes que ele realizava. -- Cf. Como Assistir um Filme?, Nildo Viana
A ideia do filme foi elaborada pelos roteiristas Hans Janowitz e Karl Mayer (ou Carl). Inicialmente, o diretor escolhido foi Fritz Lang que não pôde levar o projeto adiante, deixando o filme para o diretor Robert Wiene. No processo de filmagem, o roteiro original foi alterado pelo diretor Robert Wiene, o que gerou um processo sobre o filme por parte dos roteiristas. A cena inicial e final não existiam no roteiro original e inverteu a mensagem que os roteiristas queriam passar. Por conta dessa alteração, o filme se tornou conservador, no qual houve a alteração de uma determinada perspectiva de classe (dos roteiristas) que expressava o filme como uma produção cultural contestadora, que foi modificada para outra perspectiva de classe (do diretor), transformando-se em uma produção cultural conformista e conservadora. Assim, o filme defende uma determinada concepção de ciência e autoridade. Os valores objetivados no filme são a autoridade e a ciência (particularmente, a psiquiatria) e o desvalor é a loucura, o irracional. Por trás disso, há um ideologema que está objetivado no filme, ao colocar a concepção de que a loucura e o irracional são maléficos e que a ciência e a autoridade são benéficas e que a loucura é acompanhada por alucinações e a ciência pela verdade. Portanto, os valores e concepções apresentados no filme são conservadores, perpassam determinados interesses de classes, os quais são contraditórios com a versão original dos roteiristas. As consequências sociais do filme são evidentes: deve-se respeitar a autoridade e ser conformista, por mais que se desconfie dela ou os loucos a denuncie. -- Cf. Livro: Como Assistir um Filme? - Nildo Viana
"Assim sendo, visto como aparentemente ingênuo, o filme Pearl Harbor – que atingiu uma bilheteria considerável no Brasil e no mundo – é um conjunto de valores axiológicos inautênticos. Os valores expressos pelo filme são aqueles que reforçam os interesses norte-americanos, tal como a proeminência do amor romântico, o que oculta a submissão feminina; o padrão ocidental de beleza apresentado na oposição “beleza americana” e “feiura japonesa”, a capacidade de renúncia em favor de alguém como um irmão (assim como aqueles que vão para a guerra renunciam a vida em favor de seus compatriotas), o patriotismo como valor fundamental e que une os diferentes (negros e brancos, por exemplo) e os semelhantes, criando uma “unidade nacional”; o papel da liderança (individual e nacional, já que os EUA, na produção cultural axiológica e ideológica, é o “líder mundial” e justiceiro universal), entre outros, revelam que o filme Pearl Harbor é uma produção fílmica axiológica. O patriotismo e o americanismo são os valores fundamentais repassados pelo filme." -- Cf. depois Pearl Harbor, manifestações de valores axiológicos no cinema
"Desta forma, é inquestionável que se trata de um filme anticonformista e que de forma alguma pode ser entendido como macartista. Da mesma forma, não é um filme antissoviético, a não ser no sentido vago de se considerar que o regime ditatorial russo era conformista e comandado por autoridades irracionais e, portanto, encaixando na crítica geral do conformismo, desumanização e insensibilidade reinantes. Isso significa, também, que não pode ser considerado anticomunista no sentido de ser antimarxista ou na concepção de comunismo de Marx e de todos aqueles que lutam por uma nova sociedade, fundada na igualdade e liberdade, algo bastante distinto do capitalismo estatal que vigorou na antiga URSS." Cf. Blog Informe e Crítica, QUEM SÃO OS INVASORES? A CRÍTICA AO MARCARTISMO EM “VAMPIROS DE ALMAS”.
Corrosão – Ameaça em seu Corpo, dirigido por Philip Brophy, é uma produção independente australiana parecido ao filme A Coisa. A semelhança consiste em transformar um fenômeno cotidiano - um alimento, uma vitamina - em algo aterrorizador e, ainda, fazer crítica social. A história do uso de uma droga experimental por uma clínica de saúde promove mutação e desenvolvimento de um parasita que atinge até mesmo os seus funcionários. A busca de um corpo musculoso mostra as conseqüências nefastas da corpolatria e seu uso por aqueles que lucram com isso, de forma indiscriminada e independente dos males que pode causar. No filme, o que é proporcionado é a corrosão dos corpos das vítimas.
O Barão de Munchausen contra a Razão Instrumental O filme dirigido por Terry Gilliam (o mesmo responsável pelos filmes de Monty Python), As Aventuras do Barão de Münchausen" (Inglaterra, 1988), oferece uma excelente abordagem do racionalismo e suas relações com o poder. O filme não apenas questiona a razão instrumental, mas tematiza a sua recusa da imaginação, dos sentimentos, do extraordinário e da utopia. Ao contrário da crítica irracionalista e pós-estruturalista, o que ocorre é um questionamento não da razão em geral, mas da razão instrumental, com sua ligação com o poder e o seu conservadorismo ("realismo"), que impede a luta e a mudança, e considerando o que escapa de seu estreito domínio como ameaçador, aceitando apenas o mediano, tal como na cena do soldado que realiza feitos extraordinários e é, por isso, condenado à morte. Isto ocorre apesar do soldado estar do mesmo lado do burocrata estatal, ou seja, do poder e da "pátria", que o burocrata supostamente "representa", sendo na verdade apenas uma moeda de troca, tal como se vê em seu jogo com o Califa. A burguesia também é criticada, pois o vulcão é um inferno-fábrica comandado por Vulcano, o deus-patrão, que é chamado de "burguês mal educado" por Vênus, a deusa da beleza.
O filme expressa em sua mensagem que é possível, como demonstrado pela vida dessa família, um ser humano que não deixe de desenvolver suas potencialidades. Quando os/as filhos/as recusam a vida com seu avô, os privilégios financeiros de uma vida melhor e a ascensão social de classe, e retornam à vida comunitária com seu pai, mantém ainda a dignidade, mesmo que de maneira limitada, de preservar os seus valores autênticos. Serem solidários verdadeiramente com o próximo, desenvolver o conhecimento, o pensamento e controlar a sua vida, autonomamente, sem a necessidade de ilusões e controle exterior. O filme é assim “fantástico”, por apresentar elementos críticos dessa sociedade,e pelo seu ideal (utópico abstrato) ao expressar algumas potencialidades humanas autênticas (solidariedade, amor, amizade) que foram desenvolvidas dentro de uma essência humana, mas que ainda não conseguem serem plenas, devido à maneira que os seres humanos existem concretamente na sociedade capitalista.
"O que se nota no filme é a tematização da revolta da natureza provocada pela ação humana e por isso se volta contra ela. A toxina responsável pela perda da vontade de viver é uma substância produzida pelas plantas em sinal de defesa contra a ameaça humana. Assim, a força misteriosa que provoca a morte de milhares de pessoas é a "natureza", ou melhor, parte dela, para ser mais exato, as plantas. O local mais atingido é justamente onde se faz experiências com armas nucleares. Sem dúvida, retirando o esoterismo presente, que demonstra que o roteirista deixa a desejar em matéria de compreensão do que está por trás da degradação ambiental e dos atuais problemas sociais que a provoca, a intenção é boa, já que a idéia é denunciar as conseqüências disto e a possibilidade de evitar "o acontecimento" (título original do fime). Porém, as limitações formais e a falta de profundidade de conteúdo, além do esoterismo, prejudicam o filme. A idéia apresentada pelo aluno no início, segundo a qual há coisas inexplicáveis na natureza, o que é repetido por um cientista no final do filme. O problema mais grave com a mensagem está em não perceber que o esotérico, o misterioso, realmente é ameaçador, mas se fica nesse nível "inexplicável", reforça a ignorância e o imobilismo, pois medo e ignorância são imobilizadores, e a questão ambiental precisa ser mobilizadora."
Cf. Cinema e Manifestação Social, O Fim dos Tempos ou a Revolta da Natureza?
"No fundo, o que o filme faz é mostrar "a politica como ela é", para parafrasear Nélson Rodrigues. O processo de corrupção, ambição, luta pelo poder e todos os elementos constituintes da luta política institucional, estão presentes e revelam aquilo que muitos não percebem ao apenas ouvir os discursos ou ver o que é repassado pelos meios oligopolistas de comunicação. Também mostra, o que não é novidade para nenhum brasileiro atento, que os indívíduos de origem humilde se corrompem com a mesma facilidade que qualquer outro. Como já dizia Robert Michels, os partidos políticos são criadores de novos burocratas e políticos profissionais, e recruta grande parte deles nas classes exploradas. Assim, o filme é uma verdadeira aula do que é a política institucional, o processo eleitoral e os governantes."
Cf. Cinema e Manifestação Social, "A Grande Ilusão" ou A Política Como Ela É
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraO personagem Arthur expressa, metaforicamente, as centenas e milhões de indivíduos na sociedade capitalista que jamais conseguirão satisfazer as suas necessidades e potencialidades como seres humanos. Dessa maneira, a sociedade capitalista produz sofrimento no conjunto da população trabalhadora, dificultando a sobrevivência material das pessoas e gerando diversos desequilíbrios psíquicos e danos psicossociais. As relações sociais de alienação, dominação e exploração que a classe dominante e suas auxiliares submetem ao conjunto das classes desprivilegiadas relacionam-se com a violência fundante do modo de produção capitalista, que é um modo de produção classista e violento. A própria violência, a despeito de ser um resultado da ação individual de seres maus por natureza, tem raízes sociais, notadamente nas desigualdades sociais que, em meio à competição e à concentração da propriedade privada, impele uns indivíduos ao uso de constrangimentos físicos e morais para sobrepujar outros. Portanto, o processo de mortificação no capitalismo torna os trabalhadores incapazes de viverem em condições salutares nessa sociedade, destruindo-os fisicamente, psiquicamente e materialmente.
Para quem quiser conferir um texto que escrevi sobre o filme:
Cinema e Crítica Social Blogspot
Kuhle Wampe: ou A Quem Pertence o Mundo?
3.9 4Filme está disponível no youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=7K00XRKIVkY
A Ópera dos Pobres
4.2 12Filme disponível aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=YfAmI_KjnUM
Parque Oeste
4.1 2Para quem assistir o documentário:
https://www.youtube.com/watch?v=QweD8Hk031Y
O Patrão: Radiografia de um Crime
3.9 56 Assista Agora"O capital, que tem tão “boas razões” para negar os sofrimentos da geração trabalhadora que o circunda, é condicionado em seu movimento prático pela perspectiva de apodrecimento futuro da humanidade e, por fim, do incontrolável despovoamento tão pouco ou tanto como pela possível queda da Terra sob o Sol. [...] O capital não tem, por isso, a menor consideração pela vida do trabalhador, a não ser quando é coagido pela sociedade a ter consideração. À queixa sobre degradação física e mental, morte prematura, tortura do sobretrabalho, ele responde: Deve esse tormento atormentar-nos, já que ele aumenta o nosso gozo (o lucro)? De modo geral, porém, isso também não depende da boa ou da má vontade do capitalista individual."
--
Karl Marx, O Capital (1967)
Verão
3.8 20O filme é sobre a banda Kino do famoso músico russo Viktor Tsoi. Para quem ainda não conhece essa sonzeira, recomendo ouvir:
https://www.youtube.com/watch?v=Xk7v8Kp_6n0
A música Leto (Verão, em português) foi a referência para o título do filme.
Scarface
4.4 1,8K Assista AgoraScarface sugere com ousadia rara no cinema americano que a ascensão, acumulação e a concentração capitalista, inseparáveis do controle e do alargamento dos mercados, não só são o fruto de uma série de crimes em cadeia como conduzem inevitavelmente ao isolamento e à sua própria destruição. É esta a trajetória que nos conduz a vida de Tony Montana. O gangsterismo da organização dirigida por Montana em nada difere da dos capitalistas e dos diplomatas americanos, todos eles aliados no mesmo movimento de corrupção e expansão imperialistas...
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraO filme nos mostra essa trajetória de ascensão desse personagem, denominado Louis Bloom, que, aos poucos, começa a produzir cada vez mais reportagens. Toda essa trajetória não é realizada de uma forma "aceitável", ou digamos, ética. Ela é inescrupulosa, condenável, pois a cada passo que o personagem avança, percebemos que estamos emaranhados em um conjunto de relações que são tão cruéis quanto o trabalho que Louis realiza. Assim, a diretora de um programa de jornal em uma emissora de tevê não vê problemas na transmissão de reportagens cada vez mais violentas, cruas e trágicas; os apresentadores desse mesmo jornal narram tais reportagens, como se fosse um espetáculo televiso que precisa ser noticiado incessantemente; a direção da emissora de tevê não mede esforços para manter essa forma de jornalismo para conseguir aumentar a audiência; entre outras relações envolvidas na trajetória de Louis que vão revelando as engrenagens de uma sociedade apodrecida. Portanto, o abutre do título do filme não se refere apenas ao Louis, o personagem principal que filma cadáveres mortos ou semi-mortos em busca do sucesso profissional, mas também àqueles que permitem que esses indivíduos, especialmente um Louis Bloom, consigam conquistarem espaço na sociedade através dessa forma de trabalho.
Por isso, o jornalismo abordado no universo ficcional é desumano, mas ao mesmo tempo tornou-se prática comum, conquanto a sociedade ainda permita que a vida das pessoas seja quantificada através do cálculo da audiência televisiva. Logo, o lucro dessas empresas de jornalismo, entre diversas outras empresas na sociedade capitalista, são assim, produto da carniça, da exploração de vidas humanas e essa forma de atividade não está restrita a Louis, infelizmente, mas amplia-se a centenas e milhares de indivíduos que buscam manter e reproduzir essa sociedade através da exploração e da "desgraça alheia".
Momo e o Senhor do Tempo
3.7 9O filme pode ser assistido no youtube através desse link:
https://www.youtube.com/watch?v=7zlmdPtrvX0&feature=youtu.be&list=PLAVWORAqllriok0PnUIFWK9WYic4ECkYd
:)!!!
Momo e o Senhor do Tempo
3.7 9Momo e a crítica ao capitalismo
Nildo Viana
O filme Momo e o Senhor do Tempo (Johannes Schaaf, Alemanha, 1986), baseada na obra literária infantil homônima, escrita por um dos melhores nomes da literatura infantil, Michael Ende (autor de História sem Fim e outras excelentes obras), trata de uma questão fundamental: o tempo. O tempo que os seres humanos perdem em sua vida e pensam que ganham e não percebem isso, pois é “como uma música, que já não ouvimos porque está sempre tocando”. A sociedade capitalista é fundada no domínio do tempo. Ao contrário de qualquer outra sociedade, o tempo assume um significado fundamental e pode ser resumido na frase, que aparece no filme, como não poderia deixar de ser, “tempo é dinheiro”. A produção de bens materiais (nesse caso específico, mercadorias) é realizada através da produção e extração de mais-valor, que é uma forma específica de exploração baseada no domínio do tempo no processo de trabalho.
O filme tematiza a questão do tempo sob forma metafórica, pois são os “senhores de cinza” que buscam roubar o tempo dos indivíduos. Uma das cenas mais importantes é quando um senhor de cinza faz o cálculo do uso do tempo do barbeiro, colocando o quanto ele gasta tempo com “coisas inúteis” (cuidado da mãe, levar flores para uma mulher, ir ao cinema, etc.). Assim, o filme mostra, metaforicamente, a desumanização e a destruição dos indivíduos por causa do controle do tempo realizado pelo capital (os senhores de cinza) e que as pessoas “não enxergam quem está mandando em seu mundo”. O tempo se torna um problema e seu uso se torna desumanizado e a serviço do capital. Por isso é “tempo roubado”. E outros aspectos derivados disso aparece: consumismo, competição, baixa qualidade de programas televisivos, etc.
O filme também abre espaço para se pensar questões existenciais, opondo um mundo de solidariedade em contraposição ao mundo da busca incessante de “tempo” (lucro). Obviamente que isso tudo aparece metaforicamente e por isso quem fica apenas no plano do universo ficcional verá apenas algo pouco compreensível como os senhores cinzentos, a tartaruga Kassiopeia, Casa de Lugar Nenhum, Mestre Hora, charutos, flor-hora, etc. e uma aventura de uma menina contra os vilões que querem dominar o tempo. Sem dúvida, é um filme que traz uma mensagem fundamental e que expressa elementos que estão presentes no livro no qual é baseado. Essa adaptação cinematográfica não deve ser comparada com a obra literária, pois são duas formas de arte diferentes e dizer que o livro tem mais riqueza é um truísmo, já que se fosse filmado o conjunto do que está nele seria produzir um filme de dezenas de horas. E nenhum cineasta faria, pois não teria “tempo” (dinheiro) e nem o público para assistir uma obra assim. O filme consegue trazer elementos essenciais da obra literária e, mesmo que pudesse ter trazido alguns elementos a mais, repassou o fundamental da mensagem que estava na obra literária e produziu uma excelente obra cinematográfica. Um filme humanista e axionômico, como poucos, e assim mostra sob forma ficcional uma questão fundamental de nossa época.
--
Blog Cinema e Sociedade - Breves Análises Fílmicas
O Óleo de Lorenzo
4.1 758 Assista Agora"Um elemento fundamental do filme é mostrar a força dos interesses e a sua
relação com a verdade. Os profissionais da esfera científica possuem interesses próprios
e estes limitam suas ações e processos de descoberta, inovação, assimilação de
saberes externos, etc. Os interesses próprios constituídos na esfera científica entram
em contradição com o compromisso com a verdade."
--
Cf. A Esfera Científica no Cinema, Revista Alceu
O Informante
3.8 244"O informante complementa o processo de mostrar o funcionamento
da esfera científica e revela sua ligação com o capital e sua reprodução. A saga de
Jeffrey Wigand é a que foi seguida por poucos e evitada por milhares, revelando que
os discursos sobre a ciência, geralmente produzido pelos próprios cientistas, nem
sempre colocam aquilo que deveriam colocar sobre a imagem heroica do cientista,
que existe e se manifesta em alguns casos, mas é mais exceção do que regra. Contrariar
as regras, além de não ser desejável para quem compartilha os valores dominantes
da nossa sociedade, pode ter consequências prejudiciais para os indivíduos."
--
Cf. A Esfera Científica no Cinema, Revista Alceu
Fúria Pela Honra
3.0 21"O filme mostra a competição na academia e na produção científica,
demonstrando que a universidade como instituição e com seus processos burocráticos
e hierárquicos acabam sendo um obstáculo para o desenvolvimento do saber."
Cf. A Esfera Científica no Cinema, Revista Alceu
O Monstro de Nova Iorque
3.1 3O filme realiza uma crítica do fetichismo da ciência, mas não apresenta uma concepção alternativa, por falta de uma base teórica para a explicação da relação cérebro e objetivos, o que gera a solução metafísica e semirreligiosa. Além disso, ele manifesta determinados valores e concepções que expressam um humanismo burguês, isto é, uma preocupação humanista que não questiona as bases da sociedade desumanizada na qual se vive. As raízes sociais da produção intelectual e dos males que atingem a sociedade são esquecidas, apagadas, e a solução metafísica é a ciência com alma, e não a transformação social.
Cf. Nildo Viana, Cinema e Mensagem (livro)
O Mundo Fabuloso de Billy Liar
3.7 7O filme O Mundo Fabuloso de Billy Liar (John Schlesinger, EUA, 1963) é um filme que aparentemente é despretensioso, mas, no fundo, trata de uma questão fundamental para os seres humanos. Billy Liar é um sonhador. Ele sonha para fugir da cotidianidade capitalista. O filme, no fundo, realiza uma contraposição entre tal cotidianidade e a insatisfação e sonhos que ela gera nos indivíduos. No início do filme, as donas de casa buscam fugir da cotidianidade massacrante na qual não podem desenvolver suas potencialidades através do rádio e da música, que promovem, com o locutor citando seus nomes, um reconhecimento social que faz ficar mais fácil suportar esse mundo vazio e repetitivo promovido pela divisão social do trabalho. Além dessas “satisfações substitutas”, para usar termo psicanalítico, há outra forma de fugir do cotidiano: o sonho acordado. Billy Liar ilustra essa forma de evasão e o universo ficcional do filme gira em torno disso.
Cf. Cinema e Manifestação Social, blogspot
No Tempo das Diligências
4.1 143 Assista AgoraO filme No Tempo das Diligências é um dos melhores filmes de John Ford, uma obra cultural de grande valor dentro da produção fílmica em geral. Ele mostra que qualquer gênero pode repassar mensagens críticas. Temos um filme que aponta para a percepção do preconceito, contrariando a imagem de que os indivíduos da classe dominante seriam civilizados, bons e honestos, e os da classe explorada seriam bárbaros, desonestos e maus. Assim, o humanismo se destaca no filme e é reforçado pela percepção crítica da lei, das injustiças e do preconceito que o filme revela.
No entanto, o que podemos destacar como negativo é a falta de referência direta ao problema dos apaches, a solução individual do casal no final, o qual se configura como uma utopia abstrata, e a falta de apontamento para uma transformação social mais ampla. Portanto, o filme de John Ford se revela humanista abstrato, porque não explicita as contradições mais profundas e soluções mais amplas, a totalidade das relações sociais. Mesmo assim, o filme é um dos melhores de faroeste e que possui uma posição humanista devido a posição política do diretor John Ford, próximo do espectro da “esquerda” e autodeclarado como “socialista democrático”, o que o diferenciava de filmes comuns de faroeste naquela época. Se a produção cinematográfica naquela época, 1930, estava submetida ao capital cinematográfico, John Ford ainda conseguia deixar a sua marca pessoal nos filmes que ele realizava.
--
Cf. Como Assistir um Filme?, Nildo Viana
O Gabinete do Dr. Caligari
4.3 524 Assista AgoraA ideia do filme foi elaborada pelos roteiristas Hans Janowitz e Karl Mayer (ou Carl). Inicialmente, o diretor escolhido foi Fritz Lang que não pôde levar o projeto adiante, deixando o filme para o diretor Robert Wiene. No processo de filmagem, o roteiro original foi alterado pelo diretor Robert Wiene, o que gerou um processo sobre o filme por parte dos roteiristas. A cena inicial e final não existiam no roteiro original e inverteu a mensagem que os roteiristas queriam passar.
Por conta dessa alteração, o filme se tornou conservador, no qual houve a alteração de uma determinada perspectiva de classe (dos roteiristas) que expressava o filme como uma produção cultural contestadora, que foi modificada para outra perspectiva de classe (do diretor), transformando-se em uma produção cultural conformista e conservadora.
Assim, o filme defende uma determinada concepção de ciência e autoridade. Os valores objetivados no filme são a autoridade e a ciência (particularmente, a psiquiatria) e o desvalor é a loucura, o irracional. Por trás disso, há um ideologema que está objetivado no filme, ao colocar a concepção de que a loucura e o irracional são maléficos e que a ciência e a autoridade são benéficas e que a loucura é acompanhada por alucinações e a ciência pela verdade. Portanto, os valores e concepções apresentados no filme são conservadores, perpassam determinados interesses de classes, os quais são contraditórios com a versão original dos roteiristas. As consequências sociais do filme são evidentes: deve-se respeitar a autoridade e ser conformista, por mais que se desconfie dela ou os loucos a denuncie.
--
Cf. Livro: Como Assistir um Filme? - Nildo Viana
Pearl Harbor
3.6 1,2K Assista Agora"Assim sendo, visto como aparentemente ingênuo, o filme Pearl Harbor – que atingiu uma bilheteria considerável no Brasil e no mundo – é um conjunto de valores axiológicos inautênticos. Os valores expressos pelo filme são aqueles que reforçam os interesses norte-americanos, tal como a proeminência do amor romântico, o que oculta a submissão feminina; o padrão ocidental de beleza apresentado na oposição “beleza americana” e “feiura japonesa”, a capacidade de renúncia em favor de alguém como um irmão (assim como aqueles que vão para a guerra renunciam a vida em favor de seus compatriotas), o patriotismo como valor fundamental e que une os diferentes (negros e brancos, por exemplo) e os semelhantes, criando uma “unidade nacional”; o papel da liderança (individual e nacional, já que os EUA, na produção cultural axiológica e ideológica, é o “líder mundial” e justiceiro universal), entre outros, revelam que o filme Pearl Harbor é uma produção fílmica axiológica. O patriotismo e o americanismo são os valores fundamentais repassados pelo filme."
--
Cf. depois Pearl Harbor, manifestações de valores axiológicos no cinema
Vampiros de Almas
3.9 157"Desta forma, é inquestionável que se trata de um filme anticonformista e que de forma alguma pode ser entendido como macartista. Da mesma forma, não é um filme antissoviético, a não ser no sentido vago de se considerar que o regime ditatorial russo era conformista e comandado por autoridades irracionais e, portanto, encaixando na crítica geral do conformismo, desumanização e insensibilidade reinantes. Isso significa, também, que não pode ser considerado anticomunista no sentido de ser antimarxista ou na concepção de comunismo de Marx e de todos aqueles que lutam por uma nova sociedade, fundada na igualdade e liberdade, algo bastante distinto do capitalismo estatal que vigorou na antiga URSS."
Cf. Blog Informe e Crítica, QUEM SÃO OS INVASORES? A CRÍTICA AO MARCARTISMO EM “VAMPIROS DE ALMAS”.
Corrosão - Ameaça Em Seu Corpo
2.4 42VITAMINAS E CORROSÃO DA SAÚDE
Corrosão – Ameaça em seu Corpo, dirigido por Philip Brophy, é uma produção independente australiana parecido ao filme A Coisa. A semelhança consiste em transformar um fenômeno cotidiano - um alimento, uma vitamina - em algo aterrorizador e, ainda, fazer crítica social. A história do uso de uma droga experimental por uma clínica de saúde promove mutação e desenvolvimento de um parasita que atinge até mesmo os seus funcionários. A busca de um corpo musculoso mostra as conseqüências nefastas da corpolatria e seu uso por aqueles que lucram com isso, de forma indiscriminada e independente dos males que pode causar. No filme, o que é proporcionado é a corrosão dos corpos das vítimas.
Cf. Cinema Manifestação Social, blogspot
As Aventuras do Barão Munchausen
3.9 111 Assista AgoraO Barão de Munchausen contra a Razão Instrumental
O filme dirigido por Terry Gilliam (o mesmo responsável pelos filmes de Monty Python), As Aventuras do Barão de Münchausen" (Inglaterra, 1988), oferece uma excelente abordagem do racionalismo e suas relações com o poder. O filme não apenas questiona a razão instrumental, mas tematiza a sua recusa da imaginação, dos sentimentos, do extraordinário e da utopia. Ao contrário da crítica irracionalista e pós-estruturalista, o que ocorre é um questionamento não da razão em geral, mas da razão instrumental, com sua ligação com o poder e o seu conservadorismo ("realismo"), que impede a luta e a mudança, e considerando o que escapa de seu estreito domínio como ameaçador, aceitando apenas o mediano, tal como na cena do soldado que realiza feitos extraordinários e é, por isso, condenado à morte. Isto ocorre apesar do soldado estar do mesmo lado do burocrata estatal, ou seja, do poder e da "pátria", que o burocrata supostamente "representa", sendo na verdade apenas uma moeda de troca, tal como se vê em seu jogo com o Califa. A burguesia também é criticada, pois o vulcão é um inferno-fábrica comandado por Vulcano, o deus-patrão, que é chamado de "burguês mal educado" por Vênus, a deusa da beleza.
Cf. Cinema Manifestação do social, blogspot
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraO filme expressa em sua mensagem que é possível, como demonstrado pela vida dessa família, um ser humano que não deixe de desenvolver suas potencialidades. Quando os/as filhos/as recusam a vida com seu avô, os privilégios financeiros de uma vida melhor e a ascensão social de classe, e retornam à vida comunitária com seu pai, mantém ainda a dignidade, mesmo que de maneira limitada, de preservar os seus valores autênticos. Serem solidários verdadeiramente com o próximo, desenvolver o conhecimento, o pensamento e controlar a sua vida, autonomamente, sem a necessidade de ilusões e controle exterior.
O filme é assim “fantástico”, por apresentar elementos críticos dessa sociedade,e
pelo seu ideal (utópico abstrato) ao expressar algumas potencialidades humanas
autênticas (solidariedade, amor, amizade) que foram desenvolvidas dentro de uma
essência humana, mas que ainda não conseguem serem plenas, devido à maneira que os
seres humanos existem concretamente na sociedade capitalista.
Fim dos Tempos
2.5 1,4K Assista Agora"O que se nota no filme é a tematização da revolta da natureza provocada pela ação humana e por isso se volta contra ela. A toxina responsável pela perda da vontade de viver é uma substância produzida pelas plantas em sinal de defesa contra a ameaça humana. Assim, a força misteriosa que provoca a morte de milhares de pessoas é a "natureza", ou melhor, parte dela, para ser mais exato, as plantas. O local mais atingido é justamente onde se faz experiências com armas nucleares.
Sem dúvida, retirando o esoterismo presente, que demonstra que o roteirista deixa a desejar em matéria de compreensão do que está por trás da degradação ambiental e dos atuais problemas sociais que a provoca, a intenção é boa, já que a idéia é denunciar as conseqüências disto e a possibilidade de evitar "o acontecimento" (título original do fime). Porém, as limitações formais e a falta de profundidade de conteúdo, além do esoterismo, prejudicam o filme. A idéia apresentada pelo aluno no início, segundo a qual há coisas inexplicáveis na natureza, o que é repetido por um cientista no final do filme. O problema mais grave com a mensagem está em não perceber que o esotérico, o misterioso, realmente é ameaçador, mas se fica nesse nível "inexplicável", reforça a ignorância e o imobilismo, pois medo e ignorância são imobilizadores, e a questão ambiental precisa ser mobilizadora."
Cf. Cinema e Manifestação Social, O Fim dos Tempos ou a Revolta da Natureza?
A Grande Ilusão
4.1 54 Assista Agora"No fundo, o que o filme faz é mostrar "a politica como ela é", para parafrasear Nélson Rodrigues. O processo de corrupção, ambição, luta pelo poder e todos os elementos constituintes da luta política institucional, estão presentes e revelam aquilo que muitos não percebem ao apenas ouvir os discursos ou ver o que é repassado pelos meios oligopolistas de comunicação. Também mostra, o que não é novidade para nenhum brasileiro atento, que os indívíduos de origem humilde se corrompem com a mesma facilidade que qualquer outro. Como já dizia Robert Michels, os partidos políticos são criadores de novos burocratas e políticos profissionais, e recruta grande parte deles nas classes exploradas. Assim, o filme é uma verdadeira aula do que é a política institucional, o processo eleitoral e os governantes."
Cf. Cinema e Manifestação Social, "A Grande Ilusão" ou A Política Como Ela É