O choque entre a vida nômade e o american way of life - ou, off society vs on society - foram, para mim, o ponto alto do filme - com destaque para a melhor sequencia: Fern abandonando o quarto em uma casa enorme e indo para o aconchego de sua van(guarda). Outro ponto positivo fica para o tom oral nas partes em que os nômades se reúnem e compartilham sua opiniões e historias de vida; a narrativa visual "documental" - ou naturalista - funciona muito bem nesses blocos.
Por outro lado, o uso de closes e a imposição contemplativa que tenta nos aproximar da protagonista, acabou me desagradando em vários momentos, soando como um exercício de linguagem vazio.
Não sei quem é mais corajoso: a Universal por dar uma obra de tamanho calibre nas mãos de um diretor experimentalista; ou Gus Van Sant em aceitar dirigir tal obra. De qualquer forma, o saldo foi positivo.
Gostei de como Van Sant respeita a obra original, praticamente repetindo os mesmos planos, mas, em vários momentos coloca novos elementos que alteram nossa percepção do clássico de 1960 - por ex: a bunda do Sam no inicio; a masturbação de Norman; e os ruídos e vozes na trilha.
Ação e reação. Um filme sobre o passado, a saudade e a nostalgia que praticamente não utiliza flashbacks para impactar o espectador - o único flashback é apenas para resolver um "problema" da narrativa. A ação da protagonista de se livrar dos objetos que pertencem ao seu passado, desencadeia uma gama de reações que, graças aos planos estaticos que focam nas expressividade dos atores - planos esses que nem sempre são close ups; uma demonstração do controle de pontos focais do diretor - aproximam e resultam na identificação do espectador.
A ação de ver uma foto antiga, de um momento especial, resulta numa reação que é cara a qualquer humano que ja teve essa experiencia. E Nawapol consegue transmitir isso.
Se não fossem os creditos iniciais, pensaria que se tratava de um "Spike Lee Joint". Com certeza Shaka King se inspirou no cinema do Lee, e nos entregou uma biografia nervosa, com um grande foco na expressividade dos seus atores (Kaluuya e Lakeith são dois dos atores mais expressivos do mainstream atualmente).
Embora com uma tematica necessaria (e, ainda hoje, atual), não traz nenhuma novidade no ambito formal (a semelhança com Spike Lee prova isso). Mesmo a inserção documental do encerramento soa clichê.
João Moreira Salles desabafa seus abortos criativos da primeira versão do doc - que seria muito estilizado, por sinal - e suas decepções com o material bruto que lhe restou; uma sinceridade que demonstra a insatisfação do autor à imposição formal do processo criativo de um filme.
Por outro lado, fiquei pensando durante o filme em como Santiago estaria perpetuando ali o ato de "estar a serviço de um Salles" - o que fez durante trinta anos de sua vida. A maturidade, a revisão, e a melancolia de João, deram a ele a oportunidade de enxergar, e a coragem de se autocriticar pela arrogância de "invadir" o espaço de outrem em busca de extrair o seu passado sem lhe dar o mínimo de liberdade.
Liberdade. Talvez seja o que faltou para João. Liberdade que Santiago alcançou em sua imaginação, e que, no processo fílmico, o diretor falhou em sequer cogitar.
A referência à Ozu, um diretor rígido que retratava uma cultura igualmente rígida, é reveladora.
Se por um lado, Salles alcança a melancolia que buscava, por outro, sua insatisfação verbalizada é o que engrandece o documentário.
"Quando o homem nasce, é fraco e flexível; quando morre é impassível e duro. Quando uma árvore nasce, é tenra e flexível; quando se torna seca e dura, ela morre. A dureza e a força são atributos da morte; a flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser. Por isso, quem endurece, nunca vencerá…” - dialogo do filme Stalker, de Andrei Tarkovski.
A dureza dos personagens, em destaque para a protagonista, Gertrud, é evidente desde o olhar vago e inexpressivo, até para os movimentos corporais que aparentam ser calculados. Essa dureza, que aqui seria resultado da morte do amor romantico, é ainda denunciada pelo seu contrario, a leveza expressada pela lembrança de Gertrud em seu relacionamento com o poeta Gabriel. Um suspiro de vida toma conta do filme, e nós podemos ver um lado da personagem até então desconhecido. A solidão que ela se impõe, e a sua morte pós despedida, demonstram, talvez de forma simbólica (sino), que a reação e a escolhas de Gertrud ao longo se suas decepções, ao invés de liberta-la, causaram seu próprio sepultamento - uma espécie de "suicidio" sentimental e comportamental.
Por um lado, a montagem consegue evidenciar a trama mais importante do filme: a de Michael Corleone. Se, na primeira versão, temos um enredo bem diluído que alterna entre as tramas de Michael e Vincent (o passado e o futuro dos Corleone), na nova versão, Coppola resolveu focar nas últimas causas que trarão ao padrinho suas consequências finais. A ideia é plausível e bem executada em vários momentos - o início, por exemplo, indo direto para a negociação entre Michael e o Bispo, foi um acerto - porém, a montagem também tem seus problemas. As elipses seriam minha crítica principal. Os saltos temporais através de cortes secos por vezes me fez sentir como se assistisse a um filme de máfia comum; a elegância e a cadência rítmica da unidade presente na trilogia, aqui, se perde em alguns momentos. Isso sem contar um corte que foi um tanto confuso: Michael está na Sicília, de repente, o corte vai para uma cena em que ele entrega uma folha para o filho, com um desenho feito pelo mesmo quando criança. O início dessa sequência já havia acontecido - Michael pede para a filha se afastar de Vincent -, e a ordem que a cena aparece aqui, não tem nenhum sentido na narrativa, a não ser o de tentar emocionar o espectador - o que na versão original funciona bem, aqui se torna forçado. A essência do filme continua lá, porém, a tentativa de dar um novo olhar ao desfecho da história de Michael, me pareceu um exercício preguiçoso. Bem, no fim das contas, fico feliz por ainda pertencer ao grupo de pessoas que gostam do capítulo final desta grande trilogia.
De uns tempos pra cá, eu, que sou morador da periferia, venho notando a importância da paisagem na vida humana. O horizonte como escape, principalmente para pessoas de perfil contemplativo ou com uma sensibilidade que lhes dão acesso à essa necessidade ocular - penso que a protagonista, interpretada por Kim Min-hee, se encaixe nesse perfil -, sendo assim, a paisagem não serviria como um remédio para os problemas do mundo (caso contrário, o Rio de Janeiro seria a terra prometida), mas sim, como um paliativo subjetivo para um nicho; uma fuga da opressão na civilização moderna.
Em A Mulher que Foge, Hong Sang-soo ilustra isso através das janelas e de uma tela. A protagonista, Gam-hee, visita amigas num raro momento em que está longe do marido. - A primeira amiga, recém divorciada, vive numa casa de design moderno, mas com uma vista para a montanha. Gam-hee, num momento em que está só, abre uma janela e contempla o horizonte. - A segunda amiga, uma artista solitária, também mora numa casa moderna e com uma vista bem destacada - como uma pintura - para uma montanha. Num dado momento, a protagonista mal espera a saída da anfitriã e salta para a janela. - A terceira amiga está no local de trabalho - uma espécie de café que abriga um cinema e um espaço para atividades artísticas. Gam-hee, seguindo a recomendação da amiga, vai a sala de cinema e assiste a exibição de um filme. Na terceira "janela", vemos apenas um plano geral extremo, e de longa duração, do mar. A protagonista volta, tem uma conversa tensa com um possível ex companheiro, e, ao sair do local, ela para, e o plano que a enquadra faz com que o ambiente da metrópole tome conta do quadro, destacando a ausência de paisagem no entorno. Gam-hee volta, entra novamente na sala de cinema, e, talvez, tenha o seu último suspiro antes de voltar à rotina (esse foi o meu, pelo menos): a fuga através da paisagem.
Raso até o ultimo fio de cabelo da barba do Clooney.
O filme se apoia numa sensorialidade que, pelo menos pra mim, foi indiferente. Os blocos sensoriais, junto ao conteúdo que o intervém, fazem uma combinação que resulta numa obra soporífera.
Por conta da forma como o som é usado aqui - alternando entre o interior o exterior do protagonista - tive uma experiência conflitante durante o filme:
- a agonia, de quando o filme nos coloca no plano sensorial, sentindo a dimensão interior do Ruben (os melhores momentos, cinematograficamente falando).
- a partir do momento que a surdez aparece, essa alternância me fez sentir como um "voyeur" que saboreia um pudim enquanto assiste a derrocada de uma pessoa. Isso também é reforçado pelo uso dos planos fechados - me lembrou os programas de tv que buscam sempre o olhar num momento de emoção para impactar o espectador, seja esse momento feliz ou não. Outro ponto: num filme sobre surdez, temos um plano aberto numa mata, com um som muito nítido e característico desse ambiente, e duas pessoas surdas andando pelo local; isso daria margem para alguém pensar que, diferente daquelas pessoas, tem a dádiva de poder ouvir a natureza que os cerca?
Esse conflito poderia não ter acontecido se o filme realmente quisesse abordar a temática a que se refere, e, aderisse ao plano interior do personagem em sua totalidade - o que, talvez, levaria a obra para o lado experimental; uma ousadia que os produtores preferiram se abster.
No fim, Sound of Metal apresenta uma dramaturgia melodramática que se sai bem na fórmula, mas que é confuso na forma.
Buñuel conseguiu uma façanha: ser um diretor burguês que retrata a relação entre periféricos de forma cruelmente realista - diferente de outros, que preferem mostrar uma periferia romanticamente inverossímil.
Realismo e onirismo - um jovem covardemente agredido e roubado; e um ovo jogado em nosso rosto. Buñuel equilibra o real e o surreal, e mostra que, nem no campo físico, nem no inconsciente, há escape para os esquecidos.
Somos imergidos nesse universo e acompanhamos a vida de Cookie, sua relação sensível com a vegetação, e com o ambiente hostil que o cerca - tanto pelos homens violentos, tanto por lobos. A sensibilidade de Cookie é visível, e destoa de seus semelhantes; o protagonista - que está sempre se mudando - parece estar constantemente numa fuga implícita daquele ambiente, indo na contramão dos homens que visam ascender naquele contexto social. Mas, é claro, ninguém é imune a psicopatia alheia, e, num dado momento, a violência vem de encontro ao fugitivo.
Kelly Reichardt parece buscar um "hiper" naturalismo; ela nem sequer chega a fazer um movimento de câmera, optando por planos rigorosamente estáticos. Desde um homem caminhando em meio a mata, uma simples ordenha, ou um personagem que prova um bolinho, todas essas ações simples são valorizadas pela excelente captação de som, que, além de nos fazer contemplar essas ações, também fará a conexão homem-natureza - conexão essa que, passa pelo encanto inicial; estabelece uma relação de fuga; e, no final, será uma armadilha; porém, a conexão nunca se perde.
As ruínas alemãs; as ruínas sociais; as ruínas da infância.
A dureza permeia a obra: seja na fotografia, que valoriza os prédios destruídos, e as pedras que permeiam o lugar; seja nas atuações que, mesmo teatrais, não conseguem passar um realismo sentimental, ficando sempre na superfície da tentativa; e os vários personagens que entram e saem rapidamente, apenas dando nos uma síntese e uma contextualização daquele espaço, sem nos dar a chance de nos apegarmos a eles. Isso sem falar, é claro, da derradeira cena final, onde Rosselini amarra tudo isso, e deixa o sentimentalismo para nós, espectadores, em frente a uma tela escura.
Durante o filme, pensava em quantos "Alemanha Ano Zero" daria pra fazer no Brasil de 2020...
De Sica pesca seu protagonista em meio a multidão, lhe dá uma bicicleta, e, graças ao tom profético do titulo - o melhor uso de titulo que já vi -, nos deixa em tensão constante pelo futuro prenunciado.
A forma como o diretor trabalhou o suspense implícita e explicitamente - o primeiro, na sequência em que Antonio vai buscar Maria na vidente e deixa sua bicicleta sob a vigia de desconhecidos. Quando volta, a descida da escada angústia o espectador que teme o possível roubo da bicicleta (efeito dado pelo titulo do filme), e, sabendo disso, De Sica, sem qualquer uso dos elementos sonoros para nos alardear, faz um leve movimento de câmera, abre o quadro, e mostra o guidão, o que nos trás um breve momento do alivio. O suspense explicito está, por exemplo, no possível afogamento de Bruno, e no eminente roubo de Antonio -, não é apenas uma aula de narrativa, mas também o retrato da Itália pós guerra, onde suspense e sobrevivência eram sinônimos - bom, pelo menos por uma parte da população; haviam aqueles que ganhavam 1mi por mês e conseguiam fazer uma refeição farta nos restaurantes mais caros. Ao final, nosso peixe é devolvido ao cardume; devolvido ao mar de inconsistências sociais de sua época.
Surrealismo estéril; parece gritar o tempo todo "INTERPRETE-ME, INTERPRETE-ME". Para quem gosta de procurar significados em piões girando, ou de correr para os videos explicados do Youtube pós sessão, deve ser um espetáculo.
Gostei do trabalho de steadicam; consegue preencher e nos localizar na dimensão espacial.
Penso que o mais desafiador ao criar uma distopia seja estabelecer o ambiente e o contexto histórico ficcional. Idiocracia consegue isso graças ao uso "decente" do voice over. O recurso, em alguns momentos - como em quase todos os filmes que usam o V.O - exagera, caindo na descrição do que vemos na tela; o que me leva a pensar: seria um erro de direção, ou o narrador está explicando coisas claras para espectadores idiotas?
O problema em Interestelar está em parte do publico (e criticos) que leva, ou, na epoca do lançamento, esperava leva-lo a sério. Trata-se apenas de um soft sci-fi melodramatico que encena, em alguns momentos, uma seriedade fria, propria da ciencia, em contraste aos momentos em que descamba para o lado emocional, "humano". Quando Brand diz - em meio a uma galaxia desconhecida, em um momento critico - que as escolhas a partir dali deveriam ser tomadas com base no amor, no mundo real, ela seria tão perigosa para a tripulação quanto o monstro em Alien; mas, no universo criado pelos Nolans, é a decisão correta a ser tomada.
Os problemas de verossimilhança e exposição sao perceptiveis e desanimadores; porém, sao frutos de decisoes dos tao idolatrados estudios hollywoodianos que sabem que o seu publico nao pode sair da sala em suspensao; nao há espaço para duvidas. No fim, os irmaos tem de estarem satisfeitos por conseguirem realizar uma obra dessa magnitude na Hollywood atual.
Interestelar desagrada leitores assiduos de Asimov; mas aquece os corações frios dos fãs de 2001.
Ver este filme nos anos 60 teria sido uma experiencia unica para mim, não só pelo filme em si, mas pela imersão a um ambiente cujo qual nunca tive contato em minha vida. Hoje, no ano de 2020, varias obras, de ficção e documentario, ja foram feitas sobre esta tematica e problematica. Com isso, alguns momentos do filme me cansaram, e me fizeram pensar: "hum.. eu ja vi isso antes". Uma sequencia que, para mim, foi ruim, é a sequencia da familia na cidade. A teatralidade desta me tirou do filme por alguns minutos. Por outro lado, a abordagem realista de Nelson Pereira dos Santos, e a cinematografia de Luiz Carlos Barreto e José Rosa, trazem, com perfeição, toda a aridez e calor do sertão. As cenas de impacto fazem com que o filme se torne atemporal - as cenas com a cadela Baleia estão entre as melhores atuações de animais que ja vi; e a sequencia do inferno por si só ja daria um belo curta metragem.
Não é de hoje que anti-heróis nos causam uma certa empatia, grandes personagens como Walter White, Tony Soprano e Coringa, são exemplos modernos de "vilões" que causaram uma atração positiva com o publico. Se com Walter (ou Heinsenberg) e Coringa nos compreendemos suas motivações de provação e revolta para com a sociedade, Tony Soprano é a personificação do poder e respeito - impresso até em seu corpo. Em Uncut Gems, Howard, um homem de meia idade, judeu, e vendedor de jóias, nos leva a uma viagem rítmica, acelerada e caótica por suas ultimas horas de vida. Diferente dos personagens citados anteriormente, aqui o protagonista lida com vicio em cifras, e sua busca pelo milhão de dólares. Empréstismo atrasado; apostas inconsequentes; penhoras; impulsividade; tudo isso faz parte da rotina desse homem, que tem um prazer quase orgamisco em ganhar dinheiro de forma arriscada. A maior façanha, e, talvez, o seu maior defeito, seja o seu carisma. É difícil escapar do campo gravitacional de Howard; sua amante; sua esposa; Kevin Garnett; Arno; e até mesmo o filho; todos estão ou ficaram presos em sua personalidade manipuladora, perfeitamente interpretada por Adam Sandler. Yussi e Demany são os únicos que conseguem escapar, e, o segundo, nos da a amostra do futuro que aguarda nosso protagonista - o aquário tomado pela cor vermelha numa tentativa contra a vida dos peixes (animais que simbolizam a vida na religião cristã); Howard encerra o filme com seu rosto tomado pelo vermelho de seu sangue. Os irmãos Safdie foram felizes em mais uma realização, e se consolidam cada vez mais no cenário cinematográfico. Eu costumo tirar um tempo para contemplação após ver um filme; para refletir sobre. Mas, depois de ver Uncut Gems, não consegui. Talvez o ritmo acelerado, o andar de Howard, e a sua personalidade, tenham me atraído também.
Num bairro periférico na Coreia do Sul, Wifi e smartphones abrem com o primeiro problema de uma familia pobre sul coreana: a conexão com a internet; talvez, montar caixas de pizza resolva na renda da familia e ajude a pagar o wifi. A lingua inglesa é a peça fundamental para a infiltração da familia pobre numa mansão sul coreana. Enquanto o filho, chamado de Kevin, ajuda a ensinar o idioma para a primogenita dos milionarios, a filha, chamada de Jéssica, trabalha com o menino prodigio da familia rica: uma criança que apresenta uma desenvoltura para o desenho, e ja é visto pela mãe como um grande artista; além disso, após iniciar no escotismo, fica fascinado pela cultura indigena e ganha uma fantasia importada dos EUA. A professora de arte do pequeno Da-song faz uso do Google para determinar a psicologia do pequeno artista. O pai trabalha como motorista da familia e dirige um Mercedes Benz; é ele que, na trama para derrubar a antiga governanta da casa, coloca ketchup de tomate (inventado nos EUA) num papel, o que irá confirmar o que a patroa ja desconfiava: a governanta está com tuberculose. É ele também que apresenta o cartão da empresa The Care, agência ficticia que irá colocar sua esposa no posto mais importante da hierarquia entre os empregados da mansão. A nova governanta sente o peso do cargo quando precisa preparar um Ram-Don. Ao fim do filme, assim como o Mercedes Benz, alemães são os novos proprietarios da mansão, após um evento terrivel que acometeu ambas as familias
Recentemente assisti ao documentario They Shall Not Grow Old, que, através de relatos de soldados que serviram em sua juventude, precocemente, na primeira grande guerra. Se, através de narrações, o filme de Peter Jackson consegue transmitir todo a rotina distorcida vivida por aqueles homens, em 1917, Sam Mendes entrega uma obra que, em seu visual, consegue nos passar o horror da guerra de forma intimista, brutalmente detalhista.
Dois jovens soldados que são retirados do "colo" da mãe natureza; um jovem soldado que, entre outros objetivos, precisa enviar uma carta a uma mãe que ainda tem esperança de ver os dois filhos vivos no fim da batalha; um jovem soldados que precisa virar as costas mais uma vez e deixar uma mãe que implora por sua presença; um jovem soldado que enfrenta uma batalha interna e externa, vida e sanidade, para a conquista de um breve momento de paz, de volta ao colo da mãe.
Nomadland
3.9 896 Assista AgoraO choque entre a vida nômade e o american way of life - ou, off society vs on society - foram, para mim, o ponto alto do filme - com destaque para a melhor sequencia: Fern abandonando o quarto em uma casa enorme e indo para o aconchego de sua van(guarda). Outro ponto positivo fica para o tom oral nas partes em que os nômades se reúnem e compartilham sua opiniões e historias de vida; a narrativa visual "documental" - ou naturalista - funciona muito bem nesses blocos.
Por outro lado, o uso de closes e a imposição contemplativa que tenta nos aproximar da protagonista, acabou me desagradando em vários momentos, soando como um exercício de linguagem vazio.
Psicose
3.1 467 Assista AgoraNão sei quem é mais corajoso: a Universal por dar uma obra de tamanho calibre nas mãos de um diretor experimentalista; ou Gus Van Sant em aceitar dirigir tal obra. De qualquer forma, o saldo foi positivo.
Gostei de como Van Sant respeita a obra original, praticamente repetindo os mesmos planos, mas, em vários momentos coloca novos elementos que alteram nossa percepção do clássico de 1960 - por ex: a bunda do Sam no inicio; a masturbação de Norman; e os ruídos e vozes na trilha.
Happy Old Year
4.0 46Ação e reação. Um filme sobre o passado, a saudade e a nostalgia que praticamente não utiliza flashbacks para impactar o espectador - o único flashback é apenas para resolver um "problema" da narrativa. A ação da protagonista de se livrar dos objetos que pertencem ao seu passado, desencadeia uma gama de reações que, graças aos planos estaticos que focam nas expressividade dos atores - planos esses que nem sempre são close ups; uma demonstração do controle de pontos focais do diretor - aproximam e resultam na identificação do espectador.
A ação de ver uma foto antiga, de um momento especial, resulta numa reação que é cara a qualquer humano que ja teve essa experiencia. E Nawapol consegue transmitir isso.
Judas e o Messias Negro
4.1 517 Assista AgoraSe não fossem os creditos iniciais, pensaria que se tratava de um "Spike Lee Joint". Com certeza Shaka King se inspirou no cinema do Lee, e nos entregou uma biografia nervosa, com um grande foco na expressividade dos seus atores (Kaluuya e Lakeith são dois dos atores mais expressivos do mainstream atualmente).
Embora com uma tematica necessaria (e, ainda hoje, atual), não traz nenhuma novidade no ambito formal (a semelhança com Spike Lee prova isso). Mesmo a inserção documental do encerramento soa clichê.
Santiago
4.1 134A angústia do processo fílmico. O diretor como um refém do formalismo, e, Santiago, refém da subserviência.
João Moreira Salles desabafa seus abortos criativos da primeira versão do doc - que seria muito estilizado, por sinal - e suas decepções com o material bruto que lhe restou; uma sinceridade que demonstra a insatisfação do autor à imposição formal do processo criativo de um filme.
Por outro lado, fiquei pensando durante o filme em como Santiago estaria perpetuando ali o ato de "estar a serviço de um Salles" - o que fez durante trinta anos de sua vida. A maturidade, a revisão, e a melancolia de João, deram a ele a oportunidade de enxergar, e a coragem de se autocriticar pela arrogância de "invadir" o espaço de outrem em busca de extrair o seu passado sem lhe dar o mínimo de liberdade.
Liberdade. Talvez seja o que faltou para João. Liberdade que Santiago alcançou em sua imaginação, e que, no processo fílmico, o diretor falhou em sequer cogitar.
A referência à Ozu, um diretor rígido que retratava uma cultura igualmente rígida, é reveladora.
Se por um lado, Salles alcança a melancolia que buscava, por outro, sua insatisfação verbalizada é o que engrandece o documentário.
Gertrud
4.1 33"Quando o homem nasce, é fraco e flexível; quando morre é impassível e duro. Quando uma árvore nasce, é tenra e flexível; quando se torna seca e dura, ela morre. A dureza e a força são atributos da morte; a flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser. Por isso, quem endurece, nunca vencerá…” - dialogo do filme Stalker, de Andrei Tarkovski.
A dureza dos personagens, em destaque para a protagonista, Gertrud, é evidente desde o olhar vago e inexpressivo, até para os movimentos corporais que aparentam ser calculados. Essa dureza, que aqui seria resultado da morte do amor romantico, é ainda denunciada pelo seu contrario, a leveza expressada pela lembrança de Gertrud em seu relacionamento com o poeta Gabriel. Um suspiro de vida toma conta do filme, e nós podemos ver um lado da personagem até então desconhecido.
A solidão que ela se impõe, e a sua morte pós despedida, demonstram, talvez de forma simbólica (sino), que a reação e a escolhas de Gertrud ao longo se suas decepções, ao invés de liberta-la, causaram seu próprio sepultamento - uma espécie de "suicidio" sentimental e comportamental.
O Poderoso Chefão - Desfecho: A Morte de Michael Corleone
4.2 25Essa versão me despertou um sentimento misto:
Por um lado, a montagem consegue evidenciar a trama mais importante do filme: a de Michael Corleone. Se, na primeira versão, temos um enredo bem diluído que alterna entre as tramas de Michael e Vincent (o passado e o futuro dos Corleone), na nova versão, Coppola resolveu focar nas últimas causas que trarão ao padrinho suas consequências finais.
A ideia é plausível e bem executada em vários momentos - o início, por exemplo, indo direto para a negociação entre Michael e o Bispo, foi um acerto - porém, a montagem também tem seus problemas. As elipses seriam minha crítica principal. Os saltos temporais através de cortes secos por vezes me fez sentir como se assistisse a um filme de máfia comum; a elegância e a cadência rítmica da unidade presente na trilogia, aqui, se perde em alguns momentos. Isso sem contar um corte que foi um tanto confuso: Michael está na Sicília, de repente, o corte vai para uma cena em que ele entrega uma folha para o filho, com um desenho feito pelo mesmo quando criança. O início dessa sequência já havia acontecido - Michael pede para a filha se afastar de Vincent -, e a ordem que a cena aparece aqui, não tem nenhum sentido na narrativa, a não ser o de tentar emocionar o espectador - o que na versão original funciona bem, aqui se torna forçado.
A essência do filme continua lá, porém, a tentativa de dar um novo olhar ao desfecho da história de Michael, me pareceu um exercício preguiçoso.
Bem, no fim das contas, fico feliz por ainda pertencer ao grupo de pessoas que gostam do capítulo final desta grande trilogia.
A Mulher que Fugiu
3.6 36A paisagem como fuga
De uns tempos pra cá, eu, que sou morador da periferia, venho notando a importância da paisagem na vida humana. O horizonte como escape, principalmente para pessoas de perfil contemplativo ou com uma sensibilidade que lhes dão acesso à essa necessidade ocular - penso que a protagonista, interpretada por Kim Min-hee, se encaixe nesse perfil -, sendo assim, a paisagem não serviria como um remédio para os problemas do mundo (caso contrário, o Rio de Janeiro seria a terra prometida), mas sim, como um paliativo subjetivo para um nicho; uma fuga da opressão na civilização moderna.
Em A Mulher que Foge, Hong Sang-soo ilustra isso através das janelas e de uma tela. A protagonista, Gam-hee, visita amigas num raro momento em que está longe do marido.
- A primeira amiga, recém divorciada, vive numa casa de design moderno, mas com uma vista para a montanha. Gam-hee, num momento em que está só, abre uma janela e contempla o horizonte.
- A segunda amiga, uma artista solitária, também mora numa casa moderna e com uma vista bem destacada - como uma pintura - para uma montanha. Num dado momento, a protagonista mal espera a saída da anfitriã e salta para a janela.
- A terceira amiga está no local de trabalho - uma espécie de café que abriga um cinema e um espaço para atividades artísticas. Gam-hee, seguindo a recomendação da amiga, vai a sala de cinema e assiste a exibição de um filme. Na terceira "janela", vemos apenas um plano geral extremo, e de longa duração, do mar. A protagonista volta, tem uma conversa tensa com um possível ex companheiro, e, ao sair do local, ela para, e o plano que a enquadra faz com que o ambiente da metrópole tome conta do quadro, destacando a ausência de paisagem no entorno. Gam-hee volta, entra novamente na sala de cinema, e, talvez, tenha o seu último suspiro antes de voltar à rotina (esse foi o meu, pelo menos): a fuga através da paisagem.
O Céu da Meia-Noite
2.7 510Raso até o ultimo fio de cabelo da barba do Clooney.
O filme se apoia numa sensorialidade que, pelo menos pra mim, foi indiferente. Os blocos sensoriais, junto ao conteúdo que o intervém, fazem uma combinação que resulta numa obra soporífera.
O Som do Silêncio
4.1 986 Assista AgoraPor conta da forma como o som é usado aqui - alternando entre o interior o exterior do protagonista - tive uma experiência conflitante durante o filme:
- a agonia, de quando o filme nos coloca no plano sensorial, sentindo a dimensão interior do Ruben (os melhores momentos, cinematograficamente falando).
- a partir do momento que a surdez aparece, essa alternância me fez sentir como um "voyeur" que saboreia um pudim enquanto assiste a derrocada de uma pessoa. Isso também é reforçado pelo uso dos planos fechados - me lembrou os programas de tv que buscam sempre o olhar num momento de emoção para impactar o espectador, seja esse momento feliz ou não.
Outro ponto: num filme sobre surdez, temos um plano aberto numa mata, com um som muito nítido e característico desse ambiente, e duas pessoas surdas andando pelo local; isso daria margem para alguém pensar que, diferente daquelas pessoas, tem a dádiva de poder ouvir a natureza que os cerca?
Esse conflito poderia não ter acontecido se o filme realmente quisesse abordar a temática a que se refere, e, aderisse ao plano interior do personagem em sua totalidade - o que, talvez, levaria a obra para o lado experimental; uma ousadia que os produtores preferiram se abster.
No fim, Sound of Metal apresenta uma dramaturgia melodramática que se sai bem na fórmula, mas que é confuso na forma.
Os Esquecidos
4.3 109Buñuel conseguiu uma façanha: ser um diretor burguês que retrata a relação entre periféricos de forma cruelmente realista - diferente de outros, que preferem mostrar uma periferia romanticamente inverossímil.
Realismo e onirismo - um jovem covardemente agredido e roubado; e um ovo jogado em nosso rosto. Buñuel equilibra o real e o surreal, e mostra que, nem no campo físico, nem no inconsciente, há escape para os esquecidos.
O Declínio do Império Americano
3.8 82 Assista AgoraUm filme onde os diálogos se sobressaem; e há um jogo de imagens bem óbvio.
Ponto positivo para a forma com que os temas foram distribuídos em blocos, ajudando na compreensão do espectador.
First Cow: A Primeira Vaca da América
3.8 131 Assista AgoraA relação complexa entre os homens, e sua conexão com a natureza.
Somos imergidos nesse universo e acompanhamos a vida de Cookie, sua relação sensível com a vegetação, e com o ambiente hostil que o cerca - tanto pelos homens violentos, tanto por lobos.
A sensibilidade de Cookie é visível, e destoa de seus semelhantes; o protagonista - que está sempre se mudando - parece estar constantemente numa fuga implícita daquele ambiente, indo na contramão dos homens que visam ascender naquele contexto social. Mas, é claro, ninguém é imune a psicopatia alheia, e, num dado momento, a violência vem de encontro ao fugitivo.
Kelly Reichardt parece buscar um "hiper" naturalismo; ela nem sequer chega a fazer um movimento de câmera, optando por planos rigorosamente estáticos. Desde um homem caminhando em meio a mata, uma simples ordenha, ou um personagem que prova um bolinho, todas essas ações simples são valorizadas pela excelente captação de som, que, além de nos fazer contemplar essas ações, também fará a conexão homem-natureza - conexão essa que, passa pelo encanto inicial; estabelece uma relação de fuga; e, no final, será uma armadilha; porém, a conexão nunca se perde.
Alemanha, Ano Zero
4.3 92As ruínas alemãs; as ruínas sociais; as ruínas da infância.
A dureza permeia a obra: seja na fotografia, que valoriza os prédios destruídos, e as pedras que permeiam o lugar; seja nas atuações que, mesmo teatrais, não conseguem passar um realismo sentimental, ficando sempre na superfície da tentativa; e os vários personagens que entram e saem rapidamente, apenas dando nos uma síntese e uma contextualização daquele espaço, sem nos dar a chance de nos apegarmos a eles. Isso sem falar, é claro, da derradeira cena final, onde Rosselini amarra tudo isso, e deixa o sentimentalismo para nós, espectadores, em frente a uma tela escura.
Durante o filme, pensava em quantos "Alemanha Ano Zero" daria pra fazer no Brasil de 2020...
Ladrões de Bicicleta
4.4 534 Assista AgoraDe Sica pesca seu protagonista em meio a multidão, lhe dá uma bicicleta, e, graças ao tom profético do titulo - o melhor uso de titulo que já vi -, nos deixa em tensão constante pelo futuro prenunciado.
A forma como o diretor trabalhou o suspense implícita e explicitamente - o primeiro, na sequência em que Antonio vai buscar Maria na vidente e deixa sua bicicleta sob a vigia de desconhecidos. Quando volta, a descida da escada angústia o espectador que teme o possível roubo da bicicleta (efeito dado pelo titulo do filme), e, sabendo disso, De Sica, sem qualquer uso dos elementos sonoros para nos alardear, faz um leve movimento de câmera, abre o quadro, e mostra o guidão, o que nos trás um breve momento do alivio. O suspense explicito está, por exemplo, no possível afogamento de Bruno, e no eminente roubo de Antonio -, não é apenas uma aula de narrativa, mas também o retrato da Itália pós guerra, onde suspense e sobrevivência eram sinônimos - bom, pelo menos por uma parte da população; haviam aqueles que ganhavam 1mi por mês e conseguiam fazer uma refeição farta nos restaurantes mais caros.
Ao final, nosso peixe é devolvido ao cardume; devolvido ao mar de inconsistências sociais de sua época.
1,99 - Um Supermercado Que Vende Palavras
3.2 105Surrealismo estéril; parece gritar o tempo todo "INTERPRETE-ME, INTERPRETE-ME".
Para quem gosta de procurar significados em piões girando, ou de correr para os videos explicados do Youtube pós sessão, deve ser um espetáculo.
Gostei do trabalho de steadicam; consegue preencher e nos localizar na dimensão espacial.
Idiocracia
3.1 588Penso que o mais desafiador ao criar uma distopia seja estabelecer o ambiente e o contexto histórico ficcional. Idiocracia consegue isso graças ao uso "decente" do voice over. O recurso, em alguns momentos - como em quase todos os filmes que usam o V.O - exagera, caindo na descrição do que vemos na tela; o que me leva a pensar: seria um erro de direção, ou o narrador está explicando coisas claras para espectadores idiotas?
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraO problema em Interestelar está em parte do publico (e criticos) que leva, ou, na epoca do lançamento, esperava leva-lo a sério. Trata-se apenas de um soft sci-fi melodramatico que encena, em alguns momentos, uma seriedade fria, propria da ciencia, em contraste aos momentos em que descamba para o lado emocional, "humano".
Quando Brand diz - em meio a uma galaxia desconhecida, em um momento critico - que as escolhas a partir dali deveriam ser tomadas com base no amor, no mundo real, ela seria tão perigosa para a tripulação quanto o monstro em Alien; mas, no universo criado pelos Nolans, é a decisão correta a ser tomada.
Os problemas de verossimilhança e exposição sao perceptiveis e desanimadores; porém, sao frutos de decisoes dos tao idolatrados estudios hollywoodianos que sabem que o seu publico nao pode sair da sala em suspensao; nao há espaço para duvidas. No fim, os irmaos tem de estarem satisfeitos por conseguirem realizar uma obra dessa magnitude na Hollywood atual.
Interestelar desagrada leitores assiduos de Asimov; mas aquece os corações frios dos fãs de 2001.
Vidas Secas
3.9 277Ver este filme nos anos 60 teria sido uma experiencia unica para mim, não só pelo filme em si, mas pela imersão a um ambiente cujo qual nunca tive contato em minha vida.
Hoje, no ano de 2020, varias obras, de ficção e documentario, ja foram feitas sobre esta tematica e problematica. Com isso, alguns momentos do filme me cansaram, e me fizeram pensar: "hum.. eu ja vi isso antes". Uma sequencia que, para mim, foi ruim, é a sequencia da familia na cidade. A teatralidade desta me tirou do filme por alguns minutos.
Por outro lado, a abordagem realista de Nelson Pereira dos Santos, e a cinematografia de Luiz Carlos Barreto e José Rosa, trazem, com perfeição, toda a aridez e calor do sertão.
As cenas de impacto fazem com que o filme se torne atemporal - as cenas com a cadela Baleia estão entre as melhores atuações de animais que ja vi; e a sequencia do inferno por si só ja daria um belo curta metragem.
Joias Brutas
3.7 1,1K Assista AgoraO Carisma Gravitacional de Howard.
Não é de hoje que anti-heróis nos causam uma certa empatia, grandes personagens como Walter White, Tony Soprano e Coringa, são exemplos modernos de "vilões" que causaram uma atração positiva com o publico. Se com Walter (ou Heinsenberg) e Coringa nos compreendemos suas motivações de provação e revolta para com a sociedade, Tony Soprano é a personificação do poder e respeito - impresso até em seu corpo.
Em Uncut Gems, Howard, um homem de meia idade, judeu, e vendedor de jóias, nos leva a uma viagem rítmica, acelerada e caótica por suas ultimas horas de vida. Diferente dos personagens citados anteriormente, aqui o protagonista lida com vicio em cifras, e sua busca pelo milhão de dólares. Empréstismo atrasado; apostas inconsequentes; penhoras; impulsividade; tudo isso faz parte da rotina desse homem, que tem um prazer quase orgamisco em ganhar dinheiro de forma arriscada.
A maior façanha, e, talvez, o seu maior defeito, seja o seu carisma. É difícil escapar do campo gravitacional de Howard; sua amante; sua esposa; Kevin Garnett; Arno; e até mesmo o filho; todos estão ou ficaram presos em sua personalidade manipuladora, perfeitamente interpretada por Adam Sandler.
Yussi e Demany são os únicos que conseguem escapar, e, o segundo, nos da a amostra do futuro que aguarda nosso protagonista - o aquário tomado pela cor vermelha numa tentativa contra a vida dos peixes (animais que simbolizam a vida na religião cristã); Howard encerra o filme com seu rosto tomado pelo vermelho de seu sangue.
Os irmãos Safdie foram felizes em mais uma realização, e se consolidam cada vez mais no cenário cinematográfico.
Eu costumo tirar um tempo para contemplação após ver um filme; para refletir sobre. Mas, depois de ver Uncut Gems, não consegui. Talvez o ritmo acelerado, o andar de Howard, e a sua personalidade, tenham me atraído também.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraA Ocidentalização Coreana.
Num bairro periférico na Coreia do Sul, Wifi e smartphones abrem com o primeiro problema de uma familia pobre sul coreana: a conexão com a internet; talvez, montar caixas de pizza resolva na renda da familia e ajude a pagar o wifi.
A lingua inglesa é a peça fundamental para a infiltração da familia pobre numa mansão sul coreana. Enquanto o filho, chamado de Kevin, ajuda a ensinar o idioma para a primogenita dos milionarios, a filha, chamada de Jéssica, trabalha com o menino prodigio da familia rica: uma criança que apresenta uma desenvoltura para o desenho, e ja é visto pela mãe como um grande artista; além disso, após iniciar no escotismo, fica fascinado pela cultura indigena e ganha uma fantasia importada dos EUA. A professora de arte do pequeno Da-song faz uso do Google para determinar a psicologia do pequeno artista.
O pai trabalha como motorista da familia e dirige um Mercedes Benz; é ele que, na trama para derrubar a antiga governanta da casa, coloca ketchup de tomate (inventado nos EUA) num papel, o que irá confirmar o que a patroa ja desconfiava: a governanta está com tuberculose. É ele também que apresenta o cartão da empresa The Care, agência ficticia que irá colocar sua esposa no posto mais importante da hierarquia entre os empregados da mansão. A nova governanta sente o peso do cargo quando precisa preparar um Ram-Don.
Ao fim do filme, assim como o Mercedes Benz, alemães são os novos proprietarios da mansão, após um evento terrivel que acometeu ambas as familias
1917
4.2 1,8K Assista AgoraRecentemente assisti ao documentario They Shall Not Grow Old, que, através de relatos de soldados que serviram em sua juventude, precocemente, na primeira grande guerra. Se, através de narrações, o filme de Peter Jackson consegue transmitir todo a rotina distorcida vivida por aqueles homens, em 1917, Sam Mendes entrega uma obra que, em seu visual, consegue nos passar o horror da guerra de forma intimista, brutalmente detalhista.
Dois jovens soldados que são retirados do "colo" da mãe natureza; um jovem soldado que, entre outros objetivos, precisa enviar uma carta a uma mãe que ainda tem esperança de ver os dois filhos vivos no fim da batalha; um jovem soldados que precisa virar as costas mais uma vez e deixar uma mãe que implora por sua presença; um jovem soldado que enfrenta uma batalha interna e externa, vida e sanidade, para a conquista de um breve momento de paz, de volta ao colo da mãe.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraAll work and no play makes Thomas a dull boy.
Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar
4.3 209Belissima direção. Os planos longos buscando uma contemplação, um ritmo lento, pacato, que ja não existe mais em Toritama.