Sempre me encanto ao perceber que, enquanto víamos todas as janelas e, em cada uma, cada pedacinho de vida, a câmera esteve no mesmo lugar o tempo todo! Hitchcock conseguiu filmar o próprio telespectador e conduzi-lo como quis simplesmente mostrando-o, como num espelho.
A vida e a importância do Ebert estão muito bem retratadas neste documentário, que, apesar disso, demora um pouco de engrenar de vez, o que é muito bem recompensado pelo terço final do filme, lindo, que acompanha os últimos momentos do crítico e jornalista.
Ninguém vai falar de como a figura feminina é bestializada (comparada à carneiros e cabras prontas para serem fodidas), idiotizada (eternamente infantil, carente e sem motivações próprias; uma freudiana quase caricata) e violentada (e o estupro é só o limite disso, estou falando de dominação pela violência, puxão de cabelo, berro)? De como ela se torna parte da propriedade masculina?
Eu verdadeiramente acho que esse é um tema fundamental desse filme nos dias de hoje.
Se até este filme o pessoal do Filmow acha arrastado, tá faltando alguém pra levá-los pela mãozinha, porque, inquestionavelmente, se tem uma coisa que Spielberg faz, sem erro, é conduzir um filme -- não é à toa que outro mestre, Truffaut, está nesta fita.
Voltei ao Filmow perguntando-me o motivo de ter largado, mas foi só ler os comentários pra lembrar: gente, que diz que gosta, desprezando o que tornou o cinema, cinema; lamentável.
Tem gente neste Filmow que precisa duma ajuda extra, tipo um aviso de alerta -- "cuidado, esta é uma comédia negra", ou "cuidado, esse é um filme de baixo orçamento dos anos setenta".
Não seira Tiradentes, no final das contas, algo a se celebrar, realmente? Joaquim Pedro de Andrade o vê como o único inconfidente que não se ajoelha aos pés de Maria I, o único morto e, portanto, integro homem duma revolução que não foi -- revolução aqui tratada com um humor brasileiro que ainda não patenteamos, da paródica autocrítica mordaz, de miséria. Integro, mas não puro: sua coerência se faz em contraste da covardia alheia, mas a lente de JPA não esquece de nos mostrar claramente seu escravo pronto para ser vendido. Uma comédia de incompetentes: a história de todo o Brasil.
Esse é um dos mais perfeitos filmes do sir Hitchcock -- não meu favorito, mas indubitavelmente uma conquista: não há nada, aqui, a adicionar, nada a tirar e nem mesmo a refazer.
Depois duma melancólica autobiografia da infância, duma comédia negra bem ao gosto godardiano e duma obra-prima experimental e veloz, Truffaut nos entregava este La peau douce, de '64, um sútil drama dum romance às escondidas entre um famoso escritor casado e uma aeromoça, focado nos pequenos detalhes do mínimo rosto de Jean Desailly e da carisma contida de Françoise Dorléac. Um caso que poderia muito bem ser feio e rude é aqui delicado e sensível, uma paixonite quase adolescente, cercada de inseguranças e soluções fáceis para os desentendimentos, contrastando com a realidade furtiva e muitas vezes tortuosa do relacionamento extraconjugal, que progressivamente vai dando as caras. François nos apresenta um filme sóbrio, mas nunca sem charme, com jogo de câmeras e edição rápidas, trilha sonora contrastante às imagens; temos alguns momentos lindíssimos, aqui, como a cena em que Pierre despe, tomado de ternura, sua Nicolle repentinamente adormecida, sentido sua suave pele (do título).
Nunca li King, mas pelos filmes adaptados que já vi de suas obras, "Misery" é um típico seu, com humor negro e o banho de sangue depois do suspense; da parte dos diretores, sempre tenta-se evocar Hitchcock, por mais que o autor nada tenha a ver com o mestre inglês: King perturba (você sabe de onde o problema vem, só não espera que ele venha), enquanto Alfred trabalha o desconhecido; um aprisiona suas personagens, o que é bem fácil para criar medo, enquanto Alfred pode aprisionar as suas dando-as fugas internacionais; com King, você sabe o que vai acontecer, com Alfred, não. Ambos são nomes destacados no suspense, mas ninguém percebeu que um trabalha com o exterior e o outro, com o interior; o único que escapa do lógico é "O iluminado", que, curiosamente, o autor americano odeia.
Reiner, entretanto, usa a herança muito bem: ele mostra o que você deve perceber e te dá pistas; adoro seu uso do zoom, tanto quando a câmera dá um contra-plongê, levemente abaixando enquanto ele focaliza seu rosto, antes de Annie dizer alguma coisa sinistrera, quanto quando ele vai fechando os enquadramentos em cada plano nos personagens conforme um diálogo vai ficando mais tenso.
Por falar em sinistrera, Kathy Bates: ela está. Eu inicialmente tive dificuldade pra achá-la assustadora porque ela me lembrava minha namorada -- uma gordinha simpática, com esse sorrisinho; isso, no final das contas, fez com que eu tivesse mais medo dela do que talvez eu tivesse em outra situação, pois eu acho que nunca esperaria que meu docinho fizesse certas coisas como ter tesão em me torturar. Um problema, entretanto, foi a personagem de Richard Farnsworth; aliás, acho que preciso ir mais longe, a todas personagens caipiras do King: ele as odeia; pra mim, é evidente. São todos um bando de ignorantes risíveis, cujos hábitos simples são motivos de escárnio para alter-egos do próprio autor, e o...
... pobre xerife Buster não se safa dessas, levando um par de balas nas costas. É uma personagem de carisma inacreditável, com uma vida cotidiana e pacata que vê a rotina abalada por um caso estranho. Muito me lembra Tomy Lee Jones e Frances McDormand em filmes (muito mais violentos) dos irmãos Coen, que, ao contrário de Stephen, sabem o que fazer com seus caipiras que por acaso caem no meio duma loucura. Talvez seja uma questão de gosto, de escolhas, mas, para mim, não adaptar este detalhe para os cinemas afasta mais ainda o que um Hitchcock faria.
Um filme muito bom, um tanto datado na produção e na cinematografia (não que eu ache isso uma má coisa); recomendo.
Na Hora da Zona Morta
3.6 323 Assista AgoraPessoal: ISTO É UM FILME, NÃO UM LIVRO. O material fonte não interessa. Acordem.
Fahrenheit 451
4.2 419Gente falando do livro: FODA-SE.
Up: Altas Aventuras
4.3 3,8K Assista AgoraUm filme que diz muito com poucas palavras e que diz mais ainda com o silêncio. Inacreditável.
Janela Indiscreta
4.3 1,2K Assista AgoraSempre me encanto ao perceber que, enquanto víamos todas as janelas e, em cada uma, cada pedacinho de vida, a câmera esteve no mesmo lugar o tempo todo! Hitchcock conseguiu filmar o próprio telespectador e conduzi-lo como quis simplesmente mostrando-o, como num espelho.
Life Itself - A Vida de Roger Ebert
4.2 40A vida e a importância do Ebert estão muito bem retratadas neste documentário, que, apesar disso, demora um pouco de engrenar de vez, o que é muito bem recompensado pelo terço final do filme, lindo, que acompanha os últimos momentos do crítico e jornalista.
Sob o Domínio do Medo
3.8 268Ninguém vai falar de como a figura feminina é bestializada (comparada à carneiros e cabras prontas para serem fodidas), idiotizada (eternamente infantil, carente e sem motivações próprias; uma freudiana quase caricata) e violentada (e o estupro é só o limite disso, estou falando de dominação pela violência, puxão de cabelo, berro)? De como ela se torna parte da propriedade masculina?
Eu verdadeiramente acho que esse é um tema fundamental desse filme nos dias de hoje.
Pereio Eu te Odeio
4.0 14esperando até hoje
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraEste filme é um milagre.
Contatos Imediatos do Terceiro Grau
3.7 578 Assista AgoraSe até este filme o pessoal do Filmow acha arrastado, tá faltando alguém pra levá-los pela mãozinha, porque, inquestionavelmente, se tem uma coisa que Spielberg faz, sem erro, é conduzir um filme -- não é à toa que outro mestre, Truffaut, está nesta fita.
Wilson
3.1 53 Assista AgoraEssa HQ é tão bonitinha, espero que o filme mantenha isso junto com a misantropia haha
Europa
4.0 117 Assista AgoraAssisti esse filme há tres meses e ainda estou ouvindo a voz do Max von Sydow dizendo aquele seu EURÕWPAAA
Anticristo
3.5 2,2K Assista AgoraNão consigo mais ouvir Handel sem imaginar um torno no meu pé
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraVontade de TRANSÁ com essa mise-en-scene
Aurora
4.4 205 Assista AgoraVoltei ao Filmow perguntando-me o motivo de ter largado, mas foi só ler os comentários pra lembrar: gente, que diz que gosta, desprezando o que tornou o cinema, cinema; lamentável.
Thelma & Louise
4.2 967 Assista AgoraRidley Scott se prova como uma das melhores coisas que Hollywood já teve, mesmo tendo cometido (muitos) erros ao longo de sua carreira.
Asthma
3.1 109Filme medonho com péssima direção e um roteiro de pretensões no mínimo pré-adolescentes. Chega a ser vergonhoso, não dá nem pra levar a sério.
Paris, Texas
4.3 697 Assista AgoraAs vezes eu entro numa vibe cuja única explicação é esse filme.
Despertar dos Mortos
3.9 319 Assista AgoraTem gente neste Filmow que precisa duma ajuda extra, tipo um aviso de alerta -- "cuidado, esta é uma comédia negra", ou "cuidado, esse é um filme de baixo orçamento dos anos setenta".
Os Inconfidentes
3.7 27Não seira Tiradentes, no final das contas, algo a se celebrar, realmente? Joaquim Pedro de Andrade o vê como o único inconfidente que não se ajoelha aos pés de Maria I, o único morto e, portanto, integro homem duma revolução que não foi -- revolução aqui tratada com um humor brasileiro que ainda não patenteamos, da paródica autocrítica mordaz, de miséria. Integro, mas não puro: sua coerência se faz em contraste da covardia alheia, mas a lente de JPA não esquece de nos mostrar claramente seu escravo pronto para ser vendido. Uma comédia de incompetentes: a história de todo o Brasil.
A Entidade
3.2 2,3K Assista AgoraPor, basicamente, todos os comentários daqui, parece que ninguém mais sabe o que é um filme de terror.
Interlúdio
4.0 269 Assista AgoraEsse é um dos mais perfeitos filmes do sir Hitchcock -- não meu favorito, mas indubitavelmente uma conquista: não há nada, aqui, a adicionar, nada a tirar e nem mesmo a refazer.
Um Só Pecado
3.8 52 Assista AgoraDepois duma melancólica autobiografia da infância, duma comédia negra bem ao gosto godardiano e duma obra-prima experimental e veloz, Truffaut nos entregava este La peau douce, de '64, um sútil drama dum romance às escondidas entre um famoso escritor casado e uma aeromoça, focado nos pequenos detalhes do mínimo rosto de Jean Desailly e da carisma contida de Françoise Dorléac. Um caso que poderia muito bem ser feio e rude é aqui delicado e sensível, uma paixonite quase adolescente, cercada de inseguranças e soluções fáceis para os desentendimentos, contrastando com a realidade furtiva e muitas vezes tortuosa do relacionamento extraconjugal, que progressivamente vai dando as caras. François nos apresenta um filme sóbrio, mas nunca sem charme, com jogo de câmeras e edição rápidas, trilha sonora contrastante às imagens; temos alguns momentos lindíssimos, aqui, como a cena em que Pierre despe, tomado de ternura, sua Nicolle repentinamente adormecida, sentido sua suave pele (do título).
Louca Obsessão
4.1 1,3K Assista AgoraNunca li King, mas pelos filmes adaptados que já vi de suas obras, "Misery" é um típico seu, com humor negro e o banho de sangue depois do suspense; da parte dos diretores, sempre tenta-se evocar Hitchcock, por mais que o autor nada tenha a ver com o mestre inglês: King perturba (você sabe de onde o problema vem, só não espera que ele venha), enquanto Alfred trabalha o desconhecido; um aprisiona suas personagens, o que é bem fácil para criar medo, enquanto Alfred pode aprisionar as suas dando-as fugas internacionais; com King, você sabe o que vai acontecer, com Alfred, não. Ambos são nomes destacados no suspense, mas ninguém percebeu que um trabalha com o exterior e o outro, com o interior; o único que escapa do lógico é "O iluminado", que, curiosamente, o autor americano odeia.
Reiner, entretanto, usa a herança muito bem: ele mostra o que você deve perceber e te dá pistas; adoro seu uso do zoom, tanto quando a câmera dá um contra-plongê, levemente abaixando enquanto ele focaliza seu rosto, antes de Annie dizer alguma coisa sinistrera, quanto quando ele vai fechando os enquadramentos em cada plano nos personagens conforme um diálogo vai ficando mais tenso.
Por falar em sinistrera, Kathy Bates: ela está. Eu inicialmente tive dificuldade pra achá-la assustadora porque ela me lembrava minha namorada -- uma gordinha simpática, com esse sorrisinho; isso, no final das contas, fez com que eu tivesse mais medo dela do que talvez eu tivesse em outra situação, pois eu acho que nunca esperaria que meu docinho fizesse certas coisas como ter tesão em me torturar. Um problema, entretanto, foi a personagem de Richard Farnsworth; aliás, acho que preciso ir mais longe, a todas personagens caipiras do King: ele as odeia; pra mim, é evidente. São todos um bando de ignorantes risíveis, cujos hábitos simples são motivos de escárnio para alter-egos do próprio autor, e o...
... pobre xerife Buster não se safa dessas, levando um par de balas nas costas. É uma personagem de carisma inacreditável, com uma vida cotidiana e pacata que vê a rotina abalada por um caso estranho. Muito me lembra Tomy Lee Jones e Frances McDormand em filmes (muito mais violentos) dos irmãos Coen, que, ao contrário de Stephen, sabem o que fazer com seus caipiras que por acaso caem no meio duma loucura. Talvez seja uma questão de gosto, de escolhas, mas, para mim, não adaptar este detalhe para os cinemas afasta mais ainda o que um Hitchcock faria.
Um filme muito bom, um tanto datado na produção e na cinematografia (não que eu ache isso uma má coisa); recomendo.
Central do Brasil
4.1 1,8K Assista AgoraVai tomar no cu, brother, que filme lindo.