Então, temos aqui uma grande filme. Uma cinematografia repleta de câmeras contidas e escuras, violentas, que mostram uma cidade incógnita banhada interruptamente de chuva de filme noir, de Blade Runner, palco de brutais assassinatos duma mente perturbada. As personagens são personalidades vivas, Mills e Somerset são dois extremos que, com o passar do tempo, formam uma grande dupla e constroem uma relação muito forte; Gwyneth Paltrow está maravilhosa, dá mais humanidade ao filme e é chave principal do desenvolvimento. O filme é repleto de sutilezas, de gestos, de tons de voz, de olhares, de silêncios, de posições, um trabalho magistral de David Fincher em seu segundo (ou primeiro, como prefere contar) filme.
... nos deparamos com esse velho problema do diretor: eu odiaria ter uma conversa filosófica, moral ou afins com esse cara. Aqui ou em Zodiaco, que tenta repetir a fórmula de Seven aos trancos e barrancos, temos esses psicopatas como belas lupas de análise duma sociedade afundada no vazio -- mas vazio é o ponto de vista que ele tem. Muitas das situações que John Doe acha que são parte de degeneração das pessoas em si só as são pelos olhos de pessoas que eu, pessoalmente, identifico como frias, más e fúteis. O próprio final catastrófico do Mills é um exemplo disso: ele é um sujeito explosivo, mas muito distante de cometer loucuras por raiva -- a não ser numa situação limite dessas.
Um marco cinematográfico dum sujeito incrível que conta histórias dúbias.
Não só uma crítica aos buracos burocráticos e corrupção presentes em qualquer sistema, "Serpico" é um clássico niilista da Nova Hollywood por tornar o próprio Estados Unidos, dos hippies aos mais altos figurões da política, o grande vilão, que tenta ser detido por Frank, um idealista (assim como nós) que nos guia lentamente pelos corredores de delegacias sujas de subornos e influências criminosas. Tentando não ser destruído por pessoas loucas, ele acaba sozinho porque percebe que, talvez, como sugeriu sua namorada Laurie, ele seja o único louco -- estando certo ou não.
Este filme pode ser complementado com um pequeno diálogo que Al Pacino tem com Diane Keaton em "The Godfather", do Coppola, lançado um ano deste grande filme de Sidney Lumet: Michael Corleone diz que seu pai, Vito Corleone, não é diferente dos grandes políticos e empresários, pessoas influentes em geral; sua esposa contra ataca, "não seja tolo, o Governo não mata pessoas". Mike fica em silencio por um tempo e diz que é ela que está sendo tola.
Leandra Leal está anos luz a frente de Vera Fischer no papel de Ritinha, enquanto Lucélia Santos é carismática, mas não tão bonita quanto Letícia Colin, que é bem mais o tipo que eu esperava de Maria Cecília (e, sim, beleza importa muito no caso dessa personagem).
Belo ao traçar obra e vida duma figura humana e artística tão forte e representativa; eficaz enquanto desenha um panorama à arte surrealista mexicana e/ou pós-revolucionária.
Minha primeira vez no cinema foi com esse filme, sentado num canto com minha mãe e meu tio: assim que as luzes apagaram, gritei e chorei até sairmos. Só fui assistir anos depois, na TV.
Você pode buscar até o mais profundo e focado poro de sua alma de trilhões de anos, pode ir de Paris a Phoenix a Londres em todos os corpos e tempos possíveis. Em nenhum lugar você achará qualquer resposta para o que você é, não achará mestre algum, tampouco uma razão: sua única certeza é seu nome, Freddie Quell, caminhando entre poções mágicas de tiner a whiskys a cervejas. O resto está a deriva; o tempo e suas mentiras vão lentos pelas ondas calmas que embaçam a vida e os valores de nossos grupos, nossas seitas, nosso país ou mesmo de nosso mundo -- sua re-organização acontece durante um instinto animalesco por mais um gole: a vida nada mais é do que esse impulso e não a insensatez de tentar detê-lo sob uma camada burocrática e oficial (pelo menos em seus próprios termos, diluídos tal qual sua figura na linha do horizonte ao fugir).
A vida sem um mestre é a que todos nós nos vemos numa noite bagunçada de luzes antes de, sem querer, encontramos alguém que nos tente, que ouse mudar o que sabe-se lá Deus como refazer ou apagar.
Dando um ctrl + f, a palavra que você mais vai achar aqui é "trash", mas temos muito mais do que isso aqui: uma direção atenta e criativa, uma cinematografia elegante, uma ótima sonoplastia. É claro que você vai encontrar as falas ruins, o gore (e que belo gore, você consegue ver que são máscaras e sentir nojo simultaneamente), os maus atores (mesmo que Bruce Campbell consiga te convencer pelo carisma e até por um arco de desenvolvimento de personagem, obra do Raimi). Um filme realmente belo, com cenas maravilhosas como a do filme ensanguentado, os dois momentos de troca de olhares entre Ash e Linda, o carro chegando na cabana até Scott abrir a porta, a cena final, etc..
Há dez anos, assistia Spider Man, do Sam Raimi, com aquele toque de aconchego no coração; me aconteceu agora, com The Evil Dead.
Cara, eu odeio isto. Primeiro eu tentei não acreditar que uma doença dessas estava tentando ser tratada de um jeito desses, e o pior de tudo, com a mais óbvia "comédia"; depois eu, por deus, tentei ver como uma ironia positiva, uma forma de encarar e rir do mal, uma piada amiga, mas eu não consegui tirar um único riso. A cena de Adam tentando transar sem qualquer condição pra isso, especialmente, me deixou puto pra caralho, e a reconciliação dele com Kyle (aliás, Seth Rogen é um pacote de bosta) é tão imbecil e superficial que, puta merda, vai se foder, caralho, não tenho nem saco.
O filme é uma metáfora de ritmo muito sutil sobre o pós-vida terreno, sobre a memória e o significado das nossas ações quando estas saem do plano ético ou moral, quando não podem mais serem julgadas ou mudadas; os desenhos e laços que deixamos nas e entre pessoas e coisas.
Fotografia meticulosamente estudada, as cores suaves da maioria dos cenários (os principais são azul-claros, melancólicos) são o fundo das ações do meticuloso John May, um inventariante que, intimamente ligado com o valor de todas essas coisas que eu previamente disse, procura informações de falecidos sem pessoas próximas aparentes; seu trabalho cuidadoso e, consequentemente, lento, faz com que seus supervisores procurem outros meios de executar sua função e o despedem. Seu último caso é o último suspiro de preservar a memória desse Billy Stoke, um brigão encrenqueiro e bêbado que teve uma vida um tanto atribulada.
A cena final me pareceu muito didática e desnecessária, desproporcional ao filme como um todo; nada que desfaça o belo laço no presente de Uberto Pasolini.
O roteiro é apressado e esmagado, a narrativa (principalmente nas aulas do Professor Noeman) parece de alguma animação pra pré-adolescentes, as resoluções são infantis e tolas e, na verdade, até a premissa científica básica é infundada, o que não dá, na verdade, espaço nenhum pra análise filosófica -- a não ser que você mesmo crie as suposições, mas então basta assistir a Spider-Man, enésimas vezes melhor, e fazê-las por conta própria. As cenas de ação são tediosas, os diálogos são ridículos e até hoje eu não acredito que paguei por isso.
O lógico (irreal) se desmantelando -- lentamente, cansado -- até tornar-se poeira, escuro -- ilógico (real). Manchas e pedaços (insetos, pessoas, prédios, barracos, cores) impossíveis de serem juntados por muito tempo -- Monica Vitti imóvel na frente de uma pintura abstrata antes de abandonar o tedioso Riccardo rumo ao eclipse;
Ademais, Antonioni é um fotógrafo maravilhoso e Alain Delon e Vitti são deliciosamente gostosos.
Um filme chato e pretensioso. Bertolucci se perde totalmente na segunda metade do segundo ato, assim como se perdeu em Stealing Beauty, mas, aqui, a recompensa são os protagonistas, figuras horrendas e irritantes, ganhando praticamente auras vivas de insuportabilidade quando de um tentativa de suicídio frustada, tornam-se analogias às perspectivas de 1968. A homenagem ao cinema acontece com um pedantismo rebelde nojento. Até mesmo o incesto decepciona: ele não existe de verdade.
Aqui um filme que ultrapassa qualquer fronteira de estilo cinematográfico ou narrativo (do western de John Ford ao teatro épico de Brecht); aqui uma alegoria pura e emocionante que, do Brasil, vai ao mundo, e diz pelos pequenos que ficaram presos nos escombros da barbárie: o caos e a voz da matança se reproduz em e ao redor de Antonio das Mortes até que, depois de tudo, pode, melancólico, tocar na mão dos cangaceiros, de António Concelheiro e do que mais for, enquanto o progresso move o anjo de Paul Klee para o futuro.
Glauber Rocha, numa composição belíssima, humaníssima e direta, sem perder o folego, de contrastes embaraçosos, duma violência permeada por sangue e raiva, homenageia cada voz abafada não só pelos sertões, mas pela maquinaria que movimenta barcos, pelos números incompreensíveis dum jogo do bicho mundial, pelo motor a vapor e pelo movimento positivo da história aos passos de Deus, o que não é nosso pai.
Eu de verdade achei que, nos primeiros anos, o Jackson fazia filmes horrendos e nojentos, só que a sério; logo na primeira cena, com os sujeitos correndo com o rato na caixa, eu percebi que estava redondamente enganado. Comecei com boas risadas, mas depois da cena do bebê da enfermeira com o padre no parque eu perdi um pouco o interesse, que ressurgiu quando o clímax chega e um zumbi arranca a caixa torácica do sujeito. Adoro todo o jogo de câmeras, muito ágeis e amadoras, dos péssimos atores e dos figurinos da época em que o cinema de zumbis começaria.
Uma análise da putrefação humana diante sua própria imoralidade, descontrolada e cruel; um show grotesco de violação de virgens pelo simples prazer de fazê-lo por poder pagar. Infelizmente, a produção, principalmente na primeira metade do filme, não ajuda em nada; na segunda, o roteiro está tão aprofundado nessa análise que os contratempos se tornam pouco significativos e o diretor extrai o máximo que pode do pouco que tem. Perturbador, nunca pensei que Nelson Rodrigues pudesse ser tão dostoievskiano, tão niilista.
Seven: Os Sete Crimes Capitais
4.3 2,7K Assista AgoraEntão, temos aqui uma grande filme. Uma cinematografia repleta de câmeras contidas e escuras, violentas, que mostram uma cidade incógnita banhada interruptamente de chuva de filme noir, de Blade Runner, palco de brutais assassinatos duma mente perturbada. As personagens são personalidades vivas, Mills e Somerset são dois extremos que, com o passar do tempo, formam uma grande dupla e constroem uma relação muito forte; Gwyneth Paltrow está maravilhosa, dá mais humanidade ao filme e é chave principal do desenvolvimento. O filme é repleto de sutilezas, de gestos, de tons de voz, de olhares, de silêncios, de posições, um trabalho magistral de David Fincher em seu segundo (ou primeiro, como prefere contar) filme.
Mas...
... nos deparamos com esse velho problema do diretor: eu odiaria ter uma conversa filosófica, moral ou afins com esse cara. Aqui ou em Zodiaco, que tenta repetir a fórmula de Seven aos trancos e barrancos, temos esses psicopatas como belas lupas de análise duma sociedade afundada no vazio -- mas vazio é o ponto de vista que ele tem. Muitas das situações que John Doe acha que são parte de degeneração das pessoas em si só as são pelos olhos de pessoas que eu, pessoalmente, identifico como frias, más e fúteis. O próprio final catastrófico do Mills é um exemplo disso: ele é um sujeito explosivo, mas muito distante de cometer loucuras por raiva -- a não ser numa situação limite dessas.
Um marco cinematográfico dum sujeito incrível que conta histórias dúbias.
Serpico
4.1 276 Assista AgoraNão só uma crítica aos buracos burocráticos e corrupção presentes em qualquer sistema, "Serpico" é um clássico niilista da Nova Hollywood por tornar o próprio Estados Unidos, dos hippies aos mais altos figurões da política, o grande vilão, que tenta ser detido por Frank, um idealista (assim como nós) que nos guia lentamente pelos corredores de delegacias sujas de subornos e influências criminosas. Tentando não ser destruído por pessoas loucas, ele acaba sozinho porque percebe que, talvez, como sugeriu sua namorada Laurie, ele seja o único louco -- estando certo ou não.
Este filme pode ser complementado com um pequeno diálogo que Al Pacino tem com Diane Keaton em "The Godfather", do Coppola, lançado um ano deste grande filme de Sidney Lumet: Michael Corleone diz que seu pai, Vito Corleone, não é diferente dos grandes políticos e empresários, pessoas influentes em geral; sua esposa contra ataca, "não seja tolo, o Governo não mata pessoas". Mike fica em silencio por um tempo e diz que é ela que está sendo tola.
Bonitinha, Mas Ordinária
2.5 189Leandra Leal está anos luz a frente de Vera Fischer no papel de Ritinha, enquanto Lucélia Santos é carismática, mas não tão bonita quanto Letícia Colin, que é bem mais o tipo que eu esperava de Maria Cecília (e, sim, beleza importa muito no caso dessa personagem).
A Vida e a Obra de Frida Kahlo
4.2 4Belo ao traçar obra e vida duma figura humana e artística tão forte e representativa; eficaz enquanto desenha um panorama à arte surrealista mexicana e/ou pós-revolucionária.
Castelo Rá-Tim-Bum, O Filme
2.9 305Minha primeira vez no cinema foi com esse filme, sentado num canto com minha mãe e meu tio: assim que as luzes apagaram, gritei e chorei até sairmos. Só fui assistir anos depois, na TV.
Memórias Póstumas
3.5 309 Assista AgoraUma adaptação conservadora duma obra poderosíssima.
O Mestre
3.7 1,0K Assista AgoraVocê pode buscar até o mais profundo e focado poro de sua alma de trilhões de anos, pode ir de Paris a Phoenix a Londres em todos os corpos e tempos possíveis. Em nenhum lugar você achará qualquer resposta para o que você é, não achará mestre algum, tampouco uma razão: sua única certeza é seu nome, Freddie Quell, caminhando entre poções mágicas de tiner a whiskys a cervejas. O resto está a deriva; o tempo e suas mentiras vão lentos pelas ondas calmas que embaçam a vida e os valores de nossos grupos, nossas seitas, nosso país ou mesmo de nosso mundo -- sua re-organização acontece durante um instinto animalesco por mais um gole: a vida nada mais é do que esse impulso e não a insensatez de tentar detê-lo sob uma camada burocrática e oficial (pelo menos em seus próprios termos, diluídos tal qual sua figura na linha do horizonte ao fugir).
A vida sem um mestre é a que todos nós nos vemos numa noite bagunçada de luzes antes de, sem querer, encontramos alguém que nos tente, que ouse mudar o que sabe-se lá Deus como refazer ou apagar.
Star Wars, Episódio VI: O Retorno do Jedi
4.3 915 Assista AgoraReassisti a primeira trilogia para me preparar para O Despertar da Força, e este daqui é o meu episódio preferido.
O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy
3.3 356 Assista AgoraEu não esperava ver um filme com alguma simpatia ao feminismo do Will Farrell; de quebra, uma ótima comédia.
Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio
3.8 1,4K Assista AgoraDando um ctrl + f, a palavra que você mais vai achar aqui é "trash", mas temos muito mais do que isso aqui: uma direção atenta e criativa, uma cinematografia elegante, uma ótima sonoplastia. É claro que você vai encontrar as falas ruins, o gore (e que belo gore, você consegue ver que são máscaras e sentir nojo simultaneamente), os maus atores (mesmo que Bruce Campbell consiga te convencer pelo carisma e até por um arco de desenvolvimento de personagem, obra do Raimi). Um filme realmente belo, com cenas maravilhosas como a do filme ensanguentado, os dois momentos de troca de olhares entre Ash e Linda, o carro chegando na cabana até Scott abrir a porta, a cena final, etc..
Há dez anos, assistia Spider Man, do Sam Raimi, com aquele toque de aconchego no coração; me aconteceu agora, com The Evil Dead.
50%
3.9 2,2K Assista AgoraCara, eu odeio isto. Primeiro eu tentei não acreditar que uma doença dessas estava tentando ser tratada de um jeito desses, e o pior de tudo, com a mais óbvia "comédia"; depois eu, por deus, tentei ver como uma ironia positiva, uma forma de encarar e rir do mal, uma piada amiga, mas eu não consegui tirar um único riso. A cena de Adam tentando transar sem qualquer condição pra isso, especialmente, me deixou puto pra caralho, e a reconciliação dele com Kyle (aliás, Seth Rogen é um pacote de bosta) é tão imbecil e superficial que, puta merda, vai se foder, caralho, não tenho nem saco.
Rafinha Bastos - A Arte do Insulto
3.6 177Lamentável
Uma Vida Comum
4.0 89O filme é uma metáfora de ritmo muito sutil sobre o pós-vida terreno, sobre a memória e o significado das nossas ações quando estas saem do plano ético ou moral, quando não podem mais serem julgadas ou mudadas; os desenhos e laços que deixamos nas e entre pessoas e coisas.
Fotografia meticulosamente estudada, as cores suaves da maioria dos cenários (os principais são azul-claros, melancólicos) são o fundo das ações do meticuloso John May, um inventariante que, intimamente ligado com o valor de todas essas coisas que eu previamente disse, procura informações de falecidos sem pessoas próximas aparentes; seu trabalho cuidadoso e, consequentemente, lento, faz com que seus supervisores procurem outros meios de executar sua função e o despedem. Seu último caso é o último suspiro de preservar a memória desse Billy Stoke, um brigão encrenqueiro e bêbado que teve uma vida um tanto atribulada.
A cena final me pareceu muito didática e desnecessária, desproporcional ao filme como um todo; nada que desfaça o belo laço no presente de Uberto Pasolini.
Lucy
3.3 3,4K Assista AgoraO roteiro é apressado e esmagado, a narrativa (principalmente nas aulas do Professor Noeman) parece de alguma animação pra pré-adolescentes, as resoluções são infantis e tolas e, na verdade, até a premissa científica básica é infundada, o que não dá, na verdade, espaço nenhum pra análise filosófica -- a não ser que você mesmo crie as suposições, mas então basta assistir a Spider-Man, enésimas vezes melhor, e fazê-las por conta própria. As cenas de ação são tediosas, os diálogos são ridículos e até hoje eu não acredito que paguei por isso.
O Eclipse
4.1 90 Assista AgoraO lógico (irreal) se desmantelando -- lentamente, cansado -- até tornar-se poeira, escuro -- ilógico (real). Manchas e pedaços (insetos, pessoas, prédios, barracos, cores) impossíveis de serem juntados por muito tempo -- Monica Vitti imóvel na frente de uma pintura abstrata antes de abandonar o tedioso Riccardo rumo ao eclipse;
Ademais, Antonioni é um fotógrafo maravilhoso e Alain Delon e Vitti são deliciosamente gostosos.
Os Sonhadores
4.1 1,9KUm filme chato e pretensioso. Bertolucci se perde totalmente na segunda metade do segundo ato, assim como se perdeu em Stealing Beauty, mas, aqui, a recompensa são os protagonistas, figuras horrendas e irritantes, ganhando praticamente auras vivas de insuportabilidade quando de um tentativa de suicídio frustada, tornam-se analogias às perspectivas de 1968. A homenagem ao cinema acontece com um pedantismo rebelde nojento. Até mesmo o incesto decepciona: ele não existe de verdade.
Uma puta bosta.
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
4.1 134 Assista AgoraAqui um filme que ultrapassa qualquer fronteira de estilo cinematográfico ou narrativo (do western de John Ford ao teatro épico de Brecht); aqui uma alegoria pura e emocionante que, do Brasil, vai ao mundo, e diz pelos pequenos que ficaram presos nos escombros da barbárie: o caos e a voz da matança se reproduz em e ao redor de Antonio das Mortes até que, depois de tudo, pode, melancólico, tocar na mão dos cangaceiros, de António Concelheiro e do que mais for, enquanto o progresso move o anjo de Paul Klee para o futuro.
Glauber Rocha, numa composição belíssima, humaníssima e direta, sem perder o folego, de contrastes embaraçosos, duma violência permeada por sangue e raiva, homenageia cada voz abafada não só pelos sertões, mas pela maquinaria que movimenta barcos, pelos números incompreensíveis dum jogo do bicho mundial, pelo motor a vapor e pelo movimento positivo da história aos passos de Deus, o que não é nosso pai.
Fome Animal
3.9 877Eu de verdade achei que, nos primeiros anos, o Jackson fazia filmes horrendos e nojentos, só que a sério; logo na primeira cena, com os sujeitos correndo com o rato na caixa, eu percebi que estava redondamente enganado. Comecei com boas risadas, mas depois da cena do bebê da enfermeira com o padre no parque eu perdi um pouco o interesse, que ressurgiu quando o clímax chega e um zumbi arranca a caixa torácica do sujeito. Adoro todo o jogo de câmeras, muito ágeis e amadoras, dos péssimos atores e dos figurinos da época em que o cinema de zumbis começaria.
Bonitinha, Mas Ordinária
3.1 115Uma análise da putrefação humana diante sua própria imoralidade, descontrolada e cruel; um show grotesco de violação de virgens pelo simples prazer de fazê-lo por poder pagar. Infelizmente, a produção, principalmente na primeira metade do filme, não ajuda em nada; na segunda, o roteiro está tão aprofundado nessa análise que os contratempos se tornam pouco significativos e o diretor extrai o máximo que pode do pouco que tem. Perturbador, nunca pensei que Nelson Rodrigues pudesse ser tão dostoievskiano, tão niilista.