Bem mais longo do que eu gostaria, bem mais interessante do que eu imaginava. Mas afinal, o filme fala sobre excessos mesmo. Lamento pela tão breve aparição de McConaughey, ainda que tenha sido fundamental pra alavancada do personagem a uma direção mais excêntrica.
Com bastante humor e excelentes atuações, Scorcese ainda encontra espaço pra dar o seu toque de genialidade. É claro que a cena da droga é maravilhosa, hilária e conquista qualquer um, mas me chama ainda mais atenção outra cena:
o homem se ajoelha perante a mulher de pernas abertas e ela o tem domado, agora de quatro para ela, com a ponta do salto amparado em sua testa.
Nesse momento, a história se amplia - da vida de Jordan para algo universal. Brilhante, monumental. Tão curioso quanto, é o último quadro, quando temos pessoas assistindo o discurso de Belfort tão atentamente quanto nós, espectadores.
Acho que o Jordan Belfort retratado daria um pastor muito perigoso e não há dúvidas, Leonardo DiCaprio é um ator excepcional e melhora a cada ano. Se ele merecia ter ganhado o Oscar? Eu diria que, sem exageros, ele já está um nível acima disso.
É incrível como os orientais têm um domínio cinematográfico mais sensível pras relações humanas afetivas. A trama do amor proibido pode não ser a mais original, mas certamente o modo como a história é contada encanta pela criatividade e delicadeza das atitudes.
Acho que em "The Classic" existem muitas cenas dispensáveis (inclusive várias com centenas de figurantes), mas o que mais me incomodou foi a incapacidade dos atores em chorar (algumas tentativas são quase vergonhosas). Além disso, a ideia do
(que é ótima) poderia ter ficado na sutileza, mas ao invés disso foi insistentemente explicada, o que matou um pouco do prazer de desvendar o gesto.
Particularmente prefiro outros filmes do diretor ("Minha Namorada é um Cyborg" ou "Minha Garota Atrevida"), mas esse continua tendo as mesmas características das obras do cineasta: longas histórias românticas, humor apaixonante, sensações marcantes e trilhas sonoras memoráveis.
Entrei desmotivado no cinema pelo frustrante filme anterior e fui surpreendido pelo amadurecimento cinematográfico que a produção conquistou. Dessa vez, ela repara cada um dos defeitos do anterior, desde os cenários artificiais à banalização do horror.
A fotografia aqui é incomparavelmente mais expressiva e funcional, assumindo a escuridão como elemento narrativo e sensorial. Finalmente uma atriz para protagonista que além de uma beleza cativante consegue interpretar com envolvimento e verdade. O seu drama com o passado tem muito mais fundamento e relevância pra trama que a do protagonista anterior, interpretado por Daniel. A história apresentada no primeiro filme ganha força neste com a chegada de crianças na casa e problematizando a relação considerando que um deles é órfão.
Os problemas do longa são clichês, aquelas famosas forçadinhas no roteiro pra que tudo aconteça como o escritor quer. Exemplo mais claro disso é o rapaz Harry, que sempre aparece nas horas mais convenientes, tem uma construção de personagem péssima e toma uma decisão drástica gratuitamente. Mas desconsiderando alguns momentos, é um filme que me deixou satisfeito por ter aprendido tanto, demonstrado toda essa melhora e continuar tendo o poder de nos dar sustos mesmo quando sabemos que eles estão vindo.
Pensei que ia adorar esse filme pelo tanto de barulho que faz. Superestimei, confesso. Personagens repentinamente abandonados deixam ideias pairando pelo quebra-cabeça. Irandhir salva no campo das interpretações sendo o único com o mínimo de carisma.
Por outro lado, ideias soltam podem ser interpretadas como sugestões, desconfianças ou como o perigo iminente de algo que efetivamente não acontece. Diálogo direto com algo que se possa apresentar como paranoia, já traduzida em grades e trancas ao redor. Até porque o homem urbano contemporâneo é mesmo repugnante de uma forma contagiosa e não é de hoje que é sua maior ameaça. A necessidade de segurança que nos ronda, seja pelos tomadores de conta de carro, pelos guardas noturnos ou pelos guarda-costas se tornou tão necessária quanto ineficiente. Ainda que tenha problemas incômodos de interpretação, a melhor cena certamente é a reunião de condomínio e sintetiza muito disso.
Decodificar a mensagem fragmentada vale muito pela reflexão, mas acho que o filme poderia ter uns 20 minutos a menos.
História intrigante e consegue grudar na nossa memória de forma bem emblemática.
A direção de arte me incomoda com uma falsa naturalidade, o cenário não convence. A direção de fotografia, pra mim um dos maiores pecados do filme, não sei por que razão elucida paredes e objetos que deveriam estar engolidos pelas sombras, lavando tudo com uma fraca luz azul. Daniel faz um bom trabalho, mas seu personagem não ajuda muito. O protagonista é raso dramaticamente falando, tanto pela questão dispensável de sua falecida esposa quanto por suas convicções que também me parecem impróprias. O desenrolar do filme banaliza o terror que insiste no mesmo truque, e acaba se embaralhando num ritmo anestesiante (do tipo que no final eu já não me importava mais). É um filme assustador no sentido de dar sustos, mas dificilmente aterroriza de fato. O final, como era de se esperar, frustrante.
Ao contrário deste, o segundo filme tem consciência dos erros deste e felizmente consertaram todos os pontos que levantei acima.
É bem confuso pra mim decidir se gosto ou não do filme, porque ao mesmo tempo que ele é bem sucedido em consertar todo o estrago já feito, às vezes me parece que ele tem a faca e o queijo na mão e corta o dedo.
A começar pelos personagens, o lado negativo, é que no tempo catastrófico os x-men lutam contra sentinelas implacáveis e não existe qualquer profundidade dramática individual ali. Tempestade sequer tem alguma fala? Os efeitos visuais e a criatividade em cena são excelentes durante as batalhas, mas a luta não é dramaticamente explorada, tudo acaba rápido, um massacre de personagens e personalidades, reduzidos a meros obstáculos para atrasar o inimigo. O lado positivo é um privilégio da produção, que consegue reunir todos os atores tradicionais da franquia e poder vê-los interpretando seus personagens de sempre é gratificante.
Sobre o roteiro, não gosto de algumas atitudes forçadas de alguns personagens, como por exemplo quando Magneto, depois de atingido, se levanta normalmente como se nada tivesse acontecido com seu pescoço e simplesmente vai embora. E, tendo antes o controle dos Sentinelas, por que não sabotar a apresentação pra provar que eles não representavam tal segurança? Foi estranho ver Logan ocupando a posição central do filme como um mocinho sensato apanhando o filme inteiro. Senti falta do selvagem que resolvia as coisas "à sua maneira". Indignação pelo descarte e desperdício do melhor personagem do filme: Pietro. A invasão da prisão de plástico certamente superou a cena de quando Noturno invadiu a Casa Branca em X-Men 2. Pietro poderia ter levado o filme para outro nível pelo carisma e pela criatividade cinematográfica que lhe cabe.
Apesar de achar que a produção joga muito com o marketing de estrelas, espero que os x-men continuem sendo interpretados pelos mesmos atores por um bom tempo. Com tudo isso dito, a cena final é ótima, aliviante e alimenta boas expectativas.
Uma produção digna de grandes elogios e enormes decepções. Uma ambiguidade que mistura uma fantástica premissa e um desenrolar desleixado. É um filme que dá pra gostar muito se você imagina uma versão paralela na sua mente.
- Incomoda demais o descaso que existe na construção do vilão. Nem vendo personagens como Coringa ou Loki (pra citar os mais recentes) os estúdios aprenderam o quanto eles são importantes pra essência de um filme. A motivação do antagonista aqui é razoável, mas seu comportamento é totalmente desmedido, uma vez que realiza ataques mortais a personagens que nada tem a ver com seu objetivo.
- Logo em seguida, temos um enorme acúmulo de personagens coadjuvantes basicamente desnecessários, unidimensionais e que reforçam representatividades bem clichês (a patricinha, o negro, a revoltada e o esquisito). Numa versão mais bagunçada de "Os Incríveis", eles formam uma equipe em que se vê Hiro, Baymax e ~os outros~ cuja construção é lamentável.
- Com uma produção desse tamanho e com tanta criatividade engatilhada, os roteiristas parecem querer deixar de propósito inúmeras coisas sem sentido acontecerem. Por exemplo, quando o portal cai no chão, Krei diz que é impossível fechá-lo, mas basta Hiro voltar de lá que ele se fecha naturalmente. Era simples, era só dar aos personagens um meio de fechá-lo. As brigas de robôs e seus componentes, do início do filme, são descartadas em definitivo. Até sua tia é esquecida. Ninguém se espanta com um robô branco andando na rua. Já à noite, durante a fuga, a cidade é completamente deserta, não há humanização na história. Sem querer ser chato, tem várias coisas que não fazem sentido na cena do resgate da astronauta. E quando Baymax é reconstruído, seria incrível se Hiro testasse sua identidade usando o toque que ensinou a ele. Seria incrível se houvesse um trabalho narrativo em torno da amizade entre os dois, como acontece com Soluço e Banguela em "Como Treinar seu Dragão". Mas parece que tudo que importa agora é em terminar o primogênito de uma potencial franquia.
- A primeira metade do filme (até a cena da fuga que termina na água) é excelente e talvez faça compensar o ingresso do cinema. O filme mostra que não só está disposto a lidar com uma variedade de tecnologia fascinante, como também captura a atenção do espectador com acontecimentos inesperados. Além disso, algumas raras vezes tem a sensibilidade de fazer pequenas piadas visuais bem interessantes como quando Wasabi abre um buraco na parede usando suas lâminas de forma desajeitada ou Baymax tampa seus furos com durex.
- Inspirado na pesquisa "Robóticas Macias", Baymax merece um elogio à parte, porque o trabalho de construção do personagem é admiravelmente bem feito. Além do nome sofisticado e pertinente, sua personalidade pueril e generosa é tão cativante quanto suas possibilidades combativas. Souberam se apropriar bem do sucesso e das características do Homem de Ferro sem transformá-lo em uma derivação menos memorável.
- É inegável que um trabalho excepcional foi feito no design dessa produção, a começar pelo próprio Baymax, que combina a dose certa de simplicidade com modernidade. As cenas em que vemos a cidade fictícia San Fransokyo demonstram um investimento visual muito delicado e um potencial criativo bem interessante.
- Adorei a trilha sonora, desde as instrumentais à Fall Out Boy.
No balanço das medidas, é um entretenimento de encantar os olhos à primeira vista, mas que perde força no decorrer da narrativa. Se não fosse pela riqueza que existe em Baymax, o filme seria só mais um clichê descartável, ainda que dele ainda se tenha muito mais a se explorar.
Brilhante sensibilidade de Kar Wai no jogo de perspectivas entre as grades - de uma prisão que muitos de nós já conhecemos. E com certeza a cena do segundo ensaio foi uma das construções mais incríveis e prazerosas que o cinema já me proporcionou. Delicadeza admirável.
Fantástico, não só pelo trabalho de animação, super delicada, mas também pela riqueza do universo criado por Miyazaki. Apesar de ser muito longo, é um dos mais envolventes e dinâmicos do diretor. Com personagens curiosos e um roteiro intrigante, é inevitável se deixar contagiar pelo misticismo da aventura.
The Babadook está certamente acima da média se comparado a maioria dos companheiros de gênero. Dar atenção a ele foi gratificante porque ele me provou ser digno de uma profunda análise, especialmente no que diz respeito ao roteiro. Recapitulando o filme diversas vezes, eu consegui observar alguns traços que podem ser hipóteses corretas ou meras coincidências, mas que valem ser registradas aqui porque não encontrei nenhum texto na internet que fazia tais associações.
Antes de partir para as camadas de construção do filme, me perturba a ideia de que Jennifer Kent tenha feito referências (e reverencias) ao cineasta russo Tarkovsky, e ninguém tenha comentado sobre isso. Chegar a ele não foi difícil porque a semelhança entre a personagem Amelia, com seus cabelos loiros desvairados e sua cara de cansada é muito semelhante a uma fase específica da personagem Natalya (procurem por imagens dela no Google), do filme "Zerkalo" (Espelho, 1975). "Zerkalo" é um filme sobre memórias fragmentadas, então não é preciso ser nenhum grande esforço pra entender a conexão. Além disso, ainda temos a cena em que se molha na banheira e as levitações sobre a cama, fazendo alusões a cenas memoráveis de Espelho. Sem contar que o filme já começa com fragmentos de vidro voando pra todos os lados. Já o final de The Babadook tem uma relação muito direta com o desfecho de "Stalker" (1979), outro famoso filme de Tarkovsky, que também se encerra flertando com o elemento místico.
Agora, as três possíveis camadas de interpretação da história de acordo com o meu ponto de vista. 1 - Tudo aconteceu como se vê na tela, literalmente. Babadook é realmente uma entidade invocada através da leitura dos livros e que passou a perturbar a família. No final, é exorcizado da figura do marido falecido e é encarcerado no porão da casa. 2 - As manifestações sobrenaturais são, na verdade, alucinações da mente de uma mãe perturbada por um trauma do passado, somada à solidão e à tensão de um filho problemático. Sem contar a insônia, aspecto que a leva a assistir TV durante a madrugada e acaba absorvendo figuras de clássicos do terror de forma inconsciente, o que em seu imaginário dá forma física a Babadook. No final, a loucura é trancafiada em algum lugar dentro de si para que possa exercer de seu amor pelo filho, mas sem conseguir se livrar dela por definitivo, permanece alimentando-a em seu porão interno. Um final feliz que representa uma vitória relativamente otimista.
E aí, depois de muito refletir e observar, no dia seguinte me questionei sobre uma série de pistas e comportamentos significativos que poderia aprofundar a questão, uma evolução do ponto anterior. Afinal, "a vida nem sempre é o que parece. Pode ser uma coisa maravilhosa. Mas também pode ser uma coisa muito enganosa para nós". É aqui que as coisas ficaram mais interessantes, se me permitem a especulação:
3 - Amelia, possivelmente viúva e possuída pela solidão, matou o cachorro e o filho mesmo, foi dada por louca e agora vive diante de uma televisão num manicômio. O ponto é: a notícia do crime em que Amelia se vê na TV (lembram disso?) aconteceu mesmo. A insanidade a convenceu de que Samuel era um garoto problemático e a irritava, então o matou. Mas, agora, movida pela culpa, tenta convencer a todos os personagens de sua mente de que ele só precisava de alguém que o entendesse, afinal, alguma sanidade ainda reluta e se debate por dentro. A ala dos idosos é logo ao lado, por isso sempre vê sua vizinha velhinha do outro lado. Forçar o garoto a tomar o medicamento é um reflexo direto do cotidiano que ela mesmo vive em sua ala. A notícia diz que o garoto comemorava seu aniversário quando esfaqueado pela própria mãe. Por que a existência dessa informação? Para nos conectar à cena final, quando Amelia dá os parabéns para o filho e o coloca no colo. Percebi que, naquelas condições, seria mesmo impossível - ou no mínimo improvável - um garoto de 7, 8 anos fazer aquela mágica da pomba. Foi quando eu me toquei que a cena era completamente onírica, uma fantasia que refletia, ainda no que lhe restava de sanidade, seu desejo irresgatável. E Samuel continua a incomodando na hora de dormir, mas a verdade é que a perturbação é exclusivamente psicológica.
Renegando a ideia de alucinação, mas assumindo agora uma ilusão ameaçadora, o remorso se associa à luta por sobrevivência de Samuel. E para combater uma ilusão, nada melhor que um mágico, aspiração infantil do garoto. Personagem que mais gostei, não só pela fenomenal interpretação e presença de Noah Wiseman em tela, mas também por ter características físicas e comportamentais muito parecidas com as de meu irmão pequeno, então a minha experiência foi mais íntima.
Babadook é um nome de sonoridade infantil e, ao mesmo tempo, se aproxima da ideia de onomatopeia, o que é uma conjunção bem criativa. Gosto de assistir filmes em silêncio, mas diversas vezes quebrei a norma pela necessidade de elogiar quadros que mostravam ambientes e detalhes da casa de madrugada, resultado de um trabalho de fotografia e composição belíssimos. Definitivamente um excelente investimento de tempo, tanto como entretenimento quanto reflexão.
Acho bastante válido conhecer a história que gira em torno do WikiLeaks e gosto em como o filme se assume como um ponto de vista. Baseado em dois livros, um deles escrito pelo próprio Domscheit-Berg, o roteirista fez um excelente trabalho em transformar a trajetória dos envolvidos em um quase filme policial, administrando os acontecimentos de forma a gerar um ritmo bem interessante. Além disso, os diálogos são excelentes, deixando algumas coisas subentendidas com criatividade.
Já a direção de BIll Condon tem coisas interessantes como a mise-èn-scene dos personagens quando a câmera está vagando e quando cria cenários metafóricos ou recursos poéticos como a cena das projeções das frases ou a sala infinita de computadores. Por outro lado, ainda que a dinâmica do filme tenha a ver com o processo, achei que os cortes são muito rápidos, o assunto é complicado pra quem está descontextualizado e a tensão a todo momento acaba cansando ao invés de prender o espectador. Mesmo revendo o longa ainda tem várias coisas que não consegui entender.
Cumberbatch ficou parecidíssimo com o verdadeiro Julian, até a voz caiu bem. E o engraçado é que interpretou um personagem que tem um filho Daniel, que trabalha com um Daniel interpretado por um Daniel. Pra quem gostou do filme, recomendo o documentário "We Steal Secrets". O próprio Assange não gostou de "The Fifth Estate" por tratar alguns acontecimentos de forma injusta e produziu o outro documentário, "Mediastan", que ainda não vi.
Organizar tantas informações deve ter dado um trabalho gigantesco. E acho que o resultado, ainda que longo demais, é bem rico e nos contextualiza bem. Ajuda a entender bastante coisa de "The Fifth Estate". Falta assistir "Mediastan" e conhecer o outro lado da moeda.
Realmente surpreendente por trabalhar com dois personagens alheios ao morcego: Coringa e Superman. O desenrolar de cada um é algo que eu nunca pensei que poderia assistir na tela.
Mesmo não tendo gostado do design do Batman com seu traje, o filme é maravilhoso tanto pela animação quanto pelo roteiro. Não é um trabalho preguiçoso, temos investimento visual o tempo todo, principalmente na parte criativa das lutas. A narrativa não só tem sacadas muito boas, com humor sarcástico e crítica à sociedade mas também pela habilidosa direção de Jay Oliva.
Eu costumava dizer que Peter Jackson poderia fazer mais 18 filmes do universo Tolkien que eu continuaria adorando. Todos os filmes passaram rápido pra mim, como se tivessem pouco mais de 1 hora. Sempre assisti com a ausência de qualquer senso crítico, impulsionado pelas sensações nostálgicas de O Senhor dos Aneis. Mas dessa vez, mesmo com baixas expectativas, a relação foi brutalmente decepcionante e eu consigo listar os motivos.
- Smaug era o terror psicológico no 1º filme, o terror real no 2º filme e no 3º ele morre nos primeiros minutos de uma maneira muito pequena pra toda glória que a franquia lhe devia. - O resgate de Gandalf é, certamente, o trecho mais ambíguo do filme inteiro porque apesar de ter os únicos momentos fodas de Elrond e Saruman, a bronca simplista que Galadriel dá em Sauron é, no mínimo, frustrante. - Bard é um coadjuvante que tem muito potencial mas a construção narrativa é péssima, fazendo tudo acontecer convenientemente ao seu redor de forma forçada. E, depois de tanta promessa, ele não tem um desfecho sólido e seus filhos são ignorados. - Junto com Bard, a Arken Stone - que deveria terminar no túmulo de Thorin - subitamente perde sua importância e ninguém mais liga pra ela. - Gandalf não faz absolutamente nada de legal. - Legolas exagera nas coisas legais - e no visual. Além disso, surge um drama desnecessário e vazio em torno de sua mãe, concluído por seu pai ao final,Thranduil, o que não nos afeta em absolutamente nada. - Tauriel. Sempre gostei da presença da personagem. Mas pra que investir tanto em uma criação avulsa ao livro se não tinha um final decente pra ela? Tudo aquilo pra isso?? - Pra que o Alfrid existe? - O excesso descontrolado de CG o tempo inteiro pra tudo. Até personagens andando a cavalo: virtuais. Alguns planos são escancaradamente mal feitos, onde se vê o recorte abrupto do ator destoando do fundo. - Muita luminescência em ambientes e personagens que não precisam disso, como mais latente exemplo, os anões. Brilho que só deveria ser apropriado a seres sagrados ou, no máximo, elfos. - Personagens viajam grandes distâncias sem as devidas articulações narrativas que denotam passagem de tempo. Eu me lembro quando uma viagem para determinado lugar costumava ser uma perigosa jornada.
De forma geral, a grande maioria dos acontecimentos foram mal construídos narrativamente falando. Ações reduzidas a intenções, as cenas que queremos ver não aparecem: Thorin e Dwalin contra goblins mercenários, Beorn se transformando e entrando na guerra, etc. Toda expectativa é amputada de nós. Só Martin Freeman interpretando o carismático hobbit parece agradar. Foi um alívio voltar ao condado, ouvir aquela música de novo e, mesmo assim, logo acabou. E tomara que também tenha acabado definitivamente pra Peter Jackson, que parece ter perdido o gosto pela magia do universo Tolkien pra computação gráfica. Com 5 ótimos filmes na bagagem, essa foi uma das maiores decepções do ano pra mim. Uma tristeza.
Depois de ter assistido o surpreendente Invocação do Mal, Annabelle realmente fica bem pra trás. Claro, ele foi produzido para ser independente, mas ele ignora dois dos princípios mais legais que regem o primeiro: os exorcistas e a verossimilhança. Uma máquina de costura simplesmente aumenta sua velocidade sem razão diegética alguma, só porque o cineasta quer que a tensão aumente: isso é esfregar a trapaça na cara do espectador. A boneca, apesar de assustadora, se revela não importante, no fim das contas, porque o demônio não precisa dela para agir. Aliás, ele age fisicamente, o que é bastante apelativo e sem graça porque, já que é assim, ele poderia fazer praticamente o que bem quisesse. O rosto do demônio é carregado demais de computação gráfica, o que compromete completamente o envolvimento sensorial do espectador com a cena.
E o pior dos aspectos negativos: a personagem da livraria que é um elemento de enganação desde o começo. Dá a entender que ela conhece o universo e pode combater o inimigo, mas decepciona e sabota o próprio filme. Ela é uma peça avulsa à narrativa, um recurso mal desenvolvido e covarde pro desfecho, em que ninguém se importa com seu drama e definitivamente não convence ninguém de que sua decisão final seria aceitável. Terrível construção.
Acho que a sessão vale exclusivamente pelas referências que faz a outros do gênero como "O Bebê de Rosemary", "Chucky" e até mesmo a Charles Manson, e algumas raras cenas que no decorrer da madrugada me surpreenderam. A cena do elevador como ideia é bastante funcional e a maneira como é filmada é uma das poucas coisas realmente boas do filme. O jeito é esperar por Invocação do Mal 2 pra ver se Annabelle foi um pequeno grande descuido ou se o primeiro Invocação do Mal que foi uma jogada de sorte.
Brilhante história que desafia tabus e determinismos estúpidos da sociedade. O garoto que precisa ir atrás de quem realmente é trocando o boxe pelo balé. Uma escolha de êxito improvável em um universo onde todos estão lutando o tempo todo - e portanto as luvas deveriam ser mais úteis que os sapatos. A perseverança do garoto é bonita porque é pura e legítima, só sendo possível de transparência por ser uma criança ainda não lapidada pelos padrões do mundo. Além disso, mesmo sendo solitário, é valente o suficiente para encarar de frente as adversidades (ainda que seja no sapateado). Tudo fica ainda mais sólido com a cuidadosa construção do personagem que vai desde o seu olhar, ora reprimido, ora sonhador, às suas fraquezas humanas, seus trejeitos infantis e suas respostas inocentes. Nesse aspecto, um olhar atento pode encontrar uma enorme riqueza em Billy.
Basicamente, o que mais cativa na obra é a delicadeza poética que Daldry consegue articular, construindo cenas magníficas, de uma sensibilidade cinematográfica máxima, admirável e invejável. Tem algo de mágico na textura da película, algo de envolvente na trilha sonora, que parece que estamos assistindo a um clássico da Disney em uma instância de verdade possível. Acompanhar a jornada corajosa de Elliot é uma experiência definitivamente encantadora. A cena em que Billy é colocado em cima da mesa para dançar diante dos muros psicológicos certamente ocupa agora uma das posições mais altas das melhores cenas do cinema que eu já vi. A dança que enfrenta o preconceito do pai, o ônibus partindo, o pai furando a greve, a briga com a professora, tudo é tão intenso que foi até difícil enxergar a tela através das lágrimas - ainda que serenas. Não sei se gosto de como o final é construído mas, no geral, é algo de se ficar realmente maravilhado.
Achei um total desperdício de tempo, além de me sentir explorado por Hollywood como nunca fui anteriormente. Quase nada efetivamente importante acontece o filme inteiro, fica a nítida sensação de que só fizeram essa primeira parte para ganhar dinheiro. Tipo, DESCARADAMENTE, preenchendo com muita enrolação.
Nem a admirável atuação da Jennifer Lawrence salvou este e, ao lado dele, os últimos dois são obras-primas. Esse 3º provavelmente é a fruta podre da cesta, porque eu ainda torço por um bom 4º filme.
Quando eu vi o pôster, pensei que seria algo como "Drive" que, no final das contas, tem mesmo alguma semelhança. Essa foi minha única expectativa antes de assistir o filme porque - ainda bem - não tinha assistido o trailer, que agora vejo que é feito de spoilers que estragariam muito da experiência. Recomendo que, se ainda for tempo, também adote esse procedimento.
O filme mostra a evolução de uma ambição cega por sobrevivência, dinheiro e sucesso respectivamente que vai corroendo a capacidade de empatia pela humanidade. Jornais ganham audiência em cima do sangue de outros, empresas conseguem progresso extraindo o máximo da vida de seus funcionários, a exploração canibalesca do capitalismo. O tema é batido, mas a maneira como é tratado é bem interessante. A analogia conta com uma empresa vermelha em alta velocidade que persegue seus objetivos de alto risco e, se o funcionário falha, todo o sistema vai para a direção errada. Dependendo do caso, seu erro pode significar uma morte social e profissional.
Lou, persistente e adaptável, é um representante daqueles que dirigem esse tipo de empresa. Estrategista cruel, negociador terrorista, de simpatia artificial, distúrbios reprimidos, persuasão fria, equilíbrio aparente, solidário egoísta, sistemático e objetivo. Sem dúvida uma das melhores oportunidades de Jake Gyllenhaal mostrar suas capacidades como intérprete - e mostrou. O anti-herói de expressão doente e pedinte, vilão em potencial, rastejando pela noite tentando se agarrar a qualquer atrativo conveniente é um dos grandes êxitos do filme. Com tudo isso, o personagem ficou realmente impecável.
Gilroy foi habilidoso em contextualizar as peças do jogo e ativar os desdobramentos que incitam a tensão da narrativa, que melhora numa progressão surpreendente. É uma pena que a cena do espelho não tenha sido para fins de apreciação, mas as perseguições e a alegoria da obra fazem compensar. A trilha sonora me causou um estranhamento enorme, mas quando eu entendi que a ironia e surgiram os vestígios de humor negro, ela passou a fazer sentido.
Se eu disser que conheço vários empresários como Lou e sou cinegrafista freelancer, não preciso mais dizer o quanto me relacionei com o filme - e assim viro suspeito. Excelente trabalho.
O filme sofre do mesmo problema da grande maioria das biografias: um amontoado de resumos que dificilmente me dá tempo de sentir o que está em jogo. Percebi que isso seria recorrente a partir da cena do baile, no começo, onde desperdiçam uma analogia com o brilho das estrelas, o que daria uma cena linda se fosse trabalhada para ser apreciada cinematograficamente. Também tive um pequeno problema com os diálogos que constantemente estão pressionando o personagem a dizer coisas inteligentes e reflexivas o tempo todo. Cada pequena cena é muito romântica e aflorada, o que artificializa os personagens como representações de pessoas que não habitam a ficção. E pra encerrar a sessão de desaprovações, o recurso reverso no final foi bastante previsível e poderia ter se pensado em uma forma menos óbvia e mais criativa, eu acho, apesar de fazer bastante sentido poeticamente.
Gostei muito da interpretação de Redmayne, principalmente quando só se é capaz de fazê-lo pelos olhares e pequenos gestos. Seu sorriso foi ficando cada vez mais cativante, assim como também consegui sentir simpatia por todos os outros personagens - tarefa difícil de se fazer em uma situação dessas. Além disso, a semelhança com o verdadeiro Hawking também me surpreendeu. Acho que a direção às vezes deixa algumas cenas prematuras ou mal aplicadas, assim como a que ele levanta pra pegar a caneta na imaginação, mas acerta em algumas outras mais simples, como o seu constrangimento pela dificuldade de jantar à mesa e tenta subir as escadas, várias no processo de separação ou quando na maioria das que os filhos estão presentes. Deixo meu rápido elogio à pós produção no que se refere ao tratamento de cor específico pra cada cena ou ambiente em sintonia ao estado emocional. A trilha sonora foi um aspecto bastante positivo e que conseguiu contribuir pra que eu me envolvesse afetivamente com o drama e com a bela mensagem da obra.
É impressionante ver a naturalidade das relações tanto com o ambiente quanto entre eles mesmos. As condições dos intérpretes trazem muita verdade e crueza ao olhar. Ver a deformação inocente, a aridez do desamparo, crianças com responsabilidades adultas - trocando minas por metralhadoras. Faz repensar a nossa existência cultural, política, econômica, geográfica e principalmente humana.
Pra levantar depois desse filme foi como se de repente eu precisasse de muletas.
Memórias de um Assassino
4.2 366 Assista AgoraEu queria que esse filme tivesse mais duas horas!
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraBem mais longo do que eu gostaria, bem mais interessante do que eu imaginava. Mas afinal, o filme fala sobre excessos mesmo. Lamento pela tão breve aparição de McConaughey, ainda que tenha sido fundamental pra alavancada do personagem a uma direção mais excêntrica.
Com bastante humor e excelentes atuações, Scorcese ainda encontra espaço pra dar o seu toque de genialidade. É claro que a cena da droga é maravilhosa, hilária e conquista qualquer um, mas me chama ainda mais atenção outra cena:
o homem se ajoelha perante a mulher de pernas abertas e ela o tem domado, agora de quatro para ela, com a ponta do salto amparado em sua testa.
Acho que o Jordan Belfort retratado daria um pastor muito perigoso e não há dúvidas, Leonardo DiCaprio é um ator excepcional e melhora a cada ano. Se ele merecia ter ganhado o Oscar? Eu diria que, sem exageros, ele já está um nível acima disso.
O Clássico
4.1 30É incrível como os orientais têm um domínio cinematográfico mais sensível pras relações humanas afetivas. A trama do amor proibido pode não ser a mais original, mas certamente o modo como a história é contada encanta pela criatividade e delicadeza das atitudes.
Acho que em "The Classic" existem muitas cenas dispensáveis (inclusive várias com centenas de figurantes), mas o que mais me incomodou foi a incapacidade dos atores em chorar (algumas tentativas são quase vergonhosas). Além disso, a ideia do
guarda-chuva deixado de propósito
Particularmente prefiro outros filmes do diretor ("Minha Namorada é um Cyborg" ou "Minha Garota Atrevida"), mas esse continua tendo as mesmas características das obras do cineasta: longas histórias românticas, humor apaixonante, sensações marcantes e trilhas sonoras memoráveis.
Só na segunda vez que assisti que entendi que a narradora do tempo atual não é filha do casal do passado e sim do cara alto que desmaiava.
A Mulher de Preto 2: O Anjo da Morte
2.3 477 Assista AgoraEntrei desmotivado no cinema pelo frustrante filme anterior e fui surpreendido pelo amadurecimento cinematográfico que a produção conquistou. Dessa vez, ela repara cada um dos defeitos do anterior, desde os cenários artificiais à banalização do horror.
A fotografia aqui é incomparavelmente mais expressiva e funcional, assumindo a escuridão como elemento narrativo e sensorial. Finalmente uma atriz para protagonista que além de uma beleza cativante consegue interpretar com envolvimento e verdade. O seu drama com o passado tem muito mais fundamento e relevância pra trama que a do protagonista anterior, interpretado por Daniel. A história apresentada no primeiro filme ganha força neste com a chegada de crianças na casa e problematizando a relação considerando que um deles é órfão.
Os problemas do longa são clichês, aquelas famosas forçadinhas no roteiro pra que tudo aconteça como o escritor quer. Exemplo mais claro disso é o rapaz Harry, que sempre aparece nas horas mais convenientes, tem uma construção de personagem péssima e toma uma decisão drástica gratuitamente. Mas desconsiderando alguns momentos, é um filme que me deixou satisfeito por ter aprendido tanto, demonstrado toda essa melhora e continuar tendo o poder de nos dar sustos mesmo quando sabemos que eles estão vindo.
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraPensei que ia adorar esse filme pelo tanto de barulho que faz. Superestimei, confesso.
Personagens repentinamente abandonados deixam ideias pairando pelo quebra-cabeça. Irandhir salva no campo das interpretações sendo o único com o mínimo de carisma.
Por outro lado, ideias soltam podem ser interpretadas como sugestões, desconfianças ou como o perigo iminente de algo que efetivamente não acontece. Diálogo direto com algo que se possa apresentar como paranoia, já traduzida em grades e trancas ao redor. Até porque o homem urbano contemporâneo é mesmo repugnante de uma forma contagiosa e não é de hoje que é sua maior ameaça. A necessidade de segurança que nos ronda, seja pelos tomadores de conta de carro, pelos guardas noturnos ou pelos guarda-costas se tornou tão necessária quanto ineficiente. Ainda que tenha problemas incômodos de interpretação, a melhor cena certamente é a reunião de condomínio e sintetiza muito disso.
Decodificar a mensagem fragmentada vale muito pela reflexão, mas acho que o filme poderia ter uns 20 minutos a menos.
A Mulher de Preto
3.0 2,9KHistória intrigante e consegue grudar na nossa memória de forma bem emblemática.
A direção de arte me incomoda com uma falsa naturalidade, o cenário não convence. A direção de fotografia, pra mim um dos maiores pecados do filme, não sei por que razão elucida paredes e objetos que deveriam estar engolidos pelas sombras, lavando tudo com uma fraca luz azul. Daniel faz um bom trabalho, mas seu personagem não ajuda muito. O protagonista é raso dramaticamente falando, tanto pela questão dispensável de sua falecida esposa quanto por suas convicções que também me parecem impróprias. O desenrolar do filme banaliza o terror que insiste no mesmo truque, e acaba se embaralhando num ritmo anestesiante (do tipo que no final eu já não me importava mais). É um filme assustador no sentido de dar sustos, mas dificilmente aterroriza de fato. O final, como era de se esperar, frustrante.
Ao contrário deste, o segundo filme tem consciência dos erros deste e felizmente consertaram todos os pontos que levantei acima.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
4.0 3,7K Assista AgoraÉ bem confuso pra mim decidir se gosto ou não do filme, porque ao mesmo tempo que ele é bem sucedido em consertar todo o estrago já feito, às vezes me parece que ele tem a faca e o queijo na mão e corta o dedo.
A começar pelos personagens, o lado negativo, é que no tempo catastrófico os x-men lutam contra sentinelas implacáveis e não existe qualquer profundidade dramática individual ali. Tempestade sequer tem alguma fala? Os efeitos visuais e a criatividade em cena são excelentes durante as batalhas, mas a luta não é dramaticamente explorada, tudo acaba rápido, um massacre de personagens e personalidades, reduzidos a meros obstáculos para atrasar o inimigo. O lado positivo é um privilégio da produção, que consegue reunir todos os atores tradicionais da franquia e poder vê-los interpretando seus personagens de sempre é gratificante.
Sobre o roteiro, não gosto de algumas atitudes forçadas de alguns personagens, como por exemplo quando Magneto, depois de atingido, se levanta normalmente como se nada tivesse acontecido com seu pescoço e simplesmente vai embora. E, tendo antes o controle dos Sentinelas, por que não sabotar a apresentação pra provar que eles não representavam tal segurança? Foi estranho ver Logan ocupando a posição central do filme como um mocinho sensato apanhando o filme inteiro. Senti falta do selvagem que resolvia as coisas "à sua maneira". Indignação pelo descarte e desperdício do melhor personagem do filme: Pietro. A invasão da prisão de plástico certamente superou a cena de quando Noturno invadiu a Casa Branca em X-Men 2. Pietro poderia ter levado o filme para outro nível pelo carisma e pela criatividade cinematográfica que lhe cabe.
Apesar de achar que a produção joga muito com o marketing de estrelas, espero que os x-men continuem sendo interpretados pelos mesmos atores por um bom tempo. Com tudo isso dito, a cena final é ótima, aliviante e alimenta boas expectativas.
Operação Big Hero
4.2 1,9K Assista AgoraUma produção digna de grandes elogios e enormes decepções. Uma ambiguidade que mistura uma fantástica premissa e um desenrolar desleixado. É um filme que dá pra gostar muito se você imagina uma versão paralela na sua mente.
Começando pelos desagrados:
- Incomoda demais o descaso que existe na construção do vilão. Nem vendo personagens como Coringa ou Loki (pra citar os mais recentes) os estúdios aprenderam o quanto eles são importantes pra essência de um filme. A motivação do antagonista aqui é razoável, mas seu comportamento é totalmente desmedido, uma vez que realiza ataques mortais a personagens que nada tem a ver com seu objetivo.
- Logo em seguida, temos um enorme acúmulo de personagens coadjuvantes basicamente desnecessários, unidimensionais e que reforçam representatividades bem clichês (a patricinha, o negro, a revoltada e o esquisito). Numa versão mais bagunçada de "Os Incríveis", eles formam uma equipe em que se vê Hiro, Baymax e ~os outros~ cuja construção é lamentável.
- Com uma produção desse tamanho e com tanta criatividade engatilhada, os roteiristas parecem querer deixar de propósito inúmeras coisas sem sentido acontecerem. Por exemplo, quando o portal cai no chão, Krei diz que é impossível fechá-lo, mas basta Hiro voltar de lá que ele se fecha naturalmente. Era simples, era só dar aos personagens um meio de fechá-lo. As brigas de robôs e seus componentes, do início do filme, são descartadas em definitivo. Até sua tia é esquecida. Ninguém se espanta com um robô branco andando na rua. Já à noite, durante a fuga, a cidade é completamente deserta, não há humanização na história. Sem querer ser chato, tem várias coisas que não fazem sentido na cena do resgate da astronauta. E quando Baymax é reconstruído, seria incrível se Hiro testasse sua identidade usando o toque que ensinou a ele. Seria incrível se houvesse um trabalho narrativo em torno da amizade entre os dois, como acontece com Soluço e Banguela em "Como Treinar seu Dragão". Mas parece que tudo que importa agora é em terminar o primogênito de uma potencial franquia.
Agora, dos pontos positivos:
- A primeira metade do filme (até a cena da fuga que termina na água) é excelente e talvez faça compensar o ingresso do cinema. O filme mostra que não só está disposto a lidar com uma variedade de tecnologia fascinante, como também captura a atenção do espectador com acontecimentos inesperados. Além disso, algumas raras vezes tem a sensibilidade de fazer pequenas piadas visuais bem interessantes como quando Wasabi abre um buraco na parede usando suas lâminas de forma desajeitada ou Baymax tampa seus furos com durex.
- Inspirado na pesquisa "Robóticas Macias", Baymax merece um elogio à parte, porque o trabalho de construção do personagem é admiravelmente bem feito. Além do nome sofisticado e pertinente, sua personalidade pueril e generosa é tão cativante quanto suas possibilidades combativas. Souberam se apropriar bem do sucesso e das características do Homem de Ferro sem transformá-lo em uma derivação menos memorável.
- É inegável que um trabalho excepcional foi feito no design dessa produção, a começar pelo próprio Baymax, que combina a dose certa de simplicidade com modernidade. As cenas em que vemos a cidade fictícia San Fransokyo demonstram um investimento visual muito delicado e um potencial criativo bem interessante.
- Adorei a trilha sonora, desde as instrumentais à Fall Out Boy.
No balanço das medidas, é um entretenimento de encantar os olhos à primeira vista, mas que perde força no decorrer da narrativa. Se não fosse pela riqueza que existe em Baymax, o filme seria só mais um clichê descartável, ainda que dele ainda se tenha muito mais a se explorar.
Amor à Flor da Pele
4.3 500 Assista AgoraBrilhante sensibilidade de Kar Wai no jogo de perspectivas entre as grades - de uma prisão que muitos de nós já conhecemos. E com certeza a cena do segundo ensaio foi uma das construções mais incríveis e prazerosas que o cinema já me proporcionou. Delicadeza admirável.
Princesa Mononoke
4.4 944 Assista AgoraFantástico, não só pelo trabalho de animação, super delicada, mas também pela riqueza do universo criado por Miyazaki. Apesar de ser muito longo, é um dos mais envolventes e dinâmicos do diretor. Com personagens curiosos e um roteiro intrigante, é inevitável se deixar contagiar pelo misticismo da aventura.
Destaque para as maravilhosas cenas
de Ashitaka separando a briga e Mononoke mastigando para ele.
O Babadook
3.5 2,0KNão fiz controle de spoilers.
The Babadook está certamente acima da média se comparado a maioria dos companheiros de gênero. Dar atenção a ele foi gratificante porque ele me provou ser digno de uma profunda análise, especialmente no que diz respeito ao roteiro. Recapitulando o filme diversas vezes, eu consegui observar alguns traços que podem ser hipóteses corretas ou meras coincidências, mas que valem ser registradas aqui porque não encontrei nenhum texto na internet que fazia tais associações.
Antes de partir para as camadas de construção do filme, me perturba a ideia de que Jennifer Kent tenha feito referências (e reverencias) ao cineasta russo Tarkovsky, e ninguém tenha comentado sobre isso. Chegar a ele não foi difícil porque a semelhança entre a personagem Amelia, com seus cabelos loiros desvairados e sua cara de cansada é muito semelhante a uma fase específica da personagem Natalya (procurem por imagens dela no Google), do filme "Zerkalo" (Espelho, 1975). "Zerkalo" é um filme sobre memórias fragmentadas, então não é preciso ser nenhum grande esforço pra entender a conexão. Além disso, ainda temos a cena em que se molha na banheira e as levitações sobre a cama, fazendo alusões a cenas memoráveis de Espelho. Sem contar que o filme já começa com fragmentos de vidro voando pra todos os lados. Já o final de The Babadook tem uma relação muito direta com o desfecho de "Stalker" (1979), outro famoso filme de Tarkovsky, que também se encerra flertando com o elemento místico.
Agora, as três possíveis camadas de interpretação da história de acordo com o meu ponto de vista.
1 - Tudo aconteceu como se vê na tela, literalmente. Babadook é realmente uma entidade invocada através da leitura dos livros e que passou a perturbar a família. No final, é exorcizado da figura do marido falecido e é encarcerado no porão da casa.
2 - As manifestações sobrenaturais são, na verdade, alucinações da mente de uma mãe perturbada por um trauma do passado, somada à solidão e à tensão de um filho problemático. Sem contar a insônia, aspecto que a leva a assistir TV durante a madrugada e acaba absorvendo figuras de clássicos do terror de forma inconsciente, o que em seu imaginário dá forma física a Babadook. No final, a loucura é trancafiada em algum lugar dentro de si para que possa exercer de seu amor pelo filho, mas sem conseguir se livrar dela por definitivo, permanece alimentando-a em seu porão interno. Um final feliz que representa uma vitória relativamente otimista.
E aí, depois de muito refletir e observar, no dia seguinte me questionei sobre uma série de pistas e comportamentos significativos que poderia aprofundar a questão, uma evolução do ponto anterior. Afinal, "a vida nem sempre é o que parece. Pode ser uma coisa maravilhosa. Mas também pode ser uma coisa muito enganosa para nós". É aqui que as coisas ficaram mais interessantes, se me permitem a especulação:
3 - Amelia, possivelmente viúva e possuída pela solidão, matou o cachorro e o filho mesmo, foi dada por louca e agora vive diante de uma televisão num manicômio. O ponto é: a notícia do crime em que Amelia se vê na TV (lembram disso?) aconteceu mesmo. A insanidade a convenceu de que Samuel era um garoto problemático e a irritava, então o matou. Mas, agora, movida pela culpa, tenta convencer a todos os personagens de sua mente de que ele só precisava de alguém que o entendesse, afinal, alguma sanidade ainda reluta e se debate por dentro. A ala dos idosos é logo ao lado, por isso sempre vê sua vizinha velhinha do outro lado. Forçar o garoto a tomar o medicamento é um reflexo direto do cotidiano que ela mesmo vive em sua ala. A notícia diz que o garoto comemorava seu aniversário quando esfaqueado pela própria mãe. Por que a existência dessa informação? Para nos conectar à cena final, quando Amelia dá os parabéns para o filho e o coloca no colo. Percebi que, naquelas condições, seria mesmo impossível - ou no mínimo improvável - um garoto de 7, 8 anos fazer aquela mágica da pomba. Foi quando eu me toquei que a cena era completamente onírica, uma fantasia que refletia, ainda no que lhe restava de sanidade, seu desejo irresgatável. E Samuel continua a incomodando na hora de dormir, mas a verdade é que a perturbação é exclusivamente psicológica.
Renegando a ideia de alucinação, mas assumindo agora uma ilusão ameaçadora, o remorso se associa à luta por sobrevivência de Samuel. E para combater uma ilusão, nada melhor que um mágico, aspiração infantil do garoto. Personagem que mais gostei, não só pela fenomenal interpretação e presença de Noah Wiseman em tela, mas também por ter características físicas e comportamentais muito parecidas com as de meu irmão pequeno, então a minha experiência foi mais íntima.
Babadook é um nome de sonoridade infantil e, ao mesmo tempo, se aproxima da ideia de onomatopeia, o que é uma conjunção bem criativa. Gosto de assistir filmes em silêncio, mas diversas vezes quebrei a norma pela necessidade de elogiar quadros que mostravam ambientes e detalhes da casa de madrugada, resultado de um trabalho de fotografia e composição belíssimos. Definitivamente um excelente investimento de tempo, tanto como entretenimento quanto reflexão.
O Quinto Poder
3.3 176 Assista AgoraAcho bastante válido conhecer a história que gira em torno do WikiLeaks e gosto em como o filme se assume como um ponto de vista. Baseado em dois livros, um deles escrito pelo próprio Domscheit-Berg, o roteirista fez um excelente trabalho em transformar a trajetória dos envolvidos em um quase filme policial, administrando os acontecimentos de forma a gerar um ritmo bem interessante. Além disso, os diálogos são excelentes, deixando algumas coisas subentendidas com criatividade.
Já a direção de BIll Condon tem coisas interessantes como a mise-èn-scene dos personagens quando a câmera está vagando e quando cria cenários metafóricos ou recursos poéticos como a cena das projeções das frases ou a sala infinita de computadores. Por outro lado, ainda que a dinâmica do filme tenha a ver com o processo, achei que os cortes são muito rápidos, o assunto é complicado pra quem está descontextualizado e a tensão a todo momento acaba cansando ao invés de prender o espectador. Mesmo revendo o longa ainda tem várias coisas que não consegui entender.
Cumberbatch ficou parecidíssimo com o verdadeiro Julian, até a voz caiu bem. E o engraçado é que interpretou um personagem que tem um filho Daniel, que trabalha com um Daniel interpretado por um Daniel. Pra quem gostou do filme, recomendo o documentário "We Steal Secrets". O próprio Assange não gostou de "The Fifth Estate" por tratar alguns acontecimentos de forma injusta e produziu o outro documentário, "Mediastan", que ainda não vi.
Nós Roubamos Segredos: A História do WikiLeaks
3.8 28Organizar tantas informações deve ter dado um trabalho gigantesco. E acho que o resultado, ainda que longo demais, é bem rico e nos contextualiza bem. Ajuda a entender bastante coisa de "The Fifth Estate". Falta assistir "Mediastan" e conhecer o outro lado da moeda.
Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 2
4.3 370 Assista AgoraRealmente surpreendente por trabalhar com dois personagens alheios ao morcego: Coringa e Superman. O desenrolar de cada um é algo que eu nunca pensei que poderia assistir na tela.
Do primeiro, ele mata e perde, do segundo, ele é derrotado e vence.
E finalmente eu entendi por que "cavaleiro" das trevas. Pra quem gosta do Batman, essa animação é essencial.
Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 1
4.2 356 Assista AgoraMesmo não tendo gostado do design do Batman com seu traje, o filme é maravilhoso tanto pela animação quanto pelo roteiro. Não é um trabalho preguiçoso, temos investimento visual o tempo todo, principalmente na parte criativa das lutas. A narrativa não só tem sacadas muito boas, com humor sarcástico e crítica à sociedade mas também pela habilidosa direção de Jay Oliva.
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
3.9 2,0K Assista AgoraEu costumava dizer que Peter Jackson poderia fazer mais 18 filmes do universo Tolkien que eu continuaria adorando. Todos os filmes passaram rápido pra mim, como se tivessem pouco mais de 1 hora. Sempre assisti com a ausência de qualquer senso crítico, impulsionado pelas sensações nostálgicas de O Senhor dos Aneis. Mas dessa vez, mesmo com baixas expectativas, a relação foi brutalmente decepcionante e eu consigo listar os motivos.
- Smaug era o terror psicológico no 1º filme, o terror real no 2º filme e no 3º ele morre nos primeiros minutos de uma maneira muito pequena pra toda glória que a franquia lhe devia.
- O resgate de Gandalf é, certamente, o trecho mais ambíguo do filme inteiro porque apesar de ter os únicos momentos fodas de Elrond e Saruman, a bronca simplista que Galadriel dá em Sauron é, no mínimo, frustrante.
- Bard é um coadjuvante que tem muito potencial mas a construção narrativa é péssima, fazendo tudo acontecer convenientemente ao seu redor de forma forçada. E, depois de tanta promessa, ele não tem um desfecho sólido e seus filhos são ignorados.
- Junto com Bard, a Arken Stone - que deveria terminar no túmulo de Thorin - subitamente perde sua importância e ninguém mais liga pra ela.
- Gandalf não faz absolutamente nada de legal.
- Legolas exagera nas coisas legais - e no visual. Além disso, surge um drama desnecessário e vazio em torno de sua mãe, concluído por seu pai ao final,Thranduil, o que não nos afeta em absolutamente nada.
- Tauriel. Sempre gostei da presença da personagem. Mas pra que investir tanto em uma criação avulsa ao livro se não tinha um final decente pra ela? Tudo aquilo pra isso??
- Pra que o Alfrid existe?
- O excesso descontrolado de CG o tempo inteiro pra tudo. Até personagens andando a cavalo: virtuais. Alguns planos são escancaradamente mal feitos, onde se vê o recorte abrupto do ator destoando do fundo.
- Muita luminescência em ambientes e personagens que não precisam disso, como mais latente exemplo, os anões. Brilho que só deveria ser apropriado a seres sagrados ou, no máximo, elfos.
- Personagens viajam grandes distâncias sem as devidas articulações narrativas que denotam passagem de tempo. Eu me lembro quando uma viagem para determinado lugar costumava ser uma perigosa jornada.
De forma geral, a grande maioria dos acontecimentos foram mal construídos narrativamente falando. Ações reduzidas a intenções, as cenas que queremos ver não aparecem: Thorin e Dwalin contra goblins mercenários, Beorn se transformando e entrando na guerra, etc. Toda expectativa é amputada de nós. Só Martin Freeman interpretando o carismático hobbit parece agradar. Foi um alívio voltar ao condado, ouvir aquela música de novo e, mesmo assim, logo acabou. E tomara que também tenha acabado definitivamente pra Peter Jackson, que parece ter perdido o gosto pela magia do universo Tolkien pra computação gráfica. Com 5 ótimos filmes na bagagem, essa foi uma das maiores decepções do ano pra mim. Uma tristeza.
Liga da Justiça: Ponto de Ignição
4.2 446 Assista AgoraFantástico!
Annabelle
2.7 2,7K Assista AgoraDepois de ter assistido o surpreendente Invocação do Mal, Annabelle realmente fica bem pra trás. Claro, ele foi produzido para ser independente, mas ele ignora dois dos princípios mais legais que regem o primeiro: os exorcistas e a verossimilhança. Uma máquina de costura simplesmente aumenta sua velocidade sem razão diegética alguma, só porque o cineasta quer que a tensão aumente: isso é esfregar a trapaça na cara do espectador. A boneca, apesar de assustadora, se revela não importante, no fim das contas, porque o demônio não precisa dela para agir. Aliás, ele age fisicamente, o que é bastante apelativo e sem graça porque, já que é assim, ele poderia fazer praticamente o que bem quisesse. O rosto do demônio é carregado demais de computação gráfica, o que compromete completamente o envolvimento sensorial do espectador com a cena.
E o pior dos aspectos negativos: a personagem da livraria que é um elemento de enganação desde o começo. Dá a entender que ela conhece o universo e pode combater o inimigo, mas decepciona e sabota o próprio filme. Ela é uma peça avulsa à narrativa, um recurso mal desenvolvido e covarde pro desfecho, em que ninguém se importa com seu drama e definitivamente não convence ninguém de que sua decisão final seria aceitável. Terrível construção.
Acho que a sessão vale exclusivamente pelas referências que faz a outros do gênero como "O Bebê de Rosemary", "Chucky" e até mesmo a Charles Manson, e algumas raras cenas que no decorrer da madrugada me surpreenderam. A cena do elevador como ideia é bastante funcional e a maneira como é filmada é uma das poucas coisas realmente boas do filme. O jeito é esperar por Invocação do Mal 2 pra ver se Annabelle foi um pequeno grande descuido ou se o primeiro Invocação do Mal que foi uma jogada de sorte.
Billy Elliot
4.2 967 Assista AgoraBrilhante história que desafia tabus e determinismos estúpidos da sociedade. O garoto que precisa ir atrás de quem realmente é trocando o boxe pelo balé. Uma escolha de êxito improvável em um universo onde todos estão lutando o tempo todo - e portanto as luvas deveriam ser mais úteis que os sapatos. A perseverança do garoto é bonita porque é pura e legítima, só sendo possível de transparência por ser uma criança ainda não lapidada pelos padrões do mundo. Além disso, mesmo sendo solitário, é valente o suficiente para encarar de frente as adversidades (ainda que seja no sapateado). Tudo fica ainda mais sólido com a cuidadosa construção do personagem que vai desde o seu olhar, ora reprimido, ora sonhador, às suas fraquezas humanas, seus trejeitos infantis e suas respostas inocentes. Nesse aspecto, um olhar atento pode encontrar uma enorme riqueza em Billy.
Basicamente, o que mais cativa na obra é a delicadeza poética que Daldry consegue articular, construindo cenas magníficas, de uma sensibilidade cinematográfica máxima, admirável e invejável. Tem algo de mágico na textura da película, algo de envolvente na trilha sonora, que parece que estamos assistindo a um clássico da Disney em uma instância de verdade possível. Acompanhar a jornada corajosa de Elliot é uma experiência definitivamente encantadora. A cena em que Billy é colocado em cima da mesa para dançar diante dos muros psicológicos certamente ocupa agora uma das posições mais altas das melhores cenas do cinema que eu já vi. A dança que enfrenta o preconceito do pai, o ônibus partindo, o pai furando a greve, a briga com a professora, tudo é tão intenso que foi até difícil enxergar a tela através das lágrimas - ainda que serenas. Não sei se gosto de como o final é construído mas, no geral, é algo de se ficar realmente maravilhado.
Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1
3.8 2,4K Assista AgoraAchei um total desperdício de tempo, além de me sentir explorado por Hollywood como nunca fui anteriormente. Quase nada efetivamente importante acontece o filme inteiro, fica a nítida sensação de que só fizeram essa primeira parte para ganhar dinheiro. Tipo, DESCARADAMENTE, preenchendo com muita enrolação.
Nem a admirável atuação da Jennifer Lawrence salvou este e, ao lado dele, os últimos dois são obras-primas. Esse 3º provavelmente é a fruta podre da cesta, porque eu ainda torço por um bom 4º filme.
Quanto Mais Quente Melhor
4.3 853 Assista AgoraUm dos mais admiráveis roteiros de humor que eu já vi. Fantástico.
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraQuando eu vi o pôster, pensei que seria algo como "Drive" que, no final das contas, tem mesmo alguma semelhança. Essa foi minha única expectativa antes de assistir o filme porque - ainda bem - não tinha assistido o trailer, que agora vejo que é feito de spoilers que estragariam muito da experiência. Recomendo que, se ainda for tempo, também adote esse procedimento.
O filme mostra a evolução de uma ambição cega por sobrevivência, dinheiro e sucesso respectivamente que vai corroendo a capacidade de empatia pela humanidade. Jornais ganham audiência em cima do sangue de outros, empresas conseguem progresso extraindo o máximo da vida de seus funcionários, a exploração canibalesca do capitalismo. O tema é batido, mas a maneira como é tratado é bem interessante. A analogia conta com uma empresa vermelha em alta velocidade que persegue seus objetivos de alto risco e, se o funcionário falha, todo o sistema vai para a direção errada. Dependendo do caso, seu erro pode significar uma morte social e profissional.
Lou, persistente e adaptável, é um representante daqueles que dirigem esse tipo de empresa. Estrategista cruel, negociador terrorista, de simpatia artificial, distúrbios reprimidos, persuasão fria, equilíbrio aparente, solidário egoísta, sistemático e objetivo. Sem dúvida uma das melhores oportunidades de Jake Gyllenhaal mostrar suas capacidades como intérprete - e mostrou. O anti-herói de expressão doente e pedinte, vilão em potencial, rastejando pela noite tentando se agarrar a qualquer atrativo conveniente é um dos grandes êxitos do filme. Com tudo isso, o personagem ficou realmente impecável.
Gilroy foi habilidoso em contextualizar as peças do jogo e ativar os desdobramentos que incitam a tensão da narrativa, que melhora numa progressão surpreendente. É uma pena que a cena do espelho não tenha sido para fins de apreciação, mas as perseguições e a alegoria da obra fazem compensar. A trilha sonora me causou um estranhamento enorme, mas quando eu entendi que a ironia e surgiram os vestígios de humor negro, ela passou a fazer sentido.
Se eu disser que conheço vários empresários como Lou e sou cinegrafista freelancer, não preciso mais dizer o quanto me relacionei com o filme - e assim viro suspeito. Excelente trabalho.
A Teoria de Tudo
4.1 3,4K Assista AgoraO filme sofre do mesmo problema da grande maioria das biografias: um amontoado de resumos que dificilmente me dá tempo de sentir o que está em jogo. Percebi que isso seria recorrente a partir da cena do baile, no começo, onde desperdiçam uma analogia com o brilho das estrelas, o que daria uma cena linda se fosse trabalhada para ser apreciada cinematograficamente. Também tive um pequeno problema com os diálogos que constantemente estão pressionando o personagem a dizer coisas inteligentes e reflexivas o tempo todo. Cada pequena cena é muito romântica e aflorada, o que artificializa os personagens como representações de pessoas que não habitam a ficção. E pra encerrar a sessão de desaprovações, o recurso reverso no final foi bastante previsível e poderia ter se pensado em uma forma menos óbvia e mais criativa, eu acho, apesar de fazer bastante sentido poeticamente.
Gostei muito da interpretação de Redmayne, principalmente quando só se é capaz de fazê-lo pelos olhares e pequenos gestos. Seu sorriso foi ficando cada vez mais cativante, assim como também consegui sentir simpatia por todos os outros personagens - tarefa difícil de se fazer em uma situação dessas. Além disso, a semelhança com o verdadeiro Hawking também me surpreendeu. Acho que a direção às vezes deixa algumas cenas prematuras ou mal aplicadas, assim como a que ele levanta pra pegar a caneta na imaginação, mas acerta em algumas outras mais simples, como o seu constrangimento pela dificuldade de jantar à mesa e tenta subir as escadas, várias no processo de separação ou quando na maioria das que os filhos estão presentes. Deixo meu rápido elogio à pós produção no que se refere ao tratamento de cor específico pra cada cena ou ambiente em sintonia ao estado emocional. A trilha sonora foi um aspecto bastante positivo e que conseguiu contribuir pra que eu me envolvesse afetivamente com o drama e com a bela mensagem da obra.
Tartarugas Podem Voar
4.4 162É impressionante ver a naturalidade das relações tanto com o ambiente quanto entre eles mesmos. As condições dos intérpretes trazem muita verdade e crueza ao olhar. Ver a deformação inocente, a aridez do desamparo, crianças com responsabilidades adultas - trocando minas por metralhadoras. Faz repensar a nossa existência cultural, política, econômica, geográfica e principalmente humana.
Pra levantar depois desse filme foi como se de repente eu precisasse de muletas.