PETER PAN Direção: P. J. Hogan Ano: 2003 Assistido em: 13/04/2024
Eu sou um cara particularmente insistente, se eu não gosto de algo de primeira, não fecho as possibilidades, eu insisto, tento mais uma vez. Peter Pan nunca foi algo presente na minha infância, foi algo que só vim a conhecer da adolescência em diante, portanto nunca tive a nostalgia ou o encanto infanto juvenil como fatores relevantes quando se trata desse personagem. Particularmente até hoje não gostei de nenhum filme contando essa história, mas ainda assim sigo insistindo para ver se encontro algo que se enquadre no meu gosto, e tinha muitas esperanças com relação a essa adaptação de 2003 que é particularmente muito celebrada entre os fãs, mas também não foi dessa vez.
Na Inglaterra Eduardiana, somos apresentados a família Darling, uma família comum e feliz. Wendy, a filha mais velha do casal Darling, começa a perceber um estranho menino que frequenta sua casa durante a noite. Certo dia, ela consegue conversar com ele e descobre seu nome: Peter Pan. Peter vive na Terra do Nunca, um lugar mágico onde as crianças nunca crescem, Peter leva os irmãos Darling até o lugar, e lá chegando eles ficam maravilhados, mas também correm grande risco na figura do perverso Capitão Gancho, que quer a todo custo acabar com Peter.
Tudo começa muito bem, tem um valor de produção grandioso, os cenários e os figurinos são ótimos, o CGI está datado para os dias de hoje, mas creio que para 2003 ele tenha sido muito bom. Também temos um Peter carismático, um Capitão Gancho muito bem defendido pelo Jason Isaacs, mas infelizmente esse filme não é para mim, ele tem um ar teatral, o que obviamente é justificado, afinal de contas a história original do Peter Pan começou com uma peça de teatro, mas eu nunca fui fã de filmes com estética teatral, sempre achei tudo muito exagerado, do modo que ultrapassa o meu limite de imersão, fazendo com que eu não consiga embarcar na proposta.
Apesar de bem realizado, e do notável cuidado dos realizadores em respeitar a história que há muitos anos encanta as crianças, o diretor P. J. Hogan não traz absolutamente nada de novo, se mantendo fiel a visão já comum do personagem, para muitos isso é algo muito positivo já que ele aposta no seguro ao invés de ficar tentando fazer inovações estúpidas, como veríamos nas produções das décadas posteriores.
Reconheço as muitas qualidades da produção e particularmente gostei bastante do começo dele, mas quando Terra do Nunca entra em cena, o que deveria ser o ápice da história, foi quando ela me perdeu, não creio que isso é um defeito da história do Peter Pan, mas simplesmente não faz meu gosto pessoal. Em se tratando do Pan, o melhor filme de todos para mim, é aquele que não tem o personagem como protagonista, mas sim o que conta a sua história de origem, estou me referindo a Finding Neverland (2004) que nos mostra como J. M. Barrie criou essa tão aclamada fantasia.
RAMPAGE Direção: William Friedkim Ano: 1987 Assistido em: 07/04/2024
Sou um profundo consumidor de cinebiografias, portanto sei muito bem que 99% delas não retratam a história original da forma como ocorreu, e que praticamente todas têm adaptações para enquadrar o que está sendo contado no formato do cinema. Porém alguns filmes apenas pegam uma base real e desenvolvem uma história própria, honestamente esses são os que menos me agradam, porque eles parecem ter vergonha de contar as coisas como de fato aconteceram, e é nesse ponto que se encaixa Rampage.
Anthony Fraser um dedicado promotor, precisa montar um caso para fazer com que Charlie Reece, um perigoso serial killer, seja devidamente condenado. Entretanto a defesa faz de tudo para que ele seja condenado como inimputável, fazendo assim com que a pena de Reece seja mais branda. Assim Anthony começa uma grande corrida para tentar manter esse perigoso criminoso atrás das grades.
Depois da morte do Friedkin no ano passado, fui atrás dos filmes menos conhecidos dele, aqueles de menor impacto, e me deparei com Rampage, uma produção extremamente problemática, e com bastidores tão caóticos que justificam o quão complicado se tornou encontrar essa produção, eu mesmo só consegui assistir porque tive acesso a uma gravação de VHS da década de 1990 com uma qualidade monstruosamente ruim e com uma legenda toda falhada, mas ainda assim deu para conferir, e assistindo consegui entender porque que William Friedkin tratava essa produção como uma enorme decepção, mesmo tendo uma história tão poderosa nas mãos, aqui não encontrei as qualidades habituais dos títulos do famoso diretor.
A história é inspirada no serial killer Richard Chase, O Vampiro de Sacramento. Praticamente todos os detalhes que vemos aqui são retirados da história do Chase, inclusive toda a batalha no tribunal para julgá-lo como uma pessoa com sérios problemas mentais ou um criminoso frio. Só que diferente do personagem que é apresentado em tela, o Richard Chase era uma pessoa claramente perturbada, que nem queria sair da instituição de doente mentais, pois sabia que voltaria a fazer coisas ruins, e o grande problema de Rampage é justamente não levantar essa discussão, em momento algum a atuação de Alex McArthur nós demonstra que estamos diante de um personagem dúbio, não sei se foi orientação do próprio Friedkin, ou falha do ator, mas o personagem que nos entregam é claramente retratado como um assassino frio, fazendo com que todas as suas paranoias passassem a ideia de serem meras desculpas inventadas pelo criminoso para fugir da pena de morte, enquanto que Chase era uma pessoa que procurou por ajuda, e não teve acesso ao tratamento adequado, toda a ambiguidade entre o assassino cruel que sabia que o que fazia era errado, mas não conseguia parar, foram simplesmente eliminados, deixando a história extremamente unilateral e sem graça.
O filme ainda tem a sempre boa direção do Friedkin, e uma boa atuação do Michael Biehn, mas a história é bem apagada, as cenas de tribunal são fracas, não tem nenhum grande momento dramático ou um bom ápice ou clímax, nada disso, é bem perceptível o desgosto do diretor com o resultado final, o que o levou inclusive a fazer uma nova montagem alterando o desfecho. A versão que assisti foi a original de 1987, mas não creio que o corte com o final do Friedkin melhoraria o resultado não, com certeza teria a vantagem de ser a visão escolhida pelo seu realizador, mas em linhas gerais todo o trajeto de Rampage é caótico e muito sem graça, não são duas cenas finais que vão mudar isso.
Li um pessoal falando que esse é um Friedkin menor, e infelizmente sou obrigado a concordar, para um diretor de títulos tão importantes e famosos, que revolucionou dois gênero para sempre, definitivamente essa aqui é uma nota de rodapé, e a prova maior é que é impossível encontrá-lo em qualquer lugar de modo legalizado, como se fosse completamente ignorado pela indústria cinematográfica, tal qual era pelo seu realizador enquanto este era vivo.
CREATION OF THE GODS I: KINGDOM OF STORMS (FENG SHEN DI YI BU: ZHAO GE FENG YUN) Direção: Wuershan Ano: 2023 Assistido em: 06/04/2024
Eu tenho uma teoria que às vezes ser enganado é bom. Particularmente não tenho nenhum interesse por filmes chineses, não tenho preconceito com cinema asiático, visto que amo as produções japonesas e sul-coreanas (cinema!! Não gosto de Dorama não!), mas nunca assisti nada vindo da China, o motivo?! Todos aqueles que tem repercussão aqui no Ocidente são filmes megalomaníacos, repletos de absurdos que é o que eles gostam, afinal de contas, basta ver o que que faz sucesso por lá, chineses adoram trolhas americanas repletas de CGI e barulho, portanto sempre me mantive distante de tudo que vinha de lá. Maaaas como sou cadelinha de mitologia, quando li sobre esse longa, imediatamente me empolguei com o envolvimento dos deuses dos mitos locais, mas não imaginava que tudo isso não passasse de um grande plano de fundo para nos contar a respeito confusões políticas milenares do governo chinês.
Após uma vitória militar contra um rebelde, o príncipe da dinastia Shang, Yin Shou, faz uma grande celebração para celebrar, entretanto durante a comemoração, misteriosamente seu irmão enlouquece e acaba matando o rei Di Ti. Ji Fa, um membro da guarda real, filho de um dos lords regionais do império e refém da família real, acaba matando o príncipe enlouquecido e cai nas graças do agora rei Yin Shou. Entretanto o que ninguém poderia supor é que o novo rei estaria a merecer de um perigoso demónio raposa que ameaça a todo o mundo. Quando o Yin Shou começa a mostrar um lado extremamente cruel, caberá a Ji Fa e ao príncipe Yin Jiao, filho único do novo monarca, descobrirem a verdade, e tentarem livrar o trono da influência demoníaca.
Surpreendentemente esse filme conseguiu misturar fantasia com política de uma forma muito interessante, ainda temos as maluquices que os chineses tanto gostam com explosões, poderzinhos e blá blá, mas também conseguimos entender um pouco de como era a dinâmica da sociedade de cerca de 1600 anos antes da era comum, com filhos de nobres poderosos sendo feitos prisioneiros no palácio imperial em troca de seus pais manterem o apoio ao trono, também vemos a força que o misticismo exercia naqueles governos, e obviamente a parte mais interessante de todas, as articulações políticas que levavam a conflitos militares, tudo isso é muito bem explicado, mas da maneira mais fantasiosa, utilizando de criaturas místicas, maldições, deuses e todos os demais elementos que todo fã de mitologia tanto preza.
Não cheguei a conferir o valor do orçamento desse filme, mas é notável a sua qualidade técnica, os figurinos são espetaculares, e não me entra na cabeça como não teve o devido reconhecimento nas premiações do ano passado, obviamente há algum boicote político, porque o design de produção aqui apresentado humilha qualquer coisa que tenha sido feita nos Estados Unidos em 2023, a riqueza de detalhes é assombrosa, e nesse sentido tudo é irretocável.
Confesso que fiquei perdido com o roteiro no começo, principalmente porque há muitos personagens e todos com nomes difíceis para nossa cultura, mas não demora muito para você se localizar no tempo espaço e começar a entender o que está acontecendo, assim como também fiquei ansioso para saber o desdobramento da história nas vindouras continuações. Os personagens são carismáticos, não existe nenhuma atuação que se destaque, mas o elenco escolhido dá conta do recado. A direção, apesar de não trazer nenhuma cena diferente e inovadora, é competente para a proposta idealizada.
Como disse no primeiro parágrafo, fui enganado, cheguei aqui esperando mitologia e acabei encontrando política (teve mitologia também, mas não tanto quanto imaginava), mas isso nem de longe foi algo ruim, Creation of the Gods é um filme que tem uma história carismática, nada diferente das fantasias do mundo afora, mas a forma como tudo é contado deixa as coisas mais interessantes. Os personagens são cativantes o suficiente para nos manter entretidos e interessados em ver como os heróis vão resolver todo esse imbróglio. Estou ansioso pelas continuações e espero que mantenham o ritmo apresentado nesse aqui, e confesso que fiquei impressionado com essa minha primeira empreitada no cinema chines, mesmo ela tendo uma mãozinha americana do Barry M. Osborne, um produtor que trabalhou numa franquia pequena e pouco conhecida chamada O Senhor dos Anéis.
BONNIE AND CLYDE Direção: Arthur Penn Ano: 1967 Assistido em: 31/03/2024
Sou adepto que pra tudo nessa vida é preciso contexto, as coisas não são da forma que são e acabou, tudo tem explicação, tudo tem justificativa, algumas ainda podem não ter sido encontradas, mas que elas existem, existem. Bonnie Parker e Clyde Barrow são duas figuras extremamente famosas nos Estados Unidos, eles praticamente fazem parte do folclore norte-americano, e seus crimes abalaram a sociedade na década de 1930, portanto eu esperava que esse filme explorasse as diversas camadas que esses dois tinham, entretanto a produção se contenta com a superficialidade.
Nos Estados Unidos da década de 1930, o criminoso Clyde Barrow acaba conhecendo a jovem Bonnie Parker que se encanta pelo charmoso bandido. Ela então decide embarcar com ele em uma jornada Estados Unidos afora para assaltar bancos. Eles acabam ficando extremamente famosos e acabam entrando no radar da polícia, o que os levará a se tornarem inimigos públicos do estado.
Longe de querer defender criminosos, creio que um dos pontos mais importantes da história da Bonnie e do Clyde é o contexto do qual eles vieram. Estamos nos Estados Unidos de 1934, a economia do país tinha ido para o espaço devido à crise econômica iniciada em 1929, estávamos em um período de extrema dificuldade, Clyde vinha de uma família paupérrima, e desde muito novo passou por diversos momento bem complicados, quando o filme começa ele já havia sido preso e passado por horrores da cadeia, já era uma pessoa perdida, Bonnie por outro lado, apesar de ter tido uma infância um pouco mais estruturada do que Clyde, também teve uma infância complicada, e por isso se tornaram criminosos, mas todo esse background é completamente ignorado, o roteiro trata Clyde como um homem que escolheu a profissão de ser criminosos, e algo quase que romântico, e a Bonnie é retratada como uma deslumbrada, que decidiu seguir o seu amado, todo o contexto social existente no país daquela época é simplesmente colocado de lado.
Warren Beatty e Faye Dunaway se tornaram famosos justamente por esses papéis e ambos estão muito bem, assim como Gene Hackman, mas tenho que admitir que Estelle Parsons fez uma Blanche Barrow tão irritante, mas tão irritante, que mal conseguia prestar atenção nas cenas dela, e mesmo conhecendo a história original, torci profundamente para alguém meter uma bala na testa da infeliz para eu não precisar mais ver tantos chiliques. Ainda temos uma rápida participação do Gene Wilder, ou seja, temos um elenco que no futuro se tornaria fantástico, mas naquele 1967 ainda era iniciante.
Arthur Penn entrega um filme muito bem construído do ponto de vista técnico, cenários, figurinos estão ótimos, assim como as atuações que são todas muito boas, entretanto a superficialidade do roteiro e a forma como os personagens foram transformados em arquétipos rasos do bandido clássico da era de ouro norte-americana irritam, isso faz com que a história perca força, fique desinteressante a medida vá andando, ao contrário do que era esperado. Fiquei decepcionado com relação ao roteiro, Bonnie and Clyde, tem grandes méritos artísticos, mas esperava mais de uma produção tão famosa e que aborda uma história tão icônica para a cultura americana.
PATTON Direção: Franklin J. Schaffner Ano: 1970 Assistido em: 30/03/2024
A década de 1970 foi um período bastante conturbado para a imagem do soldado americano, os avanços tecnológicos permitiram que a Guerra do Vietnã fosse a primeira que o mundo pode acompanhar de perto. Não estávamos mais na década de 1940, na Segunda Guerra as notícias só chegavam por jornal, porém, nos anos 1960, o público podia ver da televisão de suas casas os horrores ocorridos do outro lado do mundo. Nesse cenário o povo norte-americano ficou contra seu tão idolatrado exército, levando o governo a fazer todo um trabalho de recuperação de imagem, e é nesse cenário que entra Patton, cinebiografia de uma das mais importantes, porém das mais controversas figuras da Segunda Guerra, personagem esse que ao mesmo tempo que era visto como um herói, conseguia ser terrivelmente problemático.
Em 1944 o general George S. Patton lidera forças aliadas contra o Afrika Korps no norte da África. Ao mesmo tempo que ele desperta o horror no coração de seus inimigos, ele também pega pesado com o seu subordinados, tornando-se uma figura temida dos dois lados. Entretanto, Patton tem um terrível inimigo que começa a prejudicar suas ambições: ele mesmo.
Todo mundo sabe que os americanos adoram lamber a si mesmos, eles têm veneração pelo seu exército, é o velho e cego patriotismo que é enraizado no país há séculos. E esse filme é resultado desse nacionalismo selvagem, Patton de fato tem uma relevância muito grande na história da Segunda Guerra, mas ao mesmo tempo ele era uma pessoa completamente deslocada do tempo espaço, Patton tinha uma visão extremamente romântica e irreal da guerra, a ponto de até fazerem chacota dele, entretanto aqui ele é retratado como um génio absoluto, alguém de habilidades sobre-humana, que só era atrapalhado pela própria boca grande, o lado chauvinista que não conseguia reconhecer detalhes pequenos estampados na frente das fuças dele ficou de fora.
Como filme, Franklin J. Shaffner traz uma obra tecnicamente impressionante, as sequência de batalha apesar de poucas são extremamente bem realizadas, e põe no chinelo muitas que são feitas hoje em dia, e olha que estamos falando de uma história do principio dos anos 1970. George C. Scott dá um show de atuação e justifica cada um dos elogios que recebeu, entretanto o roteiro é muito inchado, Patton é um personagem sem carisma, daqueles que provavelmente só vão agradar os velhos americanos republicano que tem fascinação pela guerra, fora isso, a história é arrastada e pouco interessante, retratando os Nazistas como um bando de idiotas e os americanos como os super inteligentes.
Patton claramente é um retrato do seu tempo, ele tinha um propósito bem claro que era enaltecer uma controversa figura histórica dos Estados Unidos, e faz isso muito bem, não estou dizendo que não existem críticas ao general, elas existem, mas são tão superficiais, tão rasas que nem arranham a superfície do conturbado militar. O tendencionismo por parte desse roteiro é tão grande que o filme acaba sendo unilateral, sendo previsível e cansativo, resumindo Patton é bom filme, mas uma cinebiografia profundamente desinteressante, esperava mais de algo vindo do Coppola.
GODZILLA X KONG: THE NEW EMPIRE Direção: Adam Wingard Ano: 2024 Assistido em: 28/04/2024
Nos últimos anos o Godzilla voltou com tudo aos holofotes da cultura pop, a nossa lagartixa favorita esteve bastante presente no mundo dos cinemas nos últimos 10 anos, e muito disso se deve ao Monsterverse. Nesse processo, o Gojira-sama arrastou o macaco Kong junto com ele, e aqui os dois estão mais uma vez “protagonizando” um novo blockbuster americano. Continuação de Godzilla vs. Kong (2021), percebemos claramente que o diretor Adam Wingard até pincelou algumas soluções para os problemas apresentados no seu filme anterior, entretanto certos erros continuam sendo bastante persistentes.
Alguns anos depois do último encontro entre a lagartixa e o macaco. Godzilla segue mandando na superfície, fazendo de todo planeta o seu quintal. Enquanto isso Kong está passando por uma crise de meia idade no centro oco da Terra, enquanto busca por algum “parente” vivo. Quando uma ameaça antiga e muito poderosa surge das profundezas da Terra, caberá aos dois Titãs se unirem para tentar salvar o nosso planeta.
Roteiro nunca foi o forte do Monsterverse, isso é um fato, e não estou reclamando disso não, até porque a última coisa que procuro nesse tipo de produção é um texto bem feito, a única coisa que quero é ver monstros gigantes descendo a porrada um no outro, mas mesmo para isso é necessário que exista uma coerência, disso não podemos abrir mão, e isso não é o que encontramos por aqui. Kong nunca foi rival para o Godzilla, e mesmo assim os roteiristas seguem querendo forçar que eles são rivais, é surreal o quanto os designer tentam colocar eles no mesmo tamanho, a escala do filme é toda bagunçada, ou melhor continua bagunçada desde o filme anterior e isso é nítido. Esses macacos nunca foram uma real ameaça para lagartixona, em momento algum senti que estava diante de um grande confronto, diferentemente por exemplo de Godzilla: King of the Monsters (2019), onde Ghidorah foi uma ameaça REAL, aqui parece que o Gojirão estava fazendo corpo mole .
Wingard conseguiu entender que humanos são descartáveis nesse tipo de história, ele até reduziu a participação deles nesse filme, entretanto não corrige um outro grave problema que vem desde seu filme anterior, o fato da participação do Godzilla ser ridiculamente pequena, eu até entendo que ele deva ser mais difícil de animar, entendo que a Toho deve impor inúmeras restrições quanto a sua aparição, entendo também que por se tratar de um filme americano é claro que o diretor e equipe vão puxar a sardinha pro macaco fedorento, entendo tudo isso, mas eu não estou aqui pelo primata cheio de pulgas, eu estou aqui pela lagartixa, queria ver o Godzilla, só que ele continua aparecendo pouco em detrimento de humanos insuportáveis e de macacos horrorosos, e aliás, de quem foi a ideia de trazer essa menina chata, a mãe chata dela e o podcaster chato de volta?! Para piorar ainda colocam Dan Steven como um veterinário chato, haja saco com esses humanos, por mim morriam todos.
É preciso paciência com The New Empire, apenas os 20 minutos finais que vão nos dar a tão almejada recompensa, monstros gigantes se batendo e humano se fudendo, achei um crime eles terem destruído As Pirâmides de Gizé, mas confesso que amei eles destruindo o Rio de janeiro, porque honestamente, creio que essa seja a única solução para essa cidade: quatro monstros gigantes pisoteando completamente esse lugar, e o reduzindo a pó, para aí começarmos de novo, hahahaha.
Em linhas gerais esse é o mais fraco de todos os filmes do Monsterverse, a história é muito boba e rasa, e não existem ameaças realmente impactantes que façam a lagartixa suar, ou que nos deixe ansiosos. Honestamente eu espero que eles separem o Gojira desse macaco velho, e ele possa protagonizar DE VERDADE seus próprios filmes.
PS: O Godzilla Super Saiyajin Rosé ficou lindão! Não entendo pra que todo esse bafafá.
BRING HIM TO ME Direção: Luke Sparke Ano: 2023 Assistido em: 24/03/2024
Tenho uma atração natural por esse filmes completamente desconhecidos, que ficam de fora do circuito comercial, cuja a grande maioria me dá uma dor de cabeça desgraçada para conseguir assistir, mas ainda assim, nunca dispenso uma história que considero interessante. Esse aqui em especial chamou minha atenção devido a sinopse, e mesmo que com desconfiança, lá fui eu assistir já esperando por uma bomba, mas até que me surpreendi.
Um motorista de fuga acaba recebendo a missão de levar um jovem criminoso até os líderes da facção, sem que o rapaz saiba que na verdade está indo para sua execução. O que parecia ser uma simples missão vai se complicando quando eles passam a ser perseguidos no caminho, o que leva o motorista e seu jovem carona a se afeiçoar um ao outro.
Nunca tive problema nenhum com clichês, desde que bem feitos, eles podem sim ser uma grata surpresa, e apesar do roteiro não trazer absolutamente nenhuma novidade, o diretor até consegue conduzir bem a sua história. O que a princípio poderia ser apenas mais um filme de ação qualquer, surpreende quando faz a história progredir e desenvolve seus personagens apenas com os diálogos. Por ser de baixo orçamento, nós não temos cenários complexos, ou grandes externas, é tudo feito a toque de caixa, mas mesmo assim todas os momentos de diálogo entre o motorista e o jovem ladrão servem para nos entregar detalhes sobre os dois, enriquecendo assim o texto e por consequência fazendo com que o filme fuja do padrão de 90% das produções do gênero que se resumem apenas a porradaria sem que exista substância na história.
Com exceção do Sam Neill, que é um ator consagrado, e do Liam McIntyre que eu já conhecia, o elenco é composto por desconhecidos que se destacam bastante em seus papéis, principalmente a dupla de protagonistas que está muito bem no que é posposto.
Bring Him To Me, é ilimitado pelo seu orçamento, mas consegue encontrar na criatividade de seu roteirista/diretor espaço para ir além do lugar comum. Não é aquele filme inovador que vai se tornar cult ou vai influenciar o gênero, nada disso, é uma produção simples, mas o destaque maior fica por conta de uma preocupação em construir uma base para os personagens, o afeto entre os protagonistas soa exagerado devido ao espaço de tempo do qual a história se encaixa, mas é inegável que há um esforço por parte dos realizadores para tornar aquele relacionamento algo crível, algo que não é facilmente encontrado nesse tipo de produção, e nesse quesito o filme já vale mais que quase tudo que é produzido no gênero.
ROAD HOUSE Direção: Doug Liman Ano: 2024 Assistido em: 24/03/2024
Eu não sou o maior adepto de remakes/reboots, ainda mais de filmes clássicos, mas não tenho nenhum problema em conhecer filmes novos, e como eu nunca assisti ao Road House original de 1989 protagonizado pelo Patrick Swayze, não tive a antipatia natural que muitos tiveram quando anunciaram essa nova versão., e como ela seria protagonizada por um de meus atores favoritos e dirigido por um profissional bastante competente, eu estava ansioso por poder conferir essa reimaginação.
Dalton é um ex-lutador da UFC que é contratado para atuar como segurança de uma taverna numa pequena cidadezinha na Flórida. Entretanto, o que ele não sabia é que o local é praticamente comandado por uma família criminosa que quer destruir o lugar, o que coloca Dalton na mira de pessoas extremamente perigosas e o levará a tomar atitudes que não são bem o que ele queria fazer.
Existem dois tipos de filmes, aqueles que são feitos para você assistir, se divertir e esquecer dois minutos depois, e aqueles que são moldados para te levar a um questionamento, refletir sobre um assunto e etc., e Road House se encaixa com perfeição na primeira opção. Ele é leve, cômico, empolgante, apela para pancadaria, temos um mocinho briguento que adora espancar vilões, resumindo, o roteiro não evoca sentimentos e nem nos força a raciocinar, é uma diversão momentânea, e nesse ponto a produção acerta em cheio. É claro que as sequências de pancadaria poderiam ser melhor trabalhadas, com uma coreografia mais elaborada, mas ainda assim é divertido vermos Jake Gyllenhaal descer o sarrafo em diversos personagens aleatórios, com boas tiradas no processo.
Jake é um ator incrível que merecia mais reconhecimento do que tem, e aqui ele está ótimo, extremamente carismático, mais gostoso do que nunca, então é um ganha-ganha. Entre os coadjuvantes temos Billy Magnussen novamente no papel de playboyzinho mimado, e o Connor McGregor, que só conhecia de nome, num papel extremamente caricato, mas como o objetivo era justamente esse, tudo funcionou como deveria, e como se não bastasse esses três, ainda temos uma série de outros homens gostosos no elenco.
Doug Liman é um bom diretor de filmes de ação, mas aqui, creio que devido aos bastidores para lá de conturbados, ele não pôde exercer toda a sua capacidade, principalmente quando ele saiu brigando com a MGM/Amazon, o produtor Joel Silver, enfim, em meio a tantos problemas, o que é oferecido dá para o gasto. A trilha sonora é bacana, as paisagem são muito bonitas, apesar de um certo exagero no CGI, e dentro do que é oferecido para o gênero, creio que essa nova versão está até mesmo acima da média.
Em linhas gerais Road House tem tudo para agradar aquele pessoal que encara cinema como uma coisa descompromissada, aquele filme para desligar o cérebro depois de um dia cansativo de trabalho, e sendo bastante honesto se ele tivesse ido para o cinema provavelmente eu não teria assistido, e apesar de toda polêmica, talvez o streaming seja sim a melhor opção para dar o alcance que o longa precisava, e após anos e anos assistindo remakes e reboots que são verdadeiros desastres, encontrar um que segundo a crítica é superior ao original, é algo bastante surpreendente.
LA VITA È BELLA Direção: Roberto Benigni Ano: 1997 Assistido em: 23/03/2023
Assisti esse filme pela primeira vez há muitos anos quando ainda era criança, em algum canal da TV a cabo que eu não faço mais a menor ideia de qual seja. Na época eu não tinha nem noção do que havia sido a Segunda Guerra Mundial, nem o Holocausto e o único conhecimento sobre cinema que possuía era sobre filmes de anime, mas com os anos, a medida que passei a estudar sobre a história da sétima arte, passei a conhecer a fama e o legado dessa produção que nem recordava direito da história, apenas de algumas cenas, e agora passados muitos anos, decidi que era a hora de rever essa tão famosa (e polêmica) obra do Roberto Benigni.
Na Itália de 1939 somos apresentados a Guido, um garçom com aspirações de abrir a sua própria livraria. Guido acaba conhecendo e se apaixonando por Dora uma garota de classe alta que fica encantada pela forma como Guido encara a vida sempre com leveza e buscando enxergar o lado positivo de tudo. Passados alguns anos, em 1944, eles formaram uma família feliz que vive alegremente, entretanto suas vidas mudaram drasticamente quando a Itália junto com a Alemanha começaram a mandar judeus para os campos de concentração.
Sou uma pessoa 100% diferente do Guido, não que eu seja pessimista, mas sempre fui extremamente realista e com os dois pés bem fincados no chão, portanto eu até me incomodo bastante com pessoas que são tão positivas, mas reassistindo com outros olhos, com os olhos de um adulto, entendo a atitude louvável de um pai que faz de tudo por seu filho, o amor de Guido por Dora e por Giosuè é tão forte, que ele faz de tudo para que as esperanças de ambos se mantenham, e acima de tudo, não permitir que o menino percebesse todos os horrores que estavam ao seu lado, a fábula que ele montou manteve viva a fé do Giosuè, mesmo que para isso o preço tenha sido altíssimo.
Como tudo aqui é ancorado na fantasia, em momento algum o roteiro apela para o realismo, mesmo o cenário sendo um campo de concentração, lugar onde milhares de pessoas morriam por dia, em momento algum vemos violência em tela, vemos as câmaras de gás, os campos de trabalho forçado, mas não vemos a execução de nenhum judeu, não vemos torturas, enfim é tudo muito higienizado, entendo essa escolha do Benigni de não mostrar a brutalidade do ambiente já que isso destruiria a proposta do longa que justamente é ser onirico.
Gosto muito desse filme, sou um profundo defensor dele, inclusive se eu fosse votante da academia em 1999, voltaria nele para melhor filme, mas tem um prêmio que A Vida é Bela recebeu e que não consigo concordar em hipótese nenhuma, que é o de melhor ator para o Roberto Benigni, ele fez um belo trabalho no roteiro e na direção, mas a sua interpretação de Guido beira o histrionismo, do ponto que na primeira fase desperta até uma certa irritação em quem assiste, aquele prêmio deveria ter sido do Edward Norton por American History X (1998).
Em linhas gerais La Vita è Bella é bem diferente do que agente espera sobre um filme do Holocausto, ele nos mostra como era difícil sobreviver um campo de concentração, nos mostra a banalidade do mal com pessoas que simplesmente assistem de camarote aqueles horrores e não se importam com nada, mas sem abandonar o lado mistico, sem abandonar a fábula, afinal de contas o que temos aqui é um pai contando uma história para seu filho, e todo pai quando conta alguma historinha antes de dormir sempre dá aquela melhorada. O resultado está mais para uma produção sobre o amor paternal do que sobre o Holocausto, e não estou reclamando, mas é inegável que a versão aqui apresentada é a versão “kids”.
KUNG FU PANDA 4 Direção: Mike Mitchell Ano: 2024 Assistido em: 22/03/2024
Kung Fu Panda é uma das franquias de melhor uniformidade dentro da DreamWorks, os filmes protagonizados por Po sempre conseguiram unir comédia, drama e sequências de ação em uma dinâmica maravilhosa que funcionava tanto para crianças quanto para adultos, e mesmo o terceiro lançado em 2016 sendo levemente inferior aos dois primeiros, ainda é um consenso de que a trilogia tinha qualidades memoráveis tornando-a de longe uma das melhores quando falamos em animações, entretanto sempre foi um plano fazer seis filmes dessa saga e agora em 2024 chegou a hora de vermos o primeiro dessa nova leva, que promete trazer uma nova abordagem, e que já desagradou muita gente.
Po continua a sua vida de Dragão Guerreiro do jeito que ele gosta, entretanto ele é surpreendido quando Shifu insiste que ele precisa escolher o seu substituto para continuar seu processo de evolução a um mestre espiritual. Quando uma vilã chamada A Camaleão surge no horizonte, caberá a Po, com a ajuda da pequena raposa Zhen impedir os planos dessa criatura maligna de dominar o Vale da Paz e mais além.
Kung Fu Panda 4 claramente será bem divisivo entre os fãs, o roteiro toma decisões que são bastante questionáveis, como por exemplo essa história do Po ter que escolher um substituto, muitos não se agradaram com essa ideia, particularmente isso não me incomoda, entretanto tenho que admitir que a escolha desse substituto não foi das melhores.
O grande problema desse filme é que ele não consegue estruturar direito os novos personagens, Po continua incrível e engraçado assim como o seu pai o senhor Ping, e eles são o que funciona de melhor, toda vez que o nosso pandinha está em cena fazendo suas palhaçadas a história cativa e anda, entretanto a raposinha Zhen é um estereótipo tão sem criatividade que chega ser cansativa, dava para saber que ela era aliada da Camaleão na sua primeira aparição de tão terrivelmente previsível que o roteiro é. Outro problema é a vilã, essa franquia tem vilões clássicos como Tai Lung e o Lord Shen e decidiram trazê-los de volta, e pra que?! Para essa vilã sem graça humilhá-los, isso não se faz, diminuir os vilões do passado para tentar forçar a nova ameaça como maior NUNCA é uma boa opção.
As duas personagens que tinham tudo para serem importantes dentro dessa nova dinâmica simplesmente não funcionam, a parar piorar ainda deixaram os Cinco Furiosos de fora da ação, quem escreveu esse roteiro definitivamente não conhece essa franquia. E de quem foi a ideia de contratar essa tal de Awkwafina?! Ela sempre faz o mesmo personagem, mesmo aqui onde está apenas dublando, ainda conseguimos perceber claramente que é ela quem está por trás, é sempre a mesma coisa chata e sem graça.
Esse claramente é o título mais fraco da franquia, não é ruim, e nem um desastre, mas quando comparado aos seus antecessores, ele definitivamente é inferior, os personagens novos não funcionam, a história é fraca com poucas curvas dramáticas e extremamente previsível, até mesmo a trilha sonora do Hans ZImmer que é sempre impecável, aqui estava bem apagadinha com exceção da ótima versão de Crazy Train, os pontos positivos ficam por conta da comédia, e pela evolução do Po.
Em linhas gerais Kung Fu Panda 4 é uma entrada fraca para a franquia a qual pertence, ela abre um caminho para novos filmes, mas honestamente, fico preocupado, as decisões aqui tomadas de escantear personagens clássicos em troca de personagens novos que são muito fraquinhos me incomodou demais, faltou o brilho, faltou um roteiro bem polido, faltou uma história bem resolvida, só espero que a DreamWorks retorne aos trilhos pois o nosso amado panda merece.
Existem eventos que são tão marcantes que você consegue lembrar com exatidão onde estava quando soube do fato em questão. Naquela segunda-feira do dia 12 de junho de 2000, eu tinha faltado a escola por alguma razão que não me recordo bem, e tinha ido ao centro da minha cidade com os meus pais, quando chegamos em casa por volta das quatro da tarde ao ligarmos a televisão nos deparamos com a Rede Globo, a Rede Record entre outros canais, exibindo o Sequestro do Ônibus 174 AO VIVO. Esse crime é único quando o comparamos a qualquer outro ocorrido no Brasil, e isso pelo fato de ele ter sido transmitido em rede nacional, e quem assistiu aos desdobramentos desse triste episódio jamais conseguiu esquecê-lo.
Sandro Barbosa do Nascimento passou por diversos traumas inimagináveis ao longo de sua infância. Quando chega na vida adulta, Sandro é viciado em drogas, e um criminoso que realiza pequenos assaltos para manter seu vício. O que a princípio seria apenas mais um assalto, acaba escalonando para algo completamente fora de controle, que entra para os anais da história do Brasil como um dos crimes mais lembrados de nosso país, o Sequestro do Ônibus 174.
Quando tomei conhecimento desse filme, fiquei animado para assistir, já que esse caso me marcou demais, eu assisti tudo ao vivo em 2000, e ao longo dos anos tinha lido uma reportagem aqui e ali sobre o assunto, e quando fiquei sabendo da ficção dirigida por Bruno Barreto, fique super interessado em ver a dramatização dessa história, mas caramba que decepção, e nem digo isso pelas qualidades cinematográficas, mas totalmente pela forma como a história foi conduzida. O roteiro simplesmente tira coisas do vento, investe em histórias completamente desnecessárias tiradas da bunda do roteirista. Sei muito bem que o cinema nunca retrata uma história exatamente como ocorreu, é preciso adaptar a realidade a estética cinematográfica, mas no caso do Sandro não era necessário inventar nada, ele teve uma vida tão desgraçada, com tantos plot twists que simplesmente deixam qualquer roteirista de Hollywood com vergonha, então eu não entendo porque inventar, focar e insistir em coisas que não existem.
Sandro viu sua mãe ser morta, mais tarde quase foi uma das vítima da Chacina da Candelária, outro evento sinistro da história do Rio de Janeiro, depois ele foi preso, morou nas ruas, enfim não precisava inventar nada, a história já estava pronta, mas daí me inventam um personagem chamado Alê como um paralelo ao Sandro, como se o roteirista quisesse mostrar a vida de dois personagens ao mesmo tempo. A personagem Marisa que na vida real chamava-se Elsa, de fato tinha um filho que ela perdeu ainda criança chamado Alessandro, e o Sandro de fato usava o nome falso de Alessandro, então sim ela acreditava que ele era filho dela, e só foi descobrir a verdade após o ocorrido no Ônibus 174, mas a forma como a história conta essa passagem é absurda, Marisa é praticamente uma fanática religiosa que coloca na cabeça que um bandido é seu filho e pronto e acabou. O personagem Ale de Marcelo Melo Júnior não existe na história real, e o mais irritante é que o tempo de tela que ele toma é insano, grandes pontos da vida do Sandro como a Chacina da Candelária são mostrados en passant, até mesmo o grande evento do filme, o Sequestro do Ônibus é retratado de uma maneira super acelerada, o diretor preferiu investir nessa ideia chata de “dois Ale” ao invés de mostrar o que de fato tinha importância.
Última Para 174 é bem conduzido por Bruno Barreto, as interpretações estão boas, assim como a fotografia, só que esse roteiro do Bráulio Mantovani é imperdoável! As invenções que ele faz roubam o foco do que é relevante, a quantidade excessiva de palavrão que deixa algumas cenas constrangedoras, enfim um roteiro muito ruim para uma história tão impactante.
Quem era vivo no ano 2000 e já tinha consciência, como toda certeza sabe o quão chocante foi esse crime e o quanto que ele marcou o Brasil, talvez foi um dos primeiros casos reais que me impactaram de verdade, sendo o único anterior a esse que eu consigo é o do Maníaco do Parque, e honestamente eu esperava que um evento tão marcante (mesmo que negativamente) fosse retratado com mais capricho, principalmente na parte do roteiro que deixa de lado momentos importantes da história para focar em invenções da cabeça de um roteirista que achava que poderia “melhorar” esse evento tão sombrio.
EX MACHINA Direção: Alex Garland Ano: 2014 Assistido em: 17/03/2024
Existem filmes que estão muito à frente de seu tempo, que trazem abordagens de algo que apenas no futuro as pessoas vão entender completamente. Quando Ex Machina foi lançado uma década atrás, creio que ele ficou reduzido a uma “ficção científica hipotética”, foi contemplado apenas por um nicho pequeno de pessoas que gostam do gênero, mas agora em 2024, o texto do Alex Garland tem muito mais impacto que tinha em 2014, e creio que caso fosse lançado atualmente, provavelmente faria muito mais sucesso e até mesmo sentido.
Quando Caleb ganha um concurso para participar de um projeto do grande bilionário Nathan, ele acaba indo parar em um laboratório em um local isolado. Lá Nathan apresenta Ava, uma inteligência artificial extremamente avançada e com uma aparência quase humana. Enquanto Nathan e o Caleb realizam testes com Ava, eles vão percebendo que nem tudo está sob controle como imaginavam.
Eu consigo plenamente assistir um filme de ritmo lento e que a história demore para acontecer desde que me importe com os personagens e tenha alguma empatia por eles, mas aqui definitivamente não foi o caso. Por mais importante que seja a mensagem que Garland estava passando, não consegui de maneira alguma comprar a proposta de sua história e muito menos me simpatizar com seu estúpido protagonista. Caleb é tão idiota que não percebe que todo mundo está manipulando-o, a história é tão previsível que você consegue adivinhar o final na metade do filme, e não tem nenhuma surpresa, o roteiro caminha exatamente para onde o espectador previu, e é desmotivante assistir uma trama com personagens tão fracos e que ainda por cima fazem exatamente o que é esperado que eles façam, sem gerar nenhuma surpresa.
Como já disse, os personagens são muito insossos mesmo o elenco sendo ótimo com nomes talentosos como Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, e Oscar Isaac. Alex Garland entrega uma boa direção, e os efeitos especiais são ótimos, mas a história é fraquinha, ela discute os perigos da inteligência artificial, “prova” seus perigos e etc, mas honestamente eu não consigo acreditar em uma realidade onde uma pessoa instruida, possa ser tão facilmente ludibriada ao ponto de se apaixonar por uma máquina, ainda mais em uma sociedade que todos os dias se discute sobre I.A. acabando com empregos, destruindo profissões mundo afora, a própria Hollywood ano passado passou por uma greve absurda onde um dos pontos principais pontos de reivindicação era o fato de profissionais estarem sendo ameaçados por inteligências artificiais.
Ex Machina entrega uma história interessante porém contada de uma maneira insossa, que até tem seus pontos positivos, e pode levantar uma boa discussão para os dias atuais, mas filmes tem que ir além da simples discussão. É tudo muito parado, muito lento, nada acontece, e quando acontece, é algo que você já esperava, a sensação que fica é de uma enorme decepção e que essa história poderia ser melhor do que realmente foi.
Quando tomei conhecimento desse filme, o que mais me chamou atenção a primeiro momento foi o elenco, que reúne nomes grandiosos em uma produção de pequeno porte, só depois que fui tomar conhecimento de sua história verídica e de todo background que ela trazia, e foi aí que meu interesse duplicou, já que sou cadelinha de filmes que retratam momentos históricos importantes, e o género de tribunal é de longe um dos meus favoritos. E desde então, tem mais de meio ano que estou esperando Miranda’s Victim aparecer por aqui, e essa semana finalmente tive oportunidade de conferir, e apesar de algumas curvas para baixo, fiquei satisfeito com o que vi.
Em 1963 a jovem Trish é sequestrada e estuprada. Indo contra os protocolos da época, ela decide procurar a justiça e denuncia a agressão. Uma investigação começa e acaba levando o jovem Ernesto Miranda para a prisão, mas o que para Trish parecia ser o fim de um pesadelo, na realidade só representou o começo de outro, já que após a condenação inicial, o caso de Miranda é levado suprema corte norte-americana pelo fato dos direitos do condenado terem sido completamente desrespeitados, o que Trish não poderia imaginar é que toda essa história mudaria as leis americanas para sempre.
O que temos aqui é uma situação muito complicada, é difícil julgar algo que ocorreu há 60 anos com os olhos do presente, estamos falando da década de 1960, a pobre da Trish praticamente não teve apoio de ninguém com exceção de sua irmã, nós vimos sua mãe e seu marido julgá-la, responsabilizá-la, eles não deram nenhum apoio que ela precisava, nem a própria polícia parecia se importar muito com sua situação, e infelizmente isso segue acontecendo mais de meio século após os eventos desse filme. Mas por outro lado a situação abordada aqui é muito séria, os direitos primários do Ernesto Miranda foram sim desrespeitados, a prisão não seguiu os protocolos corretos, e não estou defendendo estuprador, é óbvio que ele tinha que ser preso, mas vamos considerar a possibilidade desse cara ser um inocente, da vítima ter se confundido, da polícia ter prendido o homem errado, já aconteceu, enfim digamos que ele não fosse o responsável, a partir do momento que a polícia desrespeita os direitos civis, ela pode simplesmente colocar qualquer um na cadeia, responsabilizar quem eles bem entenderem por um crime que a pessoa não tem nada a ver.
Hoje em dia nós vemos em muito em filme séries policiais, que o preso tem direito de permanecer calado, que ele tem direito a um advogado, mas minha gente temos que entender que essas garantias são conquistas relativamente recentes, temos que entender que até algumas décadas atrás a polícia não tinha muitos protocolos que visassem garantir algum direito ao condenado, se você fosse um suspeito eles poderiam te deitar o sarrafo e você ia parar atrás do xilindró, então é triste saber que toda essa situação terrível que ocorreu com a Trish, serviu para um avanço da sociedade como um todo, já que o Aviso de Miranda além de modificar completamente os direitos civis dos americanos, serviu de inspiração para diversos outros países do mundo, então infelizmente foi preciso ocorrer uma desgraça, para algo positivo ser aprovado.
Deixando de lado as implicações históricas, o filme tem um elenco incrível repleto de gente famosa e que nos proporcionaram grandes atuações, Abigail Breslin estava ótima, meu casal do coração Emily VanCamp e Josh Bowman também estão bem, e até meu querido Ryan Phillipe me fez passar raiva com seu papel, completam o time Luke Wilson, Andy Garcia, Donald Sutherland entre outros. Figurinos e cenários ajudam na recriação histórica, a direção é boa, mas o roteiro que é inconstante, apresentando ótimas cenas e perdendo o fôlego logo em seguida, mas fora isso é um filme de tribunal bem conduzido, inclusive me recordou bastante The Accused (1988) que assisti a pouquíssimo tempo e tem uma história parecida sobre uma mulher que abusada sexualmente, e que abre precedentes nos tribunais. Em linhas gerais Miranda’s Victim é uma boa pedida para quem curte tramas baseadas em casos de grande repercussão, e que influenciaram a nossa sociedade permanentemente.
Nós brasileiros temos uma dependência imensa das produções norte-americanas, somos um povo que por “N” razões e circunstâncias não tem muito apreço pela própria indústria cinematográfica. Isso faz com que o cinema norte-americano, e o europeu em uma escala mais reduzida, domine as telas do nosso país, portanto é difícil sairmos desse eixo tão ocidental. No ano passado eu me propus a começar a assistir produções do mais variado número de países possíveis, e com isso, acabei conhecendo a série KinnPorsche (2022), e foi ela que me trouxe de imediato para este filme.
Na Tailândia do século XIX, quando o lugar ainda era conhecido pelo nome histórico de Sião, dois jovens recebem a missão de se infiltrar no clube Man Suang, um grupo de elite onde figurões importantes da época fazem suas manipulações políticas, entretanto a vida dos dois mudará para sempre dentro daquele lugar.
Não vou mentir, cheguei aqui por conta do Apo e do Mile que formaram um casal apaixonantemente explosivo na série KinnPorsche, os dois demonstraram uma química absurda que nos fazia suspirar, e mesmo sabendo que a proposta de Man Suang seria completamente diferente, esperava ver meu casal com uma dinâmica interessante, com personagens bem aprofundados e trabalhados, e com uma grande divisão de tempo de tela em conjunto, e infelizmente nada disso aconteceu, a história é muito fraquinha, muito confusa e desperdiça a potência que tinha em mãos.
Mas preciso honrar o que é verdade, o design de produção, os cenários, os figurinos, as maquiagens enfim é tudo absurdamente belo, bem feito, e humilha muitos blockbusters americanos que têm orçamentos dezenas de vezes maiores e que não conseguem entregar algo tão caprichado, a fotografia também é muito bonita, mas infelizmente não existe uma história que ecoe com o valor de produção, é tudo muito confuso, tudo muito tocado, e sem alma, não despertar o nosso interesse, é uma história fria.
Talvez Man Suang funcione melhor para os tailandeses que entendem a sua cultura, conhecem o histórico de seu país, mas honestamente do lado de cá do globo não funcionou. É interessante conhecer um pouco mais de uma cultura e do passado de um país tão distante, é isso é inegável, mas eu sou daqueles que precisam de uma boa história, de uma boa trama, com diálogos interessantes e infelizmente nesse quesito o roteiro é muito mal servido, o que acabou me desagradando bastante. Só espero que Shine, a próxima série que será protagonizada pelo Mile e pelo Apo seja tão intensa quanto KinnPorshe e menos insossa como Man Suang.
THE BOYS IN THE BOAT Direção: George Clooney Ano: 2023 Assistido em: 09/03/2024
Eita que essa Olimpíada de 1936 tem história né minha gente?! O evento realizado na Alemanha Nazista tinha como principal objetivo exibir a superioridade germânica, bom pelo menos essa era a ideia de Hitler, mostrar como o seu país ergueu-se das cinzas após o desastre causado pela derrota na Primeira Guerra, Tratado de Versalhes e mais tarde pela Crise de 1929, mas como todos nós sabemos, os planos do ditador saiu pela culatra e ele foi obrigado a engolir algumas muitas derrotas, e algumas delas (Leiam as Americanas) comumentemente ganham as telas do cinema, como esse, que nos convida a conhecer a equipe de remo vencedora do ouro daquela edição dos jogos.
Na década de 1930, um grupo de jovens que se dedicam ao remo. Com ajuda de um treinador dedicado, eles se preparam para as Olimpíadas. O esporte é a esperança de muitos deles que têm vidas completamente sem perspectiva, principalmente devido aos graves efeitos da depressão de 1929, e a crise financeira que os Estados Unidos passavam à época.
Quando anunciaram esse novo projeto do George Clooney, eu tinha muita expectativa, apesar de não saber absolutamente nada de remo e achar um dos esportes mais sem gracas já inventado, gosto de filmes que abordam grandes episódios esportivos, ainda mais um daqueles da já citada famosa Olimpíadas de 1936, mas não vou mentir não, eu esperava algo um pouco mais animado, mais dinâmico, mais vivo, em outras palavras: o filme é muito burocrático e não traz absolutamente nada que já não tenha sido visto em qualquer outra produção esportiva, em outras palavras, ele é genérico e sem graça.
O ponto alto é o elenco, sou apaixonado pelo Callum Turner e automaticamente fico interessado em assistir qualquer coisa que ele faça, e ainda temos o Joel Edgerton, James Wolk, e outros vários rapazes bem bonitinhos que faz a alegria de quem gosta, mas infelizmente nenhum deles tem um personagem interessante, que desperte emoções, é tudo muito insosso e engessado, sem nenhuma emoção. Uma tristeza já que filmes esportivos tendem a mexer com os nossos ânimos, nos deixar tensos, mas aqui esse não foi o caso.
Não desmerecendo de forma alguma a vitória dessa equipe, mas quando falamos que abordam a Olimpiada em questão, creio que Race (2016) é muito mais interessante, já que sendo o Jesse Owens um homem negro, ganhar uma medalha de ouro diante do próprio Hitler, foi um feito mais interessante do que um bando de americanos tão loiros e branquelos quanto os alemães fazendo o mesmo. Apesar de bem executado, The Boys in the Boat prometia ser uma grande aposta para a temporada de prêmios deste ano, mas que foi deixado de escanteio pelo próprio estúdio, e depois de assistir seu conteúdo, essa esnobada se justifica, infelizmente não foi dessa vez que o George Clooney conseguiu encantar com mais uma de suas aventuras como diretor.
Desde que tomei conhecimento da história do Carandiru, meio que fiquei fascinado, é incrível como um presídio que foi criado como modelo, e serviu de inspiração para outros semelhantes em vários países do mundo, se tornou um verdadeiro inferno. A história da Casa de Deteção, apelidado de Carandiru, é praticamente um paralelo com a história da nossa sociedade, que com o avançar dos anos foi tornando-se cada vez mais violenta, mais sombria e mais perigosa. O presídio tem um episódio extremamente pesado que entrou para a história como um dos eventos mais sinistros da história do nosso país, o Massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992.
Dentro dos muros do Carandiru somos apresentados a uma variedade de pessoas, daqueles que estão lá dentro por um erro banal, uma escolha mal feita, até aqueles que têm a criminalidade como “meio de vida”, como "uma carreira". É muito interessante ver a hierarquia que existia no local, paralela às regras do presídio, sendo elas mais úteis e respeitadas do que as regras do estado, provando o completo declínio social que existe no nosso país.
Héctor Babenco vai nos contando detalhes sobre algumas figuras que estão dentro daquele ambiente, ao ponto que vai nos mostrando suas vidas lá fora, mostrando que eles não são apenas presidiários, que todos têm uma família, uma vida, que estão atrás dos portões do presídio, mas ao mesmo tempo que isso é muito positivo, pois dá sustância aqueles personagens, acaba tirando muito da história principal, do personagem principal dessa história que é o presídio em si. Seria muito mais interessante focar apenas no convívio ali dentro, nas situações e histórias do próprio do lugar. O roteiro é baseado em um livro do Dr. Drauzio Varella, e o mesmo já cansou de falar em inúmeras entrevistas que as histórias que ele escutava ali dentro, ele não ouvia em lugar nenhum, então desviar tanto tempo de tela para os flashbacks daqueles presos acabou esvaziando um pouco do foco do filme, que era o cotidiano do lugar, sendo esse o único ponto que tenho a queixar.
Até hoje não sabemos ao certo como o Massacre começou, só sabemos que um desentendimento entre dois presos, Barba e Coelho, levou a uma chacina nunca vista no mundo. Eu não sou defensor de que “bandido bom é bandido morto”, acredito que a pena de morte seja adequada a algumas situações, mas isso apenas após um processo judicial, a uma investigação adequada e julgamento justo, e infelizmente isso nem sempre ocorre no Brasil. O que ocorreu naquele dia 02/10/92 foi uma barbaridade sem tamanho, muitas pessoas esquecem que da mesma forma que morreram assassinos, estupradores e sequestradores, também morreram pessoas que estavam ali sem terem sido julgadas, muitas provavelmente inocentes, porque o Carandiru era esse grande zoológico humano onde iam parar todos os tipos de criminosos, logo é muito errado falar que o que foi feito ali foi correto, pode até parecer ingenuidade, mas existe uma possibilidade real de haver vítimas inocentes no meio daquela carnificina toda, e mesmo que fossem todos culpados, nada justifica você transformar chão em um mar de sangue, isso seria apenas se rebaixar a um nível muito abaixo do daqueles que estavam lá dentro do presídio.
Babenco nos entrega um longa assustador, e nem digo pelo que é mostrado em cena, que apesar das sequências violentas foi até comportado, e em termos de cinema existem outras produções que são muito mais explícitas, mas ele assusta por saber como era aquele lugar na realidade, e que iguais a ele existem muitos Brasil afora e em outros lugares do mundo. É aterrador como o sistema carcerário de forma alguma serve de ressocialização, muito pelo contrário, se as ruas são a escola do crime, o que tínhamos ali era a faculdade. A possibilidade desses caras saírem de lá muito piores do que entraram era gigante. Reflexões a parte, como cinema Carandiru tem grandes atuações, um roteiro bem escrito, e uma direção muito boa, é um filme que deveria ter muito mais reconhecimento, até atrevo-me a dizer que se ele fosse uma produção americana, com atores americanos, seria considerado um clássico, mas infelizmente o cinema brasileiro é desvalorizado (e em muitas situações com razão), mas o que temos aqui é bom exemplo do que o Brasil pode entregar, simplesmente utilizando das suas próprias histórias, sem precisar que o roteirista invente nada, já que nesse caso o filme já estava pronto, só foi preciso levar para tela do cinema.
PS¹: Nada mais do que adequado que a cena final seja o emblemático momento do Carandiru sendo implodido, lembro como se fosse ontem do momento que foi exibido na TV, foi o fim de uma era.
PS²: Aquarela do Brasil no final é um tapa na cara de cada um dos brasileiros.
POOR THINGS Direção: Yorgos Lanthimos Ano: 2023 Assistido em: 03/03/2024
Finalmente consegui concluir a lista dos indicados ao Oscar de melhor filme do ano de 2023, só faltava Poor Things, que é de longe um dos mais elogiados, e por tabela, era um dos que tinha mais curiosidade, principalmente quando por todos os lados ouvia dizendo que se tratava de uma versão modernizada do Frankenstein, mas creio que a história de Bella Baxter vá muito além de um “monstro” que é trazido de volta a vida por um cientista, ele fala muito sobre autoconhecimento, sobre descoberta e sobre liberdade.
Numa Londres vitoriana, somos apresentados a Bella, uma mulher com o cérebro de criança que foi ressuscitada por um cientista. Bella aos poucos vai descobrindo o mundo ao seu redor, e ela quer sempre mais e mais. Quando a jovem sai do alcance do cientista, ela vai descobrindo como o mundo é verdadeiramente, à medida que desperta sua própria sexualidade.
Conheci o trabalho do Yorgos Lanthimos no excelente The Favorite (2018), em que a Emma Stone estava entre as protagonistas, então já estava com expectativas muito altas com relação a esse filme, e elas foram supridas em muitos pontos, figurino, cenários, fotografia, direção e atuações são impecáveis e não tem nada a se discutir, principalmente do brilhante trabalho de Emma Stone que está perfeita, não sei se ela vai ganhar o Oscar por esse papel, mas sem sombra de dúvidas merece muito mais do que quando ganhou por La La Land (2016), toda a composição de sua Bella é muito complexa levando em consideração gestual, voz, olhar, resumindo é um trabalho sublime de criação. Outro que também merece muitos elogios, mas infelizmente aparece pouquíssimo é o sempre excelente Willem Dafoe.
Meu problema com esse filme infelizmente fica por conta do roteiro, às 2h20min soaram longas demais para história que estava sendo comentada, principalmente na segunda metade onde tudo fica muito cansativo. No primeiro momento, quando temos Bella descobrindo o mundo, descobrindo seu lado feminino, descobrindo o que é um sexo, o que é prazer, o filme anda perfeitamente, mas a partir do momento que o filme estagna no sexo, tudo fica muito mais chato. O roteiro deixa de fazer com que Bella continue sua jornada de descoberta do mundo para ficar focando em um lenga-lenga de prostituição e no relacionamento com o personagem insuportavel do Mark Ruffalo. O que eu queria mesmo era continuar vendo as aventuras da Bella por outros locais, por outras cidades, outras culturas e etc. Outro momento que puxa a história para baixo e todo o ato final que trás a revelação da história da Victoria e como ela se tornou Bella, e aquele marido, o mistério sobre a origem da personagem a favoreciam muito mais, mas infelizmente Lanthimos quis explicar demais.
Em linhas gerais o saldo de Poor Things ainda é positivo, o Lanthimos é um diretor de grande habilidade na arte de contar histórias, e ele nos faz crer nesse mundo abstrato e absurdo que ele criou. Creio que no futuro ele ainda vai ganhar seus prêmios, e vai ter seu devido reconhecimento, mas não será com esse filme não, ainda mais nesse ano que o Oscar tem um dono declarado desde o começo, mas espero que ele continue desbravando essas histórias instigantes e inquietantes como tem feito até agora.
DUNE: PART TWO Direção: Denis Villeneuve Ano: 2024 Assistido em: 02/03/2024
E finalmente aqui estamos nós para falar sobre esse que já está sendo chamado de o melhor épico dos últimos 20 anos. Se eu virasse para o Luan dos 10 anos de idade, que conheceu Duna ao ler uma matéria sobre a minissérie de 2000 na extinta revista Herói, e dissesse que no futuro ele iria assistir a uma adaptação do livro em tela grande e que iria ficar encantado, provavelmente ele não acreditaria, mas foi exatamente isso que aconteceu. Eu tinha altas expectativas por esse filme, principalmente depois do primeiro e depois de ter finalmente criado vergonha na cara e lido a obra original, mas mesmo assim todas as minhas expectativas foram superadas.
Após se unir ao povo Fremen. Paul Atreides começa a aprender os costumes, práticas e técnicas deles, com o objetivo de se vingar da casa Harkonnen e do imperador Shaddam IV. Aos poucos, Paul vai se tornando um líder extremamente habilidoso para as causas Fremen, ao ponto de se tornar um imenso pesadelo para os Harkonnen, que querem a todo custo acabar com o “líder fanático” Muad'Dib, sem sequer imaginar sua verdadeira identidade.
Raramente costumo ler um livro e depois assistir a sua adaptação, isso porque em 99,9% dos casos o livro é muito melhor, e se eu já conheço a história e adaptação não for minimamente próxima daquilo que li, a chance de eu não gostar é altíssima. No ano passado pude ler o Duna original de Frank Herbert e fiquei ainda mais encantado com o universo. Herbert tem uma mensagem muito poderosa e que particularmente acho importantíssima, ele nos alerta sobre o perigo do “salvador”, sobre o risco que é acreditar em uma figura messiânica, aquela que pode “corrigir todos os problemas de um povo”, Herbert reforçava nos anos 60 que essa figura não existe, e é impressionante como as pessoas seguem esperando por esse líder perfeito, seja no campo político ou religioso.
Duna é sobre metáforas, e aqui em Villeneuve acertou em cheio, Paul é um personagem que sabe que é o escolhido, ele sabe o seu papel, mas o evita porque já viu que as coisas sairão de seu controle. Vi algumas pessoas decepcionadas porque a prometida Guerra Santa não acontece nesse filme, mas isso não interessa, o que de fato importa é nos mostrar tudo o que ocorreu para chegarmos até ela, mostrar o que levou os Fremen a acreditarem nessa “figura sagrada” que os guiará para a morte fantasiada de falsa liberdade. Tudo é um excelente estudo sobre manipulação de massas, e pensar que desde que o Herbert criou essa história, as coisas só parecem piorar no mundo real, basta ver a idolatria política que existe no Brasil atual.
Denis Villeneuve é um diretor que para mim é 8 ou 80, de vez em quando ele entrega uns filminhos meio sem graça, mas quando ele acerta, o longa vira um dos meus favoritos de imediato. Com essa parte dois, ele conseguiu a proeza de superar o primeiro que já achava excelente. Esse segundo título tem uma escala muito maior, uma urgência latente que nos deixa impacientes, você sabe que tudo vai descarrilhar em algum momento, e que será algo gigantesco. O roteiro e a direção de Villeneuve consegue criar um clima absurdamente tenso, ele fez algumas mudanças importantes em relação ao enredo do livro, mas de forma geral sua adaptação foi muito bem realizada, deixando até mesmo aqueles que já conhecem a história ansiosos pelo que vem pela frente. A fotografia é um espetáculo de linda, infelizmente não tive a oportunidades, mas acredito que quem puder deve assistir em IMAX, o mestre Hans Zimmer novamente arrebenta com uma trilha poderosa e emblemática.
O elenco está ótimo, principalmente Timothée Chalamet que do segundo ato em diante cresce absurdamente, nos entregando a imponência que o personagem pede. Rebecca Ferguson é fantástica, e sua Lady Jessica segue deslumbrante. Entre as adições, destaque paras Léa Seydoux e Florence Pugh, ambas excelentes, mas quem rouba a cena entre as novidades é Austin Butler, que mais uma vez prova que é um bom ator, dessa vez no papel do psicopata Feyd-Rautha, são dele algumas das melhores e mais marcantes sequências.
Dune: Part Two foi adiado devido à greve dos atores de 2023, mais creio que ele chegou na hora certa, esse comecinho de 2024 está sendo bombardeado por fracassos de crítica e bilheteria, logo foi facílimo assumir o protagonismo desse primeiro trimestre, e já se firmar como um dos principais lançamentos do ano. E com absoluta certeza ele será relembrado no ano que vem durante a temporada de premiações.
Eu sou partidário da ideia de diretores como, Cameron, Nolan e do próprio Villeneuve de que cinema é uma arte que deve ser respeitada, e dentro das possibilidades deve ser apreciada no palco para qual o filme foi formatado. Ambos os Duna são títulos que representam um capricho e uma qualidade que você não encontra em qualquer produção, então eles merecem o reconhecimento do público. Uma história tão poderosa tão forte, tão atemporal como essa, que nos chama a tomar cuidado com figuras salvadoras e messiânicas, merecia o alcance que muitos filmes vazios e sem substância tiveram, mas infelizmente não terá, porque nem todo mundo está preparado para entender as nuances da mensagem que está sendo transmitida, provando que o que ocorre dentro de Arrakis, se repete aqui do lado de fora.
ANYONE BUT YOU Direção:Will Gluck Ano: 2023 Assistido em: 01/03/2024
Como já deixei bem claro em inúmeros comentários, eu não sou o cara das comédias românticas, acho todas iguais, mas quando tem uma que fura a bolha e toma proporções incomuns me sinto compelido a assistir. E foi com esse sentimento que eu fui até o cinema conferir Anyone but You, o exemplar do gênero que caiu no gosto do público e se tornou um verdadeiro fenômeno, um daqueles que não víamos provavelmente desde os anos 2000, e para a minha total e completa surpresa, eu adorei tudo do começo ao fim.
Após um encontro totalmente aleatório Ben e Bea passam uma noite incrível juntos, eles poderiam começar a namorar se não fosse pelo trauma que ele tem de ter sido abandonado e pelo fato dela ter escutado uma conversa dele com um amigo que acabou sendo bastante distorcida. Dois anos depois os agora desafetos são obrigados a se suportar durante um final de semana enquanto a irmã de Bea se casa com uma amiga de Ben. Quando os dois começam a fingir namorar para agradar as noivas e seus familiares, começam a nascer fortes sentimentos entre eles.
Antes de qualquer coisa é preciso sabermos que nada aqui é novidade, desde a ideia secular de autoria de William Shakespeare, até todo o desenvolvimento que não foge às regras estabelecidas pelas comédias românticas lá da década de 1990, mas então o que torna esse filme tão especial?! A resposta até que simples, ele acerta no básico onde a maioria dos outros títulos erram, ele tem um casal protagonista incrível, e melhor, os dois têm uma química explosiva, vulcânica quando estão juntos, Glen Powell e Sydney Sweeney são duas jovens potências que quando se encontraram fizeram a tela do cinema pegar fogo.
Ambos protagonistas são lindos, ambos são gostosos, e o diretor não tem medo de usar e abusar dos dois, Glen Powell sem camisa por quase duas horas é um presente que caiu dos céus, e creio que ver a Sydney com pouca roupa também agradou bastante quem gosta. Esses dois quando juntos formam um casal tão bonito que você torce por eles de imediato, não é aquele filme que se esforça para fazer com que o público se empolgue, isso acontece naturalmente. Geralmente nas comédias românticas nós já sabemos que o casal protagonista vai ficar junto no final, então não interessa muito o caminho até esse momento, mas aqui foi diferente, mesmo sabendo que eles vão se acertar, o caminho é essencial, porque queremos ver esses dois juntos, logo cada passo importa, nós estamos torcendo igual os personagens dentro da história também estão.
Will Gluck não reinventa a roda, seja no roteiro ou na direção, ele pega o mais do mesmo e aplica, é o basicão de sempre, e deu super certo, entre uma inovação mal feita e o feijão com arroz bem temperado, sempre fico com o feijão com arroz, e é isso que o filme acerta, ele pega uma história universal do Shakespeare, bons atores que têm uma química absurda, uma boa trilha sonora, e as lindas paisagem reais de Sidney, e tá pronto não precisa de mais nada, junte tudo isso ao fato da Sony ter confiado no filme e deixado ele no cinema por tempo suficiente para ganhar o boca a boca do público, e tá aí a comédia romântica de maior sucesso dos últimos anos provando que o gênero que vem sendo espremido nos streamings já há alguns anos, ainda tem cartucho para queimar nas telas grandes, basta saberem fazer, saberem dar tempo para que a obra naturalmente vá ganhando seu espaço e se provando, tal qual aconteceu com Anyone but You, que posso dizer tranquilamente, foi a melhor comédia romântica que vi nos últimos, sei lá, 10-15 anos. Adorei do começo ao fim, e com toda certeza vai se tornar um guilty pleasure que eu terei muito prazer em defender nos próximos anos.
LAND OF BAD Direção: William Eubank Ano: 2024 Assistido em: 25/02/2024
E aqui estamos nós, diante de mais uma bomba disfarçada de filme de ação, que aliás, é ao lado do terror o gênero mais sofrido da história do cinema, principalmente devido aos roteiros que beiram o amadorismo de tão fracos e direções que acreditam que apenas tiros e sequências de ação picotadas são suficientes para agradar o público, e vendo os elogios que essa coisa horrenda recebeu, talvez até sejam, já que esse tipo de produto genérico é lançado em quantidades gigantescas todos os anos por Hollywood.
Quando uma equipe da elite da Delta Force fica encurralada em solo inimigo nas Filipinas, cabe a um piloto de drone tentar ajudá-los da melhor forma possível, entretanto isso não vai ser fácil, já que os referidos soldados estão sob forte fogo inimigo.
O que me chamou atenção nesse título obviamente foi o elenco, Russell Crowe é um dos maiores de sua geração, mas nos últimos 10-15 anos ele só anda aceitando tranqueira, parece que está dependendo de centavos para poder pagar o aluguel, pois nada justifica um vencedor do Oscar se sujeitar a tantos projetos ruins. Luke Hemsworth não conseguiu muito sucesso depois do fim da franquia The Hunger Games (2012-2015) e aqui vive mais um personagem heróico genérico de filme de ação, ainda completam o elenco Milo Ventimiglia, Luke Hemsworth, Daniel MacPherson e Ricky Whittle, todos desperdiçados, pelo menos são bonitos e estão enfeitando a tela, já que seus personagens não vão além do qualquer coisa.
Land of Bad é pobre em todos os sentidos, fotografia, direção, roteiro, atuações é um daqueles filmecos sem nenhuma assinatura artística que os estúdios devem fazer apenas para lavar dinheiro, já que nada justifica a aplicação do termo arte para uma porcaria dessas.
Durante a década de 2000 o DVD se popularizou, e com ele gerou-se um efeito principalmente aqui no Brasil das banquinhas de camelô repletas de DVDs piratas que eram vendidos em saquinhos de plástico. Se Land of Bad tivesse sido lançado há uns 15 anos atrás, certamente seria um dos principais a estar lá nessas bancas, com uma impressão mal feita do poster em papel A4 e sendo vendido como um grande sucesso de ação, provavelmente o filme foi idealizado para tal, mas não ficou pronto a tempo.
ALL OF US STRANGERS Direção: Andrew Haigh Ano: 2023 Assistido em: 25/02/2024
As vezes é bom ser enganado, vim aqui esperando absolutamente nada além de um romance gay entre o Andrew Scott e o Paul Mescal, não sabia de absolutamente nada, nem sequer li a sinopse, muito menos vi o trailer, estava totalmente alheio a qualquer informação prévia que poderia estragar a experiência, e para minha total surpresa dei de cara com um encontro nada comum de Ghost (1990) com The Sixth Sense (1999). Jamais esperava um filme que envolvesse fantasia e muito menos um drama dessa proporção, uma trama sensível e que mexe com muitos sentimentos do espectador.
Certa noite Adam tem um encontro totalmente trivial com o seu vizinho Harry, após esse misterioso encontro ele acaba viajando até a antiga casa de seus pais que já estão mortos há muitos anos, e para sua total incredulidade ele encontra tanto seu pai quanto sua mãe exatamente da mesma forma que eram quando morreram, levando Adam a poder finalmente ter experiências com ambos que lhe foram privadas devido a morte dos mesmos, tudo isso enquanto se envolve romanticamente com Harry.
Como disse, é um filme que me pegou desprevenido, vinha buscando por putaria entre dois gostosos e acabei encontrando depressão pura com um protagonista que tem um trauma muito profundo de infância, e misteriosamente ganha a oportunidade de reaver nem que seja um pouquinho do tempo perdido com seus pais, tudo isso enquanto começa a namorar o vizinho gostosão. Mas toda essa loucura nos faz nos perguntar se Adam é esquizofrênico, se está alucinando, se ele está sonhando, ou se ele está se drogando, algo errado está ocorrendo, e a resposta é quase surpreendente.
O roteiro conseguiu esconder o fato de Harry estar morto até a cena que ele finalmente enxerga os pais de Adam, até aquele momento eu pensava que Adam era esquizofrênico, que ele estava louco, mas quando Harry também viu os pais de Adam, naquele momento o roteiro entregou todo o ouro, para depois vir a confirmação que Harry estava morto o tempo todo, e aliás ele morreu de overdose logo após o seu encontro incial com Adam nas primeiras cenas do filme. É algo muito triste porque é nesse momento que o título faz todo o sentido, Adam se sentia estranho, e sozinho quando perdeu seus pais, Harry por outro lado tinha seus pais vivos, e mesmo quando ele morreu, ninguém se importou, ninguém procurou por ele, essa solidão e tristeza que cerca muitas pessoas LGBT que tornam esse filme é um verdadeiro soco no estômago, muitos de nós somos os “desconhecidos” do título, somos invisíveis para muitas das famílias que preferem simplesmente esquecer que existimos tal qual aconteceu com o pobre Harry.
Muito bem escrito e dirigido, com uma belíssima fotografia, e um elenco de primeira All of Us Strangers marca o primeiro trabalho que assisto do Paul Mescal, que nos últimos anos vem se tornando um dos nomes mais relevantes de Hollywood, e além de lindo e gostoso ele atua muito bem, mas a grande surpresa com toda certeza é o Andrew Scott, que já conheço há alguns anos, mas nunca tinha visto em uma performance tão intensa, e com um personagem tão complexo. Completam o time os sempre afiados Jamie Bell e Claire Foy.
Para quem esperava um romance gay clássico (como eu) pode ir esquecendo, All of Us Strangers é um filme muito reflexivo que nos leva a pensar muito a respeito da solidão, é uma bela de uma porrada na cara de muita gente, e é uma pena que infelizmente não tem um grande alcance que merecia ter, pois a sociedade merece saber o mal que ela faz na vida daqueles que ela rejeita, essa responsabilidade precisa ser assumida, mas infelizmente nunca é.
THE ZONE OF INTEREST Direção: Jonathan Glazer Ano: 2023 Assistido em: 25/02/2024
Hannah Arendt, teórica política alemã, em suas obras buscava falar sobre o que ela chamava de “a banalização do mal”, quando as pessoas não se incomodam quando algo ruim acontece ao seu redor, simplesmente fazem o que é “comum”, sem questionar, sem se impor. Adolf Hitler sempre é citado como o grande responsável pelos horrores Nazistas, o grande criminoso, o mal encarnado, mas é importante ressaltar que Hitler não fez nada sozinho, ele tinha milhões de seguidores para lhe ajudar, alguns tão fanáticos quanto ele, outros até mais, e é justamente sobre uma família de sádicos que esse filme trata, os Höss conseguiram ter uma vida normal mesmo ao lado do inferno.
Rudolf Höss, sua esposa Hedwig e seus cinco filhos moram em uma bela casa, com um jardim imenso, piscina, e muito espaço para as crianças brincarem, um ambiente perfeito para sua família. Rudolf sai cedo para trabalhar e sua esposa fica cuidando da casa e das crianças, essas últimas, se divertem no maravilhoso jardim. Isso seria a descrição de uma família feliz e perfeita da Alemanha da década de 1940, o problema é que o quintal dos Höss acaba onde começam os muros do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.
Desde que as críticas acerca desse filme começaram a surgir na internet, o som sempre foi citado como seu principal elemento, existe uma teoria de que nós seres humanos temos muito mais medo do desconhecido do que daquilo que vemos, as sombras e a escuridão deixam tudo mais assustador, aplicando esse conceito no filme, o diretor Jonathan Glazer não nos mostra NADA, mas nós conseguimos escutar. Enquanto vemos aquela linda família em seus dias ensolarados e perfeitos, escutamos tiroteios, massacres, gritos dos torturados, e os Höss agem como se absolutamente nada estivesse acontecendo, aliás, estou errado, eles não fingem que nada está acontecendo já que sabem o que ocorre do outro lado do muro, eles só não se importam, é a banalidade do mal citada Hannah Arendt, eles vem a fumaça das caldeiras onde pessoas estão sendo queimadas, e para eles é a coisa mais natural do mundo.
Glazer nos entrega um filme gelado, apesar da fotografia ser de cores pastéis e claras, e o ambiente está sempre ensolarado, não podemos esquecer do que que está acontecendo ali do lado, onde por dia morriam cerca de SEIS MIL PESSOAS. E não podemos atribuir a responsabilidade apenas ao oficial do exército Nazi, sua esposa Hedwig mantém escravas judias dentro da sua casa e as aterrorizava psicologicamente, essa é claramente uma história de terror, só que muito pior do que qualquer slasher, de qualquer longa sobre possessão demoníaca, porque isso aqui aconteceu de verdade, e é horrível saber que ESSAS PESSOAS NÃO SE ARREPENDERAM, pesquisando um pouquinho sobre o que ocorreu com a família Höss após os Julgamentos de Nuremberg, descobrimos que um neta de Rudolf e Hedwig que não concordava com as atitudes da família foi isolada por seus demais membros, que continuavam defendendo as ideologias nazistas até o fim de seus dias.
Geralmente The Zone of Interest é o tipo de projeto que eu odiaria, porque ele não tem nenhum grande momento dramático, é o cotidiano de uma família classe média alta vivendo os seus dias felizes na sua casa perfeita. Quem conhece um pouquinho de história e sabe dos horrores que ocorreram dentro de Auschwitz, com toda certeza se arrepia quando escutar os som de tiros, escuta os gritos, quando vê a fumaça no horizonte, ou quando o engenheiro mostra uma planta sobre uma forma de potencializar o número de baixas por dia e de forma ininterrupta. Esse é sem sombra de dúvidas o filme mais sufocante dos últimos anos, porque você vê tudo isso e sabe que foi real. O único detalhe que me desagradou foi o final, foi bacana mostrarem que a presença do mal que aquela família causou nunca passou, mas creio que o desfecho perfeito seria mostrar Rudolf sendo enforcado em 1947 pelos crimes contra a humanidade, mostrando que sim houve alguma justiça mesmo que mínima diante de todos os horrores que ele e sua família ajudaram a causar.
PS¹: O poster desse filme é perfeito, aquela família feliz sob o céu totalmente preto é de arrepiar. PS²: Me julguem, mas para mim a Sandra Hüller está melhor aqui, do que em Anatomy of a Fall (2023)
THE IRON CLAW Direção: Sean Durkin Ano: 2023 Assistido em: 24/02/2024
Não sou um cara de esportes, mas sou apaixonado por cinema, mas até que gosto de filmes que tratam sobre eventos esportivos famosos. Tomei conhecimento da família Von Erich quando começaram a sair as primeiras notícias a respeito desse filme, e por curiosidade, fui pesquisar sobre eles, e foi quando me deparei com a história da “maldição”, imediatamente fiquei muito interessado em assistir a essa cinebiografia e me surpreendi, não esperava algo desse nível.
Na década de 1970, Fritz Von Erich, um ex-lutador de luta livre que sempre sonhou em se tornar campeão mundial, decide transformar seus filhos em profissionais do gênero. Ele fará de tudo para isso, sem se importar com os estragos que tanta pressão poderá causar na vida de seus herdeiros. A partir daí, os quatro irmãos Von Erich serão obrigados a sentir na pele que o sucesso tem um preço, e às vezes ele é alto demais.
Não acredito nessa história de maldição, não sou nada supersticioso, acho muitas crendices populares uma baboseira sem tamanho, mas diante de toda a desgraça e sofrimento que a família Von Erich passou, a única maldição que consegui enxergar assistindo esse filme e pesquisando na internet sobre a história real, é o pai, Fritz, um homem completamente abusivo, que não se importava nem um pouco com os filhos, homem que mesmo diante de uma desgraça, ignorava toda dor e todo sofrimento da família e continuava pressionando como se absolutamente nada tivesse acontecido. Todos os horrores que cada um dos Van Erich sofreram seriam bem diferentes caso houvesse dentro daquela casa cuidado, caso aquele pai se importasse mais com seus filhos do que com sucesso, do que com as suas ambições.
Deus do céu, o quê que o Zac Efron fez com a cara dele minha gente?! Ele foi de um dos homens mais lindos de Hollywood, para um Lula Molusco depois da harmonização facial, apesar de estar totalmente quadrado, Efron entrega aquela que é de longe sua melhor performance, ele com um bom diretor e um bom roteiro, pode sim entregar excelentes performances, o elenco ainda é completo por Jeremy Allen White, Harris Dickinson, Maura Tierney e Holt McCallany todos muito bem em seus papéis, entretanto fica aquela sensação de que se o roteiro investisse ainda mais na cenas dramáticas, ele renderia grandes momentos, onde esses intérpretes poderiam brilhar com mais intensidade.
The Iron Claw não é um filme sobre esportes, é um drama sobre uma família que por mais de uma década foi assolada por desgraças que poderiam sim ser evitadas, caso houvesse um acompanhamento psicológico para aquelas pessoas, ou se a criação deles fosse diferente, aliás a família Von Erich não é nada especial ela se encaixa na velha fórmula de que “por trás de toda criança/jovem bem sucedido, existem pais abusivos”. É muito triste saber o desfecho que cada um desses personagens, tiveram na vida real, mas ainda assim o filme termina com uma nota de esperança, nos mostrando que apesar de tudo que sofreu o Kevin ainda conseguiu, ao lado da sua esposa, criar uma bela e unida família, e seus filhos segue os passos de seus antecessores, só que sem toda a pressão.
Foi triste ver que A24 não se dedicou a fazer uma campanha de divulgação para The Iron Claw para a temporada de prêmios, porque o filme é muito melhor que muita porcaria que tá aí sendo nomeado a premiações. Uma história simples, bem contada, que nos deixa tristes com o passado, mas esperançosos para que no futuro a situação daquela família tenha melhorado, porque a cota de desgraça desse pessoalzinho já foi completada há muito e muito tempo
RAPITO Direção: Marco Bellocchio Ano: 2023 Assistido em: 24/02/2023
Sou de família de origem italiana, logo não ser católico era impensável até alguns anos atrás. Eu mesmo fui frequentador ativo da Igreja até por volta dos meus 15 anos, quando finalmente consegui minha emancipação, e desde então não voltei lá mais, e o motivo? É que eu nunca suportei a mania chata dos cristãos de se julgarem como os corretos e condenarem aqueles que pensam diferente deles, ou como eles fazem de tudo para converter os “errados” a sua doutrina “correta”, sempre achei isso algo extremamente hipócrita, e cheguei ao ponto de me sentir mal naquele ambiente, o que foi muito agravado nos dois anos que fui coroinha, portanto o dia que dei um basta na religião na minha vida foi libertador.
No século XIX os judeus eram extremamente perseguidos na Europa (e sabemos que isso iria piorar muito nos próximo anos), e devido as leis vigentes na Bolonha, um cristão jamais poderia ser criado por um não-cristão. Nesse cenário, a família Mortara é pega de surpresa, quando descobre que seu pequeno filho de 6 anos, Edgardo, havia sido batizado contra sua vontade. A criança é levada de seus pais e entregue aos cuidados da igreja em Roma, onde será convertida ao cristianismo enquanto seus pais lutam desesperadamente para tentar reaver sua guarda.
Quando fiquei sabendo dessa história, fiquei indignado, não consegui entender como a criança havia sido batizada contra a vontade de seus pais, e foi vendo o filme que me veio a resposta, uma empregada jogou três gotinhas de água na cabeça do bebê fez um sinal da cruz e pronto a criança estava “salva”, seu lugar no céu estava garantido, sério que as pessoas acreditam nisso?! Às vezes creio que alguns religiosos entendem tudo que Jesus falava ao contrário, por que não é possível uma coisa dessas, mas esse é só mais um dos muitos absurdos que rolavam há alguns anos quando a igreja católica tinha muito mais poder do que algumas legislações vigentes.
Marco Bellocchio entrega um filme bem equilibrado, com história muito boa, só tem um probleminha de ritmo ali pela metade, uma edição um pouquinho melhor trabalhada renderia um resultado mais dinâmico, mas a história é muito forte, muito bem contada, e isso compensa a fadiga, principalmente quando chegamos na segunda fase de todo esse imbróglio e descobrimos que os danos causados na vida do Edgardo foram permanentes. A direção é bem afiada e os atores bem escalados, o design de produção é absurdo, o valor de produção do filme é nítido, os cenários e os figurinos são excelentes recriando com muita qualidade aquela Bolonha do século XIX.
É impossível não sentir muita raiva de toda essa situação, ainda mais sabendo que é baseado em uma história real, e que os responsáveis saíram impunes, sei que até bastante injusto, mas também é difícil não sentir raiva do próprio Edgardo na sua fase adulta, mesmo ele sendo uma vítima de uma lavagem cerebral que é feita até os dias de hoje, só que hoje dia isso não é mais exclusividade da igreja católica.
Hoje em dia eu digo de boca cheia que só agnóstico e que me libertar da opressão religiosa que existe dentro da minha família foi a melhor coisa que fiz na minha vida, não estou dizendo que não sou mais vítima dos preconceitos, como um homem gay, ainda escuto muitos absurdos principalmente por parte da minha mãe, mas histórias como essa só reforçam meu pensamento que religião é o pior mal que existe na humanidade, não me refiro apenas a cristianismo mas também é ao islamismo, ao judaísmo e todos os outros “ismos”. Jesus nos uma mensagem belíssima mensagem, “amarmos uns aos outros e fazer o bem”, infelizmente suas palavras foram distorcidas por um bando de fanáticos, e dois mil anos depois cá estamos nós, penando com a presença de alguns que só estragam a mensagem tão bonita que Nazareno passou.
Peter Pan
3.5 495 Assista AgoraPETER PAN
Direção: P. J. Hogan
Ano: 2003
Assistido em: 13/04/2024
Eu sou um cara particularmente insistente, se eu não gosto de algo de primeira, não fecho as possibilidades, eu insisto, tento mais uma vez. Peter Pan nunca foi algo presente na minha infância, foi algo que só vim a conhecer da adolescência em diante, portanto nunca tive a nostalgia ou o encanto infanto juvenil como fatores relevantes quando se trata desse personagem. Particularmente até hoje não gostei de nenhum filme contando essa história, mas ainda assim sigo insistindo para ver se encontro algo que se enquadre no meu gosto, e tinha muitas esperanças com relação a essa adaptação de 2003 que é particularmente muito celebrada entre os fãs, mas também não foi dessa vez.
Na Inglaterra Eduardiana, somos apresentados a família Darling, uma família comum e feliz. Wendy, a filha mais velha do casal Darling, começa a perceber um estranho menino que frequenta sua casa durante a noite. Certo dia, ela consegue conversar com ele e descobre seu nome: Peter Pan. Peter vive na Terra do Nunca, um lugar mágico onde as crianças nunca crescem, Peter leva os irmãos Darling até o lugar, e lá chegando eles ficam maravilhados, mas também correm grande risco na figura do perverso Capitão Gancho, que quer a todo custo acabar com Peter.
Tudo começa muito bem, tem um valor de produção grandioso, os cenários e os figurinos são ótimos, o CGI está datado para os dias de hoje, mas creio que para 2003 ele tenha sido muito bom. Também temos um Peter carismático, um Capitão Gancho muito bem defendido pelo Jason Isaacs, mas infelizmente esse filme não é para mim, ele tem um ar teatral, o que obviamente é justificado, afinal de contas a história original do Peter Pan começou com uma peça de teatro, mas eu nunca fui fã de filmes com estética teatral, sempre achei tudo muito exagerado, do modo que ultrapassa o meu limite de imersão, fazendo com que eu não consiga embarcar na proposta.
Apesar de bem realizado, e do notável cuidado dos realizadores em respeitar a história que há muitos anos encanta as crianças, o diretor P. J. Hogan não traz absolutamente nada de novo, se mantendo fiel a visão já comum do personagem, para muitos isso é algo muito positivo já que ele aposta no seguro ao invés de ficar tentando fazer inovações estúpidas, como veríamos nas produções das décadas posteriores.
Reconheço as muitas qualidades da produção e particularmente gostei bastante do começo dele, mas quando Terra do Nunca entra em cena, o que deveria ser o ápice da história, foi quando ela me perdeu, não creio que isso é um defeito da história do Peter Pan, mas simplesmente não faz meu gosto pessoal. Em se tratando do Pan, o melhor filme de todos para mim, é aquele que não tem o personagem como protagonista, mas sim o que conta a sua história de origem, estou me referindo a Finding Neverland (2004) que nos mostra como J. M. Barrie criou essa tão aclamada fantasia.
Síndrome do Mal
2.9 8RAMPAGE
Direção: William Friedkim
Ano: 1987
Assistido em: 07/04/2024
Sou um profundo consumidor de cinebiografias, portanto sei muito bem que 99% delas não retratam a história original da forma como ocorreu, e que praticamente todas têm adaptações para enquadrar o que está sendo contado no formato do cinema. Porém alguns filmes apenas pegam uma base real e desenvolvem uma história própria, honestamente esses são os que menos me agradam, porque eles parecem ter vergonha de contar as coisas como de fato aconteceram, e é nesse ponto que se encaixa Rampage.
Anthony Fraser um dedicado promotor, precisa montar um caso para fazer com que Charlie Reece, um perigoso serial killer, seja devidamente condenado. Entretanto a defesa faz de tudo para que ele seja condenado como inimputável, fazendo assim com que a pena de Reece seja mais branda. Assim Anthony começa uma grande corrida para tentar manter esse perigoso criminoso atrás das grades.
Depois da morte do Friedkin no ano passado, fui atrás dos filmes menos conhecidos dele, aqueles de menor impacto, e me deparei com Rampage, uma produção extremamente problemática, e com bastidores tão caóticos que justificam o quão complicado se tornou encontrar essa produção, eu mesmo só consegui assistir porque tive acesso a uma gravação de VHS da década de 1990 com uma qualidade monstruosamente ruim e com uma legenda toda falhada, mas ainda assim deu para conferir, e assistindo consegui entender porque que William Friedkin tratava essa produção como uma enorme decepção, mesmo tendo uma história tão poderosa nas mãos, aqui não encontrei as qualidades habituais dos títulos do famoso diretor.
A história é inspirada no serial killer Richard Chase, O Vampiro de Sacramento. Praticamente todos os detalhes que vemos aqui são retirados da história do Chase, inclusive toda a batalha no tribunal para julgá-lo como uma pessoa com sérios problemas mentais ou um criminoso frio. Só que diferente do personagem que é apresentado em tela, o Richard Chase era uma pessoa claramente perturbada, que nem queria sair da instituição de doente mentais, pois sabia que voltaria a fazer coisas ruins, e o grande problema de Rampage é justamente não levantar essa discussão, em momento algum a atuação de Alex McArthur nós demonstra que estamos diante de um personagem dúbio, não sei se foi orientação do próprio Friedkin, ou falha do ator, mas o personagem que nos entregam é claramente retratado como um assassino frio, fazendo com que todas as suas paranoias passassem a ideia de serem meras desculpas inventadas pelo criminoso para fugir da pena de morte, enquanto que Chase era uma pessoa que procurou por ajuda, e não teve acesso ao tratamento adequado, toda a ambiguidade entre o assassino cruel que sabia que o que fazia era errado, mas não conseguia parar, foram simplesmente eliminados, deixando a história extremamente unilateral e sem graça.
O filme ainda tem a sempre boa direção do Friedkin, e uma boa atuação do Michael Biehn, mas a história é bem apagada, as cenas de tribunal são fracas, não tem nenhum grande momento dramático ou um bom ápice ou clímax, nada disso, é bem perceptível o desgosto do diretor com o resultado final, o que o levou inclusive a fazer uma nova montagem alterando o desfecho. A versão que assisti foi a original de 1987, mas não creio que o corte com o final do Friedkin melhoraria o resultado não, com certeza teria a vantagem de ser a visão escolhida pelo seu realizador, mas em linhas gerais todo o trajeto de Rampage é caótico e muito sem graça, não são duas cenas finais que vão mudar isso.
Li um pessoal falando que esse é um Friedkin menor, e infelizmente sou obrigado a concordar, para um diretor de títulos tão importantes e famosos, que revolucionou dois gênero para sempre, definitivamente essa aqui é uma nota de rodapé, e a prova maior é que é impossível encontrá-lo em qualquer lugar de modo legalizado, como se fosse completamente ignorado pela indústria cinematográfica, tal qual era pelo seu realizador enquanto este era vivo.
Creation of the Gods I: Kingdom of Storms
3.2 5CREATION OF THE GODS I: KINGDOM OF STORMS
(FENG SHEN DI YI BU: ZHAO GE FENG YUN)
Direção: Wuershan
Ano: 2023
Assistido em: 06/04/2024
Eu tenho uma teoria que às vezes ser enganado é bom. Particularmente não tenho nenhum interesse por filmes chineses, não tenho preconceito com cinema asiático, visto que amo as produções japonesas e sul-coreanas (cinema!! Não gosto de Dorama não!), mas nunca assisti nada vindo da China, o motivo?! Todos aqueles que tem repercussão aqui no Ocidente são filmes megalomaníacos, repletos de absurdos que é o que eles gostam, afinal de contas, basta ver o que que faz sucesso por lá, chineses adoram trolhas americanas repletas de CGI e barulho, portanto sempre me mantive distante de tudo que vinha de lá. Maaaas como sou cadelinha de mitologia, quando li sobre esse longa, imediatamente me empolguei com o envolvimento dos deuses dos mitos locais, mas não imaginava que tudo isso não passasse de um grande plano de fundo para nos contar a respeito confusões políticas milenares do governo chinês.
Após uma vitória militar contra um rebelde, o príncipe da dinastia Shang, Yin Shou, faz uma grande celebração para celebrar, entretanto durante a comemoração, misteriosamente seu irmão enlouquece e acaba matando o rei Di Ti. Ji Fa, um membro da guarda real, filho de um dos lords regionais do império e refém da família real, acaba matando o príncipe enlouquecido e cai nas graças do agora rei Yin Shou. Entretanto o que ninguém poderia supor é que o novo rei estaria a merecer de um perigoso demónio raposa que ameaça a todo o mundo. Quando o Yin Shou começa a mostrar um lado extremamente cruel, caberá a Ji Fa e ao príncipe Yin Jiao, filho único do novo monarca, descobrirem a verdade, e tentarem livrar o trono da influência demoníaca.
Surpreendentemente esse filme conseguiu misturar fantasia com política de uma forma muito interessante, ainda temos as maluquices que os chineses tanto gostam com explosões, poderzinhos e blá blá, mas também conseguimos entender um pouco de como era a dinâmica da sociedade de cerca de 1600 anos antes da era comum, com filhos de nobres poderosos sendo feitos prisioneiros no palácio imperial em troca de seus pais manterem o apoio ao trono, também vemos a força que o misticismo exercia naqueles governos, e obviamente a parte mais interessante de todas, as articulações políticas que levavam a conflitos militares, tudo isso é muito bem explicado, mas da maneira mais fantasiosa, utilizando de criaturas místicas, maldições, deuses e todos os demais elementos que todo fã de mitologia tanto preza.
Não cheguei a conferir o valor do orçamento desse filme, mas é notável a sua qualidade técnica, os figurinos são espetaculares, e não me entra na cabeça como não teve o devido reconhecimento nas premiações do ano passado, obviamente há algum boicote político, porque o design de produção aqui apresentado humilha qualquer coisa que tenha sido feita nos Estados Unidos em 2023, a riqueza de detalhes é assombrosa, e nesse sentido tudo é irretocável.
Confesso que fiquei perdido com o roteiro no começo, principalmente porque há muitos personagens e todos com nomes difíceis para nossa cultura, mas não demora muito para você se localizar no tempo espaço e começar a entender o que está acontecendo, assim como também fiquei ansioso para saber o desdobramento da história nas vindouras continuações. Os personagens são carismáticos, não existe nenhuma atuação que se destaque, mas o elenco escolhido dá conta do recado. A direção, apesar de não trazer nenhuma cena diferente e inovadora, é competente para a proposta idealizada.
Como disse no primeiro parágrafo, fui enganado, cheguei aqui esperando mitologia e acabei encontrando política (teve mitologia também, mas não tanto quanto imaginava), mas isso nem de longe foi algo ruim, Creation of the Gods é um filme que tem uma história carismática, nada diferente das fantasias do mundo afora, mas a forma como tudo é contado deixa as coisas mais interessantes. Os personagens são cativantes o suficiente para nos manter entretidos e interessados em ver como os heróis vão resolver todo esse imbróglio. Estou ansioso pelas continuações e espero que mantenham o ritmo apresentado nesse aqui, e confesso que fiquei impressionado com essa minha primeira empreitada no cinema chines, mesmo ela tendo uma mãozinha americana do Barry M. Osborne, um produtor que trabalhou numa franquia pequena e pouco conhecida chamada O Senhor dos Anéis.
Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas
4.0 399 Assista AgoraBONNIE AND CLYDE
Direção: Arthur Penn
Ano: 1967
Assistido em: 31/03/2024
Sou adepto que pra tudo nessa vida é preciso contexto, as coisas não são da forma que são e acabou, tudo tem explicação, tudo tem justificativa, algumas ainda podem não ter sido encontradas, mas que elas existem, existem. Bonnie Parker e Clyde Barrow são duas figuras extremamente famosas nos Estados Unidos, eles praticamente fazem parte do folclore norte-americano, e seus crimes abalaram a sociedade na década de 1930, portanto eu esperava que esse filme explorasse as diversas camadas que esses dois tinham, entretanto a produção se contenta com a superficialidade.
Nos Estados Unidos da década de 1930, o criminoso Clyde Barrow acaba conhecendo a jovem Bonnie Parker que se encanta pelo charmoso bandido. Ela então decide embarcar com ele em uma jornada Estados Unidos afora para assaltar bancos. Eles acabam ficando extremamente famosos e acabam entrando no radar da polícia, o que os levará a se tornarem inimigos públicos do estado.
Longe de querer defender criminosos, creio que um dos pontos mais importantes da história da Bonnie e do Clyde é o contexto do qual eles vieram. Estamos nos Estados Unidos de 1934, a economia do país tinha ido para o espaço devido à crise econômica iniciada em 1929, estávamos em um período de extrema dificuldade, Clyde vinha de uma família paupérrima, e desde muito novo passou por diversos momento bem complicados, quando o filme começa ele já havia sido preso e passado por horrores da cadeia, já era uma pessoa perdida, Bonnie por outro lado, apesar de ter tido uma infância um pouco mais estruturada do que Clyde, também teve uma infância complicada, e por isso se tornaram criminosos, mas todo esse background é completamente ignorado, o roteiro trata Clyde como um homem que escolheu a profissão de ser criminosos, e algo quase que romântico, e a Bonnie é retratada como uma deslumbrada, que decidiu seguir o seu amado, todo o contexto social existente no país daquela época é simplesmente colocado de lado.
Warren Beatty e Faye Dunaway se tornaram famosos justamente por esses papéis e ambos estão muito bem, assim como Gene Hackman, mas tenho que admitir que Estelle Parsons fez uma Blanche Barrow tão irritante, mas tão irritante, que mal conseguia prestar atenção nas cenas dela, e mesmo conhecendo a história original, torci profundamente para alguém meter uma bala na testa da infeliz para eu não precisar mais ver tantos chiliques. Ainda temos uma rápida participação do Gene Wilder, ou seja, temos um elenco que no futuro se tornaria fantástico, mas naquele 1967 ainda era iniciante.
Arthur Penn entrega um filme muito bem construído do ponto de vista técnico, cenários, figurinos estão ótimos, assim como as atuações que são todas muito boas, entretanto a superficialidade do roteiro e a forma como os personagens foram transformados em arquétipos rasos do bandido clássico da era de ouro norte-americana irritam, isso faz com que a história perca força, fique desinteressante a medida vá andando, ao contrário do que era esperado. Fiquei decepcionado com relação ao roteiro, Bonnie and Clyde, tem grandes méritos artísticos, mas esperava mais de uma produção tão famosa e que aborda uma história tão icônica para a cultura americana.
Patton, Rebelde ou Herói?
3.9 133 Assista AgoraPATTON
Direção: Franklin J. Schaffner
Ano: 1970
Assistido em: 30/03/2024
A década de 1970 foi um período bastante conturbado para a imagem do soldado americano, os avanços tecnológicos permitiram que a Guerra do Vietnã fosse a primeira que o mundo pode acompanhar de perto. Não estávamos mais na década de 1940, na Segunda Guerra as notícias só chegavam por jornal, porém, nos anos 1960, o público podia ver da televisão de suas casas os horrores ocorridos do outro lado do mundo. Nesse cenário o povo norte-americano ficou contra seu tão idolatrado exército, levando o governo a fazer todo um trabalho de recuperação de imagem, e é nesse cenário que entra Patton, cinebiografia de uma das mais importantes, porém das mais controversas figuras da Segunda Guerra, personagem esse que ao mesmo tempo que era visto como um herói, conseguia ser terrivelmente problemático.
Em 1944 o general George S. Patton lidera forças aliadas contra o Afrika Korps no norte da África. Ao mesmo tempo que ele desperta o horror no coração de seus inimigos, ele também pega pesado com o seu subordinados, tornando-se uma figura temida dos dois lados. Entretanto, Patton tem um terrível inimigo que começa a prejudicar suas ambições: ele mesmo.
Todo mundo sabe que os americanos adoram lamber a si mesmos, eles têm veneração pelo seu exército, é o velho e cego patriotismo que é enraizado no país há séculos. E esse filme é resultado desse nacionalismo selvagem, Patton de fato tem uma relevância muito grande na história da Segunda Guerra, mas ao mesmo tempo ele era uma pessoa completamente deslocada do tempo espaço, Patton tinha uma visão extremamente romântica e irreal da guerra, a ponto de até fazerem chacota dele, entretanto aqui ele é retratado como um génio absoluto, alguém de habilidades sobre-humana, que só era atrapalhado pela própria boca grande, o lado chauvinista que não conseguia reconhecer detalhes pequenos estampados na frente das fuças dele ficou de fora.
Como filme, Franklin J. Shaffner traz uma obra tecnicamente impressionante, as sequência de batalha apesar de poucas são extremamente bem realizadas, e põe no chinelo muitas que são feitas hoje em dia, e olha que estamos falando de uma história do principio dos anos 1970. George C. Scott dá um show de atuação e justifica cada um dos elogios que recebeu, entretanto o roteiro é muito inchado, Patton é um personagem sem carisma, daqueles que provavelmente só vão agradar os velhos americanos republicano que tem fascinação pela guerra, fora isso, a história é arrastada e pouco interessante, retratando os Nazistas como um bando de idiotas e os americanos como os super inteligentes.
Patton claramente é um retrato do seu tempo, ele tinha um propósito bem claro que era enaltecer uma controversa figura histórica dos Estados Unidos, e faz isso muito bem, não estou dizendo que não existem críticas ao general, elas existem, mas são tão superficiais, tão rasas que nem arranham a superfície do conturbado militar. O tendencionismo por parte desse roteiro é tão grande que o filme acaba sendo unilateral, sendo previsível e cansativo, resumindo Patton é bom filme, mas uma cinebiografia profundamente desinteressante, esperava mais de algo vindo do Coppola.
Godzilla e Kong: O Novo Império
3.1 154 Assista AgoraGODZILLA X KONG: THE NEW EMPIRE
Direção: Adam Wingard
Ano: 2024
Assistido em: 28/04/2024
Nos últimos anos o Godzilla voltou com tudo aos holofotes da cultura pop, a nossa lagartixa favorita esteve bastante presente no mundo dos cinemas nos últimos 10 anos, e muito disso se deve ao Monsterverse. Nesse processo, o Gojira-sama arrastou o macaco Kong junto com ele, e aqui os dois estão mais uma vez “protagonizando” um novo blockbuster americano. Continuação de Godzilla vs. Kong (2021), percebemos claramente que o diretor Adam Wingard até pincelou algumas soluções para os problemas apresentados no seu filme anterior, entretanto certos erros continuam sendo bastante persistentes.
Alguns anos depois do último encontro entre a lagartixa e o macaco. Godzilla segue mandando na superfície, fazendo de todo planeta o seu quintal. Enquanto isso Kong está passando por uma crise de meia idade no centro oco da Terra, enquanto busca por algum “parente” vivo. Quando uma ameaça antiga e muito poderosa surge das profundezas da Terra, caberá aos dois Titãs se unirem para tentar salvar o nosso planeta.
Roteiro nunca foi o forte do Monsterverse, isso é um fato, e não estou reclamando disso não, até porque a última coisa que procuro nesse tipo de produção é um texto bem feito, a única coisa que quero é ver monstros gigantes descendo a porrada um no outro, mas mesmo para isso é necessário que exista uma coerência, disso não podemos abrir mão, e isso não é o que encontramos por aqui. Kong nunca foi rival para o Godzilla, e mesmo assim os roteiristas seguem querendo forçar que eles são rivais, é surreal o quanto os designer tentam colocar eles no mesmo tamanho, a escala do filme é toda bagunçada, ou melhor continua bagunçada desde o filme anterior e isso é nítido. Esses macacos nunca foram uma real ameaça para lagartixona, em momento algum senti que estava diante de um grande confronto, diferentemente por exemplo de Godzilla: King of the Monsters (2019), onde Ghidorah foi uma ameaça REAL, aqui parece que o Gojirão estava fazendo corpo mole .
Wingard conseguiu entender que humanos são descartáveis nesse tipo de história, ele até reduziu a participação deles nesse filme, entretanto não corrige um outro grave problema que vem desde seu filme anterior, o fato da participação do Godzilla ser ridiculamente pequena, eu até entendo que ele deva ser mais difícil de animar, entendo que a Toho deve impor inúmeras restrições quanto a sua aparição, entendo também que por se tratar de um filme americano é claro que o diretor e equipe vão puxar a sardinha pro macaco fedorento, entendo tudo isso, mas eu não estou aqui pelo primata cheio de pulgas, eu estou aqui pela lagartixa, queria ver o Godzilla, só que ele continua aparecendo pouco em detrimento de humanos insuportáveis e de macacos horrorosos, e aliás, de quem foi a ideia de trazer essa menina chata, a mãe chata dela e o podcaster chato de volta?! Para piorar ainda colocam Dan Steven como um veterinário chato, haja saco com esses humanos, por mim morriam todos.
É preciso paciência com The New Empire, apenas os 20 minutos finais que vão nos dar a tão almejada recompensa, monstros gigantes se batendo e humano se fudendo, achei um crime eles terem destruído As Pirâmides de Gizé, mas confesso que amei eles destruindo o Rio de janeiro, porque honestamente, creio que essa seja a única solução para essa cidade: quatro monstros gigantes pisoteando completamente esse lugar, e o reduzindo a pó, para aí começarmos de novo, hahahaha.
Em linhas gerais esse é o mais fraco de todos os filmes do Monsterverse, a história é muito boba e rasa, e não existem ameaças realmente impactantes que façam a lagartixa suar, ou que nos deixe ansiosos. Honestamente eu espero que eles separem o Gojira desse macaco velho, e ele possa protagonizar DE VERDADE seus próprios filmes.
PS: O Godzilla Super Saiyajin Rosé ficou lindão! Não entendo pra que todo esse bafafá.
Bring Him to Me
3.0 1BRING HIM TO ME
Direção: Luke Sparke
Ano: 2023
Assistido em: 24/03/2024
Tenho uma atração natural por esse filmes completamente desconhecidos, que ficam de fora do circuito comercial, cuja a grande maioria me dá uma dor de cabeça desgraçada para conseguir assistir, mas ainda assim, nunca dispenso uma história que considero interessante. Esse aqui em especial chamou minha atenção devido a sinopse, e mesmo que com desconfiança, lá fui eu assistir já esperando por uma bomba, mas até que me surpreendi.
Um motorista de fuga acaba recebendo a missão de levar um jovem criminoso até os líderes da facção, sem que o rapaz saiba que na verdade está indo para sua execução. O que parecia ser uma simples missão vai se complicando quando eles passam a ser perseguidos no caminho, o que leva o motorista e seu jovem carona a se afeiçoar um ao outro.
Nunca tive problema nenhum com clichês, desde que bem feitos, eles podem sim ser uma grata surpresa, e apesar do roteiro não trazer absolutamente nenhuma novidade, o diretor até consegue conduzir bem a sua história. O que a princípio poderia ser apenas mais um filme de ação qualquer, surpreende quando faz a história progredir e desenvolve seus personagens apenas com os diálogos. Por ser de baixo orçamento, nós não temos cenários complexos, ou grandes externas, é tudo feito a toque de caixa, mas mesmo assim todas os momentos de diálogo entre o motorista e o jovem ladrão servem para nos entregar detalhes sobre os dois, enriquecendo assim o texto e por consequência fazendo com que o filme fuja do padrão de 90% das produções do gênero que se resumem apenas a porradaria sem que exista substância na história.
Com exceção do Sam Neill, que é um ator consagrado, e do Liam McIntyre que eu já conhecia, o elenco é composto por desconhecidos que se destacam bastante em seus papéis, principalmente a dupla de protagonistas que está muito bem no que é posposto.
Bring Him To Me, é ilimitado pelo seu orçamento, mas consegue encontrar na criatividade de seu roteirista/diretor espaço para ir além do lugar comum. Não é aquele filme inovador que vai se tornar cult ou vai influenciar o gênero, nada disso, é uma produção simples, mas o destaque maior fica por conta de uma preocupação em construir uma base para os personagens, o afeto entre os protagonistas soa exagerado devido ao espaço de tempo do qual a história se encaixa, mas é inegável que há um esforço por parte dos realizadores para tornar aquele relacionamento algo crível, algo que não é facilmente encontrado nesse tipo de produção, e nesse quesito o filme já vale mais que quase tudo que é produzido no gênero.
Matador de Aluguel
3.1 269 Assista AgoraROAD HOUSE
Direção: Doug Liman
Ano: 2024
Assistido em: 24/03/2024
Eu não sou o maior adepto de remakes/reboots, ainda mais de filmes clássicos, mas não tenho nenhum problema em conhecer filmes novos, e como eu nunca assisti ao Road House original de 1989 protagonizado pelo Patrick Swayze, não tive a antipatia natural que muitos tiveram quando anunciaram essa nova versão., e como ela seria protagonizada por um de meus atores favoritos e dirigido por um profissional bastante competente, eu estava ansioso por poder conferir essa reimaginação.
Dalton é um ex-lutador da UFC que é contratado para atuar como segurança de uma taverna numa pequena cidadezinha na Flórida. Entretanto, o que ele não sabia é que o local é praticamente comandado por uma família criminosa que quer destruir o lugar, o que coloca Dalton na mira de pessoas extremamente perigosas e o levará a tomar atitudes que não são bem o que ele queria fazer.
Existem dois tipos de filmes, aqueles que são feitos para você assistir, se divertir e esquecer dois minutos depois, e aqueles que são moldados para te levar a um questionamento, refletir sobre um assunto e etc., e Road House se encaixa com perfeição na primeira opção. Ele é leve, cômico, empolgante, apela para pancadaria, temos um mocinho briguento que adora espancar vilões, resumindo, o roteiro não evoca sentimentos e nem nos força a raciocinar, é uma diversão momentânea, e nesse ponto a produção acerta em cheio. É claro que as sequências de pancadaria poderiam ser melhor trabalhadas, com uma coreografia mais elaborada, mas ainda assim é divertido vermos Jake Gyllenhaal descer o sarrafo em diversos personagens aleatórios, com boas tiradas no processo.
Jake é um ator incrível que merecia mais reconhecimento do que tem, e aqui ele está ótimo, extremamente carismático, mais gostoso do que nunca, então é um ganha-ganha. Entre os coadjuvantes temos Billy Magnussen novamente no papel de playboyzinho mimado, e o Connor McGregor, que só conhecia de nome, num papel extremamente caricato, mas como o objetivo era justamente esse, tudo funcionou como deveria, e como se não bastasse esses três, ainda temos uma série de outros homens gostosos no elenco.
Doug Liman é um bom diretor de filmes de ação, mas aqui, creio que devido aos bastidores para lá de conturbados, ele não pôde exercer toda a sua capacidade, principalmente quando ele saiu brigando com a MGM/Amazon, o produtor Joel Silver, enfim, em meio a tantos problemas, o que é oferecido dá para o gasto. A trilha sonora é bacana, as paisagem são muito bonitas, apesar de um certo exagero no CGI, e dentro do que é oferecido para o gênero, creio que essa nova versão está até mesmo acima da média.
Em linhas gerais Road House tem tudo para agradar aquele pessoal que encara cinema como uma coisa descompromissada, aquele filme para desligar o cérebro depois de um dia cansativo de trabalho, e sendo bastante honesto se ele tivesse ido para o cinema provavelmente eu não teria assistido, e apesar de toda polêmica, talvez o streaming seja sim a melhor opção para dar o alcance que o longa precisava, e após anos e anos assistindo remakes e reboots que são verdadeiros desastres, encontrar um que segundo a crítica é superior ao original, é algo bastante surpreendente.
A Vida é Bela
4.5 2,7K Assista AgoraLA VITA È BELLA
Direção: Roberto Benigni
Ano: 1997
Assistido em: 23/03/2023
Assisti esse filme pela primeira vez há muitos anos quando ainda era criança, em algum canal da TV a cabo que eu não faço mais a menor ideia de qual seja. Na época eu não tinha nem noção do que havia sido a Segunda Guerra Mundial, nem o Holocausto e o único conhecimento sobre cinema que possuía era sobre filmes de anime, mas com os anos, a medida que passei a estudar sobre a história da sétima arte, passei a conhecer a fama e o legado dessa produção que nem recordava direito da história, apenas de algumas cenas, e agora passados muitos anos, decidi que era a hora de rever essa tão famosa (e polêmica) obra do Roberto Benigni.
Na Itália de 1939 somos apresentados a Guido, um garçom com aspirações de abrir a sua própria livraria. Guido acaba conhecendo e se apaixonando por Dora uma garota de classe alta que fica encantada pela forma como Guido encara a vida sempre com leveza e buscando enxergar o lado positivo de tudo. Passados alguns anos, em 1944, eles formaram uma família feliz que vive alegremente, entretanto suas vidas mudaram drasticamente quando a Itália junto com a Alemanha começaram a mandar judeus para os campos de concentração.
Sou uma pessoa 100% diferente do Guido, não que eu seja pessimista, mas sempre fui extremamente realista e com os dois pés bem fincados no chão, portanto eu até me incomodo bastante com pessoas que são tão positivas, mas reassistindo com outros olhos, com os olhos de um adulto, entendo a atitude louvável de um pai que faz de tudo por seu filho, o amor de Guido por Dora e por Giosuè é tão forte, que ele faz de tudo para que as esperanças de ambos se mantenham, e acima de tudo, não permitir que o menino percebesse todos os horrores que estavam ao seu lado, a fábula que ele montou manteve viva a fé do Giosuè, mesmo que para isso o preço tenha sido altíssimo.
Como tudo aqui é ancorado na fantasia, em momento algum o roteiro apela para o realismo, mesmo o cenário sendo um campo de concentração, lugar onde milhares de pessoas morriam por dia, em momento algum vemos violência em tela, vemos as câmaras de gás, os campos de trabalho forçado, mas não vemos a execução de nenhum judeu, não vemos torturas, enfim é tudo muito higienizado, entendo essa escolha do Benigni de não mostrar a brutalidade do ambiente já que isso destruiria a proposta do longa que justamente é ser onirico.
Gosto muito desse filme, sou um profundo defensor dele, inclusive se eu fosse votante da academia em 1999, voltaria nele para melhor filme, mas tem um prêmio que A Vida é Bela recebeu e que não consigo concordar em hipótese nenhuma, que é o de melhor ator para o Roberto Benigni, ele fez um belo trabalho no roteiro e na direção, mas a sua interpretação de Guido beira o histrionismo, do ponto que na primeira fase desperta até uma certa irritação em quem assiste, aquele prêmio deveria ter sido do Edward Norton por American History X (1998).
Em linhas gerais La Vita è Bella é bem diferente do que agente espera sobre um filme do Holocausto, ele nos mostra como era difícil sobreviver um campo de concentração, nos mostra a banalidade do mal com pessoas que simplesmente assistem de camarote aqueles horrores e não se importam com nada, mas sem abandonar o lado mistico, sem abandonar a fábula, afinal de contas o que temos aqui é um pai contando uma história para seu filho, e todo pai quando conta alguma historinha antes de dormir sempre dá aquela melhorada. O resultado está mais para uma produção sobre o amor paternal do que sobre o Holocausto, e não estou reclamando, mas é inegável que a versão aqui apresentada é a versão “kids”.
Kung Fu Panda 4
3.1 59 Assista AgoraKUNG FU PANDA 4
Direção: Mike Mitchell
Ano: 2024
Assistido em: 22/03/2024
Kung Fu Panda é uma das franquias de melhor uniformidade dentro da DreamWorks, os filmes protagonizados por Po sempre conseguiram unir comédia, drama e sequências de ação em uma dinâmica maravilhosa que funcionava tanto para crianças quanto para adultos, e mesmo o terceiro lançado em 2016 sendo levemente inferior aos dois primeiros, ainda é um consenso de que a trilogia tinha qualidades memoráveis tornando-a de longe uma das melhores quando falamos em animações, entretanto sempre foi um plano fazer seis filmes dessa saga e agora em 2024 chegou a hora de vermos o primeiro dessa nova leva, que promete trazer uma nova abordagem, e que já desagradou muita gente.
Po continua a sua vida de Dragão Guerreiro do jeito que ele gosta, entretanto ele é surpreendido quando Shifu insiste que ele precisa escolher o seu substituto para continuar seu processo de evolução a um mestre espiritual. Quando uma vilã chamada A Camaleão surge no horizonte, caberá a Po, com a ajuda da pequena raposa Zhen impedir os planos dessa criatura maligna de dominar o Vale da Paz e mais além.
Kung Fu Panda 4 claramente será bem divisivo entre os fãs, o roteiro toma decisões que são bastante questionáveis, como por exemplo essa história do Po ter que escolher um substituto, muitos não se agradaram com essa ideia, particularmente isso não me incomoda, entretanto tenho que admitir que a escolha desse substituto não foi das melhores.
O grande problema desse filme é que ele não consegue estruturar direito os novos personagens, Po continua incrível e engraçado assim como o seu pai o senhor Ping, e eles são o que funciona de melhor, toda vez que o nosso pandinha está em cena fazendo suas palhaçadas a história cativa e anda, entretanto a raposinha Zhen é um estereótipo tão sem criatividade que chega ser cansativa, dava para saber que ela era aliada da Camaleão na sua primeira aparição de tão terrivelmente previsível que o roteiro é. Outro problema é a vilã, essa franquia tem vilões clássicos como Tai Lung e o Lord Shen e decidiram trazê-los de volta, e pra que?! Para essa vilã sem graça humilhá-los, isso não se faz, diminuir os vilões do passado para tentar forçar a nova ameaça como maior NUNCA é uma boa opção.
As duas personagens que tinham tudo para serem importantes dentro dessa nova dinâmica simplesmente não funcionam, a parar piorar ainda deixaram os Cinco Furiosos de fora da ação, quem escreveu esse roteiro definitivamente não conhece essa franquia. E de quem foi a ideia de contratar essa tal de Awkwafina?! Ela sempre faz o mesmo personagem, mesmo aqui onde está apenas dublando, ainda conseguimos perceber claramente que é ela quem está por trás, é sempre a mesma coisa chata e sem graça.
Esse claramente é o título mais fraco da franquia, não é ruim, e nem um desastre, mas quando comparado aos seus antecessores, ele definitivamente é inferior, os personagens novos não funcionam, a história é fraca com poucas curvas dramáticas e extremamente previsível, até mesmo a trilha sonora do Hans ZImmer que é sempre impecável, aqui estava bem apagadinha com exceção da ótima versão de Crazy Train, os pontos positivos ficam por conta da comédia, e pela evolução do Po.
Em linhas gerais Kung Fu Panda 4 é uma entrada fraca para a franquia a qual pertence, ela abre um caminho para novos filmes, mas honestamente, fico preocupado, as decisões aqui tomadas de escantear personagens clássicos em troca de personagens novos que são muito fraquinhos me incomodou demais, faltou o brilho, faltou um roteiro bem polido, faltou uma história bem resolvida, só espero que a DreamWorks retorne aos trilhos pois o nosso amado panda merece.
Última Parada 174
3.5 601ÚLTIMA PARADA 174
Direção: Bruno Barreto
Ano: 2008
Assistido em: 17/03/2024
Existem eventos que são tão marcantes que você consegue lembrar com exatidão onde estava quando soube do fato em questão. Naquela segunda-feira do dia 12 de junho de 2000, eu tinha faltado a escola por alguma razão que não me recordo bem, e tinha ido ao centro da minha cidade com os meus pais, quando chegamos em casa por volta das quatro da tarde ao ligarmos a televisão nos deparamos com a Rede Globo, a Rede Record entre outros canais, exibindo o Sequestro do Ônibus 174 AO VIVO. Esse crime é único quando o comparamos a qualquer outro ocorrido no Brasil, e isso pelo fato de ele ter sido transmitido em rede nacional, e quem assistiu aos desdobramentos desse triste episódio jamais conseguiu esquecê-lo.
Sandro Barbosa do Nascimento passou por diversos traumas inimagináveis ao longo de sua infância. Quando chega na vida adulta, Sandro é viciado em drogas, e um criminoso que realiza pequenos assaltos para manter seu vício. O que a princípio seria apenas mais um assalto, acaba escalonando para algo completamente fora de controle, que entra para os anais da história do Brasil como um dos crimes mais lembrados de nosso país, o Sequestro do Ônibus 174.
Quando tomei conhecimento desse filme, fiquei animado para assistir, já que esse caso me marcou demais, eu assisti tudo ao vivo em 2000, e ao longo dos anos tinha lido uma reportagem aqui e ali sobre o assunto, e quando fiquei sabendo da ficção dirigida por Bruno Barreto, fique super interessado em ver a dramatização dessa história, mas caramba que decepção, e nem digo isso pelas qualidades cinematográficas, mas totalmente pela forma como a história foi conduzida. O roteiro simplesmente tira coisas do vento, investe em histórias completamente desnecessárias tiradas da bunda do roteirista. Sei muito bem que o cinema nunca retrata uma história exatamente como ocorreu, é preciso adaptar a realidade a estética cinematográfica, mas no caso do Sandro não era necessário inventar nada, ele teve uma vida tão desgraçada, com tantos plot twists que simplesmente deixam qualquer roteirista de Hollywood com vergonha, então eu não entendo porque inventar, focar e insistir em coisas que não existem.
Sandro viu sua mãe ser morta, mais tarde quase foi uma das vítima da Chacina da Candelária, outro evento sinistro da história do Rio de Janeiro, depois ele foi preso, morou nas ruas, enfim não precisava inventar nada, a história já estava pronta, mas daí me inventam um personagem chamado Alê como um paralelo ao Sandro, como se o roteirista quisesse mostrar a vida de dois personagens ao mesmo tempo. A personagem Marisa que na vida real chamava-se Elsa, de fato tinha um filho que ela perdeu ainda criança chamado Alessandro, e o Sandro de fato usava o nome falso de Alessandro, então sim ela acreditava que ele era filho dela, e só foi descobrir a verdade após o ocorrido no Ônibus 174, mas a forma como a história conta essa passagem é absurda, Marisa é praticamente uma fanática religiosa que coloca na cabeça que um bandido é seu filho e pronto e acabou. O personagem Ale de Marcelo Melo Júnior não existe na história real, e o mais irritante é que o tempo de tela que ele toma é insano, grandes pontos da vida do Sandro como a Chacina da Candelária são mostrados en passant, até mesmo o grande evento do filme, o Sequestro do Ônibus é retratado de uma maneira super acelerada, o diretor preferiu investir nessa ideia chata de “dois Ale” ao invés de mostrar o que de fato tinha importância.
Última Para 174 é bem conduzido por Bruno Barreto, as interpretações estão boas, assim como a fotografia, só que esse roteiro do Bráulio Mantovani é imperdoável! As invenções que ele faz roubam o foco do que é relevante, a quantidade excessiva de palavrão que deixa algumas cenas constrangedoras, enfim um roteiro muito ruim para uma história tão impactante.
Quem era vivo no ano 2000 e já tinha consciência, como toda certeza sabe o quão chocante foi esse crime e o quanto que ele marcou o Brasil, talvez foi um dos primeiros casos reais que me impactaram de verdade, sendo o único anterior a esse que eu consigo é o do Maníaco do Parque, e honestamente eu esperava que um evento tão marcante (mesmo que negativamente) fosse retratado com mais capricho, principalmente na parte do roteiro que deixa de lado momentos importantes da história para focar em invenções da cabeça de um roteirista que achava que poderia “melhorar” esse evento tão sombrio.
Ex Machina: Instinto Artificial
3.9 2,0K Assista AgoraEX MACHINA
Direção: Alex Garland
Ano: 2014
Assistido em: 17/03/2024
Existem filmes que estão muito à frente de seu tempo, que trazem abordagens de algo que apenas no futuro as pessoas vão entender completamente. Quando Ex Machina foi lançado uma década atrás, creio que ele ficou reduzido a uma “ficção científica hipotética”, foi contemplado apenas por um nicho pequeno de pessoas que gostam do gênero, mas agora em 2024, o texto do Alex Garland tem muito mais impacto que tinha em 2014, e creio que caso fosse lançado atualmente, provavelmente faria muito mais sucesso e até mesmo sentido.
Quando Caleb ganha um concurso para participar de um projeto do grande bilionário Nathan, ele acaba indo parar em um laboratório em um local isolado. Lá Nathan apresenta Ava, uma inteligência artificial extremamente avançada e com uma aparência quase humana. Enquanto Nathan e o Caleb realizam testes com Ava, eles vão percebendo que nem tudo está sob controle como imaginavam.
Eu consigo plenamente assistir um filme de ritmo lento e que a história demore para acontecer desde que me importe com os personagens e tenha alguma empatia por eles, mas aqui definitivamente não foi o caso. Por mais importante que seja a mensagem que Garland estava passando, não consegui de maneira alguma comprar a proposta de sua história e muito menos me simpatizar com seu estúpido protagonista. Caleb é tão idiota que não percebe que todo mundo está manipulando-o, a história é tão previsível que você consegue adivinhar o final na metade do filme, e não tem nenhuma surpresa, o roteiro caminha exatamente para onde o espectador previu, e é desmotivante assistir uma trama com personagens tão fracos e que ainda por cima fazem exatamente o que é esperado que eles façam, sem gerar nenhuma surpresa.
Como já disse, os personagens são muito insossos mesmo o elenco sendo ótimo com nomes talentosos como Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, e Oscar Isaac. Alex Garland entrega uma boa direção, e os efeitos especiais são ótimos, mas a história é fraquinha, ela discute os perigos da inteligência artificial, “prova” seus perigos e etc, mas honestamente eu não consigo acreditar em uma realidade onde uma pessoa instruida, possa ser tão facilmente ludibriada ao ponto de se apaixonar por uma máquina, ainda mais em uma sociedade que todos os dias se discute sobre I.A. acabando com empregos, destruindo profissões mundo afora, a própria Hollywood ano passado passou por uma greve absurda onde um dos pontos principais pontos de reivindicação era o fato de profissionais estarem sendo ameaçados por inteligências artificiais.
Ex Machina entrega uma história interessante porém contada de uma maneira insossa, que até tem seus pontos positivos, e pode levantar uma boa discussão para os dias atuais, mas filmes tem que ir além da simples discussão. É tudo muito parado, muito lento, nada acontece, e quando acontece, é algo que você já esperava, a sensação que fica é de uma enorme decepção e que essa história poderia ser melhor do que realmente foi.
Miranda's Victim
2.9 3MIRANDA’S VICTIM
Direção: Michelle Danner
Ano: 2023
Assistido em: 16/03/2024
Quando tomei conhecimento desse filme, o que mais me chamou atenção a primeiro momento foi o elenco, que reúne nomes grandiosos em uma produção de pequeno porte, só depois que fui tomar conhecimento de sua história verídica e de todo background que ela trazia, e foi aí que meu interesse duplicou, já que sou cadelinha de filmes que retratam momentos históricos importantes, e o género de tribunal é de longe um dos meus favoritos. E desde então, tem mais de meio ano que estou esperando Miranda’s Victim aparecer por aqui, e essa semana finalmente tive oportunidade de conferir, e apesar de algumas curvas para baixo, fiquei satisfeito com o que vi.
Em 1963 a jovem Trish é sequestrada e estuprada. Indo contra os protocolos da época, ela decide procurar a justiça e denuncia a agressão. Uma investigação começa e acaba levando o jovem Ernesto Miranda para a prisão, mas o que para Trish parecia ser o fim de um pesadelo, na realidade só representou o começo de outro, já que após a condenação inicial, o caso de Miranda é levado suprema corte norte-americana pelo fato dos direitos do condenado terem sido completamente desrespeitados, o que Trish não poderia imaginar é que toda essa história mudaria as leis americanas para sempre.
O que temos aqui é uma situação muito complicada, é difícil julgar algo que ocorreu há 60 anos com os olhos do presente, estamos falando da década de 1960, a pobre da Trish praticamente não teve apoio de ninguém com exceção de sua irmã, nós vimos sua mãe e seu marido julgá-la, responsabilizá-la, eles não deram nenhum apoio que ela precisava, nem a própria polícia parecia se importar muito com sua situação, e infelizmente isso segue acontecendo mais de meio século após os eventos desse filme. Mas por outro lado a situação abordada aqui é muito séria, os direitos primários do Ernesto Miranda foram sim desrespeitados, a prisão não seguiu os protocolos corretos, e não estou defendendo estuprador, é óbvio que ele tinha que ser preso, mas vamos considerar a possibilidade desse cara ser um inocente, da vítima ter se confundido, da polícia ter prendido o homem errado, já aconteceu, enfim digamos que ele não fosse o responsável, a partir do momento que a polícia desrespeita os direitos civis, ela pode simplesmente colocar qualquer um na cadeia, responsabilizar quem eles bem entenderem por um crime que a pessoa não tem nada a ver.
Hoje em dia nós vemos em muito em filme séries policiais, que o preso tem direito de permanecer calado, que ele tem direito a um advogado, mas minha gente temos que entender que essas garantias são conquistas relativamente recentes, temos que entender que até algumas décadas atrás a polícia não tinha muitos protocolos que visassem garantir algum direito ao condenado, se você fosse um suspeito eles poderiam te deitar o sarrafo e você ia parar atrás do xilindró, então é triste saber que toda essa situação terrível que ocorreu com a Trish, serviu para um avanço da sociedade como um todo, já que o Aviso de Miranda além de modificar completamente os direitos civis dos americanos, serviu de inspiração para diversos outros países do mundo, então infelizmente foi preciso ocorrer uma desgraça, para algo positivo ser aprovado.
Deixando de lado as implicações históricas, o filme tem um elenco incrível repleto de gente famosa e que nos proporcionaram grandes atuações, Abigail Breslin estava ótima, meu casal do coração Emily VanCamp e Josh Bowman também estão bem, e até meu querido Ryan Phillipe me fez passar raiva com seu papel, completam o time Luke Wilson, Andy Garcia, Donald Sutherland entre outros. Figurinos e cenários ajudam na recriação histórica, a direção é boa, mas o roteiro que é inconstante, apresentando ótimas cenas e perdendo o fôlego logo em seguida, mas fora isso é um filme de tribunal bem conduzido, inclusive me recordou bastante The Accused (1988) que assisti a pouquíssimo tempo e tem uma história parecida sobre uma mulher que abusada sexualmente, e que abre precedentes nos tribunais. Em linhas gerais Miranda’s Victim é uma boa pedida para quem curte tramas baseadas em casos de grande repercussão, e que influenciaram a nossa sociedade permanentemente.
Man Suang
3.1 7MAN SUANG
Diretor: Chatchai Katenut, Pond Krisda Witthayakhajorndet & Bhanbhassa Dhubthien
Ano: 2023
Assistido em: 16/03/2024
Nós brasileiros temos uma dependência imensa das produções norte-americanas, somos um povo que por “N” razões e circunstâncias não tem muito apreço pela própria indústria cinematográfica. Isso faz com que o cinema norte-americano, e o europeu em uma escala mais reduzida, domine as telas do nosso país, portanto é difícil sairmos desse eixo tão ocidental. No ano passado eu me propus a começar a assistir produções do mais variado número de países possíveis, e com isso, acabei conhecendo a série KinnPorsche (2022), e foi ela que me trouxe de imediato para este filme.
Na Tailândia do século XIX, quando o lugar ainda era conhecido pelo nome histórico de Sião, dois jovens recebem a missão de se infiltrar no clube Man Suang, um grupo de elite onde figurões importantes da época fazem suas manipulações políticas, entretanto a vida dos dois mudará para sempre dentro daquele lugar.
Não vou mentir, cheguei aqui por conta do Apo e do Mile que formaram um casal apaixonantemente explosivo na série KinnPorsche, os dois demonstraram uma química absurda que nos fazia suspirar, e mesmo sabendo que a proposta de Man Suang seria completamente diferente, esperava ver meu casal com uma dinâmica interessante, com personagens bem aprofundados e trabalhados, e com uma grande divisão de tempo de tela em conjunto, e infelizmente nada disso aconteceu, a história é muito fraquinha, muito confusa e desperdiça a potência que tinha em mãos.
Mas preciso honrar o que é verdade, o design de produção, os cenários, os figurinos, as maquiagens enfim é tudo absurdamente belo, bem feito, e humilha muitos blockbusters americanos que têm orçamentos dezenas de vezes maiores e que não conseguem entregar algo tão caprichado, a fotografia também é muito bonita, mas infelizmente não existe uma história que ecoe com o valor de produção, é tudo muito confuso, tudo muito tocado, e sem alma, não despertar o nosso interesse, é uma história fria.
Talvez Man Suang funcione melhor para os tailandeses que entendem a sua cultura, conhecem o histórico de seu país, mas honestamente do lado de cá do globo não funcionou. É interessante conhecer um pouco mais de uma cultura e do passado de um país tão distante, é isso é inegável, mas eu sou daqueles que precisam de uma boa história, de uma boa trama, com diálogos interessantes e infelizmente nesse quesito o roteiro é muito mal servido, o que acabou me desagradando bastante. Só espero que Shine, a próxima série que será protagonizada pelo Mile e pelo Apo seja tão intensa quanto KinnPorshe e menos insossa como Man Suang.
Remando para o Ouro
3.5 16THE BOYS IN THE BOAT
Direção: George Clooney
Ano: 2023
Assistido em: 09/03/2024
Eita que essa Olimpíada de 1936 tem história né minha gente?! O evento realizado na Alemanha Nazista tinha como principal objetivo exibir a superioridade germânica, bom pelo menos essa era a ideia de Hitler, mostrar como o seu país ergueu-se das cinzas após o desastre causado pela derrota na Primeira Guerra, Tratado de Versalhes e mais tarde pela Crise de 1929, mas como todos nós sabemos, os planos do ditador saiu pela culatra e ele foi obrigado a engolir algumas muitas derrotas, e algumas delas (Leiam as Americanas) comumentemente ganham as telas do cinema, como esse, que nos convida a conhecer a equipe de remo vencedora do ouro daquela edição dos jogos.
Na década de 1930, um grupo de jovens que se dedicam ao remo. Com ajuda de um treinador dedicado, eles se preparam para as Olimpíadas. O esporte é a esperança de muitos deles que têm vidas completamente sem perspectiva, principalmente devido aos graves efeitos da depressão de 1929, e a crise financeira que os Estados Unidos passavam à época.
Quando anunciaram esse novo projeto do George Clooney, eu tinha muita expectativa, apesar de não saber absolutamente nada de remo e achar um dos esportes mais sem gracas já inventado, gosto de filmes que abordam grandes episódios esportivos, ainda mais um daqueles da já citada famosa Olimpíadas de 1936, mas não vou mentir não, eu esperava algo um pouco mais animado, mais dinâmico, mais vivo, em outras palavras: o filme é muito burocrático e não traz absolutamente nada que já não tenha sido visto em qualquer outra produção esportiva, em outras palavras, ele é genérico e sem graça.
O ponto alto é o elenco, sou apaixonado pelo Callum Turner e automaticamente fico interessado em assistir qualquer coisa que ele faça, e ainda temos o Joel Edgerton, James Wolk, e outros vários rapazes bem bonitinhos que faz a alegria de quem gosta, mas infelizmente nenhum deles tem um personagem interessante, que desperte emoções, é tudo muito insosso e engessado, sem nenhuma emoção. Uma tristeza já que filmes esportivos tendem a mexer com os nossos ânimos, nos deixar tensos, mas aqui esse não foi o caso.
Não desmerecendo de forma alguma a vitória dessa equipe, mas quando falamos que abordam a Olimpiada em questão, creio que Race (2016) é muito mais interessante, já que sendo o Jesse Owens um homem negro, ganhar uma medalha de ouro diante do próprio Hitler, foi um feito mais interessante do que um bando de americanos tão loiros e branquelos quanto os alemães fazendo o mesmo. Apesar de bem executado, The Boys in the Boat prometia ser uma grande aposta para a temporada de prêmios deste ano, mas que foi deixado de escanteio pelo próprio estúdio, e depois de assistir seu conteúdo, essa esnobada se justifica, infelizmente não foi dessa vez que o George Clooney conseguiu encantar com mais uma de suas aventuras como diretor.
Carandiru
3.7 750 Assista AgoraCARANDIRU
Direção: Héctor Babenco
Ano: 2003
Assistido em: 09/03/2024
Desde que tomei conhecimento da história do Carandiru, meio que fiquei fascinado, é incrível como um presídio que foi criado como modelo, e serviu de inspiração para outros semelhantes em vários países do mundo, se tornou um verdadeiro inferno. A história da Casa de Deteção, apelidado de Carandiru, é praticamente um paralelo com a história da nossa sociedade, que com o avançar dos anos foi tornando-se cada vez mais violenta, mais sombria e mais perigosa. O presídio tem um episódio extremamente pesado que entrou para a história como um dos eventos mais sinistros da história do nosso país, o Massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992.
Dentro dos muros do Carandiru somos apresentados a uma variedade de pessoas, daqueles que estão lá dentro por um erro banal, uma escolha mal feita, até aqueles que têm a criminalidade como “meio de vida”, como "uma carreira". É muito interessante ver a hierarquia que existia no local, paralela às regras do presídio, sendo elas mais úteis e respeitadas do que as regras do estado, provando o completo declínio social que existe no nosso país.
Héctor Babenco vai nos contando detalhes sobre algumas figuras que estão dentro daquele ambiente, ao ponto que vai nos mostrando suas vidas lá fora, mostrando que eles não são apenas presidiários, que todos têm uma família, uma vida, que estão atrás dos portões do presídio, mas ao mesmo tempo que isso é muito positivo, pois dá sustância aqueles personagens, acaba tirando muito da história principal, do personagem principal dessa história que é o presídio em si. Seria muito mais interessante focar apenas no convívio ali dentro, nas situações e histórias do próprio do lugar. O roteiro é baseado em um livro do Dr. Drauzio Varella, e o mesmo já cansou de falar em inúmeras entrevistas que as histórias que ele escutava ali dentro, ele não ouvia em lugar nenhum, então desviar tanto tempo de tela para os flashbacks daqueles presos acabou esvaziando um pouco do foco do filme, que era o cotidiano do lugar, sendo esse o único ponto que tenho a queixar.
Até hoje não sabemos ao certo como o Massacre começou, só sabemos que um desentendimento entre dois presos, Barba e Coelho, levou a uma chacina nunca vista no mundo. Eu não sou defensor de que “bandido bom é bandido morto”, acredito que a pena de morte seja adequada a algumas situações, mas isso apenas após um processo judicial, a uma investigação adequada e julgamento justo, e infelizmente isso nem sempre ocorre no Brasil. O que ocorreu naquele dia 02/10/92 foi uma barbaridade sem tamanho, muitas pessoas esquecem que da mesma forma que morreram assassinos, estupradores e sequestradores, também morreram pessoas que estavam ali sem terem sido julgadas, muitas provavelmente inocentes, porque o Carandiru era esse grande zoológico humano onde iam parar todos os tipos de criminosos, logo é muito errado falar que o que foi feito ali foi correto, pode até parecer ingenuidade, mas existe uma possibilidade real de haver vítimas inocentes no meio daquela carnificina toda, e mesmo que fossem todos culpados, nada justifica você transformar chão em um mar de sangue, isso seria apenas se rebaixar a um nível muito abaixo do daqueles que estavam lá dentro do presídio.
Babenco nos entrega um longa assustador, e nem digo pelo que é mostrado em cena, que apesar das sequências violentas foi até comportado, e em termos de cinema existem outras produções que são muito mais explícitas, mas ele assusta por saber como era aquele lugar na realidade, e que iguais a ele existem muitos Brasil afora e em outros lugares do mundo. É aterrador como o sistema carcerário de forma alguma serve de ressocialização, muito pelo contrário, se as ruas são a escola do crime, o que tínhamos ali era a faculdade. A possibilidade desses caras saírem de lá muito piores do que entraram era gigante. Reflexões a parte, como cinema Carandiru tem grandes atuações, um roteiro bem escrito, e uma direção muito boa, é um filme que deveria ter muito mais reconhecimento, até atrevo-me a dizer que se ele fosse uma produção americana, com atores americanos, seria considerado um clássico, mas infelizmente o cinema brasileiro é desvalorizado (e em muitas situações com razão), mas o que temos aqui é bom exemplo do que o Brasil pode entregar, simplesmente utilizando das suas próprias histórias, sem precisar que o roteirista invente nada, já que nesse caso o filme já estava pronto, só foi preciso levar para tela do cinema.
PS¹: Nada mais do que adequado que a cena final seja o emblemático momento do Carandiru sendo implodido, lembro como se fosse ontem do momento que foi exibido na TV, foi o fim de uma era.
PS²: Aquarela do Brasil no final é um tapa na cara de cada um dos brasileiros.
Pobres Criaturas
4.1 1,1K Assista AgoraPOOR THINGS
Direção: Yorgos Lanthimos
Ano: 2023
Assistido em: 03/03/2024
Finalmente consegui concluir a lista dos indicados ao Oscar de melhor filme do ano de 2023, só faltava Poor Things, que é de longe um dos mais elogiados, e por tabela, era um dos que tinha mais curiosidade, principalmente quando por todos os lados ouvia dizendo que se tratava de uma versão modernizada do Frankenstein, mas creio que a história de Bella Baxter vá muito além de um “monstro” que é trazido de volta a vida por um cientista, ele fala muito sobre autoconhecimento, sobre descoberta e sobre liberdade.
Numa Londres vitoriana, somos apresentados a Bella, uma mulher com o cérebro de criança que foi ressuscitada por um cientista. Bella aos poucos vai descobrindo o mundo ao seu redor, e ela quer sempre mais e mais. Quando a jovem sai do alcance do cientista, ela vai descobrindo como o mundo é verdadeiramente, à medida que desperta sua própria sexualidade.
Conheci o trabalho do Yorgos Lanthimos no excelente The Favorite (2018), em que a Emma Stone estava entre as protagonistas, então já estava com expectativas muito altas com relação a esse filme, e elas foram supridas em muitos pontos, figurino, cenários, fotografia, direção e atuações são impecáveis e não tem nada a se discutir, principalmente do brilhante trabalho de Emma Stone que está perfeita, não sei se ela vai ganhar o Oscar por esse papel, mas sem sombra de dúvidas merece muito mais do que quando ganhou por La La Land (2016), toda a composição de sua Bella é muito complexa levando em consideração gestual, voz, olhar, resumindo é um trabalho sublime de criação. Outro que também merece muitos elogios, mas infelizmente aparece pouquíssimo é o sempre excelente Willem Dafoe.
Meu problema com esse filme infelizmente fica por conta do roteiro, às 2h20min soaram longas demais para história que estava sendo comentada, principalmente na segunda metade onde tudo fica muito cansativo. No primeiro momento, quando temos Bella descobrindo o mundo, descobrindo seu lado feminino, descobrindo o que é um sexo, o que é prazer, o filme anda perfeitamente, mas a partir do momento que o filme estagna no sexo, tudo fica muito mais chato. O roteiro deixa de fazer com que Bella continue sua jornada de descoberta do mundo para ficar focando em um lenga-lenga de prostituição e no relacionamento com o personagem insuportavel do Mark Ruffalo. O que eu queria mesmo era continuar vendo as aventuras da Bella por outros locais, por outras cidades, outras culturas e etc. Outro momento que puxa a história para baixo e todo o ato final que trás a revelação da história da Victoria e como ela se tornou Bella, e aquele marido, o mistério sobre a origem da personagem a favoreciam muito mais, mas infelizmente Lanthimos quis explicar demais.
Em linhas gerais o saldo de Poor Things ainda é positivo, o Lanthimos é um diretor de grande habilidade na arte de contar histórias, e ele nos faz crer nesse mundo abstrato e absurdo que ele criou. Creio que no futuro ele ainda vai ganhar seus prêmios, e vai ter seu devido reconhecimento, mas não será com esse filme não, ainda mais nesse ano que o Oscar tem um dono declarado desde o começo, mas espero que ele continue desbravando essas histórias instigantes e inquietantes como tem feito até agora.
Duna: Parte 2
4.4 620DUNE: PART TWO
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2024
Assistido em: 02/03/2024
E finalmente aqui estamos nós para falar sobre esse que já está sendo chamado de o melhor épico dos últimos 20 anos. Se eu virasse para o Luan dos 10 anos de idade, que conheceu Duna ao ler uma matéria sobre a minissérie de 2000 na extinta revista Herói, e dissesse que no futuro ele iria assistir a uma adaptação do livro em tela grande e que iria ficar encantado, provavelmente ele não acreditaria, mas foi exatamente isso que aconteceu. Eu tinha altas expectativas por esse filme, principalmente depois do primeiro e depois de ter finalmente criado vergonha na cara e lido a obra original, mas mesmo assim todas as minhas expectativas foram superadas.
Após se unir ao povo Fremen. Paul Atreides começa a aprender os costumes, práticas e técnicas deles, com o objetivo de se vingar da casa Harkonnen e do imperador Shaddam IV. Aos poucos, Paul vai se tornando um líder extremamente habilidoso para as causas Fremen, ao ponto de se tornar um imenso pesadelo para os Harkonnen, que querem a todo custo acabar com o “líder fanático” Muad'Dib, sem sequer imaginar sua verdadeira identidade.
Raramente costumo ler um livro e depois assistir a sua adaptação, isso porque em 99,9% dos casos o livro é muito melhor, e se eu já conheço a história e adaptação não for minimamente próxima daquilo que li, a chance de eu não gostar é altíssima. No ano passado pude ler o Duna original de Frank Herbert e fiquei ainda mais encantado com o universo. Herbert tem uma mensagem muito poderosa e que particularmente acho importantíssima, ele nos alerta sobre o perigo do “salvador”, sobre o risco que é acreditar em uma figura messiânica, aquela que pode “corrigir todos os problemas de um povo”, Herbert reforçava nos anos 60 que essa figura não existe, e é impressionante como as pessoas seguem esperando por esse líder perfeito, seja no campo político ou religioso.
Duna é sobre metáforas, e aqui em Villeneuve acertou em cheio, Paul é um personagem que sabe que é o escolhido, ele sabe o seu papel, mas o evita porque já viu que as coisas sairão de seu controle. Vi algumas pessoas decepcionadas porque a prometida Guerra Santa não acontece nesse filme, mas isso não interessa, o que de fato importa é nos mostrar tudo o que ocorreu para chegarmos até ela, mostrar o que levou os Fremen a acreditarem nessa “figura sagrada” que os guiará para a morte fantasiada de falsa liberdade. Tudo é um excelente estudo sobre manipulação de massas, e pensar que desde que o Herbert criou essa história, as coisas só parecem piorar no mundo real, basta ver a idolatria política que existe no Brasil atual.
Denis Villeneuve é um diretor que para mim é 8 ou 80, de vez em quando ele entrega uns filminhos meio sem graça, mas quando ele acerta, o longa vira um dos meus favoritos de imediato. Com essa parte dois, ele conseguiu a proeza de superar o primeiro que já achava excelente. Esse segundo título tem uma escala muito maior, uma urgência latente que nos deixa impacientes, você sabe que tudo vai descarrilhar em algum momento, e que será algo gigantesco. O roteiro e a direção de Villeneuve consegue criar um clima absurdamente tenso, ele fez algumas mudanças importantes em relação ao enredo do livro, mas de forma geral sua adaptação foi muito bem realizada, deixando até mesmo aqueles que já conhecem a história ansiosos pelo que vem pela frente. A fotografia é um espetáculo de linda, infelizmente não tive a oportunidades, mas acredito que quem puder deve assistir em IMAX, o mestre Hans Zimmer novamente arrebenta com uma trilha poderosa e emblemática.
O elenco está ótimo, principalmente Timothée Chalamet que do segundo ato em diante cresce absurdamente, nos entregando a imponência que o personagem pede. Rebecca Ferguson é fantástica, e sua Lady Jessica segue deslumbrante. Entre as adições, destaque paras Léa Seydoux e Florence Pugh, ambas excelentes, mas quem rouba a cena entre as novidades é Austin Butler, que mais uma vez prova que é um bom ator, dessa vez no papel do psicopata Feyd-Rautha, são dele algumas das melhores e mais marcantes sequências.
Dune: Part Two foi adiado devido à greve dos atores de 2023, mais creio que ele chegou na hora certa, esse comecinho de 2024 está sendo bombardeado por fracassos de crítica e bilheteria, logo foi facílimo assumir o protagonismo desse primeiro trimestre, e já se firmar como um dos principais lançamentos do ano. E com absoluta certeza ele será relembrado no ano que vem durante a temporada de premiações.
Eu sou partidário da ideia de diretores como, Cameron, Nolan e do próprio Villeneuve de que cinema é uma arte que deve ser respeitada, e dentro das possibilidades deve ser apreciada no palco para qual o filme foi formatado. Ambos os Duna são títulos que representam um capricho e uma qualidade que você não encontra em qualquer produção, então eles merecem o reconhecimento do público. Uma história tão poderosa tão forte, tão atemporal como essa, que nos chama a tomar cuidado com figuras salvadoras e messiânicas, merecia o alcance que muitos filmes vazios e sem substância tiveram, mas infelizmente não terá, porque nem todo mundo está preparado para entender as nuances da mensagem que está sendo transmitida, provando que o que ocorre dentro de Arrakis, se repete aqui do lado de fora.
Todos Menos Você
3.1 359 Assista AgoraANYONE BUT YOU
Direção:Will Gluck
Ano: 2023
Assistido em: 01/03/2024
Como já deixei bem claro em inúmeros comentários, eu não sou o cara das comédias românticas, acho todas iguais, mas quando tem uma que fura a bolha e toma proporções incomuns me sinto compelido a assistir. E foi com esse sentimento que eu fui até o cinema conferir Anyone but You, o exemplar do gênero que caiu no gosto do público e se tornou um verdadeiro fenômeno, um daqueles que não víamos provavelmente desde os anos 2000, e para a minha total e completa surpresa, eu adorei tudo do começo ao fim.
Após um encontro totalmente aleatório Ben e Bea passam uma noite incrível juntos, eles poderiam começar a namorar se não fosse pelo trauma que ele tem de ter sido abandonado e pelo fato dela ter escutado uma conversa dele com um amigo que acabou sendo bastante distorcida. Dois anos depois os agora desafetos são obrigados a se suportar durante um final de semana enquanto a irmã de Bea se casa com uma amiga de Ben. Quando os dois começam a fingir namorar para agradar as noivas e seus familiares, começam a nascer fortes sentimentos entre eles.
Antes de qualquer coisa é preciso sabermos que nada aqui é novidade, desde a ideia secular de autoria de William Shakespeare, até todo o desenvolvimento que não foge às regras estabelecidas pelas comédias românticas lá da década de 1990, mas então o que torna esse filme tão especial?! A resposta até que simples, ele acerta no básico onde a maioria dos outros títulos erram, ele tem um casal protagonista incrível, e melhor, os dois têm uma química explosiva, vulcânica quando estão juntos, Glen Powell e Sydney Sweeney são duas jovens potências que quando se encontraram fizeram a tela do cinema pegar fogo.
Ambos protagonistas são lindos, ambos são gostosos, e o diretor não tem medo de usar e abusar dos dois, Glen Powell sem camisa por quase duas horas é um presente que caiu dos céus, e creio que ver a Sydney com pouca roupa também agradou bastante quem gosta. Esses dois quando juntos formam um casal tão bonito que você torce por eles de imediato, não é aquele filme que se esforça para fazer com que o público se empolgue, isso acontece naturalmente. Geralmente nas comédias românticas nós já sabemos que o casal protagonista vai ficar junto no final, então não interessa muito o caminho até esse momento, mas aqui foi diferente, mesmo sabendo que eles vão se acertar, o caminho é essencial, porque queremos ver esses dois juntos, logo cada passo importa, nós estamos torcendo igual os personagens dentro da história também estão.
Will Gluck não reinventa a roda, seja no roteiro ou na direção, ele pega o mais do mesmo e aplica, é o basicão de sempre, e deu super certo, entre uma inovação mal feita e o feijão com arroz bem temperado, sempre fico com o feijão com arroz, e é isso que o filme acerta, ele pega uma história universal do Shakespeare, bons atores que têm uma química absurda, uma boa trilha sonora, e as lindas paisagem reais de Sidney, e tá pronto não precisa de mais nada, junte tudo isso ao fato da Sony ter confiado no filme e deixado ele no cinema por tempo suficiente para ganhar o boca a boca do público, e tá aí a comédia romântica de maior sucesso dos últimos anos provando que o gênero que vem sendo espremido nos streamings já há alguns anos, ainda tem cartucho para queimar nas telas grandes, basta saberem fazer, saberem dar tempo para que a obra naturalmente vá ganhando seu espaço e se provando, tal qual aconteceu com Anyone but You, que posso dizer tranquilamente, foi a melhor comédia romântica que vi nos últimos, sei lá, 10-15 anos. Adorei do começo ao fim, e com toda certeza vai se tornar um guilty pleasure que eu terei muito prazer em defender nos próximos anos.
Zona de Risco
3.2 38 Assista AgoraLAND OF BAD
Direção: William Eubank
Ano: 2024
Assistido em: 25/02/2024
E aqui estamos nós, diante de mais uma bomba disfarçada de filme de ação, que aliás, é ao lado do terror o gênero mais sofrido da história do cinema, principalmente devido aos roteiros que beiram o amadorismo de tão fracos e direções que acreditam que apenas tiros e sequências de ação picotadas são suficientes para agradar o público, e vendo os elogios que essa coisa horrenda recebeu, talvez até sejam, já que esse tipo de produto genérico é lançado em quantidades gigantescas todos os anos por Hollywood.
Quando uma equipe da elite da Delta Force fica encurralada em solo inimigo nas Filipinas, cabe a um piloto de drone tentar ajudá-los da melhor forma possível, entretanto isso não vai ser fácil, já que os referidos soldados estão sob forte fogo inimigo.
O que me chamou atenção nesse título obviamente foi o elenco, Russell Crowe é um dos maiores de sua geração, mas nos últimos 10-15 anos ele só anda aceitando tranqueira, parece que está dependendo de centavos para poder pagar o aluguel, pois nada justifica um vencedor do Oscar se sujeitar a tantos projetos ruins. Luke Hemsworth não conseguiu muito sucesso depois do fim da franquia The Hunger Games (2012-2015) e aqui vive mais um personagem heróico genérico de filme de ação, ainda completam o elenco Milo Ventimiglia, Luke Hemsworth, Daniel MacPherson e Ricky Whittle, todos desperdiçados, pelo menos são bonitos e estão enfeitando a tela, já que seus personagens não vão além do qualquer coisa.
Land of Bad é pobre em todos os sentidos, fotografia, direção, roteiro, atuações é um daqueles filmecos sem nenhuma assinatura artística que os estúdios devem fazer apenas para lavar dinheiro, já que nada justifica a aplicação do termo arte para uma porcaria dessas.
Durante a década de 2000 o DVD se popularizou, e com ele gerou-se um efeito principalmente aqui no Brasil das banquinhas de camelô repletas de DVDs piratas que eram vendidos em saquinhos de plástico. Se Land of Bad tivesse sido lançado há uns 15 anos atrás, certamente seria um dos principais a estar lá nessas bancas, com uma impressão mal feita do poster em papel A4 e sendo vendido como um grande sucesso de ação, provavelmente o filme foi idealizado para tal, mas não ficou pronto a tempo.
Todos Nós Desconhecidos
3.9 176 Assista AgoraALL OF US STRANGERS
Direção: Andrew Haigh
Ano: 2023
Assistido em: 25/02/2024
As vezes é bom ser enganado, vim aqui esperando absolutamente nada além de um romance gay entre o Andrew Scott e o Paul Mescal, não sabia de absolutamente nada, nem sequer li a sinopse, muito menos vi o trailer, estava totalmente alheio a qualquer informação prévia que poderia estragar a experiência, e para minha total surpresa dei de cara com um encontro nada comum de Ghost (1990) com The Sixth Sense (1999). Jamais esperava um filme que envolvesse fantasia e muito menos um drama dessa proporção, uma trama sensível e que mexe com muitos sentimentos do espectador.
Certa noite Adam tem um encontro totalmente trivial com o seu vizinho Harry, após esse misterioso encontro ele acaba viajando até a antiga casa de seus pais que já estão mortos há muitos anos, e para sua total incredulidade ele encontra tanto seu pai quanto sua mãe exatamente da mesma forma que eram quando morreram, levando Adam a poder finalmente ter experiências com ambos que lhe foram privadas devido a morte dos mesmos, tudo isso enquanto se envolve romanticamente com Harry.
Como disse, é um filme que me pegou desprevenido, vinha buscando por putaria entre dois gostosos e acabei encontrando depressão pura com um protagonista que tem um trauma muito profundo de infância, e misteriosamente ganha a oportunidade de reaver nem que seja um pouquinho do tempo perdido com seus pais, tudo isso enquanto começa a namorar o vizinho gostosão. Mas toda essa loucura nos faz nos perguntar se Adam é esquizofrênico, se está alucinando, se ele está sonhando, ou se ele está se drogando, algo errado está ocorrendo, e a resposta é quase surpreendente.
O roteiro conseguiu esconder o fato de Harry estar morto até a cena que ele finalmente enxerga os pais de Adam, até aquele momento eu pensava que Adam era esquizofrênico, que ele estava louco, mas quando Harry também viu os pais de Adam, naquele momento o roteiro entregou todo o ouro, para depois vir a confirmação que Harry estava morto o tempo todo, e aliás ele morreu de overdose logo após o seu encontro incial com Adam nas primeiras cenas do filme. É algo muito triste porque é nesse momento que o título faz todo o sentido, Adam se sentia estranho, e sozinho quando perdeu seus pais, Harry por outro lado tinha seus pais vivos, e mesmo quando ele morreu, ninguém se importou, ninguém procurou por ele, essa solidão e tristeza que cerca muitas pessoas LGBT que tornam esse filme é um verdadeiro soco no estômago, muitos de nós somos os “desconhecidos” do título, somos invisíveis para muitas das famílias que preferem simplesmente esquecer que existimos tal qual aconteceu com o pobre Harry.
Muito bem escrito e dirigido, com uma belíssima fotografia, e um elenco de primeira All of Us Strangers marca o primeiro trabalho que assisto do Paul Mescal, que nos últimos anos vem se tornando um dos nomes mais relevantes de Hollywood, e além de lindo e gostoso ele atua muito bem, mas a grande surpresa com toda certeza é o Andrew Scott, que já conheço há alguns anos, mas nunca tinha visto em uma performance tão intensa, e com um personagem tão complexo. Completam o time os sempre afiados Jamie Bell e Claire Foy.
Para quem esperava um romance gay clássico (como eu) pode ir esquecendo, All of Us Strangers é um filme muito reflexivo que nos leva a pensar muito a respeito da solidão, é uma bela de uma porrada na cara de muita gente, e é uma pena que infelizmente não tem um grande alcance que merecia ter, pois a sociedade merece saber o mal que ela faz na vida daqueles que ela rejeita, essa responsabilidade precisa ser assumida, mas infelizmente nunca é.
Zona de Interesse
3.6 591 Assista AgoraTHE ZONE OF INTEREST
Direção: Jonathan Glazer
Ano: 2023
Assistido em: 25/02/2024
Hannah Arendt, teórica política alemã, em suas obras buscava falar sobre o que ela chamava de “a banalização do mal”, quando as pessoas não se incomodam quando algo ruim acontece ao seu redor, simplesmente fazem o que é “comum”, sem questionar, sem se impor. Adolf Hitler sempre é citado como o grande responsável pelos horrores Nazistas, o grande criminoso, o mal encarnado, mas é importante ressaltar que Hitler não fez nada sozinho, ele tinha milhões de seguidores para lhe ajudar, alguns tão fanáticos quanto ele, outros até mais, e é justamente sobre uma família de sádicos que esse filme trata, os Höss conseguiram ter uma vida normal mesmo ao lado do inferno.
Rudolf Höss, sua esposa Hedwig e seus cinco filhos moram em uma bela casa, com um jardim imenso, piscina, e muito espaço para as crianças brincarem, um ambiente perfeito para sua família. Rudolf sai cedo para trabalhar e sua esposa fica cuidando da casa e das crianças, essas últimas, se divertem no maravilhoso jardim. Isso seria a descrição de uma família feliz e perfeita da Alemanha da década de 1940, o problema é que o quintal dos Höss acaba onde começam os muros do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.
Desde que as críticas acerca desse filme começaram a surgir na internet, o som sempre foi citado como seu principal elemento, existe uma teoria de que nós seres humanos temos muito mais medo do desconhecido do que daquilo que vemos, as sombras e a escuridão deixam tudo mais assustador, aplicando esse conceito no filme, o diretor Jonathan Glazer não nos mostra NADA, mas nós conseguimos escutar. Enquanto vemos aquela linda família em seus dias ensolarados e perfeitos, escutamos tiroteios, massacres, gritos dos torturados, e os Höss agem como se absolutamente nada estivesse acontecendo, aliás, estou errado, eles não fingem que nada está acontecendo já que sabem o que ocorre do outro lado do muro, eles só não se importam, é a banalidade do mal citada Hannah Arendt, eles vem a fumaça das caldeiras onde pessoas estão sendo queimadas, e para eles é a coisa mais natural do mundo.
Glazer nos entrega um filme gelado, apesar da fotografia ser de cores pastéis e claras, e o ambiente está sempre ensolarado, não podemos esquecer do que que está acontecendo ali do lado, onde por dia morriam cerca de SEIS MIL PESSOAS. E não podemos atribuir a responsabilidade apenas ao oficial do exército Nazi, sua esposa Hedwig mantém escravas judias dentro da sua casa e as aterrorizava psicologicamente, essa é claramente uma história de terror, só que muito pior do que qualquer slasher, de qualquer longa sobre possessão demoníaca, porque isso aqui aconteceu de verdade, e é horrível saber que ESSAS PESSOAS NÃO SE ARREPENDERAM, pesquisando um pouquinho sobre o que ocorreu com a família Höss após os Julgamentos de Nuremberg, descobrimos que um neta de Rudolf e Hedwig que não concordava com as atitudes da família foi isolada por seus demais membros, que continuavam defendendo as ideologias nazistas até o fim de seus dias.
Geralmente The Zone of Interest é o tipo de projeto que eu odiaria, porque ele não tem nenhum grande momento dramático, é o cotidiano de uma família classe média alta vivendo os seus dias felizes na sua casa perfeita. Quem conhece um pouquinho de história e sabe dos horrores que ocorreram dentro de Auschwitz, com toda certeza se arrepia quando escutar os som de tiros, escuta os gritos, quando vê a fumaça no horizonte, ou quando o engenheiro mostra uma planta sobre uma forma de potencializar o número de baixas por dia e de forma ininterrupta. Esse é sem sombra de dúvidas o filme mais sufocante dos últimos anos, porque você vê tudo isso e sabe que foi real. O único detalhe que me desagradou foi o final, foi bacana mostrarem que a presença do mal que aquela família causou nunca passou, mas creio que o desfecho perfeito seria mostrar Rudolf sendo enforcado em 1947 pelos crimes contra a humanidade, mostrando que sim houve alguma justiça mesmo que mínima diante de todos os horrores que ele e sua família ajudaram a causar.
PS¹: O poster desse filme é perfeito, aquela família feliz sob o céu totalmente preto é de arrepiar.
PS²: Me julguem, mas para mim a Sandra Hüller está melhor aqui, do que em Anatomy of a Fall (2023)
Garra de Ferro
3.9 111THE IRON CLAW
Direção: Sean Durkin
Ano: 2023
Assistido em: 24/02/2024
Não sou um cara de esportes, mas sou apaixonado por cinema, mas até que gosto de filmes que tratam sobre eventos esportivos famosos. Tomei conhecimento da família Von Erich quando começaram a sair as primeiras notícias a respeito desse filme, e por curiosidade, fui pesquisar sobre eles, e foi quando me deparei com a história da “maldição”, imediatamente fiquei muito interessado em assistir a essa cinebiografia e me surpreendi, não esperava algo desse nível.
Na década de 1970, Fritz Von Erich, um ex-lutador de luta livre que sempre sonhou em se tornar campeão mundial, decide transformar seus filhos em profissionais do gênero. Ele fará de tudo para isso, sem se importar com os estragos que tanta pressão poderá causar na vida de seus herdeiros. A partir daí, os quatro irmãos Von Erich serão obrigados a sentir na pele que o sucesso tem um preço, e às vezes ele é alto demais.
Não acredito nessa história de maldição, não sou nada supersticioso, acho muitas crendices populares uma baboseira sem tamanho, mas diante de toda a desgraça e sofrimento que a família Von Erich passou, a única maldição que consegui enxergar assistindo esse filme e pesquisando na internet sobre a história real, é o pai, Fritz, um homem completamente abusivo, que não se importava nem um pouco com os filhos, homem que mesmo diante de uma desgraça, ignorava toda dor e todo sofrimento da família e continuava pressionando como se absolutamente nada tivesse acontecido. Todos os horrores que cada um dos Van Erich sofreram seriam bem diferentes caso houvesse dentro daquela casa cuidado, caso aquele pai se importasse mais com seus filhos do que com sucesso, do que com as suas ambições.
Deus do céu, o quê que o Zac Efron fez com a cara dele minha gente?! Ele foi de um dos homens mais lindos de Hollywood, para um Lula Molusco depois da harmonização facial, apesar de estar totalmente quadrado, Efron entrega aquela que é de longe sua melhor performance, ele com um bom diretor e um bom roteiro, pode sim entregar excelentes performances, o elenco ainda é completo por Jeremy Allen White, Harris Dickinson, Maura Tierney e Holt McCallany todos muito bem em seus papéis, entretanto fica aquela sensação de que se o roteiro investisse ainda mais na cenas dramáticas, ele renderia grandes momentos, onde esses intérpretes poderiam brilhar com mais intensidade.
The Iron Claw não é um filme sobre esportes, é um drama sobre uma família que por mais de uma década foi assolada por desgraças que poderiam sim ser evitadas, caso houvesse um acompanhamento psicológico para aquelas pessoas, ou se a criação deles fosse diferente, aliás a família Von Erich não é nada especial ela se encaixa na velha fórmula de que “por trás de toda criança/jovem bem sucedido, existem pais abusivos”. É muito triste saber o desfecho que cada um desses personagens, tiveram na vida real, mas ainda assim o filme termina com uma nota de esperança, nos mostrando que apesar de tudo que sofreu o Kevin ainda conseguiu, ao lado da sua esposa, criar uma bela e unida família, e seus filhos segue os passos de seus antecessores, só que sem toda a pressão.
Foi triste ver que A24 não se dedicou a fazer uma campanha de divulgação para The Iron Claw para a temporada de prêmios, porque o filme é muito melhor que muita porcaria que tá aí sendo nomeado a premiações. Uma história simples, bem contada, que nos deixa tristes com o passado, mas esperançosos para que no futuro a situação daquela família tenha melhorado, porque a cota de desgraça desse pessoalzinho já foi completada há muito e muito tempo
Rapito
3.5 5RAPITO
Direção: Marco Bellocchio
Ano: 2023
Assistido em: 24/02/2023
Sou de família de origem italiana, logo não ser católico era impensável até alguns anos atrás. Eu mesmo fui frequentador ativo da Igreja até por volta dos meus 15 anos, quando finalmente consegui minha emancipação, e desde então não voltei lá mais, e o motivo? É que eu nunca suportei a mania chata dos cristãos de se julgarem como os corretos e condenarem aqueles que pensam diferente deles, ou como eles fazem de tudo para converter os “errados” a sua doutrina “correta”, sempre achei isso algo extremamente hipócrita, e cheguei ao ponto de me sentir mal naquele ambiente, o que foi muito agravado nos dois anos que fui coroinha, portanto o dia que dei um basta na religião na minha vida foi libertador.
No século XIX os judeus eram extremamente perseguidos na Europa (e sabemos que isso iria piorar muito nos próximo anos), e devido as leis vigentes na Bolonha, um cristão jamais poderia ser criado por um não-cristão. Nesse cenário, a família Mortara é pega de surpresa, quando descobre que seu pequeno filho de 6 anos, Edgardo, havia sido batizado contra sua vontade. A criança é levada de seus pais e entregue aos cuidados da igreja em Roma, onde será convertida ao cristianismo enquanto seus pais lutam desesperadamente para tentar reaver sua guarda.
Quando fiquei sabendo dessa história, fiquei indignado, não consegui entender como a criança havia sido batizada contra a vontade de seus pais, e foi vendo o filme que me veio a resposta, uma empregada jogou três gotinhas de água na cabeça do bebê fez um sinal da cruz e pronto a criança estava “salva”, seu lugar no céu estava garantido, sério que as pessoas acreditam nisso?! Às vezes creio que alguns religiosos entendem tudo que Jesus falava ao contrário, por que não é possível uma coisa dessas, mas esse é só mais um dos muitos absurdos que rolavam há alguns anos quando a igreja católica tinha muito mais poder do que algumas legislações vigentes.
Marco Bellocchio entrega um filme bem equilibrado, com história muito boa, só tem um probleminha de ritmo ali pela metade, uma edição um pouquinho melhor trabalhada renderia um resultado mais dinâmico, mas a história é muito forte, muito bem contada, e isso compensa a fadiga, principalmente quando chegamos na segunda fase de todo esse imbróglio e descobrimos que os danos causados na vida do Edgardo foram permanentes. A direção é bem afiada e os atores bem escalados, o design de produção é absurdo, o valor de produção do filme é nítido, os cenários e os figurinos são excelentes recriando com muita qualidade aquela Bolonha do século XIX.
É impossível não sentir muita raiva de toda essa situação, ainda mais sabendo que é baseado em uma história real, e que os responsáveis saíram impunes, sei que até bastante injusto, mas também é difícil não sentir raiva do próprio Edgardo na sua fase adulta, mesmo ele sendo uma vítima de uma lavagem cerebral que é feita até os dias de hoje, só que hoje dia isso não é mais exclusividade da igreja católica.
Hoje em dia eu digo de boca cheia que só agnóstico e que me libertar da opressão religiosa que existe dentro da minha família foi a melhor coisa que fiz na minha vida, não estou dizendo que não sou mais vítima dos preconceitos, como um homem gay, ainda escuto muitos absurdos principalmente por parte da minha mãe, mas histórias como essa só reforçam meu pensamento que religião é o pior mal que existe na humanidade, não me refiro apenas a cristianismo mas também é ao islamismo, ao judaísmo e todos os outros “ismos”. Jesus nos uma mensagem belíssima mensagem, “amarmos uns aos outros e fazer o bem”, infelizmente suas palavras foram distorcidas por um bando de fanáticos, e dois mil anos depois cá estamos nós, penando com a presença de alguns que só estragam a mensagem tão bonita que Nazareno passou.