Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Confesso que tinha um pé atrás com o diretor porque nunca consegui me conectar muito bem com seu filme Sinônimos apesar de reconhecê-lo como um filme muito bom. Este porém acabou entrando na minha lista de melhores do ano, senão O melhor. Amei! Tipo de filme que eu gosto, com toda a metalinguagem e crítica ácida (ao estado terrorista de Israel, ao sistema capitalista, a cultura de guerra, a normalização de uma realidade orwelliana ou tantas outras coisas). Nadav Lapid se faz tão necessário e talvez um dos maiores diretores da atualidade. A parte técnica é simplesmente maravilhosa e toda a construção da história com a explosão verborrágica em uma das cenas mais emblemáticas dos últimos anos. Certo, confesso que não é um filme que vá agradar uma grande maioria, mas é daqueles filmes que me conquistam.
Um dos filmes que estava na seleção do Festival de Cannes para a Palma de Ouro do ano que não ocorreu devido a pandemia. Fui assistir sem saber quase nada do filme, sabia que se passava em uma ilha remota da Escócia e só, fui pego completamente de surpresa com um dos melhores filmes daquele ano. Ele é tão simples e ao mesmo tão complexo, tão sério e ao mesmo tempo tão leve, tão deliciosamente fantástico e ao mesmo tempo tão cruelmente real. Eu que moro no Reino Unido não pude deixar de rir com os personagens locais estereotipados, porque é exatamente assim. Tenho estudado árabe neste último ano com um exilado sírio e não pude deixar de me comover com a história. O ator Vikash Bhai, apesar de ser indiano e interpretar um afegão, consegue contagiar em todo momento que aparece em tela e está irreconhecível no papel. Tudo no filme funciona tão bem e acho que é daqueles que dá para indicar para todo mundo. ASSISTAM!
Vencedor de um prêmio fora da competição principal no Festival de Berlim e do prêmio da Federação Internacional dos Críticos de Cinema no Festival de Veneza. Filme importantíssimo que marca a renovação do cinema iraniano, com verba do governo do Xá Pahlavi que ficou horrorizado com o resultado por achar que mostrava um Irã muito atrasado, teve sua licença de exportação negada e só foi exibido no Festival de Veneza, onde fez muito sucesso, por conta de uma cópia contrabandeada. O filme ainda teve dificuldades de ser exibido no próprio país e foi amplamente defendido pelo (ora vejam só) Aiatolá Khomeini (O mundo não dá voltas, capota!). Gostei bastante e acho que o que segura bastante tudo é o elenco que se entrega bastante, toda a história tem tantas camadas que o torna digno na posição que carrega hoje. O que é um homem sem sua posição perante a sociedade se não uma vaca?
Quase fiz um curso de roteiro com a diretora deste filme uma vez, não deu certo por conta dos meus horários. Uma pena, pois é exatamente o roteiro que chama a atenção, ao mesmo tempo que ele critica essa onda evangélica que corrói o Brasil, em nenhum momento desumaniza as protagonistas que fazem parte de inúmeros absurdos e é isso que o filme tem de mais forte. As máscaras que todas vestem acabam caindo em determinado momento e o final é maravilhoso, das coisas mais ousadas que vi no cinema nacional nos últimos anos. Mari Oliveira dá um show, linda atriz e muito competente, não conhecia ela e espero que desponte em mais filmes. Lara Tremouroux também tem seus momentos como excelente coadjuvante. Não acho que seja um filme para o grande público, foge do comercial padrão, mas é necessário como reflexo desse Brasil hipócrita que conhecemos tão bem.
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Ser mulher no patriarcado é uma merda. Um dos filmes mais difíceis que assisti na vida, exatamente por conseguir me colocar no lugar da protagonista com toda a ansiedade e angústia que a situação vai se desenvolvendo para o desfecho avassalador. Anamaria Vartolomei é outro espetáculo à parte, simplesmente um show na atuação. Apesar de ser um filme curto, ele parece se arrastar um pouco, talvez pelo começo que parece ir levando a lugar nenhum, porém o filme cresce e se torna mais dinâmico da metade para o final. Um filme extremamente necessário para se discutir o aborto, a situação de perigo que as mulheres se colocam quando este não é legalizado e a hipocrisia da sociedade machista e religiosa.
Vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim. Que filme necessário e complexo, os diretores não poupam a verborragia e o lado tosco da cultura italiana para nos presentear com um dos maiores nós no estômago da atualidade. O filme retrata muito da sociedade contemporânea mundial, onde crianças estão expostas a um mundo completamente avesso ao universo infantil obrigando-as a perder suas infâncias em nome da sociedade digital da era da ode ao celular. Elio Germano é um monstro de atuação, cada vez que vejo ele em um filme meu respeito e admiração só cresce. As crianças roubam as cenas (todas elas). É um filme quase como se nos apresentasse contos, pequenas histórias que se ligam, todas acabam trazendo algo ruim, mesmo quando parece que não, de uma realidade crua da nossa sociedade que quase sempre nos recusamos a encarar. Perturbador, no mínimo.
Seguindo o seu longa anterior (Quando Duas Mulheres Pecam) Bergman segue com os dois pés no experimentalismo narrativo e realiza um de seus filmes mais angustiantes. As ligações com o filme anterior são extensas, considero um filme irmão, não é a toa que as personagens principais tem o mesmo nome, e muito menos ainda que em ambos as personagens focos de obsessão tem o mesmo sobrenome (Vogler). Máscaras permeiam tudo e a todos e praticamente todas elas acabam caindo. Praticamente todo o filme é de livre interpretação de cada espectador, única coisa que é de igual experiência para todos são as emoções conflitantes que permeiam toda a obra. Um filme complexo, que é preciso dar um salto de fé, cair de cabeça e mergulhar sem pensar demais. Bergman nunca decepciona.
Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Considero que o filme tem duas metades, a primeira que se trata do trágico acidente da sinopse é a melhor, tudo é muito bem arquitetado pelo diretor, os atores estão ótimos e apesar da frieza típica japonesa a cena em que Taeko encontra seu ex-marido é de entortar qualquer nervo de aço do espectador. A metade final eu achei que o filme perde um pouco a força e quase emula, de maneira inferior, o filme Asako I & II. Mas é um filme satisfatório e acima da média em muitos quesitos, mesmo achando que se perde em alguns momentos, podia ser um pouco mais curto para ir direto ao ponto.
Serve como nostalgia e só. Pelo menos é melhor que A Caveira de Cristal, mas muita coisa no filme não funciona. Phoebe Waller-Bridge tem uma personagem chata, o filme se estende demais e há cenas espatafurdias que podiam cortar pela metade. O filme podia ter no máximo 2 horas e estava bom. O legal é ver o Indy de novo. Podiam ter feito algo muito melhor, mas há franquias que Hollywood nunca souberam aproveitar muito bem (Indiana Jones e Alien foram algumas delas). A tentativa de Hollywood apagar a importância dos russos no final da Segunda Guerra é sempre patética de se assistir.
Um curta metragem cheio de qualidade técnica onde a diretora transborda suas percepções sobre a maternidade e sobre sua mãe, já falecida. O filme tem uma carga emocional muito grande para a diretora, mas ao meu ver é essa a dificuldade em se conectar com a proposta. Talvez por eu não ser mulher e consequentemente não ser mãe, mas acho que por ser mais um filme da diretora para ela mesma. O filme passou quase como um sonho para mim, há momentos que não consigo mais nem lembrar direito, ele parece encoberto em névoas oníricas, e isso é um ponto positivo. Na mesma linha, temos um curta metragem brasileiro (São Seus Olhos Tristes) dirigido pelo Antônio Rafael, que conseguiu me emocionar e me prender bem mais com um orçamento e consequentemente técnica bem inferior a este, mostrando que o que vale mais é o sentimento que cria no telespectador.
Vencedor do Prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Merecido prêmio e excelente filme. Confesso que demorei um pouco para entrar no filme, mas depois que eu estava dentro duto se desenvolve muito bem. Os personagens vão cativando, um vai dando lugar para o outro e sem que percebemos estamos dentro daquele mundo que é o retrato de uma Europa que muitos se recusam a mostrar. Uma sociedade falha com pessoas tão especiais, renegadas muitas vezes por seus semelhantes. Ao mesmo tempo revivi medos e anseios da minha adolescência tão claros ali no filme. A narrativa rápida e crua, que pareceu atrapalhar em um primeiro momento, no fim se mostra necessária e cai como uma luva. No fim queria acompanhar Lily e Ryan por todo o caminho que ainda lhes resta. Atores mirins excepcionais.
Nunca havia visto este e levei um choque tanto pelo salto que Bergman da no experimentalismo artístico quanto pela pior tradução de um título para o português na história deste país. Um filme profundo que quando percebi para onde ia desisti de tentar entender tudo e só aproveitei a viagem devorando as migalhas que eu conseguia digerir. Portanto é um filme para se ver mais vezes assim como Através de um Espelho (que é meu favorito do Bergman e já devo ter visto umas cinco vezes) para se construir uma ideia melhor da película. As atrizes estão perfeitas, dão um show e a parte técnica é das melhores de toda a cinegrafia do diretor. Não vou tentar analisar o filme, mesmo porque acho que a interpretação é de cada um, é exatamente esta a beleza do filme. Talvez seja um dos filmes mais difíceis do Bergman junto com A Hora do Lobo que assisti ontem, considero que é um filme que completa este e vice-versa com vários pontos que se cruzam. Vale cada minuto.
Considere todo o meu comentário suspeito, porque este é o meu filme favorito da vida, então obviamente eu não consigo ser imparcial. Assisti pela primeira vez com legenda em espanhol em uma sala de cinema da faculdade que eu fazia de Rádio e TV no ano 2000 e me atingiu que nem um raio. O mais bizarro foi que dois anos depois eu fui viver praticamente todo o filme na minha própria vida, fato este que me faz acreditar que vivemos em uma realidade simulada, pois o número de coincidências são impossíveis. Enfim, eu acho TUDO neste filme lindo, a simplicidade, os diálogos, a relação que vai se criando, o ritmo e como tudo junto funciona tão bem. Um road movie com uma fotografia de tirar o fôlego, com atores afinados ao papel que nos entrega personagens reais. Todo aquele clima de meados dos anos 70 está intrincado ao filme. Quando eu decidi que iria fazer arte de alguma forma, sabia que independente do que fosse, esse filme sempre seria um exemplo a seguir do que eu queria. Hoje, na literatura, espero um dia conseguir escrever um Alice nas Cidades de alguma forma.
Indicado no Festival de Berlim em uma das competições paralelas. É um filme muito mais sensorial do que narrativo, portanto pode não agradar muita gente pelo seu pé no experimentalismo. Eu achei bem legal de um modo geral, há cenas bem instigantes que nos passam sentimentos muito diferentes, o telespectador precisa estar aberto para a experiência que a película proporciona. Achei que teria sido muito melhor se o diretor tivesse aproveitado mais para desenvolver a relação entre o marinheiro e a mulher do apartamento. As cenas te instigam a prestar atenção no que está acontecendo em tela em alguns cenários meio lynchianos. O tradutor do título no Brasil comeu bola, pois "Chico Ventana" significa "Garoto na Janela" em espanhol e não é o nome do personagem: "Garoto na Janela" faria muito mais sentido no contexto do filme.
Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Wajda é sempre acima da média e aqui não é diferente. Hanna Schygulla carrega o filme nas costas, é uma bela interpretação, não à toa merece a fama que a precede. O comportamento dos personagens me incomodou bastante, afinal a mulher tem um filho pequeno que deveria ter alguma prioridade em sua vida, enquanto o polonês age que nem um idiota em determinado momento. Porém não podemos esquecer que se trata do Wajda, portanto o filme é muito mais profundo do que parece, pois tudo não passa de uma alegoria sobre sua Polônia em vários momentos do filme, com vários aspectos políticos entrelinhas. Interessante notar que mesmo sendo um filme feito na Alemanha, as raízes do diretor polonês se sobressaem mais. No final da sessão o que fica é bem mais do que satisfatório.
Um belo faroeste com tudo o que a gente pode querer ver neste tipo de filme. Último filme com a parceria entre John Wayne e George Heyes (o tiozinho bêbado que dirige a carroça), os dois atores eram grandes amigos na vida real. É um dos mais de vinte filmes em que Wayne contracena com Ward Bond, ou seja, tem vários elementos que fizeram de Wayne o ícone que ainda é. Mas nada disso funcionaria tão bem nesta película se não fosse Ella Raines, que mulher mais maravilhosa, rouba as cenas em que aparece e dá um baita peso para o filme. O roteiro é bem amarrado e consegue até trazer algumas surpresas no desfecho. Cumpre o que promete.
Um filme que engana muita gente, mas que achei bem ruinzinho. É um filme que teria que ter sido feito por alguém realmente revolucionário e principalmente dirigido por uma mulher, Vicente Aranda simplesmente não tinha ideia do que estava fazendo. É extremamente visível as raízes conservadoras da igreja permeando todo o filme, em nenhum momento há alguma análise ferrenha da mesma no campo ideológico do que foi a Guerra Civil Espanhola, sem contar o fato do diretor ter em seu currículo inúmeros filmes de objetificação feminina. Há até xenofobia na retratação dos árabes, tentando colocar para baixo do tapete o comportamento dos fascistas espanhóis de Franco. Tentar escancarar o apoio que o ditador teve na guerra de outros países europeus também passou bem longe. No final a mensagem que fica é tão estranha que não dá para ter certeza do que o diretor queria com o filme. Podiam mudar o título para "Um diretor em cima do muro". O filme podia ser muito melhor do que é, e eu simplesmente não entendo como muitos pró-revolucionários caem no papo furado dele. A linha narrativa pode até funcionar, você se envolve com alguns personagens, mas no geral o filme é um grande desserviço.
Um belo filme do Jeunet, mesmo não sendo perfeito como seus trabalhos anteriores (Ladrão de Sonhos e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) a história consegue nos conquistar. Todo o discurso anti empresas armamentistas é o que faz o filme valer mais a pena, mesmo com a visão eurocentrista que não consegue entender a diferença de um grupo terrorista para um grupo revolucionário (o I.R.A. é colocado no mesmo barco em um momento, por exemplo). O elenco funciona muito bem juntos e a parte técnica tem todas as particularidades que fez do diretor ser quem é. Achei que faltou mais articulação do personagem principal, poderia render diálogos melhores.
Indicado ao Câmera de Ouro no Festival de Cannes. Excelente estreia de Panah Panahi, filho do já lendário diretor Jafar Panahi, parece que o talento na família transborda. Perdeu o prêmio em Cannes para o filme Murina, que por mais que eu tenha gostado bastante, achei inferior a este aqui. O elenco esbanja talento e quando você menos espera já está completamente imerso no filme. Rayan Sarlak, o garotinho, é de longe um dos maiores talentos mirins da atualidade. A única coisa que me incomodou um pouco foi que o irmão mais velho não foi tão bem aproveitado como todo o resto da família, existe um motivo para isso, mas achei que se ele tivesse seu "momento" o filme poderia ter sido ainda melhor. O filme acaba e você fica querendo acompanhar os personagens por muito mais tempo. A direção técnica também é muito acima da média para um estreante, tudo é conduzido em um nível profissional que impressiona. Eu simplesmente amei!
O filme diverte e tem seus momentos, mas acho que o que mais peca é que não é um filme memorável do diretor. Até os seus filmes menores ficam na minha mente por dias, faz a gente pensar e degustar o filme mesmo muito tempo depois de ter assistido, este parece que não tem essa qualidade, duas semanas depois você já não recorda de alguns detalhes. Mas como eu disse, é divertido (adoro as comédias do Bergman) e tem toda uma crítica por trás das situações absurdas que vão sendo construídas e amaranhadas de um jeito que só o diretor sabia fazer. Me parece que entre as obras existencialistas profundas ele sabia se divertir para aliviar o estresse.
Outro indicado ao Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Confesso que nunca assisti a um filme do Ozon, foi meu primeiro. Disseram que é um filme bem abaixo da média do diretor. Achei um bom filme, quando o romance engrena me convenceu mais do que ao Me Chame Pelo Seu Nome, porém antes de engrenar é meio estranho. O personagem David, interpretado por Benjamin Voisin, é muito creepy, parecia mais um personagem saído de um filme de terror. Achei a condução boa até certo ponto, há alguns anticlímax que não funcionam e no final alguns pontos eu achei meio bobo. Mas o que mais importa para mim é que foi uma película gostosa de assistir na maior parte do tempo e na média achei um bom filme. O ator principal, Félix Lefebvre, é um dos pontos altos do filme, convence.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme tem um forte tom nacionalista e segue uma certa linha ideológica contra a emigração para fora do país que o Líbano sempre sofre em tempos de crise, porém, não vi nada exagerado sendo contado. Eu mesmo vivendo como imigrante fora do meu país vejo muitas das coisas que o pai se refere em certo ponto, sair de seu próprio país está longe de ser uma solução fácil, infelizmente é um risco que temos que correr. O diretor consegue exaltar pontos culturais e contar uma história simples e interessante de uma forma bem direta, e de quebra ainda nos envolver com os personagens. Acho que o mais interessante aqui é vermos referências ao Brasil, para nós, brasileiros. É sabido que muitos libaneses enriqueceram por aqui, mas será que eram camponeses sem nada ou esses "Maluf's" da vida que já chegaram abastados? Um filme muito bom, que não envelheceu mal e ainda é muito relevante ao debate que propõe.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Não da para dizer que é um filme fácil, muito menos que seja para qualquer tipo de público, mas achei que para o que o filme se propõe a fazer foi ótimo. O elenco é um primor, o diretor é excelente e a história conforme vai sendo contada é envolvente. Não tinha ideia de nada sobre a vida do compositor e depois de assistir ao filme fui dar uma pesquisada e pude notar que o filme é extremamente fiel a biografia deles segundo pesquisadores. Alguns momentos podem parecer apressados, mas o filme abrange um período onde muita coisa aconteceu, gostei que a película é focada nela, o compositor é um importante coadjuvante. Alyona Mikhailova merecia ser mais aclamada pelo papel. Acho tão enfadonho pessoas reclamando de cenas de nudez masculina enquanto se fosse feminina iriam normalizar. A cena experimental da sequência final é de tirar o fôlego de tão linda. A nota nos créditos que dizem que eles nunca mais se encontraram depois da separação não condiz com algumas pesquisas que dizem que eles se viram sim, para o desgosto de Tchaikovsky, pouquíssimas vezes. Adorei!
O filme funciona, mas apenas como uma peça de ficção. Não que algo parecido não possa ter acontecido, o cérebro consegue trabalhar como mostrado no filme, inclusive muitos contadores de cartas que tentam burlar cassinos trabalham de forma parecida, mas esta história jamais poderia ter acontecido com o idioma farsi e explico porque. Em 1936 Hitler declarou os persas imunes as Leis de Nuremberg por serem considerados arianos puros, pesquiso a relação de Hitler com os persas já há alguns anos e moro na cidade em que Abdol Hossein Sardari viveu seus últimos anos e veio a falecer. Sardari era consul iraniano em Paris em 1942, que além de brigar pela liberação de muitos judeus persas concedeu o passaporte persa de forma ilegal para outros judeus salvando um incalculável número de pessoas, foi homenageado por várias associações judaicas. Achei que o filme era sobre um homem tentando provar que era persa para ser liberado, mas para a minha surpresa não era bem isso. O elenco está muito bem e apesar do filme se estender demais é muito interessante como constrói toda a sua narrativa. A direção é estupenda e a construção do idioma é fabulosa. Engraçado como há algumas palavras reais, como "anta" que ele diz que é "mãe", e que no árabe significa "você" usado na forma masculina. O final emociona. O idiota que traduziu este título para o português deve ser o mesmo do Vida de Campeã, né? Só pode! "Lições Persas", como o original, era um título muito melhor.
O Joelho de Ahed
3.0 7Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Confesso que tinha um pé atrás com o diretor porque nunca consegui me conectar muito bem com seu filme Sinônimos apesar de reconhecê-lo como um filme muito bom. Este porém acabou entrando na minha lista de melhores do ano, senão O melhor. Amei! Tipo de filme que eu gosto, com toda a metalinguagem e crítica ácida (ao estado terrorista de Israel, ao sistema capitalista, a cultura de guerra, a normalização de uma realidade orwelliana ou tantas outras coisas). Nadav Lapid se faz tão necessário e talvez um dos maiores diretores da atualidade. A parte técnica é simplesmente maravilhosa e toda a construção da história com a explosão verborrágica em uma das cenas mais emblemáticas dos últimos anos. Certo, confesso que não é um filme que vá agradar uma grande maioria, mas é daqueles filmes que me conquistam.
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Limbo
3.9 13 Assista AgoraUm dos filmes que estava na seleção do Festival de Cannes para a Palma de Ouro do ano que não ocorreu devido a pandemia. Fui assistir sem saber quase nada do filme, sabia que se passava em uma ilha remota da Escócia e só, fui pego completamente de surpresa com um dos melhores filmes daquele ano. Ele é tão simples e ao mesmo tão complexo, tão sério e ao mesmo tempo tão leve, tão deliciosamente fantástico e ao mesmo tempo tão cruelmente real. Eu que moro no Reino Unido não pude deixar de rir com os personagens locais estereotipados, porque é exatamente assim. Tenho estudado árabe neste último ano com um exilado sírio e não pude deixar de me comover com a história. O ator Vikash Bhai, apesar de ser indiano e interpretar um afegão, consegue contagiar em todo momento que aparece em tela e está irreconhecível no papel. Tudo no filme funciona tão bem e acho que é daqueles que dá para indicar para todo mundo. ASSISTAM!
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A Vaca
4.0 19Vencedor de um prêmio fora da competição principal no Festival de Berlim e do prêmio da Federação Internacional dos Críticos de Cinema no Festival de Veneza. Filme importantíssimo que marca a renovação do cinema iraniano, com verba do governo do Xá Pahlavi que ficou horrorizado com o resultado por achar que mostrava um Irã muito atrasado, teve sua licença de exportação negada e só foi exibido no Festival de Veneza, onde fez muito sucesso, por conta de uma cópia contrabandeada. O filme ainda teve dificuldades de ser exibido no próprio país e foi amplamente defendido pelo (ora vejam só) Aiatolá Khomeini (O mundo não dá voltas, capota!). Gostei bastante e acho que o que segura bastante tudo é o elenco que se entrega bastante, toda a história tem tantas camadas que o torna digno na posição que carrega hoje. O que é um homem sem sua posição perante a sociedade se não uma vaca?
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Medusa
3.4 52 Assista AgoraQuase fiz um curso de roteiro com a diretora deste filme uma vez, não deu certo por conta dos meus horários. Uma pena, pois é exatamente o roteiro que chama a atenção, ao mesmo tempo que ele critica essa onda evangélica que corrói o Brasil, em nenhum momento desumaniza as protagonistas que fazem parte de inúmeros absurdos e é isso que o filme tem de mais forte. As máscaras que todas vestem acabam caindo em determinado momento e o final é maravilhoso, das coisas mais ousadas que vi no cinema nacional nos últimos anos. Mari Oliveira dá um show, linda atriz e muito competente, não conhecia ela e espero que desponte em mais filmes. Lara Tremouroux também tem seus momentos como excelente coadjuvante. Não acho que seja um filme para o grande público, foge do comercial padrão, mas é necessário como reflexo desse Brasil hipócrita que conhecemos tão bem.
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O Acontecimento
4.0 79 Assista AgoraVencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Ser mulher no patriarcado é uma merda. Um dos filmes mais difíceis que assisti na vida, exatamente por conseguir me colocar no lugar da protagonista com toda a ansiedade e angústia que a situação vai se desenvolvendo para o desfecho avassalador. Anamaria Vartolomei é outro espetáculo à parte, simplesmente um show na atuação. Apesar de ser um filme curto, ele parece se arrastar um pouco, talvez pelo começo que parece ir levando a lugar nenhum, porém o filme cresce e se torna mais dinâmico da metade para o final. Um filme extremamente necessário para se discutir o aborto, a situação de perigo que as mulheres se colocam quando este não é legalizado e a hipocrisia da sociedade machista e religiosa.
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Fábulas Ruins
3.5 15Vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim. Que filme necessário e complexo, os diretores não poupam a verborragia e o lado tosco da cultura italiana para nos presentear com um dos maiores nós no estômago da atualidade. O filme retrata muito da sociedade contemporânea mundial, onde crianças estão expostas a um mundo completamente avesso ao universo infantil obrigando-as a perder suas infâncias em nome da sociedade digital da era da ode ao celular. Elio Germano é um monstro de atuação, cada vez que vejo ele em um filme meu respeito e admiração só cresce. As crianças roubam as cenas (todas elas). É um filme quase como se nos apresentasse contos, pequenas histórias que se ligam, todas acabam trazendo algo ruim, mesmo quando parece que não, de uma realidade crua da nossa sociedade que quase sempre nos recusamos a encarar. Perturbador, no mínimo.
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A Hora do Lobo
4.2 308Seguindo o seu longa anterior (Quando Duas Mulheres Pecam) Bergman segue com os dois pés no experimentalismo narrativo e realiza um de seus filmes mais angustiantes. As ligações com o filme anterior são extensas, considero um filme irmão, não é a toa que as personagens principais tem o mesmo nome, e muito menos ainda que em ambos as personagens focos de obsessão tem o mesmo sobrenome (Vogler). Máscaras permeiam tudo e a todos e praticamente todas elas acabam caindo. Praticamente todo o filme é de livre interpretação de cada espectador, única coisa que é de igual experiência para todos são as emoções conflitantes que permeiam toda a obra. Um filme complexo, que é preciso dar um salto de fé, cair de cabeça e mergulhar sem pensar demais. Bergman nunca decepciona.
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Love Life
3.8 1Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Considero que o filme tem duas metades, a primeira que se trata do trágico acidente da sinopse é a melhor, tudo é muito bem arquitetado pelo diretor, os atores estão ótimos e apesar da frieza típica japonesa a cena em que Taeko encontra seu ex-marido é de entortar qualquer nervo de aço do espectador. A metade final eu achei que o filme perde um pouco a força e quase emula, de maneira inferior, o filme Asako I & II. Mas é um filme satisfatório e acima da média em muitos quesitos, mesmo achando que se perde em alguns momentos, podia ser um pouco mais curto para ir direto ao ponto.
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Indiana Jones e a Relíquia do Destino
3.2 331 Assista AgoraServe como nostalgia e só. Pelo menos é melhor que A Caveira de Cristal, mas muita coisa no filme não funciona. Phoebe Waller-Bridge tem uma personagem chata, o filme se estende demais e há cenas espatafurdias que podiam cortar pela metade. O filme podia ter no máximo 2 horas e estava bom. O legal é ver o Indy de novo. Podiam ter feito algo muito melhor, mas há franquias que Hollywood nunca souberam aproveitar muito bem (Indiana Jones e Alien foram algumas delas). A tentativa de Hollywood apagar a importância dos russos no final da Segunda Guerra é sempre patética de se assistir.
Carta à Minha Mãe Para Meu Filho
3.2 5Um curta metragem cheio de qualidade técnica onde a diretora transborda suas percepções sobre a maternidade e sobre sua mãe, já falecida. O filme tem uma carga emocional muito grande para a diretora, mas ao meu ver é essa a dificuldade em se conectar com a proposta. Talvez por eu não ser mulher e consequentemente não ser mãe, mas acho que por ser mais um filme da diretora para ela mesma. O filme passou quase como um sonho para mim, há momentos que não consigo mais nem lembrar direito, ele parece encoberto em névoas oníricas, e isso é um ponto positivo. Na mesma linha, temos um curta metragem brasileiro (São Seus Olhos Tristes) dirigido pelo Antônio Rafael, que conseguiu me emocionar e me prender bem mais com um orçamento e consequentemente técnica bem inferior a este, mostrando que o que vale mais é o sentimento que cria no telespectador.
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Os Piores
3.8 1Vencedor do Prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Merecido prêmio e excelente filme. Confesso que demorei um pouco para entrar no filme, mas depois que eu estava dentro duto se desenvolve muito bem. Os personagens vão cativando, um vai dando lugar para o outro e sem que percebemos estamos dentro daquele mundo que é o retrato de uma Europa que muitos se recusam a mostrar. Uma sociedade falha com pessoas tão especiais, renegadas muitas vezes por seus semelhantes. Ao mesmo tempo revivi medos e anseios da minha adolescência tão claros ali no filme. A narrativa rápida e crua, que pareceu atrapalhar em um primeiro momento, no fim se mostra necessária e cai como uma luva. No fim queria acompanhar Lily e Ryan por todo o caminho que ainda lhes resta. Atores mirins excepcionais.
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Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista AgoraNunca havia visto este e levei um choque tanto pelo salto que Bergman da no experimentalismo artístico quanto pela pior tradução de um título para o português na história deste país. Um filme profundo que quando percebi para onde ia desisti de tentar entender tudo e só aproveitei a viagem devorando as migalhas que eu conseguia digerir. Portanto é um filme para se ver mais vezes assim como Através de um Espelho (que é meu favorito do Bergman e já devo ter visto umas cinco vezes) para se construir uma ideia melhor da película. As atrizes estão perfeitas, dão um show e a parte técnica é das melhores de toda a cinegrafia do diretor. Não vou tentar analisar o filme, mesmo porque acho que a interpretação é de cada um, é exatamente esta a beleza do filme. Talvez seja um dos filmes mais difíceis do Bergman junto com A Hora do Lobo que assisti ontem, considero que é um filme que completa este e vice-versa com vários pontos que se cruzam. Vale cada minuto.
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Alice nas Cidades
4.3 96 Assista AgoraConsidere todo o meu comentário suspeito, porque este é o meu filme favorito da vida, então obviamente eu não consigo ser imparcial. Assisti pela primeira vez com legenda em espanhol em uma sala de cinema da faculdade que eu fazia de Rádio e TV no ano 2000 e me atingiu que nem um raio. O mais bizarro foi que dois anos depois eu fui viver praticamente todo o filme na minha própria vida, fato este que me faz acreditar que vivemos em uma realidade simulada, pois o número de coincidências são impossíveis. Enfim, eu acho TUDO neste filme lindo, a simplicidade, os diálogos, a relação que vai se criando, o ritmo e como tudo junto funciona tão bem. Um road movie com uma fotografia de tirar o fôlego, com atores afinados ao papel que nos entrega personagens reais. Todo aquele clima de meados dos anos 70 está intrincado ao filme. Quando eu decidi que iria fazer arte de alguma forma, sabia que independente do que fosse, esse filme sempre seria um exemplo a seguir do que eu queria. Hoje, na literatura, espero um dia conseguir escrever um Alice nas Cidades de alguma forma.
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Chico Ventana Também Queria Ter um Submarino
2.9 3 Assista AgoraIndicado no Festival de Berlim em uma das competições paralelas. É um filme muito mais sensorial do que narrativo, portanto pode não agradar muita gente pelo seu pé no experimentalismo. Eu achei bem legal de um modo geral, há cenas bem instigantes que nos passam sentimentos muito diferentes, o telespectador precisa estar aberto para a experiência que a película proporciona. Achei que teria sido muito melhor se o diretor tivesse aproveitado mais para desenvolver a relação entre o marinheiro e a mulher do apartamento. As cenas te instigam a prestar atenção no que está acontecendo em tela em alguns cenários meio lynchianos. O tradutor do título no Brasil comeu bola, pois "Chico Ventana" significa "Garoto na Janela" em espanhol e não é o nome do personagem: "Garoto na Janela" faria muito mais sentido no contexto do filme.
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Um Amor na Alemanha
3.4 4Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Wajda é sempre acima da média e aqui não é diferente. Hanna Schygulla carrega o filme nas costas, é uma bela interpretação, não à toa merece a fama que a precede. O comportamento dos personagens me incomodou bastante, afinal a mulher tem um filho pequeno que deveria ter alguma prioridade em sua vida, enquanto o polonês age que nem um idiota em determinado momento. Porém não podemos esquecer que se trata do Wajda, portanto o filme é muito mais profundo do que parece, pois tudo não passa de uma alegoria sobre sua Polônia em vários momentos do filme, com vários aspectos políticos entrelinhas. Interessante notar que mesmo sendo um filme feito na Alemanha, as raízes do diretor polonês se sobressaem mais. No final da sessão o que fica é bem mais do que satisfatório.
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Adorável Inimiga
3.7 2Um belo faroeste com tudo o que a gente pode querer ver neste tipo de filme. Último filme com a parceria entre John Wayne e George Heyes (o tiozinho bêbado que dirige a carroça), os dois atores eram grandes amigos na vida real. É um dos mais de vinte filmes em que Wayne contracena com Ward Bond, ou seja, tem vários elementos que fizeram de Wayne o ícone que ainda é. Mas nada disso funcionaria tão bem nesta película se não fosse Ella Raines, que mulher mais maravilhosa, rouba as cenas em que aparece e dá um baita peso para o filme. O roteiro é bem amarrado e consegue até trazer algumas surpresas no desfecho. Cumpre o que promete.
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Libertárias
4.1 28Um filme que engana muita gente, mas que achei bem ruinzinho. É um filme que teria que ter sido feito por alguém realmente revolucionário e principalmente dirigido por uma mulher, Vicente Aranda simplesmente não tinha ideia do que estava fazendo. É extremamente visível as raízes conservadoras da igreja permeando todo o filme, em nenhum momento há alguma análise ferrenha da mesma no campo ideológico do que foi a Guerra Civil Espanhola, sem contar o fato do diretor ter em seu currículo inúmeros filmes de objetificação feminina. Há até xenofobia na retratação dos árabes, tentando colocar para baixo do tapete o comportamento dos fascistas espanhóis de Franco. Tentar escancarar o apoio que o ditador teve na guerra de outros países europeus também passou bem longe. No final a mensagem que fica é tão estranha que não dá para ter certeza do que o diretor queria com o filme. Podiam mudar o título para "Um diretor em cima do muro". O filme podia ser muito melhor do que é, e eu simplesmente não entendo como muitos pró-revolucionários caem no papo furado dele. A linha narrativa pode até funcionar, você se envolve com alguns personagens, mas no geral o filme é um grande desserviço.
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MicMacs - Um Plano Complicado
3.9 161 Assista AgoraUm belo filme do Jeunet, mesmo não sendo perfeito como seus trabalhos anteriores (Ladrão de Sonhos e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) a história consegue nos conquistar. Todo o discurso anti empresas armamentistas é o que faz o filme valer mais a pena, mesmo com a visão eurocentrista que não consegue entender a diferença de um grupo terrorista para um grupo revolucionário (o I.R.A. é colocado no mesmo barco em um momento, por exemplo). O elenco funciona muito bem juntos e a parte técnica tem todas as particularidades que fez do diretor ser quem é. Achei que faltou mais articulação do personagem principal, poderia render diálogos melhores.
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Pegando a Estrada
3.9 13Indicado ao Câmera de Ouro no Festival de Cannes. Excelente estreia de Panah Panahi, filho do já lendário diretor Jafar Panahi, parece que o talento na família transborda. Perdeu o prêmio em Cannes para o filme Murina, que por mais que eu tenha gostado bastante, achei inferior a este aqui. O elenco esbanja talento e quando você menos espera já está completamente imerso no filme. Rayan Sarlak, o garotinho, é de longe um dos maiores talentos mirins da atualidade. A única coisa que me incomodou um pouco foi que o irmão mais velho não foi tão bem aproveitado como todo o resto da família, existe um motivo para isso, mas achei que se ele tivesse seu "momento" o filme poderia ter sido ainda melhor. O filme acaba e você fica querendo acompanhar os personagens por muito mais tempo. A direção técnica também é muito acima da média para um estreante, tudo é conduzido em um nível profissional que impressiona. Eu simplesmente amei!
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Para Não Falar de Todas Essas Mulheres
3.5 34O filme diverte e tem seus momentos, mas acho que o que mais peca é que não é um filme memorável do diretor. Até os seus filmes menores ficam na minha mente por dias, faz a gente pensar e degustar o filme mesmo muito tempo depois de ter assistido, este parece que não tem essa qualidade, duas semanas depois você já não recorda de alguns detalhes. Mas como eu disse, é divertido (adoro as comédias do Bergman) e tem toda uma crítica por trás das situações absurdas que vão sendo construídas e amaranhadas de um jeito que só o diretor sabia fazer. Me parece que entre as obras existencialistas profundas ele sabia se divertir para aliviar o estresse.
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Verão de 85
3.5 173 Assista AgoraOutro indicado ao Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Confesso que nunca assisti a um filme do Ozon, foi meu primeiro. Disseram que é um filme bem abaixo da média do diretor. Achei um bom filme, quando o romance engrena me convenceu mais do que ao Me Chame Pelo Seu Nome, porém antes de engrenar é meio estranho. O personagem David, interpretado por Benjamin Voisin, é muito creepy, parecia mais um personagem saído de um filme de terror. Achei a condução boa até certo ponto, há alguns anticlímax que não funcionam e no final alguns pontos eu achei meio bobo. Mas o que mais importa para mim é que foi uma película gostosa de assistir na maior parte do tempo e na média achei um bom filme. O ator principal, Félix Lefebvre, é um dos pontos altos do filme, convence.
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Para Onde Ir?
3.5 3Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme tem um forte tom nacionalista e segue uma certa linha ideológica contra a emigração para fora do país que o Líbano sempre sofre em tempos de crise, porém, não vi nada exagerado sendo contado. Eu mesmo vivendo como imigrante fora do meu país vejo muitas das coisas que o pai se refere em certo ponto, sair de seu próprio país está longe de ser uma solução fácil, infelizmente é um risco que temos que correr. O diretor consegue exaltar pontos culturais e contar uma história simples e interessante de uma forma bem direta, e de quebra ainda nos envolver com os personagens. Acho que o mais interessante aqui é vermos referências ao Brasil, para nós, brasileiros. É sabido que muitos libaneses enriqueceram por aqui, mas será que eram camponeses sem nada ou esses "Maluf's" da vida que já chegaram abastados? Um filme muito bom, que não envelheceu mal e ainda é muito relevante ao debate que propõe.
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A Esposa de Tchaikovsky
3.5 20Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Não da para dizer que é um filme fácil, muito menos que seja para qualquer tipo de público, mas achei que para o que o filme se propõe a fazer foi ótimo. O elenco é um primor, o diretor é excelente e a história conforme vai sendo contada é envolvente. Não tinha ideia de nada sobre a vida do compositor e depois de assistir ao filme fui dar uma pesquisada e pude notar que o filme é extremamente fiel a biografia deles segundo pesquisadores. Alguns momentos podem parecer apressados, mas o filme abrange um período onde muita coisa aconteceu, gostei que a película é focada nela, o compositor é um importante coadjuvante. Alyona Mikhailova merecia ser mais aclamada pelo papel. Acho tão enfadonho pessoas reclamando de cenas de nudez masculina enquanto se fosse feminina iriam normalizar. A cena experimental da sequência final é de tirar o fôlego de tão linda. A nota nos créditos que dizem que eles nunca mais se encontraram depois da separação não condiz com algumas pesquisas que dizem que eles se viram sim, para o desgosto de Tchaikovsky, pouquíssimas vezes. Adorei!
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Uma Lição de Esperança
3.9 19 Assista AgoraO filme funciona, mas apenas como uma peça de ficção. Não que algo parecido não possa ter acontecido, o cérebro consegue trabalhar como mostrado no filme, inclusive muitos contadores de cartas que tentam burlar cassinos trabalham de forma parecida, mas esta história jamais poderia ter acontecido com o idioma farsi e explico porque. Em 1936 Hitler declarou os persas imunes as Leis de Nuremberg por serem considerados arianos puros, pesquiso a relação de Hitler com os persas já há alguns anos e moro na cidade em que Abdol Hossein Sardari viveu seus últimos anos e veio a falecer. Sardari era consul iraniano em Paris em 1942, que além de brigar pela liberação de muitos judeus persas concedeu o passaporte persa de forma ilegal para outros judeus salvando um incalculável número de pessoas, foi homenageado por várias associações judaicas. Achei que o filme era sobre um homem tentando provar que era persa para ser liberado, mas para a minha surpresa não era bem isso. O elenco está muito bem e apesar do filme se estender demais é muito interessante como constrói toda a sua narrativa. A direção é estupenda e a construção do idioma é fabulosa. Engraçado como há algumas palavras reais, como "anta" que ele diz que é "mãe", e que no árabe significa "você" usado na forma masculina. O final emociona. O idiota que traduziu este título para o português deve ser o mesmo do Vida de Campeã, né? Só pode! "Lições Persas", como o original, era um título muito melhor.
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