O cara é tão bom que eu nem parei pra perceber a mudança de "tom" que o filme dá no último ato enquanto eu assistia, só depois do filme que fui refletir como ele tira esse pé da realidade pra aceitar esse Universo de fantasia e heróis. A ficção é tão forte e o Shya acredita tanto na fantasia que quando ele aceita ela de vez no filme passa sem ser notado, em nenhum momento é uma virada brusca, é simplesmente o cara fazendo o que ele faz de melhor.
McAvoy tá absurdo aqui e a direção do Shya agiganta a atuação ainda mais, vira quase show off. Como ele quase sempre opta por planos mais longos que redefinem o foco dentro da cena, McAvoy consegue ir mudando de personalidade enquanto o Shya só dá uma movimentada na câmera pro lado e quando volta já é outra atuação. A cena em que ele encontra dois reflexos de espelhos diferentes pra enquadrar o McAvoy e cada vez que ele foca em um é uma personalidade diferente é ridículo. Escolhe também mostrar a reação ao invés da ação. Quando McAvoy entra vestido de mulher pela primeira vez, antes vemos a surpresa de Casey pra depois vermos o sequestrador. Quando a menina bate nele com a cadeira, o foco é muito mais a reação disso do que no ato em si. O que importa são os próximos passos e como irão reagir a eles.
Tematicamente, mais um filme do Shya trabalhando o que faz seu Cinema existir. Mas o modo como ele conta sua história aqui é renovador e emblemático do quão incrível Shyamalan é. A mistura de gêneros e tons que enaltece cada próxima cena sem nunca anular qualquer terror com a comédia ou vice-versa deve ter sido das coisas mais delicadas do filme e que necessita de um feeling que só quem entende muito do que tá fazendo possui. Wes Craven ficaria muito orgulhoso disso aqui.
A escolha do found footage como desconstrução de gênero que coloca a câmera como personagem e também como objeto de cena ao quebrar a maçaneta proporciona o Shya brincar tanto dentro do gênero que ele sempre dominou; não tem como resolver tudo em poucos planos mais, mas tem como decupar todo o filme com uma clareza pra enquadrar que a maioria dos diretores formais não chega perto. E o modo que ele conduz essa estranheza do filme sem explodir de fato (só no fim claro) vai nos consumindo por dentro, carregando uma tensão que precisa ser extravasada, só que demora pra chegar. Aqui, até mais que em A Vila, tem um humor negro bem sutil que nos deixa sem saber como reagir, se é pra rir ou pra ficar tenso, é desconcertante.
Shyamalan é isso ai: O olhar poético de Becca com o puro divertimento de Tyler.
Jornada de reconciliação do Homem com a Terra. O embate com macacos, ou seria com nossa ancestralidade?, a purificação da água e a volta da escrita nas paredes da caverna que marca o recomeço dessa relação. Nessa busca por sobreviver na Terra, que se adaptou para se proteger de nós, inimigos, Kitai faz as pazes com ela e pode ter certeza que quando é assim, a Mãe Natureza volta pra nos ajudar.
A ciência de Will Smith, que tenta explicar todos os fenômenos acontecendo com seu filho, foi quem virou as costas pro planeta; enquanto Kitai, que ao falar com seu pai também fala com Deus, olha pra cima, pergunta onde estava nos momentos em que precisou e lembra que sua irmã chamou por ele antes de sua morte. Quando mais precisou de ajuda, Kitai buscou no céu a comunicação e terminou se ajoelhando para, assim, encontrar o caminho, a Montanha. Assim como a família de Graham Hess em Sinais, voltando do porão para encontrar o ET, Kitai encontra lá seu monstro, ultrapassa seus medos e se apóia na fé, atinge seu estado de graça e volta pra abraçar a família, reconciliado. Com seus pais, com seus traumas e com seu planeta.
Aqui e em Lady In The Water, Shya parece estar bastante interessado em dar uma provocada nesse tipo de espectador que busca fazer uma leitura aguçada de cada elemento cinematográfico, absorvendo deles um entendimento mais complexo a respeito do que está na tela; ao invés, de aproveitar o poder da imagem e participar de fato da história. No filme anterior com o crítico de cinema que acaba morto pelo que ele próprio tentou entender, enquanto aqui, é basicamente a premissa do filme todo. Em nenhum momento o filme entrega nenhuma validação para as suposições que Elliot cria a respeito da causa dos suicídios. Primeiro ele sugere as plantas, depois que precisavam ficar em pequenos grupos, e quando isso também dá errado, é porque as plantas já estão mais espertas. As câmeras de Shya confiam no protagonista e começam a dar maior enfâse as plantas e aos ventos potencialmente perigosos, só que nunca atesta que aquela hipótese é verdadeira. E isso é de uma ironia maravilhosa, se correr do vento e ter medo de plantas parece tosco espectador, é você que começou a acreditar nisso ai.
Mas como também não fujo muito deste tipo de espectador, preciso constar que é notável como Shya aborda esse EUA pós-11/9, alertando para uma desunião social que enxerga em qualquer pessoa um inimigo do mais perigoso, uma sociedade traumatizada e conspiratória. No "Dama" ele buscava nas tradições orais um meio de união das mais diferentes pessoas por uma crença em comum. Aqui, é uma sociedade que enxerga na desunião uma possível solução para o problema, sendo que a real solução, na verdade, é deixar de lutarmos contra nós mesmos e buscar uma conciliação que leva, como sempre, ao sucesso familiar. Shya nos avisando que estamos andando para trás.
*personagem vê um carro do exército* -Olha o exército, agora estamos a salvo! *militar sai do carro correndo sem saber o que fazer*
Não é o Shyamalan das reviravoltas, dos segredos, mas sim da fábula, da ingenuidade e, obviamente, da fé. Não da fé religiosa ou das forças superiores, como em Sinais, mas da fé na ficção; o Shya que acredita no poder desses contos orais, na narrativa e que busca uma sociedade que se concilia por meio das tradições, ao invés de se separar devido a elas.
Nesse microcosmo do diretor, que une asiáticos, indianos, americanos e personagens dos mais diferentes, só sobrevive quem acredita, não porque não questiona o que é dito, mas porque confia no poder da palavra e das histórias. Confia porque participa disso tudo e vê seu papel dentro da missão. Agora, quem se entende como leitor da realidade, que ao invés de participar, analisa, desconstrói a mensagem em busca de um significado escondido, termina morto por aquilo que buscou desmontar. É bizarro ver tanto crítico de cinema que ficou dodói pelo personagem de Bob Balaban, sem nem tentar entender como este se diferenciava do resto do filme.
O prólogo do filme é o momento definitivo para o espectador, ou se abraça essa mitologia e acredita no poder da história (exatamente o que se espera de quem vai ao cinema, não?), ou desiste do filme, porque é somente isso que ele exige. Não é meu Shya preferido, entendo a condução direta do filme, que não empaca em nenhum conflito principal, mas vai solucionando rapidamente cada tropeço que aparece no caminho, típico de um universo infantil, mas não é meu preferido. Também senti falta da direção econômica de Shya, que resolvia tudo em poucos planos e mudando de foco, reestruturando a cena; aqui, Shya é mais convencional, mesmo com momentos tão notáveis, como quando a câmera transita mirando de cima pra baixo, visualmente bem bonito. Por fim, entendo como esse jogo de câmera mais editado e que não evita o contraplano favorece na construção desse cosmo de Shya que precisava ser comprado pelo espectador como única realidade possível onde a magia acontece, um lugar quase que com vida própria e que tem na piscina seu coração.
Pessoas comuns que são agraciadas com o sobrenatural e recebem uma missão que exige fé e que termina por conciliar o missionário com sua família, mesmo que morta.
Construir a vila, para depois descontrui-la; Criar o mistério para transformar em romance; Apresentar a esperada surpresa de um filme quase que na metade da duração, para depois revelar o twist de fato ao final.
Shyamalan aqui, mais do que qualquer intenção política pós-11/9, brinca com a ingenuidade e ignorância, das personagens e do público, este que controlado pelo ponto de vista que o diretor nos apresenta, termina cego como a protagonista. Se a filmografia de Shya nos apresenta a importância da crença, em A Vila ele nos força a descrença, aos problemas em confiar fielmente em algo. Subverte o clímax da perseguição, ocorrido depois de já ter feito a revelação, nos provocando (e aqui incluo tanto nós quanto Ivy): Você já sabe a verdade, mas vai ficar com medo do monstro ou não?
Subverte também a cosmologia da Vila, que apresentada como um lugar idílico e elegante (mas sem nunca se afastar de uma certa estranheza, principalmente vinda de seus personagens principais), se mostra obscura e cega, sustentada pela crença, mas que se arrisca a ruir a qualquer momento.
Transita entre o mistério, -dos monstros, do que não se sabe e dos riscos da cor (ou fruto?) proibido- e o romance -que garante vida a vila, que protege os anciões e que não vilaniza a continuidade da inocência-, acerta no humor pontual, que funciona pela montagem, como na cena do pedido de casamento que termina em choro incondicional, e nas atuações, sempre peça fundamental para que os filmes de Shya funcionem.
Por fim, Shyamalan continua com suas câmeras econômicas, suas cenas que se remodelam sem cortes, suas lentes mudam de foco e nos carregam para outros pontos dentro do mesmo plano. Recusa os contra planos e resolve tudo do modo mais simples possível, nos aliena enquanto aliena seus personagens. Aliena tanto que diversas vezes termina a cena conduzindo sua câmera para o nada, para uma cadeira de balanço ou para outro objeto, escolhendo detalhadamente o que o por quanto tempo iremos ver.
O filme definitivo de Shyamalan: as melhores cenas de suspense e de epifania que ele já filmou (e das melhores tensões que já vi também), a trilha sonora estridente que ficou marcada em filmes de aliens, o gênero subvertido, enquadramentos detalhados que potencializam as cenas e fazem de Sinais um filme conciso e direto ao ponto. Até por isso, Sinais é para quem ainda não tinha entendido o porquê que Shya faz seus filmes, sua crença em uma força suprema nunca antes tinha sido exposta tão diretamente e tão central dentro de seu filme. Esse aqui é pra entender o diretor, se apaixonar pelo seu Cinema e pelo Cinema em si.
Os diálogos que ele escreve, ainda mais engrandecedores quando todos os atores estão absurdos, concretizam a tese central de Sinais, sobre os menores detalhes terem um porquê e sobre a necessidade de se acreditar, de haver Fé para que esta solidifique a instituição Família. Mesmo essa comunicação com o Divino sendo via de mão única (assim como as rezas de Graham e Bo para a mãe, ou como o walkie-talkie de Morgan) devemos estender nossa mão para o Céu, nos elevarmos o mais alto possível, que seja subindo em carros, para que entendamos a mensagem; inclusive o plano que Shya acha da mão de Morgan com o rádio se esticando aos céus evidenciam como o diretor é sim um diretor excepcional e não só um "storyteller" como muitos gostam de dizer.
Sempre abrangendo um problema macro em um único personagem micro, cabe ao Graham Hess de Mel Gibson carregar o peso da perda da fé, da repulsa as decisões divinas e da futura reconciliação com o Além. Gradualmente Mel Gibson vai sendo enquadrado mais apertados pelos batentes de porta, primeiro pelo batente todo, depois pela fresta da porta de seus filhos, até chegar a seu confronto com o sobrenatural de fato, na dispensa de Ray Reddy, na fresta inferior dela. Cada vez mais pressionado e receoso sobre suas certezas, é nesse momento que Graham primeiro se enxerga na faca, mas não enxerga o monstro, bem simbólico do personagem, mas depois, encontra com ele de fato, com uma edição confusa e desnorteadora, até finalizar por esfaquear os dedos do Alien e fugir. E são esses momentos de encontro com a verdade, os momentos de Epifania, que na minha opinião, que mais marcam o Cinema de Shyamalan.
A cena de "I see dead people" em O Sexto Sentido, o momento do supino em "Unbreakable" e aqui, a primeira vez que a família vê os ETs pela televisão, confrontando as opiniões de Graham, e o suspiro que renasce Morgan nos minutos finais, prova definitiva de tudo que o protagonista sempre questionou. São esses momentos que realmente elevam a Fé de Shya por Deus e por seu Cinema. Momentos que alteram a visão de seus protagonistas perante o problema do filme, dão a eles uma informação que por início não sabiam ou se recusavam a acreditar, dando começo a este processo de aceitação e futuro uso disso para resolver o problema e reatar com a Família. E como é o diretor que coloca estes embates para seus personagens, nada mais lógico do que Shyamalan ser Ray Reddy, o homem que colocou em cheque a fé de Graham. Na cena em que se encontram no carro, Ray Reddy/Shyamalan pede desculpas por ter feito isso com Mel Gibson; é genial demais.
Depois das epifanias e dos embates que tiram as dúvidas de Graham, vem a Última Ceia, quando Graham já não crê em sua salvação, quando o Mal já veio a Terra e dele não há como fugir, então o melhor é se despedir da melhor maneira possível. Acho que nem o diretor imaginava o quão absurdo essa cena seria, principalmente pelas atuações dos 4 familiares. A raiva de Morgan pelo pai que evidencia a desestruturação da família, o choro de Bo e o desmoronamento de Graham quando não parece ter mais saídas possíveis, terminando com o abraço coletivo de todos. Joaquin Phoenix já tinha dado seu show particular na sua epifania, ao ver o ET da gravação brasileira e surtar de medo.
Chegamos então ao Inferno, o porão da casa dos Hess. Aqui Shyamalan demonstra uma influência absurda de Hitchcock, principalmente de Os Pássaros ( e também da claustrofobia de Romero em The Night Of The Living Dead), optando pelo não mostrar e pelo uso do som para criar a tensão, contando com a imaginação do espectador para gerar medo. É a luz que apaga, a preferência do diretor em (não) filmar o clímax, preferindo a lanterna no chão do que a ação (no escuro) e o foco no rosto de Merrill quando Graham faz seu último discurso de desesperança no filme. E claro, pelo uso da trilha sonora, digna dos maiores filmes de suspense e de Hitchcock por consequência.
Quando Graham entende que é preciso acreditar, agora falta Shyamalan o colocar à prova de sua última lição: que tudo tem um porquê. Eles voltam a parte de cima da casa, enfrentam o monstro e entendem a importância de cada detalhe, sendo finalmente salvos pelas águas bentas espalhadas pela casa. E se é pela TV que Graham vê o monstro pela primeira vez na cena, é porque eram pelas TVs que o medo se espalhava, pelas notícias dos jornais e agora pelo seu reflexo; se em Poltergeist o "monstro" saia dela, aqui, é por meio dela que o descobrimos. Como já dito, ao final, a crença é remontada, a família se reúne e tudo volta ao normal, típico de Shyamalan.
Shyamalan e sua devoção: ao divino e a arte de contar histórias.
A segunda pelo modo como articula esse filme de origem heroína, fazendo o seu basicamente do primeiro ato de um filme tradicional de herói, a descoberta e aceitação do seu dom. Subverte o gênero e também seus estereótipos, recusa a figura afastada e irreal do herói e o chama para perto, o mitifica sem recusar sua simplicidade, evidencia que esse extraordinário existe no cotidiano. Mas também, Corpo Fechado é uma homenagem aos quadrinhos e a narrativa em geral - brinca com o final surpresa (assim como a primeira revista de Elijah), com o confronto entre Bem e Mal, com a figura do herói - e eleva o poder do fantasioso (fantasia essa que Shya sempre buscou em seu Cinema, inspirado por Spielberg e pela magia que esse coloca em seus filmes, no sobrenatural de ET que enche os olhos e nos faz acreditar que aquilo é possível, na real arte de se contar histórias e fazer com que o público se conecte com elas), do que Mr.Glass fala tão bem em seu diálogo com a mulher de Dave, da crença no divino, ou seja, a fé.
Quando Bruce Willis coloca sua roupa verde com capuz, se torna tanto um uniforme de herói quanto um manto santificado, eternizado no plano que Shya restringe ao tecido e as mãos do personagem antes de efetuar seu ato. Assim como em O Sexto Sentido, a bênção vem quando seus personagens aceitam seus dons e os utilizam para distribuir o Bem, no sentido mais puro da palavra. E nessa jornada de aceitação, suas famílias entram em risco de desmoronamento, em seu filme anterior, a relação do filho com a mãe estava conturbada, enquanto aqui, Dave precisa se reconectar com seu filho e em seu casamento. Aceitar o sobrenatural, se provar o real herói que seu filho acredita que é, que Elijah sonha em encontrar (para também se achar nesse mundo), unir sua família e entende-la como a solução, a Instituição onde a Fé se demonstra, não negar mais a intervenção e saber como usá-la, enfrentar sua fraqueza e renascer dela. Mostrar que o Santo é forte e que a Revelação vem ao final.
Primeiramente, como é excepcional esse primeiro trabalho de relevância do Shyamalan. Cresceu muito na revisão, o que é ainda mais notável sendo um thriller bem pautado em um twist, mas que se sustenta facilmente em outras assistidas, principalmente pela maestria do Shyamalan em contar essa história e na qualidade de seu conteúdo que podemos nos debruçar para reler mais de uma vez.
Meio difícil falar algo que já não seja manjado desse filme, mas vale reforçar o quão gigante é o storytelling do Shya. Um twist que, assim como a moeda da mágica, estava lá o tempo todo, o filme nos levou para a outra mão, nos colocou no bolso, mas a moeda? ela sempre esteve na nossa cara. Twist que não coloca um ponto final na história, mas sim um botão de replay, despertando instantaneamente nossa vontade em rever tudo de novo, e com gosto, porque vale a pena demais. Construir um suspense desse que basicamente não precisa do twist pra se sustentar -já que o resto do filme por si só é tão gigante quanto, a atuação de Haley, a cadência com que a trama se desenvolve e o terror que aos poucos vai entrando em cena - é notável. "I see dead people" não só muda nossa cultura e entra pro hall de momentos icônicos que todos conhecem, mas também nos faz achar que mudamos nosso olhar perante o filme, como se agora também estivéssemos vendo essas pessoas mortas; só que na realidade, sempre fomos os olhos de Malcolm, ou de qualquer outro fantasma, que só enxergava o que queria ver.
Mas voltando a se debruçar um pouco mais no que Shya tá lá pra dizer, ainda mais agora que estou empolgado pra partir daqui até o fim de sua filmografia, é interessante como seu cinema é da fé, da crença e, aqui, da imobilidade:
A moeda que sempre esteve no mesmo lugar, o relógio de Cole quebrado, parado no tempo, a história do médico que dormiu ao volante e acordou dando voltas sem sair do lugar, ou até o colar que nunca sumiu, só mudou de posição. Sobre não superar, permanecer parado no tempo após um evento traumático, tanto os fantasmas, quanto os vivos. Um luto interminável. Temos tanto desejo em congelar todos momentos que vivemos, assim como as fotografias de Cole que sua mãe possuía ou como a imensidão de pais que filmam a peça de teatro de seus filhos, que acabamos congelados em algum destes para o resto de nossas vidas. Traumas que deixam pendências para o resto de uma vida e é isso que Cole vem pra resolver. O elo de ligação entre esses dois mundos, podendo concilia-los e garantir a paz em ambos lados, permitindo que os fantasmas passem o resto da eternidade em paz, como memórias; e que os vivos sigam em frente. Ao entender seu papel e entender como um presente e não uma maldição, Cole também resolve sua pendência, se descongela desse momento e soluciona dois problemas: o seu e o de Malcolm. E, enquanto este problema o assolava, a solução para Shyamalan era a fé, a Igreja onde se protegia ou mesmo a cabana que virava seu refúgio.
Nunca tinha ouvido falar de Fred Rogers e não fazia ideia do que era o documentário quando fui assisti-lo, inclusive estava achando, no começo, que haveria alguma polêmica entre Fred e as crianças, mas fui felizmente surpreendido e impactado de uma maneira que há tempos não era.
O maior mérito desse documentário é conseguir, por meio da trilha, montagem e direção, passar a essência e a mesma sensação de um programa e de uma fala do F. Rogers. O modo como tudo é conduzido, enquanto aquele piano gostoso no fundo vai tocando, é tão leve que te relaxa enquanto você conhece mais dessa pessoa tão incrível como o apresentador. Uma experiência tão otimista e prazerosa, com entrevistados tão bons, faz com que o documentário chegue no seu máximo de aproveitamento; mais do que uma dissecação dessa personalidade curiosa de Rogers (o que é feito de maneira muito eficiente), o filme é a própria personalidade de Rogers, o filme dá voz a Fred continuar passando as mensagens que defendeu a vida inteira, mesmo depois de morto, com a mesma essência. Uma obra gigantesca.
Sobre Rogers em si, é quase inimaginável como o cara conseguiu falar sobre temas tão distantes do que estamos acostumados a ver em programas infantis e fazer de uma maneira que nem programas "adultos" conseguem fazer. Falar sobre morte, depressão, doenças, aceitação, racismo, na realidade que a gente vive hoje ainda é possível imaginar as polêmicas que isso daria, e o cara fez isso na década de 60...
Por outro lado, alguns momentos chegam a ser extremamente melancólicos, pela recepção de parte da população com FR e como a sociedade é podre e prefere se atentar a detalhes bestas ao invés de se focar nas lições tão poderosas que poderíamos aproveitar. É uma bela balança, de um lado o otimismo de Rogers e de outro a desilusão que a sociedade nos faz ter com a realidade.
Obs.: Me pareceu nítida a influência do programa de Rogers a Carl Sagan em Cosmos, a postura pacífica e respeitosa enquanto passa o conhecimento da maneira mais lúdica e didática possível, aliando muita informação com entretenimento. Dois gigantes. Que hajam mais Sagans e mais Rogers.
Primeira cena e o skate faz Camille sangrar, parecendo que está menstruada. O skate como o início do coming-of-age, a vontade de ser independente e de descobrir o mundo, nesse caso, a cidade, percorrendo toda a geografia de Nova York.
O problema é que essa estética bem Festival de Sundance, indiezinha, cheia de momentos slow motion e música pop enquanto elas e eles fazem manobras no skate e sorriem um pro outro é tão broxa; uma ou outra vez até vai, mas insiste nisso toda hora. Falta um pouco de crueza, sujeira à Skate Kitchen, pois ao mesmo tempo que a abordagem quer ser documental, também precisa soar sempre higiênica e jovem demais.
Toda a construção de relação entre as skatistas é interessante e casa sem problemas com o plot da protagonista com sua mãe, já todo o rolo com o filho do Will Smith é tão preguiçoso pra criar um conflito entre elas que tira muita força desse filme. Essa exploração de todos os cantos da cidade como forma de auto descoberta era tão mais potente que sair disso pra ir para uma briga por homem é fraco demais. Termina como mais um filminho indie descolado pra Sundance curtir.
Realmente acho desktop horror um gênero com potencial absurdo pra brincar com a linguagem cinematográfica, com mise-en-scene e construção de narrativa, é muito prazeroso ter Searching... e Unfriended no mesmo ano. O uso do desktop aqui no primeiro ato ainda tem uma sensação bem voyeurista de estar vasculhando o PC de um desconhecido, o que nos dias de hoje, é tão ou mais curioso do que observar o dia-a-dia das pessoas pela janela como em Janela Indiscreta ou uma mulher dançando sensualmente em Body Double. Além disso, o desktop horror emana um imediatismo que potencializa muito a tensão por estar tudo ocorrendo "no agora", ainda mais pela impotência dos personagens em não poder resolver um problema que eles não tem conhecimento para lidar, faz com que eles realmente virem cartas marcadas para morrer a partir de um certo instante, bem digno de um filme de terror. E é nessa ideia que o gênero ainda pega elementos do found footage, com webcams balançando, esse tom mais realista e cinematografia "caseira".
Sem falar de como tudo isso vem como uma punição pelo ato imoral do protagonista, o castigo por isso vem do virtual, da internet, como algo divino e que não se tem como parar. E que ainda acaba envolvendo todos os seus amigos.
Não sendo suficiente, dá pra falar que Unfriended acaba indo para o lado de um torture porn? Tanto psicológico quanto físico? Assisitir a esse sofrimento que os protagonistas estão passando sem poderem fazer praticamente nada não é tão sádico quanto ver as torturas do Eli Roth? Além de em alguns pontos específicos da trama realmente ir pra essa pegada mais ~obscura de tortura.
Por fim, o filme ainda é muito criativo em suas abordagens tanto na dinâmica do tela de computador, quanto para bolar algumas mortes que ocorrem. O dinamismo de várias abas abertas ao mesmo tempo, nos permitindo acompanhar vários diálogos simultaneamente e, também, o acesso à informações dos próprios personagens só pesquisando no Google agilizam demais a trama sem nunca soar preguiçoso. E sobre as mortes,m específico a da ligação para polícia, a que envolve uma escolha e a última são absurdamente criativas e surpreendentes abrindo ainda mais espaço para onde o gênero (e a franquia) poderem brincar no futuro.
Deve ser muito triste ser um cineasta e saber que nunca fará algo que chegue aos pés do que o Craven fez com a franquia Pânico, né? Insuperável.
Por mim o gênero devia ter sido encerrado depois da cena da fuga no carro de polícia nesse filme aqui, Craven zerou o Cinema, não precisa de mais nada.
Mas, ainda bem que não acabou, pelo menos ainda tenho mais 2 filmes disso aqui para ver.
Wes Craven é meu pastor e nada me faltará. Feliz Natal.
Interessante que no momento do discurso sobre "O Nascimento de uma Nação", Lee elabora a tensão entre o batismo da KKK e da reunião da União dos Estudantes usando a montagem paralela, recurso tão exercitado por Griffith no começo do século passado. É mais um dos deboches de Lee aos supremacistas, dessa vez, se apropriando da linguagem usada por eles para passar a sua mensagem.
Neste mesmo momento, o discurso na União comenta como o filme de Griffith foi um blockbuster da época; só que agora o filme que ganha as bilheterias é esse aqui. São pequenas vitórias que o diretor gosta de lembrar.
Porém, eles estão batendo na porta, ainda não acabou.
O Cinema americano existe para ter Marilyn como fetiche.
Tudo aqui gira em torno dela: a mise-en-scene de Wilder, a trilha sonora e claro, a trajetória dos seus personagens.
Monroe não é uma personagem, mas uma entidade insubstituível que está acima de qualquer papel que se dê a ela, um símbolo cultural, a musa suprema que todos querem por perto.
Wilder é gigante ao encenar, da cena no dormitório do trem onde várias mulheres se apertam no mesmo quadro (que enquadramento lindo!) até os momentos em que Monroe canta e a câmera apenas a admira.
Poderia ser incrível se fosse feito por um cineasta, mas infelizmente opta por ignorar infinitos recursos que a linguagem oferece e focar em entediantes frases colocadas ao decorrer dos trechos montados.
O "monstro" preto que assombrava Verônica representa o amadurecimento e as responsabilidades prematuras que ela precisa lidar ao cuidar dos irmãos e estando nesta época de passagem da idade infatil para uma mais adulta. E todo esse peso sobre ela ligado a uma falta de ajuda da mãe(e do pai) para tratar do assunto faz com que Veronica se torne uma pessoa com ansiedade e até depressão,explico. Essa insegurança/depressão começa na escola, um lugar super relevante pra pessoas da idade dela e onde ela se vê atrasada em relação as amigas, as amigas vão pra festas,fumam,ficam com pessoas,mestruam já, enquanto ela precisa cuidar dos irmãos. Estando desse jeito, ela diz para as amigas que pensa em se matar(cena do tabuleiro) e as amigas não a ajudam. Por isso, ela começa a conversar com a Freira Morte, uma pessoas mais velha, que ele podia pedir conselhos e com quem ela se sentia segura. Por isso que o "monstro"(não sei como chamar aquilo) ligava aquele Genius que tinha na casa dela, um brinquedo, que mostra como Veronica ainda quer estar na idade de brincar,de não ter responsabilidades, mas não é o que está acontecendo na sua vida. A pressão sobre ela para cuidar dos irmãos também a assombra na forma do monstro, fazendo ela ter pesadelos, às vezes ser paranoica(quando ela enforca a irmã) e sua imaturidade ainda faz com que cometa alguns erros como ao esquentar demais a água do irmão. A noite em que vê seu pai mostra como ela ainda carrega o fardo da falta de uma figura paterna e de ter que cobrir esse papel na sua casa, ainda mais com a mãe ausente. Assim, o principal símbolo dessa passagem de fase de vida é a sua primeira menstruação, que quando ocorre deixa uma marca negra(da cor do "monstro") no colchão, simbolizando esse amadurecimento que vem com a idade, algo que ela tenta ao máximo esconder/não aceitar limpando o colchão. Por fim, ela mais uma vez pede ajuda das amigas para lidar com seus problemas psicológicos e mais uma vez é mal tratada. O mesmo acontece quando vai conversar com a mãe no restaurante. Toda essa falta de ajuda faz com que Verônica, no auge de sua depressão, ligue para a polícia dando o endereço da sua casa, mas antes de eles chegarem se mata com um pedaço de vidro não suportando a realidade da sua vida. :(
É como se Noah Baumbach e John Carney, nos dias menos inspirados de suas vidas, se juntassem pra escrever um roteiro e ainda pedissem ideias pro Adam Sandler na hora de escrever os momentos cômicos. Deprimente.
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraO cara é tão bom que eu nem parei pra perceber a mudança de "tom" que o filme dá no último ato enquanto eu assistia, só depois do filme que fui refletir como ele tira esse pé da realidade pra aceitar esse Universo de fantasia e heróis. A ficção é tão forte e o Shya acredita tanto na fantasia que quando ele aceita ela de vez no filme passa sem ser notado, em nenhum momento é uma virada brusca, é simplesmente o cara fazendo o que ele faz de melhor.
McAvoy tá absurdo aqui e a direção do Shya agiganta a atuação ainda mais, vira quase show off. Como ele quase sempre opta por planos mais longos que redefinem o foco dentro da cena, McAvoy consegue ir mudando de personalidade enquanto o Shya só dá uma movimentada na câmera pro lado e quando volta já é outra atuação. A cena em que ele encontra dois reflexos de espelhos diferentes pra enquadrar o McAvoy e cada vez que ele foca em um é uma personalidade diferente é ridículo. Escolhe também mostrar a reação ao invés da ação. Quando McAvoy entra vestido de mulher pela primeira vez, antes vemos a surpresa de Casey pra depois vermos o sequestrador. Quando a menina bate nele com a cadeira, o foco é muito mais a reação disso do que no ato em si. O que importa são os próximos passos e como irão reagir a eles.
A Visita
3.3 1,6K Assista AgoraTematicamente, mais um filme do Shya trabalhando o que faz seu Cinema existir. Mas o modo como ele conta sua história aqui é renovador e emblemático do quão incrível Shyamalan é. A mistura de gêneros e tons que enaltece cada próxima cena sem nunca anular qualquer terror com a comédia ou vice-versa deve ter sido das coisas mais delicadas do filme e que necessita de um feeling que só quem entende muito do que tá fazendo possui. Wes Craven ficaria muito orgulhoso disso aqui.
A escolha do found footage como desconstrução de gênero que coloca a câmera como personagem e também como objeto de cena ao quebrar a maçaneta proporciona o Shya brincar tanto dentro do gênero que ele sempre dominou; não tem como resolver tudo em poucos planos mais, mas tem como decupar todo o filme com uma clareza pra enquadrar que a maioria dos diretores formais não chega perto. E o modo que ele conduz essa estranheza do filme sem explodir de fato (só no fim claro) vai nos consumindo por dentro, carregando uma tensão que precisa ser extravasada, só que demora pra chegar. Aqui, até mais que em A Vila, tem um humor negro bem sutil que nos deixa sem saber como reagir, se é pra rir ou pra ficar tenso, é desconcertante.
Shyamalan é isso ai: O olhar poético de Becca com o puro divertimento de Tyler.
Depois da Terra
2.6 1,4K Assista AgoraJornada de reconciliação do Homem com a Terra. O embate com macacos, ou seria com nossa ancestralidade?, a purificação da água e a volta da escrita nas paredes da caverna que marca o recomeço dessa relação. Nessa busca por sobreviver na Terra, que se adaptou para se proteger de nós, inimigos, Kitai faz as pazes com ela e pode ter certeza que quando é assim, a Mãe Natureza volta pra nos ajudar.
A ciência de Will Smith, que tenta explicar todos os fenômenos acontecendo com seu filho, foi quem virou as costas pro planeta; enquanto Kitai, que ao falar com seu pai também fala com Deus, olha pra cima, pergunta onde estava nos momentos em que precisou e lembra que sua irmã chamou por ele antes de sua morte. Quando mais precisou de ajuda, Kitai buscou no céu a comunicação e terminou se ajoelhando para, assim, encontrar o caminho, a Montanha. Assim como a família de Graham Hess em Sinais, voltando do porão para encontrar o ET, Kitai encontra lá seu monstro, ultrapassa seus medos e se apóia na fé, atinge seu estado de graça e volta pra abraçar a família, reconciliado. Com seus pais, com seus traumas e com seu planeta.
Fim dos Tempos
2.5 1,4K Assista AgoraAqui e em Lady In The Water, Shya parece estar bastante interessado em dar uma provocada nesse tipo de espectador que busca fazer uma leitura aguçada de cada elemento cinematográfico, absorvendo deles um entendimento mais complexo a respeito do que está na tela; ao invés, de aproveitar o poder da imagem e participar de fato da história. No filme anterior com o crítico de cinema que acaba morto pelo que ele próprio tentou entender, enquanto aqui, é basicamente a premissa do filme todo. Em nenhum momento o filme entrega nenhuma validação para as suposições que Elliot cria a respeito da causa dos suicídios. Primeiro ele sugere as plantas, depois que precisavam ficar em pequenos grupos, e quando isso também dá errado, é porque as plantas já estão mais espertas. As câmeras de Shya confiam no protagonista e começam a dar maior enfâse as plantas e aos ventos potencialmente perigosos, só que nunca atesta que aquela hipótese é verdadeira. E isso é de uma ironia maravilhosa, se correr do vento e ter medo de plantas parece tosco espectador, é você que começou a acreditar nisso ai.
Mas como também não fujo muito deste tipo de espectador, preciso constar que é notável como Shya aborda esse EUA pós-11/9, alertando para uma desunião social que enxerga em qualquer pessoa um inimigo do mais perigoso, uma sociedade traumatizada e conspiratória. No "Dama" ele buscava nas tradições orais um meio de união das mais diferentes pessoas por uma crença em comum. Aqui, é uma sociedade que enxerga na desunião uma possível solução para o problema, sendo que a real solução, na verdade, é deixar de lutarmos contra nós mesmos e buscar uma conciliação que leva, como sempre, ao sucesso familiar. Shya nos avisando que estamos andando para trás.
*personagem vê um carro do exército*
-Olha o exército, agora estamos a salvo!
*militar sai do carro correndo sem saber o que fazer*
eu ri.
A Dama na Água
2.8 785 Assista AgoraNão é o Shyamalan das reviravoltas, dos segredos, mas sim da fábula, da ingenuidade e, obviamente, da fé. Não da fé religiosa ou das forças superiores, como em Sinais, mas da fé na ficção; o Shya que acredita no poder desses contos orais, na narrativa e que busca uma sociedade que se concilia por meio das tradições, ao invés de se separar devido a elas.
Nesse microcosmo do diretor, que une asiáticos, indianos, americanos e personagens dos mais diferentes, só sobrevive quem acredita, não porque não questiona o que é dito, mas porque confia no poder da palavra e das histórias. Confia porque participa disso tudo e vê seu papel dentro da missão. Agora, quem se entende como leitor da realidade, que ao invés de participar, analisa, desconstrói a mensagem em busca de um significado escondido, termina morto por aquilo que buscou desmontar. É bizarro ver tanto crítico de cinema que ficou dodói pelo personagem de Bob Balaban, sem nem tentar entender como este se diferenciava do resto do filme.
O prólogo do filme é o momento definitivo para o espectador, ou se abraça essa mitologia e acredita no poder da história (exatamente o que se espera de quem vai ao cinema, não?), ou desiste do filme, porque é somente isso que ele exige. Não é meu Shya preferido, entendo a condução direta do filme, que não empaca em nenhum conflito principal, mas vai solucionando rapidamente cada tropeço que aparece no caminho, típico de um universo infantil, mas não é meu preferido. Também senti falta da direção econômica de Shya, que resolvia tudo em poucos planos e mudando de foco, reestruturando a cena; aqui, Shya é mais convencional, mesmo com momentos tão notáveis, como quando a câmera transita mirando de cima pra baixo, visualmente bem bonito. Por fim, entendo como esse jogo de câmera mais editado e que não evita o contraplano favorece na construção desse cosmo de Shya que precisava ser comprado pelo espectador como única realidade possível onde a magia acontece, um lugar quase que com vida própria e que tem na piscina seu coração.
Pessoas comuns que são agraciadas com o sobrenatural e recebem uma missão que exige fé e que termina por conciliar o missionário com sua família, mesmo que morta.
A Vila
3.3 1,6KConstruir a vila, para depois descontrui-la;
Criar o mistério para transformar em romance;
Apresentar a esperada surpresa de um filme quase que na metade da duração, para depois revelar o twist de fato ao final.
Shyamalan aqui, mais do que qualquer intenção política pós-11/9, brinca com a ingenuidade e ignorância, das personagens e do público, este que controlado pelo ponto de vista que o diretor nos apresenta, termina cego como a protagonista. Se a filmografia de Shya nos apresenta a importância da crença, em A Vila ele nos força a descrença, aos problemas em confiar fielmente em algo. Subverte o clímax da perseguição, ocorrido depois de já ter feito a revelação, nos provocando (e aqui incluo tanto nós quanto Ivy): Você já sabe a verdade, mas vai ficar com medo do monstro ou não?
Subverte também a cosmologia da Vila, que apresentada como um lugar idílico e elegante (mas sem nunca se afastar de uma certa estranheza, principalmente vinda de seus personagens principais), se mostra obscura e cega, sustentada pela crença, mas que se arrisca a ruir a qualquer momento.
Transita entre o mistério, -dos monstros, do que não se sabe e dos riscos da cor (ou fruto?) proibido- e o romance -que garante vida a vila, que protege os anciões e que não vilaniza a continuidade da inocência-, acerta no humor pontual, que funciona pela montagem, como na cena do pedido de casamento que termina em choro incondicional, e nas atuações, sempre peça fundamental para que os filmes de Shya funcionem.
Por fim, Shyamalan continua com suas câmeras econômicas, suas cenas que se remodelam sem cortes, suas lentes mudam de foco e nos carregam para outros pontos dentro do mesmo plano. Recusa os contra planos e resolve tudo do modo mais simples possível, nos aliena enquanto aliena seus personagens. Aliena tanto que diversas vezes termina a cena conduzindo sua câmera para o nada, para uma cadeira de balanço ou para outro objeto, escolhendo detalhadamente o que o por quanto tempo iremos ver.
Sinais
3.5 1,4K Assista AgoraO filme definitivo de Shyamalan: as melhores cenas de suspense e de epifania que ele já filmou (e das melhores tensões que já vi também), a trilha sonora estridente que ficou marcada em filmes de aliens, o gênero subvertido, enquadramentos detalhados que potencializam as cenas e fazem de Sinais um filme conciso e direto ao ponto. Até por isso, Sinais é para quem ainda não tinha entendido o porquê que Shya faz seus filmes, sua crença em uma força suprema nunca antes tinha sido exposta tão diretamente e tão central dentro de seu filme. Esse aqui é pra entender o diretor, se apaixonar pelo seu Cinema e pelo Cinema em si.
Os diálogos que ele escreve, ainda mais engrandecedores quando todos os atores estão absurdos, concretizam a tese central de Sinais, sobre os menores detalhes terem um porquê e sobre a necessidade de se acreditar, de haver Fé para que esta solidifique a instituição Família. Mesmo essa comunicação com o Divino sendo via de mão única (assim como as rezas de Graham e Bo para a mãe, ou como o walkie-talkie de Morgan) devemos estender nossa mão para o Céu, nos elevarmos o mais alto possível, que seja subindo em carros, para que entendamos a mensagem; inclusive o plano que Shya acha da mão de Morgan com o rádio se esticando aos céus evidenciam como o diretor é sim um diretor excepcional e não só um "storyteller" como muitos gostam de dizer.
Sempre abrangendo um problema macro em um único personagem micro, cabe ao Graham Hess de Mel Gibson carregar o peso da perda da fé, da repulsa as decisões divinas e da futura reconciliação com o Além. Gradualmente Mel Gibson vai sendo enquadrado mais apertados pelos batentes de porta, primeiro pelo batente todo, depois pela fresta da porta de seus filhos, até chegar a seu confronto com o sobrenatural de fato, na dispensa de Ray Reddy, na fresta inferior dela. Cada vez mais pressionado e receoso sobre suas certezas, é nesse momento que Graham primeiro se enxerga na faca, mas não enxerga o monstro, bem simbólico do personagem, mas depois, encontra com ele de fato, com uma edição confusa e desnorteadora, até finalizar por esfaquear os dedos do Alien e fugir. E são esses momentos de encontro com a verdade, os momentos de Epifania, que na minha opinião, que mais marcam o Cinema de Shyamalan.
A cena de "I see dead people" em O Sexto Sentido, o momento do supino em "Unbreakable" e aqui, a primeira vez que a família vê os ETs pela televisão, confrontando as opiniões de Graham, e o suspiro que renasce Morgan nos minutos finais, prova definitiva de tudo que o protagonista sempre questionou. São esses momentos que realmente elevam a Fé de Shya por Deus e por seu Cinema. Momentos que alteram a visão de seus protagonistas perante o problema do filme, dão a eles uma informação que por início não sabiam ou se recusavam a acreditar, dando começo a este processo de aceitação e futuro uso disso para resolver o problema e reatar com a Família. E como é o diretor que coloca estes embates para seus personagens, nada mais lógico do que Shyamalan ser Ray Reddy, o homem que colocou em cheque a fé de Graham. Na cena em que se encontram no carro, Ray Reddy/Shyamalan pede desculpas por ter feito isso com Mel Gibson; é genial demais.
Depois das epifanias e dos embates que tiram as dúvidas de Graham, vem a Última Ceia, quando Graham já não crê em sua salvação, quando o Mal já veio a Terra e dele não há como fugir, então o melhor é se despedir da melhor maneira possível. Acho que nem o diretor imaginava o quão absurdo essa cena seria, principalmente pelas atuações dos 4 familiares. A raiva de Morgan pelo pai que evidencia a desestruturação da família, o choro de Bo e o desmoronamento de Graham quando não parece ter mais saídas possíveis, terminando com o abraço coletivo de todos. Joaquin Phoenix já tinha dado seu show particular na sua epifania, ao ver o ET da gravação brasileira e surtar de medo.
Chegamos então ao Inferno, o porão da casa dos Hess. Aqui Shyamalan demonstra uma influência absurda de Hitchcock, principalmente de Os Pássaros ( e também da claustrofobia de Romero em The Night Of The Living Dead), optando pelo não mostrar e pelo uso do som para criar a tensão, contando com a imaginação do espectador para gerar medo. É a luz que apaga, a preferência do diretor em (não) filmar o clímax, preferindo a lanterna no chão do que a ação (no escuro) e o foco no rosto de Merrill quando Graham faz seu último discurso de desesperança no filme. E claro, pelo uso da trilha sonora, digna dos maiores filmes de suspense e de Hitchcock por consequência.
Quando Graham entende que é preciso acreditar, agora falta Shyamalan o colocar à prova de sua última lição: que tudo tem um porquê. Eles voltam a parte de cima da casa, enfrentam o monstro e entendem a importância de cada detalhe, sendo finalmente salvos pelas águas bentas espalhadas pela casa. E se é pela TV que Graham vê o monstro pela primeira vez na cena, é porque eram pelas TVs que o medo se espalhava, pelas notícias dos jornais e agora pelo seu reflexo; se em Poltergeist o "monstro" saia dela, aqui, é por meio dela que o descobrimos. Como já dito, ao final, a crença é remontada, a família se reúne e tudo volta ao normal, típico de Shyamalan.
Corpo Fechado
3.7 1,3K Assista AgoraShyamalan e sua devoção: ao divino e a arte de contar histórias.
A segunda pelo modo como articula esse filme de origem heroína, fazendo o seu basicamente do primeiro ato de um filme tradicional de herói, a descoberta e aceitação do seu dom. Subverte o gênero e também seus estereótipos, recusa a figura afastada e irreal do herói e o chama para perto, o mitifica sem recusar sua simplicidade, evidencia que esse extraordinário existe no cotidiano. Mas também, Corpo Fechado é uma homenagem aos quadrinhos e a narrativa em geral - brinca com o final surpresa (assim como a primeira revista de Elijah), com o confronto entre Bem e Mal, com a figura do herói - e eleva o poder do fantasioso (fantasia essa que Shya sempre buscou em seu Cinema, inspirado por Spielberg e pela magia que esse coloca em seus filmes, no sobrenatural de ET que enche os olhos e nos faz acreditar que aquilo é possível, na real arte de se contar histórias e fazer com que o público se conecte com elas), do que Mr.Glass fala tão bem em seu diálogo com a mulher de Dave, da crença no divino, ou seja, a fé.
Quando Bruce Willis coloca sua roupa verde com capuz, se torna tanto um uniforme de herói quanto um manto santificado, eternizado no plano que Shya restringe ao tecido e as mãos do personagem antes de efetuar seu ato. Assim como em O Sexto Sentido, a bênção vem quando seus personagens aceitam seus dons e os utilizam para distribuir o Bem, no sentido mais puro da palavra. E nessa jornada de aceitação, suas famílias entram em risco de desmoronamento, em seu filme anterior, a relação do filho com a mãe estava conturbada, enquanto aqui, Dave precisa se reconectar com seu filho e em seu casamento. Aceitar o sobrenatural, se provar o real herói que seu filho acredita que é, que Elijah sonha em encontrar (para também se achar nesse mundo), unir sua família e entende-la como a solução, a Instituição onde a Fé se demonstra, não negar mais a intervenção e saber como usá-la, enfrentar sua fraqueza e renascer dela. Mostrar que o Santo é forte e que a Revelação vem ao final.
O Sexto Sentido
4.2 2,4K Assista AgoraPrimeiramente, como é excepcional esse primeiro trabalho de relevância do Shyamalan. Cresceu muito na revisão, o que é ainda mais notável sendo um thriller bem pautado em um twist, mas que se sustenta facilmente em outras assistidas, principalmente pela maestria do Shyamalan em contar essa história e na qualidade de seu conteúdo que podemos nos debruçar para reler mais de uma vez.
Meio difícil falar algo que já não seja manjado desse filme, mas vale reforçar o quão gigante é o storytelling do Shya. Um twist que, assim como a moeda da mágica, estava lá o tempo todo, o filme nos levou para a outra mão, nos colocou no bolso, mas a moeda? ela sempre esteve na nossa cara. Twist que não coloca um ponto final na história, mas sim um botão de replay, despertando instantaneamente nossa vontade em rever tudo de novo, e com gosto, porque vale a pena demais. Construir um suspense desse que basicamente não precisa do twist pra se sustentar -já que o resto do filme por si só é tão gigante quanto, a atuação de Haley, a cadência com que a trama se desenvolve e o terror que aos poucos vai entrando em cena - é notável. "I see dead people" não só muda nossa cultura e entra pro hall de momentos icônicos que todos conhecem, mas também nos faz achar que mudamos nosso olhar perante o filme, como se agora também estivéssemos vendo essas pessoas mortas; só que na realidade, sempre fomos os olhos de Malcolm, ou de qualquer outro fantasma, que só enxergava o que queria ver.
Mas voltando a se debruçar um pouco mais no que Shya tá lá pra dizer, ainda mais agora que estou empolgado pra partir daqui até o fim de sua filmografia, é interessante como seu cinema é da fé, da crença e, aqui, da imobilidade:
A moeda que sempre esteve no mesmo lugar, o relógio de Cole quebrado, parado no tempo, a história do médico que dormiu ao volante e acordou dando voltas sem sair do lugar, ou até o colar que nunca sumiu, só mudou de posição. Sobre não superar, permanecer parado no tempo após um evento traumático, tanto os fantasmas, quanto os vivos. Um luto interminável. Temos tanto desejo em congelar todos momentos que vivemos, assim como as fotografias de Cole que sua mãe possuía ou como a imensidão de pais que filmam a peça de teatro de seus filhos, que acabamos congelados em algum destes para o resto de nossas vidas. Traumas que deixam pendências para o resto de uma vida e é isso que Cole vem pra resolver. O elo de ligação entre esses dois mundos, podendo concilia-los e garantir a paz em ambos lados, permitindo que os fantasmas passem o resto da eternidade em paz, como memórias; e que os vivos sigam em frente. Ao entender seu papel e entender como um presente e não uma maldição, Cole também resolve sua pendência, se descongela desse momento e soluciona dois problemas: o seu e o de Malcolm. E, enquanto este problema o assolava, a solução para Shyamalan era a fé, a Igreja onde se protegia ou mesmo a cabana que virava seu refúgio.
Fred Rogers: O Padrinho da Criançada
4.3 43Nunca tinha ouvido falar de Fred Rogers e não fazia ideia do que era o documentário quando fui assisti-lo, inclusive estava achando, no começo, que haveria alguma polêmica entre Fred e as crianças, mas fui felizmente surpreendido e impactado de uma maneira que há tempos não era.
O maior mérito desse documentário é conseguir, por meio da trilha, montagem e direção, passar a essência e a mesma sensação de um programa e de uma fala do F. Rogers. O modo como tudo é conduzido, enquanto aquele piano gostoso no fundo vai tocando, é tão leve que te relaxa enquanto você conhece mais dessa pessoa tão incrível como o apresentador. Uma experiência tão otimista e prazerosa, com entrevistados tão bons, faz com que o documentário chegue no seu máximo de aproveitamento; mais do que uma dissecação dessa personalidade curiosa de Rogers (o que é feito de maneira muito eficiente), o filme é a própria personalidade de Rogers, o filme dá voz a Fred continuar passando as mensagens que defendeu a vida inteira, mesmo depois de morto, com a mesma essência. Uma obra gigantesca.
Sobre Rogers em si, é quase inimaginável como o cara conseguiu falar sobre temas tão distantes do que estamos acostumados a ver em programas infantis e fazer de uma maneira que nem programas "adultos" conseguem fazer. Falar sobre morte, depressão, doenças, aceitação, racismo, na realidade que a gente vive hoje ainda é possível imaginar as polêmicas que isso daria, e o cara fez isso na década de 60...
Por outro lado, alguns momentos chegam a ser extremamente melancólicos, pela recepção de parte da população com FR e como a sociedade é podre e prefere se atentar a detalhes bestas ao invés de se focar nas lições tão poderosas que poderíamos aproveitar. É uma bela balança, de um lado o otimismo de Rogers e de outro a desilusão que a sociedade nos faz ter com a realidade.
Obs.: Me pareceu nítida a influência do programa de Rogers a Carl Sagan em Cosmos, a postura pacífica e respeitosa enquanto passa o conhecimento da maneira mais lúdica e didática possível, aliando muita informação com entretenimento. Dois gigantes. Que hajam mais Sagans e mais Rogers.
Eu não vou esquecer disso aqui tão cedo.
Skate Kitchen
3.8 42Primeira cena e o skate faz Camille sangrar, parecendo que está menstruada. O skate como o início do coming-of-age, a vontade de ser independente e de descobrir o mundo, nesse caso, a cidade, percorrendo toda a geografia de Nova York.
O problema é que essa estética bem Festival de Sundance, indiezinha, cheia de momentos slow motion e música pop enquanto elas e eles fazem manobras no skate e sorriem um pro outro é tão broxa; uma ou outra vez até vai, mas insiste nisso toda hora. Falta um pouco de crueza, sujeira à Skate Kitchen, pois ao mesmo tempo que a abordagem quer ser documental, também precisa soar sempre higiênica e jovem demais.
Toda a construção de relação entre as skatistas é interessante e casa sem problemas com o plot da protagonista com sua mãe, já todo o rolo com o filho do Will Smith é tão preguiçoso pra criar um conflito entre elas que tira muita força desse filme. Essa exploração de todos os cantos da cidade como forma de auto descoberta era tão mais potente que sair disso pra ir para uma briga por homem é fraco demais. Termina como mais um filminho indie descolado pra Sundance curtir.
Amizade Desfeita 2: Dark Web
3.2 335Realmente acho desktop horror um gênero com potencial absurdo pra brincar com a linguagem cinematográfica, com mise-en-scene e construção de narrativa, é muito prazeroso ter Searching... e Unfriended no mesmo ano. O uso do desktop aqui no primeiro ato ainda tem uma sensação bem voyeurista de estar vasculhando o PC de um desconhecido, o que nos dias de hoje, é tão ou mais curioso do que observar o dia-a-dia das pessoas pela janela como em Janela Indiscreta ou uma mulher dançando sensualmente em Body Double. Além disso, o desktop horror emana um imediatismo que potencializa muito a tensão por estar tudo ocorrendo "no agora", ainda mais pela impotência dos personagens em não poder resolver um problema que eles não tem conhecimento para lidar, faz com que eles realmente virem cartas marcadas para morrer a partir de um certo instante, bem digno de um filme de terror. E é nessa ideia que o gênero ainda pega elementos do found footage, com webcams balançando, esse tom mais realista e cinematografia "caseira".
Sem falar de como tudo isso vem como uma punição pelo ato imoral do protagonista, o castigo por isso vem do virtual, da internet, como algo divino e que não se tem como parar. E que ainda acaba envolvendo todos os seus amigos.
Não sendo suficiente, dá pra falar que Unfriended acaba indo para o lado de um torture porn? Tanto psicológico quanto físico? Assisitir a esse sofrimento que os protagonistas estão passando sem poderem fazer praticamente nada não é tão sádico quanto ver as torturas do Eli Roth? Além de em alguns pontos específicos da trama realmente ir pra essa pegada mais ~obscura de tortura.
Por fim, o filme ainda é muito criativo em suas abordagens tanto na dinâmica do tela de computador, quanto para bolar algumas mortes que ocorrem. O dinamismo de várias abas abertas ao mesmo tempo, nos permitindo acompanhar vários diálogos simultaneamente e, também, o acesso à informações dos próprios personagens só pesquisando no Google agilizam demais a trama sem nunca soar preguiçoso. E sobre as mortes,m específico a da ligação para polícia, a que envolve uma escolha e a última são absurdamente criativas e surpreendentes abrindo ainda mais espaço para onde o gênero (e a franquia) poderem brincar no futuro.
Pânico 2
3.2 818 Assista AgoraDeve ser muito triste ser um cineasta e saber que nunca fará algo que chegue aos pés do que o Craven fez com a franquia Pânico, né? Insuperável.
Por mim o gênero devia ter sido encerrado depois da cena da fuga no carro de polícia nesse filme aqui, Craven zerou o Cinema, não precisa de mais nada.
Mas, ainda bem que não acabou, pelo menos ainda tenho mais 2 filmes disso aqui para ver.
Wes Craven é meu pastor e nada me faltará. Feliz Natal.
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraInteressante que no momento do discurso sobre "O Nascimento de uma Nação", Lee elabora a tensão entre o batismo da KKK e da reunião da União dos Estudantes usando a montagem paralela, recurso tão exercitado por Griffith no começo do século passado. É mais um dos deboches de Lee aos supremacistas, dessa vez, se apropriando da linguagem usada por eles para passar a sua mensagem.
Neste mesmo momento, o discurso na União comenta como o filme de Griffith foi um blockbuster da época; só que agora o filme que ganha as bilheterias é esse aqui. São pequenas vitórias que o diretor gosta de lembrar.
Porém, eles estão batendo na porta, ainda não acabou.
Fogo nos racistas.
Quanto Mais Quente Melhor
4.3 853 Assista AgoraO Cinema americano existe para ter Marilyn como fetiche.
Tudo aqui gira em torno dela: a mise-en-scene de Wilder, a trilha sonora e claro, a trajetória dos seus personagens.
Monroe não é uma personagem, mas uma entidade insubstituível que está acima de qualquer papel que se dê a ela, um símbolo cultural, a musa suprema que todos querem por perto.
Wilder é gigante ao encenar, da cena no dormitório do trem onde várias mulheres se apertam no mesmo quadro (que enquadramento lindo!) até os momentos em que Monroe canta e a câmera apenas a admira.
Poltergeist: O Fenômeno
3.5 1,1K Assista AgoraA implosão do american dream em um país que cresceu sobre seus mortos.
A televisão como arma nacionalista que deve ser renegada.
Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos
4.3 416Poderia ser incrível se fosse feito por um cineasta, mas infelizmente opta por ignorar infinitos recursos que a linguagem oferece e focar em entediantes frases colocadas ao decorrer dos trechos montados.
Verônica: Jogo Sobrenatural
3.1 546 Assista AgoraMinha leitura do filme,
O "monstro" preto que assombrava Verônica representa o amadurecimento e as responsabilidades prematuras que ela precisa lidar ao cuidar dos irmãos e estando nesta época de passagem da idade infatil para uma mais adulta. E todo esse peso sobre ela ligado a uma falta de ajuda da mãe(e do pai) para tratar do assunto faz com que Veronica se torne uma pessoa com ansiedade e até depressão,explico.
Essa insegurança/depressão começa na escola, um lugar super relevante pra pessoas da idade dela e onde ela se vê atrasada em relação as amigas, as amigas vão pra festas,fumam,ficam com pessoas,mestruam já, enquanto ela precisa cuidar dos irmãos. Estando desse jeito, ela diz para as amigas que pensa em se matar(cena do tabuleiro) e as amigas não a ajudam. Por isso, ela começa a conversar com a Freira Morte, uma pessoas mais velha, que ele podia pedir conselhos e com quem ela se sentia segura.
Por isso que o "monstro"(não sei como chamar aquilo) ligava aquele Genius que tinha na casa dela, um brinquedo, que mostra como Veronica ainda quer estar na idade de brincar,de não ter responsabilidades, mas não é o que está acontecendo na sua vida. A pressão sobre ela para cuidar dos irmãos também a assombra na forma do monstro, fazendo ela ter pesadelos, às vezes ser paranoica(quando ela enforca a irmã) e sua imaturidade ainda faz com que cometa alguns erros como ao esquentar demais a água do irmão. A noite em que vê seu pai mostra como ela ainda carrega o fardo da falta de uma figura paterna e de ter que cobrir esse papel na sua casa, ainda mais com a mãe ausente.
Assim, o principal símbolo dessa passagem de fase de vida é a sua primeira menstruação, que quando ocorre deixa uma marca negra(da cor do "monstro") no colchão, simbolizando esse amadurecimento que vem com a idade, algo que ela tenta ao máximo esconder/não aceitar limpando o colchão.
Por fim, ela mais uma vez pede ajuda das amigas para lidar com seus problemas psicológicos e mais uma vez é mal tratada. O mesmo acontece quando vai conversar com a mãe no restaurante. Toda essa falta de ajuda faz com que Verônica, no auge de sua depressão, ligue para a polícia dando o endereço da sua casa, mas antes de eles chegarem se mata com um pedaço de vidro não suportando a realidade da sua vida. :(
Band Aid
3.5 15 Assista AgoraÉ como se Noah Baumbach e John Carney, nos dias menos inspirados de suas vidas, se juntassem pra escrever um roteiro e ainda pedissem ideias pro Adam Sandler na hora de escrever os momentos cômicos. Deprimente.