Quando você pensa na palavra ''guarda-costas'', o que vem à sua mente? Para mim, são caras grandes e musculosos com uma carranca em seus rostos que protegem celebridades e políticos. Ou, ocasionalmente, penso em Kevin Costner tomando o controle da vida de Whitney Houston, enquanto ela canta ''I Will Always Love You''. A realidade é que, enquanto a maioria dos guarda-costas se encaixam nos estereótipos que mencionei acima, há um outro lado do trabalho que muitas pessoas não conhecem ou entendem. O documentário de Jaren Hayman (disponível no catálogo da Netflix) dá ao público uma visão real e pungente de uma das profissões mais arriscadas do mundo, quebrando a percepção estereotipada do que um guarda-costas é ou deveria ser. Apesar de um pouco preguiçoso na edição, vale a pena dar uma conferida neste documentário e aprender um pouco mais sobre os bastidores dos guarda-costas pessoais.
Não dava nada para esta comédia romântica holandesa mas acabei me surpreendendo positivamente. Embora seja muito previsível, é muito divertido acompanhar as histórias avulsas de seus personagens: os dois irmãos que acidentalmente encontram um DJ mundialmente famoso, o jovem que se apaixona por uma mulher de meia-idade insegura, a jovem garota dormindo com o marido da irmã, o astro do rock aposentado, etc. No geral, é uma galeria de personagens agradáveis que rende momentos deliciosos. Não espere uma atuação fantástica e belos diálogos aqui. ''Loving Ibiza'' é um filme de verão leve que vai agradar especialmente aqueles que procuram um passatempo ágil e despretensioso.
Filme leve, mágico, poético, inspirador e musicalmente divertido. Consegue trazer ótimas mensagens de ambientalismo, ativismo, tolerância e inclusão de uma forma lúdica. Esta pérola do cinema hindu (escondida no catálogo Netflix) merece ser conhecida por todos!
Kate Winslet sendo dirigida pelo icônico Woody Allen? Já me fisguei logo de cara! ''Roda Gigante'' é um filme denso, cuidadoso nos detalhes, bem estruturado, teatral e o retorno triunfante de Woody Allen, ainda envolto de muita polêmica envolvendo assédio sexual que, querendo ou não, ''ajudou'' a promover seu recente trabalho. Kate Winslet está absurdamente soberba interpretando uma mulher neurótica cheia de conflitos pessoais. Sua complexa Ginny é de se aplaudir de pé. Os monólogos poderosos de sua personagem são um espetáculo à parte. James Belushi também se destaca no elenco em uma atuação surpreendentemente dramática e potente. Justin Timberlake, por sua vez, não consegue esconder apatia diante das câmeras, entregando um personagem insosso ao lado de uma nada convincente Juno Temple. Para finalizar, merece destaque a fotografia de Vittorio Storaro, sendo uma das melhores parcerias artísticas do cineasta, nos presenteando com uma deslumbrante paleta de cores que ajuda não só contar a história mas também transmitir sentimentos de seus personagens.
Uma pérola escondida no catálogo Netflix que merece sua atenção. Reviravoltas mirabolantes e uma forma genial de contar a história fazem desse thriller hindu um grande achado. RECOMENDADÍSSIMO!
Que decepção hein, Sr. Victor! Jogou a mitologia do Jeepers Creepers no vaso sanitário com essa sequência EXCRETÁVEL! Podem enterrar a franquia e prender o diretor.
Típica comédia ''Sessão da Tarde'' amparada em uma inofensiva premissa ''carpe diem'' e no frescor da juventude do astro Zac Efron. Previsível, cheio de personagens abobalhados e mensagens moralistas com doses cavalares de pieguice, o longa de Burr Steers tenta ''doutrinar'' o público adolescente nos moldes da cartilha hollywoodiana. Então não espere nada de novo na história de Mike O'Donnell, um homem em crise de meia idade que magicamente revive a adolescência para acertar contas com o destino. Neste remake da obra original de 1986, ''Jovem De Novo'', telefilme da Disney estrelado por Keanu Reeves em um de seus primeiros papéis (a qual, vale registrar, fiquei muito curioso para assistir!), a estrutura extremamente formulaica tenta disseminar um discurso moralizante e superficial ao mesmo tempo que encontra espaço para se tornar um veículo para a promoção de Efron. Promoção essa que só funciona melhor com o público-alvo adolescente da geração ''High School Musical'', a famosa série da Disney que alavancou a carreira do galã teen. A interpretação de Zac Efron aqui não é muito convincente, em nenhum momento o ator passa a sensação de que é um quarentão no corpo de um adolescente, perdendo a chance de entregar boas piadas com a rocambolesca situação. Matthew Perry, o eterno Chandler de ''Friends'', é ofuscado pela jovialidade e carisma de Efron, servindo apenas ao propósito de "escada" para a trama principal. É o personagem geek de Thomas Lennon que compensa a falta de momentos engraçados no filme. Suas piadas nerds e atualizadas com a cultura pop arrancam algumas boas risadas, como na cena onde Ned conversa com a diretora Jane Masterson em um idioma fictício criado pelo mestre da fantasia J.R.R. Tolkien (O Senhor Dos Anéis). Com roteiro assinado por Jason Filardi, o cineasta Burr Steers conduz esta comédia de forma leve e despretensiosa, e ainda sim, apesar de previsível e clichê, consegue oferecer um descompromissado passatempo, principalmente quando não se tem nada pra assistir numa tarde chuvosa de domingo. E se atente à trilha sonora bacana e aos créditos finais que trazem fotos dos integrantes do elenco e da equipe técnica quando tinham 17 anos.
Conhecido por seus filmes ''cabeça'', cheios de camadas, plot twists surpreendentes e ideias mirabolantes que aproximam temas fantásticos ao mundo real de maneira inesperada, o diretor M. Night Shyamalan triunfa em seu retorno com o soberbo thriller psicológico ''Fragmentado''. Amparado em uma interpretação desafiadora e eficiente de um multifacetado e extraordinário James McAvoy, o cineasta indiano não mede esforços para imergir o espectador em uma trama envolvente e cheia de potencial, técnico e visual, que cativa na maior parte do tempo. Sendo um apreciador de uma boa trilha sonora e estudante de design gráfico entusiasta por tipografia, confesso que fiquei deslumbrado logo de cara com o crédito de abertura, com a tipografia em caixa alta formando o título do filme acompanhado de uma trilha sonora inquietante e entrecortada que diz muito sobre o que estamos prestes a presenciar. James McAvoy, um ator que até então não dava muita atenção, entrega uma atuação fantástica, digna de Oscar, e sem sombra de dúvidas, ''Fragmentado'' seria um filme menor e menos impactante se não fosse sua impressionante dedicação. Quem também brilha em cena é Anya Taylor-Joy. A atriz de beleza hipnótica e olhar profundo já havia demonstrado um bom desempenho no maravilhoso ''A Bruxa'' e aqui ao lado de McAvoy e duas excelentes coadjuvantes (Haley Lu Richardson e Jessica Sula) carrega o filme com firmeza absoluta, já que está presente em praticamente todas as cenas que exigem expressividade e tensão, compondo uma interessante personagem de personalidade forte e eloquente. Mas como nem tudo são flores, Shyamalan perde a mão em vários trechos, principalmente nas incabíveis mancadas no enredo. Não consegui engolir a forma desinteressante e banal como a personagem de Betty Buckley tenta derrotar o vilão e as várias oportunidades desperdiçadas da protagonista para escapar da terrível situação. Enfim, apesar de seus inúmeros pontos positivos e a gloriosa volta por cima do cineasta indiano, o filme não escapa de deixar alguns deslizes aqui e ali, e uma resolução capenga que beira o risível, infelizmente.
O psicologicamente pesado ''Vergonha'' foi o meu primeiro contato e primeiro filme a chamar minha atenção para a filmografia de Ingmar Bergman. Não é à toa o adjetivo ''gênio'' quando se refere ao cineasta sueco, considerado um dos mais influentes do cinema europeu. Esta - uma das menos famosas - obra de Bergman é de uma profundidade dramática ímpar, que tortura tanto o casal Jan e Eva Rosenberg (atuações arrebatadoras de Max von Sydow e Liv Ullman) como o espectador que testemunha um poderoso ensaio existencialista de mérito artístico inquestionável. Sem a intenção de ser um filme histórico tampouco um discurso anti-guerra, ''Vergonha'' é uma obra extremamente humana que usa uma fictícia guerra civil como pano de fundo para desestabilizar o amor entre os personagens bens construídos de Bergman. É uma experiência dilacerante acompanhar a relação entre Jan e Eva se desmantelando em meio à tanta ''vergonha'' provocada pela guerra. A ruína física e psicológica dos personagens é desenvolvida de maneira cirúrgica, bem talhada pelas mãos hábeis de Bergman que utiliza-se de close-up de sua musa Liv Ullmann para ilustrar o efeito de desalento e pavor frente a um terrível período bélico e de intensos conflitos íntimos. O primeiro ato é monótono e até um pouco confuso, mas sua narrativa vai se desenvolvendo de forma lancinante, abrindo espaço para boas cenas dramáticas e performances fortes e avassaladoras da dupla Liv e Max. ''Vergonha'' é uma verdadeira jornada ao estudo bergmaniano sobre a degradação da natureza humana. Belíssima obra-prima que reafirma a genialidade do sueco.
Um discurso comunista dá o tom ao profundo e inteligente drama de Peter Weir. Adaptado do romance de Paul Theroux, ''A Costa do Mosquito'' compõe um extraordinário painel da inconformidade humana perante a sociedade de consumo e mediocridade. O cansaço e obstinação do ótimo e intransigentemente odioso personagem de Harrison Ford inscreve na tela o descontentamento, insubmissão e resistência ao funcionamento contínuo do capitalismo americano. O desapego extremo e doentio a civilização traduzido pela atuação notável de Ford consegue imergir o espectador na agonizante busca da família Fox pelo ''eldorado'', sofrendo percalços mas sempre em constante movimento e trazendo uma eficiente e atemporal crítica social. Destaque para a melancólica performance de River Phoenix (considerado um dos atores mais promissores de sua geração que anos mais tarde veio a falecer de forma precoce) dominando a narrativa de maneira poética e fascinante. Helen Mirren, responsável por uma atuação sutil, exprime perfeitamente bem o sentimento de conformidade e submissão perante as atitudes megalomaníacas do marido e num certo momento acaba explodindo ao sentir na pele o quão mortíferos são os atos imprudentes de Allie. Os coadjuvantes Andre Gregory e Martha Plimpton tem papéis menores, mas contribuem de maneira eficaz para o desenvolvimento da trama. A inóspita locação do longa (filmado em Belize) confere um certo sentimento opressor que cerca o utópico individualismo social tão almejado pelo protagonista, conduzindo os personagens a mais dolorosas provações. Uma obra subestimada do competentíssimo Peter Weir que merece uma boa revisada por manter sua crítica social tão atual e persistente.
Depois do excelente e premiadíssimo ''Que Horas Ela Volta?'', a cineasta Anna Muylaert me surpreende mais uma vez com seu impactante ''Mãe Só Há Uma'', discutindo com muita sensibilidade a pluralidade sexual, rótulos, identidade de gênero e relações familiares. Tendo como pano de fundo o famoso caso de sequestro do garoto Pedrinho, o drama de Muylaert chama verdadeiramente atenção por tratar de questões urgentes e delicadas de forma natural e pungente. O estreante Naomi Nero demonstra em vários momentos ser um ator de talento e empresta com competência a densidade psicológica exigida pelo personagem, comprovando que foi uma ótima escolha para o papel do adolescente cheio de dilemas e indefinições. Outro estreante notável é o jovem Daniel Botelho, protagonizando de forma espontânea uma bela cena onde seu personagem Joca conversa banalmente no celular com uma amiga. Fiquei absolutamente maravilhado com a naturalidade presente nesta cena e diz muito o quão brilhante é a capacidade da cineasta extrair toda a essência de seus atores. Mas o verdadeiro triunfo da produção é a atriz Daniela Nefussi, pregando uma peça no espectador ao interpretar magistralmente o papel das duas mães em uma sacada genial que dá todo sentido ao criativo título do filme. Outro destaque no elenco é Matheus Nachtergaele (ótimo como sempre!), personificando a sociedade conservadora (o chamado grupo ''coxinha'') ao dar vida ao pai retrógrado do protagonista. Talvez, minha única ressalva, seja a curtíssima duração do filme, contando com um desfecho abrupto que frustra todos aqueles que também esperavam mais momentos destes maravilhosos personagens de Muylaert. No fim das contas, "Mãe Só Há Uma'' entrega lindamente um drama familiar de qualidade, um verdadeiro relicário de nosso cinema. Merece nossos aplausos.
Encabeçado por um time feminino de primeira, ''Perfeita é a Mãe!'' é uma daquelas comédias que vem a calhar quando não se tem absolutamente nada para fazer. A história ágil e desbocada sobre um grupo de mães ''porra-loucas'' estrelado pela gatíssima Mila Kunis se resume a uma sucessão de boas tiradas cômicas e situações pra lá de hilárias, principalmente quando entra em cena a divertida e depravada Carla. Há um entrosamento entre o trio de amigas que deixa a comédia prazerosa de se assistir. Entretanto, as personagens caem em estereótipos e levantam a bandeira do empoderamento feminino de forma depreciativa, descambando para um tom cômico inadequado. Mesmo com esse e outros deslizes, diversas discussões relevantes permeiam parte da narrativa, como o quão difícil é ser uma mãe ''perfeita'' nos dias de hoje com toda pressão e intempéries que afetam o âmbito familiar. Vale muito mais como passatempo descompromissado, como comédia adulta divertida (e esquecível), mas é pouco, se contarmos a riqueza de seu material que, infelizmente, não foi bem aproveitado.
O adjetivo “ruim” é pouco para descrever esta tentativa fracassada de filme adolescente estilo high school. Só não abandonei o longa pela metade porque sou um cinéfilo perseverante, mas confesso que foram 80 minutos de muito sofrimento com tantos elementos ineficázes espalhados em praticamente todas as cenas. O que encontramos em ''Chatterbox'' (ou traduzindo para o horrível título ''Tagarela'') é um misto de atuações sofríveis e uma história romântica pra lá de cafona. Um elenco recheado de atores desconhecidos (que precisam urgente de uma rinoplastia!) entrega uma performance tão antipática e vazia que é inevitável não causar uma certa rejeição logo de cara. Se você é exigente (ou um adolescente provido cérebro!) e gosta de títulos que tenham conteúdo, passe bem longe desta bomba de Jane Lawalata.
O espectador fica de olhos cheios ao se deparar com esta produção criativa do argentino Juan Solanas. ''Mundos Opostos'' oferece uma história de amor que encanta não só pelo visual deslumbrante como também na originalidade de sua proposta, contando com cenas bem criativas, um enredo envolvente e um talentoso elenco. A ideia dos planetas com forças gravitacionais opostas é deveras interessante para os fãs de ficção científica, mas a trama se perde em superficialismo ao passar muito tempo focando no romance proibido dos protagonistas Adam (Jim Sturgess) e Eden (Kirsten Dunst). Em determinado momento o roteiro esmaga alguns pontos importantes da trama e nos deixa sem algumas explicações, destoando boa parte da narrativa. Apesar de alguns tropeços, o longa acaba sendo compensado pela estética apaixonante e pela abordagem, trazendo boas metáforas e simbolismos para ilustrar diferença entre classes sociais.
Um bom filme de terror que tenta flertar com comédia precisa, antes de tudo, apavorar e fazer rir. E este não cumpre a missão, apesar de alguns resquícios de potencial. ''O Espírito de Goodnight Lane'' possui méritos pelo menos por não exagerar nos clichês fantasmagóricos e não abusar tanto de fórmulas batidas para gerar sustos. Entretanto, o filme do diretor Alin Bijan é prejudicado pelos contratempos habituais do cinema de baixo orçamento e pelo elenco inconsistente, encabeçado por um Billy Zane canastrão e coadjuvantes inexpressivos. O que torna o terror minimamente interessante (e assistível) é a menção ao conhecido psicopata Charles Manson e a metalinguagem envolvendo o mundo cinematográfico. Outra característica positiva da produção é a rapidez com que tudo acontece na trama. As manifestações sobrenaturais não demoram a aparecer e não cansa o espectador como muitos filmes do gênero insistem em fazer. De resto, o terror de Alin Bijan não chega a ser uma obra-prima mas não chega a ser um apocalipse. Vale a conferida.
Simpática e atemporal obra-prima dos estúdios Disney, ''Mogli ‑ O Menino Lobo'' continua nos encantando com sua edificante aula sobre o verdadeiro significado da amizade e o contagiante mantra do somente o necessário de Balú. Conseguimos se apegar facilmente aos personagens e somos levados à uma delicada história pincelada com uma simplicidade acolhedora e belíssimos traços que marcam o pioneirismo do estúdio de animação mais famoso do mundo. Uma obra como muitas da Disney clássica que merece ser revisitada.
É inevitável não comparar o terror inovador de Jeff Chan com outros filmes de exorcismo/possessão conhecidos pelo grande público. Filmes como ''O Ritual'' e o ótimo ''O Exorcismo de Emily Rose'' possuem méritos inquestionáveis, porém nenhum deles oferecem o mesmo elemento atrativo de ''O Mistério de Grace'' (evitar confusão com o filme ''Grace'' de 2009 cujo título aqui no Brasil coincidentemente recebeu o mesmo nome). Mostrar possessão demoníaca em primeira pessoa é o principal trunfo desta produção, cheia de bons sustos e uma narrativa ágil e concisa que prende facilmente a atenção do início ao fim. O terror de Jeff Chan é totalmente imersivo, se utilizando de artifícios narrativos tecnicamente interessantes que vão muito além de um filme filmado em primeira pessoa. Há alguns detalhes em cena que contribuem muito para o impacto da premissa, como por exemplo a câmera mostrando o cabelo da protagonista caindo nos olhos. A minúcia de cada trejeito de Grace, a atenção ao que compõe a cena e o que é investido na construção dos personagens são elementos muito importantes que nos fazem embarcar convincentemente nos caos e na degradação demoníaca da pobre Grace. A bela Alexia Fast atua de forma magistral e desempenha com eficiência a católica e ingênua jovem atormentada por forças malignas, carregando todo o peso do filme nas costas, nos fazendo sentir pena a todo momento de sua protagonista. Quem também dá um show de atuação é a veterana Lin Shaye, artista de classe que está cada vez mais presente em filmes do gênero e aqui entrega uma performance naturalmente assustadora ao interpretar a avó catolicamente opressora da personagem, abrindo margem para uma interessante crítica à hipocrisia do fanatismo religioso. Enfim, ''O Mistério de Grace'' consegue se destacar em vários quesitos para não ser somente um filme de terror mais do mesmo. Seu baixo orçamento não compromete sua idéia inovadora e a experiência genuinamente envolvente do espectador.
Esta simpática animação do ursinho viciado em mel é altamente divertida e consegue oferecer um tom otimista e edificante que certamente irá agradar não somente as crianças mas também muitos marmanjos nostálgicos. Dá pra embarcar na aventura sem nenhum problema (sem vergonha de reencontrar sua criança interior!), além de gerar uma série de boas discussões para os pequenos. Nada de padrões megalomaníacos da Pixar ou DreamWorks, ''Pooh e o Elefante'' é apenas diversão modesta, direta e funcional.
Um dos melhores filmes de comédia policial da atualidade, com uma pegada nostálgica bem explorada e um amontoado de cenas extremamente divertidas que consegue devolver todo aquele frescor do estilo buddy cop. A sintonia perfeita entre Ryan Gosling e Russell Crowe eleva o filme de Shane Black à contemplação, se sustentando também pela ótima dinâmica entre os personagens, pela primorosa retratação de época, referências culturais dos anos 70 e 80 e pela divertida Holly, vivida pela eficiente atriz mirim Angourie Rice, roubando todas as cenas e garantindo os melhores momentos da comédia. O diretor empenha-se para homenagear o cinema noir, trazendo alguns elementos interessantes do gênero (detetives particulares como protagonistas, tramas intrincadas e investigação policial), fazendo de ''Dois Caras Legais'' uma excelente e divertidamente acessível trama policial, com toques de humor sofisticado na medida certa. Deliciosamente hilário, diverte como poucos filmes de ação-comédia da atualidade. Belos figurinos, uma trilha sonora tão ''cool'' quanto ao filme e a pequena e notável participação de Kim Basinger incrementam os pontos altos desta espetacular obra de Shane Black. É uma pena que uma produção deste nível de entretenimento e repleto de qualidades tenha passado despercebido pelos cinemas brasileiros.
Uma obra de arte ambiciosa do cinema mudo sueco. Paixão declarada do consagrado diretor Ingmar Bergman, exercendo grande influência artística em muitos outros grandes cineastas, como Stanley Kubrick, criando uma de suas cenas mais emblemáticas do cinema no clássico ''O Iluminado''. Adaptado do romance de Selma Lagerlöf, ''A Carruagem Fantasma'' é um filme que conseguiu envelhecer muitíssimo bem, ainda transmitindo de forma intensa aquela mensagem moralista sobre redenção e degradação humana. A estrutura narrativa do diretor- roteirista-ator Victor Sjöström é brilhante, se utilizando de flashbacks muito bem elaborados - flashbacks dentro de flashbacks - para incrementar de forma complexa, porém acessível, o enredo. Os competentes Victor Sjöström e Hilda Borgström conseguem sustentar o clima soturno da trama com boas e expressivas atuações, aliado a uma trilha sonora macabra e uma bela fotografia para a época. Uma obra-prima de valor cinematográfico imensurável, totalmente a frente do seu tempo. Não é à toa que está inserida na famosa lista dos ''1001 Filmes para Ver Antes de Morrer''.
Em ''Boi Néon'' não encontraremos uma trama central, um começo, meio e fim ou algum tipo de propósito. O diretor Gabriel Mascaro nos limita aos padrões cinematográficos e nos transformam em meros observadores. Observadores do cotidiano de 3 personagens fascinantes que vão muito além de nossas expectativas, subvertervendo prejulgamentos acerca da questão de gêneros e estereótipos de masculinidade do homem nordestino. São personagens que levam vidas de gado, como mostra na simbólica cena introdutória, mas que são capazes de sonhar. E a estupenda atuação de Juliano Cazarré nos mostra em nuances o que vai dentro da alma cheia de sonhos de Iremar, o vaqueiro ''cabra-macho'' apaixonado pela alta-costura. Vale destacar os desempenhos magníficos tanto de Maeve Jinkings como da pequena notável Alyne Santana, ambas com atuações tão naturais e espontâneas que nos cativam profundamente com a trivialidade de suas ações fluindo naturalmente diante da câmera, como na sequência onde a personagem Cacá responde atrevidamente as provocações bem-humoradas dos vaqueiros. ''Boi Néon'' é um filme inteiramente orgânico, intimista e despretensioso. Sua real beleza está em sua simplicidade, na forma natural que é exposta ao nossos olhos, somado ao riquíssimo e deslumbrante trabalho de fotografia de Diego Garcia. Mais uma obra nacional que merece muito ser descoberta, sentida e apreciada!
Produção catarinense (coproduzida na Argentina) bem identificável com essa nova geração jovem que vive conectada em internet e é apaixonada por rock. Flertando com uma crítica social e trazendo um romance adolescente chocho, ''Lua em Sagitário'' demonstra fragilidade quando o texto exige expressividade de seus atores. A estreante Manuela Campagna até consegue entregar um bom trabalho em cena mas não consegue extrair todo seu potencial por conta de seu par romântico, personagem mal desenvolvido de Fagundes Emanuel. Na minha opinião, o ator não se encaixou perfeitamente no comportamento de seu personagem Murilo, não correspondendo à aura ''descolada'' do roteiro, apesar do esforço. Outro ponto falho da produção é a trilha sonora, insistente e exagerada. Uma verdadeira mistureba de canções e gêneros que acabam atropelando a narrativa. De proporções modestas, o filme de Marcia Paraiso ganha pontos pela iniciativa e valorização cultural e regional do oeste catarinense, mas está longe de ser um representante expressivo de nossa cinematografia.
Filme visualmente rico, com figurinos impecáveis e atuações arrebatadoras, sem nenhuma exceção. A sempre ótima Kate Winslet e Hugo Weaving dão um grande show de interpretação mas é a excelente Judy Davis que rouba a cena sempre que aparece com seu humor ácido e insensatez. Tanto a exuberante fotografia de Donald McAlpine quanto ao roteiro adaptado do romance de Rosalie Ham conseguem surpreender a cada desdobramento, acompanhado de uma história sublime que transita entre o drama e a comédia, com uma boa pitada de humor negro. Há alguns momentos caricatos e absurdos que fazem o filme perder alguns pontos mas é inegável o quanto ''A Vingança Está na Moda'' possui grandes méritos artísticos que compensam todos os saldos negativos. Não só é um ótimo filme, como também é um enorme deleite para nossos olhos!
Bodyguards: Secret Lives From The Watchtower
2.8 1Quando você pensa na palavra
''guarda-costas'', o que vem à sua mente? Para mim, são caras grandes e musculosos com uma carranca em seus rostos que protegem celebridades e políticos. Ou, ocasionalmente, penso em Kevin Costner tomando o controle da vida de Whitney Houston, enquanto ela canta ''I Will Always Love You''.
A realidade é que, enquanto a maioria dos guarda-costas se encaixam nos estereótipos que mencionei acima, há um outro lado do trabalho que muitas pessoas não conhecem ou entendem. O documentário de Jaren Hayman (disponível no catálogo da Netflix) dá ao público uma visão real e pungente de uma das profissões mais arriscadas do mundo, quebrando a percepção estereotipada do que um guarda-costas é ou deveria ser.
Apesar de um pouco preguiçoso na edição, vale a pena dar uma conferida neste documentário e aprender um pouco mais sobre os bastidores dos guarda-costas pessoais.
Loving Ibiza
3.1 4 Assista AgoraNão dava nada para esta comédia romântica holandesa mas acabei me surpreendendo positivamente.
Embora seja muito previsível, é muito divertido acompanhar as histórias avulsas de seus personagens: os dois irmãos que acidentalmente encontram um DJ mundialmente famoso, o jovem que se apaixona por uma mulher de meia-idade insegura, a jovem garota dormindo com o marido da irmã, o astro do rock aposentado, etc. No geral, é uma galeria de personagens agradáveis que rende momentos deliciosos.
Não espere uma atuação fantástica e belos diálogos aqui. ''Loving Ibiza'' é um filme de verão leve que vai agradar especialmente aqueles que procuram um passatempo ágil e despretensioso.
The Wishing Tree
3.2 1Filme leve, mágico, poético, inspirador e musicalmente divertido. Consegue trazer ótimas mensagens de ambientalismo, ativismo, tolerância e inclusão de uma forma lúdica.
Esta pérola do cinema hindu (escondida no catálogo Netflix) merece ser conhecida por todos!
The Secrets of Emily Blair
1.6 17Mais um pra lista dos piores filmes sobre possessão demoníaca presentes no catálogo da Netflix. Um verdadeiro porre!
Roda Gigante
3.3 309Kate Winslet sendo dirigida pelo icônico Woody Allen? Já me fisguei logo de cara!
''Roda Gigante'' é um filme denso, cuidadoso nos detalhes, bem estruturado, teatral e o retorno triunfante de Woody Allen, ainda envolto de muita polêmica envolvendo assédio sexual que, querendo ou não, ''ajudou'' a promover seu recente trabalho.
Kate Winslet está absurdamente soberba interpretando uma mulher neurótica cheia de conflitos pessoais. Sua complexa Ginny é de se aplaudir de pé. Os monólogos poderosos de sua personagem são um espetáculo à parte.
James Belushi também se destaca no elenco em uma atuação surpreendentemente dramática e potente.
Justin Timberlake, por sua vez, não consegue esconder apatia diante das câmeras, entregando um personagem insosso ao lado de uma nada convincente Juno Temple.
Para finalizar, merece destaque a fotografia de Vittorio Storaro, sendo uma das melhores parcerias artísticas do cineasta, nos presenteando com uma deslumbrante paleta de cores que ajuda não só contar a história mas também transmitir sentimentos de seus personagens.
Moh Maya Money
3.3 2Uma pérola escondida no catálogo Netflix que merece sua atenção. Reviravoltas mirabolantes e uma forma genial de contar a história fazem desse thriller hindu um grande achado. RECOMENDADÍSSIMO!
Olhos Famintos 3
1.4 955 Assista AgoraQue decepção hein, Sr. Victor! Jogou a mitologia do Jeepers Creepers no vaso sanitário com essa sequência EXCRETÁVEL!
Podem enterrar a franquia e prender o diretor.
17 Outra Vez
3.1 1,1K Assista AgoraTípica comédia ''Sessão da Tarde'' amparada em uma inofensiva premissa ''carpe diem'' e no frescor da juventude do astro Zac Efron.
Previsível, cheio de personagens abobalhados e mensagens moralistas com doses cavalares de pieguice, o longa de Burr Steers tenta ''doutrinar'' o público adolescente nos moldes da cartilha hollywoodiana. Então não espere nada de novo na história de Mike O'Donnell, um homem em crise de meia idade que magicamente revive a adolescência para acertar contas com o destino.
Neste remake da obra original de 1986, ''Jovem De Novo'', telefilme da Disney estrelado por Keanu Reeves em um de seus primeiros papéis (a qual, vale registrar, fiquei muito curioso para assistir!), a estrutura extremamente formulaica tenta disseminar um discurso moralizante e superficial ao mesmo tempo que encontra espaço para se tornar um veículo para a promoção de Efron.
Promoção essa que só funciona melhor com o público-alvo adolescente da geração ''High School Musical'', a famosa série da Disney que alavancou a carreira do galã teen.
A interpretação de Zac Efron aqui não é muito convincente, em nenhum momento o ator passa a sensação de que é um quarentão no corpo de um adolescente, perdendo a chance de entregar boas piadas com a rocambolesca situação.
Matthew Perry, o eterno Chandler de ''Friends'', é ofuscado pela jovialidade e carisma de Efron, servindo apenas ao propósito de "escada" para a trama principal.
É o personagem geek de Thomas Lennon que compensa a falta de momentos engraçados no filme. Suas piadas nerds e atualizadas com a cultura pop arrancam algumas boas risadas, como na cena onde Ned conversa com a diretora Jane Masterson em um idioma fictício criado pelo mestre da fantasia J.R.R. Tolkien (O Senhor Dos Anéis).
Com roteiro assinado por Jason Filardi, o cineasta Burr Steers conduz esta comédia de forma leve e despretensiosa, e ainda sim, apesar de previsível e clichê, consegue oferecer um descompromissado passatempo, principalmente quando não se tem nada pra assistir numa tarde chuvosa de domingo.
E se atente à trilha sonora bacana e aos créditos finais que trazem fotos dos integrantes do elenco e da equipe técnica quando tinham 17 anos.
Fragmentado
3.9 2,9K Assista AgoraConhecido por seus filmes ''cabeça'', cheios de camadas, plot twists surpreendentes e ideias mirabolantes que aproximam temas fantásticos ao mundo real de maneira inesperada, o diretor M. Night Shyamalan triunfa em seu retorno com o soberbo thriller psicológico ''Fragmentado''.
Amparado em uma interpretação desafiadora e eficiente de um multifacetado e extraordinário James McAvoy, o cineasta indiano não mede esforços para imergir o espectador em uma trama envolvente e cheia de potencial, técnico e visual, que cativa na maior parte do tempo.
Sendo um apreciador de uma boa trilha sonora e estudante de design gráfico entusiasta por tipografia, confesso que fiquei deslumbrado logo de cara com o crédito de abertura, com a tipografia em caixa alta formando o título do filme acompanhado de uma trilha sonora inquietante e entrecortada que diz muito sobre o que estamos prestes a presenciar.
James McAvoy, um ator que até então não dava muita atenção, entrega uma atuação fantástica, digna de Oscar, e sem sombra de dúvidas, ''Fragmentado'' seria um filme menor e menos impactante se não fosse sua impressionante dedicação.
Quem também brilha em cena é Anya Taylor-Joy. A atriz de beleza hipnótica e olhar profundo já havia demonstrado um bom desempenho no maravilhoso ''A Bruxa'' e aqui ao lado de McAvoy e duas excelentes coadjuvantes (Haley Lu Richardson e Jessica Sula)
carrega o filme com firmeza absoluta, já que está presente em praticamente todas as cenas que exigem expressividade e tensão, compondo uma interessante personagem de personalidade forte e eloquente.
Mas como nem tudo são flores, Shyamalan perde a mão em vários trechos, principalmente nas incabíveis mancadas no enredo.
Não consegui engolir a forma desinteressante e banal como a personagem de Betty Buckley tenta derrotar o vilão e as várias oportunidades desperdiçadas da protagonista para escapar da terrível situação.
Enfim, apesar de seus inúmeros pontos positivos e a gloriosa volta por cima do cineasta indiano, o filme não escapa de deixar alguns deslizes aqui e ali, e uma resolução capenga que beira o risível, infelizmente.
Vergonha
4.3 118O psicologicamente pesado ''Vergonha'' foi o meu primeiro contato e primeiro filme a chamar minha atenção para a filmografia de Ingmar Bergman. Não é à toa o adjetivo ''gênio'' quando se refere ao cineasta sueco, considerado um dos mais influentes do cinema europeu.
Esta - uma das menos famosas - obra de Bergman é de uma profundidade dramática ímpar, que tortura tanto o casal Jan e Eva Rosenberg (atuações arrebatadoras de Max von Sydow e Liv Ullman) como o espectador que testemunha um poderoso ensaio existencialista de mérito artístico inquestionável.
Sem a intenção de ser um filme histórico tampouco um discurso anti-guerra, ''Vergonha'' é uma obra extremamente humana que usa uma fictícia guerra civil como pano de fundo para desestabilizar o amor entre os personagens bens construídos de Bergman.
É uma experiência dilacerante acompanhar a relação entre Jan e Eva se desmantelando em meio à tanta ''vergonha'' provocada pela guerra.
A ruína física e psicológica dos personagens é desenvolvida de maneira cirúrgica, bem talhada pelas mãos hábeis de Bergman que utiliza-se de close-up de sua musa Liv Ullmann para ilustrar o efeito de desalento e pavor frente a um terrível período bélico e de intensos conflitos íntimos.
O primeiro ato é monótono e até um pouco confuso, mas sua narrativa vai se desenvolvendo de forma lancinante, abrindo espaço para boas cenas dramáticas e performances fortes e avassaladoras da dupla Liv e Max.
''Vergonha'' é uma verdadeira jornada ao estudo bergmaniano sobre a degradação da natureza humana. Belíssima obra-prima que reafirma a genialidade do sueco.
A Costa do Mosquito
3.3 57 Assista AgoraUm discurso comunista dá o tom ao profundo e inteligente drama de Peter Weir. Adaptado do romance de Paul Theroux, ''A Costa do Mosquito'' compõe um extraordinário painel da inconformidade humana perante a sociedade de consumo e mediocridade.
O cansaço e obstinação do ótimo e intransigentemente odioso personagem de Harrison Ford
inscreve na tela o descontentamento, insubmissão e resistência ao funcionamento contínuo do capitalismo americano.
O desapego extremo e doentio a civilização traduzido pela atuação notável de Ford consegue imergir o espectador na agonizante busca da família Fox pelo ''eldorado'', sofrendo percalços mas sempre em constante movimento e trazendo uma eficiente e atemporal crítica social.
Destaque para a melancólica performance de River Phoenix (considerado um dos atores mais promissores de sua geração que anos mais tarde veio a falecer de forma precoce) dominando a narrativa de maneira poética e fascinante.
Helen Mirren, responsável por uma atuação sutil, exprime perfeitamente bem o sentimento de conformidade e submissão perante as atitudes megalomaníacas do marido e num certo momento acaba explodindo ao sentir na pele o quão mortíferos são os atos imprudentes de Allie.
Os coadjuvantes Andre Gregory e Martha Plimpton
tem papéis menores, mas contribuem de maneira eficaz para o desenvolvimento da trama.
A inóspita locação do longa (filmado em Belize) confere um certo sentimento opressor que cerca o utópico individualismo social tão almejado pelo protagonista, conduzindo os personagens a mais dolorosas provações.
Uma obra subestimada do
competentíssimo Peter Weir que merece uma boa revisada por manter sua crítica social tão atual e persistente.
Mãe Só Há Uma
3.5 407 Assista AgoraDepois do excelente e premiadíssimo ''Que Horas Ela Volta?'', a cineasta Anna Muylaert me surpreende mais uma vez com seu impactante ''Mãe Só Há Uma'', discutindo com muita sensibilidade a pluralidade sexual, rótulos, identidade de gênero e relações familiares.
Tendo como pano de fundo o famoso caso de sequestro do garoto Pedrinho, o drama de Muylaert chama verdadeiramente atenção por tratar de questões urgentes e delicadas de forma natural e pungente.
O estreante Naomi Nero demonstra em vários momentos ser um ator de talento e empresta com competência a densidade psicológica exigida pelo personagem, comprovando que foi uma ótima escolha para o papel do adolescente cheio de dilemas e indefinições.
Outro estreante notável é o jovem Daniel Botelho, protagonizando de forma espontânea uma bela cena onde seu personagem Joca conversa banalmente no celular com uma amiga. Fiquei absolutamente maravilhado com a naturalidade presente nesta cena e diz muito o quão brilhante é a capacidade da cineasta extrair toda a essência de seus atores.
Mas o verdadeiro triunfo da produção é a atriz Daniela Nefussi, pregando uma peça no espectador ao interpretar magistralmente o papel das duas mães em uma sacada genial que dá todo sentido ao criativo título do filme.
Outro destaque no elenco é Matheus Nachtergaele (ótimo como sempre!), personificando a sociedade conservadora (o chamado grupo ''coxinha'') ao dar vida ao pai retrógrado do protagonista.
Talvez, minha única ressalva, seja a curtíssima duração do filme, contando com um desfecho abrupto que frustra todos aqueles que também esperavam mais momentos destes maravilhosos personagens de Muylaert.
No fim das contas, "Mãe Só Há Uma'' entrega lindamente um drama familiar de qualidade, um verdadeiro relicário de nosso cinema.
Merece nossos aplausos.
Perfeita é a Mãe
3.4 591 Assista AgoraEncabeçado por um time feminino de primeira, ''Perfeita é a Mãe!'' é uma daquelas comédias que vem a calhar quando não se tem absolutamente nada para fazer.
A história ágil e desbocada
sobre um grupo de mães ''porra-loucas'' estrelado pela gatíssima Mila Kunis se resume a uma sucessão de boas tiradas cômicas e situações pra lá de hilárias, principalmente quando entra em cena a divertida e depravada Carla.
Há um entrosamento entre o trio de amigas que deixa a comédia prazerosa de se assistir.
Entretanto, as personagens caem em estereótipos e levantam a bandeira do empoderamento feminino de forma depreciativa, descambando para um tom cômico inadequado.
Mesmo com esse e outros deslizes, diversas discussões relevantes permeiam parte da narrativa, como o quão difícil é ser uma mãe ''perfeita'' nos dias de hoje com toda pressão e intempéries que afetam o âmbito familiar.
Vale muito mais como passatempo descompromissado, como comédia adulta divertida (e esquecível), mas é pouco, se contarmos a riqueza de seu material que, infelizmente, não foi bem aproveitado.
Tagarela
1.8 9O adjetivo “ruim” é pouco para descrever esta tentativa fracassada de filme adolescente estilo high school. Só não abandonei o longa pela metade porque sou um cinéfilo perseverante, mas confesso que foram 80 minutos de muito sofrimento com tantos elementos ineficázes espalhados em praticamente todas as cenas.
O que encontramos em ''Chatterbox'' (ou traduzindo para o horrível título ''Tagarela'') é um misto de atuações sofríveis e uma história romântica pra lá de cafona.
Um elenco recheado de atores desconhecidos (que precisam urgente de uma rinoplastia!) entrega uma performance tão antipática e vazia que é inevitável não causar uma certa rejeição logo de cara. Se você é exigente (ou um adolescente provido cérebro!) e gosta de títulos que tenham conteúdo, passe bem longe desta bomba de Jane Lawalata.
Mundos Opostos
3.4 611 Assista AgoraO espectador fica de olhos cheios ao se deparar com esta produção criativa do argentino Juan Solanas.
''Mundos Opostos'' oferece uma história de amor que encanta não só pelo visual deslumbrante como também na originalidade de sua proposta, contando com cenas bem criativas, um enredo envolvente e um talentoso elenco.
A ideia dos planetas com forças gravitacionais opostas é deveras
interessante para os fãs de ficção científica, mas a trama se perde em superficialismo ao passar muito tempo focando no romance proibido dos protagonistas Adam (Jim Sturgess) e Eden (Kirsten Dunst).
Em determinado momento o roteiro esmaga alguns pontos importantes da trama e nos deixa sem algumas explicações,
destoando boa parte da narrativa.
Apesar de alguns tropeços, o longa acaba sendo compensado pela estética apaixonante e pela abordagem, trazendo boas metáforas e simbolismos para ilustrar diferença entre classes sociais.
O Espírito de Goodnight Lane
1.3 31Um bom filme de terror que tenta flertar com comédia precisa, antes de tudo, apavorar e fazer rir. E este não cumpre a missão, apesar de alguns resquícios de potencial.
''O Espírito de Goodnight Lane'' possui méritos pelo menos por não exagerar nos clichês fantasmagóricos
e não abusar tanto de fórmulas batidas para gerar sustos. Entretanto, o filme do diretor Alin Bijan é prejudicado pelos contratempos habituais do cinema de baixo orçamento e pelo elenco inconsistente, encabeçado por um Billy Zane canastrão e coadjuvantes inexpressivos.
O que torna o terror minimamente
interessante (e assistível) é a menção ao conhecido psicopata Charles Manson e a metalinguagem envolvendo o mundo cinematográfico.
Outra característica positiva da produção é a rapidez com que tudo acontece na trama.
As manifestações sobrenaturais não demoram a aparecer e não cansa o espectador como muitos filmes do gênero insistem em fazer.
De resto, o terror de Alin Bijan não chega a ser uma obra-prima mas não chega a ser um apocalipse.
Vale a conferida.
Mogli: O Menino Lobo
3.6 319 Assista AgoraSimpática e atemporal obra-prima dos estúdios Disney, ''Mogli ‑ O Menino Lobo'' continua nos encantando com sua edificante aula sobre o verdadeiro significado da amizade e o contagiante mantra do somente o necessário de Balú.
Conseguimos se apegar facilmente aos personagens e somos levados à uma delicada história pincelada com uma simplicidade acolhedora e belíssimos traços que marcam o pioneirismo do estúdio de animação mais famoso do mundo.
Uma obra como muitas da Disney clássica que merece ser revisitada.
O Mistério de Grace
2.1 117 Assista AgoraÉ inevitável não comparar o terror inovador de Jeff Chan com outros filmes de exorcismo/possessão conhecidos pelo grande público.
Filmes como ''O Ritual'' e o ótimo ''O Exorcismo de Emily Rose'' possuem méritos inquestionáveis, porém nenhum deles oferecem o mesmo elemento atrativo de ''O Mistério de Grace'' (evitar confusão com o filme ''Grace'' de 2009 cujo título aqui no Brasil coincidentemente recebeu o mesmo nome).
Mostrar possessão demoníaca em primeira pessoa é o principal trunfo desta produção, cheia de bons sustos e uma narrativa ágil e concisa que prende facilmente a atenção do início ao fim.
O terror de Jeff Chan é totalmente imersivo, se utilizando de artifícios narrativos tecnicamente interessantes que vão muito além de um filme filmado em primeira pessoa.
Há alguns detalhes em cena que contribuem muito para o impacto da premissa, como por exemplo a câmera mostrando o cabelo da protagonista caindo nos olhos.
A minúcia de cada trejeito de Grace, a atenção ao que compõe a cena e o que é investido na construção dos personagens são elementos muito importantes que nos fazem embarcar convincentemente nos caos e na degradação demoníaca da pobre Grace.
A bela Alexia Fast atua de forma magistral e desempenha com eficiência a católica e ingênua jovem atormentada por forças malignas, carregando todo o peso do filme nas costas, nos fazendo sentir pena a todo momento de sua protagonista.
Quem também dá um show de atuação é a veterana Lin Shaye, artista de classe que está cada vez mais presente em filmes do gênero e aqui entrega uma performance naturalmente assustadora ao interpretar a avó catolicamente opressora da personagem, abrindo margem para uma interessante crítica à hipocrisia do fanatismo religioso.
Enfim, ''O Mistério de Grace'' consegue se destacar em vários quesitos para não ser somente um filme de terror mais do mesmo.
Seu baixo orçamento não compromete sua idéia inovadora e a experiência genuinamente envolvente do espectador.
Pooh e o Efalante
3.5 40 Assista AgoraEsta simpática animação do ursinho viciado em mel é altamente divertida e consegue oferecer um tom otimista e edificante que certamente irá agradar não somente as crianças mas também muitos marmanjos nostálgicos.
Dá pra embarcar na aventura sem nenhum problema (sem vergonha de reencontrar sua criança interior!), além de gerar uma série de boas discussões para os pequenos.
Nada de padrões megalomaníacos da Pixar ou DreamWorks, ''Pooh e o Elefante'' é apenas diversão modesta, direta e funcional.
Dois Caras Legais
3.6 637 Assista AgoraUm dos melhores filmes de comédia policial da atualidade, com uma pegada nostálgica bem explorada e um amontoado de cenas extremamente divertidas que consegue devolver todo aquele frescor do estilo buddy cop.
A sintonia perfeita entre Ryan Gosling e Russell Crowe eleva o filme de Shane Black à contemplação, se sustentando também pela ótima dinâmica entre os personagens, pela primorosa retratação de época, referências culturais dos anos 70 e 80 e pela divertida Holly, vivida pela eficiente atriz mirim Angourie Rice, roubando todas as cenas e garantindo os melhores momentos da comédia.
O diretor empenha-se para homenagear o cinema noir, trazendo alguns elementos interessantes do gênero (detetives particulares como protagonistas, tramas intrincadas e investigação policial), fazendo de ''Dois Caras Legais'' uma excelente e divertidamente acessível trama policial, com toques de humor sofisticado na medida certa.
Deliciosamente hilário, diverte como poucos filmes de ação-comédia da atualidade.
Belos figurinos, uma trilha sonora tão ''cool'' quanto ao filme e a pequena e notável participação de Kim Basinger incrementam os pontos altos desta espetacular obra de Shane Black.
É uma pena que uma produção deste nível de entretenimento e repleto de qualidades tenha passado despercebido pelos cinemas brasileiros.
A Carruagem Fantasma
4.3 116Uma obra de arte ambiciosa do cinema mudo sueco. Paixão declarada do consagrado diretor Ingmar Bergman, exercendo grande influência artística em muitos outros grandes cineastas, como Stanley Kubrick, criando uma de suas cenas mais emblemáticas do cinema no clássico ''O Iluminado''.
Adaptado do romance de Selma Lagerlöf, ''A Carruagem Fantasma'' é um filme que conseguiu envelhecer muitíssimo bem, ainda transmitindo de forma intensa aquela mensagem moralista sobre redenção e degradação humana.
A estrutura narrativa do diretor- roteirista-ator Victor Sjöström é brilhante, se utilizando de flashbacks muito bem elaborados - flashbacks dentro de flashbacks - para incrementar de forma complexa, porém acessível, o enredo.
Os competentes Victor Sjöström e Hilda Borgström conseguem sustentar o clima soturno da trama com boas e expressivas atuações, aliado a uma trilha sonora macabra e uma bela fotografia para a época.
Uma obra-prima de valor cinematográfico imensurável, totalmente a frente do seu tempo.
Não é à toa que está inserida na famosa lista dos ''1001 Filmes para Ver Antes de Morrer''.
Boi Neon
3.6 461 Assista AgoraEm ''Boi Néon'' não encontraremos uma trama central, um começo, meio e fim ou algum tipo de propósito.
O diretor Gabriel Mascaro nos limita aos padrões cinematográficos e nos transformam em meros observadores. Observadores do cotidiano de 3 personagens fascinantes que vão muito além de nossas expectativas, subvertervendo prejulgamentos acerca da questão de gêneros e estereótipos de masculinidade do homem nordestino. São personagens que levam vidas de gado, como mostra na simbólica cena introdutória, mas que são capazes de sonhar.
E a estupenda atuação de Juliano Cazarré nos mostra em nuances o que vai dentro da alma cheia de sonhos de Iremar, o vaqueiro ''cabra-macho'' apaixonado pela alta-costura.
Vale destacar os desempenhos magníficos tanto de Maeve Jinkings como da pequena notável Alyne Santana, ambas com atuações tão naturais e espontâneas que nos cativam profundamente com a trivialidade de suas ações fluindo naturalmente diante da câmera, como na sequência onde a personagem Cacá responde atrevidamente as provocações bem-humoradas dos vaqueiros.
''Boi Néon'' é um filme inteiramente orgânico, intimista e despretensioso. Sua real beleza está em sua simplicidade, na forma natural que é exposta ao nossos olhos, somado ao riquíssimo e deslumbrante trabalho de fotografia de Diego Garcia.
Mais uma obra nacional que merece muito ser descoberta, sentida e apreciada!
Lua em Sagitário
3.1 52Produção catarinense (coproduzida na Argentina) bem identificável com essa nova geração jovem que vive conectada em internet e é apaixonada por rock.
Flertando com uma crítica social e trazendo um romance adolescente chocho, ''Lua em Sagitário'' demonstra fragilidade quando o texto exige expressividade de seus atores.
A estreante Manuela Campagna até consegue entregar um bom trabalho em cena mas não consegue extrair todo seu potencial por conta de seu par romântico, personagem mal desenvolvido de Fagundes Emanuel.
Na minha opinião, o ator não se encaixou perfeitamente no comportamento de seu personagem Murilo, não correspondendo à aura ''descolada'' do roteiro, apesar do esforço.
Outro ponto falho da produção é a trilha sonora, insistente e exagerada. Uma verdadeira mistureba de canções e gêneros que acabam atropelando a narrativa.
De proporções modestas, o filme de Marcia Paraiso ganha pontos pela iniciativa e valorização cultural e regional do oeste catarinense, mas está longe de ser um representante expressivo de nossa cinematografia.
A Vingança Está na Moda
3.6 322 Assista AgoraFilme visualmente rico, com figurinos impecáveis e atuações arrebatadoras, sem nenhuma exceção. A sempre ótima Kate Winslet e Hugo Weaving dão um grande show de interpretação mas é a excelente Judy Davis que rouba a cena sempre que aparece com seu humor ácido e insensatez.
Tanto a exuberante fotografia de Donald McAlpine quanto ao roteiro adaptado do romance de Rosalie Ham conseguem surpreender a cada desdobramento, acompanhado de uma história sublime que transita entre o drama e a comédia, com uma boa pitada de humor negro.
Há alguns momentos caricatos e absurdos que fazem o filme perder alguns pontos mas é inegável o quanto ''A Vingança Está na Moda'' possui grandes méritos artísticos que compensam todos os saldos negativos. Não só é um ótimo filme, como também é um enorme deleite para nossos olhos!