Eu primeiramente marquei o documentário como 5 estrelas, pois achei a série incrível no sentido de te deixar preso do início ao fim numa narrativa que, se você for analisar, é bastante complexa e cansativa (eu mesmo sentia que estava cansado de "tanta informação", mas mesmo assim queria continuar assistindo).
No entanto, é importante dizer a quem vai assistir a série para tomar um certo cuidado. Você está sendo apresentado a apenas um lado da história, mas de forma que parece ser a história toda. Digo isso porque, se você buscar pesquisar na internet, não demorará mais que 5 minutos para descobrir que o lado contrário à visão defendida pelo documentário também possui muitos bons argumentos.
Muitos fatos chave foram simplesmente excluídos da narrativa, tudo para favorecer a visão unilateral que o documentário defende:
1- O documentário trata a ficha criminal de Avery, como, digamos, "erros de um jovem irresponsável". De fato, só para ficar com a história do gato, sabe-se que, na realidade, ele teria friamente jogado óleo no gato e depois acendido um isqueiro e queimado o gato vivo. O filme apenas diz que ele jogou um gato num fogo, numa espécie de brincadeira de mau-gosto. De qualquer forma, a diferença das histórias mostra diferentes perfis psicológicos, mas o documentário exibe apenas a menos ruim de maneira rápida
2- Uma testemunha aparece no documentário dizendo que Teresa disse-lhe em certa ocasião que uma pessoa muito esquisita e inconveniente ficava ligando para ela, mas que não era para ele (testemunha) se preocupar. Se eu te dissesse que o cara que Teresa fala para seu amigo que ligava para ela, e que ela tinha medo dele, era o próprio Steven Avery? O documentário simplesmente exclui essa informação crucial!
3- Teresa já tinha se encontrado com Steven Avery antes. Ela não gostava dele e, em uma ocasião, ela ficou com medo dele pois ele a recebeu atendendo a porta estando somente de toalha. Após isso, Teresa pediu especificamente para não ter de lidar com Steven Avery. Por esse motivo, quando Steven Avery ligou para agência pedindo para que fossem tiradas fotos da van, pediu para que fosse enviada "aquela mesma menina de antes", e deu o nome de sua irmã como pedinte do serviço (talvez para enganar Teresa, fazendo-a aceitar o serviço pensando que não se tratava dele).
4- Teresa recebeu três ligações de Steven Avery no dia em que desapareceu. As duas primeiras, antes das 15hrs, usando o digito *67 (que esconde o número de quem está ligando, de forma que a ligação fica anônima), e uma vez depois das 16hrs, sem o digito *67. Por que isso? Não seria essa uma tentativa de Steven de fingir que ela não tinha aparecido no local (e por isso ele estaria supostamente ligando procurando por ela)? Só que dessa vez ele não precisava do digito *67, pois sabia que ela não atenderia de qualquer maneira
5- A propósito, a câmera dela e o telefone dela foram encontrados no local do crime.
6- O suor de Steven também foi encontrado dentro do carro
7- A arma do crime foi encontrada, estava registrada no nome de Steven, e a bala encontrada era da arma de Steven. Ou seja, temos toda uma evidência balística aqui que foi ignorada.
Não estou dizendo que Steven Avery seja culpado. Ou que a polícia e promotoria não tenham feito um trabalho ruim ou eticamente reprovável. Só o que eu estou dizendo é que o documentário se esforça para construir uma narrativa unilateral em que um pobre cidadão é atacado com todas as forças por um estado maligno/ineficiente, e que todo um sistema é errado e que alguns sujeitos podem potencialmente incriminar qualquer um, sendo que ignora fatos e questões importantes que sustentam a posição contrária.
Basta observar as entrevistas. Quantos especialistas que pensam que Steven Avery é realmente culpado são entrevistados de forma séria? Todos os experts da área acham que ele é inocente? O caso da acusação era realmente tão fraco e cheio de buracos a ponto de convencer todo o país, os tribunais superiores e especialistas da área?
Não sei, tenho minhas dúvidas. Só acho que temos de ser um pouco críticos e procurar pesquisar mais antes de aceitar a opinião desse documentário. A própria frase final do advogado de defesa do Steven mostra que tem algo por trás do que o documentário mostra: "Eu realmente gostaria que Steve fosse culpado...Pq se ele for inocente e ele foi preso injustamente denovo, seria demais para que eu suportasse". Oras, então há a possibilidade dele ser culpado? Porque pelo que o documentário mostrou, há certeza absoluta de que ele não é culpado, ou que isso é, pelo menos, muito improvável. Talvez, na realidade, não seja tão claro assim de que ele seja inocente...
Enfim, então por mostrar a história de uma lado tão unidimensional, mas fazendo parecer que era a história toda, diminuí a classificação inicial de 5 para 3,5 estrelas, pois ainda acredito que o documentário é importante, deva ser assistido e que se pode aprender muito com ele (tanto do ponto de vista da manipulação do sistema criminal, como da manipulação de narrativas, por exemplo, de documentários e filmes).
Making a Murderer (1ª Temporada)
4.4 282 Assista AgoraEu primeiramente marquei o documentário como 5 estrelas, pois achei a série incrível no sentido de te deixar preso do início ao fim numa narrativa que, se você for analisar, é bastante complexa e cansativa (eu mesmo sentia que estava cansado de "tanta informação", mas mesmo assim queria continuar assistindo).
No entanto, é importante dizer a quem vai assistir a série para tomar um certo cuidado. Você está sendo apresentado a apenas um lado da história, mas de forma que parece ser a história toda. Digo isso porque, se você buscar pesquisar na internet, não demorará mais que 5 minutos para descobrir que o lado contrário à visão defendida pelo documentário também possui muitos bons argumentos.
Muitos fatos chave foram simplesmente excluídos da narrativa, tudo para favorecer a visão unilateral que o documentário defende:
1- O documentário trata a ficha criminal de Avery, como, digamos, "erros de um jovem irresponsável". De fato, só para ficar com a história do gato, sabe-se que, na realidade, ele teria friamente jogado óleo no gato e depois acendido um isqueiro e queimado o gato vivo. O filme apenas diz que ele jogou um gato num fogo, numa espécie de brincadeira de mau-gosto. De qualquer forma, a diferença das histórias mostra diferentes perfis psicológicos, mas o documentário exibe apenas a menos ruim de maneira rápida
2- Uma testemunha aparece no documentário dizendo que Teresa disse-lhe em certa ocasião que uma pessoa muito esquisita e inconveniente ficava ligando para ela, mas que não era para ele (testemunha) se preocupar. Se eu te dissesse que o cara que Teresa fala para seu amigo que ligava para ela, e que ela tinha medo dele, era o próprio Steven Avery? O documentário simplesmente exclui essa informação crucial!
3- Teresa já tinha se encontrado com Steven Avery antes. Ela não gostava dele e, em uma ocasião, ela ficou com medo dele pois ele a recebeu atendendo a porta estando somente de toalha. Após isso, Teresa pediu especificamente para não ter de lidar com Steven Avery. Por esse motivo, quando Steven Avery ligou para agência pedindo para que fossem tiradas fotos da van, pediu para que fosse enviada "aquela mesma menina de antes", e deu o nome de sua irmã como pedinte do serviço (talvez para enganar Teresa, fazendo-a aceitar o serviço pensando que não se tratava dele).
4- Teresa recebeu três ligações de Steven Avery no dia em que desapareceu. As duas primeiras, antes das 15hrs, usando o digito *67 (que esconde o número de quem está ligando, de forma que a ligação fica anônima), e uma vez depois das 16hrs, sem o digito *67. Por que isso? Não seria essa uma tentativa de Steven de fingir que ela não tinha aparecido no local (e por isso ele estaria supostamente ligando procurando por ela)? Só que dessa vez ele não precisava do digito *67, pois sabia que ela não atenderia de qualquer maneira
5- A propósito, a câmera dela e o telefone dela foram encontrados no local do crime.
6- O suor de Steven também foi encontrado dentro do carro
7- A arma do crime foi encontrada, estava registrada no nome de Steven, e a bala encontrada era da arma de Steven. Ou seja, temos toda uma evidência balística aqui que foi ignorada.
Não estou dizendo que Steven Avery seja culpado. Ou que a polícia e promotoria não tenham feito um trabalho ruim ou eticamente reprovável. Só o que eu estou dizendo é que o documentário se esforça para construir uma narrativa unilateral em que um pobre cidadão é atacado com todas as forças por um estado maligno/ineficiente, e que todo um sistema é errado e que alguns sujeitos podem potencialmente incriminar qualquer um, sendo que ignora fatos e questões importantes que sustentam a posição contrária.
Basta observar as entrevistas. Quantos especialistas que pensam que Steven Avery é realmente culpado são entrevistados de forma séria? Todos os experts da área acham que ele é inocente? O caso da acusação era realmente tão fraco e cheio de buracos a ponto de convencer todo o país, os tribunais superiores e especialistas da área?
Não sei, tenho minhas dúvidas. Só acho que temos de ser um pouco críticos e procurar pesquisar mais antes de aceitar a opinião desse documentário. A própria frase final do advogado de defesa do Steven mostra que tem algo por trás do que o documentário mostra: "Eu realmente gostaria que Steve fosse culpado...Pq se ele for inocente e ele foi preso injustamente denovo, seria demais para que eu suportasse". Oras, então há a possibilidade dele ser culpado? Porque pelo que o documentário mostrou, há certeza absoluta de que ele não é culpado, ou que isso é, pelo menos, muito improvável. Talvez, na realidade, não seja tão claro assim de que ele seja inocente...
Enfim, então por mostrar a história de uma lado tão unidimensional, mas fazendo parecer que era a história toda, diminuí a classificação inicial de 5 para 3,5 estrelas, pois ainda acredito que o documentário é importante, deva ser assistido e que se pode aprender muito com ele (tanto do ponto de vista da manipulação do sistema criminal, como da manipulação de narrativas, por exemplo, de documentários e filmes).