Alguns dos muitos detalhes que fazem este filme valer a pena em ser visto:
>A trama se desenrola sob o contexto histórico da guerra entre Irã e Iraque nas décadas de 70 e 80;
>Nisto, Babak Anvari insere o mito dos Jinns, que são seres típicos da mitologia árabe pré-islâmica, acentuando-os como forte traço cultural do Oriente Médio;
>É através de uma crescente de suspense quase hipnótica que o diretor reafirma também que bons filmes de terror não são feitos apenas com os fantasmas ou quaisquer outras criaturas ocidentais, mas também com entidades orientais igualmente ou até mais interessantes e antigas;
>O diretor estabelece uma perspectiva mais sólida e muito mais íntima à realidade para o Terror através de um tema muito pouco abordado neste gênero: a guerra.
Engana-se quem pensa que "Drug War" é um filme de ação, porque desde o início ele quebra muitos dos clichês típicos dos filmes de ação hollywoodianos através de um roteiro inovador com finalização impecável.
Seu enredo se foca mais na tensão que antecede ao acontecimento do que no próprio acontecimento em si. Porque quando chegamos a pensar que haverá aquelas cenas mirabolantes, totalmente irreais das quais já estamos cansados de ver, típicas dos filmes de ação, eis que surge um desfecho totalmente diferente.
Toda a minúcia tática dos policiais em desmantelar o esquema de tráfico de drogas das gangues chinesas é um ótimo exemplo de que para se ter um bom filme policial não é necessário ter ação, mas sim um bom roteiro.
Terminei de ver este filme me perguntando sobre o quanto deve ter sido difícil de se fazê-lo, dada a sua complexidade técnica.
A movimentação dinâmica de câmeras, a interatividade das personagens que por diversas vezes se voltam para as câmeras dando a impressão de que estão te provocando, a combinação rítmica de gestos... junte todas essas coisas às sensações de sujeira e insanidade e a montes consideráveis de vísceras, lama, merda e sangue que você terá uma grotesca visão do Inferno na Idade Média.
É um retrato tão contundente da degeneração humana que chega a ser visceral em todos os sentidos da palavra.
Tenshi no Tamago é puramente simbolista. Entretanto, apesar disto, é um filme que visa ser mais atmosférico do que passar alguma mensagem em si; seu denso teor onírico, melancólico e obscuro traz facilmente o vislumbre de um sonho... Inclusive, os olhares das duas personagens protagonistas são serenos, soturnos e exauridos, o que aliás proporciona um forte tom de mistério à trama.
Outro detalhe bem interessante é a trilha sonora que além de exuberante, realçou significativamente a carga alegórica e atmosférica do filme.
"Perfect Sense" basicamente ilustra uma doença que provoca a perda gradual dos sentidos. Entretanto é interessante reparar no primeiro sintoma dessa doença, que é uma angústia que as pessoas na estória repentinamente sentem, fazendo-as chorar sobre aspectos intrínsecos de suas vidas, mas que não tem causa definida. Não se sabe de onde veio ou como surgiu; as pessoas apenas sentem-na e choram. E então se confirma como pandemia quando os sintomas, tal como os surtos de psicose e histeria coletivas alcançam escalas de maiores proporções, iniciando assim um caos completo.
Note que a narrativa enfatiza desde o início que tal doença misteriosa e aparentemente incurável não tem qualquer manifestação visível. Todos os sintomas, desde a perda gradual de sentidos às alterações bruscas de humor se manifestam internamente, como se os personagens tivessem perdido o senso de si. Foi com isto que comecei a associá-lo como metáfora.
É comum nas doenças psicológicas a perda dos sentidos. Não quero dizer que você literalmente fica cego, surdo e mudo ou que perde o tato, o olfato e o paladar quando sofre de algum transtorno psicológico, mas os sentidos se alteram. O que antes era visível e perceptível para você, depois da doença passa a sê-lo de outra forma. O que antes para você era insuportável passa a ser do teu gosto e vice-versa. E então você precisa se adaptar às novas condições para continuar a viver.
À primeira vista, esse filme parece ser só mais um romance convencional que estamos cansados de ver, mas ele traz consigo uma mensagem bastante interessante, que se enquadra facilmente como um alerta feito de maneira literal sobre as mazelas sociais que estamos enfrentando neste século e a gravidade disto, além de propor um caminho para uma possível solução: agir coletivamente e não individualmente. Porque transtornos psicológicos podem ser melhor combatidos quando há um interesse de todos em resolvê-los.
Talvez, uma das maiores visões cinematográficas de como seria a vida se o sentido do tempo fosse anti-horário.
Pode parecer simples, mas levando em conta a época em que foi lançado, um filme em sentido anti-horário com uma narrativa em sentido horário é, talvez, uma das mais brilhantes inovações já feitas.
Cara, a premissa desse filme é muito, muito boa. Pena que não é tão bem explorada como deveria.
Mas um parque de diversões simulando minuciosamente três realidades diferentes em tempos distintos (Velho Oeste, Império Romano e Idade Média), com androides, armas com sensores e toda uma central de controle... É uma ideia bem à frente para os filmes de Sci-Fi daquela época, e só de pensar nisso dá para imaginar muita coisa interessante acerca do próprio futuro.
Apesar do roteiro não ter sido tão bem desenvolvido, "Westworld" consegue prender a atenção, mais por acabar sendo descontraído com suas inclinações ao famigerado pastelão.
É interessante notar nesse filme que sua abordagem às diferentes reações dos personagens ao amor dialoga com muita gente que passa ou passou por dilemas parecidos, para não dizer os mesmos.
Você se envolve simultaneamente com duas pessoas, ambas magníficas. À medida em que as conhece, uma delas se apaixona por você; já você, entretanto, se apaixona pela outra pessoa, inicialmente por maior afinidade, por "química", e ela, por sua vez, está presa emocionalmente à uma outra pessoa com quem mantém uma relação proibida, o que você só descobre depois de apaixonado(a). Em vez de tomar a decisão sensata — que é terminar o relacionamento com quem te ama em vez de continuar tratando-a como "muleta", já que você não a corresponde —, você insiste nessa pessoa impossível, enrolada até o pescoço, por nutrir forçadamente uma frágil esperança numa crescente de desesperança (o famoso "trocar o certo pelo duvidoso"), o que se realiza quando essa relação proibida cai por terra. Você toma ares de êxtase, decide abrir mão de tudo e de todos para então começar uma relação — ainda mantendo uma relação com aquela outra pessoa que te ama — com essa pessoa que para você antes estivera "inacessível"... E é justamente no ápice da transição para uma nova vida com essa pessoa atada a outro relacionamento, quando você acredita que ela está começando a deixar de lado essa outra pessoa a quem ela ainda ama, que você é simplesmente dispensado(a), pois esta pessoa amada por quem você ama, decidira também largar tudo para assumir aquele relacionamento até então proibido.
E é aí, já delirando em esquecimento, frustrado(a) pela rejeição, que você então se lembra daquela pessoa que inicialmente se apaixonou por você e então decide assumir o relacionamento com ela... Mas não porque resolvera corresponder o amor dela por você, mas sim por conformidade.
Amer é pura estética. Com influências de Mario Bava e Dario Argento, o filme bebe da fonte do Giallo, desde o pôster, uso de cores, iluminação e angulações de câmera à trilha sonora e aos créditos iniciais e finais.
Outro elemento característico do Giallo também presente neste filme se dá pela inserção de um personagem mascarado.
No entanto, estética à parte, o roteiro me deixou muito a desejar, isto se houve algum roteiro. Ia tudo bem até os 27 minutos, mas a partir daí já não houve mais preocupação alguma com a narrativa, faltou objetividade, consistência e o principal: uma sólida construção do suspense. Se não fosse por isto, seria um bom filme saudosista.
"Um cenário que parece uma pintura não faz uma pintura. Se você parar para olhar de perto, toda a natureza tem sua própria beleza. Quando aquela beleza natural está lá eu me perco nela. E então, como em um sonho, a cena se pinta sozinha para mim! Sim! Eu consumo esta paisagem natural! Eu a devoro completa e inteiramente! Então quando eu termino a pintura aparece diante de mim completa."
Será este o sonho humano sobre a natureza ou será, então, o lamento da natureza sobre o pesadelo humano?
"Você vivia como em uma prisão moral da qual você tentava escapar escalando, dia após dia, o muro das convenções e inibições que o passado havia erguido na sua frente. Hoje eu sei que você estava indefeso, destinado a um sacrifício sem razão, em um mundo no qual até um cordeiro é forçado a proteger-se ferozmente."
Das atuações do Mastroianni, esta é tão colossal que eu jamais irei me esquecer. E eu nunca vi um drama fraternal retratado de maneira tão poética como neste filme.
É um ótimo filme com um suspense muito bem dosado. Mas o que o prejudica são essas aparições toscas do demônio que dão um tom de amadorismo a um filme que tem bons atributos para ser uma obra-prima.
É como se todas as concepções que o homem tem de si e do mundo lhe fossem arrancadas das entranhas. Sua percepção se ofusca e todas as suas perspectivas se perdem de modo que o próprio homem também se perca em si mesmo, irremediavelmente.
Não digo que entendi todos os pontos do filme de Veiko Õunpuu (preciso rever), mas certos detalhes dialogaram comigo.
Tem um desenvolvimento caralhudo com um puta dum plot loco e um roteiro igualmente do caralho.
Atuações razoáveis. Fotografia ok.
Um detalhe notável no filme é sua atmosfera de tensão do cacete que por alguns momentos me deixou bem instigado ao ponto de falar mais "caralho" do que eu falei aqui.
Mas me pergunto: com todo um potencial para se tornar um puta dum filme marcante terminando com uma vasta gama de finais possíveis — convenhamos que o roteiro por ser bem construído abre várias possibilidades de desfecho —, "Don't Breathe" tinha de terminar justamente com um clichê?
David Lynch é talvez o único artista nesse mundo que mesmo "explicando" os porquês de sua obra, consegue deixá-la ainda mais enigmática.
Puta merda, como eu amo este senhor!
Quanto às cenas... Que presente esse compilado de extras! Só pérolas, com destaque maior à cena de Annie e aquela, de Laura se escondendo de Leland atrás do arbusto — caralho que cena maravilhosa foi aquela?! ♥
Olha, eu não gostei tanto da narrativa deste filme, mas... Caralho! Que fotografia soberba! Cada enquadramento faz uma pintura diferente, e a combinação de elementos na composição de cada cena somada ao olhar melancólico e apaixonado de Manoel de Oliveira por vezes me lembra a obra-prima de Tarkovsky, "O Espelho".
O diretor não só compôs uma poesia visual rica em detalhes como retratou com uma certa maestria um pensamento que sempre ecoou em minha mente. Essa ideia de se apaixonar pela alma de alguém que já morrera e se obcecar por ela ao ponto de transgredir a própria vida não poderia ser mostrada de maneira melhor.
A fotografia e ambientação deste filme são lindas de se ver. Muito à frente de seu tempo, além de ter contribuído significativamente para a construção da linguagem do Terror.
No entanto, eu só não gostei muito de algumas atuações e construções de personagem. A Nell, inclusive, achei bem irritante, apesar de reconhecer que esta personagem é importante ao enredo.
O jogo de câmeras explorando diferentes ângulos é bem dinâmico e transmite uma certa intuição que logo te envolve na atmosfera do filme.
Sabe aqueles eventos extremamente ocasionais e tão lisérgicos que te fazem questionar a própria realidade, que acontecem isoladamente uma única vez ou em algumas porém distintas épocas de tua vida, mas que te fazem pensar que são coisas da tua cabeça?
Sabe aquelas pessoas absurdamente sinistras, que só de olhar te dão um arrepio na espinha, que você jura ter visto antes, mas que na verdade nunca viu e que sabe que jamais as verá novamente, tendo em vista o quão singulares são e, depois de muito tempo, quando você recorre às lembranças destas raras ocasionalidades remotas, sente o mesmo arrepio na espinha com a mesma intensidade que sentiu ao vislumbrar tais eventos e pessoas?
Então... David Lynch é mestre em retratá-los. Tanto que cada personagem presente e evento ocorrido em seus filmes são puramente metafísicos.
Vi, revi e entendi Mulholland Drive (para entender basta inverter a ordem temporal do filme), mas, ainda assim, este filme permanece um mistério para mim, como se eu jamais fosse capaz de decifrá-lo. Não só este, mas quase todos os seus filmes. Ou seja, você pode entender cada um dos filmes de David Lynch, mas ainda assim você se sente frustrado e com a mesma curiosidade de quando começou a vê-los, porque ainda que os tenha decifrado, você sente que deixou algum detalhe sutilmente microscópico e extremamente importante passar. E então você revê mais uma, duas, três, dez, vinte ou mais vezes em diferentes épocas de tua vida e ainda assim a tua percepção, por mais apurada que estiver, não será suficiente para absorvê-los totalmente.
Tive pela segunda vez uma das maiores e mais extraordinárias experiências cinematográficas de minha vida com o mesmo filme. E apesar de saber exatamente o que iria acontecer em cada uma das cenas, tive exatamente a mesma sensação de confusão e deslumbramento que tive da primeira vez que o vi.
Sob a Sombra
3.4 338 Assista AgoraAlguns dos muitos detalhes que fazem este filme valer a pena em ser visto:
>A trama se desenrola sob o contexto histórico da guerra entre Irã e Iraque nas décadas de 70 e 80;
>Nisto, Babak Anvari insere o mito dos Jinns, que são seres típicos da mitologia árabe pré-islâmica, acentuando-os como forte traço cultural do Oriente Médio;
>É através de uma crescente de suspense quase hipnótica que o diretor reafirma também que bons filmes de terror não são feitos apenas com os fantasmas ou quaisquer outras criaturas ocidentais, mas também com entidades orientais igualmente ou até mais interessantes e antigas;
>O diretor estabelece uma perspectiva mais sólida e muito mais íntima à realidade para o Terror através de um tema muito pouco abordado neste gênero: a guerra.
Assim na Terra Como no Inferno
3.2 1,0K Assista AgoraApesar do final bem fraco para o desenvolvimento que o filme teve, não deixa de ser interessante.
E uma coisa se pode tirar com este filme: não mexa com a porra do desconhecido a menos que você não tenha medo das consequências disto.
Cores do Destino
3.5 196 Assista AgoraMaluco, esse filme desgraçou a minha cabeça de uma forma que eu sinto meu cérebro jogado num moedor de carne!
Drug War
3.9 26Engana-se quem pensa que "Drug War" é um filme de ação, porque desde o início ele quebra muitos dos clichês típicos dos filmes de ação hollywoodianos através de um roteiro inovador com finalização impecável.
Seu enredo se foca mais na tensão que antecede ao acontecimento do que no próprio acontecimento em si. Porque quando chegamos a pensar que haverá aquelas cenas mirabolantes, totalmente irreais das quais já estamos cansados de ver, típicas dos filmes de ação, eis que surge um desfecho totalmente diferente.
Toda a minúcia tática dos policiais em desmantelar o esquema de tráfico de drogas das gangues chinesas é um ótimo exemplo de que para se ter um bom filme policial não é necessário ter ação, mas sim um bom roteiro.
É Difícil Ser Um Deus
3.8 24Terminei de ver este filme me perguntando sobre o quanto deve ter sido difícil de se fazê-lo, dada a sua complexidade técnica.
A movimentação dinâmica de câmeras, a interatividade das personagens que por diversas vezes se voltam para as câmeras dando a impressão de que estão te provocando, a combinação rítmica de gestos... junte todas essas coisas às sensações de sujeira e insanidade e a montes consideráveis de vísceras, lama, merda e sangue que você terá uma grotesca visão do Inferno na Idade Média.
É um retrato tão contundente da degeneração humana que chega a ser visceral em todos os sentidos da palavra.
A Menina e o Ovo de Anjo
4.0 128Tenshi no Tamago é puramente simbolista. Entretanto, apesar disto, é um filme que visa ser mais atmosférico do que passar alguma mensagem em si; seu denso teor onírico, melancólico e obscuro traz facilmente o vislumbre de um sonho... Inclusive, os olhares das duas personagens protagonistas são serenos, soturnos e exauridos, o que aliás proporciona um forte tom de mistério à trama.
Outro detalhe bem interessante é a trilha sonora que além de exuberante, realçou significativamente a carga alegórica e atmosférica do filme.
Sentidos do Amor
4.1 1,2KBoa metáfora dos transtornos psicológicos.
"Perfect Sense" basicamente ilustra uma doença que provoca a perda gradual dos sentidos. Entretanto é interessante reparar no primeiro sintoma dessa doença, que é uma angústia que as pessoas na estória repentinamente sentem, fazendo-as chorar sobre aspectos intrínsecos de suas vidas, mas que não tem causa definida. Não se sabe de onde veio ou como surgiu; as pessoas apenas sentem-na e choram. E então se confirma como pandemia quando os sintomas, tal como os surtos de psicose e histeria coletivas alcançam escalas de maiores proporções, iniciando assim um caos completo.
Note que a narrativa enfatiza desde o início que tal doença misteriosa e aparentemente incurável não tem qualquer manifestação visível. Todos os sintomas, desde a perda gradual de sentidos às alterações bruscas de humor se manifestam internamente, como se os personagens tivessem perdido o senso de si. Foi com isto que comecei a associá-lo como metáfora.
É comum nas doenças psicológicas a perda dos sentidos. Não quero dizer que você literalmente fica cego, surdo e mudo ou que perde o tato, o olfato e o paladar quando sofre de algum transtorno psicológico, mas os sentidos se alteram. O que antes era visível e perceptível para você, depois da doença passa a sê-lo de outra forma. O que antes para você era insuportável passa a ser do teu gosto e vice-versa. E então você precisa se adaptar às novas condições para continuar a viver.
À primeira vista, esse filme parece ser só mais um romance convencional que estamos cansados de ver, mas ele traz consigo uma mensagem bastante interessante, que se enquadra facilmente como um alerta feito de maneira literal sobre as mazelas sociais que estamos enfrentando neste século e a gravidade disto, além de propor um caminho para uma possível solução: agir coletivamente e não individualmente. Porque transtornos psicológicos podem ser melhor combatidos quando há um interesse de todos em resolvê-los.
Final Feliz
4.4 12Talvez, uma das maiores visões cinematográficas de como seria a vida se o sentido do tempo fosse anti-horário.
Pode parecer simples, mas levando em conta a época em que foi lançado, um filme em sentido anti-horário com uma narrativa em sentido horário é, talvez, uma das mais brilhantes inovações já feitas.
Westworld - Onde Ninguém Tem Alma
3.3 197Cara, a premissa desse filme é muito, muito boa. Pena que não é tão bem explorada como deveria.
Mas um parque de diversões simulando minuciosamente três realidades diferentes em tempos distintos (Velho Oeste, Império Romano e Idade Média), com androides, armas com sensores e toda uma central de controle... É uma ideia bem à frente para os filmes de Sci-Fi daquela época, e só de pensar nisso dá para imaginar muita coisa interessante acerca do próprio futuro.
Apesar do roteiro não ter sido tão bem desenvolvido, "Westworld" consegue prender a atenção, mais por acabar sendo descontraído com suas inclinações ao famigerado pastelão.
Vale a pena ver, sim.
Amantes
3.5 340É interessante notar nesse filme que sua abordagem às diferentes reações dos personagens ao amor dialoga com muita gente que passa ou passou por dilemas parecidos, para não dizer os mesmos.
Você se envolve simultaneamente com duas pessoas, ambas magníficas. À medida em que as conhece, uma delas se apaixona por você; já você, entretanto, se apaixona pela outra pessoa, inicialmente por maior afinidade, por "química", e ela, por sua vez, está presa emocionalmente à uma outra pessoa com quem mantém uma relação proibida, o que você só descobre depois de apaixonado(a). Em vez de tomar a decisão sensata — que é terminar o relacionamento com quem te ama em vez de continuar tratando-a como "muleta", já que você não a corresponde —, você insiste nessa pessoa impossível, enrolada até o pescoço, por nutrir forçadamente uma frágil esperança numa crescente de desesperança (o famoso "trocar o certo pelo duvidoso"), o que se realiza quando essa relação proibida cai por terra. Você toma ares de êxtase, decide abrir mão de tudo e de todos para então começar uma relação — ainda mantendo uma relação com aquela outra pessoa que te ama — com essa pessoa que para você antes estivera "inacessível"... E é justamente no ápice da transição para uma nova vida com essa pessoa atada a outro relacionamento, quando você acredita que ela está começando a deixar de lado essa outra pessoa a quem ela ainda ama, que você é simplesmente dispensado(a), pois esta pessoa amada por quem você ama, decidira também largar tudo para assumir aquele relacionamento até então proibido.
E é aí, já delirando em esquecimento, frustrado(a) pela rejeição, que você então se lembra daquela pessoa que inicialmente se apaixonou por você e então decide assumir o relacionamento com ela... Mas não porque resolvera corresponder o amor dela por você, mas sim por conformidade.
Isto é mais comum do que se imagina, não?
Amargo
3.6 43 Assista AgoraAmer é pura estética. Com influências de Mario Bava e Dario Argento, o filme bebe da fonte do Giallo, desde o pôster, uso de cores, iluminação e angulações de câmera à trilha sonora e aos créditos iniciais e finais.
Outro elemento característico do Giallo também presente neste filme se dá pela inserção de um personagem mascarado.
No entanto, estética à parte, o roteiro me deixou muito a desejar, isto se houve algum roteiro. Ia tudo bem até os 27 minutos, mas a partir daí já não houve mais preocupação alguma com a narrativa, faltou objetividade, consistência e o principal: uma sólida construção do suspense. Se não fosse por isto, seria um bom filme saudosista.
Sonhos
4.4 381 Assista Agora"Um cenário que parece uma pintura não faz uma pintura. Se você parar para olhar de perto, toda a natureza tem sua própria beleza. Quando aquela beleza natural está lá eu me perco nela. E então, como em um sonho, a cena se pinta sozinha para mim!
Sim! Eu consumo esta paisagem natural! Eu a devoro completa e inteiramente! Então quando eu termino a pintura aparece diante de mim completa."
Será este o sonho humano sobre a natureza ou será, então, o lamento da natureza sobre o pesadelo humano?
Bem, esta obra de arte consegue ser os dois.
Dois Destinos
4.2 25"Você vivia como em uma prisão moral da qual você tentava escapar escalando, dia após dia, o muro das convenções e inibições que o passado havia erguido na sua frente. Hoje eu sei que você estava indefeso, destinado a um sacrifício sem razão, em um mundo no qual até um cordeiro é forçado a proteger-se ferozmente."
Das atuações do Mastroianni, esta é tão colossal que eu jamais irei me esquecer. E eu nunca vi um drama fraternal retratado de maneira tão poética como neste filme.
Guardarei por muito tempo comigo.
A Noite do Demônio
3.8 57 Assista AgoraÉ um ótimo filme com um suspense muito bem dosado. Mas o que o prejudica são essas aparições toscas do demônio que dão um tom de amadorismo a um filme que tem bons atributos para ser uma obra-prima.
O Sul
4.2 22 Assista Agoraindescritivelmente belo.
Pelo Amor e Pela Morte
3.9 131Em DellaMorte DellAmore, Rupert Everett se parece com o Peter Steele, mas de cabelo curto. Hahaha
As Tentações de São Tony
4.2 19Que instigante...
É como se todas as concepções que o homem tem de si e do mundo lhe fossem arrancadas das entranhas. Sua percepção se ofusca e todas as suas perspectivas se perdem de modo que o próprio homem também se perca em si mesmo, irremediavelmente.
Não digo que entendi todos os pontos do filme de Veiko Õunpuu (preciso rever), mas certos detalhes dialogaram comigo.
A esperança é frágil como a chama de uma vela.
O Homem nas Trevas
3.7 1,9K Assista AgoraCerto... O filme tem uma premissa do caralho.
Tem um desenvolvimento caralhudo com um puta dum plot loco e um roteiro igualmente do caralho.
Atuações razoáveis. Fotografia ok.
Um detalhe notável no filme é sua atmosfera de tensão do cacete que por alguns momentos me deixou bem instigado ao ponto de falar mais "caralho" do que eu falei aqui.
Mas me pergunto: com todo um potencial para se tornar um puta dum filme marcante terminando com uma vasta gama de finais possíveis — convenhamos que o roteiro por ser bem construído abre várias possibilidades de desfecho —, "Don't Breathe" tinha de terminar justamente com um clichê?
Não entendirr...
Twin Peaks: O Mistério
4.0 45David Lynch é talvez o único artista nesse mundo que mesmo "explicando" os porquês de sua obra, consegue deixá-la ainda mais enigmática.
Puta merda, como eu amo este senhor!
Quanto às cenas... Que presente esse compilado de extras! Só pérolas, com destaque maior à cena de Annie e aquela, de Laura se escondendo de Leland atrás do arbusto — caralho que cena maravilhosa foi aquela?! ♥
Madame Satã
3.9 421 Assista AgoraTirando o chapéu para essa atuação do Lázaro Ramos. Ê bicho porreta!
O Estranho Caso de Angélica
3.4 40Olha, eu não gostei tanto da narrativa deste filme, mas... Caralho! Que fotografia soberba! Cada enquadramento faz uma pintura diferente, e a combinação de elementos na composição de cada cena somada ao olhar melancólico e apaixonado de Manoel de Oliveira por vezes me lembra a obra-prima de Tarkovsky, "O Espelho".
O diretor não só compôs uma poesia visual rica em detalhes como retratou com uma certa maestria um pensamento que sempre ecoou em minha mente. Essa ideia de se apaixonar pela alma de alguém que já morrera e se obcecar por ela ao ponto de transgredir a própria vida não poderia ser mostrada de maneira melhor.
Desafio do Além
3.7 138 Assista AgoraA fotografia e ambientação deste filme são lindas de se ver. Muito à frente de seu tempo, além de ter contribuído significativamente para a construção da linguagem do Terror.
No entanto, eu só não gostei muito de algumas atuações e construções de personagem. A Nell, inclusive, achei bem irritante, apesar de reconhecer que esta personagem é importante ao enredo.
O jogo de câmeras explorando diferentes ângulos é bem dinâmico e transmite uma certa intuição que logo te envolve na atmosfera do filme.
Vale muito a pena ver.
Invasão Zumbi
4.0 2,1K Assista AgoraCaralho, agora eu sei como são zumbis cheirados de pó.
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraSabe aqueles eventos extremamente ocasionais e tão lisérgicos que te fazem questionar a própria realidade, que acontecem isoladamente uma única vez ou em algumas porém distintas épocas de tua vida, mas que te fazem pensar que são coisas da tua cabeça?
Sabe aquelas pessoas absurdamente sinistras, que só de olhar te dão um arrepio na espinha, que você jura ter visto antes, mas que na verdade nunca viu e que sabe que jamais as verá novamente, tendo em vista o quão singulares são e, depois de muito tempo, quando você recorre às lembranças destas raras ocasionalidades remotas, sente o mesmo arrepio na espinha com a mesma intensidade que sentiu ao vislumbrar tais eventos e pessoas?
Então... David Lynch é mestre em retratá-los. Tanto que cada personagem presente e evento ocorrido em seus filmes são puramente metafísicos.
Vi, revi e entendi Mulholland Drive (para entender basta inverter a ordem temporal do filme), mas, ainda assim, este filme permanece um mistério para mim, como se eu jamais fosse capaz de decifrá-lo. Não só este, mas quase todos os seus filmes. Ou seja, você pode entender cada um dos filmes de David Lynch, mas ainda assim você se sente frustrado e com a mesma curiosidade de quando começou a vê-los, porque ainda que os tenha decifrado, você sente que deixou algum detalhe sutilmente microscópico e extremamente importante passar. E então você revê mais uma, duas, três, dez, vinte ou mais vezes em diferentes épocas de tua vida e ainda assim a tua percepção, por mais apurada que estiver, não será suficiente para absorvê-los totalmente.
Tive pela segunda vez uma das maiores e mais extraordinárias experiências cinematográficas de minha vida com o mesmo filme. E apesar de saber exatamente o que iria acontecer em cada uma das cenas, tive exatamente a mesma sensação de confusão e deslumbramento que tive da primeira vez que o vi.
David Lynch é um gênio.