Quando o primeiro Vingadores foi lançado, em 2012, Joss Whedon assumiu o trono de rei do mundo nerd. Ele parecia ter chegado ao auge de uma carreira de bons serviços prestados à cultura pop com filmes, séries de TV e quadrinhos, criando uma legião de fãs fiéis.
O filme era tudo que um leitor de quadrinhos sempre sonhou ver no cinema: uma celebração em grande estilo de uma subcultura tão massacrada por décadas, mas que agora se tornava o centro das atenções. Afinal, hoje em dia ser nerd é a regra, não a exceção.
Os executivos de Hollywood mais espertos perceberam, pelos sucessos e fracassos anteriores, que os melhores filmes de super-heróis eram escritos e dirigidos por leitores de quadrinhos, por conhecedores dos universos da DC e da Marvel.
Então, ninguém melhor do que Joss Whedon para conduzir o mais ambicioso filme de super-herói. E, em linhas gerais, o cara não decepcionou. Entregou um filme bem produzido com uma dinâmica convincente entre personagens tão icônicos. Agradou a fãs de quadrinhos e o público em geral.
Com o primeiro Vingadores, a Marvel (comprada pela Disney) começava de fato sua dominação do mundo do entretenimento.
Na sequência, vieram sucessos de bilheteria e de crítica, como Guardiões da Galáxia e Capitão América - Soldado Invernal.
Depois vieram o anúncio não só de Era de Ultron, mas de vários filmes da Marvel, mostrando que o comando do presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, tinha pulso firme e sabia que rumos dar aos negócios. Enquanto que a DC (bancada pela Warner), sua concorrente mais direta, batia cabeça no esforço de dar uma resposta à altura em termos de bilheteria e qualidade de suas produções.
O modelo de universo compartilhado da Marvel, onde todos os filmes conversam entre si, fazendo referências uns aos outros, virou a nova menina dos olhos de Hollywood. É um modelo que permite lançar uma série de filmes com uma marca forte, conseguindo estabelecer uma linha de montagem de produção bem azeitada para conquistar uma sequência de gordas bilheterias. Agora todo estúdio quer um universo compartilhado para chamar de seu.
Portanto, Era de Ultron deveria ser a confirmação de que a Marvel está no caminho certo, da consolidação de seu domínio. Em termos comerciais, o filme cumpriu seu papel, foi muito bem de arrecadação.
Já em termos criativos, o filme é um retrocesso.
Deslumbrado com o próprio poder de fogo, a Marvel resolveu fazer algo megalomaníaco. Com isso, perdeu o foco, perdeu consistência. Achei o filme divertido e seu visual é deslumbrante. Mas os problemas incomodam e até deixam o espectador entediado e com vergonha alheia.
Vamos aos pontos positivos. A química entre os vingadores ainda continua afiada, tanto nos momentos de humor e integração, quanto nas divergências, nas brigas entre eles. Esse é um elemento que fez toda a diferença no primeiro filme. E se mantém neste.
Os efeitos especiais foram aprimorados. Tudo está mais bonito de ver. Inclusive as representações digitais dos vingadores. O visual de Ultron é um luxo. As cenas de destruição estão bem inseridas no todo, com um incrível nível de textura e movimento.
A melhor novidade do filme foi a introdução de Visão. A caracterização está perfeita e a performance de Paul Bettany, que também faz a voz de Jarvis, é inspiradora. O arco de sua criação talvez seja a única coisa bem desenvolvida no filme. A cena em que ele empunha pela primeira vez Mjolnir, o martelo de Thor, é a minha preferida.
As cenas de ação são empolgantes. Mas fiquei frustrado com a luta entre Hulk e a Hulkbuster, já que praticamente tudo tinha sido mostrado nos trailers.
O mais evidente é que Era de Ultron é um filme maior que precisou ter cenas cortadas para se tornar comercialmente viável. Joss Whedon chegou a montar uma cópia com três horas e dez minutos. A que foi exibida nos cinemas tem duas horas e vinte e um minutos. Remontar filmes é algo normal na indústria. Mas no caso aqui, parece que a coisa foi feita meio a facão. O que é inconcebível numa produção desse porte. Exemplo: a parceria entre a Feiticeira Escarlate, Mercúrio e Ultron se dá sem nenhuma explicação prévia. Os gêmeos chegam a uma igreja em ruínas no Leste Europeu para se encontrar com Ultron. Só que o espectador não fica sabendo como Ultron entrou em contato com os irmãos. Acontece esse tipo derrapada em outros momentos importantes do filme. Parece não existir a mínima preocupação em contextualizar certos eventos.
Falando nos irmãos Maximoff, para mim eles não convenceram. O Mercúrio de Aaron Taylor-Johnson não tem o menor carisma. Para piorar, sempre vamos compará-lo com o divertido Mercúrio de X-Men – Dias de um Futuro Esquecido. A Feiticeira Escarlate de Elisabeth Olsen teria potencial para ser uma personagem relevante, mas fica só na promessa. Assim como todas as personagens femininas da Marvel no cinema.
E justamente nesse aspecto, a Marvel mostra de uma vez por todas seu desprezo por suas heroínas. Isso acabou se tornando uma constante, algo bastante criticado por fãs e pelos críticos. O sexismo nos filmes da Marvel saiu do armário em Era de Ultron. Seu universo nos quadrinhos possui personagens femininas poderosas, que já deveriam ter feito participações no filme de outros heróis ou ter protagonizado os seus próprios.
Numa troca de e-mails que vazou recentemente, o presidente da Marvel Entertainement, Isaac Perlmutter, admitiu que investir em filmes de heroínas só dá prejuízo. O problema é que ele tomou como exemplos Mulher-Gato, com Halle Berry, Supergirl, com Helen Slater, um filme dos anos 1980, dentre outras produções fracas que foram mal de bilheteria. Ele não levou em conta sucessos recentes com protagonistas femininas como a franquia Jogos Vorazes, Frozen e Gravidade. Ou seja, seu julgamento foi de pura má-fé. De puro machismo mesmo.
Em Era de Ultron, todas as personagens femininas tem um desenvolvimento problemático, inclusive as mais fortes. Na maioria do tempo, todas estão a um passo atrás dos machos. Maria Hill, doutora Cho, a esposa do Gavião Arqueiro, a Feiticeira Escarlate e Viúva Negra. A maior vítima é a espiã russa.
Pelo menos, as outras foram deixadas em paz. Mas Natasha Romanoff se tornou um bichinho de pelúcia. A relação dela com Bruce Banner/Hulk é forçada. O clima romântico é constrangedor porque foi feito de uma maneira tão brega, com uma mão tão pesada. Uma maneira de suavizar a personagem. Uma mulher de passado obscuro e atitudes fora do padrão. Ou seja, uma mulher que os homens não entendem. E isso os incomoda.
Ao invés da Viúva Negra evoluir nesse universo, merecendo até seu filme solo, ela na verdade encolheu. Isso gerou muita revolta dos fãs. E o então feminista Joss Whedon, conhecido por suas heroínas fortes de produções passadas, foi chamado de sexista. Um artigo interessante até questiona a real consistência desse feminismo na obra de Whedon, acusando-o de ser uma farsa.
Agora Whedon está com a imagem arranhada junto aos fãs. E parece que está se despedindo da Marvel. Talvez siga o caminho de John Favreau, o diretor de Homem de Ferro 1 e 2, que foi tão importante para o sucesso inicial do Marvel Studios, mas que resolveu seguir o próprio caminho. Talvez Whedon dê uma de J.J. Abrams e vá trabalhar com a DC. O Joss Whedon de Era de Ultron é uma figura desgastada. Diferente daquele outro de 2012, quando ele podia se sentir o nerd mais feliz do planeta.
O vilão Ultron não trás nada de novo. Nenhuma ameaça realmente de abalar as estruturas. Depois dele, os vingadores continuam como antes. Ele entra para a galeria dos vilões cheios de pose, mas sem consistência, ao lado de Loki, Malekith e Ronan. Age mais como uma criança malcriada. Bem diferente da figura ameaçadora dos trailers. Além do mais, o arco de sua criação é apressado e sem muito sentido.
Outra coisa que me incomodou muito foi o tempo gasto com o Gavião Arqueiro. Pra que aquilo? Gavião paizão de família? Que coisa mais classe média. Tudo bem em mostrar o lado mais humano dos personagens. Agora vamos fazer direito. O mesmo Jeremy Renner fez um militar e pai de família cheio de conflitos em Guerra ao Terror, um homem em dúvida em definir suas prioridades entre o trabalho perigoso e a vida civil. Foi algo mais intenso e, por isso, mais emocional. Em Era de Ultron, tudo é levado na maior leveza, gerando momentos de um draminha piegas, ou de um humor fácil, rasteiro.
Sem considerar sentimentos nostálgicos, fato é que os anos 1980 foram o auge dos quadrinhos da DC e da Marvel. Simplesmente porque a razão de ser dessas editoras eram os quadrinhos e seus leitores. Havia uma preocupação em contar boas estórias. Hoje em dia, as editoras são apenas uma pequena parcela de um negócio muito maior. Agora os filmes são o filé dessas empresas. Na mentalidade da indústria, filmes de super-heróis devem ser feitos para o grande público. Ok. Isso é totalmente compreensivo. Mas os melhores filmes de super-heróis foram aqueles que souberam aproveitar a matéria-prima dos quadrinhos para criar obras não só pensando em dinheiro, mas também em deixar um legado cultural.
Dos doze filmes lançados pela Marvel Studios até hoje, Vingadores 1, Capitão América – Soldado Invernal e Guardiões da Galáxia são os melhores. Por mostrarem algo de novo; ou melhor dizendo, algo muito bem reciclado. E por seus realizadores saberem que filmes de super-heróis com vários personagens devem ser resolvidos durante a ação, sem perder o foco, sem gordura.
O saldo que fica de Era de Ultron é que parece que Joss Whedon e a Marvel desaprenderam a fazer filmes para serem amados. Era de Ultron está com a mesma cara de outras produções pipoca com muita tecnologia, mas sem ter muito o que dizer, o que inspirar, abrindo especulações para o futuro. A Marvel fará uma autocrítica, vai admitir que errou a mão? Ou vai continuar seguindo nesse mesmo rumo, porque, afinal, o dinheiro está entrando?
Kingsman – Serviço Secreto é indecentemente divertido. Ele tem tudo o que você poderia esperar de um novo filme de James Bond.
Enquanto o Bond oficial não consegue sair da fossa, os espiões protagonistas de Kingsman parecem parentes dos antigos 007, principalmente, de Roger Moore. Colin Firth parece um filho de Moore, e o novato Taron Egerton, o neto. Eles têm classe, charme, humor e múltiplas habilidades para matar.
E ainda há outros elementos que fazem a farra dos carentes fãs de Bond: o vilão megalomaníaco, seu braço direito com uma característica exótica e mortal (aqui é uma mulher com próteses de lâminas no lugar das pernas), os gadgets, o exagero e a leveza. Mas uma leveza que, na hora da ação, é interrompida por uma violência acima da média.
Em uma sequência em particular, numa igreja, a violência tornou-se absurdamente gráfica. Aliás muito bem coreografada, com o uso bastante insano dos efeitos especiais. É um triunfo técnico, mas deixou a impressão de que o diretor Matthew Vaughn é um menino meio perturbado que teve total liberdade para se divertir com brincadeiras bem pesadas.
Vaughn é um diretor muito talentoso, suas obras mais conhecidas são Kick Ass e X-Men: Primeira Classe. Prefiro quando ele não investe tanto na violência física, e sim na construção de personagens e em motivações mais complexas, como ele fez no filme dos mutantes. E também em sua estreia na direção, o ótimo Layer Cake, o meu preferido.
O roteiro de Kingsman tem soluções interessantes, mas os defeitos incomodam. O maior deles é insistir no machismo dos antigos filmes de Bond. Existem personagens femininas duronas, mas elas não são poderosas, como se quase não pudessem decidir sobre seus próprios destinos. Elas agem sempre em função dos homens, sejam aliados ou inimigos. E o curioso é que um dos roteiristas é uma mulher.
Se numa continuação seus realizadores deixarem o machismo e a violência exagerada de lado, e manterem todo o resto, será melhor a franquia 007 ficar preocupada.
Quando fui ao cinema, eu já sabia o que me esperava. Aliás, pensava que sabia. Na verdade, a coisa foi muito pior.
Eu torcia para que esse filme fosse a volta por cima dos irmãos Wachowskis.
No primeiro Matrix, eles se revelaram como ótimos recicladores de ideias. Misturaram simplificações de conceitos filosóficos, literatura cyberpunk e estética de anime para criar uma mitologia consistente sobre o embate entre homens e máquinas num futuro sombrio. Adicionem a isso as cenas de luta lindamente coreografadas, os efeitos especiais inovadores e os personagens carismáticos (mocinhos e vilões), e temos um dos filmes mais importantes para a indústria do cinema das últimas décadas. Matrix foi um sucesso de bilheteria e se tornou uma referência da cultura pop porque um grupo de pessoas talentosas criou algo acima da média, algo para se tornar objeto de culto. Assim como Star Wars foi em 1977. Tudo bem, Guerra nas Estrelas teve mais impacto.
Então, ao analisar a carreira dos Wachowskis, a ficha finalmente caiu para mim. De uma vez por todas, eu entendi que eles sofrem de uma doença chamada “síndrome de George Lucas”. Quer dizer,eles são uma versão piorada de George Lucas. Dos 11 longas-metragens em que exerceram alguma função de diretores, roteiristas e/ou produtores, à exceção do primeiro Matrix, nenhum de seus filmes teve nada de realmente positivo. Matrix 2 e 3 fizeram muito dinheiro, mas todos concordam que são grandes decepções. E V de Vingança não foi tão bem nos cinemas e é apenas um filme OK.
A filmografia dos Wachowskis é uma lista, em sua maioria, de filmes fracos e de péssimos investimentos para seus financiadores. Por sua vez, o criador de Star Wars é um diretor e roteirista medíocre, mas é um produtor esperto, seu maior talento é justamente gerenciar talentos, selecionar os melhores profissionais para concretizarem suas ideias. George Lucas consegue ganhar dinheiro até com sacrilégios como os episódios I a III de SW. Já os Wachowskis são incompetentes até para fazer filmes ruins. Talvez toda a grana que a Warner tinha conseguido com a trilogia Matrix foi pelo ralo nos filmes seguintes dos irmãos. E O Destino de Júpiter talvez seja o ponto de virada desse cartaz todo que eles tiveram com o estúdio por tantos anos.
O novo filme dos Wachowskis falha em tudo no que Matrix triunfou. Matrix deu tão certo porque todos os elementos da produção estavam voltados para a história. O filme partiu disso e o resto foi uma feliz junção de talentos, uma soma que só fez enriquecer a mitologia daquele universo. Em O Destino de Júpiter, os elementos de produção não “conversam” entre si, batem cabeça. Justamente porque não há uma história para contar. O acúmulo de erros é tamanho que não dá para acreditar como um grande estúdio como a Warner não interveio nessa produção para tentar consertar o estrago logo no início, ou mesmo abortar o projeto.
Diretores e roteiristas constantemente reclamam da interferência dos estúdios nas produções. Muitas vezes, os artistas têm razão. Homem-Aranha 3, de Sam Raimi, foi detonado criativamente pelas imposições absurdas da Sony. Foi bem de bilheteria, mas é um filme odiado, e isso não é bom para os negócios, enfraquece a marca. Agora a própria Sony está tentando salvar seu bem mais valioso no acordo com a Disney/Marvel. Mas há filmes em que é o estúdio quem garante sua qualidade. E provavelmente muito do sucesso do primeiro Matrix deve ser creditado ao veterano produtor Joel Silver, que convenceu a Warner a fazer o filme e deu liberdade para os Wachowskis trabalharem, mas sempre com seu olho experiente acompanhando todo o processo.
Certos filmes são sucesso de público, outros são sucessos de crítica, e há os agraciados com ambos. Mas quando um diretor faz filmes que não conseguem atingir nenhuma das duas coisas é porque tem algo de muito errado.
Fazia tempo que eu não conferia as horas e bocejava no cinema. O Destino de Júpiter tem alguns dos piores diálogos que já tive a infelicidade de escutar. Fiquei constrangido pelos atores. Que também não ajudam muito, em péssimas performances. Ninguém se salva. Os papeis mais problemáticos são o da heroína e o do vilão-mor. Mila Kunis foi uma escolha equivocada. E suas funções no filme são basicamente dar em cima do personagem de Channing Tatum e ser salva por ele. Em tempos de Katniss Everdeen, isso é um retrocesso. E o vilão afetado de Eddie Redmayne faz a gente sentir mais pena do que medo. O roteiro não tem furos, e sim crateras, principalmente em relação aos personagens secundários (alguns têm uma forte presença no primeiro 1/3 do filme e depois são simplesmente esquecidos), além de reviravoltas gratuitas e explicações de uma mitologia ridícula. O que causa a instabilidade e o caos no planeta do vilão-mor no clímax do filme é uma solução de roteiro tão preguiçosa. É difícil comprar aquela ideia. As únicas cenas empolgantes são as de ação, e mesmo assim elas são confusas, o espectador fica meio perdido com tanta movimentação e cores. Os efeitos especiais são deslumbrantes, mas vazios, não há nada que os sustente.
O filme é brega, com sua direção de arte de escola de samba, mas fica ainda mais brega por se levar tão a sério (aliás, os alívios cômicos aqui são muito deslocados). Diferente de outros filmes bregas e divertidos, como Guardiões da Galáxia, Barbarella, Mercenários das Galáxias, O Quinto Elemento e Flash Gordon.
Brad Bird é a mente por trás de animações de grande sucesso de crítica e de público, como Os Incríveis e Ratatouille. Cada lançamento dele gera grande expectativa, porque ele conseguiu criar uma marca registrada. Podemos considerá-lo um autor, um cineasta com uma visão de mundo bem definida, que ele consegue manter coesa, mesmo com as pressões de estúdio. Ele parece nos dizer: a vida é cheia de conflitos, então escolha seu lado e lute pelo o que você acha realmente importante. Em seu primeiro filme live-action, Missão Impossível: Protocolo Fantasma, ele conseguiu se sair bem, entregando uma aventura empolgante. Porém muitos fãs do diretor torcem para que ele volte logo para o mundo da animação, no qual, com apenas três filmes, tornou-se uma referência. E tudo começou com O Gigante de Ferro, de 1999.
Conhecemos Hogarth, um menino de nove anos, que vive numa área rural dos EUA, em 1957. São tempos tensos: Guerra Fria, o lançamento do Sputnik, a paranoia comunista, o medo de um ataque nuclear. Hogarth é inteligente e ativo, vidrado em filmes B de ficção-científica e quadrinhos como Superman. Certa noite, ele se depara com uma criatura que veio do espaço: um robô de ferro de 30 metros de altura. O medo dá lugar ao êxtase: agora ele tem seu próprio robô gigante de estimação. Mas o robô se tornará algo muito mais precioso.
É um filme de transição, entre o antigo e o novo jeito de fazer animações. Mistura animação tradicional e computação gráfica. Ainda tem a cara dos trabalhos artesanais feitos nas décadas anteriores, mas com uma sofisticação de fotografia e montagem que se tornou mais comum nos últimos anos.
A representação dos EUA da década de 1950 é feita de maneira cartunesca, assim como os elementos de ficção-científica são característicos da época, bem retrô.
É uma animação que impressiona também pelo seu roteiro. É uma precursora das melhores animações atuais, que são feitas para toda a família, conseguindo atingir vários níveis de compreensão, sem ofender a inteligência de crianças, jovens e adultos. Diverte sem ser idiota. Emociona sem ser piegas.
The Guest, de Adam Wingard, é um dos melhores filmes de 2014. O diretor admite a forte influência dos filmes de John Carpenter para a criação dessa mistura de thriller, comédia bizarra e terror. E se o próprio mestre não anda em forma ultimamente, Wingard e o roteirista Simon Barrett se mostram discípulos aplicados. Toda a atmosfera do filme é baseada nos anos 80. Da direção de arte às escolhas do roteiro. A trilha sonora é viciante. O personagem de Dan Stevens é um "surtado contido", mal fala, mal se mexe, mas quando entra em ação é uma máquina de arrebentar ossos e cartilagens. E a coisa é mostrada de uma maneira gore! O mais interessante é que você começa a gostar dele, mas depois se sente culpado por essa simpatia. Esse desconforto é o grande trunfo do filme.
Filme que se esforça, mas não chega aos pés do clássico romance que o originou. Não serve sequer como homenagem. A única coisa legal do filme é Marvin, o robô deprimido, com a impagável voz de Alan " Severo Snape" Rickman.
A pessoa vai assistindo ao filme, os minutos passam e nada realmente interessante acontece. O visual é impressionante. Mas fica por aí. O roteiro é fraco. O sistema de defesa da Estação é uma piada, já que é tão fácil naves de coiotes chegarem lá. Dentre outras simplificações que beiram ao ridículo. Na verdade, fica a sensação de que tentaram salvar o filme na sala de edição, no desespero. A montagem chega a ser bem meia boca em alguns momentos. Os diálogos são ruins. O único personagem/atuação mais convincente é de Matt Damon. Jodie Foster foi subaproveitada. Wagner Moura está caricato. Alice Braga fazendo pela enésima vez o papel da latina bonitinha e gente boa. E o grande personagem de Sharlto Copley foi desperdiçado mais por culpa do roteiro. O diretor Neil Blukamp parece que gastou os mais de 100 milhões de dólares do filme nos efeitos e nos cachê dos astros e se esqueceu de contar uma boa história.
Mesmo antes do lançamento, eu já torcia o nariz para esse filme. Afinal, o diretor Gavin Hood é o mesmo cara que deu ao mundo a excrescência Wolverine - Origens. Mas eu precisava ver com meus próprios olhos. Por Odin. Acho que só uns 10% do filme funcionam. O resto é uma verdadeira perda de dinheiro e paciência. O romance de Orson Scott Card mostrava personagens marcantes em torno do protagonista. Transformaram Peter, irmão de Ender, num valentão que aparece rapidinho. Valentine, irmã de Ender, virou uma menina gente boa e sem graça. Bean, virou um mero amiguinho de Ender. O próprio Ender do filme é meia boca. O ritmo da formação do menino gênio, de alguém inseguro até se tornar comandante da frota, é a toque de caixa. Independente da pessoa ser fã do livro, é muito difícil comprar a ideia do filme. Ninguém dá a mínima para personagens tão insossos. O livro levanta discussões sobre o uso da violência e da compaixão, quais os ganhos e as perdas em utilizar uma e outra. No filme, isso é colocado de maneira ligeira. Não dá para sentir o peso do dilema. Um projeto desse na mão de um Paul Verhoven extrairia muito mais do livro.
É filme para ver na tela grande. Gostei. Blockbuster diferente, registrado em imagens tanto belas quanto assustadoras. O roteiro não é redondo, mas tem bons momentos, em que tira o espectador do conforto de apenas odiar o vilão e torcer para o herói. Torci para que o filme desse certo. Aronofsky é um diretor que traz em seus projetos ideias e estéticas fora dos padrões. Ele arriscou muito com esse Noé. Ele já tinha feito isso com A Árvore da Vida e se deu mal, quase acabou com sua carreira. Com Noé, ele trinfou. O filme é sucesso de bilheteria. Noé nos leva a refletir a sobre a condição humana. A mensagem é otimista, mas dolorosa. O homem pode melhorar, agora ele tem que querer muito isso.
Planeta dos Macacos - O Confronto é um triunfo como entretenimento, como negócio e como metáfora para reflexão. O filme melhora o que havia de bom do primeiro filme, tanto as tensões entre humanos e símios quanto dentro da sociedade símia. Verdade que, atualmente, o marketing trabalha tanto a cabeça do espectador, vendendo produto de quinta categoria com verniz de primeira, que a pessoa, ao invés de se divertir, deixa o cinema sentindo-se enganado, pensando duas vezes antes de sair de casa na próxima grande estreia. Trailer incríveis camuflam filmes chatos e mal desenvolvidos. Então é louvável quando aparece algo como O Confronto. O filme não é perfeito, mas acerta em muitas coisas, acima de tudo, em sua intenção de contar uma boa história. Efeitos visuais, sonoros, trilha sonora, design de produção, roteiro, atuações tudo está em função da trama. Em grande parte do filme, você realmente esquece que os símios são criações digitais, devido ao primor da técnica e à construção de personagens. César é a grande atração. A Weta de Peter Jackson aperfeiçoou a captura de movimentos a um nível impressionante. E a atuação de Andy Serkis deixa o seu Gollum no chinelo. Agora os problemas do filme não passam despercebidos. Gary Oldman foi subaproveitado. Ele não é o grande antagonista que todos esperavam. O policial corrupto e muito louco que ele interpretou em O Profissional teria dado uma surra no líder dos humanos de O Confronto. Aliás, todos os personagens humanos são meia-boca. Há viradas previsíveis no roteiro. E o comportamento dos símios, como sociedade, são semelhantes demais aos humanos. Numa pesquisa rápida pela internet, dá pra saber que os chimpanzés não são muito adeptos da monogamia, por exemplo. Com certeza, os produtores imaginaram que criar uma sociedade símia menos convencional seria arriscado demais para as bilheterias. Acharam que era preciso criar essa identificação da plateia com os símios para que as pessoas se importassem com eles. E deu certo. A produção é um grande sucesso. Tirando todas as liberdades e derrapadas, sobra um filme empolgante e que faz pensar um pouco em nosso futuro como raça humana. A esperança é que, assim como A Supremacia Bourne, que revolucionou os filmes de ação, e O Cavaleiro das Trevas, que revolucionou as adaptações de quadrinhos, O Confronto revolucione deixando um recado para a indústria do cinema: menos estrelismos e mais história.
47 Ronins é uma aula de como não filmar/escrever uma fantasia: 1) Um casal de protagonistas que não tem química; 2) Duas ou três boas lutas num filme de 127 minutos; 3) Uma bruxa que tira onda demais e mostra poder de menos; 4) Keanu Reeves ser melhor samurai do que todo o elenco japonês; 5) Um guarda-costa do vilão que impõe respeito, mas que é muito mal utilizado; 6) Um vilão que não é um filho da puta cruel, e sim um pentelho.
Em 2002, saiu esse filme que fala sobre BDSM. Faz tempo que eu vi, mas achei interessante. James Spader é um advogado bonitão, mas esquisito (e olha só, o nome do personagem é Edward Grey; essa E. L. James é uma marota mesmo!). E Maggie Gyllenhaal é sua nova secretária, também esquisita, que, ao descobrir que o chefe gosta de dominação, começa a aceitar o papel de submissa com apetite. O filme não é pesado, como Salô, de Pasolini, mas mostra o tema de frente, evitando julgamentos. Não é soft-porn. O interesse maior é mostra que BDSM é apenas mais um estilo de vida. Acho que o problema de 50 Tons de Cinza é justamente esse, querendo mostrar o BDSM como um estereótipo, excentricidade de gente rica. Prefiro os soft-porns de Adrian Lyne.
VIDAS AO VENTO é mais uma belíssima animação do mestre Hayao Miyazaki. Mas provavelmente ela não tem o mesmo apelo para as crianças dos seus filme anteriores. A beleza visual está presente tanto nos acontecimentos mais simples quanto nos momentos em que a imaginação corre solta. Mesmo assim, o filme é um drama histórico que procura retratar um período decisivo para a modernidade do Japão. Esta é a obra mais realista de Miyazaki. Acompanhamos os esforços de engenheiros aeronáuticos e de suas equipes em produzir aviões japoneses que pudessem voar na década de 1930. Aviões de combate, que seriam usados na 2ª Guerra Mundial. A animação gerou controvérsia no Japão entre nacionalistas e liberais. Miyazaki foi acusado pela Esquerda de romantizar essa corrida aeronáutica. Apesar das brutalidades que indiretamente são mostradas no filme, em particular, a beligerância da forças armadas japonesas (alvo de crítica da Direita) e a ascensão do nazismo. A animação pode realmente mostrar uma visão política conservadora ao insistir no discurso de que os engenheiros queriam apenas criar belos aviões, colocando o uso de suas criações em segundo plano. Mas, por outro lado, também mostra como, no final, essa beleza acabou corrompida pela guerra ao ponto de tirar-lhe o sentido. O final da animação é bastante melancólico, mas deixa uma ponta de esperança, um convite à vida.
Perfect Blue é um anime dos anos 90, dirigido por Satoshi Kon, que também fez Tokyo Godfathers e Paprika. Infelizmente ele morreu aos 46 anos. Em 2000, Darren Aronofsky comprou os direitos de PB para o cinema americano. Ele queria usar uma cena do anime no filme Réquiem para um sonho. E anos depois ele fez Cisne Negro. Apesar das negativas de Aronofsky, o filme é uma versão live action chupada de PB. Na comparação, Cisne Negro sai perdendo. Perfect Blue é muito mais assustador.
Fazia muito tempo que eu não curtia um filme com Keanu Reeves. Aqui ele está focado e letal. Aliás, o filme é curto e grosso. Vai direto ao ponto, à ação, muito bem coreografada, filmada e editada. O roteiro é enxuto, às vezes até demais. Mas como disse um crítico, o que importa nesse tipo de filme é movimento.
Operação Invasão (The Raid: Redemption) é um filme de ação indonésio de 2011. Causou sensação ao mostrar incríveis cenas de luta com a arte marcial indonésia pencak silat. O filme também é um bom drama policial, com personagens bem desenvolvidos. Em 2014, saiu The Raid 2. Uma produção mais caprichada. Mas infelizmente sem a coesão do primeiro filme. O diretor, roteirista e montador de ambos, o escocês Gareth Evans, quis fazer algo mais ambicioso e a coisa ficou grandiloquente, excessiva. São personagens demais e desenvolvimento de menos. O roteiro não faz o menor sentido. O filme parece um pornô muito bem feito. A trama é uma desculpa não para cenas de sexo, mas para as cenas de ação e lutas. Que realmente tiveram um upgrade. São muitas lutas. Uma mais foda do que a outra. A luta final, na cozinha de um restaurante, é a mais brutal e tensa. Esse não é um filme para estômagos fracos. Mas, para quem curte porrada de primeira, a paciência será recompensada.
Produção histórica caprichada sobre o mestre de kung fu de Bruce Lee. Apesar do tratamento simplista da invasão japonesa à China durante a Segunda Guerra Mundial, as cenas de lutas são lindamente coreografadas, tendo Donnie Yen como um protagonista de muita presença.
O sucesso subiu à cabeça de Nolan. Ele perdeu a chance de fechar a trilogia de maneira épica. Esse filme tenta ser épico, mas falha em sua arrogância. Nolan quis fazer algo sério, político, mas esqueceu o subtexto, esqueceu de contar uma boa história.
Vingadores: Era de Ultron
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O filme era tudo que um leitor de quadrinhos sempre sonhou ver no cinema: uma celebração em grande estilo de uma subcultura tão massacrada por décadas, mas que agora se tornava o centro das atenções. Afinal, hoje em dia ser nerd é a regra, não a exceção.
Os executivos de Hollywood mais espertos perceberam, pelos sucessos e fracassos anteriores, que os melhores filmes de super-heróis eram escritos e dirigidos por leitores de quadrinhos, por conhecedores dos universos da DC e da Marvel.
Então, ninguém melhor do que Joss Whedon para conduzir o mais ambicioso filme de super-herói. E, em linhas gerais, o cara não decepcionou. Entregou um filme bem produzido com uma dinâmica convincente entre personagens tão icônicos. Agradou a fãs de quadrinhos e o público em geral.
Com o primeiro Vingadores, a Marvel (comprada pela Disney) começava de fato sua dominação do mundo do entretenimento.
Na sequência, vieram sucessos de bilheteria e de crítica, como Guardiões da Galáxia e Capitão América - Soldado Invernal.
Depois vieram o anúncio não só de Era de Ultron, mas de vários filmes da Marvel, mostrando que o comando do presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, tinha pulso firme e sabia que rumos dar aos negócios. Enquanto que a DC (bancada pela Warner), sua concorrente mais direta, batia cabeça no esforço de dar uma resposta à altura em termos de bilheteria e qualidade de suas produções.
O modelo de universo compartilhado da Marvel, onde todos os filmes conversam entre si, fazendo referências uns aos outros, virou a nova menina dos olhos de Hollywood. É um modelo que permite lançar uma série de filmes com uma marca forte, conseguindo estabelecer uma linha de montagem de produção bem azeitada para conquistar uma sequência de gordas bilheterias. Agora todo estúdio quer um universo compartilhado para chamar de seu.
Portanto, Era de Ultron deveria ser a confirmação de que a Marvel está no caminho certo, da consolidação de seu domínio. Em termos comerciais, o filme cumpriu seu papel, foi muito bem de arrecadação.
Já em termos criativos, o filme é um retrocesso.
Deslumbrado com o próprio poder de fogo, a Marvel resolveu fazer algo megalomaníaco. Com isso, perdeu o foco, perdeu consistência. Achei o filme divertido e seu visual é deslumbrante. Mas os problemas incomodam e até deixam o espectador entediado e com vergonha alheia.
Vamos aos pontos positivos. A química entre os vingadores ainda continua afiada, tanto nos momentos de humor e integração, quanto nas divergências, nas brigas entre eles. Esse é um elemento que fez toda a diferença no primeiro filme. E se mantém neste.
Os efeitos especiais foram aprimorados. Tudo está mais bonito de ver. Inclusive as representações digitais dos vingadores. O visual de Ultron é um luxo. As cenas de destruição estão bem inseridas no todo, com um incrível nível de textura e movimento.
A melhor novidade do filme foi a introdução de Visão. A caracterização está perfeita e a performance de Paul Bettany, que também faz a voz de Jarvis, é inspiradora. O arco de sua criação talvez seja a única coisa bem desenvolvida no filme. A cena em que ele empunha pela primeira vez Mjolnir, o martelo de Thor, é a minha preferida.
As cenas de ação são empolgantes. Mas fiquei frustrado com a luta entre Hulk e a Hulkbuster, já que praticamente tudo tinha sido mostrado nos trailers.
Os pontos negativos me decepcionaram bastante.
O mais evidente é que Era de Ultron é um filme maior que precisou ter cenas cortadas para se tornar comercialmente viável. Joss Whedon chegou a montar uma cópia com três horas e dez minutos. A que foi exibida nos cinemas tem duas horas e vinte e um minutos. Remontar filmes é algo normal na indústria. Mas no caso aqui, parece que a coisa foi feita meio a facão. O que é inconcebível numa produção desse porte. Exemplo: a parceria entre a Feiticeira Escarlate, Mercúrio e Ultron se dá sem nenhuma explicação prévia. Os gêmeos chegam a uma igreja em ruínas no Leste Europeu para se encontrar com Ultron. Só que o espectador não fica sabendo como Ultron entrou em contato com os irmãos. Acontece esse tipo derrapada em outros momentos importantes do filme. Parece não existir a mínima preocupação em contextualizar certos eventos.
Falando nos irmãos Maximoff, para mim eles não convenceram. O Mercúrio de Aaron Taylor-Johnson não tem o menor carisma. Para piorar, sempre vamos compará-lo com o divertido Mercúrio de X-Men – Dias de um Futuro Esquecido. A Feiticeira Escarlate de Elisabeth Olsen teria potencial para ser uma personagem relevante, mas fica só na promessa. Assim como todas as personagens femininas da Marvel no cinema.
E justamente nesse aspecto, a Marvel mostra de uma vez por todas seu desprezo por suas heroínas. Isso acabou se tornando uma constante, algo bastante criticado por fãs e pelos críticos. O sexismo nos filmes da Marvel saiu do armário em Era de Ultron. Seu universo nos quadrinhos possui personagens femininas poderosas, que já deveriam ter feito participações no filme de outros heróis ou ter protagonizado os seus próprios.
Numa troca de e-mails que vazou recentemente, o presidente da Marvel Entertainement, Isaac Perlmutter, admitiu que investir em filmes de heroínas só dá prejuízo. O problema é que ele tomou como exemplos Mulher-Gato, com Halle Berry, Supergirl, com Helen Slater, um filme dos anos 1980, dentre outras produções fracas que foram mal de bilheteria. Ele não levou em conta sucessos recentes com protagonistas femininas como a franquia Jogos Vorazes, Frozen e Gravidade. Ou seja, seu julgamento foi de pura má-fé. De puro machismo mesmo.
Em Era de Ultron, todas as personagens femininas tem um desenvolvimento problemático, inclusive as mais fortes. Na maioria do tempo, todas estão a um passo atrás dos machos. Maria Hill, doutora Cho, a esposa do Gavião Arqueiro, a Feiticeira Escarlate e Viúva Negra. A maior vítima é a espiã russa.
Pelo menos, as outras foram deixadas em paz. Mas Natasha Romanoff se tornou um bichinho de pelúcia. A relação dela com Bruce Banner/Hulk é forçada. O clima romântico é constrangedor porque foi feito de uma maneira tão brega, com uma mão tão pesada. Uma maneira de suavizar a personagem. Uma mulher de passado obscuro e atitudes fora do padrão. Ou seja, uma mulher que os homens não entendem. E isso os incomoda.
Ao invés da Viúva Negra evoluir nesse universo, merecendo até seu filme solo, ela na verdade encolheu. Isso gerou muita revolta dos fãs. E o então feminista Joss Whedon, conhecido por suas heroínas fortes de produções passadas, foi chamado de sexista. Um artigo interessante até questiona a real consistência desse feminismo na obra de Whedon, acusando-o de ser uma farsa.
Agora Whedon está com a imagem arranhada junto aos fãs. E parece que está se despedindo da Marvel. Talvez siga o caminho de John Favreau, o diretor de Homem de Ferro 1 e 2, que foi tão importante para o sucesso inicial do Marvel Studios, mas que resolveu seguir o próprio caminho. Talvez Whedon dê uma de J.J. Abrams e vá trabalhar com a DC. O Joss Whedon de Era de Ultron é uma figura desgastada. Diferente daquele outro de 2012, quando ele podia se sentir o nerd mais feliz do planeta.
O vilão Ultron não trás nada de novo. Nenhuma ameaça realmente de abalar as estruturas. Depois dele, os vingadores continuam como antes. Ele entra para a galeria dos vilões cheios de pose, mas sem consistência, ao lado de Loki, Malekith e Ronan. Age mais como uma criança malcriada. Bem diferente da figura ameaçadora dos trailers. Além do mais, o arco de sua criação é apressado e sem muito sentido.
Outra coisa que me incomodou muito foi o tempo gasto com o Gavião Arqueiro. Pra que aquilo? Gavião paizão de família? Que coisa mais classe média. Tudo bem em mostrar o lado mais humano dos personagens. Agora vamos fazer direito. O mesmo Jeremy Renner fez um militar e pai de família cheio de conflitos em Guerra ao Terror, um homem em dúvida em definir suas prioridades entre o trabalho perigoso e a vida civil. Foi algo mais intenso e, por isso, mais emocional. Em Era de Ultron, tudo é levado na maior leveza, gerando momentos de um draminha piegas, ou de um humor fácil, rasteiro.
Sem considerar sentimentos nostálgicos, fato é que os anos 1980 foram o auge dos quadrinhos da DC e da Marvel. Simplesmente porque a razão de ser dessas editoras eram os quadrinhos e seus leitores. Havia uma preocupação em contar boas estórias. Hoje em dia, as editoras são apenas uma pequena parcela de um negócio muito maior. Agora os filmes são o filé dessas empresas. Na mentalidade da indústria, filmes de super-heróis devem ser feitos para o grande público. Ok. Isso é totalmente compreensivo. Mas os melhores filmes de super-heróis foram aqueles que souberam aproveitar a matéria-prima dos quadrinhos para criar obras não só pensando em dinheiro, mas também em deixar um legado cultural.
Dos doze filmes lançados pela Marvel Studios até hoje, Vingadores 1, Capitão América – Soldado Invernal e Guardiões da Galáxia são os melhores. Por mostrarem algo de novo; ou melhor dizendo, algo muito bem reciclado. E por seus realizadores saberem que filmes de super-heróis com vários personagens devem ser resolvidos durante a ação, sem perder o foco, sem gordura.
O saldo que fica de Era de Ultron é que parece que Joss Whedon e a Marvel desaprenderam a fazer filmes para serem amados. Era de Ultron está com a mesma cara de outras produções pipoca com muita tecnologia, mas sem ter muito o que dizer, o que inspirar, abrindo especulações para o futuro. A Marvel fará uma autocrítica, vai admitir que errou a mão? Ou vai continuar seguindo nesse mesmo rumo, porque, afinal, o dinheiro está entrando?
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Kingsman: Serviço Secreto
4.0 2,2K Assista AgoraKingsman – Serviço Secreto é indecentemente divertido. Ele tem tudo o que você poderia esperar de um novo filme de James Bond.
Enquanto o Bond oficial não consegue sair da fossa, os espiões protagonistas de Kingsman parecem parentes dos antigos 007, principalmente, de Roger Moore. Colin Firth parece um filho de Moore, e o novato Taron Egerton, o neto. Eles têm classe, charme, humor e múltiplas habilidades para matar.
E ainda há outros elementos que fazem a farra dos carentes fãs de Bond: o vilão megalomaníaco, seu braço direito com uma característica exótica e mortal (aqui é uma mulher com próteses de lâminas no lugar das pernas), os gadgets, o exagero e a leveza. Mas uma leveza que, na hora da ação, é interrompida por uma violência acima da média.
Em uma sequência em particular, numa igreja, a violência tornou-se absurdamente gráfica. Aliás muito bem coreografada, com o uso bastante insano dos efeitos especiais. É um triunfo técnico, mas deixou a impressão de que o diretor Matthew Vaughn é um menino meio perturbado que teve total liberdade para se divertir com brincadeiras bem pesadas.
Vaughn é um diretor muito talentoso, suas obras mais conhecidas são Kick Ass e X-Men: Primeira Classe. Prefiro quando ele não investe tanto na violência física, e sim na construção de personagens e em motivações mais complexas, como ele fez no filme dos mutantes. E também em sua estreia na direção, o ótimo Layer Cake, o meu preferido.
O roteiro de Kingsman tem soluções interessantes, mas os defeitos incomodam. O maior deles é insistir no machismo dos antigos filmes de Bond. Existem personagens femininas duronas, mas elas não são poderosas, como se quase não pudessem decidir sobre seus próprios destinos. Elas agem sempre em função dos homens, sejam aliados ou inimigos. E o curioso é que um dos roteiristas é uma mulher.
Se numa continuação seus realizadores deixarem o machismo e a violência exagerada de lado, e manterem todo o resto, será melhor a franquia 007 ficar preocupada.
O Destino de Júpiter
2.5 1,3K Assista AgoraQuando fui ao cinema, eu já sabia o que me esperava. Aliás, pensava que sabia. Na verdade, a coisa foi muito pior.
Eu torcia para que esse filme fosse a volta por cima dos irmãos Wachowskis.
No primeiro Matrix, eles se revelaram como ótimos recicladores de ideias. Misturaram simplificações de conceitos filosóficos, literatura cyberpunk e estética de anime para criar uma mitologia consistente sobre o embate entre homens e máquinas num futuro sombrio. Adicionem a isso as cenas de luta lindamente coreografadas, os efeitos especiais inovadores e os personagens carismáticos (mocinhos e vilões), e temos um dos filmes mais importantes para a indústria do cinema das últimas décadas. Matrix foi um sucesso de bilheteria e se tornou uma referência da cultura pop porque um grupo de pessoas talentosas criou algo acima da média, algo para se tornar objeto de culto. Assim como Star Wars foi em 1977. Tudo bem, Guerra nas Estrelas teve mais impacto.
Então, ao analisar a carreira dos Wachowskis, a ficha finalmente caiu para mim. De uma vez por todas, eu entendi que eles sofrem de uma doença chamada “síndrome de George Lucas”. Quer dizer,eles são uma versão piorada de George Lucas. Dos 11 longas-metragens em que exerceram alguma função de diretores, roteiristas e/ou produtores, à exceção do primeiro Matrix, nenhum de seus filmes teve nada de realmente positivo. Matrix 2 e 3 fizeram muito dinheiro, mas todos concordam que são grandes decepções. E V de Vingança não foi tão bem nos cinemas e é apenas um filme OK.
A filmografia dos Wachowskis é uma lista, em sua maioria, de filmes fracos e de péssimos investimentos para seus financiadores. Por sua vez, o criador de Star Wars é um diretor e roteirista medíocre, mas é um produtor esperto, seu maior talento é justamente gerenciar talentos, selecionar os melhores profissionais para concretizarem suas ideias. George Lucas consegue ganhar dinheiro até com sacrilégios como os episódios I a III de SW. Já os Wachowskis são incompetentes até para fazer filmes ruins. Talvez toda a grana que a Warner tinha conseguido com a trilogia Matrix foi pelo ralo nos filmes seguintes dos irmãos. E O Destino de Júpiter talvez seja o ponto de virada desse cartaz todo que eles tiveram com o estúdio por tantos anos.
O novo filme dos Wachowskis falha em tudo no que Matrix triunfou. Matrix deu tão certo porque todos os elementos da produção estavam voltados para a história. O filme partiu disso e o resto foi uma feliz junção de talentos, uma soma que só fez enriquecer a mitologia daquele universo. Em O Destino de Júpiter, os elementos de produção não “conversam” entre si, batem cabeça. Justamente porque não há uma história para contar. O acúmulo de erros é tamanho que não dá para acreditar como um grande estúdio como a Warner não interveio nessa produção para tentar consertar o estrago logo no início, ou mesmo abortar o projeto.
Diretores e roteiristas constantemente reclamam da interferência dos estúdios nas produções. Muitas vezes, os artistas têm razão. Homem-Aranha 3, de Sam Raimi, foi detonado criativamente pelas imposições absurdas da Sony. Foi bem de bilheteria, mas é um filme odiado, e isso não é bom para os negócios, enfraquece a marca. Agora a própria Sony está tentando salvar seu bem mais valioso no acordo com a Disney/Marvel. Mas há filmes em que é o estúdio quem garante sua qualidade. E provavelmente muito do sucesso do primeiro Matrix deve ser creditado ao veterano produtor Joel Silver, que convenceu a Warner a fazer o filme e deu liberdade para os Wachowskis trabalharem, mas sempre com seu olho experiente acompanhando todo o processo.
Certos filmes são sucesso de público, outros são sucessos de crítica, e há os agraciados com ambos. Mas quando um diretor faz filmes que não conseguem atingir nenhuma das duas coisas é porque tem algo de muito errado.
Fazia tempo que eu não conferia as horas e bocejava no cinema. O Destino de Júpiter tem alguns dos piores diálogos que já tive a infelicidade de escutar. Fiquei constrangido pelos atores. Que também não ajudam muito, em péssimas performances. Ninguém se salva. Os papeis mais problemáticos são o da heroína e o do vilão-mor. Mila Kunis foi uma escolha equivocada. E suas funções no filme são basicamente dar em cima do personagem de Channing Tatum e ser salva por ele. Em tempos de Katniss Everdeen, isso é um retrocesso. E o vilão afetado de Eddie Redmayne faz a gente sentir mais pena do que medo. O roteiro não tem furos, e sim crateras, principalmente em relação aos personagens secundários (alguns têm uma forte presença no primeiro 1/3 do filme e depois são simplesmente esquecidos), além de reviravoltas gratuitas e explicações de uma mitologia ridícula. O que causa a instabilidade e o caos no planeta do vilão-mor no clímax do filme é uma solução de roteiro tão preguiçosa. É difícil comprar aquela ideia. As únicas cenas empolgantes são as de ação, e mesmo assim elas são confusas, o espectador fica meio perdido com tanta movimentação e cores. Os efeitos especiais são deslumbrantes, mas vazios, não há nada que os sustente.
O filme é brega, com sua direção de arte de escola de samba, mas fica ainda mais brega por se levar tão a sério (aliás, os alívios cômicos aqui são muito deslocados). Diferente de outros filmes bregas e divertidos, como Guardiões da Galáxia, Barbarella, Mercenários das Galáxias, O Quinto Elemento e Flash Gordon.
O Gigante de Ferro
4.1 508 Assista AgoraBrad Bird é a mente por trás de animações de grande sucesso de crítica e de público, como Os Incríveis e Ratatouille. Cada lançamento dele gera grande expectativa, porque ele conseguiu criar uma marca registrada. Podemos considerá-lo um autor, um cineasta com uma visão de mundo bem definida, que ele consegue manter coesa, mesmo com as pressões de estúdio. Ele parece nos dizer: a vida é cheia de conflitos, então escolha seu lado e lute pelo o que você acha realmente importante. Em seu primeiro filme live-action, Missão Impossível: Protocolo Fantasma, ele conseguiu se sair bem, entregando uma aventura empolgante. Porém muitos fãs do diretor torcem para que ele volte logo para o mundo da animação, no qual, com apenas três filmes, tornou-se uma referência. E tudo começou com O Gigante de Ferro, de 1999.
Conhecemos Hogarth, um menino de nove anos, que vive numa área rural dos EUA, em 1957. São tempos tensos: Guerra Fria, o lançamento do Sputnik, a paranoia comunista, o medo de um ataque nuclear. Hogarth é inteligente e ativo, vidrado em filmes B de ficção-científica e quadrinhos como Superman. Certa noite, ele se depara com uma criatura que veio do espaço: um robô de ferro de 30 metros de altura. O medo dá lugar ao êxtase: agora ele tem seu próprio robô gigante de estimação. Mas o robô se tornará algo muito mais precioso.
É um filme de transição, entre o antigo e o novo jeito de fazer animações. Mistura animação tradicional e computação gráfica. Ainda tem a cara dos trabalhos artesanais feitos nas décadas anteriores, mas com uma sofisticação de fotografia e montagem que se tornou mais comum nos últimos anos.
A representação dos EUA da década de 1950 é feita de maneira cartunesca, assim como os elementos de ficção-científica são característicos da época, bem retrô.
É uma animação que impressiona também pelo seu roteiro. É uma precursora das melhores animações atuais, que são feitas para toda a família, conseguindo atingir vários níveis de compreensão, sem ofender a inteligência de crianças, jovens e adultos. Diverte sem ser idiota. Emociona sem ser piegas.
O Hóspede
3.1 487The Guest, de Adam Wingard, é um dos melhores filmes de 2014. O diretor admite a forte influência dos filmes de John Carpenter para a criação dessa mistura de thriller, comédia bizarra e terror. E se o próprio mestre não anda em forma ultimamente, Wingard e o roteirista Simon Barrett se mostram discípulos aplicados. Toda a atmosfera do filme é baseada nos anos 80. Da direção de arte às escolhas do roteiro. A trilha sonora é viciante. O personagem de Dan Stevens é um "surtado contido", mal fala, mal se mexe, mas quando entra em ação é uma máquina de arrebentar ossos e cartilagens. E a coisa é mostrada de uma maneira gore! O mais interessante é que você começa a gostar dele, mas depois se sente culpado por essa simpatia. Esse desconforto é o grande trunfo do filme.
O Guia do Mochileiro das Galáxias
3.4 1,0KFilme que se esforça, mas não chega aos pés do clássico romance que o originou. Não serve sequer como homenagem. A única coisa legal do filme é Marvin, o robô deprimido, com a impagável voz de Alan " Severo Snape" Rickman.
Elysium
3.3 2,0K Assista AgoraA pessoa vai assistindo ao filme, os minutos passam e nada realmente interessante acontece. O visual é impressionante. Mas fica por aí. O roteiro é fraco. O sistema de defesa da Estação é uma piada, já que é tão fácil naves de coiotes chegarem lá. Dentre outras simplificações que beiram ao ridículo. Na verdade, fica a sensação de que tentaram salvar o filme na sala de edição, no desespero. A montagem chega a ser bem meia boca em alguns momentos. Os diálogos são ruins. O único personagem/atuação mais convincente é de Matt Damon. Jodie Foster foi subaproveitada. Wagner Moura está caricato. Alice Braga fazendo pela enésima vez o papel da latina bonitinha e gente boa. E o grande personagem de Sharlto Copley foi desperdiçado mais por culpa do roteiro. O diretor Neil Blukamp parece que gastou os mais de 100 milhões de dólares do filme nos efeitos e nos cachê dos astros e se esqueceu de contar uma boa história.
Ender's Game: O Jogo do Exterminador
3.4 891 Assista AgoraMesmo antes do lançamento, eu já torcia o nariz para esse filme. Afinal, o diretor Gavin Hood é o mesmo cara que deu ao mundo a excrescência Wolverine - Origens. Mas eu precisava ver com meus próprios olhos. Por Odin. Acho que só uns 10% do filme funcionam. O resto é uma verdadeira perda de dinheiro e paciência. O romance de Orson Scott Card mostrava personagens marcantes em torno do protagonista. Transformaram Peter, irmão de Ender, num valentão que aparece rapidinho. Valentine, irmã de Ender, virou uma menina gente boa e sem graça. Bean, virou um mero amiguinho de Ender. O próprio Ender do filme é meia boca. O ritmo da formação do menino gênio, de alguém inseguro até se tornar comandante da frota, é a toque de caixa. Independente da pessoa ser fã do livro, é muito difícil comprar a ideia do filme. Ninguém dá a mínima para personagens tão insossos. O livro levanta discussões sobre o uso da violência e da compaixão, quais os ganhos e as perdas em utilizar uma e outra. No filme, isso é colocado de maneira ligeira. Não dá para sentir o peso do dilema. Um projeto desse na mão de um Paul Verhoven extrairia muito mais do livro.
Noé
3.0 2,6K Assista AgoraÉ filme para ver na tela grande. Gostei. Blockbuster diferente, registrado em imagens tanto belas quanto assustadoras. O roteiro não é redondo, mas tem bons momentos, em que tira o espectador do conforto de apenas odiar o vilão e torcer para o herói. Torci para que o filme desse certo. Aronofsky é um diretor que traz em seus projetos ideias e estéticas fora dos padrões. Ele arriscou muito com esse Noé. Ele já tinha feito isso com A Árvore da Vida e se deu mal, quase acabou com sua carreira. Com Noé, ele trinfou. O filme é sucesso de bilheteria. Noé nos leva a refletir a sobre a condição humana. A mensagem é otimista, mas dolorosa. O homem pode melhorar, agora ele tem que querer muito isso.
Planeta dos Macacos: O Confronto
3.9 1,8K Assista AgoraPlaneta dos Macacos - O Confronto é um triunfo como entretenimento, como negócio e como metáfora para reflexão. O filme melhora o que havia de bom do primeiro filme, tanto as tensões entre humanos e símios quanto dentro da sociedade símia. Verdade que, atualmente, o marketing trabalha tanto a cabeça do espectador, vendendo produto de quinta categoria com verniz de primeira, que a pessoa, ao invés de se divertir, deixa o cinema sentindo-se enganado, pensando duas vezes antes de sair de casa na próxima grande estreia. Trailer incríveis camuflam filmes chatos e mal desenvolvidos. Então é louvável quando aparece algo como O Confronto. O filme não é perfeito, mas acerta em muitas coisas, acima de tudo, em sua intenção de contar uma boa história. Efeitos visuais, sonoros, trilha sonora, design de produção, roteiro, atuações tudo está em função da trama. Em grande parte do filme, você realmente esquece que os símios são criações digitais, devido ao primor da técnica e à construção de personagens. César é a grande atração. A Weta de Peter Jackson aperfeiçoou a captura de movimentos a um nível impressionante. E a atuação de Andy Serkis deixa o seu Gollum no chinelo. Agora os problemas do filme não passam despercebidos. Gary Oldman foi subaproveitado. Ele não é o grande antagonista que todos esperavam. O policial corrupto e muito louco que ele interpretou em O Profissional teria dado uma surra no líder dos humanos de O Confronto. Aliás, todos os personagens humanos são meia-boca. Há viradas previsíveis no roteiro. E o comportamento dos símios, como sociedade, são semelhantes demais aos humanos. Numa pesquisa rápida pela internet, dá pra saber que os chimpanzés não são muito adeptos da monogamia, por exemplo. Com certeza, os produtores imaginaram que criar uma sociedade símia menos convencional seria arriscado demais para as bilheterias. Acharam que era preciso criar essa identificação da plateia com os símios para que as pessoas se importassem com eles. E deu certo. A produção é um grande sucesso. Tirando todas as liberdades e derrapadas, sobra um filme empolgante e que faz pensar um pouco em nosso futuro como raça humana. A esperança é que, assim como A Supremacia Bourne, que revolucionou os filmes de ação, e O Cavaleiro das Trevas, que revolucionou as adaptações de quadrinhos, O Confronto revolucione deixando um recado para a indústria do cinema: menos estrelismos e mais história.
47 Ronins
3.2 1,1K Assista Agora47 Ronins é uma aula de como não filmar/escrever uma fantasia:
1) Um casal de protagonistas que não tem química;
2) Duas ou três boas lutas num filme de 127 minutos;
3) Uma bruxa que tira onda demais e mostra poder de menos;
4) Keanu Reeves ser melhor samurai do que todo o elenco japonês;
5) Um guarda-costa do vilão que impõe respeito, mas que é muito mal utilizado;
6) Um vilão que não é um filho da puta cruel, e sim um pentelho.
Secretária
3.5 295Em 2002, saiu esse filme que fala sobre BDSM. Faz tempo que eu vi, mas achei interessante. James Spader é um advogado bonitão, mas esquisito (e olha só, o nome do personagem é Edward Grey; essa E. L. James é uma marota mesmo!). E Maggie Gyllenhaal é sua nova secretária, também esquisita, que, ao descobrir que o chefe gosta de dominação, começa a aceitar o papel de submissa com apetite. O filme não é pesado, como Salô, de Pasolini, mas mostra o tema de frente, evitando julgamentos. Não é soft-porn. O interesse maior é mostra que BDSM é apenas mais um estilo de vida. Acho que o problema de 50 Tons de Cinza é justamente esse, querendo mostrar o BDSM como um estereótipo, excentricidade de gente rica. Prefiro os soft-porns de Adrian Lyne.
Vidas ao Vento
4.1 603 Assista AgoraVIDAS AO VENTO é mais uma belíssima animação do mestre Hayao Miyazaki. Mas provavelmente ela não tem o mesmo apelo para as crianças dos seus filme anteriores. A beleza visual está presente tanto nos acontecimentos mais simples quanto nos momentos em que a imaginação corre solta. Mesmo assim, o filme é um drama histórico que procura retratar um período decisivo para a modernidade do Japão. Esta é a obra mais realista de Miyazaki. Acompanhamos os esforços de engenheiros aeronáuticos e de suas equipes em produzir aviões japoneses que pudessem voar na década de 1930. Aviões de combate, que seriam usados na 2ª Guerra Mundial. A animação gerou controvérsia no Japão entre nacionalistas e liberais. Miyazaki foi acusado pela Esquerda de romantizar essa corrida aeronáutica. Apesar das brutalidades que indiretamente são mostradas no filme, em particular, a beligerância da forças armadas japonesas (alvo de crítica da Direita) e a ascensão do nazismo. A animação pode realmente mostrar uma visão política conservadora ao insistir no discurso de que os engenheiros queriam apenas criar belos aviões, colocando o uso de suas criações em segundo plano. Mas, por outro lado, também mostra como, no final, essa beleza acabou corrompida pela guerra ao ponto de tirar-lhe o sentido. O final da animação é bastante melancólico, mas deixa uma ponta de esperança, um convite à vida.
Perfect Blue
4.3 815Perfect Blue é um anime dos anos 90, dirigido por Satoshi Kon, que também fez Tokyo Godfathers e Paprika. Infelizmente ele morreu aos 46 anos. Em 2000, Darren Aronofsky comprou os direitos de PB para o cinema americano. Ele queria usar uma cena do anime no filme Réquiem para um sonho. E anos depois ele fez Cisne Negro. Apesar das negativas de Aronofsky, o filme é uma versão live action chupada de PB. Na comparação, Cisne Negro sai perdendo. Perfect Blue é muito mais assustador.
John Wick: De Volta ao Jogo
3.8 1,8K Assista AgoraFazia muito tempo que eu não curtia um filme com Keanu Reeves. Aqui ele está focado e letal. Aliás, o filme é curto e grosso. Vai direto ao ponto, à ação, muito bem coreografada, filmada e editada. O roteiro é enxuto, às vezes até demais. Mas como disse um crítico, o que importa nesse tipo de filme é movimento.
Operação Invasão 2
4.1 365 Assista AgoraOperação Invasão (The Raid: Redemption) é um filme de ação indonésio de 2011. Causou sensação ao mostrar incríveis cenas de luta com a arte marcial indonésia pencak silat. O filme também é um bom drama policial, com personagens bem desenvolvidos. Em 2014, saiu The Raid 2. Uma produção mais caprichada. Mas infelizmente sem a coesão do primeiro filme. O diretor, roteirista e montador de ambos, o escocês Gareth Evans, quis fazer algo mais ambicioso e a coisa ficou grandiloquente, excessiva. São personagens demais e desenvolvimento de menos. O roteiro não faz o menor sentido. O filme parece um pornô muito bem feito. A trama é uma desculpa não para cenas de sexo, mas para as cenas de ação e lutas. Que realmente tiveram um upgrade. São muitas lutas. Uma mais foda do que a outra. A luta final, na cozinha de um restaurante, é a mais brutal e tensa. Esse não é um filme para estômagos fracos. Mas, para quem curte porrada de primeira, a paciência será recompensada.
O Grande Mestre
4.2 446Produção histórica caprichada sobre o mestre de kung fu de Bruce Lee. Apesar do tratamento simplista da invasão japonesa à China durante a Segunda Guerra Mundial, as cenas de lutas são lindamente coreografadas, tendo Donnie Yen como um protagonista de muita presença.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
4.2 6,4K Assista AgoraO sucesso subiu à cabeça de Nolan. Ele perdeu a chance de fechar a trilogia de maneira épica. Esse filme tenta ser épico, mas falha em sua arrogância. Nolan quis fazer algo sério, político, mas esqueceu o subtexto, esqueceu de contar uma boa história.