O novo IT é mais divertido do que assustador. Não li o livro nem vi a minissérie. Portanto, fui praticamente verde para o filme. Não assusta tanto porque o CGI prejudica a "textura do terror", digamos assim, tornando tudo muito limpo. Os melhores momentos de tensão acontecem quando a performance live action de Bill Skarsgård como Pennywise fica em primeiro plano. Edição, efeitos sonoros e música se esforçam para assustar, mas perdem frequentemente no timing ou na criatividade, apresentando soluções já vistas antes. O forte do filme é a interação entre os garotos. A química é perfeita e os diálogos são deliciosos. Nesse quesito, é superior a Stranger Things. Em IT, as angústias da infância (bullying, problemas familiares, de autoestima, paixonites...) são mostrados de uma maneira mais aprofundada, com mais nuances. Ao mesmo tempo, o filme está cheio de clichês narrativos, principalmente, relacionados à única personagem feminina relevante na trama: síndrome de smurfete, damsel in distress, trophy girl e a por aí vai. Além de ser um pouco longo com seus 135 min. Nota: 7.
Tinha tudo para ser um filmaço, mas a promessa ficou no meio do caminho. Luc Besson apostou alto e perdeu, tanto do ponto de vista criativo quanto financeiro. Teve ambição. Produziu, dirigiu e escreveu. Só que se aproximou mais do George Lucas dos prequels de Star Wars do que do James Cameron de Titanic e Avatar. Besson estava apaixonado demais pelo seu projeto dos sonhos para perceber as falhas. Resultado: o espectador, com bastante paciência, tem que garimpar para ver o que há de melhor em Valerian. Apesar de seus graves problemas, o filme deve ser visto no cinema. Traz conceitos e visuais que você só verá nele, de maneira deslumbrante.
Luc Besson é um diretor brega e piegas, mas já mostrou que sabe criar mundos fora dos padrões e personagens imprevisíveis e cativantes. Nikita ainda é seu melhor trabalho. Um filme de ação francês dos anos 90, cruel, punk, que chamou a atenção de Hollywood pela maneira nada moralista de fazer entretenimento à maneira americana. O Profissional já mostra um Besson mais domesticado. Mas ainda assim, o filme é perverso. Uma história de amor violenta e pra lá de controversa, nas entrelinhas. Em O Quinto Elemento, seu projeto mais ambicioso até então, acompanhamos uma divertida homenagem à ficção científica europeia.
Visualmente, Valerian é seu filme mais maduro e sofisticado. A abertura, ao som de David Bowie, mostrando a origem de Alpha, a Cidade dos Mil Planetas, é empolgante. E o primeiro terço do filme mostra mais qualidades do que defeitos. Apesar da falta de carisma da dupla protagonista e dos diálogos ruins, o espectador compra a ideia com sua trama basicona e ágil e a estranheza da visão europeia do que é ficção científica no cinema, em seus cenários e criaturas. A sequência do deserto, em que a ação acontece em universos paralelos simultaneamente, é original e muito bem executada.
A todo momento, assistindo ao filme, pensamos: isso é Star Wars, aquilo é Star Wars. Além de outras referências, como Matrix e Avatar. Mas, na verdade, devemos lembrar que Valerian é inspirado nos quadrinhos clássicos de mesmo nome, da dupla Pierre Christin e Jean Claude Mézières. Referências do próprio George Lucas para a criação do seu universo (alguns dizem que foi roubo de conceitos descarado). Com a adaptação de Valérian, agent spatio-temporel (mais tarde rebatizada de Valérian et Laureline), Luc Besson finalmente pôde realizar um sonho de infância.
Valerian apresenta uma visão mais ingênua e otimista de uma FC cheia de raças alienígenas e conflitos de interesses. O clima é de sessão da tarde. Mas, no geral, o filme se torna mais ousado do que Star Wars. Primeiro, no visual mais pirado e lisérgico. Segundo, ao dar maior relevância aos personagens aliens. Aqui eles são parte importante da trama e muitas vezes superam a performance dos personagens humanos.
Os maiores problemas de Valerian são o roteiro, cheio de furos, diálogos terríveis, humor pouco eficiente, subtramas confusas ou desinteressantes, e exposição desnecessária ou repetitiva. O elenco mal escalado ou mal dirigido. E a duração do filme, 137 minutos. Podiam ter cortado uns 30 minutos. Era para ser um ser um filme mais ágil. Assim seu subtexto anti-guerra ganharia maior relevância. Porque o espectador sai meio esgotado da experiência. Parece que Luc Besson teve pena de cortar aquelas cenas deletadas que vão para o Blue-Ray.
Afinal, vale o ingresso? Para fãs de FC, o filme é obrigatório. Não saí do cinema puto da vida. Já sabia mais ou menos o que esperar. Mesmo assim, fui surpreendido com os melhores momentos.
Finalmente, vi "Homem-Aranha: De Volta ao Lar". Filme divertido e muito próximo do Aranha dos quadrinhos. Tom Holland é o melhor Peter Parker de todos, um moleque agindo como um moleque. Mas o segundo filme de Sam Raimi ainda é meu preferido por ter um impacto emocional forte e um vilão trágico. O novo filme do Aranha está antenado com os novos tempos. É inteligente em apostar na diversidade. O Abutre de Michael Keaton é uma ameaça convincente. Entrou no time de futebol de salão de bons vilões da Marvel. Montagem e fotografia ora criativas, ora genéricas. O forte do roteiro são os diálogos. No geral, os efeitos especiais causam impacto, mas algumas movimentações do Aranha estão bem fakes. Gostei da trilha nervosa de Michael Giacchino. E os créditos finais são os mais legais da Marvel, ao som de Blitzkrieg Bop, dos Ramones. Agora podiam ter cortado uns vinte minutos do filme. Ficou longo demais. Nota: 7.5
80% do filme funciona muito bem (humor, ação, drama, efeitos especiais, fotografia, direção de arte, ritmo, atuações). 20% estragam a experiência (vilões caricatos, CGI exagerado em algumas cenas, principalmente, na luta final, algum melodrama). Um belo filme anti-guerra com super-heróis. Gadot arrebenta como Mulher Maravilha. Saí feliz do cinema.
Um filme dirigido pelo mestre Michael Mann, só que infelizmente é bem fraquinho. Montagem confusa e largadona. Tá na cara que rolaram problemas na produção pela falta de vigor dos envolvidos. Os personagens são mal escritos e interpretados. O visual apurado está lá, mas a trama não ajuda. O ritmo melhora do meio pro final, há uma intensa sequência de ação no estilo Michael Mann, mas nada disso salva o filme.
Corra! é um filme brilhante. A intenção do diretor e roteirista Jordan Peele era promover uma reflexão sobre a condição do negro americano por meio de uma sátira, uma mistura de terror psicológico e comédia. Também podemos dizer que este é um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos anos.
O hype é real. Principalmente, porque Peele conseguiu mostrar seu ponto de vista sem comprometer, em nenhum momento, o envolvimento do espectador com a narrativa, a trama. Corra! faz a gente pensar justamente por causa de sua história muito bem contada. Ao acompanharmos o horror passado pelo protagonista, entendemos todos os temas relevantes levantados pelo filme. O que é estar na pele de uma pessoa negra. Qual a ameaça que isso representa para sua própria vida pelo simples fato de você ser negro.
A grande sacada aqui não é mostrar antagonistas explicitamente racistas, gente que odeia pessoas negras, que quer matá-las violentamente. O contrário é mais assustador. Em Corra! os brancos adoram, idolatram os negros. Mas sua versão distorcida de admiração gera uma violência ainda mais perturbadora. Na verdade, esse fascínio pela figura do negro é superficial. Porque, mais uma vez, a dignidade de pessoas negras é tratada como coisa de quinta categoria, algo a ser descartado.
Os temas de Corra! são muito sérios. Mas o filme é engraçado demais! Entenda: o humor não é de jeito nenhum leviano, insensível, inapropriado ou fora de lugar. Jordan Peele é um comediante muito famoso nos EUA. Ele é um dos criadores e protagonistas de Key & Peele, um programa no Comedy Central. É imperdível. No show, Peele faz diversos comentários sobre a condição do negro americano em esquetes hilários e afiados. Inclusive, alguns dos esquetes são bem assustadores, verdadeiras peças de comédia do absurdo.
Então os fãs de Key&Peele podem ver em Corra! uma versão apurada das possibilidades de fazer terror, comédia e nonsense de Peele. É impressionante como no filme o terror não atrapalha a comédia e vice-versa. A habilidade do diretor em mudar o tom é mais um elemento que fez dessa produção barata um enorme sucesso de bilheteria. Custou US$4,5 milhões e até agora faturou mais US$ 214 milhões. Outro triunfo é a escalação do elenco. Todos estão muito bem, novatos, desconhecidos e veteranos. O britânico Daniel Kaluuya faz o protagonista, o americano Chris, de forma tão convincente, com expressões faciais e corporais discretas, mas marcantes. A performance de Catherine Keener é magnética, numa atuação contida e poderosa. Outro destaque é o comediante Lil Rel Howery, no papel do melhor amigo de Chris. Ele rouba todas as cenas em que aparece.
Mas Corra! também tem seus problemas. Peele foi muito feliz em investir mais no terror psicológico, em mexer mais com nossas cabeças, do que no gore. Mas não evitou certos clichês do terror, certos sustos, principalmente, usando a trilha sonora macabra (aliás, excelente e original, com elementos hitchockianos, um toque de blues, R&B e música africana, sem estereótipos). E no terceiro ato, quando tudo é revelado ao espectador, coisas fazendo sentido, outras não. A grande revelação faz sentido. O motivo de Chris estar no meio daquela gente branca tão educada e amistosa. Mas outras revelações laterais não se encaixam, poderiam ter um rumo diferente, um melhor desenvolvimento, mais de acordo com o propósito dos antagonistas. Sim, estou falando dos outros personagens negros daquela comunidade.
Na sua estreia como diretor, Jordan Peele surpreende por sua segurança e ambição. Ele é um cinéfilo. Percebemos isso ao longo da trama, com suas referências a clássicos da ficção científica e do terror.
Corra! é um filme que nunca vimos antes. É uma poderosa reflexão sobre as várias faces do racismo no formato de uma sátira divertida e assustadora.
Guardiões da Galáxia vol.2 é divertido, mas inferior ao primeiro filme. Minha expectativa era de assistir a uma sequência ainda mais engraçada, com cenas de ação ainda mais elaboradas e com efeitos especiais ainda mais deslumbrantes. Há ótimas piadas, as cenas de ação são de tirar o fôlego e os efeitos evoluíram. Mas o filme é uma bagunça. Não tem a coesão e o ritmo do anterior. Nesse vol.2, praticamente, temos dois filmes distintos. Na primeira metade, depois da cena de ação inicial, a coisa desacelera a tal ponto que tudo fica chato. Acompanhamos os guardiões interagirem entre si e com outros personagens, dando-se espaço para refletirem sobre a relação do grupo e enfrentarem demônios do passado. O diretor e roteirista James Gunn quis ser ambicioso em sua tentativa de dar maior relevância a uma produção marcada pela diversão sem compromisso. O primeiro filme não teve nenhuma vergonha em ser brega, com suas cores berrantes, humor escrachado e trilha sonora dos anos 70 e 80. Mas agora, ao tentar fazer dos guardiões figuras menos cartunescas, mais profundas, o filme acabou ficando piegas. Só quando chegamos à sua segunda metade é que o tom característico da franquia volta para os trilhos de vez. Você chora de rir com diálogos inspirados e piadas visuais certeiras, fica besta com as cenas de ação épicas e os efeitos especiais são melhor aproveitados em função da trama. Baby Groot e Yondu roubam a cena. Baby Groot é diversão garantida com sua ingenuidade de criança raivosa. E o Yondu de Michael Rooker é o único personagem com um arco emocional convincente. Os vilões dourados que vimos nos trailers são inúteis e quase inofensivos. Mas o vilão de verdade é um dos melhores do MCU. Só que faltou a ele maior tempo de tela. Outro problema foi repetirem o maior erro de Era de Ultron, perder tempo preparando o terreno para futuras produções da Marvel. Mas o saldo de Guardiões da Galáxia vol.2 é positivo. Quando uma partida de futebol tem um primeiro tempo morno e um segundo tempo empolgante, fica a sensação de que, apesar da raiva que passamos, valeu a pena torcer até o final.
Baahubali - O Início é um filme indiano de 2015. É uma super produção que fez muito sucesso dentro e fora da Índia. É uma história cheia de clichês sobre O Escolhido para libertar seu povo das garras de um tirano. Mas o que faz de Baahubali divertidíssimo é sua falta de pudor em seus excessos. É um filme hollywoodiano que Hollywood tem medo de fazer, por misturar tanta coisa (ação, drama, comédia, musical , fantasia épica). Tudo bem que há comédia involuntária, algumas cenas de ação são nível Dragonball e o melodrama às vezes pesa. Mas, por outro lado, há sequências de ação ambiciosas, a comédia intencional funciona e os personagens são muito cativantes. Além disso, é bem interessante ver uma fantasia baseada na cultura indiana feita por indianos, na frente e atrás das câmeras. É uma produção bonita de ver. Minhas ressalvas ficam para o machismo e o racismo do filme. Apesar das mulheres protagonistas serem guerreiras e soberanas fortes, no final, o herói, o salvador, é um homem. E as mulheres só servem para ser a mãe ou a amada dele. Há intrigas internas, palacianas, mas também uma ameaça externa, um povo bárbaro de pele escura. Este povo ganha o mesmo tratamento que os orcs da trilogia O Senhor dos Anéis. Baahubali termina com um gancho monstro. A segunda parte, The Conclusion, foi lançada nos cinemas da Índia e de outros países este mês. O Início está disponível na Netflix.
O filme tem algumas das melhores cenas de ação de todo o universo de GintS. As questões levantadas sobre a vida útil dos ciborgues são interessantes e trazem de volta a discussão filosófica da relação homem/máquina.
Hunt for the Wilderpeople é uma comédia road movie, na verdade, bush movie, dirigida e escrita pelo agora badalado Taika Waititi, o diretor de Thor Ragnarok. Hunt... é uma produção pequena, mas muito bem executada, o que acaba elevando sua qualidade técnica. A fotografia mostra as florestas da Nova Zelândia em toda sua majestade e perigo. A montagem é muito feliz em acompanhar as mudanças de humor dos personagens, acelerando e segurando o ritmo sempre que necessário. A incrível trilha sonora se encaixa muito bem com os acontecimentos, principalmente, no tom de paródia aos filmes de sobrevivência. A grande estrela aqui é o garoto Julian Dennison. O seu Ricky Baker é engraçado, cheio de atitude e rebeldia. Órfão, rejeitado pelo sistema, ele tenta ser um delinquente, mas seu coração é bom demais para isso. E Sam Neil está ótimo como o rabugento Hec. As aventuras dos dois são divertidas e cheias de sentimento, numa relação de amor e ódio que não é tão previsível. Os diálogos são impagáveis, tanto na malandragem ingênua de Ricky quanto na rabugice vivida de Hec. A ressalva fica para os "vilões", muito cartunescos. Estão ali apenas para causar o conflito, fazer a trama andar. Hunt for the Wilderpeople é um filme diferente por seu humor, referências culturais e paisagens tão ligados à Nova Zelândia. Majestical.
Fui meio que obrigado a ver A Bela e a Fera. E para minha surpresa, gostei do filme. Na véspera, vi a animação clássica pela primeira vez. Não curti muito. Talvez seja pedir demais de uma animação dos anos 90, mas o roteiro é fraquinho e apressado. Sem falar no incômodo de ver Bela ser encurralada a cada cinco minutos por assédios de todo tipo. Há visuais deslumbrantes e personagens carismáticos. Mas não é tão cativante quanto outras animações dos anos 90, como Aladin e O Rei Leão. Já o filme A Bela e a Fera pega a plataforma narrativa da animação e a torna mais complexa. Furos na trama são preenchidos e personagens ganham novas camadas. É um filme que luta consigo mesmo entre ser antiguado e contemporâneo. É um musical convencional, mas que tenta valorizar a diversidade; apesar das opiniões dividas a respeito de LeFou, com gente ainda o achando caricato e outros o considerando como uma corajosa tentativa de não demonizar um personagem gay. Temos uma Bela feminista. Como o cenário é típico de contos de fadas, seu comportamento progressista faz um contraste interessante. Uma mulher decidida desafiando uma sociedade conservadora. A produção transporta o espectador para um mundo mágico convincente e rico em detalhes; apesar do uso excessivo de personagens digitais em primeiro plano. Na superfície, é um filme bonito de ver, divertido e que trata de temas relevantes. Mas, no fundo, quando pensamos melhor na relação entre Bela e a Fera, fica a sensação de que há algo de errado.
A Disney sempre fez excelentes animações. Mas esse A Bela e a Fera não me conquistou. Trama forçada, resolvida muito rapidamente. A Disney já soube contar histórias cheias de acontecimentos num filme curto, como em O Rei Leão. Em A Bela e a Fera, há personagens carismáticos (os criados), o design da Fera e do interior do castelo são bem bacanas, a fotografia tem momentos deslumbrantes e os números musicais do jantar de Bela com os móveis e do baile apenas com Bela e Fera são as melhores partes do filme.
Gone in 60 Seconds é um filme sobre roubo de carros de 1974. É um cult movie que fez grande sucesso na época. Custou 150 mil dólares e rendeu 40 milhões. H.B. Halicki produziu, dirigiu, escreveu, estrelou e foi dublê nas perseguições de carro. E o filme é lendário por sua perseguição final de 40 minutos!!!, na qual 93 carros foram destruídos. No geral, é bem fraquinho. Atuações amadoras, montagem truncada, edição de som bizarra, trilha sonora básica, fotografia apenas ok, diálogos ruins, roteiro irrelevante (na verdade, não havia roteiro, apenas os diálogos). Mas a famosa perseguição final é impecável. Tudo o que não funcionou no resto do filme é muito bem executado nesse perseguição épica. E a estrela do filme é um Mustang amarelo, chamado Eleanor, o único nome que aparece nos créditos do elenco. Halicki morreu em 1989, num acidente durante as filmagens da sequência. Em 2000, a viúva de Halicki e o produtor Jerry Bruckheimer fizeram um remake com Angelina Jolie e Nicolas Cage. Também foi um sucesso de bilheteria, mas é esquecível. Mesmo o original sendo uma produção independente, quase amadora, torna-se superior ao blockbuster por mostrar um retrato mais cru e realista do submundo dos ladrões de carro e por ser um filme de ação mais visceral, nos seus melhores momentos.
Filme hilário e brilhante. É um mockumentary sobre um grupo de vampiros que vivem na Nova Zelândia atual. Eles dividem uma casa, como se fossem colegas de uma república. Entre os afazeres domésticos e a caça às suas vítimas, conhecemos mais sobre a personalidade e o passado de cada um por meio de depoimentos. A grande sacada do filme é que tudo é levado na brincadeira, mas sem esquecer a atmosfera decadente de terror. É engraçado pelo contraste entre a mentalidade secular dos vampiros e a complexidade da vida moderna. Mas também é melancólico e profundo. Porque aqui ser vampiro significa, principalmente, solidão e isolamento. Os efeitos especiais se encaixam perfeitamente com a proposta de paródia, sendo executados de maneira soberba para uma produção tão barata. E há momentos sombrios e brutais. Os diretores e roteiristas Jemmaine Clement (o cara de óculos da série Flight of the Conchords) e Taika Waititi (ótimo ator e diretor de Thor Ragnarok - esse cara vai longe) simplesmente fizeram um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.
Que filme violento. Mas todo aquele sangue, membros decepados, empalações, rasgos e feridas, tudo tem muito a ver com o Wolverine dos quadrinhos. O cara que se arrebenta todo para proteger quem ele ama. E ele é um animal. Fere e mata seus inimigos da maneira mais brutal possível. Na verdade, Wolverine é uma figura trágica. Uma máquina de matar que se importa. Por isso, a dor e o drama. O filme é sujo e quase sem esperança. Mas, curiosamente, transborda emoção. Na antiga relação entre Logan e Charles. E na nova relação deles com a pequena Laura/X-23. O trio protagonista arrasa em carisma e carga dramática. Nunca vi Wolverine e o Professor X tão bem no cinema. Justamente porque aqui eles se tornam Logan e Charles, com o lado humano deles mais exposto. Os dois estão mais vulneráveis. Suas figuras alquebradas nos afetam bastante. Por outro lado, a fúria de X-23 deixa o espectador boquiaberto. A produção é de primeira. Fotografia e montagem dão mais tempo para a ação se desenvolver e ser mostrada de maneira clara e vibrante. A trilha sonora cumpre bem a função de intensificar a tensão e o perigo. Os efeitos especiais (digitais e práticos) e sonoros são muito convincentes em passar a brutalidade de cada cena. Também há um humor nervoso e boca suja, que funciona melhor do que certas gracinhas nas produções do MCU. Agora, por que Logan é muito bom e não um filmaço? Erros bem chatos comprometem uma melhor avaliação. Os vilões têm presença, só que eles são menos poderosos do que os mocinhos (Charles está doente, mas ainda é poderosíssimo, além de outros personagens do bem), e isso nunca é interessante. O filme é muito longo, 137 minutos. Cortar 15 a 20 minutos amarraria melhor a trama. Muitas convenções narrativas são quebradas. Ainda assim certos recursos batidos são usados, principalmente, na luta final. Já vimos aquilo em outros filmes dos X-Men. Logan acerta numa abordagem mais realista. Porém acaba limitando o lado super-herói da coisa. Até O Cavaleiro das Trevas, com sua pegada policial, nunca deixou de ser um filme do Batman. Mas o saldo é bem positivo. Logan é corajoso, visceral, uma nova maneira de fazer filmes de super-heróis.
comédia indie com trilha bacaninha que questiona o sentido da vida. O humor bizarro não chega ao nível dos irmãos Coen, mas tem seus bons momentos. O terceiro ato é sombrio. Mas está longe de explodir sua cabeça, como faz um David Lynch. Mesmo assim vale a pena.
Moonlight ganhou o Oscar de melhor filme. No final, a gafe histórica da troca de envelopes deu ainda mais emoção ao anúncio do verdadeiro vencedor.
A Academia premiou um filme que olha para o futuro, tanto na temática quanto na execução. Moonlight é um vigoroso estudo de personagem. Um filme com substância, honesto e sábio. E realizado com ousadia. Roteiro, montagem, fotografia, trilha sonora, atuações. Elementos combinados para quebrar tabus e estereótipos. Não foi feito para ganhar Oscar, mas acabou levando. E esse é o papel da premiação. Indicar e premiar o que de melhor o cinema americano pode produzir.
Esta história de "filme feito para ganhar Oscar" tem que acabar. Geralmente, são produções com linguagens cansadas e esquecíveis. Os filmes relevantes têm que ser produzidos e cabe à Academia encontrá-los. Em meio à máquina de moer gente de Hollywood, a função da Academia é inspirar pessoas a dar o seu melhor como cineastas e seres humanos.
Finalmente vi Doutor Estranho. O filme é bom, mas poderia ser incrível. A tarefa de apresentar o lado místico do MCU foi cumprida. O filme vai além de Matrix e Inception nas possibilidades visuais. A primeira viagem multidimensional do Doutor é um deleite de cores, formas e bizarrices. E alguns combates com a realidade distorcida são bem originais. Mas lá pelo meio a criatividade acaba e vemos algo mais conservador, como o primeiro Thor e o primeiro Capitão América. Faltou mais psicodelia. Na verdade, o visual está ali, de fato, para maravilhar crianças a adultos com a concepção usual do que é fantasia. O roteiro fraquinho não ajuda. O ritmo é irregular, ora apressado, ora lento demais. O humor oscila entre eficiente e fora de lugar, irritante. Os personagens são genéricos, mocinhos e vilões. Exceto o próprio Cumberbatch, bastante charmoso. Apesar de ser esquisito vê-lo representar uma arrogância americana, mais vulgar. Mesmo com a polêmica do whitewashing, Tilda Swinton tem presença física e um arco relevante. O ótimo Mads Mikkelsen se vira como pode com mais um vilão decepcionante da Marvel. Ele é convincente em mostrar conflito e ameaça. Mas sua agenda é ingênua. E não posso esquecer da Capa da Levitação, um personagem mais interessante do que quase todo o elenco. A Marvel terá coragem de pirar mais com seu universo místico ou sempre haverá um limite confortável?
Swiss Army Man é o filme mais filosófico sobre peido que você vai encontrar. Na verdade, flatulências são mais uma metáfora no caleidoscópio de significados dessa produção, ao mesmo tempo, tão vulgar e poética. Tecnicamente, o filme é perfeito. A fotografia é bonita sem ser artificial. A montagem é dinâmica, mas não parece videoclipe. Na maior parte do tempo, o ritmo sabe balancear bem momentos de contemplação e de comédia alucinada. A trilha sonora é outro triunfo, numa mistura de melancolia e êxtase. Inclusive vemos aqui uma espécie de musical, bem fora dos padrões. Os efeitos especiais e sonoros são loucos. Acontece um absurdo atrás do outro, mas você compra cada ideia. São muito bem executados e criativos. Paul Dano arrasa mais uma vez, numa performance exigente, sutil, cheia de camadas emocionais. E Daniel Radcliffe prova finalmente que existe vida após Harry Potter. Como um cadáver filosófico peidão, ele mostra que é um ator completo. É divertido na comédia e convincente no drama. E seu trabalho de corpo é incrível. Os diretores disseram que fizeram Swiss Army Man para mostrar sua versão de coisas que odeiam, como piadas de peido no cinema, musicais e filmes de superação, como Náufrago. O título original faz referência ao personagem de Radcliffe, um "canivete suíço humano".
Depois de muitos anos, revi Os Aventureiros do Bairro Proibido, do mestre John Carpenter. Um filme obrigatório na Sessão da Tarde. Muitas vezes, não é uma boa ideia revisitar coisas amadas do passado, na infância e na adolescência. A decepção pode ser difícil de suportar. Mas também é tão legal quando o sonho não acaba. Revi Os Aventureiros… na Netflix com a dublagem clássica, que para mim já faz parte do filme.
Continua divertido. As falhas agora ficaram mais evidentes, principalmente, o roteiro basicão (com uma ligação rasa e apressada dos eventos), além do machismo que coloca donzelas em perigo. O barato são os diálogos bregas e a mise-en-scène pop sem pé nem cabeça, com artes marciais, monstros subterrâneos e alta magia.
O filme é uma mistura de estereótipos e homenagens à cultura chinesa. Com um elemento ousado para os anos 80 de Reagan: o herói de ação é o sidekick chinês, enquanto que o protagonista branco é o alívio cômico. Os efeitos especiais, a maquiagem e a trilha sonora marcaram toda uma geração de fãs.
The Boy and the Beast é um prato cheio para quem curte cultura pop japonesa. Tem melodrama, cenas de luta, comédia, fantasia, slice of life, romance. O experiente diretor e roteirista Mamoru Hosoda consegue amarrar todos esses elementos e entregar ao espectador um filme divertido, emocionante e visualmente belo. A qualidade da animação é estupenda, misturando técnica tradicional e computação gráfica; mesmo que, em certas cenas, o CGI se mostre meio artificial, sem tanta textura. Algumas soluções do roteiro poderiam ser repensadas para dar maior profundidade na relação entre os dois protagonistas e mais coerência aos seus arcos. Mas o filme, do jeito que é, já se mostra mais maduro e inventivo do que muita coisa lançada nos últimos anos, incluindo produções live-action. O Rapaz e o Monstro fala sobre perda, autoconhecimento, escolha e identidade.
Denis Villeneuve mostra mais uma vez muita segurança ao filmar. É uma visão crua da guerra às drogas. O roteiro constrói uma trama contida, com uma tensão crescente, muito bem orquestrada pela direção. Montagem, fotografia, trilha sonora, efeitos visuais e sonoros. Tudo isso contribui para a sensação de extremo realismo. Era como se estivéssemos lá, juntos dos personagens. As atuações são discretas e competentes. Sicario é mais um conto moral que Villeneuve joga para o espectador.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraO novo IT é mais divertido do que assustador. Não li o livro nem vi a minissérie. Portanto, fui praticamente verde para o filme. Não assusta tanto porque o CGI prejudica a "textura do terror", digamos assim, tornando tudo muito limpo. Os melhores momentos de tensão acontecem quando a performance live action de Bill Skarsgård como Pennywise fica em primeiro plano. Edição, efeitos sonoros e música se esforçam para assustar, mas perdem frequentemente no timing ou na criatividade, apresentando soluções já vistas antes. O forte do filme é a interação entre os garotos. A química é perfeita e os diálogos são deliciosos. Nesse quesito, é superior a Stranger Things. Em IT, as angústias da infância (bullying, problemas familiares, de autoestima, paixonites...) são mostrados de uma maneira mais aprofundada, com mais nuances. Ao mesmo tempo, o filme está cheio de clichês narrativos, principalmente, relacionados à única personagem feminina relevante na trama: síndrome de smurfete, damsel in distress, trophy girl e a por aí vai. Além de ser um pouco longo com seus 135 min. Nota: 7.
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
3.1 580 Assista AgoraValerian: um filme ruim, mas imperdível
Tinha tudo para ser um filmaço, mas a promessa ficou no meio do caminho. Luc Besson apostou alto e perdeu, tanto do ponto de vista criativo quanto financeiro. Teve ambição. Produziu, dirigiu e escreveu. Só que se aproximou mais do George Lucas dos prequels de Star Wars do que do James Cameron de Titanic e Avatar. Besson estava apaixonado demais pelo seu projeto dos sonhos para perceber as falhas. Resultado: o espectador, com bastante paciência, tem que garimpar para ver o que há de melhor em Valerian. Apesar de seus graves problemas, o filme deve ser visto no cinema. Traz conceitos e visuais que você só verá nele, de maneira deslumbrante.
Luc Besson é um diretor brega e piegas, mas já mostrou que sabe criar mundos fora dos padrões e personagens imprevisíveis e cativantes. Nikita ainda é seu melhor trabalho. Um filme de ação francês dos anos 90, cruel, punk, que chamou a atenção de Hollywood pela maneira nada moralista de fazer entretenimento à maneira americana. O Profissional já mostra um Besson mais domesticado. Mas ainda assim, o filme é perverso. Uma história de amor violenta e pra lá de controversa, nas entrelinhas. Em O Quinto Elemento, seu projeto mais ambicioso até então, acompanhamos uma divertida homenagem à ficção científica europeia.
Visualmente, Valerian é seu filme mais maduro e sofisticado. A abertura, ao som de David Bowie, mostrando a origem de Alpha, a Cidade dos Mil Planetas, é empolgante. E o primeiro terço do filme mostra mais qualidades do que defeitos. Apesar da falta de carisma da dupla protagonista e dos diálogos ruins, o espectador compra a ideia com sua trama basicona e ágil e a estranheza da visão europeia do que é ficção científica no cinema, em seus cenários e criaturas. A sequência do deserto, em que a ação acontece em universos paralelos simultaneamente, é original e muito bem executada.
A todo momento, assistindo ao filme, pensamos: isso é Star Wars, aquilo é Star Wars. Além de outras referências, como Matrix e Avatar. Mas, na verdade, devemos lembrar que Valerian é inspirado nos quadrinhos clássicos de mesmo nome, da dupla Pierre Christin e Jean Claude Mézières. Referências do próprio George Lucas para a criação do seu universo (alguns dizem que foi roubo de conceitos descarado). Com a adaptação de Valérian, agent spatio-temporel (mais tarde rebatizada de Valérian et Laureline), Luc Besson finalmente pôde realizar um sonho de infância.
Valerian apresenta uma visão mais ingênua e otimista de uma FC cheia de raças alienígenas e conflitos de interesses. O clima é de sessão da tarde. Mas, no geral, o filme se torna mais ousado do que Star Wars. Primeiro, no visual mais pirado e lisérgico. Segundo, ao dar maior relevância aos personagens aliens. Aqui eles são parte importante da trama e muitas vezes superam a performance dos personagens humanos.
Os maiores problemas de Valerian são o roteiro, cheio de furos, diálogos terríveis, humor pouco eficiente, subtramas confusas ou desinteressantes, e exposição desnecessária ou repetitiva. O elenco mal escalado ou mal dirigido. E a duração do filme, 137 minutos. Podiam ter cortado uns 30 minutos. Era para ser um ser um filme mais ágil. Assim seu subtexto anti-guerra ganharia maior relevância. Porque o espectador sai meio esgotado da experiência. Parece que Luc Besson teve pena de cortar aquelas cenas deletadas que vão para o Blue-Ray.
Afinal, vale o ingresso? Para fãs de FC, o filme é obrigatório. Não saí do cinema puto da vida. Já sabia mais ou menos o que esperar. Mesmo assim, fui surpreendido com os melhores momentos.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
3.8 1,9K Assista AgoraFinalmente, vi "Homem-Aranha: De Volta ao Lar". Filme divertido e muito próximo do Aranha dos quadrinhos. Tom Holland é o melhor Peter Parker de todos, um moleque agindo como um moleque. Mas o segundo filme de Sam Raimi ainda é meu preferido por ter um impacto emocional forte e um vilão trágico. O novo filme do Aranha está antenado com os novos tempos. É inteligente em apostar na diversidade. O Abutre de Michael Keaton é uma ameaça convincente. Entrou no time de futebol de salão de bons vilões da Marvel. Montagem e fotografia ora criativas, ora genéricas. O forte do roteiro são os diálogos. No geral, os efeitos especiais causam impacto, mas algumas movimentações do Aranha estão bem fakes. Gostei da trilha nervosa de Michael Giacchino. E os créditos finais são os mais legais da Marvel, ao som de Blitzkrieg Bop, dos Ramones. Agora podiam ter cortado uns vinte minutos do filme. Ficou longo demais. Nota: 7.5
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraShyamalan fazendo shyamalanices com sua psicologia barata. Que filme todo errado. Ainda bem que não vi no cinema. Eu ia ficar puto.
O Poderoso Chefinho
3.4 521 Assista AgoraA infância de Donald Trump.
Mulher-Maravilha
4.1 2,9K Assista Agora80% do filme funciona muito bem (humor, ação, drama, efeitos especiais, fotografia, direção de arte, ritmo, atuações). 20% estragam a experiência (vilões caricatos, CGI exagerado em algumas cenas, principalmente, na luta final, algum melodrama). Um belo filme anti-guerra com super-heróis. Gadot arrebenta como Mulher Maravilha. Saí feliz do cinema.
Hacker
2.5 283 Assista AgoraUm filme dirigido pelo mestre Michael Mann, só que infelizmente é bem fraquinho. Montagem confusa e largadona. Tá na cara que rolaram problemas na produção pela falta de vigor dos envolvidos. Os personagens são mal escritos e interpretados. O visual apurado está lá, mas a trama não ajuda. O ritmo melhora do meio pro final, há uma intensa sequência de ação no estilo Michael Mann, mas nada disso salva o filme.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraCorra! é um filme brilhante. A intenção do diretor e roteirista Jordan Peele era promover uma reflexão sobre a condição do negro americano por meio de uma sátira, uma mistura de terror psicológico e comédia. Também podemos dizer que este é um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos anos.
O hype é real. Principalmente, porque Peele conseguiu mostrar seu ponto de vista sem comprometer, em nenhum momento, o envolvimento do espectador com a narrativa, a trama. Corra! faz a gente pensar justamente por causa de sua história muito bem contada. Ao acompanharmos o horror passado pelo protagonista, entendemos todos os temas relevantes levantados pelo filme. O que é estar na pele de uma pessoa negra. Qual a ameaça que isso representa para sua própria vida pelo simples fato de você ser negro.
A grande sacada aqui não é mostrar antagonistas explicitamente racistas, gente que odeia pessoas negras, que quer matá-las violentamente. O contrário é mais assustador. Em Corra! os brancos adoram, idolatram os negros. Mas sua versão distorcida de admiração gera uma violência ainda mais perturbadora. Na verdade, esse fascínio pela figura do negro é superficial. Porque, mais uma vez, a dignidade de pessoas negras é tratada como coisa de quinta categoria, algo a ser descartado.
Os temas de Corra! são muito sérios. Mas o filme é engraçado demais! Entenda: o humor não é de jeito nenhum leviano, insensível, inapropriado ou fora de lugar. Jordan Peele é um comediante muito famoso nos EUA. Ele é um dos criadores e protagonistas de Key & Peele, um programa no Comedy Central. É imperdível. No show, Peele faz diversos comentários sobre a condição do negro americano em esquetes hilários e afiados. Inclusive, alguns dos esquetes são bem assustadores, verdadeiras peças de comédia do absurdo.
Então os fãs de Key&Peele podem ver em Corra! uma versão apurada das possibilidades de fazer terror, comédia e nonsense de Peele. É impressionante como no filme o terror não atrapalha a comédia e vice-versa. A habilidade do diretor em mudar o tom é mais um elemento que fez dessa produção barata um enorme sucesso de bilheteria. Custou US$4,5 milhões e até agora faturou mais US$ 214 milhões.
Outro triunfo é a escalação do elenco. Todos estão muito bem, novatos, desconhecidos e veteranos. O britânico Daniel Kaluuya faz o protagonista, o americano Chris, de forma tão convincente, com expressões faciais e corporais discretas, mas marcantes. A performance de Catherine Keener é magnética, numa atuação contida e poderosa. Outro destaque é o comediante Lil Rel Howery, no papel do melhor amigo de Chris. Ele rouba todas as cenas em que aparece.
Mas Corra! também tem seus problemas. Peele foi muito feliz em investir mais no terror psicológico, em mexer mais com nossas cabeças, do que no gore. Mas não evitou certos clichês do terror, certos sustos, principalmente, usando a trilha sonora macabra (aliás, excelente e original, com elementos hitchockianos, um toque de blues, R&B e música africana, sem estereótipos). E no terceiro ato, quando tudo é revelado ao espectador, coisas fazendo sentido, outras não. A grande revelação faz sentido. O motivo de Chris estar no meio daquela gente branca tão educada e amistosa. Mas outras revelações laterais não se encaixam, poderiam ter um rumo diferente, um melhor desenvolvimento, mais de acordo com o propósito dos antagonistas. Sim, estou falando dos outros personagens negros daquela comunidade.
Na sua estreia como diretor, Jordan Peele surpreende por sua segurança e ambição. Ele é um cinéfilo. Percebemos isso ao longo da trama, com suas referências a clássicos da ficção científica e do terror.
Corra! é um filme que nunca vimos antes. É uma poderosa reflexão sobre as várias faces do racismo no formato de uma sátira divertida e assustadora.
Guardiões da Galáxia Vol. 2
4.0 1,7K Assista AgoraGuardiões da Galáxia vol.2 é divertido, mas inferior ao primeiro filme. Minha expectativa era de assistir a uma sequência ainda mais engraçada, com cenas de ação ainda mais elaboradas e com efeitos especiais ainda mais deslumbrantes. Há ótimas piadas, as cenas de ação são de tirar o fôlego e os efeitos evoluíram. Mas o filme é uma bagunça. Não tem a coesão e o ritmo do anterior. Nesse vol.2, praticamente, temos dois filmes distintos. Na primeira metade, depois da cena de ação inicial, a coisa desacelera a tal ponto que tudo fica chato. Acompanhamos os guardiões interagirem entre si e com outros personagens, dando-se espaço para refletirem sobre a relação do grupo e enfrentarem demônios do passado. O diretor e roteirista James Gunn quis ser ambicioso em sua tentativa de dar maior relevância a uma produção marcada pela diversão sem compromisso. O primeiro filme não teve nenhuma vergonha em ser brega, com suas cores berrantes, humor escrachado e trilha sonora dos anos 70 e 80. Mas agora, ao tentar fazer dos guardiões figuras menos cartunescas, mais profundas, o filme acabou ficando piegas. Só quando chegamos à sua segunda metade é que o tom característico da franquia volta para os trilhos de vez. Você chora de rir com diálogos inspirados e piadas visuais certeiras, fica besta com as cenas de ação épicas e os efeitos especiais são melhor aproveitados em função da trama. Baby Groot e Yondu roubam a cena. Baby Groot é diversão garantida com sua ingenuidade de criança raivosa. E o Yondu de Michael Rooker é o único personagem com um arco emocional convincente. Os vilões dourados que vimos nos trailers são inúteis e quase inofensivos. Mas o vilão de verdade é um dos melhores do MCU. Só que faltou a ele maior tempo de tela. Outro problema foi repetirem o maior erro de Era de Ultron, perder tempo preparando o terreno para futuras produções da Marvel. Mas o saldo de Guardiões da Galáxia vol.2 é positivo. Quando uma partida de futebol tem um primeiro tempo morno e um segundo tempo empolgante, fica a sensação de que, apesar da raiva que passamos, valeu a pena torcer até o final.
Baahubali: O Início
3.6 147 Assista AgoraBaahubali - O Início é um filme indiano de 2015. É uma super produção que fez muito sucesso dentro e fora da Índia. É uma história cheia de clichês sobre O Escolhido para libertar seu povo das garras de um tirano. Mas o que faz de Baahubali divertidíssimo é sua falta de pudor em seus excessos. É um filme hollywoodiano que Hollywood tem medo de fazer, por misturar tanta coisa (ação, drama, comédia, musical , fantasia épica). Tudo bem que há comédia involuntária, algumas cenas de ação são nível Dragonball e o melodrama às vezes pesa. Mas, por outro lado, há sequências de ação ambiciosas, a comédia intencional funciona e os personagens são muito cativantes. Além disso, é bem interessante ver uma fantasia baseada na cultura indiana feita por indianos, na frente e atrás das câmeras. É uma produção bonita de ver. Minhas ressalvas ficam para o machismo e o racismo do filme. Apesar das mulheres protagonistas serem guerreiras e soberanas fortes, no final, o herói, o salvador, é um homem. E as mulheres só servem para ser a mãe ou a amada dele. Há intrigas internas, palacianas, mas também uma ameaça externa, um povo bárbaro de pele escura. Este povo ganha o mesmo tratamento que os orcs da trilogia O Senhor dos Anéis. Baahubali termina com um gancho monstro. A segunda parte, The Conclusion, foi lançada nos cinemas da Índia e de outros países este mês. O Início está disponível na Netflix.
Ghost in the Shell - The New Movie
3.6 11O filme tem algumas das melhores cenas de ação de todo o universo de GintS. As questões levantadas sobre a vida útil dos ciborgues são interessantes e trazem de volta a discussão filosófica da relação homem/máquina.
Fuga Para a Liberdade
4.0 232Hunt for the Wilderpeople é uma comédia road movie, na verdade, bush movie, dirigida e escrita pelo agora badalado Taika Waititi, o diretor de Thor Ragnarok. Hunt... é uma produção pequena, mas muito bem executada, o que acaba elevando sua qualidade técnica. A fotografia mostra as florestas da Nova Zelândia em toda sua majestade e perigo. A montagem é muito feliz em acompanhar as mudanças de humor dos personagens, acelerando e segurando o ritmo sempre que necessário. A incrível trilha sonora se encaixa muito bem com os acontecimentos, principalmente, no tom de paródia aos filmes de sobrevivência. A grande estrela aqui é o garoto Julian Dennison. O seu Ricky Baker é engraçado, cheio de atitude e rebeldia. Órfão, rejeitado pelo sistema, ele tenta ser um delinquente, mas seu coração é bom demais para isso. E Sam Neil está ótimo como o rabugento Hec. As aventuras dos dois são divertidas e cheias de sentimento, numa relação de amor e ódio que não é tão previsível. Os diálogos são impagáveis, tanto na malandragem ingênua de Ricky quanto na rabugice vivida de Hec. A ressalva fica para os "vilões", muito cartunescos. Estão ali apenas para causar o conflito, fazer a trama andar. Hunt for the Wilderpeople é um filme diferente por seu humor, referências culturais e paisagens tão ligados à Nova Zelândia. Majestical.
A Bela e a Fera
3.9 1,6K Assista AgoraFui meio que obrigado a ver A Bela e a Fera. E para minha surpresa, gostei do filme. Na véspera, vi a animação clássica pela primeira vez. Não curti muito. Talvez seja pedir demais de uma animação dos anos 90, mas o roteiro é fraquinho e apressado. Sem falar no incômodo de ver Bela ser encurralada a cada cinco minutos por assédios de todo tipo. Há visuais deslumbrantes e personagens carismáticos. Mas não é tão cativante quanto outras animações dos anos 90, como Aladin e O Rei Leão. Já o filme A Bela e a Fera pega a plataforma narrativa da animação e a torna mais complexa. Furos na trama são preenchidos e personagens ganham novas camadas. É um filme que luta consigo mesmo entre ser antiguado e contemporâneo. É um musical convencional, mas que tenta valorizar a diversidade; apesar das opiniões dividas a respeito de LeFou, com gente ainda o achando caricato e outros o considerando como uma corajosa tentativa de não demonizar um personagem gay. Temos uma Bela feminista. Como o cenário é típico de contos de fadas, seu comportamento progressista faz um contraste interessante. Uma mulher decidida desafiando uma sociedade conservadora. A produção transporta o espectador para um mundo mágico convincente e rico em detalhes; apesar do uso excessivo de personagens digitais em primeiro plano. Na superfície, é um filme bonito de ver, divertido e que trata de temas relevantes. Mas, no fundo, quando pensamos melhor na relação entre Bela e a Fera, fica a sensação de que há algo de errado.
A Bela e a Fera
4.1 1,1K Assista AgoraA Disney sempre fez excelentes animações. Mas esse A Bela e a Fera não me conquistou. Trama forçada, resolvida muito rapidamente. A Disney já soube contar histórias cheias de acontecimentos num filme curto, como em O Rei Leão. Em A Bela e a Fera, há personagens carismáticos (os criados), o design da Fera e do interior do castelo são bem bacanas, a fotografia tem momentos deslumbrantes e os números musicais do jantar de Bela com os móveis e do baile apenas com Bela e Fera são as melhores partes do filme.
60 Segundos
3.6 26Gone in 60 Seconds é um filme sobre roubo de carros de 1974. É um cult movie que fez grande sucesso na época. Custou 150 mil dólares e rendeu 40 milhões. H.B. Halicki produziu, dirigiu, escreveu, estrelou e foi dublê nas perseguições de carro. E o filme é lendário por sua perseguição final de 40 minutos!!!, na qual 93 carros foram destruídos. No geral, é bem fraquinho. Atuações amadoras, montagem truncada, edição de som bizarra, trilha sonora básica, fotografia apenas ok, diálogos ruins, roteiro irrelevante (na verdade, não havia roteiro, apenas os diálogos). Mas a famosa perseguição final é impecável. Tudo o que não funcionou no resto do filme é muito bem executado nesse perseguição épica. E a estrela do filme é um Mustang amarelo, chamado Eleanor, o único nome que aparece nos créditos do elenco. Halicki morreu em 1989, num acidente durante as filmagens da sequência. Em 2000, a viúva de Halicki e o produtor Jerry Bruckheimer fizeram um remake com Angelina Jolie e Nicolas Cage. Também foi um sucesso de bilheteria, mas é esquecível. Mesmo o original sendo uma produção independente, quase amadora, torna-se superior ao blockbuster por mostrar um retrato mais cru e realista do submundo dos ladrões de carro e por ser um filme de ação mais visceral, nos seus melhores momentos.
O Que Fazemos nas Sombras
4.0 662 Assista AgoraFilme hilário e brilhante. É um mockumentary sobre um grupo de vampiros que vivem na Nova Zelândia atual. Eles dividem uma casa, como se fossem colegas de uma república. Entre os afazeres domésticos e a caça às suas vítimas, conhecemos mais sobre a personalidade e o passado de cada um por meio de depoimentos. A grande sacada do filme é que tudo é levado na brincadeira, mas sem esquecer a atmosfera decadente de terror. É engraçado pelo contraste entre a mentalidade secular dos vampiros e a complexidade da vida moderna. Mas também é melancólico e profundo. Porque aqui ser vampiro significa, principalmente, solidão e isolamento. Os efeitos especiais se encaixam perfeitamente com a proposta de paródia, sendo executados de maneira soberba para uma produção tão barata. E há momentos sombrios e brutais. Os diretores e roteiristas Jemmaine Clement (o cara de óculos da série Flight of the Conchords) e Taika Waititi (ótimo ator e diretor de Thor Ragnarok - esse cara vai longe) simplesmente fizeram um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraQue filme violento. Mas todo aquele sangue, membros decepados, empalações, rasgos e feridas, tudo tem muito a ver com o Wolverine dos quadrinhos. O cara que se arrebenta todo para proteger quem ele ama. E ele é um animal. Fere e mata seus inimigos da maneira mais brutal possível. Na verdade, Wolverine é uma figura trágica. Uma máquina de matar que se importa. Por isso, a dor e o drama. O filme é sujo e quase sem esperança. Mas, curiosamente, transborda emoção. Na antiga relação entre Logan e Charles. E na nova relação deles com a pequena Laura/X-23. O trio protagonista arrasa em carisma e carga dramática. Nunca vi Wolverine e o Professor X tão bem no cinema. Justamente porque aqui eles se tornam Logan e Charles, com o lado humano deles mais exposto. Os dois estão mais vulneráveis. Suas figuras alquebradas nos afetam bastante. Por outro lado, a fúria de X-23 deixa o espectador boquiaberto. A produção é de primeira. Fotografia e montagem dão mais tempo para a ação se desenvolver e ser mostrada de maneira clara e vibrante. A trilha sonora cumpre bem a função de intensificar a tensão e o perigo. Os efeitos especiais (digitais e práticos) e sonoros são muito convincentes em passar a brutalidade de cada cena. Também há um humor nervoso e boca suja, que funciona melhor do que certas gracinhas nas produções do MCU. Agora, por que Logan é muito bom e não um filmaço? Erros bem chatos comprometem uma melhor avaliação. Os vilões têm presença, só que eles são menos poderosos do que os mocinhos (Charles está doente, mas ainda é poderosíssimo, além de outros personagens do bem), e isso nunca é interessante. O filme é muito longo, 137 minutos. Cortar 15 a 20 minutos amarraria melhor a trama. Muitas convenções narrativas são quebradas. Ainda assim certos recursos batidos são usados, principalmente, na luta final. Já vimos aquilo em outros filmes dos X-Men. Logan acerta numa abordagem mais realista. Porém acaba limitando o lado super-herói da coisa. Até O Cavaleiro das Trevas, com sua pegada policial, nunca deixou de ser um filme do Batman. Mas o saldo é bem positivo. Logan é corajoso, visceral, uma nova maneira de fazer filmes de super-heróis.
Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo
3.3 382 Assista Agoracomédia indie com trilha bacaninha que questiona o sentido da vida. O humor bizarro não chega ao nível dos irmãos Coen, mas tem seus bons momentos. O terceiro ato é sombrio. Mas está longe de explodir sua cabeça, como faz um David Lynch. Mesmo assim vale a pena.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraMoonlight ganhou o Oscar de melhor filme. No final, a gafe histórica da troca de envelopes deu ainda mais emoção ao anúncio do verdadeiro vencedor.
A Academia premiou um filme que olha para o futuro, tanto na temática quanto na execução. Moonlight é um vigoroso estudo de personagem. Um filme com substância, honesto e sábio. E realizado com ousadia. Roteiro, montagem, fotografia, trilha sonora, atuações. Elementos combinados para quebrar tabus e estereótipos. Não foi feito para ganhar Oscar, mas acabou levando. E esse é o papel da premiação. Indicar e premiar o que de melhor o cinema americano pode produzir.
Esta história de "filme feito para ganhar Oscar" tem que acabar. Geralmente, são produções com linguagens cansadas e esquecíveis. Os filmes relevantes têm que ser produzidos e cabe à Academia encontrá-los. Em meio à máquina de moer gente de Hollywood, a função da Academia é inspirar pessoas a dar o seu melhor como cineastas e seres humanos.
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista AgoraFinalmente vi Doutor Estranho. O filme é bom, mas poderia ser incrível. A tarefa de apresentar o lado místico do MCU foi cumprida. O filme vai além de Matrix e Inception nas possibilidades visuais. A primeira viagem multidimensional do Doutor é um deleite de cores, formas e bizarrices. E alguns combates com a realidade distorcida são bem originais. Mas lá pelo meio a criatividade acaba e vemos algo mais conservador, como o primeiro Thor e o primeiro Capitão América. Faltou mais psicodelia. Na verdade, o visual está ali, de fato, para maravilhar crianças a adultos com a concepção usual do que é fantasia. O roteiro fraquinho não ajuda. O ritmo é irregular, ora apressado, ora lento demais. O humor oscila entre eficiente e fora de lugar, irritante. Os personagens são genéricos, mocinhos e vilões. Exceto o próprio Cumberbatch, bastante charmoso. Apesar de ser esquisito vê-lo representar uma arrogância americana, mais vulgar. Mesmo com a polêmica do whitewashing, Tilda Swinton tem presença física e um arco relevante. O ótimo Mads Mikkelsen se vira como pode com mais um vilão decepcionante da Marvel. Ele é convincente em mostrar conflito e ameaça. Mas sua agenda é ingênua. E não posso esquecer da Capa da Levitação, um personagem mais interessante do que quase todo o elenco. A Marvel terá coragem de pirar mais com seu universo místico ou sempre haverá um limite confortável?
Um Cadáver para Sobreviver
3.5 936 Assista AgoraSwiss Army Man é o filme mais filosófico sobre peido que você vai encontrar. Na verdade, flatulências são mais uma metáfora no caleidoscópio de significados dessa produção, ao mesmo tempo, tão vulgar e poética. Tecnicamente, o filme é perfeito. A fotografia é bonita sem ser artificial. A montagem é dinâmica, mas não parece videoclipe. Na maior parte do tempo, o ritmo sabe balancear bem momentos de contemplação e de comédia alucinada. A trilha sonora é outro triunfo, numa mistura de melancolia e êxtase. Inclusive vemos aqui uma espécie de musical, bem fora dos padrões. Os efeitos especiais e sonoros são loucos. Acontece um absurdo atrás do outro, mas você compra cada ideia. São muito bem executados e criativos. Paul Dano arrasa mais uma vez, numa performance exigente, sutil, cheia de camadas emocionais. E Daniel Radcliffe prova finalmente que existe vida após Harry Potter. Como um cadáver filosófico peidão, ele mostra que é um ator completo. É divertido na comédia e convincente no drama. E seu trabalho de corpo é incrível. Os diretores disseram que fizeram Swiss Army Man para mostrar sua versão de coisas que odeiam, como piadas de peido no cinema, musicais e filmes de superação, como Náufrago. O título original faz referência ao personagem de Radcliffe, um "canivete suíço humano".
Os Aventureiros do Bairro Proibido
3.7 568 Assista AgoraDepois de muitos anos, revi Os Aventureiros do Bairro Proibido, do mestre John Carpenter. Um filme obrigatório na Sessão da Tarde. Muitas vezes, não é uma boa ideia revisitar coisas amadas do passado, na infância e na adolescência. A decepção pode ser difícil de suportar. Mas também é tão legal quando o sonho não acaba. Revi Os Aventureiros… na Netflix com a dublagem clássica, que para mim já faz parte do filme.
Continua divertido. As falhas agora ficaram mais evidentes, principalmente, o roteiro basicão (com uma ligação rasa e apressada dos eventos), além do machismo que coloca donzelas em perigo. O barato são os diálogos bregas e a mise-en-scène pop sem pé nem cabeça, com artes marciais, monstros subterrâneos e alta magia.
O filme é uma mistura de estereótipos e homenagens à cultura chinesa. Com um elemento ousado para os anos 80 de Reagan: o herói de ação é o sidekick chinês, enquanto que o protagonista branco é o alívio cômico. Os efeitos especiais, a maquiagem e a trilha sonora marcaram toda uma geração de fãs.
O Rapaz e o Monstro
4.2 141 Assista AgoraThe Boy and the Beast é um prato cheio para quem curte cultura pop japonesa. Tem melodrama, cenas de luta, comédia, fantasia, slice of life, romance. O experiente diretor e roteirista Mamoru Hosoda consegue amarrar todos esses elementos e entregar ao espectador um filme divertido, emocionante e visualmente belo. A qualidade da animação é estupenda, misturando técnica tradicional e computação gráfica; mesmo que, em certas cenas, o CGI se mostre meio artificial, sem tanta textura. Algumas soluções do roteiro poderiam ser repensadas para dar maior profundidade na relação entre os dois protagonistas e mais coerência aos seus arcos. Mas o filme, do jeito que é, já se mostra mais maduro e inventivo do que muita coisa lançada nos últimos anos, incluindo produções live-action. O Rapaz e o Monstro fala sobre perda, autoconhecimento, escolha e identidade.
Sicario: Terra de Ninguém
3.7 942 Assista AgoraDenis Villeneuve mostra mais uma vez muita segurança ao filmar. É uma visão crua da guerra às drogas. O roteiro constrói uma trama contida, com uma tensão crescente, muito bem orquestrada pela direção. Montagem, fotografia, trilha sonora, efeitos visuais e sonoros. Tudo isso contribui para a sensação de extremo realismo. Era como se estivéssemos lá, juntos dos personagens. As atuações são discretas e competentes. Sicario é mais um conto moral que Villeneuve joga para o espectador.