Era Uma Vez Um Gênio (3000 Years Of Longing) é um filme de 2022, que o mestre George Miller dirigiu após o espetacular Mad Max: Estrada da Fúria (2015). E como são obras tão diferentes. Miller troca os tons pastéis e o azul soturno por uma explosão de cores. E também de ideias e sensações. A visão sombria da humanidade é deixada de lado. Temos agora uma perspectiva que não dar para chamar de otimista, e sim de apaixonada, na qual os seres humanos tentam lidar com os tortuosos caminhos do coração e da mente, na alegria ou na dor. O veterano cineasta se permitiu criar uma fábula metalinguística cheia de nuances para falar sobre o que mais nos atormenta: o sentido de estarmos nesse mundo, o sentido que temos para as outras pessoas. As falhas do filme, sejam em alguns efeitos especiais ou oscilações de ritmo, são mais do que recompensadas pelos diálogos maduros, as atuações vibrantes de Tilda Swinton e Idris Elba e toda uma produção que celebra a arte de contar histórias.
À primeira vista, Dias Perfeitos, de Wim Wnders, é um filme edificante, lindo, emocionante, até terapêutico. Mas, passado o arrebatamento inicial, percebemos que há muito a se refletir e a desvendar na felicidade da vida simples do protagonista.
Harayama é um homem de sessenta e poucos anos, comedido, de poucas palavras, que gosta de ouvir música, ler, fotografar e cuidar de suas plantas em casa. Seu trabalho é limpar banheiros públicos em Tóquio. Função essencial, mas desprestigiada. Mesmo num país como o Japão, que valoriza tanto o bem comum, a vida em comunidade.
Acompanhando a rotina restrita e repetitiva do protagonista, ou quando ela é abalada por algum episódio inesperado, notamos cada vez mais que a simplicidade da vida de Harayama é a mistura de uma escolha, de um propósito, talvez de uma penitência, com um isolamento social e emocional ferrenho. Tem a ver com sua personalidade, seu passado e sua cultura. Ele delimita sua existência para ter um maior controle sobre ela. Acima de tudo, o filme é um estudo de personagem.
Apesar do diretor ser alemão, o roteiro é co-escrito pelo também produtor japonês Takuma Takasaki. Há a mesma sutileza e força no retrato de pessoas “comuns” de outras obras de Wenders como Paris, Texas e Asas do Desejo. A grande atuação do veterano Koji Yakusho, contida, mas de muita expressividade nos closes, no olhar, transforma a vida interior de Harayama num mistério intrigante.
De fato, Dias Perfeitos é um belo filme. Não se trata aqui de romantizar a precarização do trabalho. E nem de glorificar a alienação. Wim Wnders nos convida a desacelerar nossas percepções, a questionarmos o que realmente importa; lição a ser aprendida até pelo próprio Harayama. Num mundo em que acontecem o genocídio da população preta no Brasil e dos palestinos na Faixa de Gaza, colocar em xeque a lógica do esgotamento físico e moral, da alta velocidade produtiva, promovida pelo capitalismo, é urgente.
A diretora do excelente "Retrato de uma Mulher em Chamas" nos apresenta uma obra singela sobre o tema da maternidade. Não é um filme para explicar, e sim para sentir. A atuação das duas meninas de oito anos é impactante. Mas o filme poderia ter mais uns vinte minutos para desenvolver melhor o personagem da mãe.
Para um diretor, a armadilha das cinebiografias se dá quando um ou mais desses fatores estão presentes: falta de ambição estética, didatismo engessado e excessivo, e distorção dos acontecimentos ao ponto de questionarem a credibilidade do filme. Mas existem exemplos que subvertem tais regras de forma brilhante, como Não Estou Lá, de Todd Haynes, uma cinebio de Bob Dylan infiel aos fatos, porém fiel às várias facetas do artista. No caso de Oppenheimer, Nolan buscou um meio termo entre ousadia e convenção.
Podemos dizer que Oppenheimer é parte independente, parte filme de estúdio. Como co-produtor, roteirista e diretor, Nolan queria total controle sobre a produção para aplicar sua cartilha cinematográfica. Todas as qualidades, defeitos e cacoetes estão lá. No entanto, o que ficou evidente foi a evolução do poder narrativo de Nolan. Para falar sobre J. Robert Oppenheimer, o projeto Manhattan e a criação da bomba atômica, o cineasta sabia que não podia ser leviano, não podia empregar um tom hollywoodiano demais, como em Uma Mente Brilhante (um delírio sobre a vida de um matemático vencedor do Nobel). E também o filme não podia ser tão sombrio que afastasse o público médio. Porque Nolan precisava e almejava um sucesso de bilheteria considerável. Então ele decidiu fazer do sombrio um espetáculo. Essa é sua maneira de fazer cinema com montagem arrojada, atuações vigorosas, trilha sonora retumbante, fotografia épica. Por isso, em Oppenheimer, Nolan recalibrou seu repertório a favor do tema. Procurou entender e representar, da maneira mais criativa e menos óbvia possível, não só a vida e a obra, mas a mente de uma figura complexa e trágica. E o espectador tenta imaginar, tenta especular quem foi essa pessoa por dentro por meio de imagens realistas e abstratas, e pelo olhar, pelo rosto e pela voz de tom aveludado de Cillian Murphy.
Se um cineasta como Paul Thomas Anderson, de O Mestre e Sangue Negro, dirigisse Oppenheimer seria outro filme. Talvez fosse ainda mais duro, ainda mais perturbador, mais silencioso, menos convencional, porque existe até um vilão, um nêmesis na história. Agora é inegável que, ao que se propôs, Nolan conseguiu dirigir seu filme mais maduro.
Barbie é um filme divertido, emocionante e afiado, mas também problemático. A diretora e co-roteirista Greta Gerwig se saiu bem diante de um tremendo desafio com cheiro de cilada. Como fazer um filme decente sobre a Barbie? A solução foi a sátira. Claro que há aqui um pouco de tudo, comédia, drama, musical, ação, fantasia, uma mistura que nos leva a uma aventura filosófica sobre a existência da mulher no mundo. Não como ideia, abstração, mas como alguém de carne e osso, com dificuldades reais numa sociedade patriarcal que precisa mudar não só em prol da sanidade das mulheres, mas do mesmo modo pela sanidade dos homens, lutando-se contra qualquer tipo de padrões tóxicos de feminilidade e, principalmente, de masculinidade.
As referências estéticas e conceituais de Barbie são muitas: O Mágico de Oz, Katharine Hepburn, Doris Day, Genne Kelly, Jerry Lewis, Fellini, Hitchcock, Jacques Demy, Jacques Tati, 2001, Spielberg, Chaplin, Tim Burton, Almodóvar, Grease, O Show de Truman, Splash, Os Embalos de Sábado à Noite, Matrix e outras. Mas, no final das contas, Gerwig fez um filme com ideias e estéticas próprias. Mesmo sendo baseado num produto icônico e tão valioso como a boneca Barbie. A força do filme está nos seus diálogos, performances e imagens quando atingem o auge da sátira, com as piadas e gags mais devastadoras. Ou em momentos mais tocantes, durante crises existências da Barbie, por exemplo, culminando num desfecho catártico. Porém a estrutura do roteiro é convencional, seguindo bastante o passo a passo da jornada do herói. E poucas atuações realmente se destacam. Há atrizes e atores incríveis que mal abrem a boca. Às vezes, fica a sensação de muita correria, muito conteúdo para caber num filme de menos de duas horas.
Margot Robbie é uma Barbie cativante. Ryan Gosling é um Ken perversamente hilário. E a produção é deslumbrante, especialmente nas cenas passadas na Barbielândia, com o uso criativo de cores, músicas, cenários e enquadramentos. Mas não podemos esquecer que o filme foi autorizado pela Mattel. A autoparódia foi uma jogada arriscada que deu certo, ressignificando a marca Barbie após uma histórica queda de vendas da boneca. Esse filme ainda vai continuar gerando muitos debates sobre suas intenções, mensagens e limites. Afinal, até onde vai o feminismo da Barbie?
Primeiro longa-mentragem produzido no Acre, Noites Alienígenas é um retrato vigoroso de uma realidade esquecida. O filme se passa na periferia da capital Rio Branco. O cenário amazônico é transformado pelas novas rotas do tráfico e a chegada de facções criminosas de outras regiões. Jovens já negliegenciados, entre amor, sexo, drogas, batalhas de slam e dramas familiares, tentam realizar seus sonhos, mudar de vida.
O diretor e roteirista Sérgio de Carvalho é um paulista há muitos anos radicado no Acre. Esta é sua estreia em longas. Entre erros e acertos, ele mostrou conhecimento de causa e talento para filmar as quebradas, paticularidades e culturas daquele trecho da região norte. Destaque para as atuações do sempre excelente Chico Diaz, da pernambucana Joana Gatis, do rapper acreano Gabriel Knoxx e o amazonense Adanilo.
O elemento de ficção científica cabe a interpretações.
Depois de Endgame, o MCU não foi mais o mesmo. E não estou falando em uma nostalgia de algo que acabou tão recentemente. Mas de fato os filmes seguintes não mostraram o mesmo vigor e carisma dos anteriores (descontando bombas como Thor 2 e Era de Ultron).
Guardiões da Galáxia 3 é um dos poucos acertos atuais da Marvel. Consegue manter o humor do primeiro filme e conta uma história de origem melhor do que no segundo, com maior impacto emocional. Aliás, as cenas do passado de Rocket tem uma pegada de terror digna de um Sam Raimi ou Clive Barker.
A saga dos heróis mais sem-noção e fofos do MCU termina de maneira bem satisfatória.
O primeiro Pantera Negra foi um filme icônico por mostrar a possibilidade de uma nação afrofuturista em sua plenitude na grande tela. Em Wakanda Forever, acompanhamos a evolução desse conceito, uma vez que podemos dizer que, desta vez, é Wakanda a protagonista.
No primeiro filme acompanhamos a transformação da terra de T´Challa, sua abertura para colaborar por um mundo melhor. No segundo, está em jogo sua própria existência, em meio a uma tensão geopolítica, devido a cobiça do minério vibranium por nações poderosas. Além da ameça do reino secreto e subáquatico de Talokan, liderado por Namor (aliás esse povo fodástico é uma das melhores contribuições de qualquer saga de super-heróis no cinema). O que amplia a discussão sobre colonialismo.
O diretor e co-roteirista Ryan Coogler apresenta mais maturidade técnica e ousadia criativa. Entrega um Wakanda Forever cheio de camadas, com cenas de ação de tirar o folêgo, trilha sonora mais potente, melhores efeitos especiais, design de produção riquíssimo, boas reviravoltas e o protagonismo de mulheres pretas. A proeza de fazer uma peça de resistência dentro da máquina bilionária da DIsney.
Aftersun é uma obra-prima, sem exagero. Filme simples e contido que mostra uma sensibilidade técnica impressionante. Em seu primeiro filme, a diretora e roteirista Charlotte Wells consegue a proeza de nos transportar para dentro da mente da protagonista, a partir de decisões da diretora de como enquadrar e montar esse quebra-cabeça afetivo. Paul Mescal e Frankie Corio nos entregam uma relação de pai e filha amorosa, honesta, mas também problemática. Infelizmente, amor não é o bastante para que as pessoas estejam presentes em nossas vidas.
Primeiro grande filme que assisto em 2023, Decision to Leave mostra mais um show de direção do mestre Park Chan-Wook. Numa narrativa em que os detalhes são decisivos, seja uma fala, um gesto, um objeto ou cenário, acompanhamos uma trama policial, neonoir, à maneira do diretor, ambígua, malandra, estranha. Ao mesmo tempo delicado e intenso, o filme desenvolve uma história de amor nada convencional para chacoalhar nossas convicções sobre desejo e conexão.
O tailandês Apichatpong Weerasethakul, que dirigiu o excepcional Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas, exercita mais uma vez seu cinema da lentidão, da paciência. É uma obra que opera em outro tempo cinematográfico. Em Memória, podemos dizer que o protagonista é o som, de coisas que são e de coisas que não fazemos ideia.
Filme paciente e metalinguístico sobre a arte de narrar, de contar histórias, e como isso afeta nossas vidas. O ritmo lento nos proporciona uma total imersão nas emoções complexas dos personagens. E tudo leva ao final catártico de uma humanidade arrebatadora.
Filme que ganha o espectador pelo seu jeito mineiro de ser. Apresenta uma família negra que busca realizar seus sonhos, numa dinâmica que mistura grandes expectativas e frustações arrasadoras. O maior desafio deles é fugir de estereótipos. Destaque para as atuações de Carlos Francisco e Rejane Faria, no papel dos pais do menino Deivinho.
A versão de Guillermo del Toro para o clássico de Carlo Colodi é, ao mesmo tempo, sombria e afetuosa, povoada de monstros fantásticos e de “carne e osso”. O stop motion deslumbrante dá um peso maior ao roteiro que não busca respostas fáceis para os temas que propõe.
Apesar das imprecisões e suavizaçôes históricas, A Mulher Rei é uma vibrante mistura de ação e melodrama. Destaques para o ritmo do filme, que não deixa o espectador entediado em nenhum momento; a trilha sonora ora épica, ora intimista; as vívidas cenas de rituais e danças; as vigorosas batalhas, e o carisma das agojie.
Nope é um filme que encanta o espectador ao desestabilizá-lo, ao tirá-lo da zona de conforto. Jordan Peele tem um enorme conhecimento sobre cinema, cultura pop e a indústria de Hollywood. Então ele pega suas referências mais significativas e faz homenagens à sua maneira, ou seja, do ponto de vista de um artista negro, consciente de uma excelência construída a muito custo, num passado marcado preconceitos e apagamentos.
O próprio Peele disse que Nope é, principalmente, sobre o lado sombrio do espetáculo. Mas ele também está muito ciente de que escreveu, dirigiu e produziu uma obra de várias camadas, cujas interpretações vão até além das intenções do próprio realizador.
Nope é uma máquina de gerar debates e reflexões, mas também de gerar sensações e sentimentos. E a maestria aqui está justamente em conseguir o equilíbrio entre diversão e provocação. O filme é tão envolvente quanto as aventuras de Spielberg e tão estilizado quanto os suspenses de Hitchcock. E os dois diretores são, sim, referências caras a Peele. Mas aí Peele traz sua própria assinatura ao misturar tensão e humor de um jeito único, transformando toda a experiência numa só coisa, emocionante, engraçada, bizarra e incômoda.
Crimes of the Future é a volta do mestre Cronenberg ao body horror, depois de mais de 20 anos. E ele ainda sabe muito bem desestabilizar o mainstream.
O novo filme parece ser um tipo de resumo de sua carreira. Visualmente, máquinas e instrumentos bizarros, insectoides, quase alienígenas, remetem a obras como Videodrome, Naked Lunch e Existenz. Do ponto de vista temático, a obsessão de Cronenberg em pensar a sensualidade da carne continua, não como mero coito, e sim o desafio sensorial e filosófico de explorar os limites do corpo humano.
Potente, mas incompleto, Crimes of the Future mais parece ser a primeira parte de algo maior. Faltam peças do roteiro intrigante.
Visivelmente é uma produção de baixo orçamento, filmada na Grécia por uma questão prática. Mas Cronenberg utiliza as restrições do mundo real a seu favor. Ele nos apresenta a um futuro próximo de prédios decadentes e de arquivos de papel, um híbrido entre o hi-tech e o analógico.
A trama distópica bebe da tragédia grega para se conectar aos nossos temores climáticos atuais.
É um belo e provocante retorno de Cronenberg ao subgênero que o consagrou.
X - A Marca da Morte é assustador na superfície e perturbador nas sugestões. É metalinguístico sem sufocar a trama. O diretor Ti West quis fazer um bom e velho slasher, mas as diversas referências a clássicos de terror e à própria linguagem do cinema servem como comentários irônicos sobre clichês e estereótipos. Fotografia e montagem arrojadas, trilha sonora atmosférica, roteiro paciente e a atuação explosiva de Mia Goth transformam esse filme numa visceral metáfora sobre o conflito entre desejo e repressão.
A Pior Pessoa do Mundo é um filme, ao mesmo tempo, melancólico e exuberante. Uma dramédia romântica honesta. Acompanhamos a indecisa protagonista tentando encontrar seu lugar no mundo, numa atuação cativante e complexa de Renate Reinsve, premiada em Cannes.
É uma jornada existencial e afetiva que oscila entre o íntimo e o universal. O diretor e co-roteirista escandinavo Joachim Trier ora nos prende ao chão da realidade, com o todo o seu peso, ora nos faz levitar, com as possibilidades de sermos nossas melhores versões.
Terceira parte de uma trilogia temática, a Trilogia de Oslo, o filme é o mais bem acabado, em forma e conteúdo, como se os anteriores fossem um tipo de ensaio do que estaria por vir. De "Reprise" (2006), vemos o aperfeiçoamento do humor irônico, da montagem fragmentada e do uso dramático da trilha sonora original e de canções famosas. De "Oslo, August 31st" (2011), passamos da simples observação do lado autodestrutivo das pessoas para uma tentativa de refletir sobre esse lado sombrio que carregamos.
A Pior Pessoa do Mundo é um filme bonito de se ver, mas que cobra o preço de ficarmos pensando em nossas próprias vidas.
Quando saí do cinema depois de ver Matrix, isso lá em 1999, fiquei impactado com o liquidificador de ideias, conceitos e visuais de um filme que se tornaria uma referência cultural. Experimentei sensação parecida ao final de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Mas por outras razões. Primeiro, o choque de ver algo diferente e único, que, na verdade, se mostra como uma bem costurada colcha de retalhos de muita coisa que a gente já viu.
Os diretores e roteiristas, conhecidos como Daniels (Daniel Kwan e Daniel Scheinert), fazem uma homenagem à sua maneira a tudo o que eles curtem como fãs de cinema. A começar pela presença magnética de Michelle Yeoh, ícone dos filmes de ação de Hong Kong, num papel exigente, fora de qualquer zona de conforto.
Assim como Matrix, Tudo em Todo Lugar é um filme de artes marciais com seus toques de filosofia. Ao invés do dilema Determinismo x Escolha da aventura de Neo, temos aqui o dilema das Possibilidades, que caminhos seguir na vida, num nível mais emocional, sem muito foco no papel de vigilância e controle da tecnologia no mundo contemporâneo, tema central em Matrix.
Mistura de comédia escrachada e drama familiar, o filme dos Daniels é impressionante ao entregar ao espectador uma trama coesa em seu caos, pela ousadia visual, materializada com tanta imaginação e competência, e pela quebra de estereótipos e expectativas. E que personagens! Tão falhos, mas também tão cheios de paixão e de gentileza.
Tudo em Todo Lugar é bizarro e estranho. Porém vai na direção contrária de um diretor como David Lynch, em que o surrealismo nos leva aos lugares mais sombrios da condição humana. O filme dos Daniels procura nos conduzir para a luz, numa jornada hilária, tocante e nada convencional.
Era Uma Vez um Gênio
3.5 160 Assista AgoraEra Uma Vez Um Gênio (3000 Years Of Longing) é um filme de 2022, que o mestre George Miller dirigiu após o espetacular Mad Max: Estrada da Fúria (2015). E como são obras tão diferentes. Miller troca os tons pastéis e o azul soturno por uma explosão de cores. E também de ideias e sensações. A visão sombria da humanidade é deixada de lado. Temos agora uma perspectiva que não dar para chamar de otimista, e sim de apaixonada, na qual os seres humanos tentam lidar com os tortuosos caminhos do coração e da mente, na alegria ou na dor. O veterano cineasta se permitiu criar uma fábula metalinguística cheia de nuances para falar sobre o que mais nos atormenta: o sentido de estarmos nesse mundo, o sentido que temos para as outras pessoas. As falhas do filme, sejam em alguns efeitos especiais ou oscilações de ritmo, são mais do que recompensadas pelos diálogos maduros, as atuações vibrantes de Tilda Swinton e Idris Elba e toda uma produção que celebra a arte de contar histórias.
Dias Perfeitos
4.2 287 Assista AgoraÀ primeira vista, Dias Perfeitos, de Wim Wnders, é um filme edificante, lindo, emocionante, até terapêutico. Mas, passado o arrebatamento inicial, percebemos que há muito a se refletir e a desvendar na felicidade da vida simples do protagonista.
Harayama é um homem de sessenta e poucos anos, comedido, de poucas palavras, que gosta de ouvir música, ler, fotografar e cuidar de suas plantas em casa. Seu trabalho é limpar banheiros públicos em Tóquio. Função essencial, mas desprestigiada. Mesmo num país como o Japão, que valoriza tanto o bem comum, a vida em comunidade.
Acompanhando a rotina restrita e repetitiva do protagonista, ou quando ela é abalada por algum episódio inesperado, notamos cada vez mais que a simplicidade da vida de Harayama é a mistura de uma escolha, de um propósito, talvez de uma penitência, com um isolamento social e emocional ferrenho. Tem a ver com sua personalidade, seu passado e sua cultura. Ele delimita sua existência para ter um maior controle sobre ela. Acima de tudo, o filme é um estudo de personagem.
Apesar do diretor ser alemão, o roteiro é co-escrito pelo também produtor japonês Takuma Takasaki. Há a mesma sutileza e força no retrato de pessoas “comuns” de outras obras de Wenders como Paris, Texas e Asas do Desejo. A grande atuação do veterano Koji Yakusho, contida, mas de muita expressividade nos closes, no olhar, transforma a vida interior de Harayama num mistério intrigante.
De fato, Dias Perfeitos é um belo filme. Não se trata aqui de romantizar a precarização do trabalho. E nem de glorificar a alienação. Wim Wnders nos convida a desacelerar nossas percepções, a questionarmos o que realmente importa; lição a ser aprendida até pelo próprio Harayama. Num mundo em que acontecem o genocídio da população preta no Brasil e dos palestinos na Faixa de Gaza, colocar em xeque a lógica do esgotamento físico e moral, da alta velocidade produtiva, promovida pelo capitalismo, é urgente.
O Assassino
3.3 516The Killer parece mais o filme de estreia de um iniciante promissor do que um do veterano David Fintcher. Bem feito, mas super preguiçoso.
Pequena Mamãe
3.8 87A diretora do excelente "Retrato de uma Mulher em Chamas" nos apresenta uma obra singela sobre o tema da maternidade. Não é um filme para explicar, e sim para sentir. A atuação das duas meninas de oito anos é impactante. Mas o filme poderia ter mais uns vinte minutos para desenvolver melhor o personagem da mãe.
Oppenheimer
4.0 1,1KPara um diretor, a armadilha das cinebiografias se dá quando um ou mais desses fatores estão presentes: falta de ambição estética, didatismo engessado e excessivo, e distorção dos acontecimentos ao ponto de questionarem a credibilidade do filme. Mas existem exemplos que subvertem tais regras de forma brilhante, como Não Estou Lá, de Todd Haynes, uma cinebio de Bob Dylan infiel aos fatos, porém fiel às várias facetas do artista. No caso de Oppenheimer, Nolan buscou um meio termo entre ousadia e convenção.
Podemos dizer que Oppenheimer é parte independente, parte filme de estúdio. Como co-produtor, roteirista e diretor, Nolan queria total controle sobre a produção para aplicar sua cartilha cinematográfica. Todas as qualidades, defeitos e cacoetes estão lá. No entanto, o que ficou evidente foi a evolução do poder narrativo de Nolan. Para falar sobre J. Robert Oppenheimer, o projeto Manhattan e a criação da bomba atômica, o cineasta sabia que não podia ser leviano, não podia empregar um tom hollywoodiano demais, como em Uma Mente Brilhante (um delírio sobre a vida de um matemático vencedor do Nobel). E também o filme não podia ser tão sombrio que afastasse o público médio. Porque Nolan precisava e almejava um sucesso de bilheteria considerável. Então ele decidiu fazer do sombrio um espetáculo. Essa é sua maneira de fazer cinema com montagem arrojada, atuações vigorosas, trilha sonora retumbante, fotografia épica. Por isso, em Oppenheimer, Nolan recalibrou seu repertório a favor do tema. Procurou entender e representar, da maneira mais criativa e menos óbvia possível, não só a vida e a obra, mas a mente de uma figura complexa e trágica. E o espectador tenta imaginar, tenta especular quem foi essa pessoa por dentro por meio de imagens realistas e abstratas, e pelo olhar, pelo rosto e pela voz de tom aveludado de Cillian Murphy.
Se um cineasta como Paul Thomas Anderson, de O Mestre e Sangue Negro, dirigisse Oppenheimer seria outro filme. Talvez fosse ainda mais duro, ainda mais perturbador, mais silencioso, menos convencional, porque existe até um vilão, um nêmesis na história. Agora é inegável que, ao que se propôs, Nolan conseguiu dirigir seu filme mais maduro.
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraBarbie é um filme divertido, emocionante e afiado, mas também problemático. A diretora e co-roteirista Greta Gerwig se saiu bem diante de um tremendo desafio com cheiro de cilada. Como fazer um filme decente sobre a Barbie? A solução foi a sátira. Claro que há aqui um pouco de tudo, comédia, drama, musical, ação, fantasia, uma mistura que nos leva a uma aventura filosófica sobre a existência da mulher no mundo. Não como ideia, abstração, mas como alguém de carne e osso, com dificuldades reais numa sociedade patriarcal que precisa mudar não só em prol da sanidade das mulheres, mas do mesmo modo pela sanidade dos homens, lutando-se contra qualquer tipo de padrões tóxicos de feminilidade e, principalmente, de masculinidade.
As referências estéticas e conceituais de Barbie são muitas: O Mágico de Oz, Katharine Hepburn, Doris Day, Genne Kelly, Jerry Lewis, Fellini, Hitchcock, Jacques Demy, Jacques Tati, 2001, Spielberg, Chaplin, Tim Burton, Almodóvar, Grease, O Show de Truman, Splash, Os Embalos de Sábado à Noite, Matrix e outras. Mas, no final das contas, Gerwig fez um filme com ideias e estéticas próprias. Mesmo sendo baseado num produto icônico e tão valioso como a boneca Barbie. A força do filme está nos seus diálogos, performances e imagens quando atingem o auge da sátira, com as piadas e gags mais devastadoras. Ou em momentos mais tocantes, durante crises existências da Barbie, por exemplo, culminando num desfecho catártico. Porém a estrutura do roteiro é convencional, seguindo bastante o passo a passo da jornada do herói. E poucas atuações realmente se destacam. Há atrizes e atores incríveis que mal abrem a boca. Às vezes, fica a sensação de muita correria, muito conteúdo para caber num filme de menos de duas horas.
Margot Robbie é uma Barbie cativante. Ryan Gosling é um Ken perversamente hilário. E a produção é deslumbrante, especialmente nas cenas passadas na Barbielândia, com o uso criativo de cores, músicas, cenários e enquadramentos. Mas não podemos esquecer que o filme foi autorizado pela Mattel. A autoparódia foi uma jogada arriscada que deu certo, ressignificando a marca Barbie após uma histórica queda de vendas da boneca. Esse filme ainda vai continuar gerando muitos debates sobre suas intenções, mensagens e limites. Afinal, até onde vai o feminismo da Barbie?
The Flash
3.1 749 Assista AgoraA incrível história do filme que é divertido mas é ruim.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
4.3 523 Assista AgoraAssim como "Duna", "Através do Aranhaverso" só poderá ser avaliado mesmo, em sua totalidade, quando a parte 2 sair. Mas que parte 1 sensacional!
Noites Alienígenas
3.4 56Primeiro longa-mentragem produzido no Acre, Noites Alienígenas é um retrato vigoroso de uma realidade esquecida. O filme se passa na periferia da capital Rio Branco. O cenário amazônico é transformado pelas novas rotas do tráfico e a chegada de facções criminosas de outras regiões. Jovens já negliegenciados, entre amor, sexo, drogas, batalhas de slam e dramas familiares, tentam realizar seus sonhos, mudar de vida.
O diretor e roteirista Sérgio de Carvalho é um paulista há muitos anos radicado no Acre. Esta é sua estreia em longas. Entre erros e acertos, ele mostrou conhecimento de causa e talento para filmar as quebradas, paticularidades e culturas daquele trecho da região norte. Destaque para as atuações do sempre excelente Chico Diaz, da pernambucana Joana Gatis, do rapper acreano Gabriel Knoxx e o amazonense Adanilo.
O elemento de ficção científica cabe a interpretações.
Guardiões da Galáxia: Vol. 3
4.2 805 Assista AgoraDepois de Endgame, o MCU não foi mais o mesmo. E não estou falando em uma nostalgia de algo que acabou tão recentemente. Mas de fato os filmes seguintes não mostraram o mesmo vigor e carisma dos anteriores (descontando bombas como Thor 2 e Era de Ultron).
Guardiões da Galáxia 3 é um dos poucos acertos atuais da Marvel. Consegue manter o humor do primeiro filme e conta uma história de origem melhor do que no segundo, com maior impacto emocional. Aliás, as cenas do passado de Rocket tem uma pegada de terror digna de um Sam Raimi ou Clive Barker.
A saga dos heróis mais sem-noção e fofos do MCU termina de maneira bem satisfatória.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
3.5 799 Assista AgoraO primeiro Pantera Negra foi um filme icônico por mostrar a possibilidade de uma nação afrofuturista em sua plenitude na grande tela. Em Wakanda Forever, acompanhamos a evolução desse conceito, uma vez que podemos dizer que, desta vez, é Wakanda a protagonista.
No primeiro filme acompanhamos a transformação da terra de T´Challa, sua abertura para colaborar por um mundo melhor. No segundo, está em jogo sua própria existência, em meio a uma tensão geopolítica, devido a cobiça do minério vibranium por nações poderosas. Além da ameça do reino secreto e subáquatico de Talokan, liderado por Namor (aliás esse povo fodástico é uma das melhores contribuições de qualquer saga de super-heróis no cinema). O que amplia a discussão sobre colonialismo.
O diretor e co-roteirista Ryan Coogler apresenta mais maturidade técnica e ousadia criativa. Entrega um Wakanda Forever cheio de camadas, com cenas de ação de tirar o folêgo, trilha sonora mais potente, melhores efeitos especiais, design de produção riquíssimo, boas reviravoltas e o protagonismo de mulheres pretas. A proeza de fazer uma peça de resistência dentro da máquina bilionária da DIsney.
Aftersun
4.1 709Aftersun é uma obra-prima, sem exagero. Filme simples e contido que mostra uma sensibilidade técnica impressionante. Em seu primeiro filme, a diretora e roteirista Charlotte Wells consegue a proeza de nos transportar para dentro da mente da protagonista, a partir de decisões da diretora de como enquadrar e montar esse quebra-cabeça afetivo. Paul Mescal e Frankie Corio nos entregam uma relação de pai e filha amorosa, honesta, mas também problemática. Infelizmente, amor não é o bastante para que as pessoas estejam presentes em nossas vidas.
Decisão de Partir
3.6 143Primeiro grande filme que assisto em 2023, Decision to Leave mostra mais um show de direção do mestre Park Chan-Wook. Numa narrativa em que os detalhes são decisivos, seja uma fala, um gesto, um objeto ou cenário, acompanhamos uma trama policial, neonoir, à maneira do diretor, ambígua, malandra, estranha. Ao mesmo tempo delicado e intenso, o filme desenvolve uma história de amor nada convencional para chacoalhar nossas convicções sobre desejo e conexão.
Memória
3.5 64 Assista AgoraO tailandês Apichatpong Weerasethakul, que dirigiu o excepcional Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas, exercita mais uma vez seu cinema da lentidão, da paciência. É uma obra que opera em outro tempo cinematográfico. Em Memória, podemos dizer que o protagonista é o som, de coisas que são e de coisas que não fazemos ideia.
Drive My Car
3.8 385 Assista AgoraFilme paciente e metalinguístico sobre a arte de narrar, de contar histórias, e como isso afeta nossas vidas. O ritmo lento nos proporciona uma total imersão nas emoções complexas dos personagens. E tudo leva ao final catártico de uma humanidade arrebatadora.
Marte Um
4.1 303 Assista AgoraFilme que ganha o espectador pelo seu jeito mineiro de ser. Apresenta uma família negra que busca realizar seus sonhos, numa dinâmica que mistura grandes expectativas e frustações arrasadoras. O maior desafio deles é fugir de estereótipos. Destaque para as atuações de Carlos Francisco e Rejane Faria, no papel dos pais do menino Deivinho.
Pinóquio
4.2 542 Assista AgoraA versão de Guillermo del Toro para o clássico de Carlo Colodi é, ao mesmo tempo, sombria e afetuosa, povoada de monstros fantásticos e de “carne e osso”. O stop motion deslumbrante dá um peso maior ao roteiro que não busca respostas fáceis para os temas que propõe.
A Mulher Rei
4.1 488 Assista AgoraApesar das imprecisões e suavizaçôes históricas, A Mulher Rei é uma vibrante mistura de ação e melodrama. Destaques para o ritmo do filme, que não deixa o espectador entediado em nenhum momento; a trilha sonora ora épica, ora intimista; as vívidas cenas de rituais e danças; as vigorosas batalhas, e o carisma das agojie.
Não! Não Olhe!
3.5 1,3K Assista AgoraNope é um filme que encanta o espectador ao desestabilizá-lo, ao tirá-lo da zona de conforto. Jordan Peele tem um enorme conhecimento sobre cinema, cultura pop e a indústria de Hollywood. Então ele pega suas referências mais significativas e faz homenagens à sua maneira, ou seja, do ponto de vista de um artista negro, consciente de uma excelência construída a muito custo, num passado marcado preconceitos e apagamentos.
O próprio Peele disse que Nope é, principalmente, sobre o lado sombrio do espetáculo. Mas ele também está muito ciente de que escreveu, dirigiu e produziu uma obra de várias camadas, cujas interpretações vão até além das intenções do próprio realizador.
Nope é uma máquina de gerar debates e reflexões, mas também de gerar sensações e sentimentos. E a maestria aqui está justamente em conseguir o equilíbrio entre diversão e provocação. O filme é tão envolvente quanto as aventuras de Spielberg e tão estilizado quanto os suspenses de Hitchcock. E os dois diretores são, sim, referências caras a Peele. Mas aí Peele traz sua própria assinatura ao misturar tensão e humor de um jeito único, transformando toda a experiência numa só coisa, emocionante, engraçada, bizarra e incômoda.
Crimes do Futuro
3.2 264 Assista AgoraCrimes of the Future é a volta do mestre Cronenberg ao body horror, depois de mais de 20 anos. E ele ainda sabe muito bem desestabilizar o mainstream.
O novo filme parece ser um tipo de resumo de sua carreira. Visualmente, máquinas e instrumentos bizarros, insectoides, quase alienígenas, remetem a obras como Videodrome, Naked Lunch e Existenz. Do ponto de vista temático, a obsessão de Cronenberg em pensar a sensualidade da carne continua, não como mero coito, e sim o desafio sensorial e filosófico de explorar os limites do corpo humano.
Potente, mas incompleto, Crimes of the Future mais parece ser a primeira parte de algo maior. Faltam peças do roteiro intrigante.
Visivelmente é uma produção de baixo orçamento, filmada na Grécia por uma questão prática. Mas Cronenberg utiliza as restrições do mundo real a seu favor. Ele nos apresenta a um futuro próximo de prédios decadentes e de arquivos de papel, um híbrido entre o hi-tech e o analógico.
A trama distópica bebe da tragédia grega para se conectar aos nossos temores climáticos atuais.
É um belo e provocante retorno de Cronenberg ao subgênero que o consagrou.
X: A Marca da Morte
3.4 1,2K Assista AgoraX - A Marca da Morte é assustador na superfície e perturbador nas sugestões. É metalinguístico sem sufocar a trama. O diretor Ti West quis fazer um bom e velho slasher, mas as diversas referências a clássicos de terror e à própria linguagem do cinema servem como comentários irônicos sobre clichês e estereótipos. Fotografia e montagem arrojadas, trilha sonora atmosférica, roteiro paciente e a atuação explosiva de Mia Goth transformam esse filme numa visceral metáfora sobre o conflito entre desejo e repressão.
A Pior Pessoa do Mundo
4.0 603 Assista AgoraA Pior Pessoa do Mundo é um filme, ao mesmo tempo, melancólico e exuberante. Uma dramédia romântica honesta. Acompanhamos a indecisa protagonista tentando encontrar seu lugar no mundo, numa atuação cativante e complexa de Renate Reinsve, premiada em Cannes.
É uma jornada existencial e afetiva que oscila entre o íntimo e o universal. O diretor e co-roteirista escandinavo Joachim Trier ora nos prende ao chão da realidade, com o todo o seu peso, ora nos faz levitar, com as possibilidades de sermos nossas melhores versões.
Terceira parte de uma trilogia temática, a Trilogia de Oslo, o filme é o mais bem acabado, em forma e conteúdo, como se os anteriores fossem um tipo de ensaio do que estaria por vir. De "Reprise" (2006), vemos o aperfeiçoamento do humor irônico, da montagem fragmentada e do uso dramático da trilha sonora original e de canções famosas. De "Oslo, August 31st" (2011), passamos da simples observação do lado autodestrutivo das pessoas para uma tentativa de refletir sobre esse lado sombrio que carregamos.
A Pior Pessoa do Mundo é um filme bonito de se ver, mas que cobra o preço de ficarmos pensando em nossas próprias vidas.
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraQuando saí do cinema depois de ver Matrix, isso lá em 1999, fiquei impactado com o liquidificador de ideias, conceitos e visuais de um filme que se tornaria uma referência cultural. Experimentei sensação parecida ao final de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Mas por outras razões. Primeiro, o choque de ver algo diferente e único, que, na verdade, se mostra como uma bem costurada colcha de retalhos de muita coisa que a gente já viu.
Os diretores e roteiristas, conhecidos como Daniels (Daniel Kwan e Daniel Scheinert), fazem uma homenagem à sua maneira a tudo o que eles curtem como fãs de cinema. A começar pela presença magnética de Michelle Yeoh, ícone dos filmes de ação de Hong Kong, num papel exigente, fora de qualquer zona de conforto.
Assim como Matrix, Tudo em Todo Lugar é um filme de artes marciais com seus toques de filosofia. Ao invés do dilema Determinismo x Escolha da aventura de Neo, temos aqui o dilema das Possibilidades, que caminhos seguir na vida, num nível mais emocional, sem muito foco no papel de vigilância e controle da tecnologia no mundo contemporâneo, tema central em Matrix.
Mistura de comédia escrachada e drama familiar, o filme dos Daniels é impressionante ao entregar ao espectador uma trama coesa em seu caos, pela ousadia visual, materializada com tanta imaginação e competência, e pela quebra de estereótipos e expectativas. E que personagens! Tão falhos, mas também tão cheios de paixão e de gentileza.
Tudo em Todo Lugar é bizarro e estranho. Porém vai na direção contrária de um diretor como David Lynch, em que o surrealismo nos leva aos lugares mais sombrios da condição humana. O filme dos Daniels procura nos conduzir para a luz, numa jornada hilária, tocante e nada convencional.
Tico e Teco: Defensores da Lei
3.7 258 Assista AgoraRoger Rabbit fumado. Filme doido quase insano. Aprovado.