O medo que permeia nossas vidas faz com que criemos inúmeros personagens, personagens esses que nos escondem do mundo real e que são como carapaças, que servem como esconderijo de nossas verdadeiras personalidades. Marco (Leonardo Sbaraglia) é um ser dominado por inúmeros medos, chegando ao ponto de o deixar paralisado, sem reação, ao ver sua esposa (Dieckmann) ser estuprada brutalmente por dois homens em sua própria casa. Os estupradores fogem impunes, e Marco vai buscar os filhos no colégio, como se nada houvesse acontecido. Os dias seguintes passam a atormentar Marco, principalmente porque ele vê a esposa sofrer calada, como se soubesse que ele seria incapaz de fazer qualquer coisa. A única forma de Marco superar o medo é criando um personagem, e esse personagem vai buscar vingança pelo o que foi feito à sua esposa. O fato de Marco ser um roteirista é bastante interessante, pois o personagem é mostrado inúmeras vezes tendo que “reescrever” seus atos, para que a vingança seja feita ou para que o seu “eu” verdadeiro não se sobreponha ao personagem vingativo. A direção e a fotografia são pontos a se destacar, já que Marco Dutra consegue criar tensão em cenas de perseguição, não as perseguições frenéticas, mas sim aquelas dos travellings suaves, que parecem flutuar nas costas do personagem perseguido. Além de sempre enquadrar seus personagens nos cantos da tela e em primeiro plano, para, evidentemente, os mostrar deslocados ou até perdidos em diversas situações. Apesar dos travellings de perseguição, o filme é composto de inúmeros planos mortos, o que traz ainda mais estranheza e angustia para a situação vivida. Carolina Dieckmann também impressiona por entregar uma personagem seguro, sem exageros dramáticos, apesar de ter sofrido um ato de violência terrível. Com isso mostra que não é apenas mais um rosto bonito a enfeitar a tela da TV globo.
O mundo estereotipado da moda, com seus personagens vazios e superficiais, já foi retratado inúmera vez no cinema, e nesse “The Neon Demon” só se adiciona as bizarrices do diretor Nicolas Winding Refn. Quando digo bizarrices, digo no pior sentido do termo, já que temos bizarrices de nomes como David Lynch, Tarantino, Tim Burton, entre outros, que estão lá em prol do enredo, tornando-as justificáveis nos filmes desses diretores. The Neon Demon usa de imagens chocantes e estilizadas para tentar mostrar algo que talvez só o próprio diretor veja. Então temos canibalismo, necrofilia e estupro enchendo a tela em cores quentes e em planos pretensiosos, mas que se vistos bem de perto não fazem sentido algum. O primeiro ato é sem duvida o que há de melhor no filme, pois mostra, de forma contida, a ingênua e pura personagem de Elle Fanning chegando ao mundo “destruidor” da moda em Los Angeles. Neste inicio vemos boas composições em relação à fotografia, onde a personagem é sempre mostrada como um ser angelical, rodeada pela luz do sol e vestindo roupas leves e de tons claros, mas parecendo sempre estar próxima à esfera maligna da cidade, com seus becos escuros durante a noite e a iluminação de neon vermelha intermitente, que permeiam cômodos escuros de estúdios de fotografia e mansões vazias. A forma como ela é mostrada inúmeras vezes como reflexo em espelhos e em duplicidade talvez mostre uma persona escondida, prestes a aflorar por causa da influencia do ambiente. Do segundo ato para frente o filme se mostra um desastre total, com situações e diálogos horrendos, personagens dispensáveis e principalmente pela variação nas atitudes da personagem de Elle Fanning, já que nunca é possível saber se ela esta se entregando ao mundo tenebroso, que ela não entendia direito, se continua a mesma garota do inicio do filme ou mesmo se tudo não passa de um sonho. Os destaques negativos vão para o personagem de Keanu Reeves que não possui outra função da trama, se não o de mais um canalha que pretende devorar a personagem de Elle Fanning, assim como a dupla de modelos malignas, que praticam os diálogos mais preconceituosos que já foram escritos sobre as profissionais das passarelas. Sabemos a intenção do filme em mostrar um mundo sem sentido, que só se aproveita da beleza efêmera e que trata pessoas como pedaços de carnes e cabides, mas não se pode usar de estereótipos ofensivos que colocam toda uma indústria em um único patamar. Refn tentou criar algo inovador e contestador, mas entregou preconceito em uma embalagem chique.
Este ‘‘Me before you’’ me impressionou pelo fato de conseguir imprimir um ritmo agradável e consistente mesmo estando carregado de inúmeros clichês comuns ao gênero. Talvez essa sensação seja pela competência e carisma de Emilia Clarke – que mostra ótima atuação, para calar alguns críticos – já que ela carrega o filme nas costas, estando super confortável no papel. A direção ou qualquer outro fator técnico não possui qualquer arrojo ou pontos merecedores de nota, já que tudo é feito na forma dos velhos romances da sessão da tarde. Um filme agridoce e bem intencionado, que, apesar de não trazer nada de novo, transmite aquela maravilhosa sensação de bem estar, que faz com que queiramos viver a vida de forma esplendida, e se possível em Paris.
Para que o filme fosse minimamente aceitável seria necessário trocar o roteirista, o diretor e principalmente o montador, já que o filme não faz nenhum sentido em nenhum dos quesitos citados.
Memórias e luta de classes. Clara, vivida por Sonia Braga, mora em um charmoso apartamento que é uma espécie de capsula do tempo, pois esta abarrotado de vinis, mobília antiga, livros e, sobretudo, de memórias. As memórias que ela carrega são intrínsecas ao apartamento, por que foi ali que ela viveu no passado com seu falecido marido e com os seus já desgarrados filhos. Há similaridades de como Kleber Mendonça Filho filma Clara e o prédio Aquarius, retratando ambos com uma aura um tanto mística e misteriosa, apesar da extrema naturalidade da imagens, como se fossem seres que não estão nesta realidade. Durante o filme ha inúmeras demonstrações de que o diretor quer “fundir ” o prédio à persona de Clara; como nos cortes de planos gerais da fachada do prédio para o primeiro plano do rosto da mulher ou quando a câmera se afasta aos poucos mostrando-a saindo à varanda, para depois, mais afastada ainda, mostrar o prédio e sua dona encaixotados por inúmeros outros prédios modernos construídos em volta. Os tons claros, mas um pouco envelhecidos do figurino da personagem alinhados com o branco e depois o azul da fachada do desgastado prédio também são indícios da intenção do diretor em transformar o prédio e a mulher em uma coisa só. Clara vive em um mundo que não a pertence, onde tudo que havia em seu passado foi substituindo, só lhe restando o prédio Aquarius, que também esta prestes a sumir, graças a uma inescrupulosa construtora que o quer demolir. O plano da construtora é barrado por Clara que não quer se desfazer de um lugar que faz parte de sua vida. O embate entre ela e a construtora é um exercício de genialidade por parte de Kleber Mendonça, pois ele nos joga em um turbilhão de emoções, que vão desde a alegria, passando pela nostalgia e à tensão, esta ultima graças às inúmeras tentativas nada ortodoxias da construtora em fazer com que Clara desista do apartamento; como orgias nos apartamentos vazios do local, queima de colchões na garagem, cultos evangélicos e uma infestação de cupins manipulada por funcionários da construtora. A luta de classes de “O Som ao Redor” esta presente em “Aquarius”, com a diferença de que no primeiro filme havia a “invasão’’ da periferia na vida de pessoas de classe média, já o segundo há a classe média sendo acossada pela classe pobre e pressionada pela classe mais rica (representada pela construtora), transformando um mundo que era simples na década de 80 – que é onde Clara tenta se manter, pelo menos em espírito – para o show de horrores do capitalismo que transforma as pessoas em selvagens, como o jovem arquiteto da construtora, o nêmeses de Clara, que se apresenta com um assustador olhar de cifrões e o resto dos moradores que só querem que Clara venda logo o apartamento para eu possam receber seu dividendos.
Luta de classes, embate de gerações, roteiro competente, um diretor com extremo domínio de sua arte e uma linda Sonia Braga, que mesmo com seu 66 anos de idade ainda consegue ser uma mulher sexy, transformam “Aquarius” em um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos e um dos melhores filmes do ano em geral.
Como os cupins no prédio Aquarius há um governo que tentou destruir e impedir que o filme fosse visto pela maior numero de pessoas possíveis, já que se trata de um filme de contestação, que se pergunta onde vamos parar com o país entregue nas mãos de pessoas que possuem apenas o capitalismo como bandeira.
Esquadrão Suicida sofre com seu roteiro ruim, com efeitos visuais dignos de filmes B da década de 90, com a sua trilha sonora que irrita ao se intrometer no filme a todo o momento, com um vilão que não transmite perigo e principalmente com a necessidade de fazer piadinhas a todo o momento. O filme poderia ter um tom mais sombrio, mesclando com momentos de humor mais descontraído, ou mesmo apostar no humor negro, mas prefere ir pelo caminho mais fácil; colorido, boboca, que tem por pretensão atrair a massa, para que faça bilhões em bilheteria (o que vai acontecer, julgando pelas sessões lotadas e pasmem! os aplausos de algumas pessoas ao final do filme), mesmo destruindo uma franquia que prometia um filme digno de Marvel. Observação um: Porque diabos reunir uma equipe de assassinos, sendo que todo mundo sabe da existência da Mulher Maravilha, do Batman, do Flash, do Aquaman, etc. Observação dois: A vilã do filme faz um dancinha digna de uma naja saindo de um cesto. Terrível!!! Observação três: Se era para o Jared Leto copiar descaradamente o coringa do Heath Ledger, era melhor fazer um holograma do falecido ator misturado com CGI. Observação quatro: Não acompanho quadrinhos do Batman, mas acho que nunca houve um coringa cafetão, com estilo de funkeiro como o desse filme.
Muito boa a série. Referencias de Alien, Goonies, Sinais, ET, Minority Report e até de A conversação do Francis For De Coppola (se eu não estiver vendo referencia onde não há), realmente um deslumbre cinéfilo dos anos 80. O ator que faz o Dustin ( o moleque sem os dentes) é um achado, fenomenal. O que mais me agradou é o design de produção e a fotografia, que trazem o colorido dos anos 80 para a tela da TV. Recomendo!!
A conhecida pirâmide social aqui representada por um fálico e curvado arranha céu esta no cerne da já antiga luta de classes. Quem esta no topo quer se manter por lá e tenta impedir que outros subam, por outro lado, quem esta embaixo, passa a vida sonhando em subir alguns degraus, nem que seja para ficar no meio. Muitos hoje em dia estão no meio, sem nem mesmo ter conhecimento do que acontece nos últimos andares ou nos porões dessa pirâmide/arranha-céu. O personagem vivido por Tom Hiddleston é um desses que não sabe o que acontece embaixo ou em cima, mas, ao se mudar a um apartamento em um andar do meio do arranha-céu, começa a ter contato com os dois mundos distintos: os dos aristocratas da cobertura, com seus apartamentos espaçosos e iluminados e os das numerosas famílias dos andares de baixo, que vivem em “caixas de sapatos’’ escuras e sem vida. A divisão social representada pela película é a realidade que vivemos desde os primórdios de nossa dita civilização e só irá ter um fim quando não houver nenhuma divisão ou nenhum individuo que esteja acima ou abaixo.
É um pouco clichê, mas, às vezes a desordem é necessária para que a ordem tome forma, o caos precisa preceder a calmaria, a destruição sempre abre caminho para a reconstrução... Nossa existência esta enterrada entre objetos e obrigações que acabam fazendo com que esqueçamos o que é sentir a vida como seres emocionais. Estamos apáticos, vagando em um mundo que achamos que é verdadeiro. Apatismo é a síntese do que é a vida do personagem vivido por Jake Gyllenhaal, pois, apesar de ser bem sucedido e possuir todo o luxo de uma vida confortável, ele não consegue sentir um fio de emoção sequer, nem quando sua esposa morre em sua frente. A morte da esposa abre caminho para o começo da vida desse patético personagem, ele percebe a falta de significado nas coisas à sua volta, pois não há coração nelas, o coração que ele mesmo acha só possuir uma parte. Mas, como dito no inicio do texto, não há reconstrução antes da destruição, então, com o pavio aceso na morte da esposa, toda a explosão se segue com a demolição da casa em que vive assim como tudo o que há dentro dela, além de se desfazer de suas roupas habituais e desmontar todo o tipo de objetos onde ele enxerga problemas de funcionamento. Uma dessas maquinas (de doces, que sempre prendem os nossos M&M's) faz com que ele encontre dois outros personagens que o ajudarão na reconstrução de sua existência: Uma mulher, que é atendente de reclamações da empresa dona da maquina, que procura se reconstruir e seu filho, que possui problemas de identidade, ou seja, um garoto ainda em construção. Todas as metáforas são muito bem representadas pela excelente fotografia, que mostra o personagem de Gyllenhaal envolto nas trevas em algumas sequencias e, principalmente, carregado por tons pastel, sem vida, de sua elegante, mas triste casa. Toda a jornada de destruição só pode ser concluída após a limpeza dos entulhos e a construção de algo melhor no espaço vazio, o espaço vazio que havia no peito do personagem e que só pode ser preenchido com um “ gole ’’ de vida.
O mundo dentro de um quarto se torna um mundo dentro de outro mundo e de outro mundo e de outro mundo...
O que nos torna humanos? A diferença de nossa espécie para todas as outras deste planeta é que temos a capacidade de sonhar, de transformar nossa realidade, mas também de nos destruir, de furtar a liberdade de nossos semelhantes. Sou feliz em saber que a parte boa de nossa espécie, por vezes, sai ganhando.
É impressionante como no século 21 ainda há lugares no mundo em que a mulher é submetida a costumes tolos, que transformam a sua liberdade em carcere, que as fazem de empregadas por toda a sua existência. Por essa e por outras que, por vezes, sinto vergonha de fazer parte dessa espécie.
Saul é um dos judeus “sortudos” que foram escolhidos para servir aos nazistas durante a segunda guerra mundial, com o beneficio de terem suas execuções adiadas. Ele e seus companheiros são encarregados de guiar milhares de pessoas às camarás de gás, depois recolher os corpos, joga-los nas fornalhas, levar as cinzas a um rio e depois limpar tudo, para que o processo seja repetido. A câmera do diretor László Nemes acompanha Saul em planos sequencia angustiantes, de dar nojo de fato, pois, apesar de sempre fazer questão de mostrar as vitimas quase fora de plano, deixando à mostra apenas pedaços de corpos, é difícil presenciar tais cenas, porque sabemos que ali há mulheres, crianças e velhos, que não fizeram nada além de não serem da raça ariana, idealizada por Hitler. Mas, ao longo da película, Saul encontra um corpo de um garoto, que aparentemente é seu filho, e faz de tudo para que ele seja enterrado de maneira honrada, de acordo com a religião. Saul procura desesperadamente por um rabino para fazer a oração de enterro do corpo, colocando em risco todos os seus companheiros e a si mesmo. Analisando as intenções do personagem percebemos que ele, apesar de toda a barbárie que presencia dia a dia, é otimista em relação ao futuro de seu povo, já que ele escolhe um jovem garoto para sepultar, executando assim uma espécie de preservação daquela juventude e da próxima que virá, longe daquela guerra cruel. De conflito em conflito e de barbárie em barbárie realizadas pelo ser humano, o que nos resta, assim como para Saul, é crer que nas gerações futuras, deixemos de nos matar.
The Revenant é sem duvida um filme primoroso tecnicamente. A fotografia de Emmanuel Lubezki é grandiosa com sua mistura de cores, planos sequencia muito bem elaborados e grande representação visual de um país selvagem em seus primórdios. Os personagens vagam em cenários carregados de cinza e marrom barro, sujos e esfarrapados até chegarem ao branco gélido da morte de um inverno rigoroso. A formação de um país é mostrada de forma cruel, os homens não se diferenciam dos animais, pois também são selvagens na luta pela sobrevivência. Mas no personagem de DiCaprio está a representação do ser humano integrado com a natureza, já que ele usa dela para se manter vivo, ele é quase imortal, um Bear Grylls que chega até a se abrigar dentro de um cavalo morto. Situações extremas em cenários grandiosos. Mas o complexo de grandiosidade em The Revenant afasta Iñárritu de seus melhores trabalhos. Ele por vezes emula Malick de forma vergonhosa, com cenas de cunho filosófico, mas sem nenhuma profundidade de fato, é muito bonito de se ver, mas enfadonho ao extremo. Entretanto são as varias “aparições” da mulher do personagem de Leonardo DiCaprio que causam os maiores desconfortos, pois é usado aquele velho clichê da visão de uma amada que salva o mocinho à beira da morte inúmeras vezes, parece que o diretor quer nos mostrar algo que só ele consegue ver. Outro grande problema da película é a duração; se fossem retirados 40 minuto de filme não se perderia grande coisa, pois as cenas de transição onde são mostrados rios, floresta e montanhas são de fato abundantes, só causando sono e mais enfado. É preciso ressaltar a superestimada atuação de Leonardo DiCaprio, que grita e grunhe e faz cara de choro o tempo todo, mas não mostra camadas de atuação em nenhum momento. É uma pena que irá ganhar um Oscar por uma atuação mediana, sendo que já foi melhor no passado. The Revenant tem um diretor que se acha um Deus, um astro em modo automático e irá ganhar um Oscar por que é bonito de se ver. Não que o Oscar valha grande coisa.
Nossa sociedade é há séculos assombra por demônios, espíritos, bruxas (sem esquecer da pseudociência) e toda uma gama de bobagens sustentadas por oportunistas, que se beneficiam com a ignorância alheia. Amenábar faz um panorama dessa histeria coletiva, ao contar a história da onda de desespero da população de uma região dos EUA, que foi “bombardeada” por vários relatos de seitas satânicas que praticavam desde sacrifico de bebes, até canibalismo. O detetive vivido por Hawke é agnóstico convicto, ele não acredita em nenhum tipo de entidade sobrenatural, até que o provem que eles de fato existem. A incredulidade do detetive é colocada à prova e ele se vê envolvido na batalha entre o bem e o mal, no caso, entre Deus e o Diabo. Ele é quase convencido que há uma força do mal manipulando todas as pessoas, enquanto Deus tenta nos trazer para o caminho da luz. Mas a verdadeira luz, a luz que o detetive, em certo momento do filme começa a seguir, é a luz da racionalidade, da apuração dos fatos reais, aqueles físicos, que podemos tocar e não a baboseira de seres fantásticos que afetou toda uma cidade e que foi reforçada pela igreja e pela mídia. Afinal, a mídia sensacionalista e a igreja querem apenas uma coisa: audiência.
“...e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes.” ( Marquês de Sade)
Frequentemente nos escondemos sob a mascara do puritanismo, dos bons costumes, dos conceitos sobre a família e sobre religião e mantemos bem no fundo de nosso subconsciente a verdadeira face do ser humano, o ser animal, que por ter sido moldado pela evolução, se comporta civilizadamente, mas que, com um leve empurrão, deixa esse animal vir à tona. O subestimado Neil LaBute persegue em seus filmes o ser humano que se esconde, que vive a vida imposta por uma sociedade civilizada, mas que possui em seu cerne os impulsos selvagens, as vontades eróticas de “sair dos trilhos”, nem que seja por um único fim de semana.
Os personagens de Alice Eve (Natalie) e de Matthew Broderick (Les) são dois seres presos em suas sufocantes vidas. Ela possui uma namorada que literalmente a domina, a coleira em seu pescoço esta lá para lembra-la dessa dominação, e ele, com sua rotina de vendedor e pai de família, não consegue esquecer uma noite de sexo com uma mulher que conheceu em um bar gay em Albuquerque. Presos por falta de voos em um hotel na mesma Albuquerque, Natalie propõe a Les que procure o bar gay e tente encontrar aquela mulher que não sai de sua cabeça. Depois de andanças pela cidade, eles encontram o bar e consequentemente a mulher do passado de Les, que logo de cara lembra-se dele e o leva para o mesmo apartamento que eles transaram anteriormente. Para a surpresa de Les (ou não) a mulher possui um irmão, que também participou do sexo casual do passado. Les, mesmo chocado, se entrega aos irmãos em mais uma noite de prazer. Natalie conhece uma linda garota no bar e também passa a noite sem submissão, apenas com beijos e caricias. Elementos visuais representam a prisão desses personagens, como a coleira no pescoço dela e uma tipoia que imobiliza um dos braços dele. No ultimo ato fica clara a falta de coragem de Les em assumir sua provável bissexualidade, pois ele deixa os irmãos e, com pressa, parte para o aeroporto, com intuito de voltar para sua família. Já Natalie, depois do agradável fim de semana, percebe que pode se livrar de sua torturante prisão. As decisões ficam caracterizadas quando ela retira a coleira do pescoço e ele, depois de tirar a tipoia para ir procurar do bar, volta a coloca-la braço. A escolha cabe a cada um de nós: viveremos uma vida de mentira ou uma regada de prazeres?
Rodrigo Miguel 2 horas atrás Bom filme, mas seria melhor se a direção não se repetisse em elementos narrativos que causam mais enfado do que satisfação ao espectador, como as varias vezes em que o personagem de Hopkins antevê o que vai acontecer consigo e muda a direção de seus atos. Parece que Poyart ficou um pouco reprimido em sua direção, talvez por interferência de produtores, pois se alguns clichês do gênero fossem retirados, o filme se tornaria mais redondo e passaria sua mensagem com mais competência
Como diabos os roteiristas desse filme esperavam que parte do público entendesse conceitos de economia, colocando a Margot Robbie nua em uma banheira de espuma para nos explicar.
O jornalismo deveria ser a ferramenta de denuncia e de conscientização do povo, porém, o que se vê, em boa parte dos casos, é um tipo de jornalismo parasita, que esta interessado em infectar seu público com noticias sensacionalistas, que só visam audiência para agradar patrocinadores. São raras as vezes que se faz o verdadeiro jornalismo nos dias de hoje, aquele que faz denuncias, que derruba poderes. Em Spotlight, há a aura desse verdadeiro jornalismo, os atores representam jornalistas que lutavam, davam o sangue por uma história, a história que faria a diferença em sua cidade. O filme mostra uma Boston sustentada pela igreja, que vê as fundações ruírem com a corajosa investigação do jornal Boston Globe e sua divisão Spotlight, que denunciou abusos sexuais de dezenas de padres em crianças das comunidades locais. Os atos hediondos desses padres precisavam ser punidos, e naquele caso, só a força da imprensa poderia se esgueirar na lama de poder imposto pela igreja. O elenco de Spotlight, com suas atuações de alto nível, nos faz mergulhar nas convicções daqueles jornalistas e sentir que eles não esperavam apenas um premio Pulitzer, mas acima de tudo, denunciar à sociedade crimes que, sem os olhos da imprensa, talvez nunca viessem à tona.
O Silêncio do Céu
3.5 225 Assista AgoraO medo que permeia nossas vidas faz com que criemos inúmeros personagens, personagens esses que nos escondem do mundo real e que são como carapaças, que servem como esconderijo de nossas verdadeiras personalidades. Marco (Leonardo Sbaraglia) é um ser dominado por inúmeros medos, chegando ao ponto de o deixar paralisado, sem reação, ao ver sua esposa (Dieckmann) ser estuprada brutalmente por dois homens em sua própria casa. Os estupradores fogem impunes, e Marco vai buscar os filhos no colégio, como se nada houvesse acontecido. Os dias seguintes passam a atormentar Marco, principalmente porque ele vê a esposa sofrer calada, como se soubesse que ele seria incapaz de fazer qualquer coisa. A única forma de Marco superar o medo é criando um personagem, e esse personagem vai buscar vingança pelo o que foi feito à sua esposa.
O fato de Marco ser um roteirista é bastante interessante, pois o personagem é mostrado inúmeras vezes tendo que “reescrever” seus atos, para que a vingança seja feita ou para que o seu “eu” verdadeiro não se sobreponha ao personagem vingativo. A direção e a fotografia são pontos a se destacar, já que Marco Dutra consegue criar tensão em cenas de perseguição, não as perseguições frenéticas, mas sim aquelas dos travellings suaves, que parecem flutuar nas costas do personagem perseguido. Além de sempre enquadrar seus personagens nos cantos da tela e em primeiro plano, para, evidentemente, os mostrar deslocados ou até perdidos em diversas situações. Apesar dos travellings de perseguição, o filme é composto de inúmeros planos mortos, o que traz ainda mais estranheza e angustia para a situação vivida.
Carolina Dieckmann também impressiona por entregar uma personagem seguro, sem exageros dramáticos, apesar de ter sofrido um ato de violência terrível. Com isso mostra que não é apenas mais um rosto bonito a enfeitar a tela da TV globo.
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraO mundo estereotipado da moda, com seus personagens vazios e superficiais, já foi retratado inúmera vez no cinema, e nesse “The Neon Demon” só se adiciona as bizarrices do diretor Nicolas Winding Refn. Quando digo bizarrices, digo no pior sentido do termo, já que temos bizarrices de nomes como David Lynch, Tarantino, Tim Burton, entre outros, que estão lá em prol do enredo, tornando-as justificáveis nos filmes desses diretores. The Neon Demon usa de imagens chocantes e estilizadas para tentar mostrar algo que talvez só o próprio diretor veja. Então temos canibalismo, necrofilia e estupro enchendo a tela em cores quentes e em planos pretensiosos, mas que se vistos bem de perto não fazem sentido algum.
O primeiro ato é sem duvida o que há de melhor no filme, pois mostra, de forma contida, a ingênua e pura personagem de Elle Fanning chegando ao mundo “destruidor” da moda em Los Angeles. Neste inicio vemos boas composições em relação à fotografia, onde a personagem é sempre mostrada como um ser angelical, rodeada pela luz do sol e vestindo roupas leves e de tons claros, mas parecendo sempre estar próxima à esfera maligna da cidade, com seus becos escuros durante a noite e a iluminação de neon vermelha intermitente, que permeiam cômodos escuros de estúdios de fotografia e mansões vazias. A forma como ela é mostrada inúmeras vezes como reflexo em espelhos e em duplicidade talvez mostre uma persona escondida, prestes a aflorar por causa da influencia do ambiente.
Do segundo ato para frente o filme se mostra um desastre total, com situações e diálogos horrendos, personagens dispensáveis e principalmente pela variação nas atitudes da personagem de Elle Fanning, já que nunca é possível saber se ela esta se entregando ao mundo tenebroso, que ela não entendia direito, se continua a mesma garota do inicio do filme ou mesmo se tudo não passa de um sonho. Os destaques negativos vão para o personagem de Keanu Reeves que não possui outra função da trama, se não o de mais um canalha que pretende devorar a personagem de Elle Fanning, assim como a dupla de modelos malignas, que praticam os diálogos mais preconceituosos que já foram escritos sobre as profissionais das passarelas. Sabemos a intenção do filme em mostrar um mundo sem sentido, que só se aproveita da beleza efêmera e que trata pessoas como pedaços de carnes e cabides, mas não se pode usar de estereótipos ofensivos que colocam toda uma indústria em um único patamar. Refn tentou criar algo inovador e contestador, mas entregou preconceito em uma embalagem chique.
Como Eu Era Antes de Você
3.7 2,3K Assista AgoraEste ‘‘Me before you’’ me impressionou pelo fato de conseguir imprimir um ritmo agradável e consistente mesmo estando carregado de inúmeros clichês comuns ao gênero. Talvez essa sensação seja pela competência e carisma de Emilia Clarke – que mostra ótima atuação, para calar alguns críticos – já que ela carrega o filme nas costas, estando super confortável no papel. A direção ou qualquer outro fator técnico não possui qualquer arrojo ou pontos merecedores de nota, já que tudo é feito na forma dos velhos romances da sessão da tarde. Um filme agridoce e bem intencionado, que, apesar de não trazer nada de novo, transmite aquela maravilhosa sensação de bem estar, que faz com que queiramos viver a vida de forma esplendida, e se possível em Paris.
Truque de Mestre: O 2º Ato
3.5 941 Assista AgoraPara que o filme fosse minimamente aceitável seria necessário trocar o roteirista, o diretor e principalmente o montador, já que o filme não faz nenhum sentido em nenhum dos quesitos citados.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraMemórias e luta de classes.
Clara, vivida por Sonia Braga, mora em um charmoso apartamento que é uma espécie de capsula do tempo, pois esta abarrotado de vinis, mobília antiga, livros e, sobretudo, de memórias. As memórias que ela carrega são intrínsecas ao apartamento, por que foi ali que ela viveu no passado com seu falecido marido e com os seus já desgarrados filhos. Há similaridades de como Kleber Mendonça Filho filma Clara e o prédio Aquarius, retratando ambos com uma aura um tanto mística e misteriosa, apesar da extrema naturalidade da imagens, como se fossem seres que não estão nesta realidade. Durante o filme ha inúmeras demonstrações de que o diretor quer “fundir ” o prédio à persona de Clara; como nos cortes de planos gerais da fachada do prédio para o primeiro plano do rosto da mulher ou quando a câmera se afasta aos poucos mostrando-a saindo à varanda, para depois, mais afastada ainda, mostrar o prédio e sua dona encaixotados por inúmeros outros prédios modernos construídos em volta. Os tons claros, mas um pouco envelhecidos do figurino da personagem alinhados com o branco e depois o azul da fachada do desgastado prédio também são indícios da intenção do diretor em transformar o prédio e a mulher em uma coisa só.
Clara vive em um mundo que não a pertence, onde tudo que havia em seu passado foi substituindo, só lhe restando o prédio Aquarius, que também esta prestes a sumir, graças a uma inescrupulosa construtora que o quer demolir. O plano da construtora é barrado por Clara que não quer se desfazer de um lugar que faz parte de sua vida. O embate entre ela e a construtora é um exercício de genialidade por parte de Kleber Mendonça, pois ele nos joga em um turbilhão de emoções, que vão desde a alegria, passando pela nostalgia e à tensão, esta ultima graças às inúmeras tentativas nada ortodoxias da construtora em fazer com que Clara desista do apartamento; como orgias nos apartamentos vazios do local, queima de colchões na garagem, cultos evangélicos e uma infestação de cupins manipulada por funcionários da construtora.
A luta de classes de “O Som ao Redor” esta presente em “Aquarius”, com a diferença de que no primeiro filme havia a “invasão’’ da periferia na vida de pessoas de classe média, já o segundo há a classe média sendo acossada pela classe pobre e pressionada pela classe mais rica (representada pela construtora), transformando um mundo que era simples na década de 80 – que é onde Clara tenta se manter, pelo menos em espírito – para o show de horrores do capitalismo que transforma as pessoas em selvagens, como o jovem arquiteto da construtora, o nêmeses de Clara, que se apresenta com um assustador olhar de cifrões e o resto dos moradores que só querem que Clara venda logo o apartamento para eu possam receber seu dividendos.
Luta de classes, embate de gerações, roteiro competente, um diretor com extremo domínio de sua arte e uma linda Sonia Braga, que mesmo com seu 66 anos de idade ainda consegue ser uma mulher sexy, transformam “Aquarius” em um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos e um dos melhores filmes do ano em geral.
Como os cupins no prédio Aquarius há um governo que tentou destruir e impedir que o filme fosse visto pela maior numero de pessoas possíveis, já que se trata de um filme de contestação, que se pergunta onde vamos parar com o país entregue nas mãos de pessoas que possuem apenas o capitalismo como bandeira.
O Caçador e a Rainha do Gelo
3.1 642 Assista AgoraComo não assistir um filme com Charlize Theron, Emily Blunt, Jessica Chastain e Chris Hemsworth? Mesmo ele sendo genérico.
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraEsquadrão Suicida sofre com seu roteiro ruim, com efeitos visuais dignos de filmes B da década de 90, com a sua trilha sonora que irrita ao se intrometer no filme a todo o momento, com um vilão que não transmite perigo e principalmente com a necessidade de fazer piadinhas a todo o momento. O filme poderia ter um tom mais sombrio, mesclando com momentos de humor mais descontraído, ou mesmo apostar no humor negro, mas prefere ir pelo caminho mais fácil; colorido, boboca, que tem por pretensão atrair a massa, para que faça bilhões em bilheteria (o que vai acontecer, julgando pelas sessões lotadas e pasmem! os aplausos de algumas pessoas ao final do filme), mesmo destruindo uma franquia que prometia um filme digno de Marvel.
Observação um: Porque diabos reunir uma equipe de assassinos, sendo que todo mundo sabe da existência da Mulher Maravilha, do Batman, do Flash, do Aquaman, etc.
Observação dois: A vilã do filme faz um dancinha digna de uma naja saindo de um cesto. Terrível!!!
Observação três: Se era para o Jared Leto copiar descaradamente o coringa do Heath Ledger, era melhor fazer um holograma do falecido ator misturado com CGI.
Observação quatro: Não acompanho quadrinhos do Batman, mas acho que nunca houve um coringa cafetão, com estilo de funkeiro como o desse filme.
Stranger Things (1ª Temporada)
4.5 2,7K Assista AgoraMuito boa a série. Referencias de Alien, Goonies, Sinais, ET, Minority Report e até de A conversação do Francis For De Coppola (se eu não estiver vendo referencia onde não há), realmente um deslumbre cinéfilo dos anos 80. O ator que faz o Dustin ( o moleque sem os dentes) é um achado, fenomenal. O que mais me agradou é o design de produção e a fotografia, que trazem o colorido dos anos 80 para a tela da TV. Recomendo!!
Um Pouco de Caos
3.4 146 Assista AgoraA desordem pode representar a beleza, o caos de nossas vidas pode nos transformar em criadores, não apenas vivos esperando morrer.
Mente Criminosa
3.1 187 Assista AgoraQue desperdício de elenco. Deve estar faltando trabalho em Hollywood, só assim para justificar Gary Oldman e Kevin Costner nesse filme.
No Topo do Poder
2.7 173 Assista AgoraA conhecida pirâmide social aqui representada por um fálico e curvado arranha céu esta no cerne da já antiga luta de classes. Quem esta no topo quer se manter por lá e tenta impedir que outros subam, por outro lado, quem esta embaixo, passa a vida sonhando em subir alguns degraus, nem que seja para ficar no meio. Muitos hoje em dia estão no meio, sem nem mesmo ter conhecimento do que acontece nos últimos andares ou nos porões dessa pirâmide/arranha-céu. O personagem vivido por Tom Hiddleston é um desses que não sabe o que acontece embaixo ou em cima, mas, ao se mudar a um apartamento em um andar do meio do arranha-céu, começa a ter contato com os dois mundos distintos: os dos aristocratas da cobertura, com seus apartamentos espaçosos e iluminados e os das numerosas famílias dos andares de baixo, que vivem em “caixas de sapatos’’ escuras e sem vida. A divisão social representada pela película é a realidade que vivemos desde os primórdios de nossa dita civilização e só irá ter um fim quando não houver nenhuma divisão ou nenhum individuo que esteja acima ou abaixo.
Demolição
3.8 447 Assista AgoraÉ um pouco clichê, mas, às vezes a desordem é necessária para que a ordem tome forma, o caos precisa preceder a calmaria, a destruição sempre abre caminho para a reconstrução... Nossa existência esta enterrada entre objetos e obrigações que acabam fazendo com que esqueçamos o que é sentir a vida como seres emocionais. Estamos apáticos, vagando em um mundo que achamos que é verdadeiro. Apatismo é a síntese do que é a vida do personagem vivido por Jake Gyllenhaal, pois, apesar de ser bem sucedido e possuir todo o luxo de uma vida confortável, ele não consegue sentir um fio de emoção sequer, nem quando sua esposa morre em sua frente.
A morte da esposa abre caminho para o começo da vida desse patético personagem, ele percebe a falta de significado nas coisas à sua volta, pois não há coração nelas, o coração que ele mesmo acha só possuir uma parte. Mas, como dito no inicio do texto, não há reconstrução antes da destruição, então, com o pavio aceso na morte da esposa, toda a explosão se segue com a demolição da casa em que vive assim como tudo o que há dentro dela, além de se desfazer de suas roupas habituais e desmontar todo o tipo de objetos onde ele enxerga problemas de funcionamento. Uma dessas maquinas (de doces, que sempre prendem os nossos M&M's) faz com que ele encontre dois outros personagens que o ajudarão na reconstrução de sua existência: Uma mulher, que é atendente de reclamações da empresa dona da maquina, que procura se reconstruir e seu filho, que possui problemas de identidade, ou seja, um garoto ainda em construção.
Todas as metáforas são muito bem representadas pela excelente fotografia, que mostra o personagem de Gyllenhaal envolto nas trevas em algumas sequencias e, principalmente, carregado por tons pastel, sem vida, de sua elegante, mas triste casa.
Toda a jornada de destruição só pode ser concluída após a limpeza dos entulhos e a construção de algo melhor no espaço vazio, o espaço vazio que havia no peito do personagem e que só pode ser preenchido com um “ gole ’’ de vida.
O Quarto de Jack
4.4 3,3K Assista AgoraO mundo dentro de um quarto se torna um mundo dentro de outro mundo e de outro mundo e de outro mundo...
O que nos torna humanos? A diferença de nossa espécie para todas as outras deste planeta é que temos a capacidade de sonhar, de transformar nossa realidade, mas também de nos destruir, de furtar a liberdade de nossos semelhantes. Sou feliz em saber que a parte boa de nossa espécie, por vezes, sai ganhando.
Os Anarquistas
2.8 38 Assista AgoraDuas estrelas por causa da Adèle, apenas isso.
Táxi Teerã
4.0 80 Assista AgoraAo final, o carro é furtado, a câmera apaga-se, o filme é levado, retira-se a imagem do cinema e a liberdade de expressão, o sentido da arte.
Cinco Graças
4.3 329 Assista AgoraÉ impressionante como no século 21 ainda há lugares no mundo em que a mulher é submetida a costumes tolos, que transformam a sua liberdade em carcere, que as fazem de empregadas por toda a sua existência. Por essa e por outras que, por vezes, sinto vergonha de fazer parte dessa espécie.
Caçadores de Emoção: Além do Limite
2.8 343 Assista AgoraZzZzZzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz....
O Filho de Saul
3.7 254 Assista AgoraSaul é um dos judeus “sortudos” que foram escolhidos para servir aos nazistas durante a segunda guerra mundial, com o beneficio de terem suas execuções adiadas. Ele e seus companheiros são encarregados de guiar milhares de pessoas às camarás de gás, depois recolher os corpos, joga-los nas fornalhas, levar as cinzas a um rio e depois limpar tudo, para que o processo seja repetido. A câmera do diretor László Nemes acompanha Saul em planos sequencia angustiantes, de dar nojo de fato, pois, apesar de sempre fazer questão de mostrar as vitimas quase fora de plano, deixando à mostra apenas pedaços de corpos, é difícil presenciar tais cenas, porque sabemos que ali há mulheres, crianças e velhos, que não fizeram nada além de não serem da raça ariana, idealizada por Hitler.
Mas, ao longo da película, Saul encontra um corpo de um garoto, que aparentemente é seu filho, e faz de tudo para que ele seja enterrado de maneira honrada, de acordo com a religião. Saul procura desesperadamente por um rabino para fazer a oração de enterro do corpo, colocando em risco todos os seus companheiros e a si mesmo.
Analisando as intenções do personagem percebemos que ele, apesar de toda a barbárie que presencia dia a dia, é otimista em relação ao futuro de seu povo, já que ele escolhe um jovem garoto para sepultar, executando assim uma espécie de preservação daquela juventude e da próxima que virá, longe daquela guerra cruel.
De conflito em conflito e de barbárie em barbárie realizadas pelo ser humano, o que nos resta, assim como para Saul, é crer que nas gerações futuras, deixemos de nos matar.
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraThe Revenant é sem duvida um filme primoroso tecnicamente. A fotografia de Emmanuel Lubezki é grandiosa com sua mistura de cores, planos sequencia muito bem elaborados e grande representação visual de um país selvagem em seus primórdios. Os personagens vagam em cenários carregados de cinza e marrom barro, sujos e esfarrapados até chegarem ao branco gélido da morte de um inverno rigoroso.
A formação de um país é mostrada de forma cruel, os homens não se diferenciam dos animais, pois também são selvagens na luta pela sobrevivência. Mas no personagem de DiCaprio está a representação do ser humano integrado com a natureza, já que ele usa dela para se manter vivo, ele é quase imortal, um Bear Grylls que chega até a se abrigar dentro de um cavalo morto. Situações extremas em cenários grandiosos.
Mas o complexo de grandiosidade em The Revenant afasta Iñárritu de seus melhores trabalhos. Ele por vezes emula Malick de forma vergonhosa, com cenas de cunho filosófico, mas sem nenhuma profundidade de fato, é muito bonito de se ver, mas enfadonho ao extremo. Entretanto são as varias “aparições” da mulher do personagem de Leonardo DiCaprio que causam os maiores desconfortos, pois é usado aquele velho clichê da visão de uma amada que salva o mocinho à beira da morte inúmeras vezes, parece que o diretor quer nos mostrar algo que só ele consegue ver.
Outro grande problema da película é a duração; se fossem retirados 40 minuto de filme não se perderia grande coisa, pois as cenas de transição onde são mostrados rios, floresta e montanhas são de fato abundantes, só causando sono e mais enfado.
É preciso ressaltar a superestimada atuação de Leonardo DiCaprio, que grita e grunhe e faz cara de choro o tempo todo, mas não mostra camadas de atuação em nenhum momento. É uma pena que irá ganhar um Oscar por uma atuação mediana, sendo que já foi melhor no passado.
The Revenant tem um diretor que se acha um Deus, um astro em modo automático e irá ganhar um Oscar por que é bonito de se ver. Não que o Oscar valha grande coisa.
Regressão
2.8 535 Assista AgoraNossa sociedade é há séculos assombra por demônios, espíritos, bruxas (sem esquecer da pseudociência) e toda uma gama de bobagens sustentadas por oportunistas, que se beneficiam com a ignorância alheia.
Amenábar faz um panorama dessa histeria coletiva, ao contar a história da onda de desespero da população de uma região dos EUA, que foi “bombardeada” por vários relatos de seitas satânicas que praticavam desde sacrifico de bebes, até canibalismo.
O detetive vivido por Hawke é agnóstico convicto, ele não acredita em nenhum tipo de entidade sobrenatural, até que o provem que eles de fato existem. A incredulidade do detetive é colocada à prova e ele se vê envolvido na batalha entre o bem e o mal, no caso, entre Deus e o Diabo. Ele é quase convencido que há uma força do mal manipulando todas as pessoas, enquanto Deus tenta nos trazer para o caminho da luz.
Mas a verdadeira luz, a luz que o detetive, em certo momento do filme começa a seguir, é a luz da racionalidade, da apuração dos fatos reais, aqueles físicos, que podemos tocar e não a baboseira de seres fantásticos que afetou toda uma cidade e que foi reforçada pela igreja e pela mídia. Afinal, a mídia sensacionalista e a igreja querem apenas uma coisa: audiência.
Encontro Selvagem
2.1 25 Assista Agora“...e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes.”
( Marquês de Sade)
Frequentemente nos escondemos sob a mascara do puritanismo, dos bons costumes, dos conceitos sobre a família e sobre religião e mantemos bem no fundo de nosso subconsciente a verdadeira face do ser humano, o ser animal, que por ter sido moldado pela evolução, se comporta civilizadamente, mas que, com um leve empurrão, deixa esse animal vir à tona.
O subestimado Neil LaBute persegue em seus filmes o ser humano que se esconde, que vive a vida imposta por uma sociedade civilizada, mas que possui em seu cerne os impulsos selvagens, as vontades eróticas de “sair dos trilhos”, nem que seja por um único fim de semana.
Os personagens de Alice Eve (Natalie) e de Matthew Broderick (Les) são dois seres presos em suas sufocantes vidas. Ela possui uma namorada que literalmente a domina, a coleira em seu pescoço esta lá para lembra-la dessa dominação, e ele, com sua rotina de vendedor e pai de família, não consegue esquecer uma noite de sexo com uma mulher que conheceu em um bar gay em Albuquerque. Presos por falta de voos em um hotel na mesma Albuquerque, Natalie propõe a Les que procure o bar gay e tente encontrar aquela mulher que não sai de sua cabeça.
Depois de andanças pela cidade, eles encontram o bar e consequentemente a mulher do passado de Les, que logo de cara lembra-se dele e o leva para o mesmo apartamento que eles transaram anteriormente. Para a surpresa de Les (ou não) a mulher possui um irmão, que também participou do sexo casual do passado. Les, mesmo chocado, se entrega aos irmãos em mais uma noite de prazer. Natalie conhece uma linda garota no bar e também passa a noite sem submissão, apenas com beijos e caricias.
Elementos visuais representam a prisão desses personagens, como a coleira no pescoço dela e uma tipoia que imobiliza um dos braços dele. No ultimo ato fica clara a falta de coragem de Les em assumir sua provável bissexualidade, pois ele deixa os irmãos e, com pressa, parte para o aeroporto, com intuito de voltar para sua família. Já Natalie, depois do agradável fim de semana, percebe que pode se livrar de sua torturante prisão. As decisões ficam caracterizadas quando ela retira a coleira do pescoço e ele, depois de tirar a tipoia para ir procurar do bar, volta a coloca-la braço. A escolha cabe a cada um de nós: viveremos uma vida de mentira ou uma regada de prazeres?
Presságios de um Crime
3.4 311 Assista AgoraRodrigo Miguel 2 horas atrás
Bom filme, mas seria melhor se a direção não se repetisse em elementos narrativos que causam mais enfado do que satisfação ao espectador, como as varias vezes em que o personagem de Hopkins antevê o que vai acontecer consigo e muda a direção de seus atos. Parece que Poyart ficou um pouco reprimido em sua direção, talvez por interferência de produtores, pois se alguns clichês do gênero fossem retirados, o filme se tornaria mais redondo e passaria sua mensagem com mais competência
A Grande Aposta
3.7 1,3KComo diabos os roteiristas desse filme esperavam que parte do público entendesse conceitos de economia, colocando a Margot Robbie nua em uma banheira de espuma para nos explicar.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraO jornalismo deveria ser a ferramenta de denuncia e de conscientização do povo, porém, o que se vê, em boa parte dos casos, é um tipo de jornalismo parasita, que esta interessado em infectar seu público com noticias sensacionalistas, que só visam audiência para agradar patrocinadores. São raras as vezes que se faz o verdadeiro jornalismo nos dias de hoje, aquele que faz denuncias, que derruba poderes. Em Spotlight, há a aura desse verdadeiro jornalismo, os atores representam jornalistas que lutavam, davam o sangue por uma história, a história que faria a diferença em sua cidade.
O filme mostra uma Boston sustentada pela igreja, que vê as fundações ruírem com a corajosa investigação do jornal Boston Globe e sua divisão Spotlight, que denunciou abusos sexuais de dezenas de padres em crianças das comunidades locais. Os atos hediondos desses padres precisavam ser punidos, e naquele caso, só a força da imprensa poderia se esgueirar na lama de poder imposto pela igreja.
O elenco de Spotlight, com suas atuações de alto nível, nos faz mergulhar nas convicções daqueles jornalistas e sentir que eles não esperavam apenas um premio Pulitzer, mas acima de tudo, denunciar à sociedade crimes que, sem os olhos da imprensa, talvez nunca viessem à tona.