O que um homem é capaz de fazer para manter-se vivo quando tudo ao seu redor o aproxima incessantemente da morte? Enfrentar a crueldade e truculência de animais ariscos, índios selvagens, outros homens, a hostilidade de um clima congelante, a dor extrema de uma pele em frangalhos, a fome, o desespero causado pela perda do filho... O protagonista dessa história confronta-se com tantos momentos pavorosos em prol de um objetivo maior: sobreviver.
Dentre inúmeras paisagens belas e inóspitas presenciamos em estado de choque a violência implacável e realista vivenciada por um caçador que padece e renasce diversas vezes em sua passagem por um ambiente que mais parece um inferno gelado. Numa direção sublime de Alejandro Inarritu, não restam dúvidas de que O REGRESSO será o grande vencedor do Oscar, e se o astro Leonardo DiCaprio não levar seu prêmio desta vez, não levará nunca mais, pois aqui mostra tamanha expressividade que, apesar de seus ínfimos diálogos, permite-nos sentir sua agonia, tristeza, sofrimento e o enorme desejo de vingança que carrega.
Não há o que possamos chamar de “o momento mais tenebroso do filme”, tendo em vista que o horror é onipresente: tiros, facadas, flechadas, mordidas, pisadas, abandono, penúria, quedas brutais e todo tipo de perversidade as quais quase nenhum ser humano é capaz de suportar e ainda por cima de escapar com vida.
Nos envolvemos de tal forma com o enredo, com o personagem, com a atmosfera adversa onde tudo de ruim acontece que ficamos tensos e comovidos com o flagelo e aflição causados àquela pobre criatura. Mesmo o simples acender de uma fogueira já causa temor, trazendo a sensação de que algo grave e apavorante ocorrerá em seguida.
Se um filme que vale a pena é o que nos faz sentir parte integrante da história, então esse aqui é fenomenal. Nessa luta incansável pela sobrevivência, a vingança é mera coadjuvante, pois o intuito derradeiro é permitir que o protagonista viva. Uma obra primorosa, perversa, massacrante, que apresenta o bicho homem no seu estado mais primitivo: o de besta fera. Excelente!
O encontro entre o glamour e a simplicidade, a segurança e a incerteza, uma vida confortável e consolidada e um futuro cheio de sonhos e esperanças. Acima de tudo, o encontro da experiência e da convicção sobre o que se quer e do que se gosta contrastando com uma personalidade confusa, perdida e que jamais soube dizer não.
É nessa confluência entre personagens tão distintas que acompanhamos ansiosos o desenlace de um romance proibido ambientado no século passado, numa época em que a moral era regida por convenções sociais tão obsoletas nos dias atuais. Imposições que ordenam a existência de um relacionamento entre um homem e uma mulher como única forma de felicidade e de obtenção de algum respeito perante à elite daquele tempo.
A protagonista do título é uma mulher deslumbrante, com seu olhar tentador, charme, elegância, poder, determinação e confiança de uma dama da alta sociedade que não se entrega ao modelo social exigido naqueles anos dourados. Apesar da inegável competência de Cate Blanchett, a construção de sua personagem é superficial, tendo o espectador parcos conhecimentos sobre aquele ser tão sedutor.
Sobre o alvo de sua paixonite, uma jovem, inocente, pura e fragilizada Rooney Mara, não pode se dizer o mesmo, pois dela apreendemos as fraquezas, angústias, desejos inconfessos, insegurança, dores, decepções, como também as raras e ocasionais alegrias que lhe sucedem, causando-nos empatia e nos fazendo sofrer com suas hesitações, receios e vulnerabilidades. Dá vontade de colocá-la no colo e consolá-la dos desencantos decorrentes do amor não correspondido, dos anseios nunca revelados e dos sonhos não realizados.
Com uma bela caracterização da década de 50, o filme peca pelo ritmo lento nos 40 minutos iniciais, para a partir daí dizer a que veio e deixar o espectador encantado, curioso e angustiado em saber o que promete seu desfecho.
Por se tratar de um tema pouco explorado no cinema, onde o conservadorismo e a repetição de assuntos dominam, e por apresentar uma trama original, CAROL é uma experiência cativante, terna e aprazível, onde só os dotados de corações sensíveis são capazes de vivencía-la em todo o seu propósito. Seu enredo atrativo deixa como principal ensinamento nunca negarmos a nossa essência em prol da necessidade de adequação à regras e costumes de uma coletividade que pouco ou nada nos representa. Cada um é o que é, e nada nem ninguém poderá mudar isso. Inesquecível história!
Não há exatamente nada de espetacular nessa pequena produção, considerando que a crueldade na África já foi demonstrada em diversos outros filmes. Mas também é inegável o choque a que o espectador é submetido ao deparar com tanta violência e crueza na vida de um pobre menino retirado de sua família para transformar-se num guerrilheiro tribal. É de muita miséria, tristeza e desolamento a situação do continente africano, não havendo esperança alguma de melhora. Um território de injustiças, desequilíbrio, ignorância, descrença. Nossos irmãos afro são, sem dúvida, o povo mais sofrido da face da Terra, e olha que essa disputa é ferrenha, tendo em vista a imensidão de nações desiguais e sem lei existentes no mundo. Um garoto que, além de perder seus parentes, abrir mão de seus sonhos e de sua infância, deve aprender a pegar em armas, matar gente, destruir cidades, ao mesmo tempo em que ainda brinca com outras crianças, quando a barbárie onde está inserido permite-lhe algum momento de folga. Sobreviver num ambiente desses, de alta mortalidade, fome, privações, e sem perspectiva de qualquer futuro que seja, é tão ou mais comovente que a carnificina perpetrada sob vítimas inocentes. E ao final, no caso de se conseguir escapar a esse inferno, o que fazer? Já não há mais família, casa, amigos, expectativas de um amanhã promissor. Só há remorso e culpa. Tudo que o protagonista terá se tornado é um monstro, uma máquina de destruição que fuzilou pessoas e depredou as humildes construções em que passou. Como o planeta faz questão de virar as costas para essa realidade, não vejo um horizonte pacífico na África. Foi assim e sempre será: um lugar esquecido pelas nações mais ricas, onde impera a lei do mais forte e onde os fracos não têm vez. Todo filme sobre o cotidiano africano me aflige e deixa aquela sensação incômoda: a eterna impotência e a certeza absoluta de que mais notícias catastróficas virão daquele pedaço de mundo no qual as tragédias humanitárias são uma rotina. Uma tristeza sem fim...
Desolados é o modo como saímos ao final deste triste documentário. Possuidora de talento ímpar e com um excepcional futuro à espreita, a saudosa cantora encerrou sua trajetória tragicamente, consequência de uma vida desregrada e sem limites de uma menina que nunca ouviu um NÃO. Filha de pai ausente, mãe relapsa e família desestruturada, não seria difícil prever de que forma uma pessoa tão perdida poderia se portar, numa rotina regada a muito álcool, drogas, promiscuidade e amizades perdulárias, compostas em sua maioria por gente aproveitadora e que só queria tirar vantagem. É claro e evidente o jogo de interesse perpetrado pelas duas figuras masculinas (pai e marido) onipresentes no dia a dia da protagonista; outrora indiferentes, decidiram não mais se afastar assim que a fama, riqueza e sucesso se consolidaram. Mitch Winehouse sempre foi um homem distante, ocasionando à sua filha um quadro de depressão e sensação de abandono; porém, quando vislumbrou a possibilidade de ganhos financeiros e de comandar a fortuna daquela que considerava ser uma mina de ouro, resolveu fazer vista grossa às péssimas condições de saúde em que ela se encontrava, obrigando-a a realizar shows e pressionando pela criação de novo material, no intuito de faturar cada vez mais. E o que dizer do aprendiz de gigolô, do atraso de vida, do causador de desgraças, um tipo ignóbil chamado Blake Fielder? Lamentável perceber que enquanto a existência da cantora foi reduzida a pó, aquele homem desprezível permanece curtindo a vida adoidado. É humilhante como nos deixamos explorar e enganar quando supomos ser impossível viver sem a presença do tal grande amor - maior erro cometido por Amy - uma provação a qual todos estamos sujeitos a passar. Conhecer o processo de composição e a interpretação de suas inesquecíveis canções nos emociona, como também é de partir o coração ver a decadência tornar-se parte indubitável de seu cotidiano. A Londres sempre cinzenta intensifica o clima fúnebre e a proximidade da tragédia, deixando a plateia aflita pelo que virá. Por ser uma produção longa, há bastante repetição de fatos e gravações bobas e dispensáveis de sua juventude. A trama deslancha e potencializa o interesse na medida em que se inicia o calvário das drogas, acompanhado do enorme sucesso, reconhecimento e inúmeros prêmios conquistados por alguém que nunca alcançou a paz nem muito menos a felicidade plena em sua curta permanência enquanto superstar. Aos fãs fica a eterna saudade, a imensa falta que ela faz no mundo da música – absolutamente carente de criatividade e emoção – e um grande sentimento de tristeza, consternação e lamento com a perda de artista tão brilhante que jogou fora as inúmeras oportunidades de uma carreira meteórica e por que não duradoura que lhe foram oferecidas. Melancólico ao extremo!
Que Meryl Streep é capaz de interpretar todo e qualquer personagem não há dúvida, mas daí a entregar ao público uma obra tosca e medíocre, calcada apenas no seu talento, já é demais. O resultado não poderia ser outro: fracasso de público e crítica.
Excetuando-se a atuação da notável atriz, nada na trama funciona. Mesmo com críticas ao liberalismo, ao machismo, à busca sem limite pelos sonhos, entre outros temas, o roteiro é péssimo; o elenco secundário é fraquíssimo – Mamie Gummer tem muito que aprender com a mãe oscarizada; não há razão de existir dos filhos da protagonista, figuras rasas e sem importância, assim como os demais personagens, totalmente sem aprofundamento nas suas histórias.
Os diálogos são monótonos e não levam a conclusão alguma; a rockstar leva uma vida ordinária como caixa de supermercado e à noite trabalha num bar para perdedores, fracassados e decadentes, contrapondo-se ao cotidiano bem sucedido de seu ex-marido e filhos.
A produção é apenas um show de rock, cujas canções ocupam vários minutos da projeção, tendo em vista não haver uma boa trama a apresentar. Os números musicais são os únicos momentos interessantes dessa bobagem.
Apesar do indiscutível talento e versatilidade da maior atriz contemporânea, esse trabalho é um equívoco e não deveria constar na filmografia da consagrada intérprete. Uma total perda de tempo.
O cinema dinamarquês, especificamente no gênero drama policial, é repleto de surpresas agradáveis. SEGUNDA CHANCE é mais uma delas. Cheio de reviravoltas, mostra que determinados comportamentos e atitudes infelizes surgem de onde menos se espera. É, em si, uma história triste e dramática, porém com desdobramentos mais comuns no mundo real do que se pode imaginar. Vidas desregradas, drogas, crianças negligenciadas e depressão extrema são alguns dos flagelos que permeiam a trama. Ver inocentes e indefesos ser tratados de forma tão cruel nos deixa com um nó na garganta e com o coração apertado. Com tantos sobressaltos e acontecimentos lastimáveis, felizmente o abalo maior (de arrasar as emoções do espectador) ficou para o final. Esta produção chocante e perturbadora causa reflexão a respeito do despreparo dos pais e sobre o abandono e descaso a que relegam seus filhos, algo tão comum na atualidade. Os problemas retratados aqui são gravíssimos e a nenhum deles é dada a importância devida. A diretora dinamarquesa Susanne Bier tem o dom de deixar o público com os nervos à flor da pele com tamanha perversidade, frieza e desumanidade demonstrada pelos seus personagens. SEGUNDA CHANCE é, nada mais nada menos, que um filme trágico, propiciando um sentimento de devastação ao final.
Nem Mel Gibson, nem Tom Hardy. O destaque de MAD MAX é a imperatriz Furiosa. Sob o sol escaldante do deserto africano e acompanhado por uma trilha sonora impecável e instigante, que não deixa cair o ritmo da ação, esse reboot não fica nada a dever ao filme original. Com alto nível de adrenalina, sentimo-nos participantes daquelas corridas malucas e fugas alucinantes, onde carroças remontadas trafegam em alta velocidade, carregadas de loucos desvairados de um mundo repleto de miseráveis que carecem desesperadamente de água e combustível. A pequena dose de humor fica por conta de um louco guitarrista e seu instrumento em chamas, que dão o tom das risadas. George Miller não perdeu a mão com o passar dos anos. O diretor é um artífice dos filmes de ação e aventura. Ver uma obra sua é ter certeza de muita diversão. ESTRADA DA FÚRIA é uma trama louca, mas que graça teria se fosse fiel à realidade? É apocalíptica, repleta de violência, morte, destruição, numa realidade onde impera a lei do mais forte. É tão fascinante que, apesar de seus poucos diálogos auto explicativos, não há margem para o desinteresse, cansaço, tédio ou decepção do espectador. MAD MAX cumpre o que promete e deixa-nos em estado de tensão contínua, mesmo após seu final, que, como todos sabem, terá inúmeras continuações. Considero Tom Hardy fraco para o papel de protagonista. O ator não possui o carisma e a beleza do Mel Gibson de outrora e permanece distante do público durante toda a projeção. Não sentimos empatia pelo personagem nem muito menos torcemos por ele. É um intérprete antipático e sem afinidade com a plateia que o contempla. O carisma e comoção são direcionados à Charlize Theron, que é quem verdadeiramente conduz a trama. Desde o início tudo gira em torno dos seus atos. Sua atitude de fuga e desobediência perante o monstruoso líder da matilha de loucos é o que norteia toda a história. A imperatriz Furiosa é, sem sombra de dúvida, o motivo de existir do roteiro. No mais, para nós, meros espectadores, é diversão e adrenalina garantidas; uma escapatória da realidade entediante do cotidiano; uma visão alternativa do fim da humanidade como a conhecemos; e, acima de tudo, é o retrato da sobrevivência do mais habilidoso e do mais forte. Emocionante, inesquecível e arrebatador. Que venham os próximos capítulos.
Uma palavra pode definir esse filme: horrível! Não fosse a protagonista famosa, seria um daqueles filmes B estranhos e sem importância. Após a perda trágica de seu único filho, uma depressiva crônica passa seus dias em completo isolamento, tendo como companhia apenas uma empregada faz tudo que parece ser a única que se importa com ela. A protagonista ocupa-se em destilar seu veneno em tudo e em todos, dorme a maior parte do tempo, entope-se de remédios e evita olhar a paisagem em torno de si. Um estilo de vida completamente impraticável que denota um desfecho de trágicas consequências. Pra completar a vida desgraçada e desregrada que leva, a pobre mulher começa a ter alucinações com uma colega suicida, pra fechar de vez a tragicidade da história. Jennifer Aniston salva a trama do fiasco quase absoluto. Com sua atuação convincente, torna-se curioso conferir a veia dramática da rainha da comédia romântica imbecilizante, representando uma persona que passa bem distante da alegria, beleza e sensualidade que a queridinha do seriado FRIENDS oferece em seus demais trabalhos. Deveria dar-se mais chances à atriz de interpretar personagens densos e dramáticos, retirando-a da mesmice dos papéis românticos, cômicos e açucarados. Infelizmente CAKE decepciona pelo enredo fraco, elenco secundário ruim, trama inconclusiva e final lixo. A produção é pobre em todos os sentidos, desde a modesta cenografia até o desenvolvimento sem surpresas nem grandes pretensões. Não houvesse tantos entraves, Jennifer Aniston poderia ter entregue um trabalho excepcional, o que não foi o caso, devido à precariedade da obra. Uma pena!
A princípio CHAPPIE é uma ficção igual a tantas outras, mas, capitaneado pelo diretor Neill Blomkamp, não poderia deixar de existir um dilema ético, no caso, o de consciência. Mantendo a prática de humanizar andróides para haver maior empatia com o público, o diretor e roteirista explora ao máximo essa pseudo humanização, fazendo do personagem título uma criança de voz irritante, atitudes indefesas e comportamento pueril. Fica muito claro que, por mais mecanizado que seja o mundo contemporâneo, robôs jamais conseguirão assumir o papel do ser humano, como ocorre na trama, onde é atribuída às máquinas a função de força policial. Emaranhados de fios, chips e circuitos eletrônicos nunca irão raciocinar e compreender acontecimentos cotidianos como alguém de carne e osso. Quanto às atuações, quase nada se pode oferecer, pois, apesar do roteiro amarrado e auto explicativo, não se exige muito do elenco minimamente estrelado. Faço uma ressalva para mais um papel de coadjuvante de luxo dado a Sigourney Weaver, condenada a representar personas com pequenas falas e raríssimas aparições. Um dos poucos pontos positivos de CHAPPIE é conseguir prender a atenção do espectador a maior parte do tempo, tendo em vista ser tão semelhante a outras produções do gênero. O clima fantasioso impera durante toda a projeção: situações complexas e grandes impasses solucionam-se num piscar de olhos, na maioria das vezes em ambientes inóspitos e precários; o protótipo manobrado por Hugh Jackman parece mais um console de videogame, dada a extrema facilidade em operá-lo remotamente; muda-se de corpo de forma rápida e eficaz e a consciência humana cabe dentro de um pen drive! Que utopia imaginar que a coexistência entre homens e máquinas pode um dia ser assim... Ilusões e fantasias à parte, serve como bom entretenimento e faz refletir sobre o que o futuro distante nos reserva nessa relação intrincada e imprevisível entre homens e robôs ultra inteligentes. Se for visto de forma descompromissada, sem ênfase à improvável realidade dos fatos retratados, é, sem dúvida, uma boa diversão.
Não há barreiras para o intelecto de Stephen Hawking, a despeito de sua imensa limitação física. Incapaz de executar as funções mais vitais para um ser humano, como falar e andar, e dependente por completo da ajuda de outrem, sua capacidade de produção intelectual chega a ser incomensurável.
A TEORIA DE TUDO, apesar de seu fraco roteiro, ritmo lento e desenrolar pouco instigante, é essencialmente uma história triste, ao retratar a decadência física ainda na juventude, a desesperança da cura, a inviabilidade de exercer plenamente a função de pai e marido e a dependência extrema das outras pessoas. Hawking possuía inúmeros motivos para desistir de lutar, mas persistiu em viver acima de todas as impossibilidades. Sujeito admirável, não se deixou intimidar e seguiu em frente, numa louvável e promissora carreira acadêmica que lhe trouxe fama mundial. Difícil encontrar alguém tão sorridente em tal condição de fragilidade quanto o célebre cosmólogo inglês.
Já que a trama redondinha e convencional não é digna de muitos elogios, o foco do espectador mais exigente recai sobre as atuações. Eddie Redmayne apresenta interpretação excepcional e domina totalmente o filme. Desde a caracterização até os trejeitos, passando pela cruel degradação decorrente da grave doença, o ator dá um show. Nunca duvidei de que levaria facilmente o Oscar. Já Felicity Jones, que até a metade da história mantém-se apagada e sem graça, cresce e empolga na hora final. Jane Hawking foi uma verdadeira heroína: casou-se com um homem condenado a uma deficiência mortal, salvou a vida dele quando já estava desenganado, segurou todo o fardo de cuidar do lar, do marido enfermo e de três crianças, e retirou-se quando o companheiro já não dependia mais dela, dando a si mesma uma chance de ser feliz com outra pessoa. Ao menos na ficção, a trajetória da senhora Hawking é elogiável.
Uma história tocante, melancólica, mas também encorajadora, uma inconteste lição de amor. É lamentável uma biografia tão rica ter sido trabalhada de forma preguiçosa, com sua narrativa linear e pouco emocionante. Mesmo assim, ao final sentimos o inevitável nó na garganta e a certeza de jamais ver o grande Stephen Hawking ser dotado de uma mínima capacidade física novamente, por mais simples que seja. Inesquecível!
Um prodígio da matemática, responsável por descobertas tão importantes quanto sublimes no período da 2ª guerra, que ao mesmo tempo tinha que lidar com o homossexualismo, o isolamento social, o afastamento da família, a arrogância típica dos gênios incompreendidos. História longa e um pouco confusa para os mais desatenciosos, com uma leve comicidade nos momentos iniciais, interposta pelo drama de um homem de tão rico intelecto que morreu solitário e no obscurantismo. Ser tratado de forma preconceituosa e indiferente devido a uma opção sexual é uma realidade perversa e execrável, e ter sua grandiosidade reconhecida pela rainha da Inglaterra anos depois de morto não muda a natureza das coisas. O destaque do filme é mesmo a atuação de Benedict Cumberbatch. Até agora não vi nada com esse talentoso ator inglês que decepcionasse, e ter como apoio cênico a doce e agradável Keira Knightley não é algo que se possa desprezar. O roteiro é interessante, prende a atenção e trata de um tema pouco explorado pelo cinema: a biografia de um sujeito brilhante que defendeu o seu país sem necessariamente estar no campo de batalha. Vale o ingresso!
Nada demais. Apenas a biografia de um falsário e aproveitador que ganha fama e dinheiro às custas da mulher. Um filme redondinho, em que assistimos no piloto automático. Não é história pra tela grande, dá pra ver em casa; nem muito menos merecedor de Oscar. Na realidade ele é bem bobo. O casal não possui química, e não acho que Christoph Waltz tenha sido boa escolha para representar o farsante pintor, tendo em vista ser simpático demais. Faltou o cinismo, a astúcia de vilão, atributos que ele não apresentou a contento. Amy Adams foi apenas razoável; preferia Mila Kunis nesse papel, daí o título GRANDES OLHOS teria uma protagonista mais do que adequada. Sobre a replicação da imagem da menina, presente em diversos produtos, lembrei-me dos terríveis quadros de Romero Britto, que estão por toda parte, de copos a cadernos, dentre outras quinquilharias. GRANDES OLHOS é só mais uma história de Tim Burton - um cineasta que nunca admirei - com diversos cortes mal explicados no roteiro. A única cena curiosa e ao mesmo tempo assustadora é quando a artista está no supermercado e todas as pessoas a quem ela observa estão com os olhos gigantescos, tal qual a personagem que ela mesma criou. Bizarrices do Burton... Trama de sessão da tarde, totalmente dispensável.
Expondo exaustivamente as belas paisagens geladas da Suíça, essa trama tosca possui como único atrativo a tensão sexual existente entre as duas atrizes protagonistas, que dividem a maior parte das cenas nas duas longas horas de duração. Com diálogos intermináveis, cansativos e sonolentos que não levam a lugar nenhum, numa história que muito promete e nada cumpre, nesta trama o espectador perde seu precioso tempo e ainda por cima é acometido por altos cochilos. ACIMA DAS NUVENS é um filme sem pé nem cabeça que trata de uma peça encenada há alguns anos e que novamente entrará em cartaz, coincidindo com o recente falecimento do autor da obra. É tanta conversa chata e sem sentido, induzindo a um clima sedutor entre atriz principal e sua assistente, acabando por não se confirmar. O enredo se encerra da mesma forma que se inicia, sem que nada de significativo venha a acontecer. Os relatos das futilidades do mundo artístico referentes à vida da atriz mais jovem são apenas uma repetição de fatos que qualquer um que acesse sites de fofoca está cansado de ver. Não é necessário estar acima das nuvens pra assistir isso, mas sim acima de todo e qualquer tipo de bom senso pra desperdiçar seu tempo com uma droga dessas. Uma obra que não diverte, não intriga, não é memorável e nada acrescenta. Uma verdadeira bomba. Melhor passar bem longe disso e gastar os preciosos 118 minutos fazendo coisa melhor da vida. Porcaria!
Protagonizado por um ator desconhecido e dirigido pela embaixadora da Boa Vontade da ONU, INVENCÍVEL é mais uma história de sofrimento, redenção e perdão, tendo como diferencial a grande comoção causada no espectador, que se sente horrorizado pela crueldade, violência e desesperança apresentadas, mazelas inevitáveis típicas dos tempos de guerra. Testemunhamos os horrores da II Guerra Mundial através do ponto de vista de soldados dos países Aliados encurralados pelas forças japonesas, numa rotina de privações, humilhações, agressões físicas extremas, muita tristeza e desengano. Com boa fotografia, trilha sonora, atuações convincentes, roteiro bem escrito, a talentosa e competente diretora Angelina Jolie nos envolve de maneira chocante no desalento de um soldado, outrora atleta olímpico, que primeiramente cai em desgraça ao se ver à deriva no meio do oceano, passando fome, sede e frio durante inúmeras semanas quase intermináveis para, logo após tanto flagelo, ser aprisionado e subjugado por seus inimigos, cujo tratamento desumano faz com que as aflições sofridas em alto mar sejam apenas o início de dissabores sem fim. Há diversos filmes com temática semelhante a este, mas INVENCÍVEL, de forma assombrosa, nos transporta para esse período tão triste da história da humanidade que só mesmo sendo um desalmado para não se angustiar vislumbrando todo o tormento vivido pelo personagem real Louis Zamperini. São tantas as atrocidades cometidas contra o pobre homem que ficamos com lágrimas nos olhos ao presenciar toda a desolação porque passam tanto ele quanto os demais prisioneiros. As mudanças físicas dos intérpretes no decorrer da trama são impactantes, dentre tantas outras desgraças que irrompem a cada cena. Jack O’Connell foi ótima escolha para protagonizar a obra, fazendo com que o espectador sinta-se na pele de seu personagem, com todo aquele padecimento. Um dos pontos positivos na carreira da Angelina diretora é a preferência por nomes desconhecidos do público, em detrimento dos atores famosos; com isso não ficamos cansados em ver novamente as mesmas caras e ainda nos é proporcionada a descoberta de novos talentos. Como embaixadora da ONU, Jolie vivencia o cotidiano de guerra de países conflagrados e dele baseia parte do enredo de suas produções. O final é clichê, mas não retira o mérito de mais um trabalho memorável dessa ótima profissional, cuja lição principal é a capacidade heroica da redenção e o poder imenso do perdão – coisa para poucos.
Só um detalhe nessa obra não engana o espectador: a infidelidade à história original. De resto, tudo aqui é o mais puro embuste, fazendo deste um dos filmes mais enganosos dos últimos tempos. Com narrativa lenta, testemunhamos um príncipe que vira escravo, outro príncipe sem nenhuma vocação para a bondade e liderança assumindo o trono e pobres miseráveis eternamente condenados à desgraça a espera de um salvador. Os fatos ocorrem de maneira tão veloz a ponto de 1 minuto corresponder a 9 anos – tempo em que Moisés casa e seu filho cresce – e 40 anos corresponderem a mais ou menos meia hora, período que remete à fuga dos escravos. É tudo tão mecânico, sem emoção, que mesmo com toda a dramaticidade necessária à narrativa, não conseguimos, por mais que tentemos, nos comover com todo o sofrimento de Moisés e seu povo. Nada de novo é revelado, não há nenhuma cena impactante. Há sim tremendos efeitos visuais, como se espera de uma produção de alto nível, e a reunião de inúmeros atores talentosos; talentos esses completamente desperdiçados. O maior exemplo é o papel de figurante dado a Sigourney Weaver. Jamais imaginei que a eterna tenente Ripley um dia se tornasse personagem mudo, sem relevância alguma. Christian Bale salva a produção; já o antagonista, Joel Edgerton, está mais canastrão do que nunca. EXODUS é mais uma trama de aventura à la sessão da tarde do que uma reconstituição histórica marcante. Um filme bonito que se pretende épico, mas que sofre com seus sérios problemas de continuidade. De um minuto p/ outro as coisas mudam bruscamente, deixando perdidos os espectadores mais desavisados e desatentos. A cada momento de tensão ficamos na expectativa de que algo grandioso ocorrerá, mas isso não se confirma, e o enredo volta a ser a mesmice de sempre. Dispensável e esquecível, melhor assistir se não houver mais nada de interessante a fazer.
O HOBBIT definitivamente é uma trilogia que não deveria existir. Uma aventura de grandes proporções, super produção de milhões de dólares que não oferece o básico: emoção. A trama não passa de repetição emoldurada por um roteiro fraco e mau aproveitamento dos poucos bons nomes constantes do elenco. O protagonista, Martin Freeman, é um dos atores mais inexpressivos dos últimos tempos; ele jamais possuirá a empatia do seu similar Frodo de O SENHOR DOS ANÉIS. A história é completamente inverossímil e nada empolgante. Nunca foi tão fácil destruir um dragão assombroso como neste filme. Que coisa mais previsível... Com longa duração, nos deixando ainda mais cansados, o roteiro se perde numa fantasia desmesurada, sem nenhuma boa atuação de quem quer que seja, em detrimento das péssimas interpretações, que estão todas lá. O excesso de batalhas previsíveis causa sono intenso. De interessante só mesmo os efeitos visuais e a trilha sonora – como não poderia deixar de ser. Uma saga completamente dispensável a qual não consegue em momento algum envolver o espectador. Tremenda perda de tempo.
Com inúmeros papéis ao longo de sua carreira iniciada ainda na infância, Deborah Secco é indiscutivelmente uma atriz talentosa. Ela é a força motriz deste filme, cuja trama apresenta um mundo no qual as pessoas sequer olham mais umas para as outras, hábito recorrente nos tempos atuais. Dividindo a cena com um ator fraco, apesar da boa sintonia entre os dois intérpretes, vivenciamos o drama do ser/sentir-se invisível, onde um rapaz é completamente desprezado pela família e pela sociedade em que vive, levando-o assim ao vício em remédios, e onde uma mulher sem laços afetivos e sem amor próprio leva uma vida de imprudências e acaba sendo castigada por uma doença fatal. Tudo nos conduz ao significado da decadência: moral, familiar, amorosa, estrutural e principalmente social. Uma existência sem amor, sem princípios, onde as pessoas não estão interessadas em saber do outro, nem muito menos em como se sentem. A clínica em que os personagens estão internados é o símbolo máximo do declínio a que um ser humano renegado pode experimentar: um lugar fétido, sujo, desgastado. A produção peca pela ausência da trilha sonora, que surge com maior intensidade apenas no final, tornando alguns momentos não tão cativantes quanto poderiam. O personagem de Deborah é mal construído, havendo diversos detalhes a respeito da vida da moça deixados de lado. A proposta gráfica é simpática e atrativa. O roteiro é cheio de falhas, mas a mensagem transmitida é memorável: num mundo cada vez mais mesquinho e repleto de interesses muitas vezes inconfessáveis, percebemos e sentimos a solidão que vez por outra - e para alguns quase sempre – irrompe em todos nós. Pelo seu cárater sensível, envolvente, reflexivo, crítico e de ainda por cima mexer com os nossos sentimentos, BOA SORTE vale ser visto.
Quais são os limites éticos da exploração espacial? Com a destruição maciça dos nossos recursos naturais, por quanto tempo ainda a Terra irá suportar abrigar a vida humana? Existirá algum planeta apto a nos receber, e em caso positivo, como chegaremos até lá? Vale a pena abrir mão da família e até mesmo da própria existência pela remota possibilidade de salvação do futuro da raça humana? Essas e outras questões cruciais a respeito da nossa sobrevivência são debatidas e levadas ao extremo no mais recente trabalho de um dos maiores cineastas dos últimos anos: Christopher Nolan. Protagonizado pelo ator do momento, a trama é um misto de ficção científica, drama e aventura que nos deixa bastante apreensivos, tamanho os fatos preocupantes ocorridos em sua extensa duração. O tema da exploração espacial, da destruição do planeta Terra, da possível existência de vida em outras galáxias sempre fascina, como tudo o que é desconhecido. Com teorias que abordam os famosos buracos negros, o espaço tempo, dentre outros assuntos inquietantes, INTERESTELLAR alcança o mérito de prender a atenção por longas 3h e ainda nos faz refletir sobre a história dias após tê-la assistido. O lado melodramático também merece destaque; a separação entre a família retratada e os momentos não vividos pelos seus membros são acontecimentos angustiantes. Matthew McConaughey foi uma escolha acertada para protagonizar a produção, assim como o elenco secundário, que não faz feio. Enfim uma obra que nos obriga a raciocinar, dada a complexidade e infinidade de eventos. Após o término da sessão, não conseguimos mais olhar para o céu da mesma maneira e muito menos de forma tranquila. Grande filme!
Histórias que nos desafiem, que causem dúvida, que nos confundam, com acontecimentos que não saem da nossa mente por determinado período são as que merecem ser reconhecidas como bons filmes. As produções realizadas pelo diretor David Fincher enquadram-se bem nessa categoria, daí a expectativa causada a cada lançamento. Fincher, é claro, não decepciona, e em GAROTA EXEMPLAR entrega mais um bom trabalho ao público de cinema. A confusão que se dá na nossa mente é imediata: afinal, quem é o vilão? O marido infiel e interesseiro ou a esposa com seu suspeito ar de perfeição? A trama aborda diversas polêmicas desse e de outros tempos: casal aparentemente perfeito que vive às turras; poder da mídia na desconstrução da imagem das pessoas, a hipocrisia da vida sob a luz dos holofotes, infidelidade conjugal, relações baseadas em interesse financeiro (algo tão comum ontem, hoje e sempre), paixões não correspondidas, etc., mas, entre tantos assuntos significativos abordados, o mais considerável é o uso da inteligência a serviço do mal, da beleza e sensualidade empregadas no intuito de arruinar o outro e do crime sem castigo. Rosamund Pike transmuta-se de mulher perfeita à vilã assustadora em dois tempos e até seu olhar nos amedronta. Não há como negar que o filme é dela. A carinha de boa moça de sua personagem gradativamente se desfaz, na medida em que testemunhamos suas artimanhas. Desfaz-se também a vida tranquila de seu marido, quando retratado pelos programas sensacionalistas de TV, que tratam de depreciá-lo a todo custo. Por possuir roteiro complexo, os diálogos exigem atenção; há inúmeras idas e vindas e diversas falas fúteis, rápidas e desnecessárias, principalmente na 1ª metade. Pura encheção de linguiça no intuito de alongar a narrativa. Faço uma ressalva também no que diz respeito ao nível de suspense, que considerei irrisório. Esperava maiores mistérios, alguns sustos e mais do que apenas uma surpresa reveladora, mas minha expectativa não se confirmou. Quando o verdadeiro vilão se revela, tudo nos é entregue de forma mastigada, renunciando, ao menos em seu desfecho, à característica de “filme feito pra pensar”. Independente desse deslize, GAROTA EXEMPLAR é uma história que não se consegue esquecer, sem sombra de dúvida. Recomendo!
THE IMMIGRANT não passa de uma promessa. Promete uma grande história, boas atuações e uma trama marcante. É um drama de época com todos os elementos para ser notável, mas que não alcança esse objetivo. Com boa fotografia, direção de arte, elenco de ponta e competentes interpretações, o roteiro deixou muito a desejar. Joaquin Phoenix e Marion Cotillard carregam o filme nas costas, e o fazem muito bem, mas o enredo não ajuda. As agruras de uma imigrante no país conhecido como sendo “das oportunidades” chocam e prendem a atenção, mas não são suficientes para nos fazer sofrer junto com a protagonista. As ocasiões em que ela necessita vender seu corpo para obter algum dinheiro são mal exploradas, fazendo com que o público apenas imagine o que possa acontecer. Em diversas cenas, Marion Cotillard mais parece uma atriz mexicana que só sabe chorar. Nem a beleza sutil da francesa foi bem aproveitada, assim como a doença de sua irmã e a insinuação do romance com um mágico. Fatos que poderiam ter sido grandiosos e interessantes foram mal trabalhados. THE IMMIGRANT é filme pra ser visto apenas uma vez. Seu desfecho é o ápice da decepção de uma obra que parecia promissora. Esperava mais...
Com ritmo lento, a trama oscila entre altos e baixos e o resultado final é negativo. Sua premissa é interessante, e imagina-se que parte das idéias mostradas são passíveis de um dia chegarem a existir, devido ao avanço a passos largos da tecnologia atual. Como do meio para o fim a trama resvala em inúmeras mentiras, fantasias e ilusões, não conseguimos mais levá-la a sério. O elenco é de primeira, mas atua no piloto automático. A presença de Johnny Depp não é suficiente para que se mantenha o interesse pela história. Morgan Freeman está subaproveitado e os demais personagens não empolgam. Enfim, TRANSCENDENCE é uma ficção que prometia, e que acabou deixando a desejar. O final é um fiasco e estraga de uma vez por todas o que já não ia muito bem. Para quem possui a curiosidade em saber como as máquinas poderiam salvar o mundo, ressuscitar os mortos, curar os doentes e deixar as pessoas cada vez mais sem personalidade, com seus comportamentos robóticos, vale uma olhada. Houvesse um melhor roteiro e um pouco menos de fantasias absurdas, poderia ter sido melhor.
Numa mistura de suspense e realismo fantástico, esse filme de pequena duração, mesmo com seus longos silêncios e pobreza de roteiro, prende a atenção. Jake Gylenhaal, um ator que cresce a cada atuação, domina seus dois papéis satisfatoriamente. Ficamos realmente perdidos em determinados momentos, sem saber quem é um ou outro personagem, dada a confusão de identidade entre eles. A possibilidade remota de existir alguém igualzinho a qualquer um de nós vagando por aí é algo que assusta e muito. Com pitadas de sexo, atmosfera sombria, enigmas e muita tensão, não é filme para todos, tendo em vista que poucos conseguirão entender seu significado. Mais uma obra bem sucedida adaptada do legado do gênio Saramago, e como tudo que diz respeito a esse ótimo escritor, não deve jamais ser ignorada. Por sair da mesmice das bobagens atuais, este é um trabalho considerável do sempre competente diretor canadense Denis Villeneuve.
Nessa co-produção Brasil-Alemanha, o que não falta são cenas de mau gosto, apelação sexual explícita, experimentalismo tão estranho a um filme que se pretende comercial, desfile de nus masculinos, ausência de diálogos, tomadas longas, falta de sincronia entre os acontecimentos, o cansaço causado ao espectador diante de uma produção interminável e o detalhe mais gritante de todos: o desperdício de talento do melhor ator cinematográfico do Brasil atualmente: Wagner Moura, que deixa aqui uma nódoa em sua brilhante carreira.
O filme é, em sua totalidade, uma obra deprimente que engana o público desde o início. Os desavisados pensam tratar-se de um conflito existencial de um salva vidas que fracassa pela 1ª vez em sua função, mas, em vez disso, o que vemos é uma sequência exagerada de cenas de sexo gay permeadas por outras de corrida de moto e de natação, um quase pornô esportivo numa sucessão infinita e exaustiva de episódios sem sentido. Em diversos momentos percebemos não haver continuidade lógica entre as situações apresentadas, denotando um trabalho amadorístico.
Nunca foi tão fácil, em um país subdesenvolvido como o nosso, pessoas de classe baixa viajarem para um país europeu e lá se estabelecerem sem ocupação definida, sem dinheiro e sem o domínio do idioma alemão, uma língua de tão árduo aprendizado. Mas no mundo fantasioso do diretor cearense Karim Ainouz isso não passa de detalhe. O importante é mostrar um ator renomado fazendo sexo loucamente com um charmoso e másculo alemão no intuito de garantir bons números na bilheteria e boca a boca perante o público. É justamente o boca a boca que fará dos números desse filme um desastre, devido à opinião unânime dos estarrecidos espectadores de que PRAIA DO FUTURO é mais um exemplar de um lixo cinematográfico genuinamente nacional.
Se há algo que podemos salvar neste entretenimento de má qualidade, só mesmo a fotografia, que intercala as belezas naturais cearenses com a atmosfera carregada, escura e depressiva de uma Berlim coberta de névoa, tristeza e solidão. Nesse ambiente angustiante o protagonista se encontra como pessoa e é nele que decide viver, à custa do abandono de sua família e de seu país natal. É desse romance homossexual meia boca que trata esta narrativa.
Se toda unanimidade é burra, como dizia Nelson Rodrigues, no caso de PRAIA DO FUTURO a mesma mostrou-se bem esperta quando resolveu menosprezá-lo, e burro mesmo é quem, após tantas críticas negativas, ainda se submeter à perda de 110 valorosos minutos apreciando algo tão ruim. Simplesmente horrível!
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraDifícil, cansativo, repetitivo, para poucos. Overdose JLAW.
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraO que um homem é capaz de fazer para manter-se vivo quando tudo ao seu redor o aproxima incessantemente da morte? Enfrentar a crueldade e truculência de animais ariscos, índios selvagens, outros homens, a hostilidade de um clima congelante, a dor extrema de uma pele em frangalhos, a fome, o desespero causado pela perda do filho... O protagonista dessa história confronta-se com tantos momentos pavorosos em prol de um objetivo maior: sobreviver.
Dentre inúmeras paisagens belas e inóspitas presenciamos em estado de choque a violência implacável e realista vivenciada por um caçador que padece e renasce diversas vezes em sua passagem por um ambiente que mais parece um inferno gelado. Numa direção sublime de Alejandro Inarritu, não restam dúvidas de que O REGRESSO será o grande vencedor do Oscar, e se o astro Leonardo DiCaprio não levar seu prêmio desta vez, não levará nunca mais, pois aqui mostra tamanha expressividade que, apesar de seus ínfimos diálogos, permite-nos sentir sua agonia, tristeza, sofrimento e o enorme desejo de vingança que carrega.
Não há o que possamos chamar de “o momento mais tenebroso do filme”, tendo em vista que o horror é onipresente: tiros, facadas, flechadas, mordidas, pisadas, abandono, penúria, quedas brutais e todo tipo de perversidade as quais quase nenhum ser humano é capaz de suportar e ainda por cima de escapar com vida.
Nos envolvemos de tal forma com o enredo, com o personagem, com a atmosfera adversa onde tudo de ruim acontece que ficamos tensos e comovidos com o flagelo e aflição causados àquela pobre criatura. Mesmo o simples acender de uma fogueira já causa temor, trazendo a sensação de que algo grave e apavorante ocorrerá em seguida.
Se um filme que vale a pena é o que nos faz sentir parte integrante da história, então esse aqui é fenomenal. Nessa luta incansável pela sobrevivência, a vingança é mera coadjuvante, pois o intuito derradeiro é permitir que o protagonista viva. Uma obra primorosa, perversa, massacrante, que apresenta o bicho homem no seu estado mais primitivo: o de besta fera. Excelente!
Carol
3.9 1,5K Assista AgoraO encontro entre o glamour e a simplicidade, a segurança e a incerteza, uma vida confortável e consolidada e um futuro cheio de sonhos e esperanças. Acima de tudo, o encontro da experiência e da convicção sobre o que se quer e do que se gosta contrastando com uma personalidade confusa, perdida e que jamais soube dizer não.
É nessa confluência entre personagens tão distintas que acompanhamos ansiosos o desenlace de um romance proibido ambientado no século passado, numa época em que a moral era regida por convenções sociais tão obsoletas nos dias atuais. Imposições que ordenam a existência de um relacionamento entre um homem e uma mulher como única forma de felicidade e de obtenção de algum respeito perante à elite daquele tempo.
A protagonista do título é uma mulher deslumbrante, com seu olhar tentador, charme, elegância, poder, determinação e confiança de uma dama da alta sociedade que não se entrega ao modelo social exigido naqueles anos dourados. Apesar da inegável competência de Cate Blanchett, a construção de sua personagem é superficial, tendo o espectador parcos conhecimentos sobre aquele ser tão sedutor.
Sobre o alvo de sua paixonite, uma jovem, inocente, pura e fragilizada Rooney Mara, não pode se dizer o mesmo, pois dela apreendemos as fraquezas, angústias, desejos inconfessos, insegurança, dores, decepções, como também as raras e ocasionais alegrias que lhe sucedem, causando-nos empatia e nos fazendo sofrer com suas hesitações, receios e vulnerabilidades. Dá vontade de colocá-la no colo e consolá-la dos desencantos decorrentes do amor não correspondido, dos anseios nunca revelados e dos sonhos não realizados.
Com uma bela caracterização da década de 50, o filme peca pelo ritmo lento nos 40 minutos iniciais, para a partir daí dizer a que veio e deixar o espectador encantado, curioso e angustiado em saber o que promete seu desfecho.
Por se tratar de um tema pouco explorado no cinema, onde o conservadorismo e a repetição de assuntos dominam, e por apresentar uma trama original, CAROL é uma experiência cativante, terna e aprazível, onde só os dotados de corações sensíveis são capazes de vivencía-la em todo o seu propósito. Seu enredo atrativo deixa como principal ensinamento nunca negarmos a nossa essência em prol da necessidade de adequação à regras e costumes de uma coletividade que pouco ou nada nos representa. Cada um é o que é, e nada nem ninguém poderá mudar isso. Inesquecível história!
Beasts of No Nation
4.3 829 Assista AgoraNão há exatamente nada de espetacular nessa pequena produção, considerando que a crueldade na África já foi demonstrada em diversos outros filmes. Mas também é inegável o choque a que o espectador é submetido ao deparar com tanta violência e crueza na vida de um pobre menino retirado de sua família para transformar-se num guerrilheiro tribal.
É de muita miséria, tristeza e desolamento a situação do continente africano, não havendo esperança alguma de melhora. Um território de injustiças, desequilíbrio, ignorância, descrença. Nossos irmãos afro são, sem dúvida, o povo mais sofrido da face da Terra, e olha que essa disputa é ferrenha, tendo em vista a imensidão de nações desiguais e sem lei existentes no mundo.
Um garoto que, além de perder seus parentes, abrir mão de seus sonhos e de sua infância, deve aprender a pegar em armas, matar gente, destruir cidades, ao mesmo tempo em que ainda brinca com outras crianças, quando a barbárie onde está inserido permite-lhe algum momento de folga.
Sobreviver num ambiente desses, de alta mortalidade, fome, privações, e sem perspectiva de qualquer futuro que seja, é tão ou mais comovente que a carnificina perpetrada sob vítimas inocentes. E ao final, no caso de se conseguir escapar a esse inferno, o que fazer? Já não há mais família, casa, amigos, expectativas de um amanhã promissor. Só há remorso e culpa. Tudo que o protagonista terá se tornado é um monstro, uma máquina de destruição que fuzilou pessoas e depredou as humildes construções em que passou.
Como o planeta faz questão de virar as costas para essa realidade, não vejo um horizonte pacífico na África. Foi assim e sempre será: um lugar esquecido pelas nações mais ricas, onde impera a lei do mais forte e onde os fracos não têm vez. Todo filme sobre o cotidiano africano me aflige e deixa aquela sensação incômoda: a eterna impotência e a certeza absoluta de que mais notícias catastróficas virão daquele pedaço de mundo no qual as tragédias humanitárias são uma rotina. Uma tristeza sem fim...
Amy
4.4 1,0K Assista AgoraDesolados é o modo como saímos ao final deste triste documentário. Possuidora de talento ímpar e com um excepcional futuro à espreita, a saudosa cantora encerrou sua trajetória tragicamente, consequência de uma vida desregrada e sem limites de uma menina que nunca ouviu um NÃO.
Filha de pai ausente, mãe relapsa e família desestruturada, não seria difícil prever de que forma uma pessoa tão perdida poderia se portar, numa rotina regada a muito álcool, drogas, promiscuidade e amizades perdulárias, compostas em sua maioria por gente aproveitadora e que só queria tirar vantagem.
É claro e evidente o jogo de interesse perpetrado pelas duas figuras masculinas (pai e marido) onipresentes no dia a dia da protagonista; outrora indiferentes, decidiram não mais se afastar assim que a fama, riqueza e sucesso se consolidaram.
Mitch Winehouse sempre foi um homem distante, ocasionando à sua filha um quadro de depressão e sensação de abandono; porém, quando vislumbrou a possibilidade de ganhos financeiros e de comandar a fortuna daquela que considerava ser uma mina de ouro, resolveu fazer vista grossa às péssimas condições de saúde em que ela se encontrava, obrigando-a a realizar shows e pressionando pela criação de novo material, no intuito de faturar cada vez mais.
E o que dizer do aprendiz de gigolô, do atraso de vida, do causador de desgraças, um tipo ignóbil chamado Blake Fielder? Lamentável perceber que enquanto a existência da cantora foi reduzida a pó, aquele homem desprezível permanece curtindo a vida adoidado. É humilhante como nos deixamos explorar e enganar quando supomos ser impossível viver sem a presença do tal grande amor - maior erro cometido por Amy - uma provação a qual todos estamos sujeitos a passar.
Conhecer o processo de composição e a interpretação de suas inesquecíveis canções nos emociona, como também é de partir o coração ver a decadência tornar-se parte indubitável de seu cotidiano. A Londres sempre cinzenta intensifica o clima fúnebre e a proximidade da tragédia, deixando a plateia aflita pelo que virá.
Por ser uma produção longa, há bastante repetição de fatos e gravações bobas e dispensáveis de sua juventude. A trama deslancha e potencializa o interesse na medida em que se inicia o calvário das drogas, acompanhado do enorme sucesso, reconhecimento e inúmeros prêmios conquistados por alguém que nunca alcançou a paz nem muito menos a felicidade plena em sua curta permanência enquanto superstar.
Aos fãs fica a eterna saudade, a imensa falta que ela faz no mundo da música – absolutamente carente de criatividade e emoção – e um grande sentimento de tristeza, consternação e lamento com a perda de artista tão brilhante que jogou fora as inúmeras oportunidades de uma carreira meteórica e por que não duradoura que lhe foram oferecidas. Melancólico ao extremo!
Ricki and the Flash: De Volta Para Casa
3.2 295 Assista AgoraQue Meryl Streep é capaz de interpretar todo e qualquer personagem não há dúvida, mas daí a entregar ao público uma obra tosca e medíocre, calcada apenas no seu talento, já é demais. O resultado não poderia ser outro: fracasso de público e crítica.
Excetuando-se a atuação da notável atriz, nada na trama funciona. Mesmo com críticas ao liberalismo, ao machismo, à busca sem limite pelos sonhos, entre outros temas, o roteiro é péssimo; o elenco secundário é fraquíssimo – Mamie Gummer tem muito que aprender com a mãe oscarizada; não há razão de existir dos filhos da protagonista, figuras rasas e sem importância, assim como os demais personagens, totalmente sem aprofundamento nas suas histórias.
Os diálogos são monótonos e não levam a conclusão alguma; a rockstar leva uma vida ordinária como caixa de supermercado e à noite trabalha num bar para perdedores, fracassados e decadentes, contrapondo-se ao cotidiano bem sucedido de seu ex-marido e filhos.
A produção é apenas um show de rock, cujas canções ocupam vários minutos da projeção, tendo em vista não haver uma boa trama a apresentar. Os números musicais são os únicos momentos interessantes dessa bobagem.
Apesar do indiscutível talento e versatilidade da maior atriz contemporânea, esse trabalho é um equívoco e não deveria constar na filmografia da consagrada intérprete. Uma total perda de tempo.
Segunda Chance
3.5 75O cinema dinamarquês, especificamente no gênero drama policial, é repleto de surpresas agradáveis. SEGUNDA CHANCE é mais uma delas. Cheio de reviravoltas, mostra que determinados comportamentos e atitudes infelizes surgem de onde menos se espera. É, em si, uma história triste e dramática, porém com desdobramentos mais comuns no mundo real do que se pode imaginar.
Vidas desregradas, drogas, crianças negligenciadas e depressão extrema são alguns dos flagelos que permeiam a trama. Ver inocentes e indefesos ser tratados de forma tão cruel nos deixa com um nó na garganta e com o coração apertado. Com tantos sobressaltos e acontecimentos lastimáveis, felizmente o abalo maior (de arrasar as emoções do espectador) ficou para o final.
Esta produção chocante e perturbadora causa reflexão a respeito do despreparo dos pais e sobre o abandono e descaso a que relegam seus filhos, algo tão comum na atualidade. Os problemas retratados aqui são gravíssimos e a nenhum deles é dada a importância devida.
A diretora dinamarquesa Susanne Bier tem o dom de deixar o público com os nervos à flor da pele com tamanha perversidade, frieza e desumanidade demonstrada pelos seus personagens. SEGUNDA CHANCE é, nada mais nada menos, que um filme trágico, propiciando um sentimento de devastação ao final.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraNem Mel Gibson, nem Tom Hardy. O destaque de MAD MAX é a imperatriz Furiosa. Sob o sol escaldante do deserto africano e acompanhado por uma trilha sonora impecável e instigante, que não deixa cair o ritmo da ação, esse reboot não fica nada a dever ao filme original. Com alto nível de adrenalina, sentimo-nos participantes daquelas corridas malucas e fugas alucinantes, onde carroças remontadas trafegam em alta velocidade, carregadas de loucos desvairados de um mundo repleto de miseráveis que carecem desesperadamente de água e combustível.
A pequena dose de humor fica por conta de um louco guitarrista e seu instrumento em chamas, que dão o tom das risadas. George Miller não perdeu a mão com o passar dos anos. O diretor é um artífice dos filmes de ação e aventura. Ver uma obra sua é ter certeza de muita diversão.
ESTRADA DA FÚRIA é uma trama louca, mas que graça teria se fosse fiel à realidade? É apocalíptica, repleta de violência, morte, destruição, numa realidade onde impera a lei do mais forte. É tão fascinante que, apesar de seus poucos diálogos auto explicativos, não há margem para o desinteresse, cansaço, tédio ou decepção do espectador. MAD MAX cumpre o que promete e deixa-nos em estado de tensão contínua, mesmo após seu final, que, como todos sabem, terá inúmeras continuações.
Considero Tom Hardy fraco para o papel de protagonista. O ator não possui o carisma e a beleza do Mel Gibson de outrora e permanece distante do público durante toda a projeção. Não sentimos empatia pelo personagem nem muito menos torcemos por ele. É um intérprete antipático e sem afinidade com a plateia que o contempla.
O carisma e comoção são direcionados à Charlize Theron, que é quem verdadeiramente conduz a trama. Desde o início tudo gira em torno dos seus atos. Sua atitude de fuga e desobediência perante o monstruoso líder da matilha de loucos é o que norteia toda a história. A imperatriz Furiosa é, sem sombra de dúvida, o motivo de existir do roteiro.
No mais, para nós, meros espectadores, é diversão e adrenalina garantidas; uma escapatória da realidade entediante do cotidiano; uma visão alternativa do fim da humanidade como a conhecemos; e, acima de tudo, é o retrato da sobrevivência do mais habilidoso e do mais forte. Emocionante, inesquecível e arrebatador. Que venham os próximos capítulos.
Cake - Uma Razão Para Viver
3.4 699 Assista AgoraUma palavra pode definir esse filme: horrível! Não fosse a protagonista famosa, seria um daqueles filmes B estranhos e sem importância.
Após a perda trágica de seu único filho, uma depressiva crônica passa seus dias em completo isolamento, tendo como companhia apenas uma empregada faz tudo que parece ser a única que se importa com ela. A protagonista ocupa-se em destilar seu veneno em tudo e em todos, dorme a maior parte do tempo, entope-se de remédios e evita olhar a paisagem em torno de si. Um estilo de vida completamente impraticável que denota um desfecho de trágicas consequências.
Pra completar a vida desgraçada e desregrada que leva, a pobre mulher começa a ter alucinações com uma colega suicida, pra fechar de vez a tragicidade da história.
Jennifer Aniston salva a trama do fiasco quase absoluto. Com sua atuação convincente, torna-se curioso conferir a veia dramática da rainha da comédia romântica imbecilizante, representando uma persona que passa bem distante da alegria, beleza e sensualidade que a queridinha do seriado FRIENDS oferece em seus demais trabalhos. Deveria dar-se mais chances à atriz de interpretar personagens densos e dramáticos, retirando-a da mesmice dos papéis românticos, cômicos e açucarados.
Infelizmente CAKE decepciona pelo enredo fraco, elenco secundário ruim, trama inconclusiva e final lixo.
A produção é pobre em todos os sentidos, desde a modesta cenografia até o desenvolvimento sem surpresas nem grandes pretensões. Não houvesse tantos entraves, Jennifer Aniston poderia ter entregue um trabalho excepcional, o que não foi o caso, devido à precariedade da obra. Uma pena!
Chappie
3.6 1,1K Assista AgoraA princípio CHAPPIE é uma ficção igual a tantas outras, mas, capitaneado pelo diretor Neill Blomkamp, não poderia deixar de existir um dilema ético, no caso, o de consciência.
Mantendo a prática de humanizar andróides para haver maior empatia com o público, o diretor e roteirista explora ao máximo essa pseudo humanização, fazendo do personagem título uma criança de voz irritante, atitudes indefesas e comportamento pueril. Fica muito claro que, por mais mecanizado que seja o mundo contemporâneo, robôs jamais conseguirão assumir o papel do ser humano, como ocorre na trama, onde é atribuída às máquinas a função de força policial. Emaranhados de fios, chips e circuitos eletrônicos nunca irão raciocinar e compreender acontecimentos cotidianos como alguém de carne e osso.
Quanto às atuações, quase nada se pode oferecer, pois, apesar do roteiro amarrado e auto explicativo, não se exige muito do elenco minimamente estrelado. Faço uma ressalva para mais um papel de coadjuvante de luxo dado a Sigourney Weaver, condenada a representar personas com pequenas falas e raríssimas aparições.
Um dos poucos pontos positivos de CHAPPIE é conseguir prender a atenção do espectador a maior parte do tempo, tendo em vista ser tão semelhante a outras produções do gênero. O clima fantasioso impera durante toda a projeção: situações complexas e grandes impasses solucionam-se num piscar de olhos, na maioria das vezes em ambientes inóspitos e precários; o protótipo manobrado por Hugh Jackman parece mais um console de videogame, dada a extrema facilidade em operá-lo remotamente; muda-se de corpo de forma rápida e eficaz e a consciência humana cabe dentro de um pen drive!
Que utopia imaginar que a coexistência entre homens e máquinas pode um dia ser assim... Ilusões e fantasias à parte, serve como bom entretenimento e faz refletir sobre o que o futuro distante nos reserva nessa relação intrincada e imprevisível entre homens e robôs ultra inteligentes. Se for visto de forma descompromissada, sem ênfase à improvável realidade dos fatos retratados, é, sem dúvida, uma boa diversão.
A Teoria de Tudo
4.1 3,4K Assista AgoraNão há barreiras para o intelecto de Stephen Hawking, a despeito de sua imensa limitação física. Incapaz de executar as funções mais vitais para um ser humano, como falar e andar, e dependente por completo da ajuda de outrem, sua capacidade de produção intelectual chega a ser incomensurável.
A TEORIA DE TUDO, apesar de seu fraco roteiro, ritmo lento e desenrolar pouco instigante, é essencialmente uma história triste, ao retratar a decadência física ainda na juventude, a desesperança da cura, a inviabilidade de exercer plenamente a função de pai e marido e a dependência extrema das outras pessoas. Hawking possuía inúmeros motivos para desistir de lutar, mas persistiu em viver acima de todas as impossibilidades. Sujeito admirável, não se deixou intimidar e seguiu em frente, numa louvável e promissora carreira acadêmica que lhe trouxe fama mundial. Difícil encontrar alguém tão sorridente em tal condição de fragilidade quanto o célebre cosmólogo inglês.
Já que a trama redondinha e convencional não é digna de muitos elogios, o foco do espectador mais exigente recai sobre as atuações. Eddie Redmayne apresenta interpretação excepcional e domina totalmente o filme. Desde a caracterização até os trejeitos, passando pela cruel degradação decorrente da grave doença, o ator dá um show. Nunca duvidei de que levaria facilmente o Oscar. Já Felicity Jones, que até a metade da história mantém-se apagada e sem graça, cresce e empolga na hora final. Jane Hawking foi uma verdadeira heroína: casou-se com um homem condenado a uma deficiência mortal, salvou a vida dele quando já estava desenganado, segurou todo o fardo de cuidar do lar, do marido enfermo e de três crianças, e retirou-se quando o companheiro já não dependia mais dela, dando a si mesma uma chance de ser feliz com outra pessoa. Ao menos na ficção, a trajetória da senhora Hawking é elogiável.
Uma história tocante, melancólica, mas também encorajadora, uma inconteste lição de amor. É lamentável uma biografia tão rica ter sido trabalhada de forma preguiçosa, com sua narrativa linear e pouco emocionante. Mesmo assim, ao final sentimos o inevitável nó na garganta e a certeza de jamais ver o grande Stephen Hawking ser dotado de uma mínima capacidade física novamente, por mais simples que seja. Inesquecível!
O Jogo da Imitação
4.3 3,0K Assista AgoraUm prodígio da matemática, responsável por descobertas tão importantes quanto sublimes no período da 2ª guerra, que ao mesmo tempo tinha que lidar com o homossexualismo, o isolamento social, o afastamento da família, a arrogância típica dos gênios incompreendidos.
História longa e um pouco confusa para os mais desatenciosos, com uma leve comicidade nos momentos iniciais, interposta pelo drama de um homem de tão rico intelecto que morreu solitário e no obscurantismo. Ser tratado de forma preconceituosa e indiferente devido a uma opção sexual é uma realidade perversa e execrável, e ter sua grandiosidade reconhecida pela rainha da Inglaterra anos depois de morto não muda a natureza das coisas.
O destaque do filme é mesmo a atuação de Benedict Cumberbatch. Até agora não vi nada com esse talentoso ator inglês que decepcionasse, e ter como apoio cênico a doce e agradável Keira Knightley não é algo que se possa desprezar. O roteiro é interessante, prende a atenção e trata de um tema pouco explorado pelo cinema: a biografia de um sujeito brilhante que defendeu o seu país sem necessariamente estar no campo de batalha. Vale o ingresso!
Grandes Olhos
3.8 1,1K Assista grátisNada demais. Apenas a biografia de um falsário e aproveitador que ganha fama e dinheiro às custas da mulher. Um filme redondinho, em que assistimos no piloto automático. Não é história pra tela grande, dá pra ver em casa; nem muito menos merecedor de Oscar. Na realidade ele é bem bobo.
O casal não possui química, e não acho que Christoph Waltz tenha sido boa escolha para representar o farsante pintor, tendo em vista ser simpático demais. Faltou o cinismo, a astúcia de vilão, atributos que ele não apresentou a contento. Amy Adams foi apenas razoável; preferia Mila Kunis nesse papel, daí o título GRANDES OLHOS teria uma protagonista mais do que adequada.
Sobre a replicação da imagem da menina, presente em diversos produtos, lembrei-me dos terríveis quadros de Romero Britto, que estão por toda parte, de copos a cadernos, dentre outras quinquilharias. GRANDES OLHOS é só mais uma história de Tim Burton - um cineasta que nunca admirei - com diversos cortes mal explicados no roteiro.
A única cena curiosa e ao mesmo tempo assustadora é quando a artista está no supermercado e todas as pessoas a quem ela observa estão com os olhos gigantescos, tal qual a personagem que ela mesma criou. Bizarrices do Burton... Trama de sessão da tarde, totalmente dispensável.
Acima das Nuvens
3.6 400Expondo exaustivamente as belas paisagens geladas da Suíça, essa trama tosca possui como único atrativo a tensão sexual existente entre as duas atrizes protagonistas, que dividem a maior parte das cenas nas duas longas horas de duração. Com diálogos intermináveis, cansativos e sonolentos que não levam a lugar nenhum, numa história que muito promete e nada cumpre, nesta trama o espectador perde seu precioso tempo e ainda por cima é acometido por altos cochilos.
ACIMA DAS NUVENS é um filme sem pé nem cabeça que trata de uma peça encenada há alguns anos e que novamente entrará em cartaz, coincidindo com o recente falecimento do autor da obra. É tanta conversa chata e sem sentido, induzindo a um clima sedutor entre atriz principal e sua assistente, acabando por não se confirmar.
O enredo se encerra da mesma forma que se inicia, sem que nada de significativo venha a acontecer. Os relatos das futilidades do mundo artístico referentes à vida da atriz mais jovem são apenas uma repetição de fatos que qualquer um que acesse sites de fofoca está cansado de ver.
Não é necessário estar acima das nuvens pra assistir isso, mas sim acima de todo e qualquer tipo de bom senso pra desperdiçar seu tempo com uma droga dessas.
Uma obra que não diverte, não intriga, não é memorável e nada acrescenta. Uma verdadeira bomba. Melhor passar bem longe disso e gastar os preciosos 118 minutos fazendo coisa melhor da vida. Porcaria!
Invencível
3.9 923 Assista AgoraProtagonizado por um ator desconhecido e dirigido pela embaixadora da Boa Vontade da ONU, INVENCÍVEL é mais uma história de sofrimento, redenção e perdão, tendo como diferencial a grande comoção causada no espectador, que se sente horrorizado pela crueldade, violência e desesperança apresentadas, mazelas inevitáveis típicas dos tempos de guerra.
Testemunhamos os horrores da II Guerra Mundial através do ponto de vista de soldados dos países Aliados encurralados pelas forças japonesas, numa rotina de privações, humilhações, agressões físicas extremas, muita tristeza e desengano.
Com boa fotografia, trilha sonora, atuações convincentes, roteiro bem escrito, a talentosa e competente diretora Angelina Jolie nos envolve de maneira chocante no desalento de um soldado, outrora atleta olímpico, que primeiramente cai em desgraça ao se ver à deriva no meio do oceano, passando fome, sede e frio durante inúmeras semanas quase intermináveis para, logo após tanto flagelo, ser aprisionado e subjugado por seus inimigos, cujo tratamento desumano faz com que as aflições sofridas em alto mar sejam apenas o início de dissabores sem fim.
Há diversos filmes com temática semelhante a este, mas INVENCÍVEL, de forma assombrosa, nos transporta para esse período tão triste da história da humanidade que só mesmo sendo um desalmado para não se angustiar vislumbrando todo o tormento vivido pelo personagem real Louis Zamperini.
São tantas as atrocidades cometidas contra o pobre homem que ficamos com lágrimas nos olhos ao presenciar toda a desolação porque passam tanto ele quanto os demais prisioneiros. As mudanças físicas dos intérpretes no decorrer da trama são impactantes, dentre tantas outras desgraças que irrompem a cada cena.
Jack O’Connell foi ótima escolha para protagonizar a obra, fazendo com que o espectador sinta-se na pele de seu personagem, com todo aquele padecimento. Um dos pontos positivos na carreira da Angelina diretora é a preferência por nomes desconhecidos do público, em detrimento dos atores famosos; com isso não ficamos cansados em ver novamente as mesmas caras e ainda nos é proporcionada a descoberta de novos talentos.
Como embaixadora da ONU, Jolie vivencia o cotidiano de guerra de países conflagrados e dele baseia parte do enredo de suas produções. O final é clichê, mas não retira o mérito de mais um trabalho memorável dessa ótima profissional, cuja lição principal é a capacidade heroica da redenção e o poder imenso do perdão – coisa para poucos.
Êxodo: Deuses e Reis
3.1 1,2K Assista AgoraSó um detalhe nessa obra não engana o espectador: a infidelidade à história original. De resto, tudo aqui é o mais puro embuste, fazendo deste um dos filmes mais enganosos dos últimos tempos.
Com narrativa lenta, testemunhamos um príncipe que vira escravo, outro príncipe sem nenhuma vocação para a bondade e liderança assumindo o trono e pobres miseráveis eternamente condenados à desgraça a espera de um salvador.
Os fatos ocorrem de maneira tão veloz a ponto de 1 minuto corresponder a 9 anos – tempo em que Moisés casa e seu filho cresce – e 40 anos corresponderem a mais ou menos meia hora, período que remete à fuga dos escravos.
É tudo tão mecânico, sem emoção, que mesmo com toda a dramaticidade necessária à narrativa, não conseguimos, por mais que tentemos, nos comover com todo o sofrimento de Moisés e seu povo.
Nada de novo é revelado, não há nenhuma cena impactante. Há sim tremendos efeitos visuais, como se espera de uma produção de alto nível, e a reunião de inúmeros atores talentosos; talentos esses completamente desperdiçados. O maior exemplo é o papel de figurante dado a Sigourney Weaver. Jamais imaginei que a eterna tenente Ripley um dia se tornasse personagem mudo, sem relevância alguma. Christian Bale salva a produção; já o antagonista, Joel Edgerton, está mais canastrão do que nunca.
EXODUS é mais uma trama de aventura à la sessão da tarde do que uma reconstituição histórica marcante. Um filme bonito que se pretende épico, mas que sofre com seus sérios problemas de continuidade. De um minuto p/ outro as coisas mudam bruscamente, deixando perdidos os espectadores mais desavisados e desatentos.
A cada momento de tensão ficamos na expectativa de que algo grandioso ocorrerá, mas isso não se confirma, e o enredo volta a ser a mesmice de sempre. Dispensável e esquecível, melhor assistir se não houver mais nada de interessante a fazer.
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
3.9 2,0K Assista AgoraO HOBBIT definitivamente é uma trilogia que não deveria existir. Uma aventura de grandes proporções, super produção de milhões de dólares que não oferece o básico: emoção. A trama não passa de repetição emoldurada por um roteiro fraco e mau aproveitamento dos poucos bons nomes constantes do elenco.
O protagonista, Martin Freeman, é um dos atores mais inexpressivos dos últimos tempos; ele jamais possuirá a empatia do seu similar Frodo de O SENHOR DOS ANÉIS. A história é completamente inverossímil e nada empolgante. Nunca foi tão fácil destruir um dragão assombroso como neste filme. Que coisa mais previsível...
Com longa duração, nos deixando ainda mais cansados, o roteiro se perde numa fantasia desmesurada, sem nenhuma boa atuação de quem quer que seja, em detrimento das péssimas interpretações, que estão todas lá. O excesso de batalhas previsíveis causa sono intenso.
De interessante só mesmo os efeitos visuais e a trilha sonora – como não poderia deixar de ser. Uma saga completamente dispensável a qual não consegue em momento algum envolver o espectador. Tremenda perda de tempo.
Boa Sorte
3.6 438Com inúmeros papéis ao longo de sua carreira iniciada ainda na infância, Deborah Secco é indiscutivelmente uma atriz talentosa. Ela é a força motriz deste filme, cuja trama apresenta um mundo no qual as pessoas sequer olham mais umas para as outras, hábito recorrente nos tempos atuais. Dividindo a cena com um ator fraco, apesar da boa sintonia entre os dois intérpretes, vivenciamos o drama do ser/sentir-se invisível, onde um rapaz é completamente desprezado pela família e pela sociedade em que vive, levando-o assim ao vício em remédios, e onde uma mulher sem laços afetivos e sem amor próprio leva uma vida de imprudências e acaba sendo castigada por uma doença fatal.
Tudo nos conduz ao significado da decadência: moral, familiar, amorosa, estrutural e principalmente social. Uma existência sem amor, sem princípios, onde as pessoas não estão interessadas em saber do outro, nem muito menos em como se sentem. A clínica em que os personagens estão internados é o símbolo máximo do declínio a que um ser humano renegado pode experimentar: um lugar fétido, sujo, desgastado.
A produção peca pela ausência da trilha sonora, que surge com maior intensidade apenas no final, tornando alguns momentos não tão cativantes quanto poderiam. O personagem de Deborah é mal construído, havendo diversos detalhes a respeito da vida da moça deixados de lado. A proposta gráfica é simpática e atrativa.
O roteiro é cheio de falhas, mas a mensagem transmitida é memorável: num mundo cada vez mais mesquinho e repleto de interesses muitas vezes inconfessáveis, percebemos e sentimos a solidão que vez por outra - e para alguns quase sempre – irrompe em todos nós. Pelo seu cárater sensível, envolvente, reflexivo, crítico e de ainda por cima mexer com os nossos sentimentos, BOA SORTE vale ser visto.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraQuais são os limites éticos da exploração espacial? Com a destruição maciça dos nossos recursos naturais, por quanto tempo ainda a Terra irá suportar abrigar a vida humana? Existirá algum planeta apto a nos receber, e em caso positivo, como chegaremos até lá? Vale a pena abrir mão da família e até mesmo da própria existência pela remota possibilidade de salvação do futuro da raça humana?
Essas e outras questões cruciais a respeito da nossa sobrevivência são debatidas e levadas ao extremo no mais recente trabalho de um dos maiores cineastas dos últimos anos: Christopher Nolan. Protagonizado pelo ator do momento, a trama é um misto de ficção científica, drama e aventura que nos deixa bastante apreensivos, tamanho os fatos preocupantes ocorridos em sua extensa duração.
O tema da exploração espacial, da destruição do planeta Terra, da possível existência de vida em outras galáxias sempre fascina, como tudo o que é desconhecido. Com teorias que abordam os famosos buracos negros, o espaço tempo, dentre outros assuntos inquietantes, INTERESTELLAR alcança o mérito de prender a atenção por longas 3h e ainda nos faz refletir sobre a história dias após tê-la assistido. O lado melodramático também merece destaque; a separação entre a família retratada e os momentos não vividos pelos seus membros são acontecimentos angustiantes.
Matthew McConaughey foi uma escolha acertada para protagonizar a produção, assim como o elenco secundário, que não faz feio. Enfim uma obra que nos obriga a raciocinar, dada a complexidade e infinidade de eventos. Após o término da sessão, não conseguimos mais olhar para o céu da mesma maneira e muito menos de forma tranquila. Grande filme!
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraHistórias que nos desafiem, que causem dúvida, que nos confundam, com acontecimentos que não saem da nossa mente por determinado período são as que merecem ser reconhecidas como bons filmes. As produções realizadas pelo diretor David Fincher enquadram-se bem nessa categoria, daí a expectativa causada a cada lançamento. Fincher, é claro, não decepciona, e em GAROTA EXEMPLAR entrega mais um bom trabalho ao público de cinema.
A confusão que se dá na nossa mente é imediata: afinal, quem é o vilão? O marido infiel e interesseiro ou a esposa com seu suspeito ar de perfeição? A trama aborda diversas polêmicas desse e de outros tempos: casal aparentemente perfeito que vive às turras; poder da mídia na desconstrução da imagem das pessoas, a hipocrisia da vida sob a luz dos holofotes, infidelidade conjugal, relações baseadas em interesse financeiro (algo tão comum ontem, hoje e sempre), paixões não correspondidas, etc., mas, entre tantos assuntos significativos abordados, o mais considerável é o uso da inteligência a serviço do mal, da beleza e sensualidade empregadas no intuito de arruinar o outro e do crime sem castigo.
Rosamund Pike transmuta-se de mulher perfeita à vilã assustadora em dois tempos e até seu olhar nos amedronta. Não há como negar que o filme é dela. A carinha de boa moça de sua personagem gradativamente se desfaz, na medida em que testemunhamos suas artimanhas. Desfaz-se também a vida tranquila de seu marido, quando retratado pelos programas sensacionalistas de TV, que tratam de depreciá-lo a todo custo.
Por possuir roteiro complexo, os diálogos exigem atenção; há inúmeras idas e vindas e diversas falas fúteis, rápidas e desnecessárias, principalmente na 1ª metade. Pura encheção de linguiça no intuito de alongar a narrativa. Faço uma ressalva também no que diz respeito ao nível de suspense, que considerei irrisório. Esperava maiores mistérios, alguns sustos e mais do que apenas uma surpresa reveladora, mas minha expectativa não se confirmou. Quando o verdadeiro vilão se revela, tudo nos é entregue de forma mastigada, renunciando, ao menos em seu desfecho, à característica de “filme feito pra pensar”.
Independente desse deslize, GAROTA EXEMPLAR é uma história que não se consegue esquecer, sem sombra de dúvida. Recomendo!
Era Uma Vez em Nova York
3.5 295 Assista AgoraTHE IMMIGRANT não passa de uma promessa. Promete uma grande história, boas atuações e uma trama marcante. É um drama de época com todos os elementos para ser notável, mas que não alcança esse objetivo. Com boa fotografia, direção de arte, elenco de ponta e competentes interpretações, o roteiro deixou muito a desejar. Joaquin Phoenix e Marion Cotillard carregam o filme nas costas, e o fazem muito bem, mas o enredo não ajuda. As agruras de uma imigrante no país conhecido como sendo “das oportunidades” chocam e prendem a atenção, mas não são suficientes para nos fazer sofrer junto com a protagonista. As ocasiões em que ela necessita vender seu corpo para obter algum dinheiro são mal exploradas, fazendo com que o público apenas imagine o que possa acontecer. Em diversas cenas, Marion Cotillard mais parece uma atriz mexicana que só sabe chorar. Nem a beleza sutil da francesa foi bem aproveitada, assim como a doença de sua irmã e a insinuação do romance com um mágico. Fatos que poderiam ter sido grandiosos e interessantes foram mal trabalhados. THE IMMIGRANT é filme pra ser visto apenas uma vez. Seu desfecho é o ápice da decepção de uma obra que parecia promissora. Esperava mais...
Transcendence: A Revolução
3.2 1,1K Assista AgoraCom ritmo lento, a trama oscila entre altos e baixos e o resultado final é negativo. Sua premissa é interessante, e imagina-se que parte das idéias mostradas são passíveis de um dia chegarem a existir, devido ao avanço a passos largos da tecnologia atual. Como do meio para o fim a trama resvala em inúmeras mentiras, fantasias e ilusões, não conseguimos mais levá-la a sério. O elenco é de primeira, mas atua no piloto automático. A presença de Johnny Depp não é suficiente para que se mantenha o interesse pela história. Morgan Freeman está subaproveitado e os demais personagens não empolgam. Enfim, TRANSCENDENCE é uma ficção que prometia, e que acabou deixando a desejar. O final é um fiasco e estraga de uma vez por todas o que já não ia muito bem. Para quem possui a curiosidade em saber como as máquinas poderiam salvar o mundo, ressuscitar os mortos, curar os doentes e deixar as pessoas cada vez mais sem personalidade, com seus comportamentos robóticos, vale uma olhada. Houvesse um melhor roteiro e um pouco menos de fantasias absurdas, poderia ter sido melhor.
O Homem Duplicado
3.7 1,8K Assista AgoraNuma mistura de suspense e realismo fantástico, esse filme de pequena duração, mesmo com seus longos silêncios e pobreza de roteiro, prende a atenção. Jake Gylenhaal, um ator que cresce a cada atuação, domina seus dois papéis satisfatoriamente. Ficamos realmente perdidos em determinados momentos, sem saber quem é um ou outro personagem, dada a confusão de identidade entre eles. A possibilidade remota de existir alguém igualzinho a qualquer um de nós vagando por aí é algo que assusta e muito. Com pitadas de sexo, atmosfera sombria, enigmas e muita tensão, não é filme para todos, tendo em vista que poucos conseguirão entender seu significado. Mais uma obra bem sucedida adaptada do legado do gênio Saramago, e como tudo que diz respeito a esse ótimo escritor, não deve jamais ser ignorada. Por sair da mesmice das bobagens atuais, este é um trabalho considerável do sempre competente diretor canadense Denis Villeneuve.
Praia do Futuro
3.4 935 Assista AgoraNessa co-produção Brasil-Alemanha, o que não falta são cenas de mau gosto, apelação sexual explícita, experimentalismo tão estranho a um filme que se pretende comercial, desfile de nus masculinos, ausência de diálogos, tomadas longas, falta de sincronia entre os acontecimentos, o cansaço causado ao espectador diante de uma produção interminável e o detalhe mais gritante de todos: o desperdício de talento do melhor ator cinematográfico do Brasil atualmente: Wagner Moura, que deixa aqui uma nódoa em sua brilhante carreira.
O filme é, em sua totalidade, uma obra deprimente que engana o público desde o início. Os desavisados pensam tratar-se de um conflito existencial de um salva vidas que fracassa pela 1ª vez em sua função, mas, em vez disso, o que vemos é uma sequência exagerada de cenas de sexo gay permeadas por outras de corrida de moto e de natação, um quase pornô esportivo numa sucessão infinita e exaustiva de episódios sem sentido. Em diversos momentos percebemos não haver continuidade lógica entre as situações apresentadas, denotando um trabalho amadorístico.
Nunca foi tão fácil, em um país subdesenvolvido como o nosso, pessoas de classe baixa viajarem para um país europeu e lá se estabelecerem sem ocupação definida, sem dinheiro e sem o domínio do idioma alemão, uma língua de tão árduo aprendizado. Mas no mundo fantasioso do diretor cearense Karim Ainouz isso não passa de detalhe. O importante é mostrar um ator renomado fazendo sexo loucamente com um charmoso e másculo alemão no intuito de garantir bons números na bilheteria e boca a boca perante o público. É justamente o boca a boca que fará dos números desse filme um desastre, devido à opinião unânime dos estarrecidos espectadores de que PRAIA DO FUTURO é mais um exemplar de um lixo cinematográfico genuinamente nacional.
Se há algo que podemos salvar neste entretenimento de má qualidade, só mesmo a fotografia, que intercala as belezas naturais cearenses com a atmosfera carregada, escura e depressiva de uma Berlim coberta de névoa, tristeza e solidão. Nesse ambiente angustiante o protagonista se encontra como pessoa e é nele que decide viver, à custa do abandono de sua família e de seu país natal. É desse romance homossexual meia boca que trata esta narrativa.
Se toda unanimidade é burra, como dizia Nelson Rodrigues, no caso de PRAIA DO FUTURO a mesma mostrou-se bem esperta quando resolveu menosprezá-lo, e burro mesmo é quem, após tantas críticas negativas, ainda se submeter à perda de 110 valorosos minutos apreciando algo tão ruim. Simplesmente horrível!