Assisti ontem ao filme francês " Quand on a 17 ans" do diretor André Téchiné. Com exibição no festival de Berlim 2016 e no Festival Mix Brasil (de diversidade) de São Paulo e vencedor do prêmio do Juri no Festival Outfest, este filme me cativou por abordar a descoberta e aceitação sexual contrapondo-a com relações de luto e construção familiar. Ao contrario do que li por aí, o filme não se perde entre ser um filme LGBT (com protagonismo gay) e a discussão de tratar nossas relações com o luto. O filme na verdade faz uma analogia mesclando os dois temas para falar sobre como é abrir-se para ser quem se é. Explico: Talvez para quem não tenha vivencia LGBT (não seja LGBT), não perceba que o ato de aceitar-se e descobrir-se não é tão simples como parece mesmo hoje em dia. E não falo sobre somente discriminação social. Falo de identidade. A construção que a sociedade e nós mesmos fazemos sobre a sexualidade 'padrão' é tal que o momento de descoberta e aceitação é como um rompimento com a própria vida física que conhecemos ate então. O ato de assumir-se LGBT e de aceitar-se LGBT é por tanto sim um ato de morte. De deixar morrer algo que foi obrigado por si mesmo ou por influencias externas a ser, e apos essa morte, deixar nascer seu verdadeiro jeito e maneira de ser. O filme contrapõe esses dois conceitos perfeitamente de maneira simbólico claro, ao conduzir a trama entre um suposto odio, uma suposta inadequação, uma morte e seu luto, e uma gravidez e seu nascimento. Tudo alegoria para mostrar de maneira externa o interior da condição identitária daqueles dois garotos. sinopse: Damien é filho de um soldado e mora em um quartel francês junto com a mãe e um médico, enquanto o pai foi enviado para a África Central. Damien é homossexual e não se dá bem com um outro garoto do colégio, Tom, cuja mãe está doente. A repulsa e violência entre os dois só aumentam quando a mãe de Damien decide acolher Tom em sua casa. Já esta 'disponível' em sites de download pela Net ^^
Definitivamente não sei lidar com finais. De nenhum modo. Não entendi ate agora esses últimos episódios. Mas, compreendi a intenção. E funcionou. Ando aprendendo que nada ocorre por acaso. Que pessoas, coisas, fatos, ideias surgem em nossas vidas não por coincidência ou destino, mas pq a vida usa isso pra nos mostrar algo que estamos deixando passar ou negligenciando. Coisas que precisamos lidar. Quando lembrei dessa série, estava desesperado. Um limbo interno. E de repente me enxerguei em cada frase, em cada personagem, principalmente o trio central Ben, Felicity e Noel. Seus dramas, erros, medos, escolhas. Pra agora no final, entender que não sou eles. Mas, isso é o que essa serie me fez, me fazer enxergar atraves de sua ficção minhas realidades. Já ficará marcada como uma daquelas mais que especiais. Cheia de sofrimento e graça mas, repleta de significados por isso mesmo. Uma das frases finais diz que é assustador completar ciclos, que é assustador encerrar as coisas. Principalmente quando nos apegamos a algo tão afincamente. Mas, é necessário. Somente o final de algo pode trazer novos começos. E talvez seja meu momento de recomeçar com este fim.
aquele filme de meio de tarde de domingo... (A duvida: Alex ou Brad? Eu acho que eu... =X) #fofo
(no mais: a netflix pecou feio haha o filme não tem abordagem LGBT, o que ela possui e bem de leve é uma abordagem homoafetiva. Que nenhuma relação possui com sexualidade, por tanto nada tem a ver com LGBT's. Os protagonistas possuem uma ligação de afeto que é fora dos padrões machistas 'permitidos' para os homens. Hoje em dia isso caiu por terra claro. Mas só isso.)
quanto a forma da sociedade ali próxima e mesmo distante lidar com a sexualidade deles, na escola, e os próprios pais. Se atualmente com tanta informação e desconstrução já é complicado ser quem se é, imagine na década de 70 para 80. E principalmente o como as pessoas lidavam com o medo da AIDS e do vírus HIV, onde àquela época tal sorologia sempre culminava na doença e que na maioria das vezes matava. (Hoje, felizmente é 'apenas' mais uma característica de quem convive com tal sorologia, Mas, achei essa abordagem rasa na construção do inicio do filme.
Uma hora e quinze minutos depois: "Socorro, como pára de chorar? "
assisti esses dias 'Convergente' - parte 1, da serie de filmes 'Divergente' composta por três livros e ate agora, serão quatro filmes (Divergente, Insurgente, Convergente (parte 1 e 2 - esta que recebera o subtitulo de Ascendente programada pra estrear direto em DVD em 2017). Dirigido por Robert Schwentke esse filme é uma tragedia. Se o primeiro filme - dirigido por Neil Burger - demonstrava um potencial enorme de desenvolver uma analogia com construções sociais, lidando com discriminações a minorias, mazelas politicas e ideológicas; do segundo filme ate esse terceiro, tudo foi caindo por terra, sendo esse ultimo, o mais dispensável. E nem falarei de qualidades ou defeitos técnicos como a fotografia artificial e sem coerência narrativa nenhuma, ou da inabilidade de direção em estabelecer seu espaço fílmico, bem como estabelecer uma linha de raciocínio cinematográfico minimo, mas falo mesmo em termos de motivações, resoluções, de diálogos, de roteiro enfim, que não se sustentam diante daquela vastidão de oportunidades que possuem. A produção ate pode ter tido problemas com grana nesses anos, mas se o roteiro se sustentasse, nada disso importaria como um todo, ate pq os efeitos visuais/especiais são o que menos importam naquela trajetória, o que é interessante na serie, pelo que haviam proposto la em seu primeiro filme era o desenvolvimento humano tanto individual quanto do coletivo naquela distopia em reflexo a nossa realidade (algo que Jogos Vorazes e mesmo Harry Potter, fizeram tão genialmente bem). Desperdiçando ótimos atores (ate agora to me perguntando o que raios a Kate Winslet, Naomi Watts e mesmo o Jeff Daniels fizeram aceitando fazer parte disso), o filme ainda consegue não sustentar-se como gênero, já que se perde entre uma ação e outra, sem de fato conseguir definir qual o proposito ou urgência daquilo tudo. Uma Pena. Ps: Não li os livros, assim deixo claro que as falhas apontadas não são sobre a trama original/base, afinal esta como disse era bem interessante no primeiro filme, por sua intenção; mas sim exclusivamente sobre os filmes.
De duas, uma: ou eu vou sucumbir a loucura de vez, ou virar phd em física quântica e seus derivados científicos.
Dirigido por Christopher Smith, 'Triangle' - que em português veio sob o titulo de "Triangulo do Medo" -, é mais um filme que lida com o psicológico. Engatado em teorias de física quântica como a teoria das cordas por exemplo, mas de maneira massificada, o filme se sai extremamente bem ao nos conduzir por um emaranhado de teorias e possibilidades infindáveis, sem perder o foco nunca.
Jess é uma garçonete solteira, mãe de um filho autista. Um da, um de seus clientes que esta interessada nela, a convida para um passeio m um veleiro com mais quatro amigos. No entanto, Jess no dia de embarcar chega ao porto um pouco inquieta e introspectiva. Em alto mar, uma tempestade inesperada faz com que os seis naufraguem. Eis que surge um navio - transatlântico - que para pra salva-los. No entanto, Jess assim que embarca, começa a ter a sensação de que já esteve ali antes. Enquanto isso, os seis começam a achar que o navio esta incoerentemente abandonado. Eis quando surge um misterioso atirador de mascara...
Com essa premissa simples e ate mesmo batida dos gêneros de terror/suspense, o filme poderia facilmente ser confundido como um suspense de terror sobrenatural calcado nos famigerados navios fantasmas. No entanto, a proposta aqui é outra. Amparado pela mitologia de Aeolus e Sisifo, o roteiro produz uma especie de labirinto infindável e cíclico onde cada passo dá entrada a um beco sem saída ou continua novo. O terror esta muito mais na realidade sufocante apresentada do que em sustos ou terrores terrenos.
Com Michael Dorman, Liam Hemsworth e estrelando Melissa George. a produção possui uma dinâmica formidável e uma montagem certeira, que dá o tom e ritmo correto para uma produção desse nível. Mesmo as repetições - rimas visuais - que surgem tem seu proposito cinematográfico de nos manter interessados e com a pulga atras da orelha tentando desvendar aquele mistério e mais que isso. Tentando desvendar uma forma de solucionar os problemas ali propostos. Abaixo tento explicar o sentido da trama, já que notei muitos confusos com os acontecimentos.
Num filme como este - tal qual o excelente Coherence, o instigante Primer, ou mesmo o clássico Donnie Darko - os detalhes são fundamentais para compreensão do quebra cabeça. Não que estes queiram fornecer uma solução. O final 'aberto' onde a teoria segue sendo teoria, ou seja, sem resolução e prova palpável é a máxima que os mantem sendo pontuais e genias. É diferente de pontas soltas. Pontas soltas ocorrem quando há falha no roteiro que deixa de concluir algum problema que propôs na narrativa. Aqui neste filme por exemplo, nós lidas com infindáveis possibilidades de tempo e espaço, e com estas realidades e ações e consequências. Assim, nem tudo deve ou pode ser fechado, mas sim deve-se manter aberto para diferentes interpretações. A que darei é uma das milhares possíveis com base no que observei.
O filme basicamente nos apresenta a teoria de que existem
vários mundos e realidades alternativas e paralelas a nossa. Incluindo uma dinâmica cíclica de tempo e espaço continuo. Ou seja: ele trata da possibilidade de que cada escolha que fazemos, cada rumo que seguimos, nos leva para uma resolução, cria uma realidade. No entanto ate que a gente faça essas escolhas, as possibilidades são infinitas - vc que esta lendo poderia não estar lendo, poderia estar lendo outro comentário, poderia não ter chegado ate aqui na leitura, poderia nem se quer chegar ate aqui. cada uma dessas escolhas voluntarias ou não, cria uma realidade própria. Mas, na proposta do filme, isso não anula as outras. É como se no universo que é infinito existissem infinitos planetas terra idênticos, nos quais existem infinitas versões de nós mesmos, mas em cada uma delas fizemos uma escolha diferente. Por tanto, são realidades diferentes.
No filme não fica claro onde o ciclo começa, afinal se ele lida com a máxima de que o universo é cíclico e infindável, por si só não existe presente passado e futuro de maneira palpável e temporal, por tanto estabelecer o começo daquele ciclo é bobagem.
Jess é uma mãe problemática. Que abusa fisicamente e psicologicamente de seu filho autista. Ela é raivosa e o agride algumas vezes, talvez não por ser má, mas pq a pressão de lidar com aquele filme autista sendo mãe solteira num emprego cansativo a deixe estressada Quem sabe. Fato é que o transatlântico é uma especie de elemento de roteiro para justificar a ruptura com as leis da física que garantem que uma realidade paralela não se choque com a outra - caso contrario nós poderíamos nos ver e interagir com nossos outros eus por ai sem parar. a tempestade trás o transatlântico e isso pq o filme tenta representar o mito de Aeolus, que diz o mito grego ter sido senhor dos ventos e dos mares que decidia o destino dos navegantes marítimos segundo seu humor e boa vontade. Assim podemos concluir que o fato 'dele' escolher aqueles seis amigos para entrar em seu looping eterno de terror seja apenas um capricho. É uma possibilidade. O transatlântico no entanto já é formato pelo mito de Sisifo, que consiste num homem que tentou enganar a morte, e como punição, a morte o condenou a eternamente rolar uma pedra redondo gigante e pesada para cima de uma montanha, no qual obviamente uma hora ele cansava e deixava a pedra rolar ladeira abaixo para ter que descer e continuar o ciclo sem fim. Percebem? O navio é a montanha cíclica, assim tudo que se passa ali esta fadado a se repetir continuamente pela eternidade. A Jess que acompanhamos no inicio do filme se confronta com essa 'maldição', e é a unica que tem o insight, feito deja vu. Suas eus permanecem a tanto tempo repetindo aquelas mortes e eventos que ela toma consciência disso antes mesmo de viver aquilo. (essa é a explicação enquanto ela esta dentro do navio) No entanto quando esta que acompanhamos é jogada no mar ela sai da repetição que o navio promove, e quebra o tempo e espaço daquela espaço físico do navio amaldiçoado. Assim ela retorna no tempo e ao chegar em casa percebe que tudo que ela fez ate ali foi consequência dela mesma. De uma outra ela que causou tudo. Ai que o filme mostra o por que isso ocorre com ela. Ela é Sisifo. Pois ao ver que causou a morte do filho, ela tenta conscientemente refazer seus passos para tentar alterar a realidade. ou seja, ela tenta enganar a morte. ela tenta evitar a morte do filho. E é castigada. No entanto quando ela cochila obviamente exausta pelas repetições constantes, ela esquece tudo que fez (na mitologia de Sisifo ocorre o mesmo, ele sabe que precisa levar a pedra para cima da montanha pq sabe q só ao chegar no topo sera liberto da maldição, mas quando a pedra cai ele esquece de toda a repetição e torna a tentar subir. O que garante o looping. ).
Para encerrar esse looping de realidades e tempo e espaço, talvez somente se Jess se matasse/suicídio, ou se ela escolhesse não embarcar no veleiro. Mas, ela jamais fara isso pq ela sempre tentara salvar o filho da morte. Ela mesma acaba causando sua própria maldição sem fim. O filme brinca com a ideia dos pássaros ali serem a representação da morte e do Senhor dos ventos. Vendo a maldição que produziram em parceria. Na cena dos corpos enfileirados de uma das minas no navio é possível ter ideia de quantas Jess no minimo existem naquele navio e la fora no mar.
Um filme instigante principalmente para o gênero. Com suas limitações técnicas ali e ali mas que de nada atrapalham de fato a experiencia. Recomendo.
[Atenção!!! Pode conter sugestão de spoiler ou de informações da trama ]
Dirigido por Thea Sharrock "Me Before You" - Como eu Era antes de Você - é um emaranhado de repetições e fórmulas de romances trágicos recorrentes no cinema "água com açúcar" que apesar disso é bem conduzido e encanta justamente pela leveza.
Baseado no Best seller de Jojo Moyers - que assume tbm o roteiro - o filme conta a história de Will (Sam Clafin) um play boy milionário que está a caminho de uma reunião importante na empresa de sua família. Num dia de chuva após deixar sua namorada dormindo, ele sofre um acidente - é atropelado por uma moto. O ocorrido o deixa tetraplégico (não há mais movimentos nenhum do pescoço pra baixo). Amargurado Will passa os dias solitário mesmo tendo a família ao lado. Até que sua mãe contrata Louise (Emília Clarke ) uma atrapalhada e peculiar ex garçonete desempregada que usa roupas extravagantes; para cuidar dele por seis meses. Assim que Will conhece "Lou" a vida de ambos passam por uma mudança. Envolvendo paixão e escolhas.
Longe de ficar na memória ou se aprofundar em questões muito sérias; o filme possui uma boa dinâmica entre seus atores centrais, e conta com personagens carismáticos e de fácil ligação. Talvez o que mais seja relevante aqui é a aproximação com a questão da eutanásia e do suicídio assistido. Tema ainda tão complexo e controverso na sociedade. Ainda mais pela polêmica que o livro e o filme como reflexo receberam das associações de direitos e bem estar de pessoas com deficiência ao redor do mundo. Que repudiam a aparente mensagem de que o desfecho da trama possa ser um desserviço as pessoas com tais realidades como as que são tetraplégicas. Um debate válido.
Pessoalmente e falando apenas como espectador e claro alguém sem a vivência da condição ali exposta, o filme fala muito mais do direito à escolha de cada um do que necessariamente da não escolha. (Mesmo que tenha que se reconhecer que nas linhas finais do roteiro eles utilizem a fala de que aquele caso de deficiência não possuía possibilidades o que é questionável fortemente quando não se generaliza o fato. Afinal quem disse que qualquer deficiência ou limitação de mobilidade deve ser empecilho pra algo?) Várias questões.
Como filme no entanto a produção é aquele mel morno gostosinho de ver. Fofo.
Ps: ainda não superei ver Neville Longbotton "pegando" a Khaleesi. É demais pra minha cabeça.
Mais uma serie original da Netflix, dirigido pelos irmãos Matt e Ross Duffer que pode ser classificada como um orgasmo latente aos fãs ou admiradores da década de 80.
Os Goonies, ET, Evil Dead, uma pegada de Poltergeist também (com direito ate a menininha parecida haha) me lembrou muito os filmes do John Carpenter também como O Enigma de Outro Mundo. Spielberg grita aqui.(sua fase boa ala ET - com direito ao mesmo barraco aos fundos da casa do Will, e até mesmo a icônica cena das bicicletas, mas com outro desfecho - e Contatos Imediatos de Terceiro Grau) com aquela vibe Alem da Imaginação, misturada com aspirações de Arquivo x e Stephen King. Trilha permeada por Bowie e The Clash para citar os mais evidentes. De Dungeons & Dragons a Senhor dos Anéis, brincadeiras de RPG e Star Wars e Star Trek. Sam Raimi não fica de fora com seu Evil Dead - em todas suas sequencias. Na direção de arte temos O Tubarão, Madonna, Millenium Falcon. Um emaranhado de referencias a cultura pop anos 80 (bebendo um pouco aqui e ali no final dos anos 70) onde a presença brilhante de Winona Ryder no elenco não é mero acaso, O que so reforça a nostalgia. No entanto não soa como copia ou repetição. Ainda que não haja nada de fato 'original'. A intenção é essa.
Desde a abertura a seus diálogos. Há muito de O Clube dos Cinco tbm e os filmes do John Hughes, no geral. É como se a Sessão da Tarde e o Cinema em Casa inteiro se fundissem numa trama nova e independente. (Há ate mesmo os clichês, há X Men.)
Toda a estrutura clássica esta lá. Grupo de jovens formado por uma amizade que rompe barreiras de esquisitos da escola: o líder, o engraçado, o cético, o sensível. O elemento sobrenatural. O monstro ou o problema. A menina perfeitinha que ama o popular da escola, que é seguido por babacas e patricinhas com sexualidade latente. O professor da escola nerd. Os pais que nunca sabem o que esta ocorrendo. A estrutura família americana de fachada. Os valentões. A conspiração governamental. A batalha de EUA contra os Russos. Ao contrario do que tenho lido, não acho que haja muito de Super 8 aqui. Por um único entendimento. Super 8 de JJ Abrans pretendia retomar os anos 80 pros anos 2000. Já Stranger Things é muito mais como uma revisita aquela década. Ha diferença entre as duas propostas.
Com os últimos episódios remetendo ate mesmo a Alien, a unica falha da serie talvez seja de ritmo. Isto é: são 8 episódios muito bem distribuídos em tempo de duração de cada episodio, mas que quando compilados, soam a partir do episodio 6 como uma especie de 'vamos enrolar um pouco a trama com assuntos e diálogos que não servem para muita coisa, para batermos a cota de duração da produção'' sabe? Claro, que os filmes dos anos 80 e 90 também sofriam do mesmo. E isso nunca importou. E o bem da verdade é que não importa fora da escala de analise técnica.
Palmas ao elenco que caiu como uma luva, como ja citada Winona renascendo diante de nós, onde somente a aparição dela em tela ja valeria qualquer coisa. Mas, o elenco infantil dá Show. Os quatro garotos - incluindo o que vive Will apesar de pouco tempo em tela - cumprem de forma primorosa a função de resgatar a inocência inteligente e de aventura cômica daquela juventude oitentista. Mas, minha consideração fica com a pequena expressiva Millie Bobby Brown que vive a hipnotizante Eleven. Com um quê de Natlie Portman em seus momentos frágeis e de Sigourney Weave em seus momentos mais "Jean Grey', a guria segura de forma convincente uma personagem trágica e intensa.
Seja pelo resgate, seja pela diversão ou emoção que trás, ou para os que não são da época, pela novidade de conhecerem uma das melhores décadas da cultura pop (a famosa minha época), a serie vale a pena. Muito. Grata surpresa.
Como nota, achei interessante como apesar do resgate oitentista, a concepção ideológica da trama é permeada de maneira bem velada com as atuais, se percebermos a força das mulheres aqui diante dos desafios que surgem, onde não ha 'a mocinha que é salva pelo mocinho'. Alias, pelo contrario. E ate mesmo a naturalidade que personagens negros surgem sem que sejam para estabelecer alivio cômico com sua etnia, ou ate mesmo a homossexualidade entrando no assunto de maneira orgânica, sem que seja tabu, foco ou exatamente demérito de nada. Ponto pra netflix mais uma vez.
Ia escrever sobre Procurando Dory, mas decidi que não. Só farei umas considerações e "colarei" um comentário que condiz com minha visão/análise do filme (com devidos créditos à pessoa que comentou). Sobre o enredo temos basicamente a mesma premissa de Procurando Nemo. Tanto em estrutura quanto em narrativa. As motivações são praticamente as mesmas com o PLUS que esse é um fã service escancarado. O que é bacana se considerarmos os 13 anos de espera por Dory. Tecnicamente falando da animação os gráficos e etc,temos a qualidade exemplar da Pixar de sempre. O que me incomodou no entanto é que apesar de funcionais e coerentes os flashbacks se mostraram demasiado cansativos . Assim como algumas piadas que em mim (pela minha relação atual com certas coisas) não produziram riso algum. O melhor do filme é sem dúvida nenhuma é a maneira que o roteiro exerce protagonismo e independência a personagens com algum tipo de deficiência seja ela qual for sem que o fato em si seja motivo para situações de emoção fáceis e forçadas. Se há emoção não é pela deficiência dos personagens. Se há dificuldades não é exatamente por isso tbm. E isso fica claro. Isso considerando que estamos falando falando de um filme infantil é essencial para a construção social e desconstrução de discriminações. Fora a representatividade evidente. Comentário de Gabriel Amorim que me contempla: "O filme fala sobre capacitismo e o arco dramático não é meramente encontrar a família da Dori, mas sim encontrar a si mesma, ou seja, a vida e desafios de pessoas com deficiências e seus percalços para viverem "normalmente" diante as suas diferenças. Marlin e Nemo podem até demasiados secundários, mas tem dois papéis importantíssimos. Marlin não tem deficiência (como um branco falar sobre negros, ou um homem falar sobre como ser mulher) sua experiência será sempre limitada pela empatia, nunca tendo vivido na pele. Desse modo, tende a ter resquícios de superproteção, ao mesmo tempo que acha irracionais certos pensamentos. Para essa mudança, entra em cena um dos momentos mais lindos do filme que é lição dada pelo Nemo. Assim como a Dori ele é deficiente, passou a vida sendo tratado com hiper-proteção ou como sendo incapaz, nesse momento ele ensina ao pai a aprofundar sua empatia e ver coisas que só quem tem uma deficiência seria capaz de ver. A Dori não faz as coisas "normais", pois ela é "diferente", e para conseguir viver precisa entender como comportar diante de seu problema e não seguir as regras ditadas "socialmente" como sendo as corretas. O fato de o lugar ser um hospital também é relegado 'por muitos.'. E principalmente, o arco do Hank é subestimado. Ele não se torna o raivoso de coração mole, tampouco era um raivoso unidimensional em seu início. Ele é um paciente com estresse pós-traumático, logo, com o auxílio da espontaneidade que somente a Dori possui, pode melhorar seu quadro. Repare que ele ainda possui toques, mesmo ao final. (...) Outro ponto lindíssimo é fala da mãe da Dori que já diz gostar do Marlin, com isso ela ilustra que ambos dividem as preocupações mostradas ao longo do filme como é a dedicação e os temores enfrentados pelos pais de pessoas com necessidades especiais. O fato de os pais da Dori, com a sua perda, morarem literalmente num oceano negro após a perda da filha ilustra muito bem o trauma que os pais também passam. Sem nunca esquecer!" Como um todo: gostei do filme, mas não sentiria necessidade de ver mais vezes. Mas, recomendo sim, principalmente pela nostalgia aos mais velhos ^^
Dirigido por Mike Cahill (''I Origins''), com Brit Marling ( "I Origins", "O Sistema"),"Another Earth" (A Outra Terra) é um filme sobre as fases da depressão amparados por uma especie de sci-fi tímido, mas eficiente no seu enfoque.
Rhoda é uma jovem inteligente que recentemente foi aceita no programa de astrofísica do MIT. Ao voltar para casa de carro após uma festa de comemoração pela conquista, ela descobre com o restante da humanidade a existência/aparecimento de um planeta idêntico a Terra orbitando bem próximo a nós. Por um descuido momentâneo, ela causa um acidente que mata a família de um professor de musica - sua esposa gravida e seu filho pequeno-. Ela é presa por quatro anos, e quando sai da cadeia descobre que o novo planeta é quase que um espelho da Terra. Tudo que existe aqui,existe lá, inclusive uma versão de todos nós, com mesmo nome e idade e aparência. Eles chamam o planeta de Terra 2. Desolada pelos erros, pela depressão e pela sensação de star perdida, Rhoda decide participar de um concurso que promete levar os primeiros humanos a essa nova Terra. Mas, antes ao descobrir que o professor que ela causou o acidente, sobreviveu e saiu do coma, ela pretende encontrar alguma forma de se desculpar com ele, enquanto reflete o que poderia ocorrer se pudêssemos ter uma segunda chance na vida.
O Filme lida muito mais com a máxima de podermos nos encontrar com nós mesmos e nos questionarmos quem somos, em empíricas filosóficas do que necessariamente sobre a ciência teórica de realidades paralelas. Temos aqui um drama com 'D" maiúsculo que em alguns de seus melhores momentos se assemelha a Melancolia de Lars Von Trier, pelos questionamentos que trabalha - claro que aqui de forma mais simples, mas não menos complexa em sentidos -; inclusive na semelhança da aparente influencia quase de energia e hipnose que o planeta exerce nas pessoas, conforme ele surge cada vez mais próximo da 'nossa' Terra. (em nenhum momento eles dizem que o planeta esta se aproximando, mas é visível sua grandeza cada dia mais evidente.) Amparado ainda por diálogos que envolvem ate mesmo o mito da Caverna de Platão, e a Teoria do Espelho Quebrado; a mise en scène do filme ainda é competente ao entender a metáfora que utiliza para ratar das mazelas emocionais da protagonista, ao em certo momento do filme - em seu terceiro ato - inundar as ruas em uma especie de Silent Hill. .
Possuindo uma fotografia azulada e cinzenta que não apenas existe para explicitar a aproximação do novo planeta em nosso céu mas também para caracterizar a monocromático sentimento de existência de sua protagonista diante dos erros e empecilhos da vida, o filme acerta em cheio ao mostrar em vários enquadramentos - como o do quarto da garota abraçada a seu próprio corpo semi nu, e o dela deitada completamente nua no gelo, as fases da depressão onde nosso próprio mundo deixa de fazer sentido, e tudo que precisamos sentir é o findar daquilo tudo. Numa especie de beco sem saída, onde não se tem espaço para retorno visível, a sensação de isolamento, inadequação, marasmo, inquietação e desespero tomam conta. Como pisar com uma pedra sobre a nuca sobre uma taca de vidro quebrado. A ideia de que qualquer movimento rasgara mais a pele dos pés q cedera sob o corpo pelo peso da pedra, e que estagnar também só estendera a dor dos cortes, onde nem mesmo a taça voltara a ser como era antes. Pois partiu.
Essas discussões com o plus da ideia de podermos talvez em algum lugar encontrar redenção conosco mesmo - únicos que poderiam nos entender plenamente - e descobrir quem somos, faz do filme um drama depressivo e eficiente, mas belo ao mesmo tempo pela trajetória daquelas duas vidas mostradas.
Com um orçamento de pouco mais de 50 mil dólares, e filmado em apenas 9 dias, esse longa tem sido conhecido desde sua estreia tímida em 2013 como um dos melhores thrillers sci-fi dos últimos 10 anos (outros se arriscam a dizer, que seja talvez desse novo seculo). O bem da verdade, é que Coherence é um deleite visual - por percebermos como que uma ideia suplanta a falta de orçamento -, de roteiro - onde o argumento vale por qualquer outra super produção hollywoodyana -, e que instiga justamente pela habilidade do diretor em criar uma tensão verossímil, mesmo diante da inverossimilhança possível - ou não - diante dos menos criveis as teorias quânticas, cientificas e etc etc.
A sinopse é simples: 8 amigos decidem se encontrar para uma reunião/jantar de confraternização para relembrar os velhos tempos. Durante o jantar, há um cometa chamado Miller que esta passando pela orbita da Terra. Entre as conversas os amigos relembram as noticias - a maioria infundada - de que pessoas acreditam que esse cometa e outros alteram certas coisas no planeta, como celulares que param de funcionar ou pessoas que alteram seu comportamento. Eis que ocorre um apagão em toda a vizinhança, e ao olharem pela janela para saber o que ocorreu, os amigos notam que ha apenas uma unica casa, a dois quarteirões de lá com luz. Apenas essa casa num amontoado de escuridão. Dois deles resolvem sair para pedir para usar o telefone dos moradores dessa residencia (pois um deles precisa falar urgentemente com o irmão). Ao voltarem, coisas estranhas começam a surgir.
Ele mescla dois conceitos básicos da ciência: A teoria do Multiverso e a teoria do Gato de Schrödinger, uma das mais famosas teorias acerca da incoerência e decoerência quântica.
O Multiverso versa sobre a teoria das cordas, estudos sobre a enigmática matéria escura e os resultados obtidos sobre a expansão crescente e sem retorno do nosso universo parecem exigir uma resposta que rompe com um paradigma fundamental - o universo é infinito e nele tudo está contido. A teoria do multiverso traz o sentido no nome: existiriam infindáveis universos numa espécie de queijo de energia quântica, onde bolhas se formam e somem sem parar. O nosso universo seria um deles. Resumindo: É a teoria de que existem milhares de universos. (o filme inclusive brinca com essa parte quando em certo momento um dos diálogos cita um pedaço de queijo e ketamina como aperitivo antes do jantar rsrs).
Já a base mais evidente do argumento do filme esta na teoria do Gato de Schrödinger ( Schrödinger foi um físico austriaco ganhador do Prêmio Nobel de Física e tido como um dos cientistas mais celebres do seculo XX), que consiste numa experiencia onde se coloca um gato imaginario dentro de uma caixa com um pote de veneno e fecha-o la dentro. A caixa onde seria feita a hipotética experiência de Schrödinger contém um recipiente com material radioativo e um contador Geiger, aparelho detector de radiação. Se esse material soltar partículas radioativas, o contador percebe sua presença e aciona um martelo, que, por sua vez, quebra um frasco de veneno De acordo com as leis da física quântica, a radioatividade pode se manifestar em forma de ondas ou de partículas - e uma partícula pode estar em dois lugares ao mesmo tempo! As ondas brancas desenhadas aqui representam as probabilidades de ocorrência dessa dupla realidade, quando, na mesma fração de segundo, o frasco de veneno quebra e não quebra Assim, teríamos duas possibilidades possíveis: a) Aqui o gato aparece vivo, porque, nessa versão da realidade, nada foi detectado pelo contador Geiger b) Aqui o gato surge morto, pois nessa outra versão do mesmo instante de tempo o contador Geiger detectou uma partícula e acionou o martelo. O veneno do frasco partido matou o bichano Seguindo o raciocínio de Schrödinger, as duas realidades aconteceriam simultaneamente e o gato estaria vivo e morto ao mesmo tempo até que a caixa fosse aberta. A presença de um observador acabaria com dualidade e ele só poderia ver ou um gato vivo ou um gato morto.
Simplificando, a teoria cujo o filme implica, é aquela famosa ideia de que existem vários universos e realidades coexistentes ao mesmo tempo/espaço e que nossas escolhas constantes alteram cada linha de realidade.
Dirigido por James Ward Byrkit (sua estreia na direção. Ele foi co-roteirista da animação ''Rango"), o filme brilha justamente por trazer esses conceitos de forma orgânica ao unir a ciência teórica, numa especie de experimento 'possível' através da desculpa de gancho de roteiro do cometa (que seria aqui a força inexplicável capaz de interferir nessas leis quânticas e físicas), mas usando isso para debater e refletir sobre as relações humanas e existenciais. Não importa muito a certo momento do filme como pode ser possível X ou Y situações, por que o que importa de fato são os pensamentos e atitudes daqueles 8 amigos diante daquelas milhares de possibilidades e situações apresentadas.
Todos os amigos ali, se reúnem depois de vários anos, cada um tendo uma escolha na vida que os levaram a vários caminhos diferentes. nem todos surgem satisfeitos com suas escolhas - como todos nós diariamente -. Quando esse lapso ocorre ali, cada ação altera uma realidade daquela dinâmica em diferentes espaços e tempos, mas altera também a dinâmica deles, com eles mesmos. Em certo momento uma das personagens diz que aquela experiencia poderia ser aquilo que todos nós humanos sempre no intimo queremos ao longo da vida: poder encontrar-se consigo mesmo em diferentes realidades de escolhas que não fez. Como eu estaria hoje se eu tivesse pegado o ônibus detrás e não aquele que veio antes? Como eu estaria se eu preferisse vir a pé ou de taxi? Como seria minha vida hoje se eu tivesse escolhido aquele outro curso, aquela outra roupa, ou simplesmente, acordado cinco minutos mais cedo? Ocorreria algo na minha vida, no meu caminho ate aqui diferente por causa dessa minima escolha que fiz? E se cada uma dessas possibilidades, desses 'eus' pudessem se encontrar num mesmo lugar e tempo e se confrontarem? Eu descobriria quem eu realmente sou em toda a vasta complexidade de facetas que somos?
Em vários momentos o filme me passou o clima da lendária serie Twilight Zone, de meados dos anos 50/60. Uma mescla de terror e suspense, com aplicações filosóficas, de desfecho surpreendente e instigante.
Apesar de parecer muito complexo, a dinâmica em si é simples, apos acompanhar o filme. basta prestar atenção nos detalhes que ele fornece - cada frase é essencial para o entendimento, por mais que na hora pareçam jogadas a esmo. Não são.
Eu pessoalmente só me enrolei de fato - e certeza que essa foi a intenção do diretor - com os 3 minutos finais do filme. Onde o conceito básico do experimento se choca com uma 'incoerência' do próprio sentido cientifico dele. Mas, que abraço outros conceitos possíveis, e por isso são teorias.
Um filme gigante como o tema que aborda, uma surpresa grata de estreia de um diretor que pretendo acompanhar e principalmente um alivio diante de tanta produção bilionária rasa por ai, que prova que uma ideia inteligente vale mais do que qualquer super câmera ou grande elenco famoso.
'Equals' - Iguais (mas que veio como 'quando te conheci) do diretor ''Drake Doremus'' e que percorreu os principais festivais de cinema do ano passado e desse ano (Incluindo o de TRIBECA). Com Kristen Stewart que definitivamente provou que não existe má atriz mas sim filmes fracos com atores mal dirigidos - que dá um show em tela, numa personagem intensa e complexa pela própria natureza da historia e o interessante Nicholas Hoult. O filme conta a historia de um mundo distópica, uma realidade onde a humanidade quase se destruiu por completo, e que se modificou em seu DNA para extinguir qualquer traço de sentimentos ou emoções. Sem amor, ou ódio, sem dor ou pena, sem emoções. Tudo que os humanos continuamente fazem e existem, é para descobrir os mistérios do universo em uma aparente harmonia enfim com o planeta, onde não é possível contato físico ou mesmo amizades. Ninguém sente nada. Porem, uma epidemia começa a assolar a todos, chamada de SDL. Essa epidemia é uma especie de erro genético que se desenvolve sem saber o como, nesses indivíduos devolvendo-lhes a natureza humana de sentir emoções e sensações. Os indivíduos com tal 'doença' começam um tratamento de inibição desses estágios, sem cura, ate que não seja mais possível controlar as emoções e eles sejam internados num ATRO, uma especie de clinica/prisão onde são submetidos a testes e experiencias com choques ate que acabam morrendo de exaustão ou se suicidam. Quem nunca sonhou com um mundo onde ninguém sentisse nada? Onde não houvesse ódio nem discriminação por raiva ou rancor, onde não se sofresse por amor, ansiedade ou depressão. Onde não se sentisse dor ou vontades.? Todos nós em algum momento ne? E o diretor de fotografia faz um trabalho excepcional de concepção desse mundo tão clean e padronizado, onde todos são iguais. O filme tem 3 referencias da literatura bem explicitas, mas que não revelarei pois estragaria seu desfecho. Nia e Silas (Kristen e Nicholas) são dois desses que pegam essa doença. Ele no inicio do estagio, e ela convivendo a vários meses fingindo ser 'normal'.. O que mais me cativou no filme é a reflexão obvia e benéfica que ele faz com discriminação e preconceitos, principalmente pra mim contra LGBTS (ainda que não haja casais LGBTS ou indivíduos tais), com racismos e discriminação com o HIV e soropositivos. A forma omo ele reflete o que nos torna humanos e como justamente isso que nos faz ser menos humanos em varias fases da vida em sociedade é brutal e curioso. A unica falha para mim é a aspiração a la Spielberg no ultimo ato onde o filme perde todo o controle racional e coeso que vinha exibindo ate ali, incluindo nas atuações genias dos protagonistas justamente por isso (atuar com olhares e gestos sabe? com um engolir em seco ou um apertar de mão), e parte para um apelo emocional obvio e descarado apenas para emocionar e entristecer. Mas, não tira o mérito da obra. recomendo.
'The Visit' - A Visita -. Dirigido pelo famigerado M. Night Shyamalan, este filme segue a linha da trajetória desse diretor pra mim ate agora. Para quem não sabe, ele é o diretor do genial "O Sexto Sentido", do interessante "A Vila", e "Corpo Fechado" e do desastroso 'A dama da Água" e do fraquíssimo "Fim dos Tempos" - nota para o mediano (pra mim) 'O Último Mestre do Ar '. Como descrevi pelas suas obras, Shyamalan tem uma característica de ou acertar em cheio ou errar brutalmente. O problema é que ainda não consegui decidir ou perceber qualé a dele como diretor. Pq ainda que haja já sua assinatura em todos os filmes descritos, - sua mise-en-scéne é marcante - ele tende a enveredar por caminhos tão distintos que é ate assustador constatar que O Sexto Sentido é do mesmo cara de a Dama da Água. Talvez por isso esse seu filme A Visita, que é uma especie de hibrido de found footage, surja como um ensaio sobre o próprio gênero. O filme não se leva a serio, e esse é o maior trunfo dele. Carregado de pontuais clichês e essenciais inovações, o diretor parece querer subverter o gênero que em essência deve mostrar tudo, para trazer sua linguagem mais semelhante a narrativa do suspense usual. Em certo momento a protagonista inclusive cita que ainda que esteja filmando um documentário, sua intenção é estabelecer a curiosidade do espectador pelo que esta ocorrendo fora do foco, do plano, do quadro e não o que ela esta mostrando em primeiro plano de fato. Essa fala simplifica a intenção clara do filme. - troca a point-and-shoot pela mise-en-scéne e arremata isso em algo orgânico através da metalinguagem.Meu maior problema é com o ultimo ato, onde as coisas começam a ir por um caminho um tanto arriscado e obviamente desastroso do ponto de vista estrutural. Incluindo construção de personagens. Mas, vale a assistida de qualquer forma. (ah, a sinopse do filme eu reescreveria: Dois irmãos - um menino de 13 e uma menina de 16) vivem com a mãe divorciada e que recentemente começou a namorar. O pai os abandonou deixando os dois e a mãe com alguns problemas psicológicos e emocionais. A mãe resolve economizar e fazer uma viagem de cruzeiro com o novo namorado durante uma semana e deixa as crianças com os avós. Avós esses que moram no interior e que ela não vê jamais, devido a uma misteriosa briga que levou-a a sair de casa, cujo o ocorrido ninguém jamais fala. Visando ser uma cineasta e ao mesmo tempo conseguir alguma redenção apara a mãe nessa briga familiar, a garota mais velha junto de seu irmão caçula- aspirante a rapper misógino) começam um documentário, contando a trajetória deles nessa semana com os avós. No entanto, ao chegarem lá e conhecerem os avós pela primeira vez, eis que coisas estranhas começam a ocorrer, e talvez tudo o que reste seja os registros da câmera dos garotos...)
Só uma coisa: Alguém mantenha esse diretor - Miguel Sapochnik (episódios 9 e 10 ) - definitivamente como diretor oficial dos episódios restantes POR FAVOR!
'Quando eu era jovem E com medo do mundo Minha mãe cantava uma canção pra mim Uma música que eu mantenho em um lugar sagrado Porque eu sei que minha vida não será longa Ela fala do lugar onde você vai Quando o seu tempo aqui na Terra acaba Um lindo lugar que chamamos de Céu É verdade?
Por favor, Deus, eu oro para que seja verdade! Porque uma vez que este lugar for o Céu na Terra Colinas verdes será tudo que se verá Mas agora é fuligem, aço e tijolos Por isso, se parece mais com o inferno para mim.
E cada dia traz mais e mais sofrimento E cada noite é o silêncio e medo E eu acordo ao som da sua voz Mas você não está aqui Por que não está aqui?
Então, agora eu me deito para dormir E Peço ao Senhor para ficar com a minha alma. Por favor, deixe-me morrer antes de acordar Para que o Senhor possa levar minha alma;
Então talvez eu possa finalmente encontrar você É a beleza do Paraíso! E você não vai cantar sobre morrer, mas sobre viver. Isso não seria bom? Isso não seria bom?''
(e eu to chorando ate agora inconsolável pq ainda não to sabendo lidar com o fim - mesmo aceitando que era a hora de ao menos a eterna Ms Ives encontrar sua redenção)
E chegamos ao final de uma das historias de terror e amor mais interessantes da TV. Penny Dreadful - cujo titulo alude à época que se vendiam pequenos contos de terror a bagatela de 1 penny - cerca de 1 centavo - para que fossem acessíveis à população mais carente - é antes de tudo uma historia sobre o horror e o amor de se viver e de se existir. De ser um ser neste mundo. Com uma espantosa inventividade de mesclar varias mitologias e lendas do horror e terror tais como Frankenstein, Drácula, Lobisomen, Vampiros, bruxas e ate mesmo Amonet - deusa egípcia -, Dorian Gray e Dr. Jekyll - de o Medico e O Monstro -, essa serie versava sobre a busca incessante de significado dentro do horror e beleza que é existir. Sem contudo perder a coesão e a verossimilhança, e principalmente o respeito ao ode as suas obras de referencias 'originais'. Ao longo de três temporadas e 27 episódios fomos apresentados a diversas facetas da humanidade e seus monstros, todos carregados por um paralelo a nossa realidade social e histórica, que faz jus ao por que de tais historias monstruosas nos promover fascínio por tantos seculos. Os monstros do cinema e da literatura e dos mitos e lendas sempre abrem questões que se assemelham ao nosso 'real'. Assim, é prazeroso notar como a serie conseguiu abordar o feminismo, machismos e o patriarcado, a fé e a religiosidade, a homossexualidade, as discriminações por etnias, raças e credos, e gêneros, e sexualidades, e padrões estéticos e classes sociais de maneira efusiva e quase linear, num ritmo que nunca se perdia entre seus universos - ainda que a um primeiro momento parecesse coisa demais para pouco espaço. Com personagens femininas marcantes e independentes, inclusive uma representação grata de uma travesti que não surge estereotipada ou apenas viabilizada pelas suas tragedias, mas forte e tal qual é: um ser; a serie encontrou seu eixo, base e alma em Eva Green. Alias, a fusão da referencia de Amunet e suas varias facetas e formas, com Vanessa Ives e todas suas inimagináveis camadas e pesos com a versatilidade e poder hipnotizantes de Eva Green formou aquele raro momento que vemos no cinema ou na TV onde a atriz e obra se fundem em algo que tende a sobreviver alem de sua própria obra. Penny Dreadful com o tempo pode ir perdendo a força, mas Vanessa Ives inevitavelmente se estendera como uma das coisas mais emblemáticas dos últimos tempos inclusive para seu gênero. Eva é Vanessa e Vanessa é Eva. Assim cremos e essa força é de um absurdo que só mesmo vendo e sentindo para entender. Ferida, arranhada, possuída, careca, aprisionada, alegre, amedrontada, assustadora, e ardente. Eva Green... só suspiros. Todo conto precisa ter um fim, e talvez como ressalva fique a sensação de que mesmo o núcleo de Vanessa merecia uma despedida mais demorada. Igual ao final, mas talvez com um pouco mais de tempo. Já abrindo o ultimo episodio com uma abertura temática com uma musica lamuriosa e linda, tal qual um réquiem como sua temporada foi, Penny Dreadful chega ao fim sem trair seu gênero e sua essência. Tal qual o terror e o amor, não poderia terminar de outra forma que não em sangue, dor, medo, tristeza e morte. Deixara saudades.
A Descoberta da Identidade negra, é algo tão poderoso e delicado, e ao mesmo tempo, tão complexo e complicado, que nem mesmo a descoberta de identidade sexual supera. Se entender negro, e mais que isso, se compreender negro, carrega uma serie de entendimentos, que remontam cada seculo da historia que seu sangue e sua pele, que sua raiz de cabelo possui.
Se no meio disso, acrescentar o empoderamento feminino, e a força identitária que isso possui, entre dor, sofrimento, duvidas, confusão, força, compreensão, e enfim resistência, se obtêm exatamente a postura que esse álbum visual da Beyoncé pretende. É a porta de ruptura entre o afastamento e a ligação que cada negro e negra passa por seu caminho.
O Álbum - Chamado ''Lemonade'', que faz analogia a época em que negros escravizados tomavam limonadas, acreditando que isso faria com que suas peles clareassem, e assim, não sofressem tanto racismo - possui 12 faixas sonoras, que possuem letras que vão desde superação de traições, difamações e idolatração a família, ate a ensejos políticos e sociais que remontam como referencias a historia dos negros - tanto norte americanos, quanto a origem africana -. E nisso se estende a sonoridade que vai desde o bom Country texano de berço - nada de Taylor Swift aqui -, ate mesmo o habitual rap, mas em tom mais agressivo e combatente que o Kendrick Lamar vem brindando recentemente.
Com participações de Kendrick Lamar e The Weeknd. Samples de Led Zeppelin, Animal Collective e uma versão de “Can not Get Used To Losing You”, de The Beat.
Mas, a força desse álbum esta na concepção visual que ele possui. Isso por que, ele trás uma carga de simbologia poderosa e forte de historia negra e feminina em cada frame que se propõe. Composto quase que absolutamente tanto na equipe técnica quanto nas pessoas que aparecem em tela, de pessoas negras, o 'filme' funciona como uma especie de jornada que passa por 11 selos distintos de resiliência de uma mulher - e o povo que ela carrega na ancestralidade, traída, machucada, e que na quase morte, obtêm passo a passo o caminho de retorno, onde se redescobre como é. Os capítulos passam pelos seguintes títulos/Temas:
Intuição Negação Raiva Apatia Vazio Prestação de Contas Reforma Ressurreição Esperança Redenção Formação
Esta ultima, que não é indicada no filme, mas que se completa, já que é a musica que fecha Álbum sonoro. É como se a Beyoncé que tanto - pessoalmente - faltava em representação para mim, quanto negro que sou, em ser um simbolo de resistência e empoderamento étnico, finalmente percebesse ou se levantasse, diante da importância que possui no mundo atual, e finalmente quisesse lutar junto aos seus - a nós -, em mostrar nossa historia, nossas características e cultura unica. Tomando para si seu legado. Legado de todos os negros e negras. E junto a isso, linkando para seu feminismo e de todas as mulheres em sua sororidade e embates.
A Beyoncé sexualizada, com musica para qualquer um rebolar ate o chão, a que fala sobre ser uma boa esposa ou mãe somente, dá lugar a uma outra mulher. Uma mulher que busca ali na natureza entre florestas, a água que limpa, o fogo que destrói, e o asfalto onde nossa sangue tanto já jorrou - inclusive nas terras de senzalas e valas - o eco de seu próprio DNA. Levantando enfim para assumir-se como é.
Um Álbum que eu como negro, precisava ver vindo dela. E que me deixa novamente em posição de voltar a admira-la plenamente e ama-la, e gritar: tamo Junto irmã. Tamo Junto!
Como ela mesma disse: "Meus ancestrais escravizados, tomavam limonada achando que isso iria embranquece-los. A mídia me deu limonada também, mas não adiantou."
Não adiantará nunca. Essa limonada para nós hj, é refresco doce. E aqueles que tentarem nos fazer tomar sob outro viés, perceberam que a eles, tudo que conseguirão é uma enxurrada acida e amarga.
Ps: A Faixa Daddy Lessons funciona muito bem para compilar essa característica em que ela mesclou a traição, a submissão, o subjulgamento do patriarcado machista às mulheres. Mais especificadamente às negras. Ela traça um paradoxo no texto confessional de introdução a música, entre a relação dela como mulher esposa. Como mulher filha. Logo, entre o marido e o pai nessa tênue linha de respeito e obrigação. De conquista e opressão. Tufo clamando pela ancestralidade ora espiritual, ora urbana.
Dirigido por Florian Gallenberger e estrelado por Emma Watson e Daniel Brühl, este filme consegue tecnicamente ser a mesma bagunça que a situação de sua produção - diretor alemão sobre a história do Chile com financiamento de um milionário de Luxemburgo, com atores ingleses; que foi pensado para estrear em grandes salas de cinema (devido as estrelas que o protagonizam ) mas, acabou indo direto para locação e venda -, mas consegue sim, passar a essência de um período tenebroso do Chile e facilmente adquirir assimilação com os espectadores brasileiros por estarem evidentemente vivendo algo parecido neste século.
O filme conta a história de Lena e Daniel - ela aeromoça e ele militante - dois jovens alemães que vivem a dois anos no Chile. Mas, o ano é 1973, época em que o Estado democrático do Chile se via a mercê de golpistas à eleição do presidente Salvador Allende, conhecido por seu povo como um governante de esquerda. Após sua queda, num golpe de Estado e Militar, foi implementada da noite pro dia uma ditadura militar comandada pelo ditador Augusto Pinochet. Assim, a população que militava contra esse regime foram presas e torturadas. Daniel é um deles, ao tentar fazer registros fotográficos desses abusos militares. Ele é levado até uma Colônia chamada Dignidad. Que é conhecida por anos como um retiro religioso. Mas, na verdade servia para todas as mazelas da ditadura, como torturas, abusos sexuais a menores e melhores e até mesmo como experiências mentais, com clara remanescência do nazismo. Lena, para tentar salvar seu namorado, se alista a essa seita da Colônia.
O filme tem uma história real e histórica magnífica e horrenda para a humanidade recente - tão parecida com a nossa brasileira - mas, prefere focar na relação de amor e devoção daquele casal de estrelas hollywoodianas do que nas vítimas daquele regime ditatorial. Com isso, não só se perde o sentido da trama, como ela ainda se apresenta rasa ao não conseguir construir e formar seus personagens - quem são? Da onde vieram? Por que estão ali? - nem mesmo suas ideologias são claras. Principalmente Daniel. Que não sabemos em quase duas horas de filme quem era de fato, por que militava. Por que estava no Chile e não em seu país. A impressão que fica é que o filme quis apostar tudo nos nomes dos atores para sustentar a história do que construir uma narrativa que fosse ao menos respeitosa com cada morte e cada violência sofrida ali. A começar pela língua. Numa mistura de sotaques estranhas, que descaracteriza o povo chilena em imagem e cultura. No entanto as atuações são ótimas. E a história também. Para quem nunca teve contato com esse período é um filme interessante para introduzir essa realidade. É chocante e de se fazer indignar constatar como a ditadura seja em qual país for, destruiu e destrói cada celular de humanidade que podemos ter. E como a democracia e o Estado de Direito são bens frágeis a mercê dessa sombra que sempre retorna. Como que a história sempre se repete. Sempre.
Sobre a real Colonia Dignidad:
Pedofilia, estupros, conivência com a ditadura, assassinatos, tortura e fraudes são apenas alguns dos crimes atribuídos aos cabeças da colônia alemã no Chile. Meio século depois, papel das autoridades continua obscuro. Colonia Dignidad foi batizada mais tarde de Villa Bavaria. O enclave de imigrantes alemães no sul do Chile denominado "Colonia Dignidad" foi fundado em 1961 pelo orientador de menores luterano Paul Schäfer. Dois anos antes, ele fugira da Alemanha, para escapar de acusações de abuso infantil.
Com a tomada do poder pelo ditador Augusto Pinochet, em 1973, a colônia passou a ser utilizada como centro de tortura pela polícia secreta chilena, a Dina. Mesmo após o retorno da democracia ao país, em 1990, a seita e suas práticas obscuras permaneceram longe dos olhos do resto do mundo.
Paul Schäfer morreu na prisão (ao qual foi condenado somente em 2004 - sendo preso em 2003 - à 33 anos de cárcere, por estupro, pedofilia de centenas de crianças, ocultação de cadáveres e tortura e contribuição com mazelas nazistas). Formalmente, a colônia foi reconhecida como entidade de interesse público: um hospital para a população rural da região lhe concedia um caráter social-beneficente. Somente com a fuga de Paul Schäfer, em 1997, a comunidade, mais tarde rebatizada oficialmente como "Villa Baviera", começou a se abrir e passou por mudanças abrangentes.
Ou seja: mesmo após as denúncias da funcionalidade da Colônia pro mundo, que virou um escândalo global, no Chile nada mudou, até a queda da ditadura é o restabelecimento da Democracia no País. A colônia funcionou por mais de 40 anos. Seus moradores se misturavam a vítimas do regime, com as crianças das mulheres ali estupradas, e que mais tarde, eram abusadas sexualmente também pelo pedófilo que as geria. Mesmo com o restabelecimento da democracia e com as investigações do período, os culpados só foram achados e presos e condenados decadas mais tarde. E assim como no Brasil, o país não reconhece como verdade as ocorrências ali. Em 2010 ainda há casos em aberto esperando julgamento e investigações. Detalhe: em 73 a Colônia já funcionava por mais de 30 anos pelo menos.
Assim, o filme não consegue ser nem mesmo a ponta do cabelo de tudo e toda a complexidade que a história possui. Pois se resumiu a um romance de superação de dois alemães avulsos e " bonzinhos" que tentaram alertar o mundo sobre o que ocorria ali. Nem de longe o filme merece ser visto como obra daquele período. Mas, funciona muito bem como introdução ao tema. A realidade. E como um alerta urgência para o que jogos políticos, de mídia e a força de um povo pode ter ministradas de forma perigosa.
Fica a dica!
Sobre o filme: Chile, 1973. Em meio ao golpe de estado que derrubou o presidente eleito Salvador Allende e possibilitou a ascensão do ditador Augusto Pinochet, as massas estão nas ruas protestando, entre eles um casal alemão, Lena (Emma Watson) e Daniel (Daniel Brühl). Quando o rapaz é levado pela polícia secreta de Pinochet, Lena procura por ele e descobre que seu amado está em um lugar chamado Colonia Dignidad, uma suposta missão de caridade dirigida por um pregador (Michael Nyqvist), só que na verdade é uma prisão de onde ninguém nunca escapou. A fim de encontrar Daniel, a moça decide se juntar ao culto religioso da Colonia.
"Deus é Amor. Nunca desrespeite Deus tendo vergonha do trabalho Dele. - 'Mas, como devo saber o que Deus quer? Fico perguntando a Ele dia após dia...' - 'E você já parou para escutar? Ou você só ficou ali falando?' Deus é Amor."
Que filme fofo!
Um típico filme de TV. Daqueles que não carece denotar qualidades ou defeitos técnicos, pois aqui não se aplicam a esse tipo de análise. Mas, que é gostoso de assistir pela mensagem que passa.
BlackBird é um filme independente dirigido por Patrick lan-Pok e conta a história de Randy. Um garoto negro, prestes a se formar no ensino medio, que tem dois melhores amigos - Crystal e Efrem - e vive com a mãe separada, que não consegue superar o desaparecimento da filha mais nova. Randy é gay. Mas não sabe, não aceita e crê que Deus, seu pastor e sua fé o abominam.
O filme lida essencialmente com religiosidade. Não a questionando, mas a abraçando aos que são cristãos, e mostrando como um jovem LGBT lida com sua identidade e sua fé, e todos em volta. O filme é uma Fofura só. Que mescla humor e até alguns momentos bem "toscos" e descontraídos para dar lições de fé e sabedoria , de tolerância e sobretudo amor, fraternal e familiar a despeito de que seres humanos aos olhos do Deus do amor os fez perfeitos e pecado é aqueles que tentam negar aquilo que Ele fez perfeito para ser como é.
Toda a comunidade é conservadora, e nem mesmo a naturalidade que seus amigos tem com o tema - eles fazem parte do coral da escola religiosa, e escolhem fazer Romeu e Julieto por exemplo - impedem que Randy sofra diariamente com seus desejos e afetos. Tudo massificado pela depressão e obsessão religiosa de sua mãe.
Tudo começa a mudar quando ele conhece Marshall, um companheiro de teatro. Assumidamente gay, que vai despertando em Randy uma libertação e real sentido do que a palavra significa na vida real, daquilo que ele e sua comunidade tanto lêem em suas bíblias.
Um filme bonito, daqueles de se ver com a família num dia de domingo, principalmente de acalento para aqueles que ainda estão nessa luta interna entre sua fé e ser quem se é.
O filme tem no elenco Isaiah Washington (que tbm é co-produtor) e Mo' nique ( que tbm é co-produtora executiva). (2014/2015)
Recomendo.
Ps:: Tem uma cena de sexo no filme. Semi nudes, mais indicativa do que exibicionista. Li ela de forma sugestiva e bem delicada, poética pelo ato. Mas, dependendo do nível conservador da família (como sugeri que fosse visto indiscriminadamente pelas famílias e etc) pode soar "desrespeitoso". Então fica o aviso. rsrs.
Em tempo: Alguém me trás um Marshall pfvr? Ou um Efrem?
Filho de Saul (Saul Fia), dirigido pelo estreante em longas metragens László Nemes - vencedor de dezenas de prêmios ao redor do mundo, incluindo aclamação pela critica em Cannes, Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, é mais um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, Sobre os horrores que os Judeus passaram e que levaram a mais de 6 milhões de assassinatos, entre torturas e crueldades que marcaram para sempre a historia humana. No entanto, essa obra que conta com roteiro de Clara Royer e do próprio László Nemes, se diferencia não só na proporção de tela que usa para contar essa historia - uma proporção de tela mais achatada, quadrado, sem muita possibilidade de profundidade de campo -, mas principalmente por escolher em diversos momentos brincar com a linguagem da projeção, usando a objetiva em primeira pessoa. Ou seja: ele não conta a historia de maneira contemplativa, como já vimos milhões de vezes no cinema mundial. Ele nos coloca como participantes daqueles horrores. E isso é genial.
Saul Ausländer (Géza Röhrig), é um judeu húngaro, membro do Sonderkommando - uma especie de ajudantes forçados dos alemães que eram diferenciados dos demais nos campos de concentração. Esses ajudantes, trabalhavam por alguns meses limpando e auxiliando nas mortes nas câmaras de gás, na queima de corpos e inclusive na limpeza de sangue, roupas, pertences e cinzas dessas vitimas. E mais tarde, quando não conseguissem mais trabalhar, eram mortos também. Nenhum deles fazia esse trabalho por que queriam. Eles eram obrigados. Os que 'aceitavam' o faziam como unica maneira de sobreviver mais um tempo diante daquilo tudo. Eram escravos.
Um dia, em meio a seus afazeres diários de limpeza de corpos, Saul avista um garoto que inexplicavelmente ainda respirava apos ser submetido a câmara de gás. Logo o garoto é morto asfixiado por um soldado alemão, e indicado para uma autopsia para descobrir o por que de ele não ter morrido com o gás. Como o nome do filme já diz, o garoto se trata do filho de Saul, ou ao menos, é o que aparenta, uma vez que o filme a todo momento nos deixa em duvida se o garoto era seu filho de fato, ou era em sentido figurado. Saul se sensibiliza pela morte do garoto diante de tantas mortes que já encarou e resolve travar uma verdadeira jornada para lhe conceder um funeral digno com todas as honrarias possíveis.
Assim acompanhamos por quase duas horas, alternando entre câmeras subjetivas e sempre em planos extremamente fechados e claustrofóbicos, Saul tentando recuperar o corpo antes da autopsia, Saul tentando encontrar um rabbino entre os judeus para fazer um funeral. Saul envolvido numa tentativa de fuga do centro de concentração. Nesse aspecto, o filme é exemplar em estabelecer a dinâmica que aquelas vitimas possuíam dia apos dia, hora apos hora, onde um simples espirro ou tropeço poderia ser a diferença entre mais um dia de vida e uma morte dolorosa e inesperada.
Sem trilha sonora, o filme se apresenta carregado e pesado. Mas, justamente por isso também, confuso em suas ações e um tanto monótomo ao perder constantemente o ritmo. Isso por que apesar de percebermos um vasto mundo ao redor ocorrendo ao redor de Saul, o filme nos obriga a acompanhar somente ele. Seus passos, sua respiração, seu caminho. Tudo que vemos é o que Saul vê, ou seria o que alguém que andasse com Saul veria. Isso limita propositalmente a compreensão dos fatos e sequencias das ações ali ocorridas. Isso é a proposta, de nos fazer ser uma daquelas vitimas e notar como era por diversas vezes confuso tudo o que eles faziam e cansativo. Se conceitualmente isso é exemplar, cinematograficamente falando é um deslize, pois acaba sendo um estudo de gênero que não permite aprofundar o espectador em caráter sentimental e emocional a tudo aquilo. Pois, se o que acompanhamos é a jornada de um suposto pai para enterrar seu filho morto, antes de ele também ser morto, nossa impressão de suas ações é a mesma de qualquer outro prisioneiro ali que visse essa jornada. Se estamos num campo de concentração onde a morte e a crueldade ja se tornou 'normalidade' e 'banalidade', se arriscar ainda mais para enterrar uma criança já morta como tantas outras antes e depois dela, soa quase estupido. Uma loucura.
Assim o interesse por aquela jornada, por mais tocante que seja, acaba se tornando enfadonha de acompanhar. Tendo um ato final, intencionalmente poético mas que não funciona por ser a hora errada de ser executado, o filme ainda assim é um retrato ambicioso e muito interessante de uma historia real da nossa humanidade que jamais sera esquecida, apagada ou justificada. Que jamais deixou de dor e que por isso mesmo, jamais sera deixada de ser repetida continuamente pelo cinema. Uma bela obra que mesmo diante de seus tropeços 'dinâmicos' vale a pena ser contemplado pela genialidade que se propõe a fazer.
Indo na contramão da maioria das continuações de seu gênero, este é muito bom.Um suspense crescente, com aquela tipica formula de nos prender pelos personagens e não pelas ações necessariamente. É continuação do found footage Cloverfield que para quem não sabe, é uma especie de subgenero já classicamente conhecido e destruído por franquias como Atividade Paranormal. Filmes que aludem a um falso documentário ou falso registro verídico e caseiro. No entanto o primeiro filme era exemplar na maneira que constroi-se e desenvolve esse subgenero. Faz da sugestão seu maior feito. Esse segundo no entanto, é um filme totalmente diferente, inclusive em genero. Este é um suspense de linguagem habitual, e que não depende do primeiro filme para ser entendível. Pelo contrario, é como se este pudesse ser um filme complementar ou paralelo. É uma historia independente. Direção de arte certeira, e ritmo que prende - por mais que quem curta suspenses do tipo, possam acha-lo previsível demais-.
"Hardcore Henry" é o filme mais louco, insano, surreal, e genial da vida. Parece ruim, mas é foda. Mas, aviso: não é um filme feito para todos os públicos, por um simples motivo - sua linguagem soa quase como experimental, ao passo que parece um hibrido surpreendente de Cinema com Game. Para os adeptos ao jogo Counter Strike, haverá uma identificação imediata. Dirigido pelo estreante Ilya Naishuller, e exibido na première do Festival de Toronto de 2015, o filme traz a seguinte sinopse:
O filme conta a historia de um Cyborg chamado henry. Não se sabe exatamente como ele foi ferido e nem como se transformou nesse humano meio maquina - Se relacionou com RoboCop, não raciocinou errado, mas também esta longe de acertar -. Fato é, que já somos apresentados a ele e sua trama, com ele acordando no laboratório sendo 'finalizado' por uma mulher que se apresenta como sua esposa. A partir daí, o laboratório é invadido, pessoas mortas e ele é obrigado a escapar e tentar encontrar sua aparente esposa Estelle (Haley Bennett), sequestrada por Akan, um guerreiro poderoso que aparenta também ser um Cyborg mas com uma especie de telecinese especifica que faz com que ele consiga mover objetos a distancia; que planeja utilizar a tecnologia de Henry para criar soldados a partir de bioengenharia.
O diferencial aqui e experimental esta no fato de que tudo isso nos é mostrado em primeira pessoa. Ou seja: a Câmera são os olhos do Henry. Jamais vemos nada alem da visão do henry. Se ele desmaia, desmaiamos junto. Se ele escuta, escutamos, se ele não escuta, não escutamos. É idêntico a ver gravações de GoPro e a jogar Games de simulação em primeira pessoa. Idêntico. Inclusive o filme estende isso de uma forma tão absurda e genial, que o filme ganha ares de jogo em uma especie de missão.Assim, Henry o herói, nosso player, surge passando por especies de fases. Ora como um sniper, ora tendo que escalar prédios, ora descobrindo objetos escondidos.
É notável inclusive como o designer de produção e principalmente o trabalho dos diretores de fotografia - são três diretores - conseguem empregar de forma verossimíl e eficiente essas mudanças de cenários. É surpreendente o espaço cênico adotado. Mas, talvez o que seja mais genial e digno de talvez estudos no futuro sobre linguagem cinematográfica, é a forma que se estabelece ritmo nesta narrativa que por sí só, já em teoria poderia surgir cansativa. Não é um found-footage. É alem. O universo diegético se estabelece bem mais - ironicamente - orgânico aqui. Num vídeo game nós estamos no comando das ações. Aqui, dependemos da vontade própria daquele personagem que nos leva consigo. Assim, mais que a linguagem, é importante que haja uma direção inventiva, um roteiro coeso e de apelo forte e claro, cenas de ação memoráveis do tipo em que mesmo cineastas fiquem cabreiros de como foi filmado e concebido.
Violência extrema em cada morte, conferindo aspectos quase artísticos a essas ainda que totalmente brutais e explicitas.
Ainda achando espaço para um humor sarcástico, o filme possui personagens chaves para conectar toda essa gama de informações na atenção do espectador.
Outro ponto curioso é que o protagonista não pronuncia uma unica palavra.
De fora, este filme pode parecer um filme ruim, um trash barato e sem noção. Mas, a verdade é que se trata de um jovem e surpreendente obra interessantíssima de experimentação e concepção de linguagem fílmica que mesmo tudo indo contra, deu certo.
Repito: Um filme insano, doido, talvez difícil de digerir e mergulhar, mas que vale cada uma de suas 'fases'
Ontem assisti "O Segredo da Cabana" e como é bom né?
Uma mistura de ficção distópica com terror, que faz referencias maravilhosas a clássicos do terror dos anos 70/80 como "The Evil Dead" por exemplo, mas que embala um discurso totalmente atual de critica a sociedade - característica, alias dos filmes de terror antigos, que hoje infelizmente se perdeu -.
Interessante, que ele surge quase como uma parodio, parecendo tirar sarro dos clichês próprio do gênero, mas faz isso com uma competência e segurança coesa, sem perder o foco da referencia em si, para não destoar num enlatado qualquer.
Quando Se Tem 17 Anos
3.8 72Assisti ontem ao filme francês " Quand on a 17 ans" do diretor André Téchiné.
Com exibição no festival de Berlim 2016 e no Festival Mix Brasil (de diversidade) de São Paulo e vencedor do prêmio do Juri no Festival Outfest, este filme me cativou por abordar a descoberta e aceitação sexual contrapondo-a com relações de luto e construção familiar.
Ao contrario do que li por aí, o filme não se perde entre ser um filme LGBT (com protagonismo gay) e a discussão de tratar nossas relações com o luto. O filme na verdade faz uma analogia mesclando os dois temas para falar sobre como é abrir-se para ser quem se é.
Explico: Talvez para quem não tenha vivencia LGBT (não seja LGBT), não perceba que o ato de aceitar-se e descobrir-se não é tão simples como parece mesmo hoje em dia. E não falo sobre somente discriminação social. Falo de identidade. A construção que a sociedade e nós mesmos fazemos sobre a sexualidade 'padrão' é tal que o momento de descoberta e aceitação é como um rompimento com a própria vida física que conhecemos ate então. O ato de assumir-se LGBT e de aceitar-se LGBT é por tanto sim um ato de morte. De deixar morrer algo que foi obrigado por si mesmo ou por influencias externas a ser, e apos essa morte, deixar nascer seu verdadeiro jeito e maneira de ser.
O filme contrapõe esses dois conceitos perfeitamente de maneira simbólico claro, ao conduzir a trama entre um suposto odio, uma suposta inadequação, uma morte e seu luto, e uma gravidez e seu nascimento.
Tudo alegoria para mostrar de maneira externa o interior da condição identitária daqueles dois garotos.
sinopse:
Damien é filho de um soldado e mora em um quartel francês junto com a mãe e um médico, enquanto o pai foi enviado para a África Central. Damien é homossexual e não se dá bem com um outro garoto do colégio, Tom, cuja mãe está doente. A repulsa e violência entre os dois só aumentam quando a mãe de Damien decide acolher Tom em sua casa.
Já esta 'disponível' em sites de download pela Net ^^
Felicity (4ª Temporada)
4.1 32Definitivamente não sei lidar com finais. De nenhum modo.
Não entendi ate agora esses últimos episódios. Mas, compreendi a intenção.
E funcionou.
Ando aprendendo que nada ocorre por acaso. Que pessoas, coisas, fatos, ideias surgem em nossas vidas não por coincidência ou destino, mas pq a vida usa isso pra nos mostrar algo que estamos deixando passar ou negligenciando. Coisas que precisamos lidar.
Quando lembrei dessa série, estava desesperado. Um limbo interno. E de repente me enxerguei em cada frase, em cada personagem, principalmente o trio central Ben, Felicity e Noel. Seus dramas, erros, medos, escolhas.
Pra agora no final, entender que não sou eles. Mas, isso é o que essa serie me fez, me fazer enxergar atraves de sua ficção minhas realidades.
Já ficará marcada como uma daquelas mais que especiais. Cheia de sofrimento e graça mas, repleta de significados por isso mesmo.
Uma das frases finais diz que é assustador completar ciclos, que é assustador encerrar as coisas. Principalmente quando nos apegamos a algo tão afincamente. Mas, é necessário.
Somente o final de algo pode trazer novos começos. E talvez seja meu momento de recomeçar com este fim.
Se Eu Tivesse Asas
3.5 33aquele filme de meio de tarde de domingo...
(A duvida: Alex ou Brad? Eu acho que eu... =X) #fofo
(no mais: a netflix pecou feio haha o filme não tem abordagem LGBT, o que ela possui e bem de leve é uma abordagem homoafetiva. Que nenhuma relação possui com sexualidade, por tanto nada tem a ver com LGBT's. Os protagonistas possuem uma ligação de afeto que é fora dos padrões machistas 'permitidos' para os homens. Hoje em dia isso caiu por terra claro. Mas só isso.)
O Amor é Para Todos
4.0 333Trinta primeiros minutos do filme: "nossa, que fora da realidade" -
quanto a forma da sociedade ali próxima e mesmo distante lidar com a sexualidade deles, na escola, e os próprios pais. Se atualmente com tanta informação e desconstrução já é complicado ser quem se é, imagine na década de 70 para 80. E principalmente o como as pessoas lidavam com o medo da AIDS e do vírus HIV, onde àquela época tal sorologia sempre culminava na doença e que na maioria das vezes matava. (Hoje, felizmente é 'apenas' mais uma característica de quem convive com tal sorologia, Mas, achei essa abordagem rasa na construção do inicio do filme.
Uma hora e quinze minutos depois:
"Socorro, como pára de chorar? "
#AlguemMeAbraca
A Série Divergente: Convergente
2.8 599 Assista Agoraassisti esses dias 'Convergente' - parte 1, da serie de filmes 'Divergente' composta por três livros e ate agora, serão quatro filmes (Divergente, Insurgente, Convergente (parte 1 e 2 - esta que recebera o subtitulo de Ascendente programada pra estrear direto em DVD em 2017). Dirigido por Robert Schwentke esse filme é uma tragedia.
Se o primeiro filme - dirigido por Neil Burger - demonstrava um potencial enorme de desenvolver uma analogia com construções sociais, lidando com discriminações a minorias, mazelas politicas e ideológicas; do segundo filme ate esse terceiro, tudo foi caindo por terra, sendo esse ultimo, o mais dispensável. E nem falarei de qualidades ou defeitos técnicos como a fotografia artificial e sem coerência narrativa nenhuma, ou da inabilidade de direção em estabelecer seu espaço fílmico, bem como estabelecer uma linha de raciocínio cinematográfico minimo, mas falo mesmo em termos de motivações, resoluções, de diálogos, de roteiro enfim, que não se sustentam diante daquela vastidão de oportunidades que possuem. A produção ate pode ter tido problemas com grana nesses anos, mas se o roteiro se sustentasse, nada disso importaria como um todo, ate pq os efeitos visuais/especiais são o que menos importam naquela trajetória, o que é interessante na serie, pelo que haviam proposto la em seu primeiro filme era o desenvolvimento humano tanto individual quanto do coletivo naquela distopia em reflexo a nossa realidade (algo que Jogos Vorazes e mesmo Harry Potter, fizeram tão genialmente bem).
Desperdiçando ótimos atores (ate agora to me perguntando o que raios a Kate Winslet, Naomi Watts e mesmo o Jeff Daniels fizeram aceitando fazer parte disso), o filme ainda consegue não sustentar-se como gênero, já que se perde entre uma ação e outra, sem de fato conseguir definir qual o proposito ou urgência daquilo tudo.
Uma Pena.
Ps: Não li os livros, assim deixo claro que as falhas apontadas não são sobre a trama original/base, afinal esta como disse era bem interessante no primeiro filme, por sua intenção; mas sim exclusivamente sobre os filmes.
Triângulo do Medo
3.5 1,3K Assista AgoraDe duas, uma: ou eu vou sucumbir a loucura de vez, ou virar phd em física quântica e seus derivados científicos.
Dirigido por Christopher Smith, 'Triangle' - que em português veio sob o titulo de "Triangulo do Medo" -, é mais um filme que lida com o psicológico. Engatado em teorias de física quântica como a teoria das cordas por exemplo, mas de maneira massificada, o filme se sai extremamente bem ao nos conduzir por um emaranhado de teorias e possibilidades infindáveis, sem perder o foco nunca.
Jess é uma garçonete solteira, mãe de um filho autista. Um da, um de seus clientes que esta interessada nela, a convida para um passeio m um veleiro com mais quatro amigos. No entanto, Jess no dia de embarcar chega ao porto um pouco inquieta e introspectiva. Em alto mar, uma tempestade inesperada faz com que os seis naufraguem. Eis que surge um navio - transatlântico - que para pra salva-los. No entanto, Jess assim que embarca, começa a ter a sensação de que já esteve ali antes. Enquanto isso, os seis começam a achar que o navio esta incoerentemente abandonado. Eis quando surge um misterioso atirador de mascara...
Com essa premissa simples e ate mesmo batida dos gêneros de terror/suspense, o filme poderia facilmente ser confundido como um suspense de terror sobrenatural calcado nos famigerados navios fantasmas. No entanto, a proposta aqui é outra. Amparado pela mitologia de Aeolus e Sisifo, o roteiro produz uma especie de labirinto infindável e cíclico onde cada passo dá entrada a um beco sem saída ou continua novo.
O terror esta muito mais na realidade sufocante apresentada do que em sustos ou terrores terrenos.
Com Michael Dorman, Liam Hemsworth e estrelando Melissa George. a produção possui uma dinâmica formidável e uma montagem certeira, que dá o tom e ritmo correto para uma produção desse nível. Mesmo as repetições - rimas visuais - que surgem tem seu proposito cinematográfico de nos manter interessados e com a pulga atras da orelha tentando desvendar aquele mistério e mais que isso. Tentando desvendar uma forma de solucionar os problemas ali propostos.
Abaixo tento explicar o sentido da trama, já que notei muitos confusos com os acontecimentos.
Num filme como este - tal qual o excelente Coherence, o instigante Primer, ou mesmo o clássico Donnie Darko - os detalhes são fundamentais para compreensão do quebra cabeça. Não que estes queiram fornecer uma solução. O final 'aberto' onde a teoria segue sendo teoria, ou seja, sem resolução e prova palpável é a máxima que os mantem sendo pontuais e genias. É diferente de pontas soltas. Pontas soltas ocorrem quando há falha no roteiro que deixa de concluir algum problema que propôs na narrativa. Aqui neste filme por exemplo, nós lidas com infindáveis possibilidades de tempo e espaço, e com estas realidades e ações e consequências. Assim, nem tudo deve ou pode ser fechado, mas sim deve-se manter aberto para diferentes interpretações. A que darei é uma das milhares possíveis com base no que observei.
O filme basicamente nos apresenta a teoria de que existem
vários mundos e realidades alternativas e paralelas a nossa. Incluindo uma dinâmica cíclica de tempo e espaço continuo. Ou seja: ele trata da possibilidade de que cada escolha que fazemos, cada rumo que seguimos, nos leva para uma resolução, cria uma realidade. No entanto ate que a gente faça essas escolhas, as possibilidades são infinitas - vc que esta lendo poderia não estar lendo, poderia estar lendo outro comentário, poderia não ter chegado ate aqui na leitura, poderia nem se quer chegar ate aqui. cada uma dessas escolhas voluntarias ou não, cria uma realidade própria. Mas, na proposta do filme, isso não anula as outras. É como se no universo que é infinito existissem infinitos planetas terra idênticos, nos quais existem infinitas versões de nós mesmos, mas em cada uma delas fizemos uma escolha diferente. Por tanto, são realidades diferentes.
No filme não fica claro onde o ciclo começa, afinal se ele lida com a máxima de que o universo é cíclico e infindável, por si só não existe presente passado e futuro de maneira palpável e temporal, por tanto estabelecer o começo daquele ciclo é bobagem.
Jess é uma mãe problemática. Que abusa fisicamente e psicologicamente de seu filho autista. Ela é raivosa e o agride algumas vezes, talvez não por ser má, mas pq a pressão de lidar com aquele filme autista sendo mãe solteira num emprego cansativo a deixe estressada Quem sabe.
Fato é que o transatlântico é uma especie de elemento de roteiro para justificar a ruptura com as leis da física que garantem que uma realidade paralela não se choque com a outra - caso contrario nós poderíamos nos ver e interagir com nossos outros eus por ai sem parar. a tempestade trás o transatlântico e isso pq o filme tenta representar o mito de Aeolus, que diz o mito grego ter sido senhor dos ventos e dos mares que decidia o destino dos navegantes marítimos segundo seu humor e boa vontade. Assim podemos concluir que o fato 'dele' escolher aqueles seis amigos para entrar em seu looping eterno de terror seja apenas um capricho. É uma possibilidade. O transatlântico no entanto já é formato pelo mito de Sisifo, que consiste num homem que tentou enganar a morte, e como punição, a morte o condenou a eternamente rolar uma pedra redondo gigante e pesada para cima de uma montanha, no qual obviamente uma hora ele cansava e deixava a pedra rolar ladeira abaixo para ter que descer e continuar o ciclo sem fim.
Percebem? O navio é a montanha cíclica, assim tudo que se passa ali esta fadado a se repetir continuamente pela eternidade.
A Jess que acompanhamos no inicio do filme se confronta com essa 'maldição', e é a unica que tem o insight, feito deja vu. Suas eus permanecem a tanto tempo repetindo aquelas mortes e eventos que ela toma consciência disso antes mesmo de viver aquilo. (essa é a explicação enquanto ela esta dentro do navio)
No entanto quando esta que acompanhamos é jogada no mar ela sai da repetição que o navio promove, e quebra o tempo e espaço daquela espaço físico do navio amaldiçoado. Assim ela retorna no tempo e ao chegar em casa percebe que tudo que ela fez ate ali foi consequência dela mesma. De uma outra ela que causou tudo. Ai que o filme mostra o por que isso ocorre com ela. Ela é Sisifo. Pois ao ver que causou a morte do filho, ela tenta conscientemente refazer seus passos para tentar alterar a realidade. ou seja, ela tenta enganar a morte. ela tenta evitar a morte do filho. E é castigada. No entanto quando ela cochila obviamente exausta pelas repetições constantes, ela esquece tudo que fez (na mitologia de Sisifo ocorre o mesmo, ele sabe que precisa levar a pedra para cima da montanha pq sabe q só ao chegar no topo sera liberto da maldição, mas quando a pedra cai ele esquece de toda a repetição e torna a tentar subir. O que garante o looping. ).
Para encerrar esse looping de realidades e tempo e espaço, talvez somente se Jess se matasse/suicídio, ou se ela escolhesse não embarcar no veleiro. Mas, ela jamais fara isso pq ela sempre tentara salvar o filho da morte. Ela mesma acaba causando sua própria maldição sem fim. O filme brinca com a ideia dos pássaros ali serem a representação da morte e do Senhor dos ventos. Vendo a maldição que produziram em parceria.
Na cena dos corpos enfileirados de uma das minas no navio é possível ter ideia de quantas Jess no minimo existem naquele navio e la fora no mar.
Um filme instigante principalmente para o gênero. Com suas limitações técnicas ali e ali mas que de nada atrapalham de fato a experiencia. Recomendo.
Como Eu Era Antes de Você
3.7 2,3K Assista Agora[Atenção!!! Pode conter sugestão de spoiler ou de informações da trama ]
Dirigido por Thea Sharrock "Me Before You" - Como eu Era antes de Você - é um emaranhado de repetições e fórmulas de romances trágicos recorrentes no cinema "água com açúcar" que apesar disso é bem conduzido e encanta justamente pela leveza.
Baseado no Best seller de Jojo Moyers - que assume tbm o roteiro - o filme conta a história de Will (Sam Clafin) um play boy milionário que está a caminho de uma reunião importante na empresa de sua família. Num dia de chuva após deixar sua namorada dormindo, ele sofre um acidente - é atropelado por uma moto. O ocorrido o deixa tetraplégico (não há mais movimentos nenhum do pescoço pra baixo). Amargurado Will passa os dias solitário mesmo tendo a família ao lado. Até que sua mãe contrata Louise (Emília Clarke ) uma atrapalhada e peculiar ex garçonete desempregada que usa roupas extravagantes; para cuidar dele por seis meses. Assim que Will conhece "Lou" a vida de ambos passam por uma mudança. Envolvendo paixão e escolhas.
Longe de ficar na memória ou se aprofundar em questões muito sérias; o filme possui uma boa dinâmica entre seus atores centrais, e conta com personagens carismáticos e de fácil ligação. Talvez o que mais seja relevante aqui é a aproximação com a questão da eutanásia e do suicídio assistido. Tema ainda tão complexo e controverso na sociedade. Ainda mais pela polêmica que o livro e o filme como reflexo receberam das associações de direitos e bem estar de pessoas com deficiência ao redor do mundo. Que repudiam a aparente mensagem de que o desfecho da trama possa ser um desserviço as pessoas com tais realidades como as que são tetraplégicas.
Um debate válido.
Pessoalmente e falando apenas como espectador e claro alguém sem a vivência da condição ali exposta, o filme fala muito mais do direito à escolha de cada um do que necessariamente da não escolha. (Mesmo que tenha que se reconhecer que nas linhas finais do roteiro eles utilizem a fala de que aquele caso de deficiência não possuía possibilidades o que é questionável fortemente quando não se generaliza o fato. Afinal quem disse que qualquer deficiência ou limitação de mobilidade deve ser empecilho pra algo?)
Várias questões.
Como filme no entanto a produção é aquele mel morno gostosinho de ver.
Fofo.
Ps: ainda não superei ver Neville Longbotton "pegando" a Khaleesi. É demais pra minha cabeça.
Stranger Things (1ª Temporada)
4.5 2,7K Assista AgoraMais uma serie original da Netflix, dirigido pelos irmãos Matt e Ross Duffer que pode ser classificada como um orgasmo latente aos fãs ou admiradores da década de 80.
Os Goonies, ET, Evil Dead, uma pegada de Poltergeist também (com direito ate a menininha parecida haha) me lembrou muito os filmes do John Carpenter também como O Enigma de Outro Mundo. Spielberg grita aqui.(sua fase boa ala ET - com direito ao mesmo barraco aos fundos da casa do Will, e até mesmo a icônica cena das bicicletas, mas com outro desfecho - e Contatos Imediatos de Terceiro Grau) com aquela vibe Alem da Imaginação, misturada com aspirações de Arquivo x e Stephen King. Trilha permeada por Bowie e The Clash para citar os mais evidentes.
De Dungeons & Dragons a Senhor dos Anéis, brincadeiras de RPG e Star Wars e Star Trek. Sam Raimi não fica de fora com seu Evil Dead - em todas suas sequencias. Na direção de arte temos O Tubarão, Madonna, Millenium Falcon.
Um emaranhado de referencias a cultura pop anos 80 (bebendo um pouco aqui e ali no final dos anos 70) onde a presença brilhante de Winona Ryder no elenco não é mero acaso, O que so reforça a nostalgia. No entanto não soa como copia ou repetição. Ainda que não haja nada de fato 'original'. A intenção é essa.
Desde a abertura a seus diálogos. Há muito de O Clube dos Cinco tbm e os filmes do John Hughes, no geral.
É como se a Sessão da Tarde e o Cinema em Casa inteiro se fundissem numa trama nova e independente.
(Há ate mesmo os clichês, há X Men.)
Toda a estrutura clássica esta lá. Grupo de jovens formado por uma amizade que rompe barreiras de esquisitos da escola: o líder, o engraçado, o cético, o sensível. O elemento sobrenatural. O monstro ou o problema. A menina perfeitinha que ama o popular da escola, que é seguido por babacas e patricinhas com sexualidade latente. O professor da escola nerd. Os pais que nunca sabem o que esta ocorrendo. A estrutura família americana de fachada. Os valentões. A conspiração governamental. A batalha de EUA contra os Russos.
Ao contrario do que tenho lido, não acho que haja muito de Super 8 aqui. Por um único entendimento. Super 8 de JJ Abrans pretendia retomar os anos 80 pros anos 2000. Já Stranger Things é muito mais como uma revisita aquela década. Ha diferença entre as duas propostas.
Com os últimos episódios remetendo ate mesmo a Alien, a unica falha da serie talvez seja de ritmo. Isto é: são 8 episódios muito bem distribuídos em tempo de duração de cada episodio, mas que quando compilados, soam a partir do episodio 6 como uma especie de 'vamos enrolar um pouco a trama com assuntos e diálogos que não servem para muita coisa, para batermos a cota de duração da produção'' sabe?
Claro, que os filmes dos anos 80 e 90 também sofriam do mesmo. E isso nunca importou. E o bem da verdade é que não importa fora da escala de analise técnica.
Palmas ao elenco que caiu como uma luva, como ja citada Winona renascendo diante de nós, onde somente a aparição dela em tela ja valeria qualquer coisa. Mas, o elenco infantil dá Show. Os quatro garotos - incluindo o que vive Will apesar de pouco tempo em tela - cumprem de forma primorosa a função de resgatar a inocência inteligente e de aventura cômica daquela juventude oitentista. Mas, minha consideração fica com a pequena expressiva Millie Bobby Brown que vive a hipnotizante Eleven. Com um quê de Natlie Portman em seus momentos frágeis e de Sigourney Weave em seus momentos mais "Jean Grey', a guria segura de forma convincente uma personagem trágica e intensa.
Seja pelo resgate, seja pela diversão ou emoção que trás, ou para os que não são da época, pela novidade de conhecerem uma das melhores décadas da cultura pop (a famosa minha época), a serie vale a pena. Muito. Grata surpresa.
Como nota, achei interessante como apesar do resgate oitentista, a concepção ideológica da trama é permeada de maneira bem velada com as atuais, se percebermos a força das mulheres aqui diante dos desafios que surgem, onde não ha 'a mocinha que é salva pelo mocinho'. Alias, pelo contrario. E ate mesmo a naturalidade que personagens negros surgem sem que sejam para estabelecer alivio cômico com sua etnia, ou ate mesmo a homossexualidade entrando no assunto de maneira orgânica, sem que seja tabu, foco ou exatamente demérito de nada. Ponto pra netflix mais uma vez.
Procurando Dory
4.0 1,8K Assista AgoraIa escrever sobre Procurando Dory, mas decidi que não. Só farei umas considerações e "colarei" um comentário que condiz com minha visão/análise do filme (com devidos créditos à pessoa que comentou).
Sobre o enredo temos basicamente a mesma premissa de Procurando Nemo. Tanto em estrutura quanto em narrativa. As motivações são praticamente as mesmas com o PLUS que esse é um fã service escancarado. O que é bacana se considerarmos os 13 anos de espera por Dory. Tecnicamente falando da animação os gráficos e etc,temos a qualidade exemplar da Pixar de sempre. O que me incomodou no entanto é que apesar de funcionais e coerentes os flashbacks se mostraram demasiado cansativos . Assim como algumas piadas que em mim (pela minha relação atual com certas coisas) não produziram riso algum.
O melhor do filme é sem dúvida nenhuma é a maneira que o roteiro exerce protagonismo e independência a personagens com algum tipo de deficiência seja ela qual for sem que o fato em si seja motivo para situações de emoção fáceis e forçadas. Se há emoção não é pela deficiência dos personagens. Se há dificuldades não é exatamente por isso tbm. E isso fica claro. Isso considerando que estamos falando falando de um filme infantil é essencial para a construção social e desconstrução de discriminações. Fora a representatividade evidente.
Comentário de Gabriel Amorim que me contempla: "O filme fala sobre capacitismo e o arco dramático não é meramente encontrar a família da Dori, mas sim encontrar a si mesma, ou seja, a vida e desafios de pessoas com deficiências e seus percalços para viverem "normalmente" diante as suas diferenças. Marlin e Nemo podem até demasiados secundários, mas tem dois papéis importantíssimos. Marlin não tem deficiência (como um branco falar sobre negros, ou um homem falar sobre como ser mulher) sua experiência será sempre limitada pela empatia, nunca tendo vivido na pele. Desse modo, tende a ter resquícios de superproteção, ao mesmo tempo que acha irracionais certos pensamentos. Para essa mudança, entra em cena um dos momentos mais lindos do filme que é lição dada pelo Nemo. Assim como a Dori ele é deficiente, passou a vida sendo tratado com hiper-proteção ou como sendo incapaz, nesse momento ele ensina ao pai a aprofundar sua empatia e ver coisas que só quem tem uma deficiência seria capaz de ver. A Dori não faz as coisas "normais", pois ela é "diferente", e para conseguir viver precisa entender como comportar diante de seu problema e não seguir as regras ditadas "socialmente" como sendo as corretas. O fato de o lugar ser um hospital também é relegado 'por muitos.'. E principalmente, o arco do Hank é subestimado. Ele não se torna o raivoso de coração mole, tampouco era um raivoso unidimensional em seu início. Ele é um paciente com estresse pós-traumático, logo, com o auxílio da espontaneidade que somente a Dori possui, pode melhorar seu quadro. Repare que ele ainda possui toques, mesmo ao final. (...) Outro ponto lindíssimo é fala da mãe da Dori que já diz gostar do Marlin, com isso ela ilustra que ambos dividem as preocupações mostradas ao longo do filme como é a dedicação e os temores enfrentados pelos pais de pessoas com necessidades especiais. O fato de os pais da Dori, com a sua perda, morarem literalmente num oceano negro após a perda da filha ilustra muito bem o trauma que os pais também passam. Sem nunca esquecer!"
Como um todo: gostei do filme, mas não sentiria necessidade de ver mais vezes. Mas, recomendo sim, principalmente pela nostalgia aos mais velhos ^^
A Outra Terra
3.7 874 Assista AgoraDirigido por Mike Cahill (''I Origins''), com Brit Marling ( "I Origins", "O Sistema"),"Another Earth" (A Outra Terra) é um filme sobre as fases da depressão amparados por uma especie de sci-fi tímido, mas eficiente no seu enfoque.
Rhoda é uma jovem inteligente que recentemente foi aceita no programa de astrofísica do MIT. Ao voltar para casa de carro após uma festa de comemoração pela conquista, ela descobre com o restante da humanidade a existência/aparecimento de um planeta idêntico a Terra orbitando bem próximo a nós. Por um descuido momentâneo, ela causa um acidente que mata a família de um professor de musica - sua esposa gravida e seu filho pequeno-.
Ela é presa por quatro anos, e quando sai da cadeia descobre que o novo planeta é quase que um espelho da Terra. Tudo que existe aqui,existe lá, inclusive uma versão de todos nós, com mesmo nome e idade e aparência. Eles chamam o planeta de Terra 2. Desolada pelos erros, pela depressão e pela sensação de star perdida, Rhoda decide participar de um concurso que promete levar os primeiros humanos a essa nova Terra. Mas, antes ao descobrir que o professor que ela causou o acidente, sobreviveu e saiu do coma, ela pretende encontrar alguma forma de se desculpar com ele, enquanto reflete o que poderia ocorrer se pudêssemos ter uma segunda chance na vida.
O Filme lida muito mais com a máxima de podermos nos encontrar com nós mesmos e nos questionarmos quem somos, em empíricas filosóficas do que necessariamente sobre a ciência teórica de realidades paralelas. Temos aqui um drama com 'D" maiúsculo que em alguns de seus melhores momentos se assemelha a Melancolia de Lars Von Trier, pelos questionamentos que trabalha - claro que aqui de forma mais simples, mas não menos complexa em sentidos -; inclusive na semelhança da aparente influencia quase de energia e hipnose que o planeta exerce nas pessoas, conforme ele surge cada vez mais próximo da 'nossa' Terra. (em nenhum momento eles dizem que o planeta esta se aproximando, mas é visível sua grandeza cada dia mais evidente.) Amparado ainda por diálogos que envolvem ate mesmo o mito da Caverna de Platão, e a Teoria do Espelho Quebrado; a mise en scène do filme ainda é competente ao entender a metáfora que utiliza para ratar das mazelas emocionais da protagonista, ao em certo momento do filme - em seu terceiro ato - inundar as ruas em uma especie de Silent Hill. .
Possuindo uma fotografia azulada e cinzenta que não apenas existe para explicitar a aproximação do novo planeta em nosso céu mas também para caracterizar a monocromático sentimento de existência de sua protagonista diante dos erros e empecilhos da vida, o filme acerta em cheio ao mostrar em vários enquadramentos - como o do quarto da garota abraçada a seu próprio corpo semi nu, e o dela deitada completamente nua no gelo, as fases da depressão onde nosso próprio mundo deixa de fazer sentido, e tudo que precisamos sentir é o findar daquilo tudo. Numa especie de beco sem saída, onde não se tem espaço para retorno visível, a sensação de isolamento, inadequação, marasmo, inquietação e desespero tomam conta. Como pisar com uma pedra sobre a nuca sobre uma taca de vidro quebrado. A ideia de que qualquer movimento rasgara mais a pele dos pés q cedera sob o corpo pelo peso da pedra, e que estagnar também só estendera a dor dos cortes, onde nem mesmo a taça voltara a ser como era antes. Pois partiu.
Essas discussões com o plus da ideia de podermos talvez em algum lugar encontrar redenção conosco mesmo - únicos que poderiam nos entender plenamente - e descobrir quem somos, faz do filme um drama depressivo e eficiente, mas belo ao mesmo tempo pela trajetória daquelas duas vidas mostradas.
Bom filme.
Coerência
4.0 1,3K Assista AgoraCom um orçamento de pouco mais de 50 mil dólares, e filmado em apenas 9 dias, esse longa tem sido conhecido desde sua estreia tímida em 2013 como um dos melhores thrillers sci-fi dos últimos 10 anos (outros se arriscam a dizer, que seja talvez desse novo seculo). O bem da verdade, é que Coherence é um deleite visual - por percebermos como que uma ideia suplanta a falta de orçamento -, de roteiro - onde o argumento vale por qualquer outra super produção hollywoodyana -, e que instiga justamente pela habilidade do diretor em criar uma tensão verossímil, mesmo diante da inverossimilhança possível - ou não - diante dos menos criveis as teorias quânticas, cientificas e etc etc.
A sinopse é simples: 8 amigos decidem se encontrar para uma reunião/jantar de confraternização para relembrar os velhos tempos. Durante o jantar, há um cometa chamado Miller que esta passando pela orbita da Terra. Entre as conversas os amigos relembram as noticias - a maioria infundada - de que pessoas acreditam que esse cometa e outros alteram certas coisas no planeta, como celulares que param de funcionar ou pessoas que alteram seu comportamento.
Eis que ocorre um apagão em toda a vizinhança, e ao olharem pela janela para saber o que ocorreu, os amigos notam que ha apenas uma unica casa, a dois quarteirões de lá com luz. Apenas essa casa num amontoado de escuridão. Dois deles resolvem sair para pedir para usar o telefone dos moradores dessa residencia (pois um deles precisa falar urgentemente com o irmão). Ao voltarem, coisas estranhas começam a surgir.
Ele mescla dois conceitos básicos da ciência: A teoria do Multiverso e a teoria do Gato de Schrödinger, uma das mais famosas teorias acerca da incoerência e decoerência quântica.
O Multiverso versa sobre a teoria das cordas, estudos sobre a enigmática matéria escura e os resultados obtidos sobre a expansão crescente e sem retorno do nosso universo parecem exigir uma resposta que rompe com um paradigma fundamental - o universo é infinito e nele tudo está contido. A teoria do multiverso traz o sentido no nome: existiriam infindáveis universos numa espécie de queijo de energia quântica, onde bolhas se formam e somem sem parar. O nosso universo seria um deles. Resumindo: É a teoria de que existem milhares de universos. (o filme inclusive brinca com essa parte quando em certo momento um dos diálogos cita um pedaço de queijo e ketamina como aperitivo antes do jantar rsrs).
Já a base mais evidente do argumento do filme esta na teoria do Gato de Schrödinger ( Schrödinger foi um físico austriaco ganhador do Prêmio Nobel de Física e tido como um dos cientistas mais celebres do seculo XX), que consiste numa experiencia onde se coloca um gato imaginario dentro de uma caixa com um pote de veneno e fecha-o la dentro. A caixa onde seria feita a hipotética experiência de Schrödinger contém um recipiente com material radioativo e um contador Geiger, aparelho detector de radiação. Se esse material soltar partículas radioativas, o contador percebe sua presença e aciona um martelo, que, por sua vez, quebra um frasco de veneno
De acordo com as leis da física quântica, a radioatividade pode se manifestar em forma de ondas ou de partículas - e uma partícula pode estar em dois lugares ao mesmo tempo! As ondas brancas desenhadas aqui representam as probabilidades de ocorrência dessa dupla realidade, quando, na mesma fração de segundo, o frasco de veneno quebra e não quebra
Assim, teríamos duas possibilidades possíveis: a) Aqui o gato aparece vivo, porque, nessa versão da realidade, nada foi detectado pelo contador Geiger
b) Aqui o gato surge morto, pois nessa outra versão do mesmo instante de tempo o contador Geiger detectou uma partícula e acionou o martelo. O veneno do frasco partido matou o bichano
Seguindo o raciocínio de Schrödinger, as duas realidades aconteceriam simultaneamente e o gato estaria vivo e morto ao mesmo tempo até que a caixa fosse aberta. A presença de um observador acabaria com dualidade e ele só poderia ver ou um gato vivo ou um gato morto.
Simplificando, a teoria cujo o filme implica, é aquela famosa ideia de que existem vários universos e realidades coexistentes ao mesmo tempo/espaço e que nossas escolhas constantes alteram cada linha de realidade.
Dirigido por James Ward Byrkit (sua estreia na direção. Ele foi co-roteirista da animação ''Rango"), o filme brilha justamente por trazer esses conceitos de forma orgânica ao unir a ciência teórica, numa especie de experimento 'possível' através da desculpa de gancho de roteiro do cometa (que seria aqui a força inexplicável capaz de interferir nessas leis quânticas e físicas), mas usando isso para debater e refletir sobre as relações humanas e existenciais. Não importa muito a certo momento do filme como pode ser possível X ou Y situações, por que o que importa de fato são os pensamentos e atitudes daqueles 8 amigos diante daquelas milhares de possibilidades e situações apresentadas.
Todos os amigos ali, se reúnem depois de vários anos, cada um tendo uma escolha na vida que os levaram a vários caminhos diferentes. nem todos surgem satisfeitos com suas escolhas - como todos nós diariamente -. Quando esse lapso ocorre ali, cada ação altera uma realidade daquela dinâmica em diferentes espaços e tempos, mas altera também a dinâmica deles, com eles mesmos. Em certo momento uma das personagens diz que aquela experiencia poderia ser aquilo que todos nós humanos sempre no intimo queremos ao longo da vida: poder encontrar-se consigo mesmo em diferentes realidades de escolhas que não fez. Como eu estaria hoje se eu tivesse pegado o ônibus detrás e não aquele que veio antes? Como eu estaria se eu preferisse vir a pé ou de taxi? Como seria minha vida hoje se eu tivesse escolhido aquele outro curso, aquela outra roupa, ou simplesmente, acordado cinco minutos mais cedo? Ocorreria algo na minha vida, no meu caminho ate aqui diferente por causa dessa minima escolha que fiz? E se cada uma dessas possibilidades, desses 'eus' pudessem se encontrar num mesmo lugar e tempo e se confrontarem? Eu descobriria quem eu realmente sou em toda a vasta complexidade de facetas que somos?
Em vários momentos o filme me passou o clima da lendária serie Twilight Zone, de meados dos anos 50/60. Uma mescla de terror e suspense, com aplicações filosóficas, de desfecho surpreendente e instigante.
Apesar de parecer muito complexo, a dinâmica em si é simples, apos acompanhar o filme. basta prestar atenção nos detalhes que ele fornece - cada frase é essencial para o entendimento, por mais que na hora pareçam jogadas a esmo. Não são.
Eu pessoalmente só me enrolei de fato - e certeza que essa foi a intenção do diretor - com os 3 minutos finais do filme. Onde o conceito básico do experimento se choca com uma 'incoerência' do próprio sentido cientifico dele. Mas, que abraço outros conceitos possíveis, e por isso são teorias.
Um filme gigante como o tema que aborda, uma surpresa grata de estreia de um diretor que pretendo acompanhar e principalmente um alivio diante de tanta produção bilionária rasa por ai, que prova que uma ideia inteligente vale mais do que qualquer super câmera ou grande elenco famoso.
Recomendável (mas pode causar enxaquecas)
Quando Te Conheci
3.3 472 Assista Agora'Equals' - Iguais (mas que veio como 'quando te conheci) do diretor ''Drake Doremus'' e que percorreu os principais festivais de cinema do ano passado e desse ano (Incluindo o de TRIBECA). Com Kristen Stewart que definitivamente provou que não existe má atriz mas sim filmes fracos com atores mal dirigidos - que dá um show em tela, numa personagem intensa e complexa pela própria natureza da historia e o interessante Nicholas Hoult. O filme conta a historia de um mundo distópica, uma realidade onde a humanidade quase se destruiu por completo, e que se modificou em seu DNA para extinguir qualquer traço de sentimentos ou emoções. Sem amor, ou ódio, sem dor ou pena, sem emoções. Tudo que os humanos continuamente fazem e existem, é para descobrir os mistérios do universo em uma aparente harmonia enfim com o planeta, onde não é possível contato físico ou mesmo amizades. Ninguém sente nada. Porem, uma epidemia começa a assolar a todos, chamada de SDL. Essa epidemia é uma especie de erro genético que se desenvolve sem saber o como, nesses indivíduos devolvendo-lhes a natureza humana de sentir emoções e sensações. Os indivíduos com tal 'doença' começam um tratamento de inibição desses estágios, sem cura, ate que não seja mais possível controlar as emoções e eles sejam internados num ATRO, uma especie de clinica/prisão onde são submetidos a testes e experiencias com choques ate que acabam morrendo de exaustão ou se suicidam.
Quem nunca sonhou com um mundo onde ninguém sentisse nada? Onde não houvesse ódio nem discriminação por raiva ou rancor, onde não se sofresse por amor, ansiedade ou depressão. Onde não se sentisse dor ou vontades.? Todos nós em algum momento ne? E o diretor de fotografia faz um trabalho excepcional de concepção desse mundo tão clean e padronizado, onde todos são iguais.
O filme tem 3 referencias da literatura bem explicitas, mas que não revelarei pois estragaria seu desfecho. Nia e Silas (Kristen e Nicholas) são dois desses que pegam essa doença. Ele no inicio do estagio, e ela convivendo a vários meses fingindo ser 'normal'..
O que mais me cativou no filme é a reflexão obvia e benéfica que ele faz com discriminação e preconceitos, principalmente pra mim contra LGBTS (ainda que não haja casais LGBTS ou indivíduos tais), com racismos e discriminação com o HIV e soropositivos. A forma omo ele reflete o que nos torna humanos e como justamente isso que nos faz ser menos humanos em varias fases da vida em sociedade é brutal e curioso.
A unica falha para mim é a aspiração a la Spielberg no ultimo ato onde o filme perde todo o controle racional e coeso que vinha exibindo ate ali, incluindo nas atuações genias dos protagonistas justamente por isso (atuar com olhares e gestos sabe? com um engolir em seco ou um apertar de mão), e parte para um apelo emocional obvio e descarado apenas para emocionar e entristecer. Mas, não tira o mérito da obra. recomendo.
A Visita
3.3 1,6K Assista Agora'The Visit' - A Visita -. Dirigido pelo famigerado M. Night Shyamalan, este filme segue a linha da trajetória desse diretor pra mim ate agora. Para quem não sabe, ele é o diretor do genial "O Sexto Sentido", do interessante "A Vila", e "Corpo Fechado" e do desastroso 'A dama da Água" e do fraquíssimo "Fim dos Tempos" - nota para o mediano (pra mim) 'O Último Mestre do Ar '.
Como descrevi pelas suas obras, Shyamalan tem uma característica de ou acertar em cheio ou errar brutalmente. O problema é que ainda não consegui decidir ou perceber qualé a dele como diretor. Pq ainda que haja já sua assinatura em todos os filmes descritos, - sua mise-en-scéne é marcante - ele tende a enveredar por caminhos tão distintos que é ate assustador constatar que O Sexto Sentido é do mesmo cara de a Dama da Água.
Talvez por isso esse seu filme A Visita, que é uma especie de hibrido de found footage, surja como um ensaio sobre o próprio gênero. O filme não se leva a serio, e esse é o maior trunfo dele. Carregado de pontuais clichês e essenciais inovações, o diretor parece querer subverter o gênero que em essência deve mostrar tudo, para trazer sua linguagem mais semelhante a narrativa do suspense usual. Em certo momento a protagonista inclusive cita que ainda que esteja filmando um documentário, sua intenção é estabelecer a curiosidade do espectador pelo que esta ocorrendo fora do foco, do plano, do quadro e não o que ela esta mostrando em primeiro plano de fato. Essa fala simplifica a intenção clara do filme. - troca a point-and-shoot pela mise-en-scéne e arremata isso em algo orgânico através da metalinguagem.Meu maior problema é com o ultimo ato, onde as coisas começam a ir por um caminho um tanto arriscado e obviamente desastroso do ponto de vista estrutural. Incluindo construção de personagens. Mas, vale a assistida de qualquer forma.
(ah, a sinopse do filme eu reescreveria: Dois irmãos - um menino de 13 e uma menina de 16) vivem com a mãe divorciada e que recentemente começou a namorar. O pai os abandonou deixando os dois e a mãe com alguns problemas psicológicos e emocionais. A mãe resolve economizar e fazer uma viagem de cruzeiro com o novo namorado durante uma semana e deixa as crianças com os avós. Avós esses que moram no interior e que ela não vê jamais, devido a uma misteriosa briga que levou-a a sair de casa, cujo o ocorrido ninguém jamais fala. Visando ser uma cineasta e ao mesmo tempo conseguir alguma redenção apara a mãe nessa briga familiar, a garota mais velha junto de seu irmão caçula- aspirante a rapper misógino) começam um documentário, contando a trajetória deles nessa semana com os avós. No entanto, ao chegarem lá e conhecerem os avós pela primeira vez, eis que coisas estranhas começam a ocorrer, e talvez tudo o que reste seja os registros da câmera dos garotos...)
Game of Thrones (6ª Temporada)
4.6 1,6KSó uma coisa: Alguém mantenha esse diretor - Miguel Sapochnik (episódios 9 e 10 ) - definitivamente como diretor oficial dos episódios restantes POR FAVOR!
Conexão Mortal
2.1 280 Assista Agorali que o final no livro é diferente.. alguém que já leu ou sabe poderia me contar qual é? procurei mas não achei pela internet.
Penny Dreadful (3ª Temporada)
4.2 646 Assista Agora'Quando eu era jovem
E com medo do mundo
Minha mãe cantava uma canção pra mim
Uma música que eu mantenho em um lugar sagrado
Porque eu sei que minha vida não será longa
Ela fala do lugar onde você vai
Quando o seu tempo aqui na Terra acaba
Um lindo lugar que chamamos de Céu
É verdade?
Por favor, Deus, eu oro para que seja verdade!
Porque uma vez que este lugar for o Céu na Terra
Colinas verdes será tudo que se verá
Mas agora é fuligem, aço e tijolos
Por isso, se parece mais com o inferno para mim.
E cada dia traz mais e mais sofrimento
E cada noite é o silêncio e medo
E eu acordo ao som da sua voz
Mas você não está aqui
Por que não está aqui?
Então, agora eu me deito para dormir
E Peço ao Senhor para ficar com a minha alma.
Por favor, deixe-me morrer antes de acordar
Para que o Senhor possa levar minha alma;
Então talvez eu possa finalmente encontrar você
É a beleza do Paraíso!
E você não vai cantar sobre morrer, mas sobre viver.
Isso não seria bom?
Isso não seria bom?''
(e eu to chorando ate agora inconsolável pq ainda não to sabendo lidar com o fim - mesmo aceitando que era a hora de ao menos a eterna Ms Ives encontrar sua redenção)
Penny Dreadful (3ª Temporada)
4.2 646 Assista AgoraE chegamos ao final de uma das historias de terror e amor mais interessantes da TV.
Penny Dreadful - cujo titulo alude à época que se vendiam pequenos contos de terror a bagatela de 1 penny - cerca de 1 centavo - para que fossem acessíveis à população mais carente - é antes de tudo uma historia sobre o horror e o amor de se viver e de se existir. De ser um ser neste mundo.
Com uma espantosa inventividade de mesclar varias mitologias e lendas do horror e terror tais como Frankenstein, Drácula, Lobisomen, Vampiros, bruxas e ate mesmo Amonet - deusa egípcia -, Dorian Gray e Dr. Jekyll - de o Medico e O Monstro -, essa serie versava sobre a busca incessante de significado dentro do horror e beleza que é existir. Sem contudo perder a coesão e a verossimilhança, e principalmente o respeito ao ode as suas obras de referencias 'originais'.
Ao longo de três temporadas e 27 episódios fomos apresentados a diversas facetas da humanidade e seus monstros, todos carregados por um paralelo a nossa realidade social e histórica, que faz jus ao por que de tais historias monstruosas nos promover fascínio por tantos seculos. Os monstros do cinema e da literatura e dos mitos e lendas sempre abrem questões que se assemelham ao nosso 'real'.
Assim, é prazeroso notar como a serie conseguiu abordar o feminismo, machismos e o patriarcado, a fé e a religiosidade, a homossexualidade, as discriminações por etnias, raças e credos, e gêneros, e sexualidades, e padrões estéticos e classes sociais de maneira efusiva e quase linear, num ritmo que nunca se perdia entre seus universos - ainda que a um primeiro momento parecesse coisa demais para pouco espaço. Com personagens femininas marcantes e independentes, inclusive uma representação grata de uma travesti que não surge estereotipada ou apenas viabilizada pelas suas tragedias, mas forte e tal qual é: um ser; a serie encontrou seu eixo, base e alma em Eva Green.
Alias, a fusão da referencia de Amunet e suas varias facetas e formas, com Vanessa Ives e todas suas inimagináveis camadas e pesos com a versatilidade e poder hipnotizantes de Eva Green formou aquele raro momento que vemos no cinema ou na TV onde a atriz e obra se fundem em algo que tende a sobreviver alem de sua própria obra. Penny Dreadful com o tempo pode ir perdendo a força, mas Vanessa Ives inevitavelmente se estendera como uma das coisas mais emblemáticas dos últimos tempos inclusive para seu gênero. Eva é Vanessa e Vanessa é Eva. Assim cremos e essa força é de um absurdo que só mesmo vendo e sentindo para entender. Ferida, arranhada, possuída, careca, aprisionada, alegre, amedrontada, assustadora, e ardente. Eva Green... só suspiros.
Todo conto precisa ter um fim, e talvez como ressalva fique a sensação de que mesmo o núcleo de Vanessa merecia uma despedida mais demorada. Igual ao final, mas talvez com um pouco mais de tempo.
Já abrindo o ultimo episodio com uma abertura temática com uma musica lamuriosa e linda, tal qual um réquiem como sua temporada foi, Penny Dreadful chega ao fim sem trair seu gênero e sua essência. Tal qual o terror e o amor, não poderia terminar de outra forma que não em sangue, dor, medo, tristeza e morte.
Deixara saudades.
Lemonade
4.6 88A Descoberta da Identidade negra, é algo tão poderoso e delicado, e ao mesmo tempo, tão complexo e complicado, que nem mesmo a descoberta de identidade sexual supera.
Se entender negro, e mais que isso, se compreender negro, carrega uma serie de entendimentos, que remontam cada seculo da historia que seu sangue e sua pele, que sua raiz de cabelo possui.
Se no meio disso, acrescentar o empoderamento feminino, e a força identitária que isso possui, entre dor, sofrimento, duvidas, confusão, força, compreensão, e enfim resistência, se obtêm exatamente a postura que esse álbum visual da Beyoncé pretende. É a porta de ruptura entre o afastamento e a ligação que cada negro e negra passa por seu caminho.
O Álbum - Chamado ''Lemonade'', que faz analogia a época em que negros escravizados tomavam limonadas, acreditando que isso faria com que suas peles clareassem, e assim, não sofressem tanto racismo - possui 12 faixas sonoras, que possuem letras que vão desde superação de traições, difamações e idolatração a família, ate a ensejos políticos e sociais que remontam como referencias a historia dos negros - tanto norte americanos, quanto a origem africana -. E nisso se estende a sonoridade que vai desde o bom Country texano de berço - nada de Taylor Swift aqui -, ate mesmo o habitual rap, mas em tom mais agressivo e combatente que o Kendrick Lamar vem brindando recentemente.
Com participações de Kendrick Lamar e The Weeknd. Samples de Led Zeppelin, Animal Collective e uma versão de “Can not Get Used To Losing You”, de The Beat.
Mas, a força desse álbum esta na concepção visual que ele possui.
Isso por que, ele trás uma carga de simbologia poderosa e forte de historia negra e feminina em cada frame que se propõe. Composto quase que absolutamente tanto na equipe técnica quanto nas pessoas que aparecem em tela, de pessoas negras, o 'filme' funciona como uma especie de jornada que passa por 11 selos distintos de resiliência de uma mulher - e o povo que ela carrega na ancestralidade, traída, machucada, e que na quase morte, obtêm passo a passo o caminho de retorno, onde se redescobre como é.
Os capítulos passam pelos seguintes títulos/Temas:
Intuição
Negação
Raiva
Apatia
Vazio
Prestação de Contas
Reforma
Ressurreição
Esperança
Redenção
Formação
Esta ultima, que não é indicada no filme, mas que se completa, já que é a musica que fecha Álbum sonoro.
É como se a Beyoncé que tanto - pessoalmente - faltava em representação para mim, quanto negro que sou, em ser um simbolo de resistência e empoderamento étnico, finalmente percebesse ou se levantasse, diante da importância que possui no mundo atual, e finalmente quisesse lutar junto aos seus - a nós -, em mostrar nossa historia, nossas características e cultura unica. Tomando para si seu legado. Legado de todos os negros e negras. E junto a isso, linkando para seu feminismo e de todas as mulheres em sua sororidade e embates.
A Beyoncé sexualizada, com musica para qualquer um rebolar ate o chão, a que fala sobre ser uma boa esposa ou mãe somente, dá lugar a uma outra mulher. Uma mulher que busca ali na natureza entre florestas, a água que limpa, o fogo que destrói, e o asfalto onde nossa sangue tanto já jorrou - inclusive nas terras de senzalas e valas - o eco de seu próprio DNA. Levantando enfim para assumir-se como é.
Um Álbum que eu como negro, precisava ver vindo dela. E que me deixa novamente em posição de voltar a admira-la plenamente e ama-la, e gritar: tamo Junto irmã. Tamo Junto!
Como ela mesma disse: "Meus ancestrais escravizados, tomavam limonada achando que isso iria embranquece-los. A mídia me deu limonada também, mas não adiantou."
Não adiantará nunca. Essa limonada para nós hj, é refresco doce. E aqueles que tentarem nos fazer tomar sob outro viés, perceberam que a eles, tudo que conseguirão é uma enxurrada acida e amarga.
Ps: A Faixa Daddy Lessons funciona muito bem para compilar essa característica em que ela mesclou a traição, a submissão, o subjulgamento do patriarcado machista às mulheres. Mais especificadamente às negras. Ela traça um paradoxo no texto confessional de introdução a música, entre a relação dela como mulher esposa. Como mulher filha. Logo, entre o marido e o pai nessa tênue linha de respeito e obrigação. De conquista e opressão. Tufo clamando pela ancestralidade ora espiritual, ora urbana.
Amor e Revolução
3.9 298 Assista AgoraDirigido por Florian Gallenberger e estrelado por Emma Watson e Daniel Brühl, este filme consegue tecnicamente ser a mesma bagunça que a situação de sua produção - diretor alemão sobre a história do Chile com financiamento de um milionário de Luxemburgo, com atores ingleses; que foi pensado para estrear em grandes salas de cinema (devido as estrelas que o protagonizam ) mas, acabou indo direto para locação e venda -, mas consegue sim, passar a essência de um período tenebroso do Chile e facilmente adquirir assimilação com os espectadores brasileiros por estarem evidentemente vivendo algo parecido neste século.
O filme conta a história de Lena e Daniel - ela aeromoça e ele militante - dois jovens alemães que vivem a dois anos no Chile. Mas, o ano é 1973, época em que o Estado democrático do Chile se via a mercê de golpistas à eleição do presidente Salvador Allende, conhecido por seu povo como um governante de esquerda. Após sua queda, num golpe de Estado e Militar, foi implementada da noite pro dia uma ditadura militar comandada pelo ditador Augusto Pinochet. Assim, a população que militava contra esse regime foram presas e torturadas. Daniel é um deles, ao tentar fazer registros fotográficos desses abusos militares. Ele é levado até uma Colônia chamada Dignidad. Que é conhecida por anos como um retiro religioso. Mas, na verdade servia para todas as mazelas da ditadura, como torturas, abusos sexuais a menores e melhores e até mesmo como experiências mentais, com clara remanescência do nazismo.
Lena, para tentar salvar seu namorado, se alista a essa seita da Colônia.
O filme tem uma história real e histórica magnífica e horrenda para a humanidade recente - tão parecida com a nossa brasileira - mas, prefere focar na relação de amor e devoção daquele casal de estrelas hollywoodianas do que nas vítimas daquele regime ditatorial.
Com isso, não só se perde o sentido da trama, como ela ainda se apresenta rasa ao não conseguir construir e formar seus personagens - quem são? Da onde vieram? Por que estão ali? - nem mesmo suas ideologias são claras. Principalmente Daniel. Que não sabemos em quase duas horas de filme quem era de fato, por que militava. Por que estava no Chile e não em seu país. A impressão que fica é que o filme quis apostar tudo nos nomes dos atores para sustentar a história do que construir uma narrativa que fosse ao menos respeitosa com cada morte e cada violência sofrida ali. A começar pela língua. Numa mistura de sotaques estranhas, que descaracteriza o povo chilena em imagem e cultura.
No entanto as atuações são ótimas. E a história também. Para quem nunca teve contato com esse período é um filme interessante para introduzir essa realidade. É chocante e de se fazer indignar constatar como a ditadura seja em qual país for, destruiu e destrói cada celular de humanidade que podemos ter. E como a democracia e o Estado de Direito são bens frágeis a mercê dessa sombra que sempre retorna. Como que a história sempre se repete. Sempre.
Sobre a real Colonia Dignidad:
Pedofilia, estupros, conivência com a ditadura, assassinatos, tortura e fraudes são apenas alguns dos crimes atribuídos aos cabeças da colônia alemã no Chile. Meio século depois, papel das autoridades continua obscuro.
Colonia Dignidad foi batizada mais tarde de Villa Bavaria.
O enclave de imigrantes alemães no sul do Chile denominado "Colonia Dignidad" foi fundado em 1961 pelo orientador de menores luterano Paul Schäfer. Dois anos antes, ele fugira da Alemanha, para escapar de acusações de abuso infantil.
Com a tomada do poder pelo ditador Augusto Pinochet, em 1973, a colônia passou a ser utilizada como centro de tortura pela polícia secreta chilena, a Dina. Mesmo após o retorno da democracia ao país, em 1990, a seita e suas práticas obscuras permaneceram longe dos olhos do resto do mundo.
Paul Schäfer morreu na prisão (ao qual foi condenado somente em 2004 - sendo preso em 2003 - à 33 anos de cárcere, por estupro, pedofilia de centenas de crianças, ocultação de cadáveres e tortura e contribuição com mazelas nazistas).
Formalmente, a colônia foi reconhecida como entidade de interesse público: um hospital para a população rural da região lhe concedia um caráter social-beneficente. Somente com a fuga de Paul Schäfer, em 1997, a comunidade, mais tarde rebatizada oficialmente como "Villa Baviera", começou a se abrir e passou por mudanças abrangentes.
Ou seja: mesmo após as denúncias da funcionalidade da Colônia pro mundo, que virou um escândalo global, no Chile nada mudou, até a queda da ditadura é o restabelecimento da Democracia no País. A colônia funcionou por mais de 40 anos. Seus moradores se misturavam a vítimas do regime, com as crianças das mulheres ali estupradas, e que mais tarde, eram abusadas sexualmente também pelo pedófilo que as geria.
Mesmo com o restabelecimento da democracia e com as investigações do período, os culpados só foram achados e presos e condenados decadas mais tarde. E assim como no Brasil, o país não reconhece como verdade as ocorrências ali. Em 2010 ainda há casos em aberto esperando julgamento e investigações.
Detalhe: em 73 a Colônia já funcionava por mais de 30 anos pelo menos.
Assim, o filme não consegue ser nem mesmo a ponta do cabelo de tudo e toda a complexidade que a história possui. Pois se resumiu a um romance de superação de dois alemães avulsos e " bonzinhos" que tentaram alertar o mundo sobre o que ocorria ali. Nem de longe o filme merece ser visto como obra daquele período. Mas, funciona muito bem como introdução ao tema. A realidade. E como um alerta urgência para o que jogos políticos, de mídia e a força de um povo pode ter ministradas de forma perigosa.
Fica a dica!
Sobre o filme: Chile, 1973. Em meio ao golpe de estado que derrubou o presidente eleito Salvador Allende e possibilitou a ascensão do ditador Augusto Pinochet, as massas estão nas ruas protestando, entre eles um casal alemão, Lena (Emma Watson) e Daniel (Daniel Brühl). Quando o rapaz é levado pela polícia secreta de Pinochet, Lena procura por ele e descobre que seu amado está em um lugar chamado Colonia Dignidad, uma suposta missão de caridade dirigida por um pregador (Michael Nyqvist), só que na verdade é uma prisão de onde ninguém nunca escapou. A fim de encontrar Daniel, a moça decide se juntar ao culto religioso da Colonia.
Blackbird
3.3 26"Deus é Amor. Nunca desrespeite Deus tendo vergonha do trabalho Dele.
- 'Mas, como devo saber o que Deus quer? Fico perguntando a Ele dia após dia...'
- 'E você já parou para escutar? Ou você só ficou ali falando?'
Deus é Amor."
Que filme fofo!
Um típico filme de TV. Daqueles que não carece denotar qualidades ou defeitos técnicos, pois aqui não se aplicam a esse tipo de análise. Mas, que é gostoso de assistir pela mensagem que passa.
BlackBird é um filme independente dirigido por Patrick lan-Pok e conta a história de Randy. Um garoto negro, prestes a se formar no ensino medio, que tem dois melhores amigos - Crystal e Efrem - e vive com a mãe separada, que não consegue superar o desaparecimento da filha mais nova. Randy é gay. Mas não sabe, não aceita e crê que Deus, seu pastor e sua fé o abominam.
O filme lida essencialmente com religiosidade. Não a questionando, mas a abraçando aos que são cristãos, e mostrando como um jovem LGBT lida com sua identidade e sua fé, e todos em volta. O filme é uma Fofura só. Que mescla humor e até alguns momentos bem "toscos" e descontraídos para dar lições de fé e sabedoria , de tolerância e sobretudo amor, fraternal e familiar a despeito de que seres humanos aos olhos do Deus do amor os fez perfeitos e pecado é aqueles que tentam negar aquilo que Ele fez perfeito para ser como é.
Toda a comunidade é conservadora, e nem mesmo a naturalidade que seus amigos tem com o tema - eles fazem parte do coral da escola religiosa, e escolhem fazer Romeu e Julieto por exemplo - impedem que Randy sofra diariamente com seus desejos e afetos. Tudo massificado pela depressão e obsessão religiosa de sua mãe.
Tudo começa a mudar quando ele conhece Marshall, um companheiro de teatro. Assumidamente gay, que vai despertando em Randy uma libertação e real sentido do que a palavra significa na vida real, daquilo que ele e sua comunidade tanto lêem em suas bíblias.
Um filme bonito, daqueles de se ver com a família num dia de domingo, principalmente de acalento para aqueles que ainda estão nessa luta interna entre sua fé e ser quem se é.
O filme tem no elenco Isaiah Washington (que tbm é co-produtor) e Mo' nique ( que tbm é co-produtora executiva). (2014/2015)
Recomendo.
Ps:: Tem uma cena de sexo no filme. Semi nudes, mais indicativa do que exibicionista. Li ela de forma sugestiva e bem delicada, poética pelo ato. Mas, dependendo do nível conservador da família (como sugeri que fosse visto indiscriminadamente pelas famílias e etc) pode soar "desrespeitoso". Então fica o aviso. rsrs.
Em tempo: Alguém me trás um Marshall pfvr? Ou um Efrem?
O Filho de Saul
3.7 254 Assista AgoraFilho de Saul (Saul Fia), dirigido pelo estreante em longas metragens László Nemes - vencedor de dezenas de prêmios ao redor do mundo, incluindo aclamação pela critica em Cannes, Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, é mais um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, Sobre os horrores que os Judeus passaram e que levaram a mais de 6 milhões de assassinatos, entre torturas e crueldades que marcaram para sempre a historia humana.
No entanto, essa obra que conta com roteiro de Clara Royer e do próprio László Nemes, se diferencia não só na proporção de tela que usa para contar essa historia - uma proporção de tela mais achatada, quadrado, sem muita possibilidade de profundidade de campo -, mas principalmente por escolher em diversos momentos brincar com a linguagem da projeção, usando a objetiva em primeira pessoa. Ou seja: ele não conta a historia de maneira contemplativa, como já vimos milhões de vezes no cinema mundial. Ele nos coloca como participantes daqueles horrores. E isso é genial.
Saul Ausländer (Géza Röhrig), é um judeu húngaro, membro do Sonderkommando - uma especie de ajudantes forçados dos alemães que eram diferenciados dos demais nos campos de concentração. Esses ajudantes, trabalhavam por alguns meses limpando e auxiliando nas mortes nas câmaras de gás, na queima de corpos e inclusive na limpeza de sangue, roupas, pertences e cinzas dessas vitimas. E mais tarde, quando não conseguissem mais trabalhar, eram mortos também. Nenhum deles fazia esse trabalho por que queriam. Eles eram obrigados. Os que 'aceitavam' o faziam como unica maneira de sobreviver mais um tempo diante daquilo tudo. Eram escravos.
Um dia, em meio a seus afazeres diários de limpeza de corpos, Saul avista um garoto que inexplicavelmente ainda respirava apos ser submetido a câmara de gás. Logo o garoto é morto asfixiado por um soldado alemão, e indicado para uma autopsia para descobrir o por que de ele não ter morrido com o gás. Como o nome do filme já diz, o garoto se trata do filho de Saul, ou ao menos, é o que aparenta, uma vez que o filme a todo momento nos deixa em duvida se o garoto era seu filho de fato, ou era em sentido figurado. Saul se sensibiliza pela morte do garoto diante de tantas mortes que já encarou e resolve travar uma verdadeira jornada para lhe conceder um funeral digno com todas as honrarias possíveis.
Assim acompanhamos por quase duas horas, alternando entre câmeras subjetivas e sempre em planos extremamente fechados e claustrofóbicos, Saul tentando recuperar o corpo antes da autopsia, Saul tentando encontrar um rabbino entre os judeus para fazer um funeral. Saul envolvido numa tentativa de fuga do centro de concentração. Nesse aspecto, o filme é exemplar em estabelecer a dinâmica que aquelas vitimas possuíam dia apos dia, hora apos hora, onde um simples espirro ou tropeço poderia ser a diferença entre mais um dia de vida e uma morte dolorosa e inesperada.
Sem trilha sonora, o filme se apresenta carregado e pesado. Mas, justamente por isso também, confuso em suas ações e um tanto monótomo ao perder constantemente o ritmo. Isso por que apesar de percebermos um vasto mundo ao redor ocorrendo ao redor de Saul, o filme nos obriga a acompanhar somente ele. Seus passos, sua respiração, seu caminho. Tudo que vemos é o que Saul vê, ou seria o que alguém que andasse com Saul veria. Isso limita propositalmente a compreensão dos fatos e sequencias das ações ali ocorridas. Isso é a proposta, de nos fazer ser uma daquelas vitimas e notar como era por diversas vezes confuso tudo o que eles faziam e cansativo. Se conceitualmente isso é exemplar, cinematograficamente falando é um deslize, pois acaba sendo um estudo de gênero que não permite aprofundar o espectador em caráter sentimental e emocional a tudo aquilo. Pois, se o que acompanhamos é a jornada de um suposto pai para enterrar seu filho morto, antes de ele também ser morto, nossa impressão de suas ações é a mesma de qualquer outro prisioneiro ali que visse essa jornada. Se estamos num campo de concentração onde a morte e a crueldade ja se tornou 'normalidade' e 'banalidade', se arriscar ainda mais para enterrar uma criança já morta como tantas outras antes e depois dela, soa quase estupido. Uma loucura.
Assim o interesse por aquela jornada, por mais tocante que seja, acaba se tornando enfadonha de acompanhar. Tendo um ato final, intencionalmente poético mas que não funciona por ser a hora errada de ser executado, o filme ainda assim é um retrato ambicioso e muito interessante de uma historia real da nossa humanidade que jamais sera esquecida, apagada ou justificada. Que jamais deixou de dor e que por isso mesmo, jamais sera deixada de ser repetida continuamente pelo cinema. Uma bela obra que mesmo diante de seus tropeços 'dinâmicos' vale a pena ser contemplado pela genialidade que se propõe a fazer.
Rua Cloverfield, 10
3.5 1,9KIndo na contramão da maioria das continuações de seu gênero, este é muito bom.Um suspense crescente, com aquela tipica formula de nos prender pelos personagens e não pelas ações necessariamente. É continuação do found footage Cloverfield que para quem não sabe, é uma especie de subgenero já classicamente conhecido e destruído por franquias como Atividade Paranormal. Filmes que aludem a um falso documentário ou falso registro verídico e caseiro. No entanto o primeiro filme era exemplar na maneira que constroi-se e desenvolve esse subgenero. Faz da sugestão seu maior feito. Esse segundo no entanto, é um filme totalmente diferente, inclusive em genero. Este é um suspense de linguagem habitual, e que não depende do primeiro filme para ser entendível. Pelo contrario, é como se este pudesse ser um filme complementar ou paralelo. É uma historia independente. Direção de arte certeira, e ritmo que prende - por mais que quem curta suspenses do tipo, possam acha-lo previsível demais-.
Hardcore: Missão Extrema
3.5 383 Assista Agora"Hardcore Henry" é o filme mais louco, insano, surreal, e genial da vida. Parece ruim, mas é foda.
Mas, aviso: não é um filme feito para todos os públicos, por um simples motivo - sua linguagem soa quase como experimental, ao passo que parece um hibrido surpreendente de Cinema com Game. Para os adeptos ao jogo Counter Strike, haverá uma identificação imediata.
Dirigido pelo estreante Ilya Naishuller, e exibido na première do Festival de Toronto de 2015, o filme traz a seguinte sinopse:
O filme conta a historia de um Cyborg chamado henry. Não se sabe exatamente como ele foi ferido e nem como se transformou nesse humano meio maquina - Se relacionou com RoboCop, não raciocinou errado, mas também esta longe de acertar -. Fato é, que já somos apresentados a ele e sua trama, com ele acordando no laboratório sendo 'finalizado' por uma mulher que se apresenta como sua esposa. A partir daí, o laboratório é invadido, pessoas mortas e ele é obrigado a escapar e tentar encontrar sua aparente esposa Estelle (Haley Bennett), sequestrada por Akan, um guerreiro poderoso que aparenta também ser um Cyborg mas com uma especie de telecinese especifica que faz com que ele consiga mover objetos a distancia; que planeja utilizar a tecnologia de Henry para criar soldados a partir de bioengenharia.
O diferencial aqui e experimental esta no fato de que tudo isso nos é mostrado em primeira pessoa. Ou seja: a Câmera são os olhos do Henry. Jamais vemos nada alem da visão do henry. Se ele desmaia, desmaiamos junto. Se ele escuta, escutamos, se ele não escuta, não escutamos. É idêntico a ver gravações de GoPro e a jogar Games de simulação em primeira pessoa. Idêntico. Inclusive o filme estende isso de uma forma tão absurda e genial, que o filme ganha ares de jogo em uma especie de missão.Assim, Henry o herói, nosso player, surge passando por especies de fases. Ora como um sniper, ora tendo que escalar prédios, ora descobrindo objetos escondidos.
É notável inclusive como o designer de produção e principalmente o trabalho dos diretores de fotografia - são três diretores - conseguem empregar de forma verossimíl e eficiente essas mudanças de cenários. É surpreendente o espaço cênico adotado. Mas, talvez o que seja mais genial e digno de talvez estudos no futuro sobre linguagem cinematográfica, é a forma que se estabelece ritmo nesta narrativa que por sí só, já em teoria poderia surgir cansativa. Não é um found-footage. É alem. O universo diegético se estabelece bem mais - ironicamente - orgânico aqui. Num vídeo game nós estamos no comando das ações. Aqui, dependemos da vontade própria daquele personagem que nos leva consigo. Assim, mais que a linguagem, é importante que haja uma direção inventiva, um roteiro coeso e de apelo forte e claro, cenas de ação memoráveis do tipo em que mesmo cineastas fiquem cabreiros de como foi filmado e concebido.
Violência extrema em cada morte, conferindo aspectos quase artísticos a essas ainda que totalmente brutais e explicitas.
Ainda achando espaço para um humor sarcástico, o filme possui personagens chaves para conectar toda essa gama de informações na atenção do espectador.
Outro ponto curioso é que o protagonista não pronuncia uma unica palavra.
De fora, este filme pode parecer um filme ruim, um trash barato e sem noção. Mas, a verdade é que se trata de um jovem e surpreendente obra interessantíssima de experimentação e concepção de linguagem fílmica que mesmo tudo indo contra, deu certo.
Repito: Um filme insano, doido, talvez difícil de digerir e mergulhar, mas que vale cada uma de suas 'fases'
Recomendo aos dispostos!
O Segredo da Cabana
3.0 3,2KOntem assisti "O Segredo da Cabana" e como é bom né?
Uma mistura de ficção distópica com terror, que faz referencias maravilhosas a clássicos do terror dos anos 70/80 como "The Evil Dead" por exemplo, mas que embala um discurso totalmente atual de critica a sociedade - característica, alias dos filmes de terror antigos, que hoje infelizmente se perdeu -.
Interessante, que ele surge quase como uma parodio, parecendo tirar sarro dos clichês próprio do gênero, mas faz isso com uma competência e segurança coesa, sem perder o foco da referencia em si, para não destoar num enlatado qualquer.
Me surpreendi beneficamente. Recomendo.