O que somos de verdade? O que realmente escondemos por detrás das aparências? Parece clichê. E o é. Essa indagação é constante entre os humanos em sociedade, pois nunca se consegue um consenso sobre. As relações humanas são algo tão ou mais complexas do que o próprio ser humano e este em existência talvez. Com um titulo ironicamente certeiro. Closer - que recebeu no Brasil o subtitulo "Perto Demais" - é um filme sobre distanciamentos. Sobre estranhos, como o roteiro escrito por Patrick Marber - baseado em sua peça de teatro de mesmo nome - faz questão de repetir e evidenciar varias vezes, em momentos chaves do longa; e dirigido por Mike Nichols. Temos o escritor, a fotografa, a stripper e o dermatologista. Se pensarmos nas alegorias e eufemismos que o escritor ama utilizar em seus trabalhos, podemos estabelecer aqui uma dinâmica do que o filme pretende refletir. A fotografia nada mais é do que uma representação do real. Assim como as palavras, que são captações da realidade - sejam elas físicas e terrenas ou imaginarias e utópicas -. A pele que muitas vezes nos rotula e nos apresenta e encobre, nada mais é do que uma representação física, do que somos. Uma embalagem, que esconde o que realmente somos por dentro - entre coisas empíricas, ate mesmo coisas clinicas como ossos, carne e sangue, células. E a nudez, assim como a derme, nada mais é do que o ato de aparentar estar despido diante de olhos de Outros. Quando na realidade, a nudez real do verdadeiro Eu, jamais ocorre nem mesmo diante do espelho muitas vezes, à própria pessoa. Dan, Alice, Anna e Larry. O escritor frustrado que escreve sobre pessoas mortas. A stripper que parece estar sempre fugindo e a procura de algo. A fotografa que bem sucedida que parece nunca estar satisfeita com seus próprios cliques. O dermatologista que continuamente tenta desvendar algo alem do que parece ser capaz de conseguir. São quatro pessoas que se interligam e representam as nunces das relações humanas, românticas e ate mesmo fraternais e em sociedade dos humanos ao longo dos anos. Tudo isso massificado numa representação inclusive física de descrever essas nuances. vejam, Alice a mais misteriosa dos quatro e no entanto representada por uma mulher de aparência frágil, pequena, constantemente em mudança - seus cabelos esvoaçam em cada leitura da maneira que surge em tela, e isso diz muito sobre seu carater. Ou mesmo Anna, uma mulher alta de aparência segura e forte, mas que desmorona ao primeiro toque, ao primeiro beijo, as primeiras constatações de realidade e duvidas. Dan e Larry, ambos homens inegavelmente sedutores, olhos claros, brancos e padrões, que por trás da sedução e segurança das palavras, escondem pequenez e brutalidades que se desenvolvem e se escancaram ao menor sinal de perda de ego. São personagens a procura de algo. A procura de sentido. Que se envolvem pelo prazer e remontam isso, associando com amor romântico. Aquele de fases. Do humorado ao possessivo. nenhum deles parece de fato estar seguro em nenhum momento. tentam a todo custo serem honestos com todos e com eles mesmos, jogando um jogo entre verdades em detrimento de mentiras, tentando assim serem fieis ao que são, mas recaindo justamente por isso, em infidelidade, tristezas, frustrações, caos, dor, lagrimas e desespero. Personagens que tentam a todo custo achar a formula de se relacionar com o Outro e acabam sendo os próprios clichês aterradores de suas próprias vidas. Tudo embalado por uma trilha sonora branda, gostosa, quase piegas e que serve para relaxar e entristecer na mesma medida. Afinal, quem nunca se apaixonou ou achou se apaixonar.? quem nunca se perguntou qual a melhor coisa: a verdade ou a mentira útil? A verdade que destrói ou a mentira útil? Prazer e amor, devoção e respeito, posse e companhia. Tudo se mescla numa epopeia - ou quase - romântica - ou em ausência de uma -, caracterizados por esses 4 personagens. ''Quem Tem Medo de Virginia Woolf?'' - do mesmo diretor - a cerca de 50 anos, já mostrava esse embate, onde as pessoas que mais estamos ligados, mais perto, em maior 'Closer, são justamente aquelas que acabamos por menos conhecer, menos prever. São as que mais sabemos machucar justamente por serem quem nós mais queremos amar. A diferença é que se em ''Woolf'' tínhamos uma clareza de intenções desde o inicio, aqui em ''Closer'', tudo vai se enrolando mais e mais a medida que o longa avança. Pois os personagens fatidicamente creem que estão seguindo os caminhos mais honestos para eles mesmos e para os outros envolvidos. Mas, não por acaso, justamente a pequena, a de cabelos sempre em mudança, a menos sucedida dentre todos, a mais misteriosa, é que abre o primeiro frame do longa e o que o fecha, da mesma maneira - caminhando entre estranhos -. Isso porque "Alice" (e aqui as apas podem ser utilizadas), é talvez a mais sincera dentre os 4. Não com eles, mas para si mesma. Suas falas são chaves, seu poder é pontual. Sua fragilidade, nem tanto. Enganasse quem a lê como antagonista ou mesmo detentora das mais ardilosas mentiras. Na realidade, naquele aglomerado de prazeres e relações, ela é a cola que dá o ponto de quem são aquelas pessoas. (E o filme, como boa representação da realidade, pinta Anna como a desencadeadora de tudo, ora que genial). Não por acaso também o livro de Dan se chama 'o aquário', e o aquário de fato surge na casa e ambientes diversos nos núcleos de cada um deles. Por que na real, são todos peixes, se afogando, boiando, afundando, e nadando, numa grande vitrine. Num grande aquário diante de nós telespectadores. Estão ali, na estante, na parede, sob uma fina camada de vidro que a menor rachadura, a menor poluição, finda. Um filme sobre estranhos que estão perto demais. Mas, afinal, quem de nós não somos não é mesmo? Hello, strangers?!
(Recomendação: Só leiam o texto, após assistir o filme. Contem spoilers e descrição explicativa de varias cenas, incluindo o final e seu significado)
Postei no "Criticofilia" tbm >> http :// criticofilia. blogspot. com.br/ 2016/03/ critica-boa-noite-mamae-goodnight- mommy. html (Basta tirar os espaços)
Dirigido e roteirizado pela dupla Severin Fiala e Veronika Franz, esse filme austríaco - que tentou representar seu país no Oscar desse ano, e arrematou dezenas de prêmios mundo afora - "ICH SEH, ICH SEH" - do original "Eu vejo, Eu vejo" e traduzido pro inglês e pro português como "Boa noite, Mamãe (GoodNight, Mommy)" - é um deleite para os olhos atentos de cinéfilos de qualquer geração.
Isso porque sua força reside nos detalhes e na busca de refletir o cinema suspense com toques de terror lá em seu ápice em anos passados, - mais especificadamente, com referencias a obras dos anos 70 - onde tivemos um considerável requinte de linguagem pro gênero.
É preciso dizer que o filme tem seu plot real apenas nos dez minutos finais de projeção. Talvez nos cinco últimos se considerarmos os elementos que os compõem. Por tanto, a revelação do "implícito" envolvendo os dois irmãos não é o que o filme quer segurar até o final. O roteiro não visa tornar misterioso a condição que une os dois irmãos no filme; muito pelo contrário. Ele espalha pistas escancaradas ao longo da projeção sem nenhum pudor. Ainda assim é belo constatar sua comunicação visual na sutileza nessas indicações.
Primeiro de tudo devemos lembrar que Hollywood nos acostumou mal. Nos criou a base de obviedade onde sutileza não existe e onde diálogo e edição frenética são sinônimos de Bons filmes (pra eles). Aqui, temos cinema base de suspense, onde se tem comunicação por imagens e não por ação ou fala.
Assim, o que se deve prestar atenção nesse filme é a construção narrativa de sua Mise-en-scène, o cenário que compõe o quadro em cena. Atribuir significado à água, aos reflexos, ao solo mole, às sombras, as cores, as árvores, aos quadros, fotos, a maneira que a câmera se posiciona, a maneira que a câmera se movimenta.
O ambiente é o verdadeiro protagonista do filme. É quem está narrando tudo.
Assim é brilhante notar como o filme nos conta através de um gato, através de um isqueiro, através de um quadro feito por silhuetas de sombras, através de reflexos, da ausência de calendários e relógios, bem como através de um cripta e seus ossos, sua real intenção de existir.
O tempo aqui não é fluido, e é importante salientar isso para que se entenda o seu desfecho final. Que sim é aberto a interpretações, mas é um fato planejado também. Os insetos e seu significado quase mitológico e psicológico, também tem papel importante na construção narrativa do filme. E não o bastante, ainda temos o silêncio que é a melhor fala de todo o roteiro.
Falando de aspectos técnicos, é preciso dar louros ao diretor de fotografia Martin Gschlacht, que compreende o universo que esta trabalhando, inserindo uma palheta de cores vibrantes sempre que estamos em lugar comum aos gêmeos, em contraste a palheta de cores mais escuras e opacas de quando nos encontramos diante da mãe deles - que obviamente oferece uma especie de perigo e apreensão às duas crianças. E isso ocorre, por que acompanhamos o filme pela perspectiva dos meninos, ate o inicio do terceiro ato. A partir dali, de maneira bem assertiva pelos diretores, passamos a ser meros espectadores das cenas. Um manejo do cinema de terror eficaz e esquecido atualmente.
A partir daqui escancararei sem a mesma sutileza do filme, o seu entendimento para ajudar aqueles que não compreenderam. Pois é impossível eu falar sobre alguns elementos sem dar spoilers.
Estejam avisados e só leiam depois de ver o filme. Pois, qualquer informação, como disse no inicio do texto, pode 'estragar' a experiencia visual e narrativa do filme. Só leiam, apos terem assistido.
Temos dois irmãos gêmeos, Lukas e Elias. Elias, que surge primeiro em tela com a regata clara, e Lukas com a regata escura.
Após uma brincadeira com o irmão, Lukas morre afogado no lago em frente à casa. Essa cena é mostrada no inicio do filme, entre varias outras brincadeiras dos gêmeos. Logo, após esse acidente, ha um incêndio na casa deles, e seus pais acabam se separando. (A indícios durante o filme, nas ações de submissão e dominação entre os gêmeos, de que o incêndio tenha sido efetuado pelo Lukas, antes deste morrer afogado). A mãe fica gravemente ferida no incêndio e precisa fazer algumas plásticas no rosto pra reconstruir a face. Após a morte do irmão, Elias passa a vê-lo, achando que ele continua vivo. Ele passa a negar a morte do irmão.
Eles se mudam da casa queimada, para uma nova casa, mais moderna. A mãe ao retornar pra nova casa comprada após o incêndio, se recusa a fingir que o filho morto está ainda entre eles. E passa a tratar o filho Elias, mais rispidamente. Por dois motivos. Primeiro, pelo trauma da perda do outro filho, ja que ambos são gêmeos e claramente o vivo faz ela lembrar do outro morto, e pelo acidente em si, onde surge o sentimento de culpa versus a separação do marido. Tudo isso culmina num distanciamento da relação dela com o filho.
Por causa das cirurgias, e desse novo comportamento da mãe, Elias e Lukas (morto) passam a achar que aquela mulher, não é sua verdadeira mãe. E após tortura-la, para querer saber onde esta a mãe verdadeira, colocam fogo nela e na nova casa ( somente o Elias no caso).
Assim ao final o que vemos é um vislumbre da primeira casa pegando fogo, seguida da segunda em flashes.
Como eu disse o tempo não é fluido. A montagem do filme de maneira assertiva pelo montador Michael Palm, não é linear, afinal estamos tratando de um mundo entre o real e o mundo dos mortos. Após o segundo incêndio, mãe e filho (Elias) morrem queimados e se juntam a Lukas o filho morto afogado, enfim juntos na floresta.
Assim além de ter uma comunicação visual genial, o filme brilha principalmente por conta de sua montagem, que escolheu essa direção de fragmentar o quebra cabeça. Quando vemos a os gêmeos olhando a nova casa a venda na verdade estamos vislumbrando momentos após o primeiro incêndio. E é notável que eles fazem a distinção de temporalidade, aos olhos atentos, pelas roupas dos meninos. As roupas indicam qual tempo narrativo estamos vendo.
As simbologias do fogo, da água, dos insetos, tudo remete a esse caráter de morte que ronda o filme. Inclusive a analogia da floresta e das mascaras. As cenas da floresta, indicam o submundo psicológico e sentimental de mãe e filhos. Quando vemos a mãe despida na floresta com o rosto em transe, na verdade, é uma representação dos ecos de angustia desta diante daquela nova realidade. Da perda do filho, do corpo mutilado por um do filhos, da inadequação a ela mesma diante do espelho e do papel de mãe, da nova vida distante de tudo. A floresta representa em filmes de suspense e terror, a quebra do palpável e a chegada do mistico. Pode representar tanto a perdição horrenda, quanto a purificação sagrada. O humano dentro dela, o humano urbano, tende a se quebrar de facetas diante de uma floresta. O filme explora bem isso também. Assim como as mascaras tribais. A mascara da cirurgia contrastando com a mascara dos garotos e ambas escondendo a realidade daqueles três personagens. Um morto, um pirotécnico, uma mãe morta-viva - e interessante ainda a a referencia a múmia nesse sentido, inclusive nos planos que mostram seus primeiros passos em tela, e aquele em que ela surge nas sombras do quarto com as persianas fechadas.
Há ainda outro detalhe bacana, que é quando os gêmeos acham a foto da amiga da mãe, que surge parecido, e que causa toda a comoção neles de que estão diante de uma impostora.
A tortura, como é claro ali, serve não só pro terror psicológico crescente de agonia, como também para simbolizar aquela relação que temos de sagrada entre mãe e filhos se quebrando. E o filme extrapola isso sem pudor algum, quando escolhe os ferimentos em ordem materna e progenitora perfeita, ao fazer os gêmeos primeiro ferirem a boca da mãe - a boca que simboliza fala, educação e alimentação -, depois o útero - quando saem insetos de la, denotando a morte das crias - e em seguida, o arrancar de dentes e da mãe tendo urinado. O filme inteira jogo com a relação materna de maneira inversa. A proteção e criação que se transforma em destruição e perigo. Isso em si perturba.
Ainda há cenas de caráter psicológico, claro, em que mostra os gêmeos constantemente disputando, correndo, e se batendo, com destaque a cena em que eles batem no rosto um do outro e perguntam se aquilo dói.
É um filme denso, perturbador e que carrega um terror psicológico a altura de seus prêmios e reconhecimento.
Não tem nada de ''o mistérios das duas irmãs'' ali. Aqui temos o mistérios dos dois irmãos, e sua querida mamãe.
Direção (e roteiro): David Robert Mitchel Título nacional: A Corrente do Mal.
Aí que felicidade! Quando você um jovem cineasta já descrente num gênero específico de filme, retoma a esperança ao assistir uma obra inspirada que faz jus ao passado, mas se lembra de reinventar o futuro.
Falo do gênero terror/horror que aqui em It Follow é empregado de maneira clássica mas absurdamente inspirada.
Os elementos de suspense do filme se atrelam aos clichês do gênero terror, mas de maneira tão orgânica que é lindo de constatar que realmente quando se atém aos detalhes tudo funciona. O filme se revela um pesadelo e não só na analogia com a trama não. O designer de produção bem como a direção de arte empregaram uma atmosfera de sonhos ao filme, onde não é possível determinar o tempo que se passa, e nem o tempo que se encontra. Outono? Inverno? Verão? Futuro? Passado? Presente?
Se temos leitores digitais e celulares, também temos carros dos ano 90 e TVs dos anos 70 e 80. E as cores, ah as cores que nos remetem a clássicos como Halloween por exemplo - e proposital com certeza - aumentam o tom ora de desamparo e ora de claustrofobia que o filme emprega através também de planos ora abertos e panorâmicas lentas, e ora fechados ou médios. Tudo lindo. Mas o que mais me fez gostar e me animar do filme é que ele não busca cometer o erro que vende mas me enche o saco, de se submeter a ser um subgênero igual a centenas atuais, que acham que terror é susto e pulo na cadeira. Que utilizam a sonoplastia em progressão e cortes bruscos para assustar momentaneamente o espectador e esquecem que terror se faz pelo imprevisível e pela atmosfera e não exatamente pela ação de seus monstros.
Mostro esse aqui que assume qualquer forma. Mostro esse aqui que é implacável como a Morte ( com M maiúsculo). Que é lento e moralista e por isso mesmo inevitável e talvez indestrutível. O final dúbio traz com chave de ouro o fechamento de uma produção cuidadosa que respeita a imaginação e os medos pessoais de cada espectador e que escolheu fazer de seu filme uma pequena pérola cinéfila para este que escreve aqui.
Como nota, para mim meu único incômodo é o sexo no filme. Não o elemento, mas a ação. Sem spoiler, mas o que me incomoda é o tom "estupro" que o ato assume, principalmente diante da protagonista, obviamente mulher. Não é nem questão ética feminista não. Até pq o ato assume esse tom com cada "amaldiçoado" .É mais uma questão de incômodo pessoal rs
O Destino de Júpiter dos irmãos Wachowski ( Lana e Andy).
Fantasia, Ficção científica, efeitos visuais soberbos, e uma complexidade narrativa dignas de gênios do cinema. Tudo isso são elementos que se encontram de maneira fácil na filmografia dos irmãos, contudo ainda que tudo isso se encontre aqui, nesse filme se perde um pouco. A sensação é que a ambição foi maior que a execução. Uma ideia genial mas que tenta entrecortar tantos elementos díspares que vira um emaranhado narrativo sem cola nenhuma. O filme esta longe de ser ruim. O designer de produção é minucioso ao estabelecer coerência para cada mundo, cada universo, nos mínimos detalhes presentes. O universo a lá Star Wars de O Destino de Júpiter consegue um feito raro nos filmes de ficção científica ufológicas, que é concretizar teorias como possibilidades palpáveis sem precisar de um tempo enorme para tal. O filme fala sobre consumismo e as burocracias manufaturadas das políticas globais. De certo modo, o filme é muito mais um filme político do que humano ( já que a priori todo filme interplanetário na verdade quer refletir sobre a humanidade terrestre). O mundo político em todas suas facções e ideologias de Júpiter não só é verossímil como pertinente nos dias atuais em que vivemos exatamente as encolhas estatais mostradas lá. Mas, nada disso se sustenta, se não se cria uma narrativa igualmente palpável capaz de nos causar identificação e torcida pelo que vemos. Os atos se intercalam e se perdem. Li que a teoria é de que assim como os irmãos brincam e criam linguagens afim de revoluciona-la ( como em matrix, em a viagem, mesmo em Sense8 ou até mesmo Speed Racer - que não assisti ainda, mas os moldes remetem a isso), ao criar uma narrativa que se interpola entre os atos, brincando com sua mise en scène, eles na verdade queriam demonstrar uma nova maneira de conduzir ritmo e trama. Pode ser. Mas, isso pode se tornar genial daqui algum tempo. Ainda não é. E por isso, não funciona bem. Ao menos não pra mim. O filme soa arrastado e perdido no que quer mostrar. E quando finalmente ele se propõe a explicar-se e justificar-se, isso cai por Terra, uma vez que a base de problemática não convence. Nem as jornadas dos heróis, a nível de roteiro ( aliás, as falas são uma falha a parte. Clichê atrás de clichê). Mas, o maior erro é esquecer o perfil do espectador comum. Quando você traz um filme carregado de características e expectativas blockbusters, é necessário entender o que tais filmes comportam e devem conter para saciar a demanda do público. O Destino de Júpiter peca ao considerar o total de seu público como espectadores que entenderam cem por cento as complexidades e peculiaridades de Matrix, quando na verdade.menos da metade possui a bagagem fílmica e textual necessária para saber que Matrix é muito mais filosofia do que um filme de ação ( como a maioria considera e enxerga). Isso é um erro de produção e criação tremendo para filmes como esse, que talvez funcionasse menor numa escala universal, visual, de atos de ação menor. Enfim...
Uma vez ouvi que ou se faz um filme de trama ou de visual. Conseguir os dois é raro. Concordo. Mas, o raro, por mais raro que seja existe. E os irmãos já provaram que são capazes de faze-lo. Pena que aqui, a preocupação maior parece ter ficado com o visual, com a ideia ( que repito é SENSACIONAL), com a uma experimentação de linguagem do que com todo o resto que faria tudo isso ser relevante ao menos. Não se revoluciona nada para o esquecimento. Somente para a lembrança. E infelizmente sei que daqui uma semana Júpiter continuará sendo apenas referência de um planeta ou alguma interferência no meu mapa astral...
Ruim? Nem de longe. Ótimo? Ta longe de ter conseguido ser. Bom? Com certeza. Vale pelo estudo do que o cinema de gênero pode nos trazer, e principalmente para nos atentarmos aos detalhes nas explosões e ações, e no quanto o gado chamado ser humano pode ser apenas um número no relógio de algo que nem enxergamos.
Ps: ponto para a referência bíblica sutil do final. Deus mulher, anjo "enlobado", no alto de uma cruz de ferro urbano. Palmas.
Alegria. Medo. Raiva. Nojo. Tristeza. Quando uma animação/filme que fala sobre as emoções humanas, te pega de jeito e faz você se identificar justamente com a Tristeza ( e gostar mais dessa personagem), isso diz muito sobre quem você é, e sobre as batalhas que a vida traz e trouxe. Mas, isso é auto análise. O que importa aqui, é que a Pixar, talvez tenha feito a animação mais adulta e complexa até então. Divertida Mente ( Inside Out do original, que em tradução livre significa Por Dentro ou Do/Pelo Avesso; e é um título mais propício ao meu ver), é um filme intenso, complexo, de teorias tão puxadas, mas disfarçado de animação fofa para criancas. Não que estas não consigam aproveitar o ensejo. Porém o que Inside Out versa é muito melhor aproveitado por adultos, que conseguem de fato sentir cada uma das entrelinhas ali colocadas entre um designer e outro colorido. Entre choros, lembranças, emoções diversas, melancólicas, tristezas, risos brandos, o filme nos faz mergulhar por dentro de nosso próprio histórico de vida, onde cada representação, cada "ilha" vai surgindo e ressurgindo diante de nós, nos fazendo compreender o que é estar e permanecer por aqui. Vivo, resistindo entre cada soco e cada beijo. Cada desafio e cada paz. Inside Out é uma pequena pérolas repleta de curvas necessária para cada um de nós. Ele mostra, como que cada emoção humana é essencial para a nossa existência e sobrevivência. Não existimos se formos alegres o tempo todo. E nem se formos tristes sempre também. Não somos nada se tivermos medo constantemente e nem se formos bravos continuamente. Somos um todo em conjunção com uma parcela de cada uma dessas emoções. A tristeza é necessária para a alegria. Assim como a raiva é essencial para o medo e vice e versa. Somos parcerias mutáveis. Lindo. Lindo. Lindo. E intenso. Recomendo. Ps: a personagem "Nojo" é a única que muda de nome ao meu ver de acordo com a situação. Pq ela representa não só o nojinho de certas situações, mas representa o Ego e a vergonha também.
(Na integra no meu blog pra quem interessar: o texto é grande rs criticofilia.blogspot.com.br/2015/09/critica-que-horas-ela-volta )
Dirigido e roteirizado com maestria por Anna Muylaert, O Filme "Que Horas Ela Volta?" é um retrato novo da escravidão velada existente no País à menos de 15 anos atrás, e que ainda encontra suas características na atualidade, entre ''normas pré estabelecidas'' na sociedade. É uma cronica fílmica de diferença de classes, de dominação e dominados, onde ''gentilezas embranquecidas'', são disfarces de chibatadas endurecidas à calos nas mãos.
Protagonizado por Regina Casé numa atuação envolvente - e ate de certa forma - pueril, o filme traça entre sutilezas e sensibilidade - no sentido de se ater a detalhes de gestos, olhares e palavras/tom de voz - um cotidiano de realidade que nos atinge dia após dia, desde que nos entendemos por gente.
"A pernambucana Val se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino vai prestar vestibular, Jéssica lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica."
Regina Casé é Val, uma empregada domestica que passa seus dias entre lavar roupas, arrumar a mesa, servir janta, café da tarde, almoço, lavar pratos, varrer a casa, limpar a casa, arrumar camas, quartos, servir água, colocar prato, tirar prato, estender roupa, ser baba, garçonete... Uma "segunda mãe" para o filho dos patrões, e assim ser considerada 'quase da família'. O problema esta nesse ''quase''. O ''quase'' implícita limites. Limites esses estabelecido por sua classe social. E é aqui que o filme se torna obra. O que o filme retrata é a desumanização que ha em nossa sociedade, ao estabelecer condutas de acordo com nosso status social. De acordo com nossa etnia, nossa "origem".
Jessica surge como uma mulher empoderada sim, mas que ao primeiro momento diante da hipocrisia condicionada de todos nós, aparenta ser uma mulher cínica e ambiciosa que não sabe seus limites. Quando no entanto a existência dela sob aquela casa burguesa do Morumbi em São Paulo é a unica célula coerente de quebra de paradigmas. O "Não saber seu lugar" de Jessica é justamente a metáfora do que ocorre no nosso cenário politico atual. Jessica é o tapa na cara, do patrão, do cis branco, do machista, do xenofóbico pró meritocracia que tem que aguentar o pobre, o negro, a trans, o nordestino, a mulher; sendo arquiteta na FAU e pegando o mesmo avião que eles. Avião, e não mais carroça ou somente ônibus.
É doloroso notar a ingenuidade resignada de Val a cada ordem que recebe. Por que para Val e tantos outros Brasileiros; classe A não se mistura com classe C. Por que se entende que existe ''sorvete de patrão'' e ''sorvete de empregada''. Porque se entende que quem limpa a piscina não pode usar ela.
Nesse sentido, Jessica - vivida com surpreendente atuação por Camila Márdila - é a quebra de reflexão na narrativa, ao escancarar esses tais limites e formas de conduta ao não se submeter a eles em nenhum momento.
É o tapa na cara, do gueto indo pra faculdade e não sendo apenas matéria de curso onde antes ele - eu, nós - não entravamos.
Se não bastasse o texto minuciosamente trabalhado, Muylaert ainda nos brinda com um cenário de ataque machista, na figura do aparente chefe de família - vivido por um apático Lourenco Mutarelli - que nunca precisou trabalhar na vida, e que vê na menina filha da empregada seu direito de macho de te-la como posse.
Tecnicamente o filme é um esmero a parte, Desde os planos cuidadosamente pensados para simbolizar as relações de poder e vulnerabilidade - Val constantemente aparece ao fundo da tela ou ao lado esquerdo, ou mesmo em cores mais apagadas que os demais - , o som - que sempre foi um problema em nosso cinema por questões de verba mesmo - aqui é limpo, funcional e sem nenhuma falha ou dificuldade de compreensão. O mesmo se aplica a seu filho Fabinho - o jovem ator de "O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias", Michel Joelsas - que por mais 'fofo' que aparente ser, revela traços desse machismo e domínio burgues que lhe é dado, em pequenos gestos, em pequenas frases, não menos nocivas.
É interessante notar também que a relação de mãe e filha no filme - onde o filme internacionalmente esta recebendo o titulo de "A Segunda Mãe" por isso - se estabelece de forma dura mas profundamente bela, quando se nota, que o afeto de Val por Fabinho, não é exatamente afeto a ele, mas um reflexo de seu amor e cuidado de mãe que gostaria de ser destinado a filha que morava longe. Val vê em Fabinho o seio que não pôde dar a filha por anos.
O filme ainda nos brinda com uma das cenas mais emblemáticas e belas que assisti esse ano, a cena final da piscina.
Como bem diria Cazuza: "a piscina esta cheia de ratos" sim! E que bom. A sociedade terá que se acostumar com suas Val's e Jessica's. As Barbaras terão que aceitar sim, que os pires e as xícaras, já não são mais uniformes. Agora é preto no branco.
Constelação de estrelas!
Um tapa na cara fílmico de extrema delicadeza, dor e revolta real que já chegou se tornando uma obra prima de Orgulho pro cinema nacional, mas de vergonha para nossa sociedade diante do mundo.
"Tipo campos de concentração, prantos em vão Quis vida digna, estigma, indignação O trabalho liberta, ou não Com essa frase quase que os nazi, varre os judeu? extinção (...) Médico salva? Não! Por que? Cor de ladrão Desacato invenção, maldosa intenção Cabulosa inversão, jornal distorção (...) Cura baixa escolaridade com auto de resistência Pois na era cyber, ceis vai ler Os livro que roubou nosso passado igual alzheimer, e vai ver Que eu faço igual burkina faso Nóiz quer ser dono do circo Cansamos da vida de palhaço É tipo moisés e os hebreus, pés no breu Onde o inimigo é quem decide quando ofende (cê é loco meu)" - Trecho da música "Boa Esperança" - Emicida
Não é de hoje que os Estúdios Ghibli mostraram ao mundo Ocidental e Oriental sua periculosidade unica em criar obras que permanecem atemporais e geniais no Cinema. Exemplos como "A Viagem de Chihiro" e “O Conto da Princesa Kaguya“ são algum deles. Porem, estes, agraciaram publico e critica, principalmente pelos nomes por trás de tais produções - desculpem-me; por traz de tais obras - que são ninguém mais e nem menos do que Hayao Miyazaki e Isao Takahata (diretores das obras citadas acima respectivamente) A cerca de dois anos os Estúdios Ghibli anunciaram que parariam de produzir filmes em grande escala global, devida a uma baixa na arrecadação de seus filmes e por consequência por possuírem menor verba para produzirem suas obras. O mundo das animações entrou numa especie de luto. E com razão. Dentro da vasta gama de títulos, existe uma chamada "O Mundo dos Pequeninos" uma historia vastamente conhecida por muitos e executada aqui por um jovem cineastas japonês supervisionado pelas mãos e genialidades incomparáveis de Miyiazaki. Com a parada dos Estúdios, Isao e Miyiazakise afastaram e saíram dos estúdios. Assim, sobrou para os jovens cineastas e menos experientes assumirem a responsabilidade de tentarem levantar a moral financeira dos estúdios. A ultima ficha deles recaiu sob as mãos justamente desse jovem cineasta, pupilo de Miyiazaki; Hiromasa Yonebayashi, que assume aqui sozinho as responsabilidades pela obra que ficou conhecida desde o ano passado como a ultima comercializada pelos Estúdios Ghibli para tristeza geral do mundo Cinéfilo. Principalmente, por que ''When Marnie Was There'' (do original "Omoide no Marnie" e que ganhou o título de "As Memórias de Marnie" aqui no Brasil) é uma obra genial de delicadeza, detalhes e de uma qualidade a altura da historia dos Estúdios ao longo de todos esses anos. Um filme que versa sobretudo,às relações familiares, mas sem morais estranhas de bons costumes. Não. ''Marnie'' aqui, lida sobre temporalidade, depressão na infância, sobre descoberta de quem se é, atrelados a tão conhecida e apaixonante fantasia mistica de crenças orientais que ultrapassam a linha do sonho e da realidade, somadas a uma maravilhosa nova visão sobre o protagonismo feminino, que assumem o destino e escolha de suas próprias historias. Mas o que chama mais atenção, alem do desenvolvimento e textos impecáveis, são os detalhes, o designer meticuloso que a animação possui, num tom de realismo tão grande que assusta. As sombras, a luz, as pegadas na areia, o movimento do mar, a saturação das cores. Tudo com traços fielmente trabalhados. É arte. Ao final, uma pequena emoção de um final belo, para uma obra mais bela ainda, que encontra sua feiura e tristeza somente no fato de talvez ser a ultima perola num vasto mar de relíquias de um estúdio que fez historia e deixará saudades... espero que somente por enquanto... Recomendo ao extremo! Como curiosidade: o lançamento do filme no japão se deu em 2014, mas nos EUA se deu em Maio deste ano de 2015. O lançamento nos EUA contou com uma vasta divulgação afim de "ajudar" os Estúdios a se recuperarem. Houve uma escalação de grandes estrelas de dubladores para tentar chamar a atenção do publico. O filme arrecadou cerca de U$186.844 dólares dos EUA e ¥3630000000 ienes ( cerca de R$120.454 reais) no Japão.
Terminando minha maratona, acabei de rever Mad Max - Alem da Cúpula do Trovão, que conta com Tina Turner no elenco. O filme que data de 1985, é narrativamente falando o mais fraco da trilogia que tem seu ápice no segundo filme (Mad Max a Caçada Continua).
Como filme isolado, porém, A Cúpula se resolve bem, mas a questão é que não se justifica. Ao contrário do cunho analítico político e ate antropológico dos dois anteriores, que reflete a questão do consumo, e principalmente os malefícios versus nossa dependência por combustíveis como gasolina e petróleo; esse a Cúpula, insere a questão do combustível água, é o limite dessa epopeia pós apocalíptica que dizimou os seres humanos a uma Era Feroz e animalesca novamente. Faz sentido. Por isso ele se resolve bem, mas o que não o justifica quanto narrativa, é que esse terceiro comete o erro de Hollywoodianizar demais essa sequência, ignorando a quase mitologia impregnada a saga do protagonista nos dois primeiros. O que vemos aqui, é as sequências de ação, as ações, e as motivações dos personagens serem caricaturados, onde as mortes são veladas e a violencia também. Em troca de resoluções pastelonas de alto requinte tecnico. Problema de produção. Pois, o roteiro e a direção permanecem coesos nas seqüencias. Toda a trama segue interessante, ainda mais a mescla com senhor das moscas numa especie de novo genesis para aquela humanidade desértica. A fotografia permanece maravilhosa. Li, que muitos questionam a subtrama "a lá senhor das moscas" aqui, mas lembro, que Max de herói ele passa a anti herói de sua própria jornada. Assim, ele precisa de uma redenção, que de fato só vem com a morte, mas enquanto isso não chega, ele precisa redimir-se consigo mesmo diante de suas motivações. O tom de heroísmo surge aí. Claro, que tudo parece forçado demais. A lenda, o chapéu que voa e aponta o caminho, a própria semelhança com os desenhos nas paredes e etc... Claro. Mas, funciona. Ele só decepciona diante da ruptura que ele comete no imaginário construído pela simplicidade dos dois anteriores. Só. Mas é um ótimo filme. Não se pode negar. Meu preferido inclusive mesmo agora analisando criticamente haha No mais, saliento que o eco do personagem piloto ali que surge no segundo filme e reaparece no terceiro servindo de gancho narrativo ( ainda que não aparente ser o mesmo personagem) é genial. Prova a identidade que Mad Max criou. Tina ta maravilhosa e diva numa vilã mega bem desenvolvida. E : "Dois homem entram, um homem sai" O/
Confesso que deixei por ultimo, porque a anos a industria americana tem me deixado extremamente decepcionado com os filmes que tratam de qualquer assunto sobre segregação ao negro. Isso porque, a maioria deles, sempre há o mocinho ou mocinha branca que é simpático a causa ou simplesmente "bonzinho" que se torna o herói que salva os negros de um destino cruel. Filme apos filmes vimos isso. Ha aqueles que citariam talvez Django ou mesmo o mais recente 12 anos de escravidão. Porem, se nestes, não ha o salvador branco, ha o negro protagonista de moral e motivações duvidosas, fato este que eu, negro, sinto na pele e metaforicamente também, certa preguiça e tristeza ao ver que não ha mais filmes que mantenham o foco correto. Mas então me propus a ver Selma... E que grata surpresa. Selma é tudo aquilo que eu espero de um filme sobre a segregação aos negros na historia. Isso porque ele não foca no sentimentalismo fácil de se extrair de tais historias. Ele foca na causa, na militância, na conscientização sem vitimismo ou pena. Ele mostra um povo que luta por si só, contra um sistema para possuir seus direitos negados. Talvez fosse a direção feminina que faltava. Não sei. O que sei é que a diretora não só soube dirigir com maestria o tema, como ainda teve o cuidado de manter a todo o momento o protagonismo aos negros. São os negros que lutam, os negros que decidem seus próprios caminhos. Ha ainda a percepção de não vilanizar o branco, mas sim o sistema de leis históricas e estrutura social e moral. Sensível e bruto, o filme ainda conta com uma narrativa eficaz que evoca a cada instante o sistema opressor e intolerante - aqui ia usar o termo "da época", mas infelizmente, Selma dialoga ainda muito bem com nossa atualidade global, inclusive a brasileira... -utilizando letreiros de arquivos do FBI. ( ainda que ficcionais). A trilha sonora que surge poderosa, não cai no artifício de surgir para levar ao pranto, mas para elucidar as ações daqueles homens e mulheres que marcharam por suas vidas e dignidade. Martin Luther King, aqui merece aplausos, numa concepção que não pretende eudeuza-lo como a persona real histórica o é, mas cria um personagem humano, com falhas e medos, insegurança e milimetricamente perspicaz.. Que chega num nível tão grande de cautela, que em duas horas de projeção, o vemos rir verdadeiramente apenas uma vez. Nem mesmo em sua resolução king esboça sorrisos de vitória. Pois o ator entendeu bem que um líder militante como ele, jamais se daria ao luxo de esquecer que vencer uma batalha significa dar inicio a uma guerra. Guerra essa que se estende por anos enraizada em cada um de nós. Ainda me vi satisfeito ao constatar a forma que a diretora representa suas mulheres na narrativa. Mulheres fortes, conscientes de suas forcas, que em nenhum momento sao colocadas como frágeis ou protegidas. Elas tomam suas próprias decisões, caem, apanham, e lutam de igual para igual com seus companheiros, mesmo a sra. King, mantem a postura de mulher lucida diante das batalhas do marido. Por fim, Selma ainda é eficaz em mostrar uma paleta de cores saturadas em meia luz por vezes que destacam esse clima de opressão e luta. Que fazem a pele negra saltar em tela de maneira branda, mas que ao final, ganha maior contraste e nivela os tons da pele branca e negra em igualdade . Mas preciso ainda destacar o cuidado da direção de arte, principalmente na cena da ponte com a fumaça, onde o filme ganha áreas de terror, ao mostrar aquele povo sendo perseguido e massacrado por forcas sem rosto. Os brancos ali surgem em meio a fumaça ironicamente branca. Uma brancura espessa que cega. Com direito a presença de chicotadas que o designer de som faz questão de exaltar. Forte, crítico, e cruelmente lindo.
Selma é realmente um grito que merece ser ecoado ate as profundezas de cada glória em pele, cor e força, seja de quem for.
Se é pelas mãos, pelos pés eu não sei. O que sei, é que a serie me pegou de jeito. Construção otima de narrativa, a concepção de arte idem. Mas as atuações...em especial a de Eva Green merecem aplausos, pela dedição. Uma historia que possui suspense suficiente para nos prender em sua trama, que possui terror na medida certa para nos manter desconsertados, e que possui seu requinte e magia a ponto de nos fascinar. Porque o roteiro e a direção mostraram que o interesse não é tirar o sono, mas sim demonstrar a fragilidade dos inadequados no mundo em suas proprias historias de horror. E isso merece atenção. A resposta da Srta Ives eu não sei, mas a minha com certeza é: sim eu quero ver como sera essa continuação. Venha season 2, venha Mrs Chandler ( e ca entre nós, Mr Malcon e Dr. Frankenstein tbm pq..=X) que lhes espero <3
Não, não me enganei na expressão usada. A vida da artista vai alem da qualidade de pesquisa e andamento do documentário. Vivian Maier ou Srta. Maier (ou seria V. Smith?) é a prova de que algumas pessoas não nasceram para esse tipo de humanidade social ao qual fomos criados e estabelecemos a milhões de anos. Algumas pessoas nasceram estranhas, com paradoxos entre sua arte e alma, e sua vida em sociedade que é obrigatória. Não é segredo a ninguém apos vocês assistirem (e que me conhecerem) o quanto me vi estampado em Vivian, não somente pela qualidade de artista em construção e inadequado a ela, mas em sua qualidade de ser Fria e sombria ao mesmo tempo que consegue ser sensível e doce com estranhos. Muitas pessoas me dizem que de algum modo conseguem confiar em mim, mesmo por aqui pela internet, isso me dá uma qualidade quanto artista único: eu consigo decifrar seres humanos. e assim tentar compreende-los enquanto vou me descobrindo também. Vivian nada mais foi e é do que isso. Uma desvendadora do ser humano, em sua crueldade e beleza dúbia. Suas fotos, sua mania compulsiva por relatos e historias, seu obsessivo desejo e necessidade de guardar e acumular cada segundo de sua própria historia, seu tom de documentar tudo, seu fascínio pelo horror, pelo bizarro, meu mal..., seu foco único na sensibilidade de enxergar através dos olhos, por sobre as sombras. Seu fascínio em selfies e auto-retratos, em fotografar tudo que vê e sente. Seu acumulo em estourar emoções, em ser solitário diante de multidões. Seu peculiar e misterioso jeito de ser conhecida por muitos, de conhecer milhares mas nenhum deles realmente saber nada de si. Ela mesma se auto declarou como uma espiã. E é isso. Todo fotografo, todo artista seja em que especialidade for, é um espião. Espia a vida alheia, em busca de verdades e utopias. O seu diferencial é que ela guardava. pois não nasceu com o dom da sociabilidade (essa que eu depois de 23 anos, à dois, estou tentando aprender, sem muito sucesso, a internet em seu anonimato e desconstrução ainda me dá mais acalento do que o olho no olho - ao qual nunca o faço... poucas pessoas podem dizer que conseguem manter um encontro comigo em que eu olhe nos olhos dela quando converso. ninguém conhece minha fase central de fato, somente meu perfil.. com exceção das selfies, nela eu mostro meus olhos, minha fase direta e reta. Isso diz muito...) Vivian escolheu ser cuidadora para se tornar invisível, para ver da pobreza, de baixo o que sua maquina engrandecia por cima. De fato, ainda que sua arte seja bela e sensacional, o magistral mesmo é a vida e a persona da artista. Vivian é a real arte que nosso mundo teve. E por contradição puramente lirica, se estivesse viva, teria sucumbido a morte por ter sido revelada.
Nem todas fotografias vivas devem ser reveladas... Mas que bom que essa foi... que bom
finalmente terminei de assistir Leviatã, filme Russo, que concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. É de longe o que me nos gostei dos concorrentes, porem esse "menos gostar" é apenas questão de gosto, uma vez que o filme é exemplar em tudo que se compromete, desde a narrativa fluida ate a trilha sonora que parece descompassada mas que é propositalmente assim para passar a sensação de decadência que o filme aborda. Utilizando da passagem bíblica de Jo para ilustrar a analogia com a politica e as mazelas humanas sociais, o filme retrata a Rússia corrupta e desigual pós comunismo. Nada ali é gratuito, todo o pais é envolto numa rede de corrupção e abuso de poder pelo dinheiro. Isso relfete-se a seus cidadãos que sofrem calados ou gritando encarcerados em injustiças e mortes que caem no esquecimento amordaçados por chumaços de dinheiro. Atuações ótimas e um paradoxo um tanto dúbio entre as relações interpessoais e as doutrinas aqui. Inclusive o filme se sustenta da máxima de que "o homem é o lobo do homem" , um clichê real que nunca sai de pauta, que aqui e bem usado mas se torna perigoso quando ele levando questões de moral baseadas na religião, principalmente quando sabemos o quão imoral é o pais atualmente quanto aos direitos humanos de sua população, imoralidade essa defendida e justificada pela doutrina que o filme se apega ( ainda que a faça de maneira por vezes pejorativa e critica ao usar símbolos de poder como quadros e estátuas em contraponto de quadros nazistas por exemplo.) Ainda utilizando uma estética visual de fotografia toda cinza e poluída, o filme ainda remete ao caos e destruição e ate a certa melancolia ao introduzir carcaças de animais mortos em paralelo com carcaças de embarcações abandonadas. A bebida alcoólica aqui serve também não como caricatura dos russos mas sim como base para mostrar o quanto aquele povo precisa se entorpecer para não sentir o massacre social que lhe impõe. Não por acaso, os sóbrios da projeção são vistos fascinados pelo mar, que lhes trás a vida e o afogamento.
Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância, é um deleite narrativo que se tornou por enquanto o meu favorito a levar a estatueta de Melhor Filme no Oscar desse ano.
O filme brilha ao massificar uma critica incisiva repleta de sarcasmo ao showbiz americano. Dando espaço para inclusive criticar o papel da crítica em si e dos moldes midiáticos de hj em dia, em que se confunde admiração com amor ( e aqui está uma analogia generalizada a tudo).
Em certo momento um personagem diz que VC só existe se tiver um twitter ou blog e abraçar o facebook. O mesmo personagem explica que o verdadeiro poder hj em dia esta em quantas visualizações VC tem no YouTube.
Tais diálogos sintetizam o que Birdman é. Ele elucida o produto do entretenimento que constantemente se confunde entre a arte e a crueldade vazia. O velho sonho americano que sai pela culatra. Mas que tampouco quem está de fora, se difere do mesmo. Ha uma cena em que uma personagem diz que uma peça só sera lembrada se ela escrever algo bom sobre ela. Mesmo sem ver a peça ela anuncia que detonara ela. Pq odeia as pessoas envolvidas que não sabem o que é arte e assassinam o pouco dela, em detrimento do dinheiro. Ela diz que eles não são atores. Mas celebridades. Ora, e o que é ela então se não o mesmo? O filme joga com isso o tempo todo, inclusive nas referencias a filmes e atores "pops" do momento. Mas ele brilha em sua narrativa que merece aplausos na montagem ao oferecer planos sequências genuínos mesclados a falsos, mas que são quase imperceptíveis. Aos olhos desatentos ou envolvidos parece que temos um filme de 2 horas apenas com um único plano sequência do início ao fim. E isso é espetacular. A câmera assume papel de coadjuvante. É como se fossemos espiões das ações. Estamos ali nos bastidores vendo tudo de perto, nos escondemos e nos revelamos. Quando perdemos alguma ação, corremos em busca dela... É mágico. E que atuações coesas. Do cômico ao trágico.
"Sangramos, ate entendermos que as feridas vem do mesmo lugar que nossas forças"
Wild, que em tradução seria algo como Selvagem, ganhou o titulo nacional mais adequado para a trama. A jornada aqui não é para expurgar ou encontrar o lado selvagem da protagonista, e nem tao pouco, é permeada pela selvageria simbólica da natureza. A jornada aqui é sobre uma pessoa perdida e presa em si mesmo e que tenta se encontrar para se libertar de tudo aquilo que lhe sufoca. Portanto "Livre" cabe muito bem como título. Ao contrario do que tava lendo por ai, de nada tem relação esse filme com "Into the wild" justamente por que a jornada dessa mulher e daquele homem são completamente diferentes. O foco é outro e a mensagem também. Alias, nem mesmo q famigerada frase "é um Na natureza selvagem de saia" cabe aqui. É de calça também. Nada de restrição a saia. Isso porque o filme consegue ser deliciosamente feminista ao não colocar peso de valor no gênero da protagonista. Ela não se furta em nenhum momento por ser mulher. Não ha o que sua visar. Pelo contrario, sua trilha acaba por ser ate mesmo mais cansativa, pelos perigos extras externos que lhe impõem por ser mulher, quando esta se encontra por exemplo com uma dupla de aventureiros canalhas, ou em uma loja de cosméticos com um vendedora superficial. Amparado por uma trilha sonoro evocativa - e feminina vejam só, como Portshead e 4 Non Blonds - o filme peca apenas na estrutura narrativa que aglomera 3 formas de texto que não se justificam e tornam o filme mais longo do que realmente é. Isso compromete o ritmo do filme. Ele se utiliza de narração em off, para em menos de dois minutos na mesma cena voltar para um monólogo e em seguida recorrer a flash backs. Mas, tirando isso, a direção é segura e os simbolismos também funcionam. Como a introdução da serpente em dado momento e da raposa no caminho da Protagonista. Universalmente ambos os animais são representantes da volúpia, ardilosidade e perdição. Se em um momento ela foge e demonstra medo de um. Depois ela corre atrás da cia de um desses animais para no final bater de frente com ele, sem real interesse. Esses três encontros pautam os três atos da projeção, e consequentemente da transformação da personagem com sigo mesma. A atuação de Reese é certeira ao encarnar essa personagem perdida como seu sobrenome escolhido, repleta de culpa e ira. Ao contrário do que aparenta, Cheryl sempre esteve a procura de si mesma. Mesmo antes de sua perda física. Os flash backs mostram isso. Um filme longe de ser fluido e ótimo, mas que não deixa de ser bom e bem executado com uma mensagem ótima aos dias de hj: "Talvez seja no primitivo que nossa atualidade deva buscar os rumos para seu futuro" Talvez seja ali, na terra e não nas telas que estejam as respostas para nossas perguntas pessoais.
Com um título dúbio, La Partida é uma síntese do que um pais em inflação sofre ben como seus habitantes - envolto por uma base de um romance conturbado e por culpa da sociedade, impossível. É curioso notar como que as relações de realidade social são postas aqui. Tudo atual, onde a homossexualidade e a diversidade sexual, não dita comportamento e aceitação plena. Aqui, pouco importa o que o outro faz com seu corpo, desde que assuma por fora uma vida "padrão" e que seja macho ( no caso dos homens). Bem da verdade, não é tao diferente do que outros filmes na mesma temática mostram. A discriminação aqui existe ainda, mas de maneira mais velada. Pois se antes os filmes mostravam que dois homens jamais poderiam demonstrar afeto um pelo outro. Aqui, essa demonstração é aceita, mas desde que amparada por um casamento convencional hetero, com filho. Com comportamento dito masculino de jogar bola e ser masculino sempre e desde que a "prática" seja para seu ganha pão. No momento que isso entra em choqu . A intolerância volta, fazendo o terror tal qual quando ele já era escrachado. Vejo que muitas pessoas reclamam que todo e qualquer filme em sua maioria que abordem casais ou tramas que contenham em sua base homossexuais/Bissexuais/ acabam em tragédia. Seja pela morte, seja pela infelicidade, seja por separação. Nunca ha um final feliz pleno. Mas isso condiz com a realidade. O cinema, deve sempre ser uma extensão da voz social. Enquanto a realidade nossa seres diversificados inclusive sexualmente e comportamentalmente for envolto em tragédia e morte, o cinema extendera e deve estender isso pra tela. Pq infelizmente , nem mesmo noa sonhos e na fantasia, o ser humano ainda é livre para ser quem é. Para viver como nasceu. Hj ainda só sobrevivemos. Só. É triste... Aparatos técnicos não condiz dizer afinal tratasse de um filme visivelmente de baixo orçamento mas que é bem executado quanto a sua cultura e linguagem. Todos personagens são bem delimitados. Ao final, o titulo revela não só uma partida tripla
"Afinal, de que vale o sacrifício da pureza, se você nunca experimentou o pecado do prazer?"
Concorrente ao Oscar 2015 a Melhor Filme Estrangeiro, Ida ( da Polônia) é um retrato - ou melhor, uma pintura - da pos guerra mundial. É a jornada meio road movie em busca do passado, para construir o presente.
É interessante a visão que o filme dá a busca por identidade não só das protagonistas, mas de todo um país e um povo que se perdeu ou foi perdido num massacre que ate hoje assombro as vidas ate daqueles que nem viveram seu horror. O filme se utiliza de uma narrativa que prioriza o conflito interno das protagonistas em todo seu desconforto e inadequação com a vida. Cada um delas em seu mundo, que ao final não deixa de ser o mesmo. Ida é arte pura. É como se cada frame fosse cuidadosamente pintado para dar a impressão de estarmos vendo fotografias antigas de chapa em movimento. Não ha um único plano que não pareça ter sido cuidadosamente planejado. Inclusive a concepção de cena. O designer de cena surge impecável. A profundidade de campo principalmente. É soberbo ( e sim aqui cabe essa palavra pomposa). Mas é a fotografia que brilha em granulações e tela chapada em tons de cinza. Onde ha cenas belíssimas e nostálgicas em que por vezes, parece que estamos vendo a própria Ida através de cortinas de vidro. O que é propicio. Tanto a personagem central quanto a tia de Ida, possuem uma complexa estrutura que se chocam de maneira tal que a linguagem do filme demonstra-a através da proporção de tela - ou razão - onde continuamente os personagens são vistos do lado inferior, as vezes parcialmente ocultas. É como se personagem e narrativa não se adequassem a si mesmos. É raro um filme compreender o interior de seus personagens a ponto de externalizar isso na imagem. É cinematografia pura. As atuações são ótimas também. E o texto ganha força no final. ( a cena da floresta confesso, conseguiu mexer comigo). Com direito a Jonh Contraine, Ida acaba de se tornar meu favorito dos concorrentes na categoria que concorre ao Oscar ( ainda que não seja minha aposta). É a vida retrata do jeito que muitas vezes ela é: cinza, obscura e religiosamente dotada de surpresas e chamados. Só nos resta escolher querer ouvi-los ou silencia-los. Lindo!
Guerra na Abcásia, 1992. A comunidade quer se tornar independente da Geórgia. Quase todos os habitantes já deixaram a aldeia, com excessão de dois homens. Margus permanece pois tem uma plantação de tangerinas. Ivo foi forçado a ficar. Após um embate entre inimigos Georgianos e Chechecos, um sobrevivente de cada lado é são salvos por Ivo. Porém, eles têm opiniões divergentes e estão em lados opostos na guerra. Eles terão que lidar com essa guerra pessoal.
Essa é a sinopse desse filme sensível e principalmente humano. Tangerines lida com a simplicidade dos atos e que por si só se elevam, em uma lição moral de respeito a vida envolto num roteiro fluido, gostoso, que se torna tocante pela semelhança universal de embate social a todos nos e que é poético em sua estrutura e andamento tecnico que não perde um detalhe, desde a cenografia, seus quadros, a presença das frutas e da madeira, ate a fotografia que colore as imagens na medida certa para nos passar a sensação de abandono e perigo que a situação pede. Mas são seus personagens que conquistam. Ivo principalmente, ainda mais em seu ato final quando descobrimos a verdade de sua permanencia no país em guerra.
Talvez o concorrente ao Oscar de filme estrangeiro mais intimista da temporada. Gostoso e acalentador. Que da esperança e tristeza ao mesmo tempo.
PS: aquela trilha sonora contida na fita amarela é uma delicia! <3
AiAi... Clint, Clint... Amigo, como faz? Colega,colega... Vamos lá!
Sniper Americano ( não me perguntem pq o titulo nacional vai manter o Sniper e só traduzir o American), é o tipico filme patriótico que a nação americana conservadora adora. E que só por isso, justifica tanta indicação nem um pouco merecida.
Chris Kyle (Bradley Cooper) matou mais de 150 pessoas nos cerca de dez anos em que serviu os Estados Unidos na guerra contra o terror.(do Iraque). E o filme mostra a trajetória desse franco atirador texano, focando não na guerra em si, mas nas consequências dela nele e suas justificativas para tal. Clint Eastwood abocanhou a direção do longa apos o Spielberg desistir do projeto por causa do orçamento limitado da produção.
O Filme conta com um direção razoável, obviamente já que o Clint não é nenhum aprendiz nesse posto. Mas é só. Tem uma fotografia condizente com o meio que retrata mas que pra mim exagera do contraste que dá propositalmente as cores ( notem que as cores em solo americano são sempre extremamente saturadas, enquanto as do Iraque são apagadas e em tons de cinza que só ganham cores vivas no sangue derramado. Isso faz com que o sangue por exemplo surja artificial e viscoso demais, atrapalhando um pouco o impacto verossímil que se pretendia.). A edição é fantástica! E a sequência próximo ao fim no tiroteio em meio a fumaça que adquire textura de areia é impressionante. A melhor parte do filme.
O maior problema do filme é que ele não fala sobre um herói. Mas sim, sobre um assassino. O filme adquire facetas fascistas ao enaltecer um sociopata. É admirável sim que o roteiro tente estudar seu personagem ao mostrar seu desiquilíbrio em sua desumanização frente a guerra. Seus surtos são exemplares, e alias é onde a trama se desenvolve melhor. No lar. Na sua mutação. Mas nada justifica a maneira que o Clint exerce a narrativa vilanizando o povo do Iraque sem questionar a Guerra em nenhum momento. Nem mesmo quando parece que ele entrará num campo mais interessante ele se acovarda e retrocede ( vide a cena que o protagonista exita em atirar numa criança). Essa postura política do filme não só torna sua trama previsível quanto as ações dos seus personagens e acontecimentos com os mesmos, como ainda comete o erro de tentar vitimizar os soldados americanos através do protagonista, mas esquece que lá no inicio, este é que escolheu se alistar e não foi convocado. E não sei se o que mais me incomodou foi o vergonhoso uso de um boneco EVIDENTE no lugar de um bebê, se foi a analogia tosca e forçada dos 3 tipos de seres humanos calcados na crença da igreja e seu paradoxo no final do filme quando o protagonista ataca um cachorro, ou se foi o plano que enquadra uma foto do "rival" do protagonista em um podium, aludindo que ele antes de virar o "vilão" ele era um atleta olímpico medalha ouro por seu país.
É tenso. O filme em si não é ruim. É um razoável com bons momentos. A indicação do Bradley ate se justifica por si, mas não diante da diversidade que existia( como o caso do Gyllenhaal q merecia ). Mas definitivamente direção e filme não merecem nem a indicação por méritos só por aparência. O ruim é a mensagem que o filme se auto defende. Mais um filme de americano para americano que tenta vender sua bandeira como o Bem absoluto mesmo diante de cada gota de sangue que a cor vermelha de sua bandeira exibe astiada em cada mão daquela nação, como o filme mostra em seus créditos finais.
Definitivamente é no passado que esta minha alma. Ainda que a uns dois ou três anos, finalmente as animações tenham me conquistado, e eu aplauda de pé as maravilhas das animações digitais, é na animação clássica, aquela desenhada e pintada a mão; que esta meu verdadeiro deslumbramento. E com razão! Do mesmo diretor do tocante e inesquecível "O Túmulo dos Vagalumes" (ao qual chorei 3 vidas e já escrevi sobre), Isao Takahata - que é co- fundador dos Estudios Ghibli ao lado do genial Hayao Miyazaki - "O Conto da Princesa Kaguya" é um arrombo de sensibilidade, poesia, magnetismo, melancolia e ternura em Eras de vazios futurísticos. Concorrente ao Oscar 2015, essa animação é baseada no "Conto do Cortador de Bambu" que consiste numa narrativa popular japonesa do século X, e que é considerada a mais antiga narrativa japonesa existente. Ele detalha principalmente a vida de uma garota misteriosa chamada Kaguya-hime, que foi encontrada quando bebê dentro do caule de um bambu brilhante. Amparado por diversos signos da mitologia e crenças orientais, o filme flui num ritmo surpreendente diante de uma trilha sonora belíssima, com ricas canções. É um espetáculo visual e convencional impossível de não se entreter e se emocionar. Seja pela 'humanidade' da natureza da princesa, seja pela dedicação e amor dos pais adotivos por ela - ainda que em seus erros -, seja pelas 'lições' morais que o filme demonstra nos detalhes, como o modo que os cortadores de bambu cortam a planta, certificando-se de não mata-la. É um primor, os traços, os planos, as cores, a fluidez de movimentos, o texto... Tudo encaixado numa direção segura do que mostra, ainda mais tendo em vista a importância do conto ao povo oriental. A sequencia final que dá literais asas a imaginação, celebra não só seu climax, mas o surgimento de mais uma obra impecável de um estúdio que nasceu para se tornar imortal no cinema. O filme funciona quase como se víssemos uma pintura em movimento. Os traços se assemelham as gravuras japonesas do início do século XVII e que influenciaram o impressionismo na Europa mais tarde. É como se o filme nos convidasse a refletir sobre a vida e em tudo que ela representa e significa. Sobre o que é a tal da felicidade de fato. Como em todos os outros filmes do Estúdio, estão inseridos aqui elementos críticos sociais, políticos, de convenções hierárquicas de costumes da tradição japonesa. O maior contra-ponto talvez se dê em dois momentos: O primeiro, quando traçamos o paradoxo da clareza de visão e percepção do pai e da mãe ao encontrarem a Princesa, ao saberem de imediato o que ela era e precisava. e mais tarde, com todo o deslumbre da sociedade e seus costumes cruéis mas belos e sofisticados, banhados a soberba, como ambos ficam cegos e sem percepção da infelicidade que a filha adquiri diante daqueles arrombos. E o segundo momento, está na sequencia
do sonho, onde ela em certo momento pergunta "Mas a montanha está morta?". Isso revela não só uma metáfora a seus sentimentos e alusões com a vida na terra frente a felicidade e existência, mas mostra a posição reflexiva que o filme quer assumir quanto as mazelas politicas e sociais de seu povo ao longo dos anos.
No final, ao menos eu em encantamento e certa tristeza- confesso derramei uma lagriminha - fica o pensamento de quanto mais a humanidade precisa compreender com sua natureza e interior neste mundo impuro, triste mas também amoroso e alegre, antes que finalmente consigamos retornar a Cidade Lunar, com todo seu esquecimento e imortalidade de paz. De aplaudir de pé e dar 5 estrelas na falta de 6. PS: O Lance com a Lua, me fez relacionar o conto/ e a historia com Sailor Moon. Numa pesquisada de leve na internet soube que realmente não estava enganado. Sailor Moon possui muitos elementos desse Conto em sua base. Porem, se em Sailor Moon, a princesa viera por razão de
proteção da mesma, apos uma batalha celestial, aqui, a princesa vem aparentemente para poder experimentar a vida humana, em toda sua impureza e tristeza (resta saber se por punição ou 'escolha própria'. Essa duvida fica ate hj no Conto do Bambu original e a animação de certo modo manteve a duvida, ainda que o roteiro no climax, indique que tenha sido por escolha. Ainda mais quando ela diz que veio para de fato viver.
PPS: protagonista Mulher, Lua e Mitologia Celestial? É claro que eu ia amar! obs: Uma pena que a unica chance desse filme levar a estatueta, seja por pura homenagem da Academia ao Estúdio. Uma vez que ao que parece esse seja o penúltimo filme lançado por eles, antes daquele fatídico anuncio de parada na produção. De querer ficar em luto. Ano passado era esperada essa estatueta como forma de homenagem ao "Vidas ao vento" mas não teria como algo na terra tirar de Frozen o premio. Esse ano, apesar das animações estarem ótimas, nenhuma se destacou por completo, então talvez haja esperança. Só não vi Song of the Sea, mas essa "princesa" merece tudo.
Não se pode negar, que é impossível não ficar com esse "I wish" na cabeça pro resto da vida hahaha No mais, é um musical gostoso, que perde um pouco a dinâmica no final do segundo ato justamente pelo roteiro desmembrar uma outra narrativa. Isso funciona no roteiro teatral, não no cinematográfico. A menos que se escolha usar a linguagem de capítulos para contar a história. O que não foi o caso ( mas poderia). Ele consegue ser bem fiel ate ao musical original e com certeza é eficiente em trazer para a atualidade alguns elementos de humor sem perder o classicismo do material original. Curioso também ver que eles deram um ar muito mais sombrio e lascivo a trama no que diz respeito ao conto da chapeuzinho e no tratamento da historia do João e da cinderela. As convenções familiares se deturpam no que os contos de fadas geralmente pregam. - ainda que a traição feminina e sua postura independente sejam punidas onde a masculina não o é. Ainda assim não é um mal filme. Tem atuações deliciosas, personagens marcantes ate, performances impecáveis, um figurino e uma arte cuidadosa onde o deslize só caiba a um ou dois furos no roteiro ( não lembro se no musical a irmandade da rapunzel com o padeiro é esquecida como aqui) e no ritmo claro do final do segundo ato em diante. Quanto a indicação da Meryl, é justificável porém, ainda que ame essa mulher e concorde que ela só por respirar já mereça prêmios, acho complicado sempre premiar uma atuação caricatural. É difícil separar a caricatura da atuação priori do ator quando ele esta debaixo de tais personagens. Um bom filme. Como o próprio filme diz em certo momento "nem certo, nem errado,', nem bom, nem ruim. É legal.' " into the Woods" tudo funciona quando se encontra o meio termo."
Legenda correta e sincronizada em PT Br cade vc sua linda? :( ps: achei essa que ta sincronizada é PT mas pouquíssimas coisas diferem do BR, porem ela só esta legendando o texto do filme, as musicas(letras) não foram traduzidas..quem quiser mesmo assim, é uma boa.. >> www. opensubtitles. org/pt/subtitles/6003559/ into-the-woods-pt
"Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana." Albert Einstein
PS: Que fofo! PPS: Certeza que serei uma versão anoréxica do Max. PPPS: porque demorei tanto para terminar de assistir essa Fofura Emocionante? PPPPS: <3
"As vezes são as pessoas que menos imaginamos que fazem as coisas que ninguém imaginaria"
Baseado na história real do lendário criptoanalista inglês Alan Turing, considerado o pai da computação moderna, o filme narra a tensa corrida contra o tempo de Turing e sua brilhante equipe no projeto Ultra para decifrar os códigos de guerra nazistas e contribuir para o final do conflito.
Sim, foi uma historia real, historia essa que se detêm na vida pessoal do homem responsável por eu, você e o mundo estarmos digitando e lendo isso aqui, interligados por uma maquina chamada de computador.
O filme conta com um direção segura que encontra seus melhores momentos na condução dos fatos, ao desmembrar épocas distintas para contar sua historia. Conhecemos a vida de Turing da infância a adolescência e na vida adulta, para que possamos desvendar quem ele é, já que ele em si só, aprendeu tal qual seus enigmas, a ser um ser humano criptografado para agir racionalmente, sem demonstrar aparentes sentimentos espontâneos. E o filme é eficiente nisso. Inclusive é importante ressaltar a trilha sonora épica que nos remete ao clima de guerra ainda que ele não se detenha em mostrar os arrombos da mesma; afinal, precisamos experimentar não as angustias do Front, mas sim, a daqueles personagens que viveram suas próprias guerras em cálculos e segredos. O figurino e arte do filme estão espetaculares, e li ao pesquisar sobre, apos assistir o filme, que foram usados maquinas reais da época inclusive locais verdadeiros, para conferir esse impressionante verossimilhança com a época da guerra.
Mas é nas analogias do roteiro delicado e bem escrito e na atuação de Benedict Cumberbatch que o filme ascende. A trama não só possui manejos que refletem sobre nossa sociedade - inclusive atual (Né Russia?), mas alude ao maior problema do ser humano, nosso maior enigma quanto nossa obsessão por maquinas e tecnologia inclusive: a frieza que mostramos àqueles diferentes da maioria. O desajeitado Turing é o reflexo de uma sociedade que nos impõe guardar segredos de nós mesmos em prol de uma civilidade aparentemente pacifica. onde o diferente deve ser visto como abominação. Em certo momento, um personagem diz: "Eles estavam certos sobre você; você realmente é um monstro". E aqui o filme recai numa sensível critica a homofobia existente no mundo, que consegue absurdamente limitar toda a crença, fé, historia e conhecimento de um ser humano, calcado em sua orientação sexual. É abismal como podemos ser tão brilhantes a ponto de criar inteligencias artificiais ao passo que matamos nossa inteligencia biológica.
A homossexualidade de Turing resultou em um processo criminal em 1952 - os atos homossexuais eram ilegais no Reino Unido na época, e ele aceitou o tratamento com hormônios femininos e castração química, como alternativa à prisão. Morreu em 1954, algumas semanas antes de seu aniversário de 42 anos, devido a um aparente auto-administrado envenenamento por cianeto.
É curioso pensar que cada assassino direto e indireto, que comete crimes e barbaridades contra a especie humana, ao martirizar, condenar, apontar o dedo e marginalizar a cada segundo um outro ser humano por causa de sua orientação sexual hoje em dia, talvez não tivesse nem nascido se não fosse justamente por um homem homossexual que viveu sua vida tentando decifrar os enigmas da vida e morreu por ser quem nasceu. É triste!
Mais triste é saber que enquanto escrevo, isso continua acontecendo, segundo apos segundos, muitas vezes disfarçados de "não tenho nada contra", ou "hoje em dia é tudo homofonia e preconceito"...
O filme ainda tem total discernimento ao introduzir de maneira branda mas eficiente, o inicio do feminismo pro ativo na pele da Keira aqui.
Closer: Perto Demais
3.9 3,3K Assista AgoraO que somos de verdade? O que realmente escondemos por detrás das aparências?
Parece clichê. E o é. Essa indagação é constante entre os humanos em sociedade, pois nunca se consegue um consenso sobre. As relações humanas são algo tão ou mais complexas do que o próprio ser humano e este em existência talvez.
Com um titulo ironicamente certeiro. Closer - que recebeu no Brasil o subtitulo "Perto Demais" - é um filme sobre distanciamentos. Sobre estranhos, como o roteiro escrito por Patrick Marber - baseado em sua peça de teatro de mesmo nome - faz questão de repetir e evidenciar varias vezes, em momentos chaves do longa; e dirigido por Mike Nichols.
Temos o escritor, a fotografa, a stripper e o dermatologista. Se pensarmos nas alegorias e eufemismos que o escritor ama utilizar em seus trabalhos, podemos estabelecer aqui uma dinâmica do que o filme pretende refletir.
A fotografia nada mais é do que uma representação do real. Assim como as palavras, que são captações da realidade - sejam elas físicas e terrenas ou imaginarias e utópicas -. A pele que muitas vezes nos rotula e nos apresenta e encobre, nada mais é do que uma representação física, do que somos. Uma embalagem, que esconde o que realmente somos por dentro - entre coisas empíricas, ate mesmo coisas clinicas como ossos, carne e sangue, células. E a nudez, assim como a derme, nada mais é do que o ato de aparentar estar despido diante de olhos de Outros. Quando na realidade, a nudez real do verdadeiro Eu, jamais ocorre nem mesmo diante do espelho muitas vezes, à própria pessoa.
Dan, Alice, Anna e Larry. O escritor frustrado que escreve sobre pessoas mortas. A stripper que parece estar sempre fugindo e a procura de algo. A fotografa que bem sucedida que parece nunca estar satisfeita com seus próprios cliques. O dermatologista que continuamente tenta desvendar algo alem do que parece ser capaz de conseguir.
São quatro pessoas que se interligam e representam as nunces das relações humanas, românticas e ate mesmo fraternais e em sociedade dos humanos ao longo dos anos. Tudo isso massificado numa representação inclusive física de descrever essas nuances. vejam, Alice a mais misteriosa dos quatro e no entanto representada por uma mulher de aparência frágil, pequena, constantemente em mudança - seus cabelos esvoaçam em cada leitura da maneira que surge em tela, e isso diz muito sobre seu carater. Ou mesmo Anna, uma mulher alta de aparência segura e forte, mas que desmorona ao primeiro toque, ao primeiro beijo, as primeiras constatações de realidade e duvidas. Dan e Larry, ambos homens inegavelmente sedutores, olhos claros, brancos e padrões, que por trás da sedução e segurança das palavras, escondem pequenez e brutalidades que se desenvolvem e se escancaram ao menor sinal de perda de ego.
São personagens a procura de algo. A procura de sentido. Que se envolvem pelo prazer e remontam isso, associando com amor romântico. Aquele de fases. Do humorado ao possessivo. nenhum deles parece de fato estar seguro em nenhum momento. tentam a todo custo serem honestos com todos e com eles mesmos, jogando um jogo entre verdades em detrimento de mentiras, tentando assim serem fieis ao que são, mas recaindo justamente por isso, em infidelidade, tristezas, frustrações, caos, dor, lagrimas e desespero. Personagens que tentam a todo custo achar a formula de se relacionar com o Outro e acabam sendo os próprios clichês aterradores de suas próprias vidas. Tudo embalado por uma trilha sonora branda, gostosa, quase piegas e que serve para relaxar e entristecer na mesma medida.
Afinal, quem nunca se apaixonou ou achou se apaixonar.? quem nunca se perguntou qual a melhor coisa: a verdade ou a mentira útil? A verdade que destrói ou a mentira útil?
Prazer e amor, devoção e respeito, posse e companhia. Tudo se mescla numa epopeia - ou quase - romântica - ou em ausência de uma -, caracterizados por esses 4 personagens.
''Quem Tem Medo de Virginia Woolf?'' - do mesmo diretor - a cerca de 50 anos, já mostrava esse embate, onde as pessoas que mais estamos ligados, mais perto, em maior 'Closer, são justamente aquelas que acabamos por menos conhecer, menos prever. São as que mais sabemos machucar justamente por serem quem nós mais queremos amar.
A diferença é que se em ''Woolf'' tínhamos uma clareza de intenções desde o inicio, aqui em ''Closer'', tudo vai se enrolando mais e mais a medida que o longa avança. Pois os personagens fatidicamente creem que estão seguindo os caminhos mais honestos para eles mesmos e para os outros envolvidos.
Mas, não por acaso, justamente a pequena, a de cabelos sempre em mudança, a menos sucedida dentre todos, a mais misteriosa, é que abre o primeiro frame do longa e o que o fecha, da mesma maneira - caminhando entre estranhos -. Isso porque "Alice" (e aqui as apas podem ser utilizadas), é talvez a mais sincera dentre os 4. Não com eles, mas para si mesma. Suas falas são chaves, seu poder é pontual. Sua fragilidade, nem tanto. Enganasse quem a lê como antagonista ou mesmo detentora das mais ardilosas mentiras. Na realidade, naquele aglomerado de prazeres e relações, ela é a cola que dá o ponto de quem são aquelas pessoas. (E o filme, como boa representação da realidade, pinta Anna como a desencadeadora de tudo, ora que genial).
Não por acaso também o livro de Dan se chama 'o aquário', e o aquário de fato surge na casa e ambientes diversos nos núcleos de cada um deles. Por que na real, são todos peixes, se afogando, boiando, afundando, e nadando, numa grande vitrine. Num grande aquário diante de nós telespectadores. Estão ali, na estante, na parede, sob uma fina camada de vidro que a menor rachadura, a menor poluição, finda.
Um filme sobre estranhos que estão perto demais. Mas, afinal, quem de nós não somos não é mesmo?
Hello, strangers?!
Boa Noite, Mamãe
3.5 1,5K Assista Agora"Isso dói?"
(Recomendação: Só leiam o texto, após assistir o filme. Contem spoilers e descrição explicativa de varias cenas, incluindo o final e seu significado)
Postei no "Criticofilia" tbm >> http :// criticofilia. blogspot. com.br/ 2016/03/ critica-boa-noite-mamae-goodnight- mommy. html (Basta tirar os espaços)
Dirigido e roteirizado pela dupla Severin Fiala e Veronika Franz, esse filme austríaco - que tentou representar seu país no Oscar desse ano, e arrematou dezenas de prêmios mundo afora - "ICH SEH, ICH SEH" - do original "Eu vejo, Eu vejo" e traduzido pro inglês e pro português como "Boa noite, Mamãe (GoodNight, Mommy)" - é um deleite para os olhos atentos de cinéfilos de qualquer geração.
Isso porque sua força reside nos detalhes e na busca de refletir o cinema suspense com toques de terror lá em seu ápice em anos passados, - mais especificadamente, com referencias a obras dos anos 70 - onde tivemos um considerável requinte de linguagem pro gênero.
É preciso dizer que o filme tem seu plot real apenas nos dez minutos finais de projeção. Talvez nos cinco últimos se considerarmos os elementos que os compõem. Por tanto, a revelação do "implícito" envolvendo os dois irmãos não é o que o filme quer segurar até o final. O roteiro não visa tornar misterioso a condição que une os dois irmãos no filme; muito pelo contrário. Ele espalha pistas escancaradas ao longo da projeção sem nenhum pudor. Ainda assim é belo constatar sua comunicação visual na sutileza nessas indicações.
Primeiro de tudo devemos lembrar que Hollywood nos acostumou mal. Nos criou a base de obviedade onde sutileza não existe e onde diálogo e edição frenética são sinônimos de Bons filmes (pra eles). Aqui, temos cinema base de suspense, onde se tem comunicação por imagens e não por ação ou fala.
Assim, o que se deve prestar atenção nesse filme é a construção narrativa de sua Mise-en-scène, o cenário que compõe o quadro em cena. Atribuir significado à água, aos reflexos, ao solo mole, às sombras, as cores, as árvores, aos quadros, fotos, a maneira que a câmera se posiciona, a maneira que a câmera se movimenta.
O ambiente é o verdadeiro protagonista do filme. É quem está narrando tudo.
Assim é brilhante notar como o filme nos conta através de um gato, através de um isqueiro, através de um quadro feito por silhuetas de sombras, através de reflexos, da ausência de calendários e relógios, bem como através de um cripta e seus ossos, sua real intenção de existir.
O tempo aqui não é fluido, e é importante salientar isso para que se entenda o seu desfecho final. Que sim é aberto a interpretações, mas é um fato planejado também. Os insetos e seu significado quase mitológico e psicológico, também tem papel importante na construção narrativa do filme. E não o bastante, ainda temos o silêncio que é a melhor fala de todo o roteiro.
Falando de aspectos técnicos, é preciso dar louros ao diretor de fotografia Martin Gschlacht, que compreende o universo que esta trabalhando, inserindo uma palheta de cores vibrantes sempre que estamos em lugar comum aos gêmeos, em contraste a palheta de cores mais escuras e opacas de quando nos encontramos diante da mãe deles - que obviamente oferece uma especie de perigo e apreensão às duas crianças. E isso ocorre, por que acompanhamos o filme pela perspectiva dos meninos, ate o inicio do terceiro ato. A partir dali, de maneira bem assertiva pelos diretores, passamos a ser meros espectadores das cenas. Um manejo do cinema de terror eficaz e esquecido atualmente.
A partir daqui escancararei sem a mesma sutileza do filme, o seu entendimento para ajudar aqueles que não compreenderam. Pois é impossível eu falar sobre alguns elementos sem dar spoilers.
Estejam avisados e só leiam depois de ver o filme. Pois, qualquer informação, como disse no inicio do texto, pode 'estragar' a experiencia visual e narrativa do filme. Só leiam, apos terem assistido.
Temos dois irmãos gêmeos, Lukas e Elias. Elias, que surge primeiro em tela com a regata clara, e Lukas com a regata escura.
Após uma brincadeira com o irmão, Lukas morre afogado no lago em frente à casa. Essa cena é mostrada no inicio do filme, entre varias outras brincadeiras dos gêmeos. Logo, após esse acidente, ha um incêndio na casa deles, e seus pais acabam se separando. (A indícios durante o filme, nas ações de submissão e dominação entre os gêmeos, de que o incêndio tenha sido efetuado pelo Lukas, antes deste morrer afogado).
A mãe fica gravemente ferida no incêndio e precisa fazer algumas plásticas no rosto pra reconstruir a face.
Após a morte do irmão, Elias passa a vê-lo, achando que ele continua vivo. Ele passa a negar a morte do irmão.
Eles se mudam da casa queimada, para uma nova casa, mais moderna. A mãe ao retornar pra nova casa comprada após o incêndio, se recusa a fingir que o filho morto está ainda entre eles. E passa a tratar o filho Elias, mais rispidamente. Por dois motivos. Primeiro, pelo trauma da perda do outro filho, ja que ambos são gêmeos e claramente o vivo faz ela lembrar do outro morto, e pelo acidente em si, onde surge o sentimento de culpa versus a separação do marido. Tudo isso culmina num distanciamento da relação dela com o filho.
Por causa das cirurgias, e desse novo comportamento da mãe, Elias e Lukas (morto) passam a achar que aquela mulher, não é sua verdadeira mãe. E após tortura-la, para querer saber onde esta a mãe verdadeira, colocam fogo nela e na nova casa ( somente o Elias no caso).
Assim ao final o que vemos é um vislumbre da primeira casa pegando fogo, seguida da segunda em flashes.
Como eu disse o tempo não é fluido. A montagem do filme de maneira assertiva pelo montador Michael Palm, não é linear, afinal estamos tratando de um mundo entre o real e o mundo dos mortos. Após o segundo incêndio, mãe e filho (Elias) morrem queimados e se juntam a Lukas o filho morto afogado, enfim juntos na floresta.
Assim além de ter uma comunicação visual genial, o filme brilha principalmente por conta de sua montagem, que escolheu essa direção de fragmentar o quebra cabeça. Quando vemos a os gêmeos olhando a nova casa a venda na verdade estamos vislumbrando momentos após o primeiro incêndio. E é notável que eles fazem a distinção de temporalidade, aos olhos atentos, pelas roupas dos meninos. As roupas indicam qual tempo narrativo estamos vendo.
As simbologias do fogo, da água, dos insetos, tudo remete a esse caráter de morte que ronda o filme. Inclusive a analogia da floresta e das mascaras. As cenas da floresta, indicam o submundo psicológico e sentimental de mãe e filhos. Quando vemos a mãe despida na floresta com o rosto em transe, na verdade, é uma representação dos ecos de angustia desta diante daquela nova realidade. Da perda do filho, do corpo mutilado por um do filhos, da inadequação a ela mesma diante do espelho e do papel de mãe, da nova vida distante de tudo. A floresta representa em filmes de suspense e terror, a quebra do palpável e a chegada do mistico. Pode representar tanto a perdição horrenda, quanto a purificação sagrada. O humano dentro dela, o humano urbano, tende a se quebrar de facetas diante de uma floresta. O filme explora bem isso também. Assim como as mascaras tribais. A mascara da cirurgia contrastando com a mascara dos garotos e ambas escondendo a realidade daqueles três personagens. Um morto, um pirotécnico, uma mãe morta-viva - e interessante ainda a a referencia a múmia nesse sentido, inclusive nos planos que mostram seus primeiros passos em tela, e aquele em que ela surge nas sombras do quarto com as persianas fechadas.
Há ainda outro detalhe bacana, que é quando os gêmeos acham a foto da amiga da mãe, que surge parecido, e que causa toda a comoção neles de que estão diante de uma impostora.
A tortura, como é claro ali, serve não só pro terror psicológico crescente de agonia, como também para simbolizar aquela relação que temos de sagrada entre mãe e filhos se quebrando. E o filme extrapola isso sem pudor algum, quando escolhe os ferimentos em ordem materna e progenitora perfeita, ao fazer os gêmeos primeiro ferirem a boca da mãe - a boca que simboliza fala, educação e alimentação -, depois o útero - quando saem insetos de la, denotando a morte das crias - e em seguida, o arrancar de dentes e da mãe tendo urinado. O filme inteira jogo com a relação materna de maneira inversa. A proteção e criação que se transforma em destruição e perigo. Isso em si perturba.
Ainda há cenas de caráter psicológico, claro, em que mostra os gêmeos constantemente disputando, correndo, e se batendo, com destaque a cena em que eles batem no rosto um do outro e perguntam se aquilo dói.
É um filme denso, perturbador e que carrega um terror psicológico a altura de seus prêmios e reconhecimento.
Não tem nada de ''o mistérios das duas irmãs'' ali. Aqui temos o mistérios dos dois irmãos, e sua querida mamãe.
Imperdível!
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraDireção (e roteiro): David Robert Mitchel
Título nacional: A Corrente do Mal.
Aí que felicidade! Quando você um jovem cineasta já descrente num gênero específico de filme, retoma a esperança ao assistir uma obra inspirada que faz jus ao passado, mas se lembra de reinventar o futuro.
Falo do gênero terror/horror que aqui em It Follow é empregado de maneira clássica mas absurdamente inspirada.
Os elementos de suspense do filme se atrelam aos clichês do gênero terror, mas de maneira tão orgânica que é lindo de constatar que realmente quando se atém aos detalhes tudo funciona.
O filme se revela um pesadelo e não só na analogia com a trama não. O designer de produção bem como a direção de arte empregaram uma atmosfera de sonhos ao filme, onde não é possível determinar o tempo que se passa, e nem o tempo que se encontra. Outono? Inverno? Verão? Futuro? Passado? Presente?
Se temos leitores digitais e celulares, também temos carros dos ano 90 e TVs dos anos 70 e 80. E as cores, ah as cores que nos remetem a clássicos como Halloween por exemplo - e proposital com certeza - aumentam o tom ora de desamparo e ora de claustrofobia que o filme emprega através também de planos ora abertos e panorâmicas lentas, e ora fechados ou médios. Tudo lindo.
Mas o que mais me fez gostar e me animar do filme é que ele não busca cometer o erro que vende mas me enche o saco, de se submeter a ser um subgênero igual a centenas atuais, que acham que terror é susto e pulo na cadeira. Que utilizam a sonoplastia em progressão e cortes bruscos para assustar momentaneamente o espectador e esquecem que terror se faz pelo imprevisível e pela atmosfera e não exatamente pela ação de seus monstros.
Mostro esse aqui que assume qualquer forma. Mostro esse aqui que é implacável como a Morte ( com M maiúsculo). Que é lento e moralista e por isso mesmo inevitável e talvez indestrutível.
O final dúbio traz com chave de ouro o fechamento de uma produção cuidadosa que respeita a imaginação e os medos pessoais de cada espectador e que escolheu fazer de seu filme uma pequena pérola cinéfila para este que escreve aqui.
Como nota, para mim meu único incômodo é o sexo no filme. Não o elemento, mas a ação. Sem spoiler, mas o que me incomoda é o tom "estupro" que o ato assume, principalmente diante da protagonista, obviamente mulher. Não é nem questão ética feminista não. Até pq o ato assume esse tom com cada "amaldiçoado" .É mais uma questão de incômodo pessoal rs
O Destino de Júpiter
2.5 1,3K Assista AgoraO Destino de Júpiter dos irmãos Wachowski ( Lana e Andy).
Fantasia, Ficção científica, efeitos visuais soberbos, e uma complexidade narrativa dignas de gênios do cinema. Tudo isso são elementos que se encontram de maneira fácil na filmografia dos irmãos, contudo ainda que tudo isso se encontre aqui, nesse filme se perde um pouco. A sensação é que a ambição foi maior que a execução.
Uma ideia genial mas que tenta entrecortar tantos elementos díspares que vira um emaranhado narrativo sem cola nenhuma.
O filme esta longe de ser ruim. O designer de produção é minucioso ao estabelecer coerência para cada mundo, cada universo, nos mínimos detalhes presentes. O universo a lá Star Wars de O Destino de Júpiter consegue um feito raro nos filmes de ficção científica ufológicas, que é concretizar teorias como possibilidades palpáveis sem precisar de um tempo enorme para tal.
O filme fala sobre consumismo e as burocracias manufaturadas das políticas globais. De certo modo, o filme é muito mais um filme político do que humano ( já que a priori todo filme interplanetário na verdade quer refletir sobre a humanidade terrestre). O mundo político em todas suas facções e ideologias de Júpiter não só é verossímil como pertinente nos dias atuais em que vivemos exatamente as encolhas estatais mostradas lá. Mas, nada disso se sustenta, se não se cria uma narrativa igualmente palpável capaz de nos causar identificação e torcida pelo que vemos. Os atos se intercalam e se perdem.
Li que a teoria é de que assim como os irmãos brincam e criam linguagens afim de revoluciona-la ( como em matrix, em a viagem, mesmo em Sense8 ou até mesmo Speed Racer - que não assisti ainda, mas os moldes remetem a isso), ao criar uma narrativa que se interpola entre os atos, brincando com sua mise en scène, eles na verdade queriam demonstrar uma nova maneira de conduzir ritmo e trama. Pode ser. Mas, isso pode se tornar genial daqui algum tempo. Ainda não é. E por isso, não funciona bem. Ao menos não pra mim.
O filme soa arrastado e perdido no que quer mostrar. E quando finalmente ele se propõe a explicar-se e justificar-se, isso cai por Terra, uma vez que a base de problemática não convence. Nem as jornadas dos heróis, a nível de roteiro ( aliás, as falas são uma falha a parte. Clichê atrás de clichê).
Mas, o maior erro é esquecer o perfil do espectador comum. Quando você traz um filme carregado de características e expectativas blockbusters, é necessário entender o que tais filmes comportam e devem conter para saciar a demanda do público. O Destino de Júpiter peca ao considerar o total de seu público como espectadores que entenderam cem por cento as complexidades e peculiaridades de Matrix, quando na verdade.menos da metade possui a bagagem fílmica e textual necessária para saber que Matrix é muito mais filosofia do que um filme de ação ( como a maioria considera e enxerga). Isso é um erro de produção e criação tremendo para filmes como esse, que talvez funcionasse menor numa escala universal, visual, de atos de ação menor. Enfim...
Uma vez ouvi que ou se faz um filme de trama ou de visual. Conseguir os dois é raro. Concordo. Mas, o raro, por mais raro que seja existe. E os irmãos já provaram que são capazes de faze-lo. Pena que aqui, a preocupação maior parece ter ficado com o visual, com a ideia ( que repito é SENSACIONAL), com a uma experimentação de linguagem do que com todo o resto que faria tudo isso ser relevante ao menos. Não se revoluciona nada para o esquecimento. Somente para a lembrança. E infelizmente sei que daqui uma semana Júpiter continuará sendo apenas referência de um planeta ou alguma interferência no meu mapa astral...
Ruim? Nem de longe.
Ótimo? Ta longe de ter conseguido ser.
Bom? Com certeza. Vale pelo estudo do que o cinema de gênero pode nos trazer, e principalmente para nos atentarmos aos detalhes nas explosões e ações, e no quanto o gado chamado ser humano pode ser apenas um número no relógio de algo que nem enxergamos.
Ps: ponto para a referência bíblica sutil do final. Deus mulher, anjo "enlobado", no alto de uma cruz de ferro urbano. Palmas.
Divertida Mente
4.3 3,2K Assista AgoraAlegria. Medo. Raiva. Nojo. Tristeza.
Quando uma animação/filme que fala sobre as emoções humanas, te pega de jeito e faz você se identificar justamente com a Tristeza ( e gostar mais dessa personagem), isso diz muito sobre quem você é, e sobre as batalhas que a vida traz e trouxe.
Mas, isso é auto análise. O que importa aqui, é que a Pixar, talvez tenha feito a animação mais adulta e complexa até então.
Divertida Mente ( Inside Out do original, que em tradução livre significa Por Dentro ou Do/Pelo Avesso; e é um título mais propício ao meu ver), é um filme intenso, complexo, de teorias tão puxadas, mas disfarçado de animação fofa para criancas. Não que estas não consigam aproveitar o ensejo. Porém o que Inside Out versa é muito melhor aproveitado por adultos, que conseguem de fato sentir cada uma das entrelinhas ali colocadas entre um designer e outro colorido.
Entre choros, lembranças, emoções diversas, melancólicas, tristezas, risos brandos, o filme nos faz mergulhar por dentro de nosso próprio histórico de vida, onde cada representação, cada "ilha" vai surgindo e ressurgindo diante de nós, nos fazendo compreender o que é estar e permanecer por aqui. Vivo, resistindo entre cada soco e cada beijo. Cada desafio e cada paz.
Inside Out é uma pequena pérolas repleta de curvas necessária para cada um de nós.
Ele mostra, como que cada emoção humana é essencial para a nossa existência e sobrevivência. Não existimos se formos alegres o tempo todo. E nem se formos tristes sempre também. Não somos nada se tivermos medo constantemente e nem se formos bravos continuamente. Somos um todo em conjunção com uma parcela de cada uma dessas emoções. A tristeza é necessária para a alegria. Assim como a raiva é essencial para o medo e vice e versa. Somos parcerias mutáveis.
Lindo. Lindo. Lindo. E intenso.
Recomendo.
Ps: a personagem "Nojo" é a única que muda de nome ao meu ver de acordo com a situação. Pq ela representa não só o nojinho de certas situações, mas representa o Ego e a vergonha também.
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista Agora"Senzala e casa grande pós-moderna" - André Gatti
(Na integra no meu blog pra quem interessar: o texto é grande rs criticofilia.blogspot.com.br/2015/09/critica-que-horas-ela-volta )
Dirigido e roteirizado com maestria por Anna Muylaert, O Filme "Que Horas Ela Volta?" é um retrato novo da escravidão velada existente no País à menos de 15 anos atrás, e que ainda encontra suas características na atualidade, entre ''normas pré estabelecidas'' na sociedade. É uma cronica fílmica de diferença de classes, de dominação e dominados, onde ''gentilezas embranquecidas'', são disfarces de chibatadas endurecidas à calos nas mãos.
Protagonizado por Regina Casé numa atuação envolvente - e ate de certa forma - pueril, o filme traça entre sutilezas e sensibilidade - no sentido de se ater a detalhes de gestos, olhares e palavras/tom de voz - um cotidiano de realidade que nos atinge dia após dia, desde que nos entendemos por gente.
"A pernambucana Val se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino vai prestar vestibular, Jéssica lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica."
Regina Casé é Val, uma empregada domestica que passa seus dias entre lavar roupas, arrumar a mesa, servir janta, café da tarde, almoço, lavar pratos, varrer a casa, limpar a casa, arrumar camas, quartos, servir água, colocar prato, tirar prato, estender roupa, ser baba, garçonete... Uma "segunda mãe" para o filho dos patrões, e assim ser considerada 'quase da família'. O problema esta nesse ''quase''. O ''quase'' implícita limites. Limites esses estabelecido por sua classe social. E é aqui que o filme se torna obra.
O que o filme retrata é a desumanização que ha em nossa sociedade, ao estabelecer condutas de acordo com nosso status social. De acordo com nossa etnia, nossa "origem".
Jessica surge como uma mulher empoderada sim, mas que ao primeiro momento diante da hipocrisia condicionada de todos nós, aparenta ser uma mulher cínica e ambiciosa que não sabe seus limites. Quando no entanto a existência dela sob aquela casa burguesa do Morumbi em São Paulo é a unica célula coerente de quebra de paradigmas. O "Não saber seu lugar" de Jessica é justamente a metáfora do que ocorre no nosso cenário politico atual. Jessica é o tapa na cara, do patrão, do cis branco, do machista, do xenofóbico pró meritocracia que tem que aguentar o pobre, o negro, a trans, o nordestino, a mulher; sendo arquiteta na FAU e pegando o mesmo avião que eles. Avião, e não mais carroça ou somente ônibus.
É doloroso notar a ingenuidade resignada de Val a cada ordem que recebe. Por que para Val e tantos outros Brasileiros; classe A não se mistura com classe C. Por que se entende que existe ''sorvete de patrão'' e ''sorvete de empregada''. Porque se entende que quem limpa a piscina não pode usar ela.
Nesse sentido, Jessica - vivida com surpreendente atuação por Camila Márdila - é a quebra de reflexão na narrativa, ao escancarar esses tais limites e formas de conduta ao não se submeter a eles em nenhum momento.
É o tapa na cara, do gueto indo pra faculdade e não sendo apenas matéria de curso onde antes ele - eu, nós - não entravamos.
Se não bastasse o texto minuciosamente trabalhado, Muylaert ainda nos brinda com um cenário de ataque machista, na figura do aparente chefe de família - vivido por um apático Lourenco Mutarelli - que nunca precisou trabalhar na vida, e que vê na menina filha da empregada seu direito de macho de te-la como posse.
Tecnicamente o filme é um esmero a parte, Desde os planos cuidadosamente pensados para simbolizar as relações de poder e vulnerabilidade - Val constantemente aparece ao fundo da tela ou ao lado esquerdo, ou mesmo em cores mais apagadas que os demais - , o som - que sempre foi um problema em nosso cinema por questões de verba mesmo - aqui é limpo, funcional e sem nenhuma falha ou dificuldade de compreensão.
O mesmo se aplica a seu filho Fabinho - o jovem ator de "O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias", Michel Joelsas - que por mais 'fofo' que aparente ser, revela traços desse machismo e domínio burgues que lhe é dado, em pequenos gestos, em pequenas frases, não menos nocivas.
É interessante notar também que a relação de mãe e filha no filme - onde o filme internacionalmente esta recebendo o titulo de "A Segunda Mãe" por isso - se estabelece de forma dura mas profundamente bela, quando se nota, que o afeto de Val por Fabinho, não é exatamente afeto a ele, mas um reflexo de seu amor e cuidado de mãe que gostaria de ser destinado a filha que morava longe. Val vê em Fabinho o seio que não pôde dar a filha por anos.
O filme ainda nos brinda com uma das cenas mais emblemáticas e belas que assisti esse ano, a cena final da piscina.
Como bem diria Cazuza: "a piscina esta cheia de ratos" sim! E que bom.
A sociedade terá que se acostumar com suas Val's e Jessica's. As Barbaras terão que aceitar sim, que os pires e as xícaras, já não são mais uniformes. Agora é preto no branco.
Constelação de estrelas!
Um tapa na cara fílmico de extrema delicadeza, dor e revolta real que já chegou se tornando uma obra prima de Orgulho pro cinema nacional, mas de vergonha para nossa sociedade diante do mundo.
"Tipo campos de concentração, prantos em vão
Quis vida digna, estigma, indignação
O trabalho liberta, ou não
Com essa frase quase que os nazi, varre os judeu? extinção
(...)
Médico salva? Não! Por que? Cor de ladrão
Desacato invenção, maldosa intenção
Cabulosa inversão, jornal distorção
(...)
Cura baixa escolaridade com auto de resistência
Pois na era cyber, ceis vai ler
Os livro que roubou nosso passado igual alzheimer, e vai ver
Que eu faço igual burkina faso
Nóiz quer ser dono do circo
Cansamos da vida de palhaço
É tipo moisés e os hebreus, pés no breu
Onde o inimigo é quem decide quando ofende
(cê é loco meu)" - Trecho da música "Boa Esperança" - Emicida
As Memórias de Marnie
4.3 668 Assista AgoraNão é de hoje que os Estúdios Ghibli mostraram ao mundo Ocidental e Oriental sua periculosidade unica em criar obras que permanecem atemporais e geniais no Cinema.
Exemplos como "A Viagem de Chihiro" e “O Conto da Princesa Kaguya“ são algum deles.
Porem, estes, agraciaram publico e critica, principalmente pelos nomes por trás de tais produções - desculpem-me; por traz de tais obras - que são ninguém mais e nem menos do que Hayao Miyazaki e Isao Takahata (diretores das obras citadas acima respectivamente)
A cerca de dois anos os Estúdios Ghibli anunciaram que parariam de produzir filmes em grande escala global, devida a uma baixa na arrecadação de seus filmes e por consequência por possuírem menor verba para produzirem suas obras.
O mundo das animações entrou numa especie de luto. E com razão.
Dentro da vasta gama de títulos, existe uma chamada "O Mundo dos Pequeninos" uma historia vastamente conhecida por muitos e executada aqui por um jovem cineastas japonês supervisionado pelas mãos e genialidades incomparáveis de Miyiazaki.
Com a parada dos Estúdios, Isao e Miyiazakise afastaram e saíram dos estúdios. Assim, sobrou para os jovens cineastas e menos experientes assumirem a responsabilidade de tentarem levantar a moral financeira dos estúdios.
A ultima ficha deles recaiu sob as mãos justamente desse jovem cineasta, pupilo de Miyiazaki; Hiromasa Yonebayashi, que assume aqui sozinho as responsabilidades pela obra que ficou conhecida desde o ano passado como a ultima comercializada pelos Estúdios Ghibli para tristeza geral do mundo Cinéfilo.
Principalmente, por que ''When Marnie Was There'' (do original "Omoide no Marnie" e que ganhou o título de "As Memórias de Marnie" aqui no Brasil) é uma obra genial de delicadeza, detalhes e de uma qualidade a altura da historia dos Estúdios ao longo de todos esses anos.
Um filme que versa sobretudo,às relações familiares, mas sem morais estranhas de bons costumes. Não. ''Marnie'' aqui, lida sobre temporalidade, depressão na infância, sobre descoberta de quem se é, atrelados a tão conhecida e apaixonante fantasia mistica de crenças orientais que ultrapassam a linha do sonho e da realidade, somadas a uma maravilhosa nova visão sobre o protagonismo feminino, que assumem o destino e escolha de suas próprias historias.
Mas o que chama mais atenção, alem do desenvolvimento e textos impecáveis, são os detalhes, o designer meticuloso que a animação possui, num tom de realismo tão grande que assusta. As sombras, a luz, as pegadas na areia, o movimento do mar, a saturação das cores. Tudo com traços fielmente trabalhados. É arte.
Ao final, uma pequena emoção de um final belo, para uma obra mais bela ainda, que encontra sua feiura e tristeza somente no fato de talvez ser a ultima perola num vasto mar de relíquias de um estúdio que fez historia e deixará saudades... espero que somente por enquanto...
Recomendo ao extremo!
Como curiosidade: o lançamento do filme no japão se deu em 2014, mas nos EUA se deu em Maio deste ano de 2015. O lançamento nos EUA contou com uma vasta divulgação afim de "ajudar" os Estúdios a se recuperarem. Houve uma escalação de grandes estrelas de dubladores para tentar chamar a atenção do publico. O filme arrecadou cerca de U$186.844 dólares dos EUA e ¥3630000000 ienes ( cerca de R$120.454 reais) no Japão.
Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão
3.4 485 Assista AgoraÉ. Minha memoria afetiva foi traída . haha
Terminando minha maratona, acabei de rever Mad Max - Alem da Cúpula do Trovão, que conta com Tina Turner no elenco. O filme que data de 1985, é narrativamente falando o mais fraco da trilogia que tem seu ápice no segundo filme (Mad Max a Caçada Continua).
Como filme isolado, porém, A Cúpula se resolve bem, mas a questão é que não se justifica.
Ao contrário do cunho analítico político e ate antropológico dos dois anteriores, que reflete a questão do consumo, e principalmente os malefícios versus nossa dependência por combustíveis como gasolina e petróleo; esse a Cúpula, insere a questão do combustível água, é o limite dessa epopeia pós apocalíptica que dizimou os seres humanos a uma Era Feroz e animalesca novamente.
Faz sentido. Por isso ele se resolve bem, mas o que não o justifica quanto narrativa, é que esse terceiro comete o erro de Hollywoodianizar demais essa sequência, ignorando a quase mitologia impregnada a saga do protagonista nos dois primeiros. O que vemos aqui, é as sequências de ação, as ações, e as motivações dos personagens serem caricaturados, onde as mortes são veladas e a violencia também. Em troca de resoluções pastelonas de alto requinte tecnico. Problema de produção. Pois, o roteiro e a direção permanecem coesos nas seqüencias. Toda a trama segue interessante, ainda mais a mescla com senhor das moscas numa especie de novo genesis para aquela humanidade desértica. A fotografia permanece maravilhosa. Li, que muitos questionam a subtrama "a lá senhor das moscas" aqui, mas lembro, que Max de herói ele passa a anti herói de sua própria jornada. Assim, ele precisa de uma redenção, que de fato só vem com a morte, mas enquanto isso não chega, ele precisa redimir-se consigo mesmo diante de suas motivações. O tom de heroísmo surge aí.
Claro, que tudo parece forçado demais. A lenda, o chapéu que voa e aponta o caminho, a própria semelhança com os desenhos nas paredes e etc... Claro. Mas, funciona.
Ele só decepciona diante da ruptura que ele comete no imaginário construído pela simplicidade dos dois anteriores. Só.
Mas é um ótimo filme. Não se pode negar. Meu preferido inclusive mesmo agora analisando criticamente haha
No mais, saliento que o eco do personagem piloto ali que surge no segundo filme e reaparece no terceiro servindo de gancho narrativo ( ainda que não aparente ser o mesmo personagem) é genial. Prova a identidade que Mad Max criou.
Tina ta maravilhosa e diva numa vilã mega bem desenvolvida. E : "Dois homem entram, um homem sai" O/
Selma: Uma Luta Pela Igualdade
4.2 794Confesso que deixei por ultimo, porque a anos a industria americana tem me deixado extremamente decepcionado com os filmes que tratam de qualquer assunto sobre segregação ao negro. Isso porque, a maioria deles, sempre há o mocinho ou mocinha branca que é simpático a causa ou simplesmente "bonzinho" que se torna o herói que salva os negros de um destino cruel. Filme apos filmes vimos isso. Ha aqueles que citariam talvez Django ou mesmo o mais recente 12 anos de escravidão. Porem, se nestes, não ha o salvador branco, ha o negro protagonista de moral e motivações duvidosas, fato este que eu, negro, sinto na pele e metaforicamente também, certa preguiça e tristeza ao ver que não ha mais filmes que mantenham o foco correto. Mas então me propus a ver Selma... E que grata surpresa.
Selma é tudo aquilo que eu espero de um filme sobre a segregação aos negros na historia. Isso porque ele não foca no sentimentalismo fácil de se extrair de tais historias. Ele foca na causa, na militância, na conscientização sem vitimismo ou pena. Ele mostra um povo que luta por si só, contra um sistema para possuir seus direitos negados.
Talvez fosse a direção feminina que faltava. Não sei. O que sei é que a diretora não só soube dirigir com maestria o tema, como ainda teve o cuidado de manter a todo o momento o protagonismo aos negros. São os negros que lutam, os negros que decidem seus próprios caminhos. Ha ainda a percepção de não vilanizar o branco, mas sim o sistema de leis históricas e estrutura social e moral.
Sensível e bruto, o filme ainda conta com uma narrativa eficaz que evoca a cada instante o sistema opressor e intolerante - aqui ia usar o termo "da época", mas infelizmente, Selma dialoga ainda muito bem com nossa atualidade global, inclusive a brasileira... -utilizando letreiros de arquivos do FBI. ( ainda que ficcionais).
A trilha sonora que surge poderosa, não cai no artifício de surgir para levar ao pranto, mas para elucidar as ações daqueles homens e mulheres que marcharam por suas vidas e dignidade.
Martin Luther King, aqui merece aplausos, numa concepção que não pretende eudeuza-lo como a persona real histórica o é, mas cria um personagem humano, com falhas e medos, insegurança e milimetricamente perspicaz.. Que chega num nível tão grande de cautela, que em duas horas de projeção, o vemos rir verdadeiramente apenas uma vez. Nem mesmo em sua resolução king esboça sorrisos de vitória. Pois o ator entendeu bem que um líder militante como ele, jamais se daria ao luxo de esquecer que vencer uma batalha significa dar inicio a uma guerra. Guerra essa que se estende por anos enraizada em cada um de nós.
Ainda me vi satisfeito ao constatar a forma que a diretora representa suas mulheres na narrativa. Mulheres fortes, conscientes de suas forcas, que em nenhum momento sao colocadas como frágeis ou protegidas. Elas tomam suas próprias decisões, caem, apanham, e lutam de igual para igual com seus companheiros, mesmo a sra. King, mantem a postura de mulher lucida diante das batalhas do marido.
Por fim, Selma ainda é eficaz em mostrar uma paleta de cores saturadas em meia luz por vezes que destacam esse clima de opressão e luta. Que fazem a pele negra saltar em tela de maneira branda, mas que ao final, ganha maior contraste e nivela os tons da pele branca e negra em igualdade . Mas preciso ainda destacar o cuidado da direção de arte, principalmente na cena da ponte com a fumaça, onde o filme ganha áreas de terror, ao mostrar aquele povo sendo perseguido e massacrado por forcas sem rosto. Os brancos ali surgem em meio a fumaça ironicamente branca. Uma brancura espessa que cega. Com direito a presença de chicotadas que o designer de som faz questão de exaltar. Forte, crítico, e cruelmente lindo.
Selma é realmente um grito que merece ser ecoado ate as profundezas de cada glória em pele, cor e força, seja de quem for.
Recomendo!
Penny Dreadful (1ª Temporada)
4.3 1,0K Assista AgoraSe é pelas mãos, pelos pés eu não sei.
O que sei, é que a serie me pegou de jeito.
Construção otima de narrativa, a concepção de arte idem. Mas as atuações...em especial a de Eva Green merecem aplausos, pela dedição.
Uma historia que possui suspense suficiente para nos prender em sua trama, que possui terror na medida certa para nos manter desconsertados, e que possui seu requinte e magia a ponto de nos fascinar.
Porque o roteiro e a direção mostraram que o interesse não é tirar o sono, mas sim demonstrar a fragilidade dos inadequados no mundo em suas proprias historias de horror. E isso merece atenção.
A resposta da Srta Ives eu não sei, mas a minha com certeza é: sim eu quero ver como sera essa continuação.
Venha season 2, venha Mrs Chandler ( e ca entre nós, Mr Malcon e Dr. Frankenstein tbm pq..=X) que lhes espero <3
Castanha
3.3 21Alguém sabe onde consigo assisti-lo? Download? Estou procurando e não encontro...
A Fotografia Oculta de Vivian Maier
4.4 106Que Vida! Que Vida!
Não, não me enganei na expressão usada. A vida da artista vai alem da qualidade de pesquisa e andamento do documentário.
Vivian Maier ou Srta. Maier (ou seria V. Smith?) é a prova de que algumas pessoas não nasceram para esse tipo de humanidade social ao qual fomos criados e estabelecemos a milhões de anos. Algumas pessoas nasceram estranhas, com paradoxos entre sua arte e alma, e sua vida em sociedade que é obrigatória.
Não é segredo a ninguém apos vocês assistirem (e que me conhecerem) o quanto me vi estampado em Vivian, não somente pela qualidade de artista em construção e inadequado a ela, mas em sua qualidade de ser Fria e sombria ao mesmo tempo que consegue ser sensível e doce com estranhos.
Muitas pessoas me dizem que de algum modo conseguem confiar em mim, mesmo por aqui pela internet, isso me dá uma qualidade quanto artista único: eu consigo decifrar seres humanos. e assim tentar compreende-los enquanto vou me descobrindo também.
Vivian nada mais foi e é do que isso. Uma desvendadora do ser humano, em sua crueldade e beleza dúbia.
Suas fotos, sua mania compulsiva por relatos e historias, seu obsessivo desejo e necessidade de guardar e acumular cada segundo de sua própria historia, seu tom de documentar tudo, seu fascínio pelo horror, pelo bizarro, meu mal..., seu foco único na sensibilidade de enxergar através dos olhos, por sobre as sombras. Seu fascínio em selfies e auto-retratos, em fotografar tudo que vê e sente. Seu acumulo em estourar emoções, em ser solitário diante de multidões. Seu peculiar e misterioso jeito de ser conhecida por muitos, de conhecer milhares mas nenhum deles realmente saber nada de si.
Ela mesma se auto declarou como uma espiã. E é isso. Todo fotografo, todo artista seja em que especialidade for, é um espião. Espia a vida alheia, em busca de verdades e utopias.
O seu diferencial é que ela guardava. pois não nasceu com o dom da sociabilidade (essa que eu depois de 23 anos, à dois, estou tentando aprender, sem muito sucesso, a internet em seu anonimato e desconstrução ainda me dá mais acalento do que o olho no olho - ao qual nunca o faço... poucas pessoas podem dizer que conseguem manter um encontro comigo em que eu olhe nos olhos dela quando converso. ninguém conhece minha fase central de fato, somente meu perfil.. com exceção das selfies, nela eu mostro meus olhos, minha fase direta e reta. Isso diz muito...)
Vivian escolheu ser cuidadora para se tornar invisível, para ver da pobreza, de baixo o que sua maquina engrandecia por cima.
De fato, ainda que sua arte seja bela e sensacional, o magistral mesmo é a vida e a persona da artista. Vivian é a real arte que nosso mundo teve.
E por contradição puramente lirica, se estivesse viva, teria sucumbido a morte por ter sido revelada.
Nem todas fotografias vivas devem ser reveladas... Mas que bom que essa foi... que bom
Que historia, Que vida!
Leviatã
3.8 299finalmente terminei de assistir Leviatã, filme Russo, que concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
É de longe o que me nos gostei dos concorrentes, porem esse "menos gostar" é apenas questão de gosto, uma vez que o filme é exemplar em tudo que se compromete, desde a narrativa fluida ate a trilha sonora que parece descompassada mas que é propositalmente assim para passar a sensação de decadência que o filme aborda.
Utilizando da passagem bíblica de Jo para ilustrar a analogia com a politica e as mazelas humanas sociais, o filme retrata a Rússia corrupta e desigual pós comunismo. Nada ali é gratuito, todo o pais é envolto numa rede de corrupção e abuso de poder pelo dinheiro. Isso relfete-se a seus cidadãos que sofrem calados ou gritando encarcerados em injustiças e mortes que caem no esquecimento amordaçados por chumaços de dinheiro.
Atuações ótimas e um paradoxo um tanto dúbio entre as relações interpessoais e as doutrinas aqui. Inclusive o filme se sustenta da máxima de que "o homem é o lobo do homem" , um clichê real que nunca sai de pauta, que aqui e bem usado mas se torna perigoso quando ele levando questões de moral baseadas na religião, principalmente quando sabemos o quão imoral é o pais atualmente quanto aos direitos humanos de sua população, imoralidade essa defendida e justificada pela doutrina que o filme se apega ( ainda que a faça de maneira por vezes pejorativa e critica ao usar símbolos de poder como quadros e estátuas em contraponto de quadros nazistas por exemplo.)
Ainda utilizando uma estética visual de fotografia toda cinza e poluída, o filme ainda remete ao caos e destruição e ate a certa melancolia ao introduzir carcaças de animais mortos em paralelo com carcaças de embarcações abandonadas. A bebida alcoólica aqui serve também não como caricatura dos russos mas sim como base para mostrar o quanto aquele povo precisa se entorpecer para não sentir o massacre social que lhe impõe. Não por acaso, os sóbrios da projeção são vistos fascinados pelo mar, que lhes trás a vida e o afogamento.
Um ótimo filme
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraBirdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância, é um deleite narrativo que se tornou por enquanto o meu favorito a levar a estatueta de Melhor Filme no Oscar desse ano.
O filme brilha ao massificar uma critica incisiva repleta de sarcasmo ao showbiz americano. Dando espaço para inclusive criticar o papel da crítica em si e dos moldes midiáticos de hj em dia, em que se confunde admiração com amor ( e aqui está uma analogia generalizada a tudo).
Em certo momento um personagem diz que VC só existe se tiver um twitter ou blog e abraçar o facebook. O mesmo personagem explica que o verdadeiro poder hj em dia esta em quantas visualizações VC tem no YouTube.
Tais diálogos sintetizam o que Birdman é. Ele elucida o produto do entretenimento que constantemente se confunde entre a arte e a crueldade vazia. O velho sonho americano que sai pela culatra. Mas que tampouco quem está de fora, se difere do mesmo.
Ha uma cena em que uma personagem diz que uma peça só sera lembrada se ela escrever algo bom sobre ela. Mesmo sem ver a peça ela anuncia que detonara ela. Pq odeia as pessoas envolvidas que não sabem o que é arte e assassinam o pouco dela, em detrimento do dinheiro. Ela diz que eles não são atores. Mas celebridades.
Ora, e o que é ela então se não o mesmo?
O filme joga com isso o tempo todo, inclusive nas referencias a filmes e atores "pops" do momento.
Mas ele brilha em sua narrativa que merece aplausos na montagem ao oferecer planos sequências genuínos mesclados a falsos, mas que são quase imperceptíveis. Aos olhos desatentos ou envolvidos parece que temos um filme de 2 horas apenas com um único plano sequência do início ao fim. E isso é espetacular.
A câmera assume papel de coadjuvante. É como se fossemos espiões das ações. Estamos ali nos bastidores vendo tudo de perto, nos escondemos e nos revelamos. Quando perdemos alguma ação, corremos em busca dela... É mágico.
E que atuações coesas. Do cômico ao trágico.
Um filme enorme que voa a vôo solto.
Palmas!!
Livre
3.8 1,2K Assista Agora"Sangramos, ate entendermos que as feridas vem do mesmo lugar que nossas forças"
Wild, que em tradução seria algo como Selvagem, ganhou o titulo nacional mais adequado para a trama. A jornada aqui não é para expurgar ou encontrar o lado selvagem da protagonista, e nem tao pouco, é permeada pela selvageria simbólica da natureza. A jornada aqui é sobre uma pessoa perdida e presa em si mesmo e que tenta se encontrar para se libertar de tudo aquilo que lhe sufoca. Portanto "Livre" cabe muito bem como título.
Ao contrario do que tava lendo por ai, de nada tem relação esse filme com "Into the wild" justamente por que a jornada dessa mulher e daquele homem são completamente diferentes. O foco é outro e a mensagem também. Alias, nem mesmo q famigerada frase "é um Na natureza selvagem de saia" cabe aqui. É de calça também. Nada de restrição a saia.
Isso porque o filme consegue ser deliciosamente feminista ao não colocar peso de valor no gênero da protagonista. Ela não se furta em nenhum momento por ser mulher. Não ha o que sua visar. Pelo contrario, sua trilha acaba por ser ate mesmo mais cansativa, pelos perigos extras externos que lhe impõem por ser mulher, quando esta se encontra por exemplo com uma dupla de aventureiros canalhas, ou em uma loja de cosméticos com um vendedora superficial.
Amparado por uma trilha sonoro evocativa - e feminina vejam só, como Portshead e 4 Non Blonds - o filme peca apenas na estrutura narrativa que aglomera 3 formas de texto que não se justificam e tornam o filme mais longo do que realmente é. Isso compromete o ritmo do filme. Ele se utiliza de narração em off, para em menos de dois minutos na mesma cena voltar para um monólogo e em seguida recorrer a flash backs. Mas, tirando isso, a direção é segura e os simbolismos também funcionam. Como a introdução da serpente em dado momento e da raposa no caminho da Protagonista. Universalmente ambos os animais são representantes da volúpia, ardilosidade e perdição. Se em um momento ela foge e demonstra medo de um. Depois ela corre atrás da cia de um desses animais para no final bater de frente com ele, sem real interesse. Esses três encontros pautam os três atos da projeção, e consequentemente da transformação da personagem com sigo mesma.
A atuação de Reese é certeira ao encarnar essa personagem perdida como seu sobrenome escolhido, repleta de culpa e ira.
Ao contrário do que aparenta, Cheryl sempre esteve a procura de si mesma. Mesmo antes de sua perda física. Os flash backs mostram isso.
Um filme longe de ser fluido e ótimo, mas que não deixa de ser bom e bem executado com uma mensagem ótima aos dias de hj: "Talvez seja no primitivo que nossa atualidade deva buscar os rumos para seu futuro"
Talvez seja ali, na terra e não nas telas que estejam as respostas para nossas perguntas pessoais.
Um filme gostoso.
A Partida
3.4 70Com um título dúbio, La Partida é uma síntese do que um pais em inflação sofre ben como seus habitantes - envolto por uma base de um romance conturbado e por culpa da sociedade, impossível.
É curioso notar como que as relações de realidade social são postas aqui. Tudo atual, onde a homossexualidade e a diversidade sexual, não dita comportamento e aceitação plena. Aqui, pouco importa o que o outro faz com seu corpo, desde que assuma por fora uma vida "padrão" e que seja macho ( no caso dos homens).
Bem da verdade, não é tao diferente do que outros filmes na mesma temática mostram. A discriminação aqui existe ainda, mas de maneira mais velada. Pois se antes os filmes mostravam que dois homens jamais poderiam demonstrar afeto um pelo outro. Aqui, essa demonstração é aceita, mas desde que amparada por um casamento convencional hetero, com filho. Com comportamento dito masculino de jogar bola e ser masculino sempre e desde que a "prática" seja para seu ganha pão. No momento que isso entra em choqu . A intolerância volta, fazendo o terror tal qual quando ele já era escrachado.
Vejo que muitas pessoas reclamam que todo e qualquer filme em sua maioria que abordem casais ou tramas que contenham em sua base homossexuais/Bissexuais/ acabam em tragédia. Seja pela morte, seja pela infelicidade, seja por separação. Nunca ha um final feliz pleno. Mas isso condiz com a realidade. O cinema, deve sempre ser uma extensão da voz social. Enquanto a realidade nossa seres diversificados inclusive sexualmente e comportamentalmente for envolto em tragédia e morte, o cinema extendera e deve estender isso pra tela. Pq infelizmente , nem mesmo noa sonhos e na fantasia, o ser humano ainda é livre para ser quem é. Para viver como nasceu. Hj ainda só sobrevivemos. Só. É triste...
Aparatos técnicos não condiz dizer afinal tratasse de um filme visivelmente de baixo orçamento mas que é bem executado quanto a sua cultura e linguagem.
Todos personagens são bem delimitados.
Ao final, o titulo revela não só uma partida tripla
( de vida, de relacionamento e de futebol)
Um filme gostoso.
Ida
3.7 439"Afinal, de que vale o sacrifício da pureza, se você nunca experimentou o pecado do prazer?"
Concorrente ao Oscar 2015 a Melhor Filme Estrangeiro, Ida ( da Polônia) é um retrato - ou melhor, uma pintura - da pos guerra mundial. É a jornada meio road movie em busca do passado, para construir o presente.
É interessante a visão que o filme dá a busca por identidade não só das protagonistas, mas de todo um país e um povo que se perdeu ou foi perdido num massacre que ate hoje assombro as vidas ate daqueles que nem viveram seu horror.
O filme se utiliza de uma narrativa que prioriza o conflito interno das protagonistas em todo seu desconforto e inadequação com a vida. Cada um delas em seu mundo, que ao final não deixa de ser o mesmo.
Ida é arte pura. É como se cada frame fosse cuidadosamente pintado para dar a impressão de estarmos vendo fotografias antigas de chapa em movimento. Não ha um único plano que não pareça ter sido cuidadosamente planejado. Inclusive a concepção de cena. O designer de cena surge impecável. A profundidade de campo principalmente. É soberbo ( e sim aqui cabe essa palavra pomposa). Mas é a fotografia que brilha em granulações e tela chapada em tons de cinza. Onde ha cenas belíssimas e nostálgicas em que por vezes, parece que estamos vendo a própria Ida através de cortinas de vidro.
O que é propicio. Tanto a personagem central quanto a tia de Ida, possuem uma complexa estrutura que se chocam de maneira tal que a linguagem do filme demonstra-a através da proporção de tela - ou razão - onde continuamente os personagens são vistos do lado inferior, as vezes parcialmente ocultas.
É como se personagem e narrativa não se adequassem a si mesmos. É raro um filme compreender o interior de seus personagens a ponto de externalizar isso na imagem. É cinematografia pura.
As atuações são ótimas também. E o texto ganha força no final.
( a cena da floresta confesso, conseguiu mexer comigo).
Com direito a Jonh Contraine, Ida acaba de se tornar meu favorito dos concorrentes na categoria que concorre ao Oscar ( ainda que não seja minha aposta).
É a vida retrata do jeito que muitas vezes ela é: cinza, obscura e religiosamente dotada de surpresas e chamados. Só nos resta escolher querer ouvi-los ou silencia-los.
Lindo!
PS: "E depois?"
Tangerinas
4.3 243Guerra na Abcásia, 1992. A comunidade quer se tornar independente da Geórgia. Quase todos os habitantes já deixaram a aldeia, com excessão de dois homens. Margus permanece pois tem uma plantação de tangerinas. Ivo foi forçado a ficar.
Após um embate entre inimigos Georgianos e Chechecos, um sobrevivente de cada lado é são salvos por Ivo.
Porém, eles têm opiniões divergentes e estão em lados opostos na guerra. Eles terão que lidar com essa guerra pessoal.
Essa é a sinopse desse filme sensível e principalmente humano. Tangerines lida com a simplicidade dos atos e que por si só se elevam, em uma lição moral de respeito a vida envolto num roteiro fluido, gostoso, que se torna tocante pela semelhança universal de embate social a todos nos e que é poético em sua estrutura e andamento tecnico que não perde um detalhe, desde a cenografia, seus quadros, a presença das frutas e da madeira, ate a fotografia que colore as imagens na medida certa para nos passar a sensação de abandono e perigo que a situação pede.
Mas são seus personagens que conquistam.
Ivo principalmente, ainda mais em seu ato final quando descobrimos a verdade de sua permanencia no país em guerra.
Talvez o concorrente ao Oscar de filme estrangeiro mais intimista da temporada.
Gostoso e acalentador. Que da esperança e tristeza ao mesmo tempo.
PS: aquela trilha sonora contida na fita amarela é uma delicia! <3
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista AgoraAiAi... Clint, Clint... Amigo, como faz? Colega,colega... Vamos lá!
Sniper Americano ( não me perguntem pq o titulo nacional vai manter o Sniper e só traduzir o American), é o tipico filme patriótico que a nação americana conservadora adora. E que só por isso, justifica tanta indicação nem um pouco merecida.
Chris Kyle (Bradley Cooper) matou mais de 150 pessoas nos cerca de dez anos em que serviu os Estados Unidos na guerra contra o terror.(do Iraque). E o filme mostra a trajetória desse franco atirador texano, focando não na guerra em si, mas nas consequências dela nele e suas justificativas para tal. Clint Eastwood abocanhou a direção do longa apos o Spielberg desistir do projeto por causa do orçamento limitado da produção.
O Filme conta com um direção razoável, obviamente já que o Clint não é nenhum aprendiz nesse posto. Mas é só. Tem uma fotografia condizente com o meio que retrata mas que pra mim exagera do contraste que dá propositalmente as cores ( notem que as cores em solo americano são sempre extremamente saturadas, enquanto as do Iraque são apagadas e em tons de cinza que só ganham cores vivas no sangue derramado. Isso faz com que o sangue por exemplo surja artificial e viscoso demais, atrapalhando um pouco o impacto verossímil que se pretendia.). A edição é fantástica! E a sequência próximo ao fim no tiroteio em meio a fumaça que adquire textura de areia é impressionante. A melhor parte do filme.
O maior problema do filme é que ele não fala sobre um herói. Mas sim, sobre um assassino.
O filme adquire facetas fascistas ao enaltecer um sociopata. É admirável sim que o roteiro tente estudar seu personagem ao mostrar seu desiquilíbrio em sua desumanização frente a guerra. Seus surtos são exemplares, e alias é onde a trama se desenvolve melhor. No lar. Na sua mutação. Mas nada justifica a maneira que o Clint exerce a narrativa vilanizando o povo do Iraque sem questionar a Guerra em nenhum momento. Nem mesmo quando parece que ele entrará num campo mais interessante ele se acovarda e retrocede ( vide a cena que o protagonista exita em atirar numa criança).
Essa postura política do filme não só torna sua trama previsível quanto as ações dos seus personagens e acontecimentos com os mesmos, como ainda comete o erro de tentar vitimizar os soldados americanos através do protagonista, mas esquece que lá no inicio, este é que escolheu se alistar e não foi convocado.
E não sei se o que mais me incomodou foi o vergonhoso uso de um boneco EVIDENTE no lugar de um bebê, se foi a analogia tosca e forçada dos 3 tipos de seres humanos calcados na crença da igreja e seu paradoxo no final do filme quando o protagonista ataca um cachorro, ou se foi o plano que enquadra uma foto do "rival" do protagonista em um podium, aludindo que ele antes de virar o "vilão" ele era um atleta olímpico medalha ouro por seu país.
É tenso.
O filme em si não é ruim. É um razoável com bons momentos. A indicação do Bradley ate se justifica por si, mas não diante da diversidade que existia( como o caso do Gyllenhaal q merecia ). Mas definitivamente direção e filme não merecem nem a indicação por méritos só por aparência.
O ruim é a mensagem que o filme se auto defende. Mais um filme de americano para americano que tenta vender sua bandeira como o Bem absoluto mesmo diante de cada gota de sangue que a cor vermelha de sua bandeira exibe astiada em cada mão daquela nação, como o filme mostra em seus créditos finais.
Clint colega, estamos em crise!
O Conto da Princesa Kaguya
4.4 802 Assista AgoraDefinitivamente é no passado que esta minha alma.
Ainda que a uns dois ou três anos, finalmente as animações tenham me conquistado, e eu aplauda de pé as maravilhas das animações digitais, é na animação clássica, aquela desenhada e pintada a mão; que esta meu verdadeiro deslumbramento. E com razão!
Do mesmo diretor do tocante e inesquecível "O Túmulo dos Vagalumes" (ao qual chorei 3 vidas e já escrevi sobre), Isao Takahata - que é co- fundador dos Estudios Ghibli ao lado do genial Hayao Miyazaki - "O Conto da Princesa Kaguya" é um arrombo de sensibilidade, poesia, magnetismo, melancolia e ternura em Eras de vazios futurísticos.
Concorrente ao Oscar 2015, essa animação é baseada no "Conto do Cortador de Bambu" que consiste numa narrativa popular japonesa do século X, e que é considerada a mais antiga narrativa japonesa existente. Ele detalha principalmente a vida de uma garota misteriosa chamada Kaguya-hime, que foi encontrada quando bebê dentro do caule de um bambu brilhante.
Amparado por diversos signos da mitologia e crenças orientais, o filme flui num ritmo surpreendente diante de uma trilha sonora belíssima, com ricas canções. É um espetáculo visual e convencional impossível de não se entreter e se emocionar. Seja pela 'humanidade' da natureza da princesa, seja pela dedicação e amor dos pais adotivos por ela - ainda que em seus erros -, seja pelas 'lições' morais que o filme demonstra nos detalhes, como o modo que os cortadores de bambu cortam a planta, certificando-se de não mata-la.
É um primor, os traços, os planos, as cores, a fluidez de movimentos, o texto... Tudo encaixado numa direção segura do que mostra, ainda mais tendo em vista a importância do conto ao povo oriental.
A sequencia final que dá literais asas a imaginação, celebra não só seu climax, mas o surgimento de mais uma obra impecável de um estúdio que nasceu para se tornar imortal no cinema.
O filme funciona quase como se víssemos uma pintura em movimento. Os traços se assemelham as gravuras japonesas do início do século XVII e que influenciaram o impressionismo na Europa mais tarde.
É como se o filme nos convidasse a refletir sobre a vida e em tudo que ela representa e significa. Sobre o que é a tal da felicidade de fato.
Como em todos os outros filmes do Estúdio, estão inseridos aqui elementos críticos sociais, políticos, de convenções hierárquicas de costumes da tradição japonesa.
O maior contra-ponto talvez se dê em dois momentos: O primeiro, quando traçamos o paradoxo da clareza de visão e percepção do pai e da mãe ao encontrarem a Princesa, ao saberem de imediato o que ela era e precisava. e mais tarde, com todo o deslumbre da sociedade e seus costumes cruéis mas belos e sofisticados, banhados a soberba, como ambos ficam cegos e sem percepção da infelicidade que a filha adquiri diante daqueles arrombos.
E o segundo momento, está na sequencia
do sonho, onde ela em certo momento pergunta "Mas a montanha está morta?". Isso revela não só uma metáfora a seus sentimentos e alusões com a vida na terra frente a felicidade e existência, mas mostra a posição reflexiva que o filme quer assumir quanto as mazelas politicas e sociais de seu povo ao longo dos anos.
No final, ao menos eu em encantamento e certa tristeza- confesso derramei uma lagriminha - fica o pensamento de quanto mais a humanidade precisa compreender com sua natureza e interior neste mundo impuro, triste mas também amoroso e alegre, antes que finalmente consigamos retornar a Cidade Lunar, com todo seu esquecimento e imortalidade de paz.
De aplaudir de pé e dar 5 estrelas na falta de 6.
PS: O Lance com a Lua, me fez relacionar o conto/ e a historia com Sailor Moon. Numa pesquisada de leve na internet soube que realmente não estava enganado. Sailor Moon possui muitos elementos desse Conto em sua base. Porem, se em Sailor Moon, a princesa viera por razão de
proteção da mesma, apos uma batalha celestial, aqui, a princesa vem aparentemente para poder experimentar a vida humana, em toda sua impureza e tristeza (resta saber se por punição ou 'escolha própria'. Essa duvida fica ate hj no Conto do Bambu original e a animação de certo modo manteve a duvida, ainda que o roteiro no climax, indique que tenha sido por escolha. Ainda mais quando ela diz que veio para de fato viver.
PPS: protagonista Mulher, Lua e Mitologia Celestial? É claro que eu ia amar!
obs: Uma pena que a unica chance desse filme levar a estatueta, seja por pura homenagem da Academia ao Estúdio. Uma vez que ao que parece esse seja o penúltimo filme lançado por eles, antes daquele fatídico anuncio de parada na produção. De querer ficar em luto. Ano passado era esperada essa estatueta como forma de homenagem ao "Vidas ao vento" mas não teria como algo na terra tirar de Frozen o premio. Esse ano, apesar das animações estarem ótimas, nenhuma se destacou por completo, então talvez haja esperança. Só não vi Song of the Sea, mas essa "princesa" merece tudo.
Caminhos da Floresta
2.9 1,7K Assista AgoraI wish...♪
Não se pode negar, que é impossível não ficar com esse "I wish" na cabeça pro resto da vida hahaha
No mais, é um musical gostoso, que perde um pouco a dinâmica no final do segundo ato justamente pelo roteiro desmembrar uma outra narrativa. Isso funciona no roteiro teatral, não no cinematográfico. A menos que se escolha usar a linguagem de capítulos para contar a história. O que não foi o caso ( mas poderia).
Ele consegue ser bem fiel ate ao musical original e com certeza é eficiente em trazer para a atualidade alguns elementos de humor sem perder o classicismo do material original. Curioso também ver que eles deram um ar muito mais sombrio e lascivo a trama no que diz respeito ao conto da chapeuzinho e no tratamento da historia do João e da cinderela. As convenções familiares se deturpam no que os contos de fadas geralmente pregam. - ainda que a traição feminina e sua postura independente sejam punidas onde a masculina não o é.
Ainda assim não é um mal filme. Tem atuações deliciosas, personagens marcantes ate, performances impecáveis, um figurino e uma arte cuidadosa onde o deslize só caiba a um ou dois furos no roteiro ( não lembro se no musical a irmandade da rapunzel com o padeiro é esquecida como aqui) e no ritmo claro do final do segundo ato em diante.
Quanto a indicação da Meryl, é justificável porém, ainda que ame essa mulher e concorde que ela só por respirar já mereça prêmios, acho complicado sempre premiar uma atuação caricatural. É difícil separar a caricatura da atuação priori do ator quando ele esta debaixo de tais personagens.
Um bom filme.
Como o próprio filme diz em certo momento "nem certo, nem errado,', nem bom, nem ruim. É legal.' " into the Woods" tudo funciona quando se encontra o meio termo."
"I wish..."♪♫
Caminhos da Floresta
2.9 1,7K Assista AgoraLegenda correta e sincronizada em PT Br cade vc sua linda? :(
ps: achei essa que ta sincronizada é PT mas pouquíssimas coisas diferem do BR, porem ela só esta legendando o texto do filme, as musicas(letras) não foram traduzidas..quem quiser mesmo assim, é uma boa.. >> www. opensubtitles. org/pt/subtitles/6003559/ into-the-woods-pt
Mary e Max: Uma Amizade Diferente
4.5 2,4K"Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana."
Albert Einstein
PS: Que fofo!
PPS: Certeza que serei uma versão anoréxica do Max.
PPPS: porque demorei tanto para terminar de assistir essa Fofura Emocionante?
PPPPS: <3
O Jogo da Imitação
4.3 3,0K Assista Agora"As vezes são as pessoas que menos imaginamos que fazem as coisas que ninguém imaginaria"
Baseado na história real do lendário criptoanalista inglês Alan Turing, considerado o pai da computação moderna, o filme narra a tensa corrida contra o tempo de Turing e sua brilhante equipe no projeto Ultra para decifrar os códigos de guerra nazistas e contribuir para o final do conflito.
Sim, foi uma historia real, historia essa que se detêm na vida pessoal do homem responsável por eu, você e o mundo estarmos digitando e lendo isso aqui, interligados por uma maquina chamada de computador.
O filme conta com um direção segura que encontra seus melhores momentos na condução dos fatos, ao desmembrar épocas distintas para contar sua historia. Conhecemos a vida de Turing da infância a adolescência e na vida adulta, para que possamos desvendar quem ele é, já que ele em si só, aprendeu tal qual seus enigmas, a ser um ser humano criptografado para agir racionalmente, sem demonstrar aparentes sentimentos espontâneos.
E o filme é eficiente nisso. Inclusive é importante ressaltar a trilha sonora épica que nos remete ao clima de guerra ainda que ele não se detenha em mostrar os arrombos da mesma; afinal, precisamos experimentar não as angustias do Front, mas sim, a daqueles personagens que viveram suas próprias guerras em cálculos e segredos.
O figurino e arte do filme estão espetaculares, e li ao pesquisar sobre, apos assistir o filme, que foram usados maquinas reais da época inclusive locais verdadeiros, para conferir esse impressionante verossimilhança com a época da guerra.
Mas é nas analogias do roteiro delicado e bem escrito e na atuação de Benedict Cumberbatch que o filme ascende.
A trama não só possui manejos que refletem sobre nossa sociedade - inclusive atual (Né Russia?), mas alude ao maior problema do ser humano, nosso maior enigma quanto nossa obsessão por maquinas e tecnologia inclusive: a frieza que mostramos àqueles diferentes da maioria. O desajeitado Turing é o reflexo de uma sociedade que nos impõe guardar segredos de nós mesmos em prol de uma civilidade aparentemente pacifica. onde o diferente deve ser visto como abominação.
Em certo momento, um personagem diz: "Eles estavam certos sobre você; você realmente é um monstro". E aqui o filme recai numa sensível critica a homofobia existente no mundo, que consegue absurdamente limitar toda a crença, fé, historia e conhecimento de um ser humano, calcado em sua orientação sexual. É abismal como podemos ser tão brilhantes a ponto de criar inteligencias artificiais ao passo que matamos nossa inteligencia biológica.
A homossexualidade de Turing resultou em um processo criminal em 1952 - os atos homossexuais eram ilegais no Reino Unido na época, e ele aceitou o tratamento com hormônios femininos e castração química, como alternativa à prisão. Morreu em 1954, algumas semanas antes de seu aniversário de 42 anos, devido a um aparente auto-administrado envenenamento por cianeto.
É curioso pensar que cada assassino direto e indireto, que comete crimes e barbaridades contra a especie humana, ao martirizar, condenar, apontar o dedo e marginalizar a cada segundo um outro ser humano por causa de sua orientação sexual hoje em dia, talvez não tivesse nem nascido se não fosse justamente por um homem homossexual que viveu sua vida tentando decifrar os enigmas da vida e morreu por ser quem nasceu. É triste!
Mais triste é saber que enquanto escrevo, isso continua acontecendo, segundo apos segundos, muitas vezes disfarçados de "não tenho nada contra", ou "hoje em dia é tudo homofonia e preconceito"...
O filme ainda tem total discernimento ao introduzir de maneira branda mas eficiente, o inicio do feminismo pro ativo na pele da Keira aqui.
Um grande filme.