[Atenção!!! Pode conter sugestão de spoiler ou de informações da trama ]
Dirigido por Thea Sharrock "Me Before You" - Como eu Era antes de Você - é um emaranhado de repetições e fórmulas de romances trágicos recorrentes no cinema "água com açúcar" que apesar disso é bem conduzido e encanta justamente pela leveza.
Baseado no Best seller de Jojo Moyers - que assume tbm o roteiro - o filme conta a história de Will (Sam Clafin) um play boy milionário que está a caminho de uma reunião importante na empresa de sua família. Num dia de chuva após deixar sua namorada dormindo, ele sofre um acidente - é atropelado por uma moto. O ocorrido o deixa tetraplégico (não há mais movimentos nenhum do pescoço pra baixo). Amargurado Will passa os dias solitário mesmo tendo a família ao lado. Até que sua mãe contrata Louise (Emília Clarke ) uma atrapalhada e peculiar ex garçonete desempregada que usa roupas extravagantes; para cuidar dele por seis meses. Assim que Will conhece "Lou" a vida de ambos passam por uma mudança. Envolvendo paixão e escolhas.
Longe de ficar na memória ou se aprofundar em questões muito sérias; o filme possui uma boa dinâmica entre seus atores centrais, e conta com personagens carismáticos e de fácil ligação. Talvez o que mais seja relevante aqui é a aproximação com a questão da eutanásia e do suicídio assistido. Tema ainda tão complexo e controverso na sociedade. Ainda mais pela polêmica que o livro e o filme como reflexo receberam das associações de direitos e bem estar de pessoas com deficiência ao redor do mundo. Que repudiam a aparente mensagem de que o desfecho da trama possa ser um desserviço as pessoas com tais realidades como as que são tetraplégicas. Um debate válido.
Pessoalmente e falando apenas como espectador e claro alguém sem a vivência da condição ali exposta, o filme fala muito mais do direito à escolha de cada um do que necessariamente da não escolha. (Mesmo que tenha que se reconhecer que nas linhas finais do roteiro eles utilizem a fala de que aquele caso de deficiência não possuía possibilidades o que é questionável fortemente quando não se generaliza o fato. Afinal quem disse que qualquer deficiência ou limitação de mobilidade deve ser empecilho pra algo?) Várias questões.
Como filme no entanto a produção é aquele mel morno gostosinho de ver. Fofo.
Ps: ainda não superei ver Neville Longbotton "pegando" a Khaleesi. É demais pra minha cabeça.
Ia escrever sobre Procurando Dory, mas decidi que não. Só farei umas considerações e "colarei" um comentário que condiz com minha visão/análise do filme (com devidos créditos à pessoa que comentou). Sobre o enredo temos basicamente a mesma premissa de Procurando Nemo. Tanto em estrutura quanto em narrativa. As motivações são praticamente as mesmas com o PLUS que esse é um fã service escancarado. O que é bacana se considerarmos os 13 anos de espera por Dory. Tecnicamente falando da animação os gráficos e etc,temos a qualidade exemplar da Pixar de sempre. O que me incomodou no entanto é que apesar de funcionais e coerentes os flashbacks se mostraram demasiado cansativos . Assim como algumas piadas que em mim (pela minha relação atual com certas coisas) não produziram riso algum. O melhor do filme é sem dúvida nenhuma é a maneira que o roteiro exerce protagonismo e independência a personagens com algum tipo de deficiência seja ela qual for sem que o fato em si seja motivo para situações de emoção fáceis e forçadas. Se há emoção não é pela deficiência dos personagens. Se há dificuldades não é exatamente por isso tbm. E isso fica claro. Isso considerando que estamos falando falando de um filme infantil é essencial para a construção social e desconstrução de discriminações. Fora a representatividade evidente. Comentário de Gabriel Amorim que me contempla: "O filme fala sobre capacitismo e o arco dramático não é meramente encontrar a família da Dori, mas sim encontrar a si mesma, ou seja, a vida e desafios de pessoas com deficiências e seus percalços para viverem "normalmente" diante as suas diferenças. Marlin e Nemo podem até demasiados secundários, mas tem dois papéis importantíssimos. Marlin não tem deficiência (como um branco falar sobre negros, ou um homem falar sobre como ser mulher) sua experiência será sempre limitada pela empatia, nunca tendo vivido na pele. Desse modo, tende a ter resquícios de superproteção, ao mesmo tempo que acha irracionais certos pensamentos. Para essa mudança, entra em cena um dos momentos mais lindos do filme que é lição dada pelo Nemo. Assim como a Dori ele é deficiente, passou a vida sendo tratado com hiper-proteção ou como sendo incapaz, nesse momento ele ensina ao pai a aprofundar sua empatia e ver coisas que só quem tem uma deficiência seria capaz de ver. A Dori não faz as coisas "normais", pois ela é "diferente", e para conseguir viver precisa entender como comportar diante de seu problema e não seguir as regras ditadas "socialmente" como sendo as corretas. O fato de o lugar ser um hospital também é relegado 'por muitos.'. E principalmente, o arco do Hank é subestimado. Ele não se torna o raivoso de coração mole, tampouco era um raivoso unidimensional em seu início. Ele é um paciente com estresse pós-traumático, logo, com o auxílio da espontaneidade que somente a Dori possui, pode melhorar seu quadro. Repare que ele ainda possui toques, mesmo ao final. (...) Outro ponto lindíssimo é fala da mãe da Dori que já diz gostar do Marlin, com isso ela ilustra que ambos dividem as preocupações mostradas ao longo do filme como é a dedicação e os temores enfrentados pelos pais de pessoas com necessidades especiais. O fato de os pais da Dori, com a sua perda, morarem literalmente num oceano negro após a perda da filha ilustra muito bem o trauma que os pais também passam. Sem nunca esquecer!" Como um todo: gostei do filme, mas não sentiria necessidade de ver mais vezes. Mas, recomendo sim, principalmente pela nostalgia aos mais velhos ^^
Dirigido por Mike Cahill (''I Origins''), com Brit Marling ( "I Origins", "O Sistema"),"Another Earth" (A Outra Terra) é um filme sobre as fases da depressão amparados por uma especie de sci-fi tímido, mas eficiente no seu enfoque.
Rhoda é uma jovem inteligente que recentemente foi aceita no programa de astrofísica do MIT. Ao voltar para casa de carro após uma festa de comemoração pela conquista, ela descobre com o restante da humanidade a existência/aparecimento de um planeta idêntico a Terra orbitando bem próximo a nós. Por um descuido momentâneo, ela causa um acidente que mata a família de um professor de musica - sua esposa gravida e seu filho pequeno-. Ela é presa por quatro anos, e quando sai da cadeia descobre que o novo planeta é quase que um espelho da Terra. Tudo que existe aqui,existe lá, inclusive uma versão de todos nós, com mesmo nome e idade e aparência. Eles chamam o planeta de Terra 2. Desolada pelos erros, pela depressão e pela sensação de star perdida, Rhoda decide participar de um concurso que promete levar os primeiros humanos a essa nova Terra. Mas, antes ao descobrir que o professor que ela causou o acidente, sobreviveu e saiu do coma, ela pretende encontrar alguma forma de se desculpar com ele, enquanto reflete o que poderia ocorrer se pudêssemos ter uma segunda chance na vida.
O Filme lida muito mais com a máxima de podermos nos encontrar com nós mesmos e nos questionarmos quem somos, em empíricas filosóficas do que necessariamente sobre a ciência teórica de realidades paralelas. Temos aqui um drama com 'D" maiúsculo que em alguns de seus melhores momentos se assemelha a Melancolia de Lars Von Trier, pelos questionamentos que trabalha - claro que aqui de forma mais simples, mas não menos complexa em sentidos -; inclusive na semelhança da aparente influencia quase de energia e hipnose que o planeta exerce nas pessoas, conforme ele surge cada vez mais próximo da 'nossa' Terra. (em nenhum momento eles dizem que o planeta esta se aproximando, mas é visível sua grandeza cada dia mais evidente.) Amparado ainda por diálogos que envolvem ate mesmo o mito da Caverna de Platão, e a Teoria do Espelho Quebrado; a mise en scène do filme ainda é competente ao entender a metáfora que utiliza para ratar das mazelas emocionais da protagonista, ao em certo momento do filme - em seu terceiro ato - inundar as ruas em uma especie de Silent Hill. .
Possuindo uma fotografia azulada e cinzenta que não apenas existe para explicitar a aproximação do novo planeta em nosso céu mas também para caracterizar a monocromático sentimento de existência de sua protagonista diante dos erros e empecilhos da vida, o filme acerta em cheio ao mostrar em vários enquadramentos - como o do quarto da garota abraçada a seu próprio corpo semi nu, e o dela deitada completamente nua no gelo, as fases da depressão onde nosso próprio mundo deixa de fazer sentido, e tudo que precisamos sentir é o findar daquilo tudo. Numa especie de beco sem saída, onde não se tem espaço para retorno visível, a sensação de isolamento, inadequação, marasmo, inquietação e desespero tomam conta. Como pisar com uma pedra sobre a nuca sobre uma taca de vidro quebrado. A ideia de que qualquer movimento rasgara mais a pele dos pés q cedera sob o corpo pelo peso da pedra, e que estagnar também só estendera a dor dos cortes, onde nem mesmo a taça voltara a ser como era antes. Pois partiu.
Essas discussões com o plus da ideia de podermos talvez em algum lugar encontrar redenção conosco mesmo - únicos que poderiam nos entender plenamente - e descobrir quem somos, faz do filme um drama depressivo e eficiente, mas belo ao mesmo tempo pela trajetória daquelas duas vidas mostradas.
Com um orçamento de pouco mais de 50 mil dólares, e filmado em apenas 9 dias, esse longa tem sido conhecido desde sua estreia tímida em 2013 como um dos melhores thrillers sci-fi dos últimos 10 anos (outros se arriscam a dizer, que seja talvez desse novo seculo). O bem da verdade, é que Coherence é um deleite visual - por percebermos como que uma ideia suplanta a falta de orçamento -, de roteiro - onde o argumento vale por qualquer outra super produção hollywoodyana -, e que instiga justamente pela habilidade do diretor em criar uma tensão verossímil, mesmo diante da inverossimilhança possível - ou não - diante dos menos criveis as teorias quânticas, cientificas e etc etc.
A sinopse é simples: 8 amigos decidem se encontrar para uma reunião/jantar de confraternização para relembrar os velhos tempos. Durante o jantar, há um cometa chamado Miller que esta passando pela orbita da Terra. Entre as conversas os amigos relembram as noticias - a maioria infundada - de que pessoas acreditam que esse cometa e outros alteram certas coisas no planeta, como celulares que param de funcionar ou pessoas que alteram seu comportamento. Eis que ocorre um apagão em toda a vizinhança, e ao olharem pela janela para saber o que ocorreu, os amigos notam que ha apenas uma unica casa, a dois quarteirões de lá com luz. Apenas essa casa num amontoado de escuridão. Dois deles resolvem sair para pedir para usar o telefone dos moradores dessa residencia (pois um deles precisa falar urgentemente com o irmão). Ao voltarem, coisas estranhas começam a surgir.
Ele mescla dois conceitos básicos da ciência: A teoria do Multiverso e a teoria do Gato de Schrödinger, uma das mais famosas teorias acerca da incoerência e decoerência quântica.
O Multiverso versa sobre a teoria das cordas, estudos sobre a enigmática matéria escura e os resultados obtidos sobre a expansão crescente e sem retorno do nosso universo parecem exigir uma resposta que rompe com um paradigma fundamental - o universo é infinito e nele tudo está contido. A teoria do multiverso traz o sentido no nome: existiriam infindáveis universos numa espécie de queijo de energia quântica, onde bolhas se formam e somem sem parar. O nosso universo seria um deles. Resumindo: É a teoria de que existem milhares de universos. (o filme inclusive brinca com essa parte quando em certo momento um dos diálogos cita um pedaço de queijo e ketamina como aperitivo antes do jantar rsrs).
Já a base mais evidente do argumento do filme esta na teoria do Gato de Schrödinger ( Schrödinger foi um físico austriaco ganhador do Prêmio Nobel de Física e tido como um dos cientistas mais celebres do seculo XX), que consiste numa experiencia onde se coloca um gato imaginario dentro de uma caixa com um pote de veneno e fecha-o la dentro. A caixa onde seria feita a hipotética experiência de Schrödinger contém um recipiente com material radioativo e um contador Geiger, aparelho detector de radiação. Se esse material soltar partículas radioativas, o contador percebe sua presença e aciona um martelo, que, por sua vez, quebra um frasco de veneno De acordo com as leis da física quântica, a radioatividade pode se manifestar em forma de ondas ou de partículas - e uma partícula pode estar em dois lugares ao mesmo tempo! As ondas brancas desenhadas aqui representam as probabilidades de ocorrência dessa dupla realidade, quando, na mesma fração de segundo, o frasco de veneno quebra e não quebra Assim, teríamos duas possibilidades possíveis: a) Aqui o gato aparece vivo, porque, nessa versão da realidade, nada foi detectado pelo contador Geiger b) Aqui o gato surge morto, pois nessa outra versão do mesmo instante de tempo o contador Geiger detectou uma partícula e acionou o martelo. O veneno do frasco partido matou o bichano Seguindo o raciocínio de Schrödinger, as duas realidades aconteceriam simultaneamente e o gato estaria vivo e morto ao mesmo tempo até que a caixa fosse aberta. A presença de um observador acabaria com dualidade e ele só poderia ver ou um gato vivo ou um gato morto.
Simplificando, a teoria cujo o filme implica, é aquela famosa ideia de que existem vários universos e realidades coexistentes ao mesmo tempo/espaço e que nossas escolhas constantes alteram cada linha de realidade.
Dirigido por James Ward Byrkit (sua estreia na direção. Ele foi co-roteirista da animação ''Rango"), o filme brilha justamente por trazer esses conceitos de forma orgânica ao unir a ciência teórica, numa especie de experimento 'possível' através da desculpa de gancho de roteiro do cometa (que seria aqui a força inexplicável capaz de interferir nessas leis quânticas e físicas), mas usando isso para debater e refletir sobre as relações humanas e existenciais. Não importa muito a certo momento do filme como pode ser possível X ou Y situações, por que o que importa de fato são os pensamentos e atitudes daqueles 8 amigos diante daquelas milhares de possibilidades e situações apresentadas.
Todos os amigos ali, se reúnem depois de vários anos, cada um tendo uma escolha na vida que os levaram a vários caminhos diferentes. nem todos surgem satisfeitos com suas escolhas - como todos nós diariamente -. Quando esse lapso ocorre ali, cada ação altera uma realidade daquela dinâmica em diferentes espaços e tempos, mas altera também a dinâmica deles, com eles mesmos. Em certo momento uma das personagens diz que aquela experiencia poderia ser aquilo que todos nós humanos sempre no intimo queremos ao longo da vida: poder encontrar-se consigo mesmo em diferentes realidades de escolhas que não fez. Como eu estaria hoje se eu tivesse pegado o ônibus detrás e não aquele que veio antes? Como eu estaria se eu preferisse vir a pé ou de taxi? Como seria minha vida hoje se eu tivesse escolhido aquele outro curso, aquela outra roupa, ou simplesmente, acordado cinco minutos mais cedo? Ocorreria algo na minha vida, no meu caminho ate aqui diferente por causa dessa minima escolha que fiz? E se cada uma dessas possibilidades, desses 'eus' pudessem se encontrar num mesmo lugar e tempo e se confrontarem? Eu descobriria quem eu realmente sou em toda a vasta complexidade de facetas que somos?
Em vários momentos o filme me passou o clima da lendária serie Twilight Zone, de meados dos anos 50/60. Uma mescla de terror e suspense, com aplicações filosóficas, de desfecho surpreendente e instigante.
Apesar de parecer muito complexo, a dinâmica em si é simples, apos acompanhar o filme. basta prestar atenção nos detalhes que ele fornece - cada frase é essencial para o entendimento, por mais que na hora pareçam jogadas a esmo. Não são.
Eu pessoalmente só me enrolei de fato - e certeza que essa foi a intenção do diretor - com os 3 minutos finais do filme. Onde o conceito básico do experimento se choca com uma 'incoerência' do próprio sentido cientifico dele. Mas, que abraço outros conceitos possíveis, e por isso são teorias.
Um filme gigante como o tema que aborda, uma surpresa grata de estreia de um diretor que pretendo acompanhar e principalmente um alivio diante de tanta produção bilionária rasa por ai, que prova que uma ideia inteligente vale mais do que qualquer super câmera ou grande elenco famoso.
'Equals' - Iguais (mas que veio como 'quando te conheci) do diretor ''Drake Doremus'' e que percorreu os principais festivais de cinema do ano passado e desse ano (Incluindo o de TRIBECA). Com Kristen Stewart que definitivamente provou que não existe má atriz mas sim filmes fracos com atores mal dirigidos - que dá um show em tela, numa personagem intensa e complexa pela própria natureza da historia e o interessante Nicholas Hoult. O filme conta a historia de um mundo distópica, uma realidade onde a humanidade quase se destruiu por completo, e que se modificou em seu DNA para extinguir qualquer traço de sentimentos ou emoções. Sem amor, ou ódio, sem dor ou pena, sem emoções. Tudo que os humanos continuamente fazem e existem, é para descobrir os mistérios do universo em uma aparente harmonia enfim com o planeta, onde não é possível contato físico ou mesmo amizades. Ninguém sente nada. Porem, uma epidemia começa a assolar a todos, chamada de SDL. Essa epidemia é uma especie de erro genético que se desenvolve sem saber o como, nesses indivíduos devolvendo-lhes a natureza humana de sentir emoções e sensações. Os indivíduos com tal 'doença' começam um tratamento de inibição desses estágios, sem cura, ate que não seja mais possível controlar as emoções e eles sejam internados num ATRO, uma especie de clinica/prisão onde são submetidos a testes e experiencias com choques ate que acabam morrendo de exaustão ou se suicidam. Quem nunca sonhou com um mundo onde ninguém sentisse nada? Onde não houvesse ódio nem discriminação por raiva ou rancor, onde não se sofresse por amor, ansiedade ou depressão. Onde não se sentisse dor ou vontades.? Todos nós em algum momento ne? E o diretor de fotografia faz um trabalho excepcional de concepção desse mundo tão clean e padronizado, onde todos são iguais. O filme tem 3 referencias da literatura bem explicitas, mas que não revelarei pois estragaria seu desfecho. Nia e Silas (Kristen e Nicholas) são dois desses que pegam essa doença. Ele no inicio do estagio, e ela convivendo a vários meses fingindo ser 'normal'.. O que mais me cativou no filme é a reflexão obvia e benéfica que ele faz com discriminação e preconceitos, principalmente pra mim contra LGBTS (ainda que não haja casais LGBTS ou indivíduos tais), com racismos e discriminação com o HIV e soropositivos. A forma omo ele reflete o que nos torna humanos e como justamente isso que nos faz ser menos humanos em varias fases da vida em sociedade é brutal e curioso. A unica falha para mim é a aspiração a la Spielberg no ultimo ato onde o filme perde todo o controle racional e coeso que vinha exibindo ate ali, incluindo nas atuações genias dos protagonistas justamente por isso (atuar com olhares e gestos sabe? com um engolir em seco ou um apertar de mão), e parte para um apelo emocional obvio e descarado apenas para emocionar e entristecer. Mas, não tira o mérito da obra. recomendo.
'The Visit' - A Visita -. Dirigido pelo famigerado M. Night Shyamalan, este filme segue a linha da trajetória desse diretor pra mim ate agora. Para quem não sabe, ele é o diretor do genial "O Sexto Sentido", do interessante "A Vila", e "Corpo Fechado" e do desastroso 'A dama da Água" e do fraquíssimo "Fim dos Tempos" - nota para o mediano (pra mim) 'O Último Mestre do Ar '. Como descrevi pelas suas obras, Shyamalan tem uma característica de ou acertar em cheio ou errar brutalmente. O problema é que ainda não consegui decidir ou perceber qualé a dele como diretor. Pq ainda que haja já sua assinatura em todos os filmes descritos, - sua mise-en-scéne é marcante - ele tende a enveredar por caminhos tão distintos que é ate assustador constatar que O Sexto Sentido é do mesmo cara de a Dama da Água. Talvez por isso esse seu filme A Visita, que é uma especie de hibrido de found footage, surja como um ensaio sobre o próprio gênero. O filme não se leva a serio, e esse é o maior trunfo dele. Carregado de pontuais clichês e essenciais inovações, o diretor parece querer subverter o gênero que em essência deve mostrar tudo, para trazer sua linguagem mais semelhante a narrativa do suspense usual. Em certo momento a protagonista inclusive cita que ainda que esteja filmando um documentário, sua intenção é estabelecer a curiosidade do espectador pelo que esta ocorrendo fora do foco, do plano, do quadro e não o que ela esta mostrando em primeiro plano de fato. Essa fala simplifica a intenção clara do filme. - troca a point-and-shoot pela mise-en-scéne e arremata isso em algo orgânico através da metalinguagem.Meu maior problema é com o ultimo ato, onde as coisas começam a ir por um caminho um tanto arriscado e obviamente desastroso do ponto de vista estrutural. Incluindo construção de personagens. Mas, vale a assistida de qualquer forma. (ah, a sinopse do filme eu reescreveria: Dois irmãos - um menino de 13 e uma menina de 16) vivem com a mãe divorciada e que recentemente começou a namorar. O pai os abandonou deixando os dois e a mãe com alguns problemas psicológicos e emocionais. A mãe resolve economizar e fazer uma viagem de cruzeiro com o novo namorado durante uma semana e deixa as crianças com os avós. Avós esses que moram no interior e que ela não vê jamais, devido a uma misteriosa briga que levou-a a sair de casa, cujo o ocorrido ninguém jamais fala. Visando ser uma cineasta e ao mesmo tempo conseguir alguma redenção apara a mãe nessa briga familiar, a garota mais velha junto de seu irmão caçula- aspirante a rapper misógino) começam um documentário, contando a trajetória deles nessa semana com os avós. No entanto, ao chegarem lá e conhecerem os avós pela primeira vez, eis que coisas estranhas começam a ocorrer, e talvez tudo o que reste seja os registros da câmera dos garotos...)
A Descoberta da Identidade negra, é algo tão poderoso e delicado, e ao mesmo tempo, tão complexo e complicado, que nem mesmo a descoberta de identidade sexual supera. Se entender negro, e mais que isso, se compreender negro, carrega uma serie de entendimentos, que remontam cada seculo da historia que seu sangue e sua pele, que sua raiz de cabelo possui.
Se no meio disso, acrescentar o empoderamento feminino, e a força identitária que isso possui, entre dor, sofrimento, duvidas, confusão, força, compreensão, e enfim resistência, se obtêm exatamente a postura que esse álbum visual da Beyoncé pretende. É a porta de ruptura entre o afastamento e a ligação que cada negro e negra passa por seu caminho.
O Álbum - Chamado ''Lemonade'', que faz analogia a época em que negros escravizados tomavam limonadas, acreditando que isso faria com que suas peles clareassem, e assim, não sofressem tanto racismo - possui 12 faixas sonoras, que possuem letras que vão desde superação de traições, difamações e idolatração a família, ate a ensejos políticos e sociais que remontam como referencias a historia dos negros - tanto norte americanos, quanto a origem africana -. E nisso se estende a sonoridade que vai desde o bom Country texano de berço - nada de Taylor Swift aqui -, ate mesmo o habitual rap, mas em tom mais agressivo e combatente que o Kendrick Lamar vem brindando recentemente.
Com participações de Kendrick Lamar e The Weeknd. Samples de Led Zeppelin, Animal Collective e uma versão de “Can not Get Used To Losing You”, de The Beat.
Mas, a força desse álbum esta na concepção visual que ele possui. Isso por que, ele trás uma carga de simbologia poderosa e forte de historia negra e feminina em cada frame que se propõe. Composto quase que absolutamente tanto na equipe técnica quanto nas pessoas que aparecem em tela, de pessoas negras, o 'filme' funciona como uma especie de jornada que passa por 11 selos distintos de resiliência de uma mulher - e o povo que ela carrega na ancestralidade, traída, machucada, e que na quase morte, obtêm passo a passo o caminho de retorno, onde se redescobre como é. Os capítulos passam pelos seguintes títulos/Temas:
Intuição Negação Raiva Apatia Vazio Prestação de Contas Reforma Ressurreição Esperança Redenção Formação
Esta ultima, que não é indicada no filme, mas que se completa, já que é a musica que fecha Álbum sonoro. É como se a Beyoncé que tanto - pessoalmente - faltava em representação para mim, quanto negro que sou, em ser um simbolo de resistência e empoderamento étnico, finalmente percebesse ou se levantasse, diante da importância que possui no mundo atual, e finalmente quisesse lutar junto aos seus - a nós -, em mostrar nossa historia, nossas características e cultura unica. Tomando para si seu legado. Legado de todos os negros e negras. E junto a isso, linkando para seu feminismo e de todas as mulheres em sua sororidade e embates.
A Beyoncé sexualizada, com musica para qualquer um rebolar ate o chão, a que fala sobre ser uma boa esposa ou mãe somente, dá lugar a uma outra mulher. Uma mulher que busca ali na natureza entre florestas, a água que limpa, o fogo que destrói, e o asfalto onde nossa sangue tanto já jorrou - inclusive nas terras de senzalas e valas - o eco de seu próprio DNA. Levantando enfim para assumir-se como é.
Um Álbum que eu como negro, precisava ver vindo dela. E que me deixa novamente em posição de voltar a admira-la plenamente e ama-la, e gritar: tamo Junto irmã. Tamo Junto!
Como ela mesma disse: "Meus ancestrais escravizados, tomavam limonada achando que isso iria embranquece-los. A mídia me deu limonada também, mas não adiantou."
Não adiantará nunca. Essa limonada para nós hj, é refresco doce. E aqueles que tentarem nos fazer tomar sob outro viés, perceberam que a eles, tudo que conseguirão é uma enxurrada acida e amarga.
Ps: A Faixa Daddy Lessons funciona muito bem para compilar essa característica em que ela mesclou a traição, a submissão, o subjulgamento do patriarcado machista às mulheres. Mais especificadamente às negras. Ela traça um paradoxo no texto confessional de introdução a música, entre a relação dela como mulher esposa. Como mulher filha. Logo, entre o marido e o pai nessa tênue linha de respeito e obrigação. De conquista e opressão. Tufo clamando pela ancestralidade ora espiritual, ora urbana.
Dirigido por Florian Gallenberger e estrelado por Emma Watson e Daniel Brühl, este filme consegue tecnicamente ser a mesma bagunça que a situação de sua produção - diretor alemão sobre a história do Chile com financiamento de um milionário de Luxemburgo, com atores ingleses; que foi pensado para estrear em grandes salas de cinema (devido as estrelas que o protagonizam ) mas, acabou indo direto para locação e venda -, mas consegue sim, passar a essência de um período tenebroso do Chile e facilmente adquirir assimilação com os espectadores brasileiros por estarem evidentemente vivendo algo parecido neste século.
O filme conta a história de Lena e Daniel - ela aeromoça e ele militante - dois jovens alemães que vivem a dois anos no Chile. Mas, o ano é 1973, época em que o Estado democrático do Chile se via a mercê de golpistas à eleição do presidente Salvador Allende, conhecido por seu povo como um governante de esquerda. Após sua queda, num golpe de Estado e Militar, foi implementada da noite pro dia uma ditadura militar comandada pelo ditador Augusto Pinochet. Assim, a população que militava contra esse regime foram presas e torturadas. Daniel é um deles, ao tentar fazer registros fotográficos desses abusos militares. Ele é levado até uma Colônia chamada Dignidad. Que é conhecida por anos como um retiro religioso. Mas, na verdade servia para todas as mazelas da ditadura, como torturas, abusos sexuais a menores e melhores e até mesmo como experiências mentais, com clara remanescência do nazismo. Lena, para tentar salvar seu namorado, se alista a essa seita da Colônia.
O filme tem uma história real e histórica magnífica e horrenda para a humanidade recente - tão parecida com a nossa brasileira - mas, prefere focar na relação de amor e devoção daquele casal de estrelas hollywoodianas do que nas vítimas daquele regime ditatorial. Com isso, não só se perde o sentido da trama, como ela ainda se apresenta rasa ao não conseguir construir e formar seus personagens - quem são? Da onde vieram? Por que estão ali? - nem mesmo suas ideologias são claras. Principalmente Daniel. Que não sabemos em quase duas horas de filme quem era de fato, por que militava. Por que estava no Chile e não em seu país. A impressão que fica é que o filme quis apostar tudo nos nomes dos atores para sustentar a história do que construir uma narrativa que fosse ao menos respeitosa com cada morte e cada violência sofrida ali. A começar pela língua. Numa mistura de sotaques estranhas, que descaracteriza o povo chilena em imagem e cultura. No entanto as atuações são ótimas. E a história também. Para quem nunca teve contato com esse período é um filme interessante para introduzir essa realidade. É chocante e de se fazer indignar constatar como a ditadura seja em qual país for, destruiu e destrói cada celular de humanidade que podemos ter. E como a democracia e o Estado de Direito são bens frágeis a mercê dessa sombra que sempre retorna. Como que a história sempre se repete. Sempre.
Sobre a real Colonia Dignidad:
Pedofilia, estupros, conivência com a ditadura, assassinatos, tortura e fraudes são apenas alguns dos crimes atribuídos aos cabeças da colônia alemã no Chile. Meio século depois, papel das autoridades continua obscuro. Colonia Dignidad foi batizada mais tarde de Villa Bavaria. O enclave de imigrantes alemães no sul do Chile denominado "Colonia Dignidad" foi fundado em 1961 pelo orientador de menores luterano Paul Schäfer. Dois anos antes, ele fugira da Alemanha, para escapar de acusações de abuso infantil.
Com a tomada do poder pelo ditador Augusto Pinochet, em 1973, a colônia passou a ser utilizada como centro de tortura pela polícia secreta chilena, a Dina. Mesmo após o retorno da democracia ao país, em 1990, a seita e suas práticas obscuras permaneceram longe dos olhos do resto do mundo.
Paul Schäfer morreu na prisão (ao qual foi condenado somente em 2004 - sendo preso em 2003 - à 33 anos de cárcere, por estupro, pedofilia de centenas de crianças, ocultação de cadáveres e tortura e contribuição com mazelas nazistas). Formalmente, a colônia foi reconhecida como entidade de interesse público: um hospital para a população rural da região lhe concedia um caráter social-beneficente. Somente com a fuga de Paul Schäfer, em 1997, a comunidade, mais tarde rebatizada oficialmente como "Villa Baviera", começou a se abrir e passou por mudanças abrangentes.
Ou seja: mesmo após as denúncias da funcionalidade da Colônia pro mundo, que virou um escândalo global, no Chile nada mudou, até a queda da ditadura é o restabelecimento da Democracia no País. A colônia funcionou por mais de 40 anos. Seus moradores se misturavam a vítimas do regime, com as crianças das mulheres ali estupradas, e que mais tarde, eram abusadas sexualmente também pelo pedófilo que as geria. Mesmo com o restabelecimento da democracia e com as investigações do período, os culpados só foram achados e presos e condenados decadas mais tarde. E assim como no Brasil, o país não reconhece como verdade as ocorrências ali. Em 2010 ainda há casos em aberto esperando julgamento e investigações. Detalhe: em 73 a Colônia já funcionava por mais de 30 anos pelo menos.
Assim, o filme não consegue ser nem mesmo a ponta do cabelo de tudo e toda a complexidade que a história possui. Pois se resumiu a um romance de superação de dois alemães avulsos e " bonzinhos" que tentaram alertar o mundo sobre o que ocorria ali. Nem de longe o filme merece ser visto como obra daquele período. Mas, funciona muito bem como introdução ao tema. A realidade. E como um alerta urgência para o que jogos políticos, de mídia e a força de um povo pode ter ministradas de forma perigosa.
Fica a dica!
Sobre o filme: Chile, 1973. Em meio ao golpe de estado que derrubou o presidente eleito Salvador Allende e possibilitou a ascensão do ditador Augusto Pinochet, as massas estão nas ruas protestando, entre eles um casal alemão, Lena (Emma Watson) e Daniel (Daniel Brühl). Quando o rapaz é levado pela polícia secreta de Pinochet, Lena procura por ele e descobre que seu amado está em um lugar chamado Colonia Dignidad, uma suposta missão de caridade dirigida por um pregador (Michael Nyqvist), só que na verdade é uma prisão de onde ninguém nunca escapou. A fim de encontrar Daniel, a moça decide se juntar ao culto religioso da Colonia.
"Deus é Amor. Nunca desrespeite Deus tendo vergonha do trabalho Dele. - 'Mas, como devo saber o que Deus quer? Fico perguntando a Ele dia após dia...' - 'E você já parou para escutar? Ou você só ficou ali falando?' Deus é Amor."
Que filme fofo!
Um típico filme de TV. Daqueles que não carece denotar qualidades ou defeitos técnicos, pois aqui não se aplicam a esse tipo de análise. Mas, que é gostoso de assistir pela mensagem que passa.
BlackBird é um filme independente dirigido por Patrick lan-Pok e conta a história de Randy. Um garoto negro, prestes a se formar no ensino medio, que tem dois melhores amigos - Crystal e Efrem - e vive com a mãe separada, que não consegue superar o desaparecimento da filha mais nova. Randy é gay. Mas não sabe, não aceita e crê que Deus, seu pastor e sua fé o abominam.
O filme lida essencialmente com religiosidade. Não a questionando, mas a abraçando aos que são cristãos, e mostrando como um jovem LGBT lida com sua identidade e sua fé, e todos em volta. O filme é uma Fofura só. Que mescla humor e até alguns momentos bem "toscos" e descontraídos para dar lições de fé e sabedoria , de tolerância e sobretudo amor, fraternal e familiar a despeito de que seres humanos aos olhos do Deus do amor os fez perfeitos e pecado é aqueles que tentam negar aquilo que Ele fez perfeito para ser como é.
Toda a comunidade é conservadora, e nem mesmo a naturalidade que seus amigos tem com o tema - eles fazem parte do coral da escola religiosa, e escolhem fazer Romeu e Julieto por exemplo - impedem que Randy sofra diariamente com seus desejos e afetos. Tudo massificado pela depressão e obsessão religiosa de sua mãe.
Tudo começa a mudar quando ele conhece Marshall, um companheiro de teatro. Assumidamente gay, que vai despertando em Randy uma libertação e real sentido do que a palavra significa na vida real, daquilo que ele e sua comunidade tanto lêem em suas bíblias.
Um filme bonito, daqueles de se ver com a família num dia de domingo, principalmente de acalento para aqueles que ainda estão nessa luta interna entre sua fé e ser quem se é.
O filme tem no elenco Isaiah Washington (que tbm é co-produtor) e Mo' nique ( que tbm é co-produtora executiva). (2014/2015)
Recomendo.
Ps:: Tem uma cena de sexo no filme. Semi nudes, mais indicativa do que exibicionista. Li ela de forma sugestiva e bem delicada, poética pelo ato. Mas, dependendo do nível conservador da família (como sugeri que fosse visto indiscriminadamente pelas famílias e etc) pode soar "desrespeitoso". Então fica o aviso. rsrs.
Em tempo: Alguém me trás um Marshall pfvr? Ou um Efrem?
Filho de Saul (Saul Fia), dirigido pelo estreante em longas metragens László Nemes - vencedor de dezenas de prêmios ao redor do mundo, incluindo aclamação pela critica em Cannes, Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, é mais um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, Sobre os horrores que os Judeus passaram e que levaram a mais de 6 milhões de assassinatos, entre torturas e crueldades que marcaram para sempre a historia humana. No entanto, essa obra que conta com roteiro de Clara Royer e do próprio László Nemes, se diferencia não só na proporção de tela que usa para contar essa historia - uma proporção de tela mais achatada, quadrado, sem muita possibilidade de profundidade de campo -, mas principalmente por escolher em diversos momentos brincar com a linguagem da projeção, usando a objetiva em primeira pessoa. Ou seja: ele não conta a historia de maneira contemplativa, como já vimos milhões de vezes no cinema mundial. Ele nos coloca como participantes daqueles horrores. E isso é genial.
Saul Ausländer (Géza Röhrig), é um judeu húngaro, membro do Sonderkommando - uma especie de ajudantes forçados dos alemães que eram diferenciados dos demais nos campos de concentração. Esses ajudantes, trabalhavam por alguns meses limpando e auxiliando nas mortes nas câmaras de gás, na queima de corpos e inclusive na limpeza de sangue, roupas, pertences e cinzas dessas vitimas. E mais tarde, quando não conseguissem mais trabalhar, eram mortos também. Nenhum deles fazia esse trabalho por que queriam. Eles eram obrigados. Os que 'aceitavam' o faziam como unica maneira de sobreviver mais um tempo diante daquilo tudo. Eram escravos.
Um dia, em meio a seus afazeres diários de limpeza de corpos, Saul avista um garoto que inexplicavelmente ainda respirava apos ser submetido a câmara de gás. Logo o garoto é morto asfixiado por um soldado alemão, e indicado para uma autopsia para descobrir o por que de ele não ter morrido com o gás. Como o nome do filme já diz, o garoto se trata do filho de Saul, ou ao menos, é o que aparenta, uma vez que o filme a todo momento nos deixa em duvida se o garoto era seu filho de fato, ou era em sentido figurado. Saul se sensibiliza pela morte do garoto diante de tantas mortes que já encarou e resolve travar uma verdadeira jornada para lhe conceder um funeral digno com todas as honrarias possíveis.
Assim acompanhamos por quase duas horas, alternando entre câmeras subjetivas e sempre em planos extremamente fechados e claustrofóbicos, Saul tentando recuperar o corpo antes da autopsia, Saul tentando encontrar um rabbino entre os judeus para fazer um funeral. Saul envolvido numa tentativa de fuga do centro de concentração. Nesse aspecto, o filme é exemplar em estabelecer a dinâmica que aquelas vitimas possuíam dia apos dia, hora apos hora, onde um simples espirro ou tropeço poderia ser a diferença entre mais um dia de vida e uma morte dolorosa e inesperada.
Sem trilha sonora, o filme se apresenta carregado e pesado. Mas, justamente por isso também, confuso em suas ações e um tanto monótomo ao perder constantemente o ritmo. Isso por que apesar de percebermos um vasto mundo ao redor ocorrendo ao redor de Saul, o filme nos obriga a acompanhar somente ele. Seus passos, sua respiração, seu caminho. Tudo que vemos é o que Saul vê, ou seria o que alguém que andasse com Saul veria. Isso limita propositalmente a compreensão dos fatos e sequencias das ações ali ocorridas. Isso é a proposta, de nos fazer ser uma daquelas vitimas e notar como era por diversas vezes confuso tudo o que eles faziam e cansativo. Se conceitualmente isso é exemplar, cinematograficamente falando é um deslize, pois acaba sendo um estudo de gênero que não permite aprofundar o espectador em caráter sentimental e emocional a tudo aquilo. Pois, se o que acompanhamos é a jornada de um suposto pai para enterrar seu filho morto, antes de ele também ser morto, nossa impressão de suas ações é a mesma de qualquer outro prisioneiro ali que visse essa jornada. Se estamos num campo de concentração onde a morte e a crueldade ja se tornou 'normalidade' e 'banalidade', se arriscar ainda mais para enterrar uma criança já morta como tantas outras antes e depois dela, soa quase estupido. Uma loucura.
Assim o interesse por aquela jornada, por mais tocante que seja, acaba se tornando enfadonha de acompanhar. Tendo um ato final, intencionalmente poético mas que não funciona por ser a hora errada de ser executado, o filme ainda assim é um retrato ambicioso e muito interessante de uma historia real da nossa humanidade que jamais sera esquecida, apagada ou justificada. Que jamais deixou de dor e que por isso mesmo, jamais sera deixada de ser repetida continuamente pelo cinema. Uma bela obra que mesmo diante de seus tropeços 'dinâmicos' vale a pena ser contemplado pela genialidade que se propõe a fazer.
Indo na contramão da maioria das continuações de seu gênero, este é muito bom.Um suspense crescente, com aquela tipica formula de nos prender pelos personagens e não pelas ações necessariamente. É continuação do found footage Cloverfield que para quem não sabe, é uma especie de subgenero já classicamente conhecido e destruído por franquias como Atividade Paranormal. Filmes que aludem a um falso documentário ou falso registro verídico e caseiro. No entanto o primeiro filme era exemplar na maneira que constroi-se e desenvolve esse subgenero. Faz da sugestão seu maior feito. Esse segundo no entanto, é um filme totalmente diferente, inclusive em genero. Este é um suspense de linguagem habitual, e que não depende do primeiro filme para ser entendível. Pelo contrario, é como se este pudesse ser um filme complementar ou paralelo. É uma historia independente. Direção de arte certeira, e ritmo que prende - por mais que quem curta suspenses do tipo, possam acha-lo previsível demais-.
"Hardcore Henry" é o filme mais louco, insano, surreal, e genial da vida. Parece ruim, mas é foda. Mas, aviso: não é um filme feito para todos os públicos, por um simples motivo - sua linguagem soa quase como experimental, ao passo que parece um hibrido surpreendente de Cinema com Game. Para os adeptos ao jogo Counter Strike, haverá uma identificação imediata. Dirigido pelo estreante Ilya Naishuller, e exibido na première do Festival de Toronto de 2015, o filme traz a seguinte sinopse:
O filme conta a historia de um Cyborg chamado henry. Não se sabe exatamente como ele foi ferido e nem como se transformou nesse humano meio maquina - Se relacionou com RoboCop, não raciocinou errado, mas também esta longe de acertar -. Fato é, que já somos apresentados a ele e sua trama, com ele acordando no laboratório sendo 'finalizado' por uma mulher que se apresenta como sua esposa. A partir daí, o laboratório é invadido, pessoas mortas e ele é obrigado a escapar e tentar encontrar sua aparente esposa Estelle (Haley Bennett), sequestrada por Akan, um guerreiro poderoso que aparenta também ser um Cyborg mas com uma especie de telecinese especifica que faz com que ele consiga mover objetos a distancia; que planeja utilizar a tecnologia de Henry para criar soldados a partir de bioengenharia.
O diferencial aqui e experimental esta no fato de que tudo isso nos é mostrado em primeira pessoa. Ou seja: a Câmera são os olhos do Henry. Jamais vemos nada alem da visão do henry. Se ele desmaia, desmaiamos junto. Se ele escuta, escutamos, se ele não escuta, não escutamos. É idêntico a ver gravações de GoPro e a jogar Games de simulação em primeira pessoa. Idêntico. Inclusive o filme estende isso de uma forma tão absurda e genial, que o filme ganha ares de jogo em uma especie de missão.Assim, Henry o herói, nosso player, surge passando por especies de fases. Ora como um sniper, ora tendo que escalar prédios, ora descobrindo objetos escondidos.
É notável inclusive como o designer de produção e principalmente o trabalho dos diretores de fotografia - são três diretores - conseguem empregar de forma verossimíl e eficiente essas mudanças de cenários. É surpreendente o espaço cênico adotado. Mas, talvez o que seja mais genial e digno de talvez estudos no futuro sobre linguagem cinematográfica, é a forma que se estabelece ritmo nesta narrativa que por sí só, já em teoria poderia surgir cansativa. Não é um found-footage. É alem. O universo diegético se estabelece bem mais - ironicamente - orgânico aqui. Num vídeo game nós estamos no comando das ações. Aqui, dependemos da vontade própria daquele personagem que nos leva consigo. Assim, mais que a linguagem, é importante que haja uma direção inventiva, um roteiro coeso e de apelo forte e claro, cenas de ação memoráveis do tipo em que mesmo cineastas fiquem cabreiros de como foi filmado e concebido.
Violência extrema em cada morte, conferindo aspectos quase artísticos a essas ainda que totalmente brutais e explicitas.
Ainda achando espaço para um humor sarcástico, o filme possui personagens chaves para conectar toda essa gama de informações na atenção do espectador.
Outro ponto curioso é que o protagonista não pronuncia uma unica palavra.
De fora, este filme pode parecer um filme ruim, um trash barato e sem noção. Mas, a verdade é que se trata de um jovem e surpreendente obra interessantíssima de experimentação e concepção de linguagem fílmica que mesmo tudo indo contra, deu certo.
Repito: Um filme insano, doido, talvez difícil de digerir e mergulhar, mas que vale cada uma de suas 'fases'
Ontem assisti "O Segredo da Cabana" e como é bom né?
Uma mistura de ficção distópica com terror, que faz referencias maravilhosas a clássicos do terror dos anos 70/80 como "The Evil Dead" por exemplo, mas que embala um discurso totalmente atual de critica a sociedade - característica, alias dos filmes de terror antigos, que hoje infelizmente se perdeu -.
Interessante, que ele surge quase como uma parodio, parecendo tirar sarro dos clichês próprio do gênero, mas faz isso com uma competência e segurança coesa, sem perder o foco da referencia em si, para não destoar num enlatado qualquer.
O que somos de verdade? O que realmente escondemos por detrás das aparências? Parece clichê. E o é. Essa indagação é constante entre os humanos em sociedade, pois nunca se consegue um consenso sobre. As relações humanas são algo tão ou mais complexas do que o próprio ser humano e este em existência talvez. Com um titulo ironicamente certeiro. Closer - que recebeu no Brasil o subtitulo "Perto Demais" - é um filme sobre distanciamentos. Sobre estranhos, como o roteiro escrito por Patrick Marber - baseado em sua peça de teatro de mesmo nome - faz questão de repetir e evidenciar varias vezes, em momentos chaves do longa; e dirigido por Mike Nichols. Temos o escritor, a fotografa, a stripper e o dermatologista. Se pensarmos nas alegorias e eufemismos que o escritor ama utilizar em seus trabalhos, podemos estabelecer aqui uma dinâmica do que o filme pretende refletir. A fotografia nada mais é do que uma representação do real. Assim como as palavras, que são captações da realidade - sejam elas físicas e terrenas ou imaginarias e utópicas -. A pele que muitas vezes nos rotula e nos apresenta e encobre, nada mais é do que uma representação física, do que somos. Uma embalagem, que esconde o que realmente somos por dentro - entre coisas empíricas, ate mesmo coisas clinicas como ossos, carne e sangue, células. E a nudez, assim como a derme, nada mais é do que o ato de aparentar estar despido diante de olhos de Outros. Quando na realidade, a nudez real do verdadeiro Eu, jamais ocorre nem mesmo diante do espelho muitas vezes, à própria pessoa. Dan, Alice, Anna e Larry. O escritor frustrado que escreve sobre pessoas mortas. A stripper que parece estar sempre fugindo e a procura de algo. A fotografa que bem sucedida que parece nunca estar satisfeita com seus próprios cliques. O dermatologista que continuamente tenta desvendar algo alem do que parece ser capaz de conseguir. São quatro pessoas que se interligam e representam as nunces das relações humanas, românticas e ate mesmo fraternais e em sociedade dos humanos ao longo dos anos. Tudo isso massificado numa representação inclusive física de descrever essas nuances. vejam, Alice a mais misteriosa dos quatro e no entanto representada por uma mulher de aparência frágil, pequena, constantemente em mudança - seus cabelos esvoaçam em cada leitura da maneira que surge em tela, e isso diz muito sobre seu carater. Ou mesmo Anna, uma mulher alta de aparência segura e forte, mas que desmorona ao primeiro toque, ao primeiro beijo, as primeiras constatações de realidade e duvidas. Dan e Larry, ambos homens inegavelmente sedutores, olhos claros, brancos e padrões, que por trás da sedução e segurança das palavras, escondem pequenez e brutalidades que se desenvolvem e se escancaram ao menor sinal de perda de ego. São personagens a procura de algo. A procura de sentido. Que se envolvem pelo prazer e remontam isso, associando com amor romântico. Aquele de fases. Do humorado ao possessivo. nenhum deles parece de fato estar seguro em nenhum momento. tentam a todo custo serem honestos com todos e com eles mesmos, jogando um jogo entre verdades em detrimento de mentiras, tentando assim serem fieis ao que são, mas recaindo justamente por isso, em infidelidade, tristezas, frustrações, caos, dor, lagrimas e desespero. Personagens que tentam a todo custo achar a formula de se relacionar com o Outro e acabam sendo os próprios clichês aterradores de suas próprias vidas. Tudo embalado por uma trilha sonora branda, gostosa, quase piegas e que serve para relaxar e entristecer na mesma medida. Afinal, quem nunca se apaixonou ou achou se apaixonar.? quem nunca se perguntou qual a melhor coisa: a verdade ou a mentira útil? A verdade que destrói ou a mentira útil? Prazer e amor, devoção e respeito, posse e companhia. Tudo se mescla numa epopeia - ou quase - romântica - ou em ausência de uma -, caracterizados por esses 4 personagens. ''Quem Tem Medo de Virginia Woolf?'' - do mesmo diretor - a cerca de 50 anos, já mostrava esse embate, onde as pessoas que mais estamos ligados, mais perto, em maior 'Closer, são justamente aquelas que acabamos por menos conhecer, menos prever. São as que mais sabemos machucar justamente por serem quem nós mais queremos amar. A diferença é que se em ''Woolf'' tínhamos uma clareza de intenções desde o inicio, aqui em ''Closer'', tudo vai se enrolando mais e mais a medida que o longa avança. Pois os personagens fatidicamente creem que estão seguindo os caminhos mais honestos para eles mesmos e para os outros envolvidos. Mas, não por acaso, justamente a pequena, a de cabelos sempre em mudança, a menos sucedida dentre todos, a mais misteriosa, é que abre o primeiro frame do longa e o que o fecha, da mesma maneira - caminhando entre estranhos -. Isso porque "Alice" (e aqui as apas podem ser utilizadas), é talvez a mais sincera dentre os 4. Não com eles, mas para si mesma. Suas falas são chaves, seu poder é pontual. Sua fragilidade, nem tanto. Enganasse quem a lê como antagonista ou mesmo detentora das mais ardilosas mentiras. Na realidade, naquele aglomerado de prazeres e relações, ela é a cola que dá o ponto de quem são aquelas pessoas. (E o filme, como boa representação da realidade, pinta Anna como a desencadeadora de tudo, ora que genial). Não por acaso também o livro de Dan se chama 'o aquário', e o aquário de fato surge na casa e ambientes diversos nos núcleos de cada um deles. Por que na real, são todos peixes, se afogando, boiando, afundando, e nadando, numa grande vitrine. Num grande aquário diante de nós telespectadores. Estão ali, na estante, na parede, sob uma fina camada de vidro que a menor rachadura, a menor poluição, finda. Um filme sobre estranhos que estão perto demais. Mas, afinal, quem de nós não somos não é mesmo? Hello, strangers?!
(Recomendação: Só leiam o texto, após assistir o filme. Contem spoilers e descrição explicativa de varias cenas, incluindo o final e seu significado)
Postei no "Criticofilia" tbm >> http :// criticofilia. blogspot. com.br/ 2016/03/ critica-boa-noite-mamae-goodnight- mommy. html (Basta tirar os espaços)
Dirigido e roteirizado pela dupla Severin Fiala e Veronika Franz, esse filme austríaco - que tentou representar seu país no Oscar desse ano, e arrematou dezenas de prêmios mundo afora - "ICH SEH, ICH SEH" - do original "Eu vejo, Eu vejo" e traduzido pro inglês e pro português como "Boa noite, Mamãe (GoodNight, Mommy)" - é um deleite para os olhos atentos de cinéfilos de qualquer geração.
Isso porque sua força reside nos detalhes e na busca de refletir o cinema suspense com toques de terror lá em seu ápice em anos passados, - mais especificadamente, com referencias a obras dos anos 70 - onde tivemos um considerável requinte de linguagem pro gênero.
É preciso dizer que o filme tem seu plot real apenas nos dez minutos finais de projeção. Talvez nos cinco últimos se considerarmos os elementos que os compõem. Por tanto, a revelação do "implícito" envolvendo os dois irmãos não é o que o filme quer segurar até o final. O roteiro não visa tornar misterioso a condição que une os dois irmãos no filme; muito pelo contrário. Ele espalha pistas escancaradas ao longo da projeção sem nenhum pudor. Ainda assim é belo constatar sua comunicação visual na sutileza nessas indicações.
Primeiro de tudo devemos lembrar que Hollywood nos acostumou mal. Nos criou a base de obviedade onde sutileza não existe e onde diálogo e edição frenética são sinônimos de Bons filmes (pra eles). Aqui, temos cinema base de suspense, onde se tem comunicação por imagens e não por ação ou fala.
Assim, o que se deve prestar atenção nesse filme é a construção narrativa de sua Mise-en-scène, o cenário que compõe o quadro em cena. Atribuir significado à água, aos reflexos, ao solo mole, às sombras, as cores, as árvores, aos quadros, fotos, a maneira que a câmera se posiciona, a maneira que a câmera se movimenta.
O ambiente é o verdadeiro protagonista do filme. É quem está narrando tudo.
Assim é brilhante notar como o filme nos conta através de um gato, através de um isqueiro, através de um quadro feito por silhuetas de sombras, através de reflexos, da ausência de calendários e relógios, bem como através de um cripta e seus ossos, sua real intenção de existir.
O tempo aqui não é fluido, e é importante salientar isso para que se entenda o seu desfecho final. Que sim é aberto a interpretações, mas é um fato planejado também. Os insetos e seu significado quase mitológico e psicológico, também tem papel importante na construção narrativa do filme. E não o bastante, ainda temos o silêncio que é a melhor fala de todo o roteiro.
Falando de aspectos técnicos, é preciso dar louros ao diretor de fotografia Martin Gschlacht, que compreende o universo que esta trabalhando, inserindo uma palheta de cores vibrantes sempre que estamos em lugar comum aos gêmeos, em contraste a palheta de cores mais escuras e opacas de quando nos encontramos diante da mãe deles - que obviamente oferece uma especie de perigo e apreensão às duas crianças. E isso ocorre, por que acompanhamos o filme pela perspectiva dos meninos, ate o inicio do terceiro ato. A partir dali, de maneira bem assertiva pelos diretores, passamos a ser meros espectadores das cenas. Um manejo do cinema de terror eficaz e esquecido atualmente.
A partir daqui escancararei sem a mesma sutileza do filme, o seu entendimento para ajudar aqueles que não compreenderam. Pois é impossível eu falar sobre alguns elementos sem dar spoilers.
Estejam avisados e só leiam depois de ver o filme. Pois, qualquer informação, como disse no inicio do texto, pode 'estragar' a experiencia visual e narrativa do filme. Só leiam, apos terem assistido.
Temos dois irmãos gêmeos, Lukas e Elias. Elias, que surge primeiro em tela com a regata clara, e Lukas com a regata escura.
Após uma brincadeira com o irmão, Lukas morre afogado no lago em frente à casa. Essa cena é mostrada no inicio do filme, entre varias outras brincadeiras dos gêmeos. Logo, após esse acidente, ha um incêndio na casa deles, e seus pais acabam se separando. (A indícios durante o filme, nas ações de submissão e dominação entre os gêmeos, de que o incêndio tenha sido efetuado pelo Lukas, antes deste morrer afogado). A mãe fica gravemente ferida no incêndio e precisa fazer algumas plásticas no rosto pra reconstruir a face. Após a morte do irmão, Elias passa a vê-lo, achando que ele continua vivo. Ele passa a negar a morte do irmão.
Eles se mudam da casa queimada, para uma nova casa, mais moderna. A mãe ao retornar pra nova casa comprada após o incêndio, se recusa a fingir que o filho morto está ainda entre eles. E passa a tratar o filho Elias, mais rispidamente. Por dois motivos. Primeiro, pelo trauma da perda do outro filho, ja que ambos são gêmeos e claramente o vivo faz ela lembrar do outro morto, e pelo acidente em si, onde surge o sentimento de culpa versus a separação do marido. Tudo isso culmina num distanciamento da relação dela com o filho.
Por causa das cirurgias, e desse novo comportamento da mãe, Elias e Lukas (morto) passam a achar que aquela mulher, não é sua verdadeira mãe. E após tortura-la, para querer saber onde esta a mãe verdadeira, colocam fogo nela e na nova casa ( somente o Elias no caso).
Assim ao final o que vemos é um vislumbre da primeira casa pegando fogo, seguida da segunda em flashes.
Como eu disse o tempo não é fluido. A montagem do filme de maneira assertiva pelo montador Michael Palm, não é linear, afinal estamos tratando de um mundo entre o real e o mundo dos mortos. Após o segundo incêndio, mãe e filho (Elias) morrem queimados e se juntam a Lukas o filho morto afogado, enfim juntos na floresta.
Assim além de ter uma comunicação visual genial, o filme brilha principalmente por conta de sua montagem, que escolheu essa direção de fragmentar o quebra cabeça. Quando vemos a os gêmeos olhando a nova casa a venda na verdade estamos vislumbrando momentos após o primeiro incêndio. E é notável que eles fazem a distinção de temporalidade, aos olhos atentos, pelas roupas dos meninos. As roupas indicam qual tempo narrativo estamos vendo.
As simbologias do fogo, da água, dos insetos, tudo remete a esse caráter de morte que ronda o filme. Inclusive a analogia da floresta e das mascaras. As cenas da floresta, indicam o submundo psicológico e sentimental de mãe e filhos. Quando vemos a mãe despida na floresta com o rosto em transe, na verdade, é uma representação dos ecos de angustia desta diante daquela nova realidade. Da perda do filho, do corpo mutilado por um do filhos, da inadequação a ela mesma diante do espelho e do papel de mãe, da nova vida distante de tudo. A floresta representa em filmes de suspense e terror, a quebra do palpável e a chegada do mistico. Pode representar tanto a perdição horrenda, quanto a purificação sagrada. O humano dentro dela, o humano urbano, tende a se quebrar de facetas diante de uma floresta. O filme explora bem isso também. Assim como as mascaras tribais. A mascara da cirurgia contrastando com a mascara dos garotos e ambas escondendo a realidade daqueles três personagens. Um morto, um pirotécnico, uma mãe morta-viva - e interessante ainda a a referencia a múmia nesse sentido, inclusive nos planos que mostram seus primeiros passos em tela, e aquele em que ela surge nas sombras do quarto com as persianas fechadas.
Há ainda outro detalhe bacana, que é quando os gêmeos acham a foto da amiga da mãe, que surge parecido, e que causa toda a comoção neles de que estão diante de uma impostora.
A tortura, como é claro ali, serve não só pro terror psicológico crescente de agonia, como também para simbolizar aquela relação que temos de sagrada entre mãe e filhos se quebrando. E o filme extrapola isso sem pudor algum, quando escolhe os ferimentos em ordem materna e progenitora perfeita, ao fazer os gêmeos primeiro ferirem a boca da mãe - a boca que simboliza fala, educação e alimentação -, depois o útero - quando saem insetos de la, denotando a morte das crias - e em seguida, o arrancar de dentes e da mãe tendo urinado. O filme inteira jogo com a relação materna de maneira inversa. A proteção e criação que se transforma em destruição e perigo. Isso em si perturba.
Ainda há cenas de caráter psicológico, claro, em que mostra os gêmeos constantemente disputando, correndo, e se batendo, com destaque a cena em que eles batem no rosto um do outro e perguntam se aquilo dói.
É um filme denso, perturbador e que carrega um terror psicológico a altura de seus prêmios e reconhecimento.
Não tem nada de ''o mistérios das duas irmãs'' ali. Aqui temos o mistérios dos dois irmãos, e sua querida mamãe.
Direção (e roteiro): David Robert Mitchel Título nacional: A Corrente do Mal.
Aí que felicidade! Quando você um jovem cineasta já descrente num gênero específico de filme, retoma a esperança ao assistir uma obra inspirada que faz jus ao passado, mas se lembra de reinventar o futuro.
Falo do gênero terror/horror que aqui em It Follow é empregado de maneira clássica mas absurdamente inspirada.
Os elementos de suspense do filme se atrelam aos clichês do gênero terror, mas de maneira tão orgânica que é lindo de constatar que realmente quando se atém aos detalhes tudo funciona. O filme se revela um pesadelo e não só na analogia com a trama não. O designer de produção bem como a direção de arte empregaram uma atmosfera de sonhos ao filme, onde não é possível determinar o tempo que se passa, e nem o tempo que se encontra. Outono? Inverno? Verão? Futuro? Passado? Presente?
Se temos leitores digitais e celulares, também temos carros dos ano 90 e TVs dos anos 70 e 80. E as cores, ah as cores que nos remetem a clássicos como Halloween por exemplo - e proposital com certeza - aumentam o tom ora de desamparo e ora de claustrofobia que o filme emprega através também de planos ora abertos e panorâmicas lentas, e ora fechados ou médios. Tudo lindo. Mas o que mais me fez gostar e me animar do filme é que ele não busca cometer o erro que vende mas me enche o saco, de se submeter a ser um subgênero igual a centenas atuais, que acham que terror é susto e pulo na cadeira. Que utilizam a sonoplastia em progressão e cortes bruscos para assustar momentaneamente o espectador e esquecem que terror se faz pelo imprevisível e pela atmosfera e não exatamente pela ação de seus monstros.
Mostro esse aqui que assume qualquer forma. Mostro esse aqui que é implacável como a Morte ( com M maiúsculo). Que é lento e moralista e por isso mesmo inevitável e talvez indestrutível. O final dúbio traz com chave de ouro o fechamento de uma produção cuidadosa que respeita a imaginação e os medos pessoais de cada espectador e que escolheu fazer de seu filme uma pequena pérola cinéfila para este que escreve aqui.
Como nota, para mim meu único incômodo é o sexo no filme. Não o elemento, mas a ação. Sem spoiler, mas o que me incomoda é o tom "estupro" que o ato assume, principalmente diante da protagonista, obviamente mulher. Não é nem questão ética feminista não. Até pq o ato assume esse tom com cada "amaldiçoado" .É mais uma questão de incômodo pessoal rs
O Destino de Júpiter dos irmãos Wachowski ( Lana e Andy).
Fantasia, Ficção científica, efeitos visuais soberbos, e uma complexidade narrativa dignas de gênios do cinema. Tudo isso são elementos que se encontram de maneira fácil na filmografia dos irmãos, contudo ainda que tudo isso se encontre aqui, nesse filme se perde um pouco. A sensação é que a ambição foi maior que a execução. Uma ideia genial mas que tenta entrecortar tantos elementos díspares que vira um emaranhado narrativo sem cola nenhuma. O filme esta longe de ser ruim. O designer de produção é minucioso ao estabelecer coerência para cada mundo, cada universo, nos mínimos detalhes presentes. O universo a lá Star Wars de O Destino de Júpiter consegue um feito raro nos filmes de ficção científica ufológicas, que é concretizar teorias como possibilidades palpáveis sem precisar de um tempo enorme para tal. O filme fala sobre consumismo e as burocracias manufaturadas das políticas globais. De certo modo, o filme é muito mais um filme político do que humano ( já que a priori todo filme interplanetário na verdade quer refletir sobre a humanidade terrestre). O mundo político em todas suas facções e ideologias de Júpiter não só é verossímil como pertinente nos dias atuais em que vivemos exatamente as encolhas estatais mostradas lá. Mas, nada disso se sustenta, se não se cria uma narrativa igualmente palpável capaz de nos causar identificação e torcida pelo que vemos. Os atos se intercalam e se perdem. Li que a teoria é de que assim como os irmãos brincam e criam linguagens afim de revoluciona-la ( como em matrix, em a viagem, mesmo em Sense8 ou até mesmo Speed Racer - que não assisti ainda, mas os moldes remetem a isso), ao criar uma narrativa que se interpola entre os atos, brincando com sua mise en scène, eles na verdade queriam demonstrar uma nova maneira de conduzir ritmo e trama. Pode ser. Mas, isso pode se tornar genial daqui algum tempo. Ainda não é. E por isso, não funciona bem. Ao menos não pra mim. O filme soa arrastado e perdido no que quer mostrar. E quando finalmente ele se propõe a explicar-se e justificar-se, isso cai por Terra, uma vez que a base de problemática não convence. Nem as jornadas dos heróis, a nível de roteiro ( aliás, as falas são uma falha a parte. Clichê atrás de clichê). Mas, o maior erro é esquecer o perfil do espectador comum. Quando você traz um filme carregado de características e expectativas blockbusters, é necessário entender o que tais filmes comportam e devem conter para saciar a demanda do público. O Destino de Júpiter peca ao considerar o total de seu público como espectadores que entenderam cem por cento as complexidades e peculiaridades de Matrix, quando na verdade.menos da metade possui a bagagem fílmica e textual necessária para saber que Matrix é muito mais filosofia do que um filme de ação ( como a maioria considera e enxerga). Isso é um erro de produção e criação tremendo para filmes como esse, que talvez funcionasse menor numa escala universal, visual, de atos de ação menor. Enfim...
Uma vez ouvi que ou se faz um filme de trama ou de visual. Conseguir os dois é raro. Concordo. Mas, o raro, por mais raro que seja existe. E os irmãos já provaram que são capazes de faze-lo. Pena que aqui, a preocupação maior parece ter ficado com o visual, com a ideia ( que repito é SENSACIONAL), com a uma experimentação de linguagem do que com todo o resto que faria tudo isso ser relevante ao menos. Não se revoluciona nada para o esquecimento. Somente para a lembrança. E infelizmente sei que daqui uma semana Júpiter continuará sendo apenas referência de um planeta ou alguma interferência no meu mapa astral...
Ruim? Nem de longe. Ótimo? Ta longe de ter conseguido ser. Bom? Com certeza. Vale pelo estudo do que o cinema de gênero pode nos trazer, e principalmente para nos atentarmos aos detalhes nas explosões e ações, e no quanto o gado chamado ser humano pode ser apenas um número no relógio de algo que nem enxergamos.
Ps: ponto para a referência bíblica sutil do final. Deus mulher, anjo "enlobado", no alto de uma cruz de ferro urbano. Palmas.
Alegria. Medo. Raiva. Nojo. Tristeza. Quando uma animação/filme que fala sobre as emoções humanas, te pega de jeito e faz você se identificar justamente com a Tristeza ( e gostar mais dessa personagem), isso diz muito sobre quem você é, e sobre as batalhas que a vida traz e trouxe. Mas, isso é auto análise. O que importa aqui, é que a Pixar, talvez tenha feito a animação mais adulta e complexa até então. Divertida Mente ( Inside Out do original, que em tradução livre significa Por Dentro ou Do/Pelo Avesso; e é um título mais propício ao meu ver), é um filme intenso, complexo, de teorias tão puxadas, mas disfarçado de animação fofa para criancas. Não que estas não consigam aproveitar o ensejo. Porém o que Inside Out versa é muito melhor aproveitado por adultos, que conseguem de fato sentir cada uma das entrelinhas ali colocadas entre um designer e outro colorido. Entre choros, lembranças, emoções diversas, melancólicas, tristezas, risos brandos, o filme nos faz mergulhar por dentro de nosso próprio histórico de vida, onde cada representação, cada "ilha" vai surgindo e ressurgindo diante de nós, nos fazendo compreender o que é estar e permanecer por aqui. Vivo, resistindo entre cada soco e cada beijo. Cada desafio e cada paz. Inside Out é uma pequena pérolas repleta de curvas necessária para cada um de nós. Ele mostra, como que cada emoção humana é essencial para a nossa existência e sobrevivência. Não existimos se formos alegres o tempo todo. E nem se formos tristes sempre também. Não somos nada se tivermos medo constantemente e nem se formos bravos continuamente. Somos um todo em conjunção com uma parcela de cada uma dessas emoções. A tristeza é necessária para a alegria. Assim como a raiva é essencial para o medo e vice e versa. Somos parcerias mutáveis. Lindo. Lindo. Lindo. E intenso. Recomendo. Ps: a personagem "Nojo" é a única que muda de nome ao meu ver de acordo com a situação. Pq ela representa não só o nojinho de certas situações, mas representa o Ego e a vergonha também.
(Na integra no meu blog pra quem interessar: o texto é grande rs criticofilia.blogspot.com.br/2015/09/critica-que-horas-ela-volta )
Dirigido e roteirizado com maestria por Anna Muylaert, O Filme "Que Horas Ela Volta?" é um retrato novo da escravidão velada existente no País à menos de 15 anos atrás, e que ainda encontra suas características na atualidade, entre ''normas pré estabelecidas'' na sociedade. É uma cronica fílmica de diferença de classes, de dominação e dominados, onde ''gentilezas embranquecidas'', são disfarces de chibatadas endurecidas à calos nas mãos.
Protagonizado por Regina Casé numa atuação envolvente - e ate de certa forma - pueril, o filme traça entre sutilezas e sensibilidade - no sentido de se ater a detalhes de gestos, olhares e palavras/tom de voz - um cotidiano de realidade que nos atinge dia após dia, desde que nos entendemos por gente.
"A pernambucana Val se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino vai prestar vestibular, Jéssica lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica."
Regina Casé é Val, uma empregada domestica que passa seus dias entre lavar roupas, arrumar a mesa, servir janta, café da tarde, almoço, lavar pratos, varrer a casa, limpar a casa, arrumar camas, quartos, servir água, colocar prato, tirar prato, estender roupa, ser baba, garçonete... Uma "segunda mãe" para o filho dos patrões, e assim ser considerada 'quase da família'. O problema esta nesse ''quase''. O ''quase'' implícita limites. Limites esses estabelecido por sua classe social. E é aqui que o filme se torna obra. O que o filme retrata é a desumanização que ha em nossa sociedade, ao estabelecer condutas de acordo com nosso status social. De acordo com nossa etnia, nossa "origem".
Jessica surge como uma mulher empoderada sim, mas que ao primeiro momento diante da hipocrisia condicionada de todos nós, aparenta ser uma mulher cínica e ambiciosa que não sabe seus limites. Quando no entanto a existência dela sob aquela casa burguesa do Morumbi em São Paulo é a unica célula coerente de quebra de paradigmas. O "Não saber seu lugar" de Jessica é justamente a metáfora do que ocorre no nosso cenário politico atual. Jessica é o tapa na cara, do patrão, do cis branco, do machista, do xenofóbico pró meritocracia que tem que aguentar o pobre, o negro, a trans, o nordestino, a mulher; sendo arquiteta na FAU e pegando o mesmo avião que eles. Avião, e não mais carroça ou somente ônibus.
É doloroso notar a ingenuidade resignada de Val a cada ordem que recebe. Por que para Val e tantos outros Brasileiros; classe A não se mistura com classe C. Por que se entende que existe ''sorvete de patrão'' e ''sorvete de empregada''. Porque se entende que quem limpa a piscina não pode usar ela.
Nesse sentido, Jessica - vivida com surpreendente atuação por Camila Márdila - é a quebra de reflexão na narrativa, ao escancarar esses tais limites e formas de conduta ao não se submeter a eles em nenhum momento.
É o tapa na cara, do gueto indo pra faculdade e não sendo apenas matéria de curso onde antes ele - eu, nós - não entravamos.
Se não bastasse o texto minuciosamente trabalhado, Muylaert ainda nos brinda com um cenário de ataque machista, na figura do aparente chefe de família - vivido por um apático Lourenco Mutarelli - que nunca precisou trabalhar na vida, e que vê na menina filha da empregada seu direito de macho de te-la como posse.
Tecnicamente o filme é um esmero a parte, Desde os planos cuidadosamente pensados para simbolizar as relações de poder e vulnerabilidade - Val constantemente aparece ao fundo da tela ou ao lado esquerdo, ou mesmo em cores mais apagadas que os demais - , o som - que sempre foi um problema em nosso cinema por questões de verba mesmo - aqui é limpo, funcional e sem nenhuma falha ou dificuldade de compreensão. O mesmo se aplica a seu filho Fabinho - o jovem ator de "O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias", Michel Joelsas - que por mais 'fofo' que aparente ser, revela traços desse machismo e domínio burgues que lhe é dado, em pequenos gestos, em pequenas frases, não menos nocivas.
É interessante notar também que a relação de mãe e filha no filme - onde o filme internacionalmente esta recebendo o titulo de "A Segunda Mãe" por isso - se estabelece de forma dura mas profundamente bela, quando se nota, que o afeto de Val por Fabinho, não é exatamente afeto a ele, mas um reflexo de seu amor e cuidado de mãe que gostaria de ser destinado a filha que morava longe. Val vê em Fabinho o seio que não pôde dar a filha por anos.
O filme ainda nos brinda com uma das cenas mais emblemáticas e belas que assisti esse ano, a cena final da piscina.
Como bem diria Cazuza: "a piscina esta cheia de ratos" sim! E que bom. A sociedade terá que se acostumar com suas Val's e Jessica's. As Barbaras terão que aceitar sim, que os pires e as xícaras, já não são mais uniformes. Agora é preto no branco.
Constelação de estrelas!
Um tapa na cara fílmico de extrema delicadeza, dor e revolta real que já chegou se tornando uma obra prima de Orgulho pro cinema nacional, mas de vergonha para nossa sociedade diante do mundo.
"Tipo campos de concentração, prantos em vão Quis vida digna, estigma, indignação O trabalho liberta, ou não Com essa frase quase que os nazi, varre os judeu? extinção (...) Médico salva? Não! Por que? Cor de ladrão Desacato invenção, maldosa intenção Cabulosa inversão, jornal distorção (...) Cura baixa escolaridade com auto de resistência Pois na era cyber, ceis vai ler Os livro que roubou nosso passado igual alzheimer, e vai ver Que eu faço igual burkina faso Nóiz quer ser dono do circo Cansamos da vida de palhaço É tipo moisés e os hebreus, pés no breu Onde o inimigo é quem decide quando ofende (cê é loco meu)" - Trecho da música "Boa Esperança" - Emicida
Não é de hoje que os Estúdios Ghibli mostraram ao mundo Ocidental e Oriental sua periculosidade unica em criar obras que permanecem atemporais e geniais no Cinema. Exemplos como "A Viagem de Chihiro" e “O Conto da Princesa Kaguya“ são algum deles. Porem, estes, agraciaram publico e critica, principalmente pelos nomes por trás de tais produções - desculpem-me; por traz de tais obras - que são ninguém mais e nem menos do que Hayao Miyazaki e Isao Takahata (diretores das obras citadas acima respectivamente) A cerca de dois anos os Estúdios Ghibli anunciaram que parariam de produzir filmes em grande escala global, devida a uma baixa na arrecadação de seus filmes e por consequência por possuírem menor verba para produzirem suas obras. O mundo das animações entrou numa especie de luto. E com razão. Dentro da vasta gama de títulos, existe uma chamada "O Mundo dos Pequeninos" uma historia vastamente conhecida por muitos e executada aqui por um jovem cineastas japonês supervisionado pelas mãos e genialidades incomparáveis de Miyiazaki. Com a parada dos Estúdios, Isao e Miyiazakise afastaram e saíram dos estúdios. Assim, sobrou para os jovens cineastas e menos experientes assumirem a responsabilidade de tentarem levantar a moral financeira dos estúdios. A ultima ficha deles recaiu sob as mãos justamente desse jovem cineasta, pupilo de Miyiazaki; Hiromasa Yonebayashi, que assume aqui sozinho as responsabilidades pela obra que ficou conhecida desde o ano passado como a ultima comercializada pelos Estúdios Ghibli para tristeza geral do mundo Cinéfilo. Principalmente, por que ''When Marnie Was There'' (do original "Omoide no Marnie" e que ganhou o título de "As Memórias de Marnie" aqui no Brasil) é uma obra genial de delicadeza, detalhes e de uma qualidade a altura da historia dos Estúdios ao longo de todos esses anos. Um filme que versa sobretudo,às relações familiares, mas sem morais estranhas de bons costumes. Não. ''Marnie'' aqui, lida sobre temporalidade, depressão na infância, sobre descoberta de quem se é, atrelados a tão conhecida e apaixonante fantasia mistica de crenças orientais que ultrapassam a linha do sonho e da realidade, somadas a uma maravilhosa nova visão sobre o protagonismo feminino, que assumem o destino e escolha de suas próprias historias. Mas o que chama mais atenção, alem do desenvolvimento e textos impecáveis, são os detalhes, o designer meticuloso que a animação possui, num tom de realismo tão grande que assusta. As sombras, a luz, as pegadas na areia, o movimento do mar, a saturação das cores. Tudo com traços fielmente trabalhados. É arte. Ao final, uma pequena emoção de um final belo, para uma obra mais bela ainda, que encontra sua feiura e tristeza somente no fato de talvez ser a ultima perola num vasto mar de relíquias de um estúdio que fez historia e deixará saudades... espero que somente por enquanto... Recomendo ao extremo! Como curiosidade: o lançamento do filme no japão se deu em 2014, mas nos EUA se deu em Maio deste ano de 2015. O lançamento nos EUA contou com uma vasta divulgação afim de "ajudar" os Estúdios a se recuperarem. Houve uma escalação de grandes estrelas de dubladores para tentar chamar a atenção do publico. O filme arrecadou cerca de U$186.844 dólares dos EUA e ¥3630000000 ienes ( cerca de R$120.454 reais) no Japão.
Terminando minha maratona, acabei de rever Mad Max - Alem da Cúpula do Trovão, que conta com Tina Turner no elenco. O filme que data de 1985, é narrativamente falando o mais fraco da trilogia que tem seu ápice no segundo filme (Mad Max a Caçada Continua).
Como filme isolado, porém, A Cúpula se resolve bem, mas a questão é que não se justifica. Ao contrário do cunho analítico político e ate antropológico dos dois anteriores, que reflete a questão do consumo, e principalmente os malefícios versus nossa dependência por combustíveis como gasolina e petróleo; esse a Cúpula, insere a questão do combustível água, é o limite dessa epopeia pós apocalíptica que dizimou os seres humanos a uma Era Feroz e animalesca novamente. Faz sentido. Por isso ele se resolve bem, mas o que não o justifica quanto narrativa, é que esse terceiro comete o erro de Hollywoodianizar demais essa sequência, ignorando a quase mitologia impregnada a saga do protagonista nos dois primeiros. O que vemos aqui, é as sequências de ação, as ações, e as motivações dos personagens serem caricaturados, onde as mortes são veladas e a violencia também. Em troca de resoluções pastelonas de alto requinte tecnico. Problema de produção. Pois, o roteiro e a direção permanecem coesos nas seqüencias. Toda a trama segue interessante, ainda mais a mescla com senhor das moscas numa especie de novo genesis para aquela humanidade desértica. A fotografia permanece maravilhosa. Li, que muitos questionam a subtrama "a lá senhor das moscas" aqui, mas lembro, que Max de herói ele passa a anti herói de sua própria jornada. Assim, ele precisa de uma redenção, que de fato só vem com a morte, mas enquanto isso não chega, ele precisa redimir-se consigo mesmo diante de suas motivações. O tom de heroísmo surge aí. Claro, que tudo parece forçado demais. A lenda, o chapéu que voa e aponta o caminho, a própria semelhança com os desenhos nas paredes e etc... Claro. Mas, funciona. Ele só decepciona diante da ruptura que ele comete no imaginário construído pela simplicidade dos dois anteriores. Só. Mas é um ótimo filme. Não se pode negar. Meu preferido inclusive mesmo agora analisando criticamente haha No mais, saliento que o eco do personagem piloto ali que surge no segundo filme e reaparece no terceiro servindo de gancho narrativo ( ainda que não aparente ser o mesmo personagem) é genial. Prova a identidade que Mad Max criou. Tina ta maravilhosa e diva numa vilã mega bem desenvolvida. E : "Dois homem entram, um homem sai" O/
Confesso que deixei por ultimo, porque a anos a industria americana tem me deixado extremamente decepcionado com os filmes que tratam de qualquer assunto sobre segregação ao negro. Isso porque, a maioria deles, sempre há o mocinho ou mocinha branca que é simpático a causa ou simplesmente "bonzinho" que se torna o herói que salva os negros de um destino cruel. Filme apos filmes vimos isso. Ha aqueles que citariam talvez Django ou mesmo o mais recente 12 anos de escravidão. Porem, se nestes, não ha o salvador branco, ha o negro protagonista de moral e motivações duvidosas, fato este que eu, negro, sinto na pele e metaforicamente também, certa preguiça e tristeza ao ver que não ha mais filmes que mantenham o foco correto. Mas então me propus a ver Selma... E que grata surpresa. Selma é tudo aquilo que eu espero de um filme sobre a segregação aos negros na historia. Isso porque ele não foca no sentimentalismo fácil de se extrair de tais historias. Ele foca na causa, na militância, na conscientização sem vitimismo ou pena. Ele mostra um povo que luta por si só, contra um sistema para possuir seus direitos negados. Talvez fosse a direção feminina que faltava. Não sei. O que sei é que a diretora não só soube dirigir com maestria o tema, como ainda teve o cuidado de manter a todo o momento o protagonismo aos negros. São os negros que lutam, os negros que decidem seus próprios caminhos. Ha ainda a percepção de não vilanizar o branco, mas sim o sistema de leis históricas e estrutura social e moral. Sensível e bruto, o filme ainda conta com uma narrativa eficaz que evoca a cada instante o sistema opressor e intolerante - aqui ia usar o termo "da época", mas infelizmente, Selma dialoga ainda muito bem com nossa atualidade global, inclusive a brasileira... -utilizando letreiros de arquivos do FBI. ( ainda que ficcionais). A trilha sonora que surge poderosa, não cai no artifício de surgir para levar ao pranto, mas para elucidar as ações daqueles homens e mulheres que marcharam por suas vidas e dignidade. Martin Luther King, aqui merece aplausos, numa concepção que não pretende eudeuza-lo como a persona real histórica o é, mas cria um personagem humano, com falhas e medos, insegurança e milimetricamente perspicaz.. Que chega num nível tão grande de cautela, que em duas horas de projeção, o vemos rir verdadeiramente apenas uma vez. Nem mesmo em sua resolução king esboça sorrisos de vitória. Pois o ator entendeu bem que um líder militante como ele, jamais se daria ao luxo de esquecer que vencer uma batalha significa dar inicio a uma guerra. Guerra essa que se estende por anos enraizada em cada um de nós. Ainda me vi satisfeito ao constatar a forma que a diretora representa suas mulheres na narrativa. Mulheres fortes, conscientes de suas forcas, que em nenhum momento sao colocadas como frágeis ou protegidas. Elas tomam suas próprias decisões, caem, apanham, e lutam de igual para igual com seus companheiros, mesmo a sra. King, mantem a postura de mulher lucida diante das batalhas do marido. Por fim, Selma ainda é eficaz em mostrar uma paleta de cores saturadas em meia luz por vezes que destacam esse clima de opressão e luta. Que fazem a pele negra saltar em tela de maneira branda, mas que ao final, ganha maior contraste e nivela os tons da pele branca e negra em igualdade . Mas preciso ainda destacar o cuidado da direção de arte, principalmente na cena da ponte com a fumaça, onde o filme ganha áreas de terror, ao mostrar aquele povo sendo perseguido e massacrado por forcas sem rosto. Os brancos ali surgem em meio a fumaça ironicamente branca. Uma brancura espessa que cega. Com direito a presença de chicotadas que o designer de som faz questão de exaltar. Forte, crítico, e cruelmente lindo.
Selma é realmente um grito que merece ser ecoado ate as profundezas de cada glória em pele, cor e força, seja de quem for.
Como Eu Era Antes de Você
3.7 2,3K Assista Agora[Atenção!!! Pode conter sugestão de spoiler ou de informações da trama ]
Dirigido por Thea Sharrock "Me Before You" - Como eu Era antes de Você - é um emaranhado de repetições e fórmulas de romances trágicos recorrentes no cinema "água com açúcar" que apesar disso é bem conduzido e encanta justamente pela leveza.
Baseado no Best seller de Jojo Moyers - que assume tbm o roteiro - o filme conta a história de Will (Sam Clafin) um play boy milionário que está a caminho de uma reunião importante na empresa de sua família. Num dia de chuva após deixar sua namorada dormindo, ele sofre um acidente - é atropelado por uma moto. O ocorrido o deixa tetraplégico (não há mais movimentos nenhum do pescoço pra baixo). Amargurado Will passa os dias solitário mesmo tendo a família ao lado. Até que sua mãe contrata Louise (Emília Clarke ) uma atrapalhada e peculiar ex garçonete desempregada que usa roupas extravagantes; para cuidar dele por seis meses. Assim que Will conhece "Lou" a vida de ambos passam por uma mudança. Envolvendo paixão e escolhas.
Longe de ficar na memória ou se aprofundar em questões muito sérias; o filme possui uma boa dinâmica entre seus atores centrais, e conta com personagens carismáticos e de fácil ligação. Talvez o que mais seja relevante aqui é a aproximação com a questão da eutanásia e do suicídio assistido. Tema ainda tão complexo e controverso na sociedade. Ainda mais pela polêmica que o livro e o filme como reflexo receberam das associações de direitos e bem estar de pessoas com deficiência ao redor do mundo. Que repudiam a aparente mensagem de que o desfecho da trama possa ser um desserviço as pessoas com tais realidades como as que são tetraplégicas.
Um debate válido.
Pessoalmente e falando apenas como espectador e claro alguém sem a vivência da condição ali exposta, o filme fala muito mais do direito à escolha de cada um do que necessariamente da não escolha. (Mesmo que tenha que se reconhecer que nas linhas finais do roteiro eles utilizem a fala de que aquele caso de deficiência não possuía possibilidades o que é questionável fortemente quando não se generaliza o fato. Afinal quem disse que qualquer deficiência ou limitação de mobilidade deve ser empecilho pra algo?)
Várias questões.
Como filme no entanto a produção é aquele mel morno gostosinho de ver.
Fofo.
Ps: ainda não superei ver Neville Longbotton "pegando" a Khaleesi. É demais pra minha cabeça.
Procurando Dory
4.0 1,8K Assista AgoraIa escrever sobre Procurando Dory, mas decidi que não. Só farei umas considerações e "colarei" um comentário que condiz com minha visão/análise do filme (com devidos créditos à pessoa que comentou).
Sobre o enredo temos basicamente a mesma premissa de Procurando Nemo. Tanto em estrutura quanto em narrativa. As motivações são praticamente as mesmas com o PLUS que esse é um fã service escancarado. O que é bacana se considerarmos os 13 anos de espera por Dory. Tecnicamente falando da animação os gráficos e etc,temos a qualidade exemplar da Pixar de sempre. O que me incomodou no entanto é que apesar de funcionais e coerentes os flashbacks se mostraram demasiado cansativos . Assim como algumas piadas que em mim (pela minha relação atual com certas coisas) não produziram riso algum.
O melhor do filme é sem dúvida nenhuma é a maneira que o roteiro exerce protagonismo e independência a personagens com algum tipo de deficiência seja ela qual for sem que o fato em si seja motivo para situações de emoção fáceis e forçadas. Se há emoção não é pela deficiência dos personagens. Se há dificuldades não é exatamente por isso tbm. E isso fica claro. Isso considerando que estamos falando falando de um filme infantil é essencial para a construção social e desconstrução de discriminações. Fora a representatividade evidente.
Comentário de Gabriel Amorim que me contempla: "O filme fala sobre capacitismo e o arco dramático não é meramente encontrar a família da Dori, mas sim encontrar a si mesma, ou seja, a vida e desafios de pessoas com deficiências e seus percalços para viverem "normalmente" diante as suas diferenças. Marlin e Nemo podem até demasiados secundários, mas tem dois papéis importantíssimos. Marlin não tem deficiência (como um branco falar sobre negros, ou um homem falar sobre como ser mulher) sua experiência será sempre limitada pela empatia, nunca tendo vivido na pele. Desse modo, tende a ter resquícios de superproteção, ao mesmo tempo que acha irracionais certos pensamentos. Para essa mudança, entra em cena um dos momentos mais lindos do filme que é lição dada pelo Nemo. Assim como a Dori ele é deficiente, passou a vida sendo tratado com hiper-proteção ou como sendo incapaz, nesse momento ele ensina ao pai a aprofundar sua empatia e ver coisas que só quem tem uma deficiência seria capaz de ver. A Dori não faz as coisas "normais", pois ela é "diferente", e para conseguir viver precisa entender como comportar diante de seu problema e não seguir as regras ditadas "socialmente" como sendo as corretas. O fato de o lugar ser um hospital também é relegado 'por muitos.'. E principalmente, o arco do Hank é subestimado. Ele não se torna o raivoso de coração mole, tampouco era um raivoso unidimensional em seu início. Ele é um paciente com estresse pós-traumático, logo, com o auxílio da espontaneidade que somente a Dori possui, pode melhorar seu quadro. Repare que ele ainda possui toques, mesmo ao final. (...) Outro ponto lindíssimo é fala da mãe da Dori que já diz gostar do Marlin, com isso ela ilustra que ambos dividem as preocupações mostradas ao longo do filme como é a dedicação e os temores enfrentados pelos pais de pessoas com necessidades especiais. O fato de os pais da Dori, com a sua perda, morarem literalmente num oceano negro após a perda da filha ilustra muito bem o trauma que os pais também passam. Sem nunca esquecer!"
Como um todo: gostei do filme, mas não sentiria necessidade de ver mais vezes. Mas, recomendo sim, principalmente pela nostalgia aos mais velhos ^^
A Outra Terra
3.7 874 Assista AgoraDirigido por Mike Cahill (''I Origins''), com Brit Marling ( "I Origins", "O Sistema"),"Another Earth" (A Outra Terra) é um filme sobre as fases da depressão amparados por uma especie de sci-fi tímido, mas eficiente no seu enfoque.
Rhoda é uma jovem inteligente que recentemente foi aceita no programa de astrofísica do MIT. Ao voltar para casa de carro após uma festa de comemoração pela conquista, ela descobre com o restante da humanidade a existência/aparecimento de um planeta idêntico a Terra orbitando bem próximo a nós. Por um descuido momentâneo, ela causa um acidente que mata a família de um professor de musica - sua esposa gravida e seu filho pequeno-.
Ela é presa por quatro anos, e quando sai da cadeia descobre que o novo planeta é quase que um espelho da Terra. Tudo que existe aqui,existe lá, inclusive uma versão de todos nós, com mesmo nome e idade e aparência. Eles chamam o planeta de Terra 2. Desolada pelos erros, pela depressão e pela sensação de star perdida, Rhoda decide participar de um concurso que promete levar os primeiros humanos a essa nova Terra. Mas, antes ao descobrir que o professor que ela causou o acidente, sobreviveu e saiu do coma, ela pretende encontrar alguma forma de se desculpar com ele, enquanto reflete o que poderia ocorrer se pudêssemos ter uma segunda chance na vida.
O Filme lida muito mais com a máxima de podermos nos encontrar com nós mesmos e nos questionarmos quem somos, em empíricas filosóficas do que necessariamente sobre a ciência teórica de realidades paralelas. Temos aqui um drama com 'D" maiúsculo que em alguns de seus melhores momentos se assemelha a Melancolia de Lars Von Trier, pelos questionamentos que trabalha - claro que aqui de forma mais simples, mas não menos complexa em sentidos -; inclusive na semelhança da aparente influencia quase de energia e hipnose que o planeta exerce nas pessoas, conforme ele surge cada vez mais próximo da 'nossa' Terra. (em nenhum momento eles dizem que o planeta esta se aproximando, mas é visível sua grandeza cada dia mais evidente.) Amparado ainda por diálogos que envolvem ate mesmo o mito da Caverna de Platão, e a Teoria do Espelho Quebrado; a mise en scène do filme ainda é competente ao entender a metáfora que utiliza para ratar das mazelas emocionais da protagonista, ao em certo momento do filme - em seu terceiro ato - inundar as ruas em uma especie de Silent Hill. .
Possuindo uma fotografia azulada e cinzenta que não apenas existe para explicitar a aproximação do novo planeta em nosso céu mas também para caracterizar a monocromático sentimento de existência de sua protagonista diante dos erros e empecilhos da vida, o filme acerta em cheio ao mostrar em vários enquadramentos - como o do quarto da garota abraçada a seu próprio corpo semi nu, e o dela deitada completamente nua no gelo, as fases da depressão onde nosso próprio mundo deixa de fazer sentido, e tudo que precisamos sentir é o findar daquilo tudo. Numa especie de beco sem saída, onde não se tem espaço para retorno visível, a sensação de isolamento, inadequação, marasmo, inquietação e desespero tomam conta. Como pisar com uma pedra sobre a nuca sobre uma taca de vidro quebrado. A ideia de que qualquer movimento rasgara mais a pele dos pés q cedera sob o corpo pelo peso da pedra, e que estagnar também só estendera a dor dos cortes, onde nem mesmo a taça voltara a ser como era antes. Pois partiu.
Essas discussões com o plus da ideia de podermos talvez em algum lugar encontrar redenção conosco mesmo - únicos que poderiam nos entender plenamente - e descobrir quem somos, faz do filme um drama depressivo e eficiente, mas belo ao mesmo tempo pela trajetória daquelas duas vidas mostradas.
Bom filme.
Coerência
4.1 1,3K Assista AgoraCom um orçamento de pouco mais de 50 mil dólares, e filmado em apenas 9 dias, esse longa tem sido conhecido desde sua estreia tímida em 2013 como um dos melhores thrillers sci-fi dos últimos 10 anos (outros se arriscam a dizer, que seja talvez desse novo seculo). O bem da verdade, é que Coherence é um deleite visual - por percebermos como que uma ideia suplanta a falta de orçamento -, de roteiro - onde o argumento vale por qualquer outra super produção hollywoodyana -, e que instiga justamente pela habilidade do diretor em criar uma tensão verossímil, mesmo diante da inverossimilhança possível - ou não - diante dos menos criveis as teorias quânticas, cientificas e etc etc.
A sinopse é simples: 8 amigos decidem se encontrar para uma reunião/jantar de confraternização para relembrar os velhos tempos. Durante o jantar, há um cometa chamado Miller que esta passando pela orbita da Terra. Entre as conversas os amigos relembram as noticias - a maioria infundada - de que pessoas acreditam que esse cometa e outros alteram certas coisas no planeta, como celulares que param de funcionar ou pessoas que alteram seu comportamento.
Eis que ocorre um apagão em toda a vizinhança, e ao olharem pela janela para saber o que ocorreu, os amigos notam que ha apenas uma unica casa, a dois quarteirões de lá com luz. Apenas essa casa num amontoado de escuridão. Dois deles resolvem sair para pedir para usar o telefone dos moradores dessa residencia (pois um deles precisa falar urgentemente com o irmão). Ao voltarem, coisas estranhas começam a surgir.
Ele mescla dois conceitos básicos da ciência: A teoria do Multiverso e a teoria do Gato de Schrödinger, uma das mais famosas teorias acerca da incoerência e decoerência quântica.
O Multiverso versa sobre a teoria das cordas, estudos sobre a enigmática matéria escura e os resultados obtidos sobre a expansão crescente e sem retorno do nosso universo parecem exigir uma resposta que rompe com um paradigma fundamental - o universo é infinito e nele tudo está contido. A teoria do multiverso traz o sentido no nome: existiriam infindáveis universos numa espécie de queijo de energia quântica, onde bolhas se formam e somem sem parar. O nosso universo seria um deles. Resumindo: É a teoria de que existem milhares de universos. (o filme inclusive brinca com essa parte quando em certo momento um dos diálogos cita um pedaço de queijo e ketamina como aperitivo antes do jantar rsrs).
Já a base mais evidente do argumento do filme esta na teoria do Gato de Schrödinger ( Schrödinger foi um físico austriaco ganhador do Prêmio Nobel de Física e tido como um dos cientistas mais celebres do seculo XX), que consiste numa experiencia onde se coloca um gato imaginario dentro de uma caixa com um pote de veneno e fecha-o la dentro. A caixa onde seria feita a hipotética experiência de Schrödinger contém um recipiente com material radioativo e um contador Geiger, aparelho detector de radiação. Se esse material soltar partículas radioativas, o contador percebe sua presença e aciona um martelo, que, por sua vez, quebra um frasco de veneno
De acordo com as leis da física quântica, a radioatividade pode se manifestar em forma de ondas ou de partículas - e uma partícula pode estar em dois lugares ao mesmo tempo! As ondas brancas desenhadas aqui representam as probabilidades de ocorrência dessa dupla realidade, quando, na mesma fração de segundo, o frasco de veneno quebra e não quebra
Assim, teríamos duas possibilidades possíveis: a) Aqui o gato aparece vivo, porque, nessa versão da realidade, nada foi detectado pelo contador Geiger
b) Aqui o gato surge morto, pois nessa outra versão do mesmo instante de tempo o contador Geiger detectou uma partícula e acionou o martelo. O veneno do frasco partido matou o bichano
Seguindo o raciocínio de Schrödinger, as duas realidades aconteceriam simultaneamente e o gato estaria vivo e morto ao mesmo tempo até que a caixa fosse aberta. A presença de um observador acabaria com dualidade e ele só poderia ver ou um gato vivo ou um gato morto.
Simplificando, a teoria cujo o filme implica, é aquela famosa ideia de que existem vários universos e realidades coexistentes ao mesmo tempo/espaço e que nossas escolhas constantes alteram cada linha de realidade.
Dirigido por James Ward Byrkit (sua estreia na direção. Ele foi co-roteirista da animação ''Rango"), o filme brilha justamente por trazer esses conceitos de forma orgânica ao unir a ciência teórica, numa especie de experimento 'possível' através da desculpa de gancho de roteiro do cometa (que seria aqui a força inexplicável capaz de interferir nessas leis quânticas e físicas), mas usando isso para debater e refletir sobre as relações humanas e existenciais. Não importa muito a certo momento do filme como pode ser possível X ou Y situações, por que o que importa de fato são os pensamentos e atitudes daqueles 8 amigos diante daquelas milhares de possibilidades e situações apresentadas.
Todos os amigos ali, se reúnem depois de vários anos, cada um tendo uma escolha na vida que os levaram a vários caminhos diferentes. nem todos surgem satisfeitos com suas escolhas - como todos nós diariamente -. Quando esse lapso ocorre ali, cada ação altera uma realidade daquela dinâmica em diferentes espaços e tempos, mas altera também a dinâmica deles, com eles mesmos. Em certo momento uma das personagens diz que aquela experiencia poderia ser aquilo que todos nós humanos sempre no intimo queremos ao longo da vida: poder encontrar-se consigo mesmo em diferentes realidades de escolhas que não fez. Como eu estaria hoje se eu tivesse pegado o ônibus detrás e não aquele que veio antes? Como eu estaria se eu preferisse vir a pé ou de taxi? Como seria minha vida hoje se eu tivesse escolhido aquele outro curso, aquela outra roupa, ou simplesmente, acordado cinco minutos mais cedo? Ocorreria algo na minha vida, no meu caminho ate aqui diferente por causa dessa minima escolha que fiz? E se cada uma dessas possibilidades, desses 'eus' pudessem se encontrar num mesmo lugar e tempo e se confrontarem? Eu descobriria quem eu realmente sou em toda a vasta complexidade de facetas que somos?
Em vários momentos o filme me passou o clima da lendária serie Twilight Zone, de meados dos anos 50/60. Uma mescla de terror e suspense, com aplicações filosóficas, de desfecho surpreendente e instigante.
Apesar de parecer muito complexo, a dinâmica em si é simples, apos acompanhar o filme. basta prestar atenção nos detalhes que ele fornece - cada frase é essencial para o entendimento, por mais que na hora pareçam jogadas a esmo. Não são.
Eu pessoalmente só me enrolei de fato - e certeza que essa foi a intenção do diretor - com os 3 minutos finais do filme. Onde o conceito básico do experimento se choca com uma 'incoerência' do próprio sentido cientifico dele. Mas, que abraço outros conceitos possíveis, e por isso são teorias.
Um filme gigante como o tema que aborda, uma surpresa grata de estreia de um diretor que pretendo acompanhar e principalmente um alivio diante de tanta produção bilionária rasa por ai, que prova que uma ideia inteligente vale mais do que qualquer super câmera ou grande elenco famoso.
Recomendável (mas pode causar enxaquecas)
Quando Te Conheci
3.3 472 Assista Agora'Equals' - Iguais (mas que veio como 'quando te conheci) do diretor ''Drake Doremus'' e que percorreu os principais festivais de cinema do ano passado e desse ano (Incluindo o de TRIBECA). Com Kristen Stewart que definitivamente provou que não existe má atriz mas sim filmes fracos com atores mal dirigidos - que dá um show em tela, numa personagem intensa e complexa pela própria natureza da historia e o interessante Nicholas Hoult. O filme conta a historia de um mundo distópica, uma realidade onde a humanidade quase se destruiu por completo, e que se modificou em seu DNA para extinguir qualquer traço de sentimentos ou emoções. Sem amor, ou ódio, sem dor ou pena, sem emoções. Tudo que os humanos continuamente fazem e existem, é para descobrir os mistérios do universo em uma aparente harmonia enfim com o planeta, onde não é possível contato físico ou mesmo amizades. Ninguém sente nada. Porem, uma epidemia começa a assolar a todos, chamada de SDL. Essa epidemia é uma especie de erro genético que se desenvolve sem saber o como, nesses indivíduos devolvendo-lhes a natureza humana de sentir emoções e sensações. Os indivíduos com tal 'doença' começam um tratamento de inibição desses estágios, sem cura, ate que não seja mais possível controlar as emoções e eles sejam internados num ATRO, uma especie de clinica/prisão onde são submetidos a testes e experiencias com choques ate que acabam morrendo de exaustão ou se suicidam.
Quem nunca sonhou com um mundo onde ninguém sentisse nada? Onde não houvesse ódio nem discriminação por raiva ou rancor, onde não se sofresse por amor, ansiedade ou depressão. Onde não se sentisse dor ou vontades.? Todos nós em algum momento ne? E o diretor de fotografia faz um trabalho excepcional de concepção desse mundo tão clean e padronizado, onde todos são iguais.
O filme tem 3 referencias da literatura bem explicitas, mas que não revelarei pois estragaria seu desfecho. Nia e Silas (Kristen e Nicholas) são dois desses que pegam essa doença. Ele no inicio do estagio, e ela convivendo a vários meses fingindo ser 'normal'..
O que mais me cativou no filme é a reflexão obvia e benéfica que ele faz com discriminação e preconceitos, principalmente pra mim contra LGBTS (ainda que não haja casais LGBTS ou indivíduos tais), com racismos e discriminação com o HIV e soropositivos. A forma omo ele reflete o que nos torna humanos e como justamente isso que nos faz ser menos humanos em varias fases da vida em sociedade é brutal e curioso.
A unica falha para mim é a aspiração a la Spielberg no ultimo ato onde o filme perde todo o controle racional e coeso que vinha exibindo ate ali, incluindo nas atuações genias dos protagonistas justamente por isso (atuar com olhares e gestos sabe? com um engolir em seco ou um apertar de mão), e parte para um apelo emocional obvio e descarado apenas para emocionar e entristecer. Mas, não tira o mérito da obra. recomendo.
A Visita
3.3 1,6K Assista Agora'The Visit' - A Visita -. Dirigido pelo famigerado M. Night Shyamalan, este filme segue a linha da trajetória desse diretor pra mim ate agora. Para quem não sabe, ele é o diretor do genial "O Sexto Sentido", do interessante "A Vila", e "Corpo Fechado" e do desastroso 'A dama da Água" e do fraquíssimo "Fim dos Tempos" - nota para o mediano (pra mim) 'O Último Mestre do Ar '.
Como descrevi pelas suas obras, Shyamalan tem uma característica de ou acertar em cheio ou errar brutalmente. O problema é que ainda não consegui decidir ou perceber qualé a dele como diretor. Pq ainda que haja já sua assinatura em todos os filmes descritos, - sua mise-en-scéne é marcante - ele tende a enveredar por caminhos tão distintos que é ate assustador constatar que O Sexto Sentido é do mesmo cara de a Dama da Água.
Talvez por isso esse seu filme A Visita, que é uma especie de hibrido de found footage, surja como um ensaio sobre o próprio gênero. O filme não se leva a serio, e esse é o maior trunfo dele. Carregado de pontuais clichês e essenciais inovações, o diretor parece querer subverter o gênero que em essência deve mostrar tudo, para trazer sua linguagem mais semelhante a narrativa do suspense usual. Em certo momento a protagonista inclusive cita que ainda que esteja filmando um documentário, sua intenção é estabelecer a curiosidade do espectador pelo que esta ocorrendo fora do foco, do plano, do quadro e não o que ela esta mostrando em primeiro plano de fato. Essa fala simplifica a intenção clara do filme. - troca a point-and-shoot pela mise-en-scéne e arremata isso em algo orgânico através da metalinguagem.Meu maior problema é com o ultimo ato, onde as coisas começam a ir por um caminho um tanto arriscado e obviamente desastroso do ponto de vista estrutural. Incluindo construção de personagens. Mas, vale a assistida de qualquer forma.
(ah, a sinopse do filme eu reescreveria: Dois irmãos - um menino de 13 e uma menina de 16) vivem com a mãe divorciada e que recentemente começou a namorar. O pai os abandonou deixando os dois e a mãe com alguns problemas psicológicos e emocionais. A mãe resolve economizar e fazer uma viagem de cruzeiro com o novo namorado durante uma semana e deixa as crianças com os avós. Avós esses que moram no interior e que ela não vê jamais, devido a uma misteriosa briga que levou-a a sair de casa, cujo o ocorrido ninguém jamais fala. Visando ser uma cineasta e ao mesmo tempo conseguir alguma redenção apara a mãe nessa briga familiar, a garota mais velha junto de seu irmão caçula- aspirante a rapper misógino) começam um documentário, contando a trajetória deles nessa semana com os avós. No entanto, ao chegarem lá e conhecerem os avós pela primeira vez, eis que coisas estranhas começam a ocorrer, e talvez tudo o que reste seja os registros da câmera dos garotos...)
Conexão Mortal
2.1 280 Assista Agorali que o final no livro é diferente.. alguém que já leu ou sabe poderia me contar qual é? procurei mas não achei pela internet.
Lemonade
4.6 88A Descoberta da Identidade negra, é algo tão poderoso e delicado, e ao mesmo tempo, tão complexo e complicado, que nem mesmo a descoberta de identidade sexual supera.
Se entender negro, e mais que isso, se compreender negro, carrega uma serie de entendimentos, que remontam cada seculo da historia que seu sangue e sua pele, que sua raiz de cabelo possui.
Se no meio disso, acrescentar o empoderamento feminino, e a força identitária que isso possui, entre dor, sofrimento, duvidas, confusão, força, compreensão, e enfim resistência, se obtêm exatamente a postura que esse álbum visual da Beyoncé pretende. É a porta de ruptura entre o afastamento e a ligação que cada negro e negra passa por seu caminho.
O Álbum - Chamado ''Lemonade'', que faz analogia a época em que negros escravizados tomavam limonadas, acreditando que isso faria com que suas peles clareassem, e assim, não sofressem tanto racismo - possui 12 faixas sonoras, que possuem letras que vão desde superação de traições, difamações e idolatração a família, ate a ensejos políticos e sociais que remontam como referencias a historia dos negros - tanto norte americanos, quanto a origem africana -. E nisso se estende a sonoridade que vai desde o bom Country texano de berço - nada de Taylor Swift aqui -, ate mesmo o habitual rap, mas em tom mais agressivo e combatente que o Kendrick Lamar vem brindando recentemente.
Com participações de Kendrick Lamar e The Weeknd. Samples de Led Zeppelin, Animal Collective e uma versão de “Can not Get Used To Losing You”, de The Beat.
Mas, a força desse álbum esta na concepção visual que ele possui.
Isso por que, ele trás uma carga de simbologia poderosa e forte de historia negra e feminina em cada frame que se propõe. Composto quase que absolutamente tanto na equipe técnica quanto nas pessoas que aparecem em tela, de pessoas negras, o 'filme' funciona como uma especie de jornada que passa por 11 selos distintos de resiliência de uma mulher - e o povo que ela carrega na ancestralidade, traída, machucada, e que na quase morte, obtêm passo a passo o caminho de retorno, onde se redescobre como é.
Os capítulos passam pelos seguintes títulos/Temas:
Intuição
Negação
Raiva
Apatia
Vazio
Prestação de Contas
Reforma
Ressurreição
Esperança
Redenção
Formação
Esta ultima, que não é indicada no filme, mas que se completa, já que é a musica que fecha Álbum sonoro.
É como se a Beyoncé que tanto - pessoalmente - faltava em representação para mim, quanto negro que sou, em ser um simbolo de resistência e empoderamento étnico, finalmente percebesse ou se levantasse, diante da importância que possui no mundo atual, e finalmente quisesse lutar junto aos seus - a nós -, em mostrar nossa historia, nossas características e cultura unica. Tomando para si seu legado. Legado de todos os negros e negras. E junto a isso, linkando para seu feminismo e de todas as mulheres em sua sororidade e embates.
A Beyoncé sexualizada, com musica para qualquer um rebolar ate o chão, a que fala sobre ser uma boa esposa ou mãe somente, dá lugar a uma outra mulher. Uma mulher que busca ali na natureza entre florestas, a água que limpa, o fogo que destrói, e o asfalto onde nossa sangue tanto já jorrou - inclusive nas terras de senzalas e valas - o eco de seu próprio DNA. Levantando enfim para assumir-se como é.
Um Álbum que eu como negro, precisava ver vindo dela. E que me deixa novamente em posição de voltar a admira-la plenamente e ama-la, e gritar: tamo Junto irmã. Tamo Junto!
Como ela mesma disse: "Meus ancestrais escravizados, tomavam limonada achando que isso iria embranquece-los. A mídia me deu limonada também, mas não adiantou."
Não adiantará nunca. Essa limonada para nós hj, é refresco doce. E aqueles que tentarem nos fazer tomar sob outro viés, perceberam que a eles, tudo que conseguirão é uma enxurrada acida e amarga.
Ps: A Faixa Daddy Lessons funciona muito bem para compilar essa característica em que ela mesclou a traição, a submissão, o subjulgamento do patriarcado machista às mulheres. Mais especificadamente às negras. Ela traça um paradoxo no texto confessional de introdução a música, entre a relação dela como mulher esposa. Como mulher filha. Logo, entre o marido e o pai nessa tênue linha de respeito e obrigação. De conquista e opressão. Tufo clamando pela ancestralidade ora espiritual, ora urbana.
Amor e Revolução
3.9 298 Assista AgoraDirigido por Florian Gallenberger e estrelado por Emma Watson e Daniel Brühl, este filme consegue tecnicamente ser a mesma bagunça que a situação de sua produção - diretor alemão sobre a história do Chile com financiamento de um milionário de Luxemburgo, com atores ingleses; que foi pensado para estrear em grandes salas de cinema (devido as estrelas que o protagonizam ) mas, acabou indo direto para locação e venda -, mas consegue sim, passar a essência de um período tenebroso do Chile e facilmente adquirir assimilação com os espectadores brasileiros por estarem evidentemente vivendo algo parecido neste século.
O filme conta a história de Lena e Daniel - ela aeromoça e ele militante - dois jovens alemães que vivem a dois anos no Chile. Mas, o ano é 1973, época em que o Estado democrático do Chile se via a mercê de golpistas à eleição do presidente Salvador Allende, conhecido por seu povo como um governante de esquerda. Após sua queda, num golpe de Estado e Militar, foi implementada da noite pro dia uma ditadura militar comandada pelo ditador Augusto Pinochet. Assim, a população que militava contra esse regime foram presas e torturadas. Daniel é um deles, ao tentar fazer registros fotográficos desses abusos militares. Ele é levado até uma Colônia chamada Dignidad. Que é conhecida por anos como um retiro religioso. Mas, na verdade servia para todas as mazelas da ditadura, como torturas, abusos sexuais a menores e melhores e até mesmo como experiências mentais, com clara remanescência do nazismo.
Lena, para tentar salvar seu namorado, se alista a essa seita da Colônia.
O filme tem uma história real e histórica magnífica e horrenda para a humanidade recente - tão parecida com a nossa brasileira - mas, prefere focar na relação de amor e devoção daquele casal de estrelas hollywoodianas do que nas vítimas daquele regime ditatorial.
Com isso, não só se perde o sentido da trama, como ela ainda se apresenta rasa ao não conseguir construir e formar seus personagens - quem são? Da onde vieram? Por que estão ali? - nem mesmo suas ideologias são claras. Principalmente Daniel. Que não sabemos em quase duas horas de filme quem era de fato, por que militava. Por que estava no Chile e não em seu país. A impressão que fica é que o filme quis apostar tudo nos nomes dos atores para sustentar a história do que construir uma narrativa que fosse ao menos respeitosa com cada morte e cada violência sofrida ali. A começar pela língua. Numa mistura de sotaques estranhas, que descaracteriza o povo chilena em imagem e cultura.
No entanto as atuações são ótimas. E a história também. Para quem nunca teve contato com esse período é um filme interessante para introduzir essa realidade. É chocante e de se fazer indignar constatar como a ditadura seja em qual país for, destruiu e destrói cada celular de humanidade que podemos ter. E como a democracia e o Estado de Direito são bens frágeis a mercê dessa sombra que sempre retorna. Como que a história sempre se repete. Sempre.
Sobre a real Colonia Dignidad:
Pedofilia, estupros, conivência com a ditadura, assassinatos, tortura e fraudes são apenas alguns dos crimes atribuídos aos cabeças da colônia alemã no Chile. Meio século depois, papel das autoridades continua obscuro.
Colonia Dignidad foi batizada mais tarde de Villa Bavaria.
O enclave de imigrantes alemães no sul do Chile denominado "Colonia Dignidad" foi fundado em 1961 pelo orientador de menores luterano Paul Schäfer. Dois anos antes, ele fugira da Alemanha, para escapar de acusações de abuso infantil.
Com a tomada do poder pelo ditador Augusto Pinochet, em 1973, a colônia passou a ser utilizada como centro de tortura pela polícia secreta chilena, a Dina. Mesmo após o retorno da democracia ao país, em 1990, a seita e suas práticas obscuras permaneceram longe dos olhos do resto do mundo.
Paul Schäfer morreu na prisão (ao qual foi condenado somente em 2004 - sendo preso em 2003 - à 33 anos de cárcere, por estupro, pedofilia de centenas de crianças, ocultação de cadáveres e tortura e contribuição com mazelas nazistas).
Formalmente, a colônia foi reconhecida como entidade de interesse público: um hospital para a população rural da região lhe concedia um caráter social-beneficente. Somente com a fuga de Paul Schäfer, em 1997, a comunidade, mais tarde rebatizada oficialmente como "Villa Baviera", começou a se abrir e passou por mudanças abrangentes.
Ou seja: mesmo após as denúncias da funcionalidade da Colônia pro mundo, que virou um escândalo global, no Chile nada mudou, até a queda da ditadura é o restabelecimento da Democracia no País. A colônia funcionou por mais de 40 anos. Seus moradores se misturavam a vítimas do regime, com as crianças das mulheres ali estupradas, e que mais tarde, eram abusadas sexualmente também pelo pedófilo que as geria.
Mesmo com o restabelecimento da democracia e com as investigações do período, os culpados só foram achados e presos e condenados decadas mais tarde. E assim como no Brasil, o país não reconhece como verdade as ocorrências ali. Em 2010 ainda há casos em aberto esperando julgamento e investigações.
Detalhe: em 73 a Colônia já funcionava por mais de 30 anos pelo menos.
Assim, o filme não consegue ser nem mesmo a ponta do cabelo de tudo e toda a complexidade que a história possui. Pois se resumiu a um romance de superação de dois alemães avulsos e " bonzinhos" que tentaram alertar o mundo sobre o que ocorria ali. Nem de longe o filme merece ser visto como obra daquele período. Mas, funciona muito bem como introdução ao tema. A realidade. E como um alerta urgência para o que jogos políticos, de mídia e a força de um povo pode ter ministradas de forma perigosa.
Fica a dica!
Sobre o filme: Chile, 1973. Em meio ao golpe de estado que derrubou o presidente eleito Salvador Allende e possibilitou a ascensão do ditador Augusto Pinochet, as massas estão nas ruas protestando, entre eles um casal alemão, Lena (Emma Watson) e Daniel (Daniel Brühl). Quando o rapaz é levado pela polícia secreta de Pinochet, Lena procura por ele e descobre que seu amado está em um lugar chamado Colonia Dignidad, uma suposta missão de caridade dirigida por um pregador (Michael Nyqvist), só que na verdade é uma prisão de onde ninguém nunca escapou. A fim de encontrar Daniel, a moça decide se juntar ao culto religioso da Colonia.
Blackbird
3.3 26"Deus é Amor. Nunca desrespeite Deus tendo vergonha do trabalho Dele.
- 'Mas, como devo saber o que Deus quer? Fico perguntando a Ele dia após dia...'
- 'E você já parou para escutar? Ou você só ficou ali falando?'
Deus é Amor."
Que filme fofo!
Um típico filme de TV. Daqueles que não carece denotar qualidades ou defeitos técnicos, pois aqui não se aplicam a esse tipo de análise. Mas, que é gostoso de assistir pela mensagem que passa.
BlackBird é um filme independente dirigido por Patrick lan-Pok e conta a história de Randy. Um garoto negro, prestes a se formar no ensino medio, que tem dois melhores amigos - Crystal e Efrem - e vive com a mãe separada, que não consegue superar o desaparecimento da filha mais nova. Randy é gay. Mas não sabe, não aceita e crê que Deus, seu pastor e sua fé o abominam.
O filme lida essencialmente com religiosidade. Não a questionando, mas a abraçando aos que são cristãos, e mostrando como um jovem LGBT lida com sua identidade e sua fé, e todos em volta. O filme é uma Fofura só. Que mescla humor e até alguns momentos bem "toscos" e descontraídos para dar lições de fé e sabedoria , de tolerância e sobretudo amor, fraternal e familiar a despeito de que seres humanos aos olhos do Deus do amor os fez perfeitos e pecado é aqueles que tentam negar aquilo que Ele fez perfeito para ser como é.
Toda a comunidade é conservadora, e nem mesmo a naturalidade que seus amigos tem com o tema - eles fazem parte do coral da escola religiosa, e escolhem fazer Romeu e Julieto por exemplo - impedem que Randy sofra diariamente com seus desejos e afetos. Tudo massificado pela depressão e obsessão religiosa de sua mãe.
Tudo começa a mudar quando ele conhece Marshall, um companheiro de teatro. Assumidamente gay, que vai despertando em Randy uma libertação e real sentido do que a palavra significa na vida real, daquilo que ele e sua comunidade tanto lêem em suas bíblias.
Um filme bonito, daqueles de se ver com a família num dia de domingo, principalmente de acalento para aqueles que ainda estão nessa luta interna entre sua fé e ser quem se é.
O filme tem no elenco Isaiah Washington (que tbm é co-produtor) e Mo' nique ( que tbm é co-produtora executiva). (2014/2015)
Recomendo.
Ps:: Tem uma cena de sexo no filme. Semi nudes, mais indicativa do que exibicionista. Li ela de forma sugestiva e bem delicada, poética pelo ato. Mas, dependendo do nível conservador da família (como sugeri que fosse visto indiscriminadamente pelas famílias e etc) pode soar "desrespeitoso". Então fica o aviso. rsrs.
Em tempo: Alguém me trás um Marshall pfvr? Ou um Efrem?
O Filho de Saul
3.7 254 Assista AgoraFilho de Saul (Saul Fia), dirigido pelo estreante em longas metragens László Nemes - vencedor de dezenas de prêmios ao redor do mundo, incluindo aclamação pela critica em Cannes, Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, é mais um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, Sobre os horrores que os Judeus passaram e que levaram a mais de 6 milhões de assassinatos, entre torturas e crueldades que marcaram para sempre a historia humana.
No entanto, essa obra que conta com roteiro de Clara Royer e do próprio László Nemes, se diferencia não só na proporção de tela que usa para contar essa historia - uma proporção de tela mais achatada, quadrado, sem muita possibilidade de profundidade de campo -, mas principalmente por escolher em diversos momentos brincar com a linguagem da projeção, usando a objetiva em primeira pessoa. Ou seja: ele não conta a historia de maneira contemplativa, como já vimos milhões de vezes no cinema mundial. Ele nos coloca como participantes daqueles horrores. E isso é genial.
Saul Ausländer (Géza Röhrig), é um judeu húngaro, membro do Sonderkommando - uma especie de ajudantes forçados dos alemães que eram diferenciados dos demais nos campos de concentração. Esses ajudantes, trabalhavam por alguns meses limpando e auxiliando nas mortes nas câmaras de gás, na queima de corpos e inclusive na limpeza de sangue, roupas, pertences e cinzas dessas vitimas. E mais tarde, quando não conseguissem mais trabalhar, eram mortos também. Nenhum deles fazia esse trabalho por que queriam. Eles eram obrigados. Os que 'aceitavam' o faziam como unica maneira de sobreviver mais um tempo diante daquilo tudo. Eram escravos.
Um dia, em meio a seus afazeres diários de limpeza de corpos, Saul avista um garoto que inexplicavelmente ainda respirava apos ser submetido a câmara de gás. Logo o garoto é morto asfixiado por um soldado alemão, e indicado para uma autopsia para descobrir o por que de ele não ter morrido com o gás. Como o nome do filme já diz, o garoto se trata do filho de Saul, ou ao menos, é o que aparenta, uma vez que o filme a todo momento nos deixa em duvida se o garoto era seu filho de fato, ou era em sentido figurado. Saul se sensibiliza pela morte do garoto diante de tantas mortes que já encarou e resolve travar uma verdadeira jornada para lhe conceder um funeral digno com todas as honrarias possíveis.
Assim acompanhamos por quase duas horas, alternando entre câmeras subjetivas e sempre em planos extremamente fechados e claustrofóbicos, Saul tentando recuperar o corpo antes da autopsia, Saul tentando encontrar um rabbino entre os judeus para fazer um funeral. Saul envolvido numa tentativa de fuga do centro de concentração. Nesse aspecto, o filme é exemplar em estabelecer a dinâmica que aquelas vitimas possuíam dia apos dia, hora apos hora, onde um simples espirro ou tropeço poderia ser a diferença entre mais um dia de vida e uma morte dolorosa e inesperada.
Sem trilha sonora, o filme se apresenta carregado e pesado. Mas, justamente por isso também, confuso em suas ações e um tanto monótomo ao perder constantemente o ritmo. Isso por que apesar de percebermos um vasto mundo ao redor ocorrendo ao redor de Saul, o filme nos obriga a acompanhar somente ele. Seus passos, sua respiração, seu caminho. Tudo que vemos é o que Saul vê, ou seria o que alguém que andasse com Saul veria. Isso limita propositalmente a compreensão dos fatos e sequencias das ações ali ocorridas. Isso é a proposta, de nos fazer ser uma daquelas vitimas e notar como era por diversas vezes confuso tudo o que eles faziam e cansativo. Se conceitualmente isso é exemplar, cinematograficamente falando é um deslize, pois acaba sendo um estudo de gênero que não permite aprofundar o espectador em caráter sentimental e emocional a tudo aquilo. Pois, se o que acompanhamos é a jornada de um suposto pai para enterrar seu filho morto, antes de ele também ser morto, nossa impressão de suas ações é a mesma de qualquer outro prisioneiro ali que visse essa jornada. Se estamos num campo de concentração onde a morte e a crueldade ja se tornou 'normalidade' e 'banalidade', se arriscar ainda mais para enterrar uma criança já morta como tantas outras antes e depois dela, soa quase estupido. Uma loucura.
Assim o interesse por aquela jornada, por mais tocante que seja, acaba se tornando enfadonha de acompanhar. Tendo um ato final, intencionalmente poético mas que não funciona por ser a hora errada de ser executado, o filme ainda assim é um retrato ambicioso e muito interessante de uma historia real da nossa humanidade que jamais sera esquecida, apagada ou justificada. Que jamais deixou de dor e que por isso mesmo, jamais sera deixada de ser repetida continuamente pelo cinema. Uma bela obra que mesmo diante de seus tropeços 'dinâmicos' vale a pena ser contemplado pela genialidade que se propõe a fazer.
Rua Cloverfield, 10
3.5 1,9KIndo na contramão da maioria das continuações de seu gênero, este é muito bom.Um suspense crescente, com aquela tipica formula de nos prender pelos personagens e não pelas ações necessariamente. É continuação do found footage Cloverfield que para quem não sabe, é uma especie de subgenero já classicamente conhecido e destruído por franquias como Atividade Paranormal. Filmes que aludem a um falso documentário ou falso registro verídico e caseiro. No entanto o primeiro filme era exemplar na maneira que constroi-se e desenvolve esse subgenero. Faz da sugestão seu maior feito. Esse segundo no entanto, é um filme totalmente diferente, inclusive em genero. Este é um suspense de linguagem habitual, e que não depende do primeiro filme para ser entendível. Pelo contrario, é como se este pudesse ser um filme complementar ou paralelo. É uma historia independente. Direção de arte certeira, e ritmo que prende - por mais que quem curta suspenses do tipo, possam acha-lo previsível demais-.
Hardcore: Missão Extrema
3.5 383 Assista Agora"Hardcore Henry" é o filme mais louco, insano, surreal, e genial da vida. Parece ruim, mas é foda.
Mas, aviso: não é um filme feito para todos os públicos, por um simples motivo - sua linguagem soa quase como experimental, ao passo que parece um hibrido surpreendente de Cinema com Game. Para os adeptos ao jogo Counter Strike, haverá uma identificação imediata.
Dirigido pelo estreante Ilya Naishuller, e exibido na première do Festival de Toronto de 2015, o filme traz a seguinte sinopse:
O filme conta a historia de um Cyborg chamado henry. Não se sabe exatamente como ele foi ferido e nem como se transformou nesse humano meio maquina - Se relacionou com RoboCop, não raciocinou errado, mas também esta longe de acertar -. Fato é, que já somos apresentados a ele e sua trama, com ele acordando no laboratório sendo 'finalizado' por uma mulher que se apresenta como sua esposa. A partir daí, o laboratório é invadido, pessoas mortas e ele é obrigado a escapar e tentar encontrar sua aparente esposa Estelle (Haley Bennett), sequestrada por Akan, um guerreiro poderoso que aparenta também ser um Cyborg mas com uma especie de telecinese especifica que faz com que ele consiga mover objetos a distancia; que planeja utilizar a tecnologia de Henry para criar soldados a partir de bioengenharia.
O diferencial aqui e experimental esta no fato de que tudo isso nos é mostrado em primeira pessoa. Ou seja: a Câmera são os olhos do Henry. Jamais vemos nada alem da visão do henry. Se ele desmaia, desmaiamos junto. Se ele escuta, escutamos, se ele não escuta, não escutamos. É idêntico a ver gravações de GoPro e a jogar Games de simulação em primeira pessoa. Idêntico. Inclusive o filme estende isso de uma forma tão absurda e genial, que o filme ganha ares de jogo em uma especie de missão.Assim, Henry o herói, nosso player, surge passando por especies de fases. Ora como um sniper, ora tendo que escalar prédios, ora descobrindo objetos escondidos.
É notável inclusive como o designer de produção e principalmente o trabalho dos diretores de fotografia - são três diretores - conseguem empregar de forma verossimíl e eficiente essas mudanças de cenários. É surpreendente o espaço cênico adotado. Mas, talvez o que seja mais genial e digno de talvez estudos no futuro sobre linguagem cinematográfica, é a forma que se estabelece ritmo nesta narrativa que por sí só, já em teoria poderia surgir cansativa. Não é um found-footage. É alem. O universo diegético se estabelece bem mais - ironicamente - orgânico aqui. Num vídeo game nós estamos no comando das ações. Aqui, dependemos da vontade própria daquele personagem que nos leva consigo. Assim, mais que a linguagem, é importante que haja uma direção inventiva, um roteiro coeso e de apelo forte e claro, cenas de ação memoráveis do tipo em que mesmo cineastas fiquem cabreiros de como foi filmado e concebido.
Violência extrema em cada morte, conferindo aspectos quase artísticos a essas ainda que totalmente brutais e explicitas.
Ainda achando espaço para um humor sarcástico, o filme possui personagens chaves para conectar toda essa gama de informações na atenção do espectador.
Outro ponto curioso é que o protagonista não pronuncia uma unica palavra.
De fora, este filme pode parecer um filme ruim, um trash barato e sem noção. Mas, a verdade é que se trata de um jovem e surpreendente obra interessantíssima de experimentação e concepção de linguagem fílmica que mesmo tudo indo contra, deu certo.
Repito: Um filme insano, doido, talvez difícil de digerir e mergulhar, mas que vale cada uma de suas 'fases'
Recomendo aos dispostos!
O Segredo da Cabana
3.0 3,2KOntem assisti "O Segredo da Cabana" e como é bom né?
Uma mistura de ficção distópica com terror, que faz referencias maravilhosas a clássicos do terror dos anos 70/80 como "The Evil Dead" por exemplo, mas que embala um discurso totalmente atual de critica a sociedade - característica, alias dos filmes de terror antigos, que hoje infelizmente se perdeu -.
Interessante, que ele surge quase como uma parodio, parecendo tirar sarro dos clichês próprio do gênero, mas faz isso com uma competência e segurança coesa, sem perder o foco da referencia em si, para não destoar num enlatado qualquer.
Me surpreendi beneficamente. Recomendo.
Closer: Perto Demais
3.9 3,3K Assista AgoraO que somos de verdade? O que realmente escondemos por detrás das aparências?
Parece clichê. E o é. Essa indagação é constante entre os humanos em sociedade, pois nunca se consegue um consenso sobre. As relações humanas são algo tão ou mais complexas do que o próprio ser humano e este em existência talvez.
Com um titulo ironicamente certeiro. Closer - que recebeu no Brasil o subtitulo "Perto Demais" - é um filme sobre distanciamentos. Sobre estranhos, como o roteiro escrito por Patrick Marber - baseado em sua peça de teatro de mesmo nome - faz questão de repetir e evidenciar varias vezes, em momentos chaves do longa; e dirigido por Mike Nichols.
Temos o escritor, a fotografa, a stripper e o dermatologista. Se pensarmos nas alegorias e eufemismos que o escritor ama utilizar em seus trabalhos, podemos estabelecer aqui uma dinâmica do que o filme pretende refletir.
A fotografia nada mais é do que uma representação do real. Assim como as palavras, que são captações da realidade - sejam elas físicas e terrenas ou imaginarias e utópicas -. A pele que muitas vezes nos rotula e nos apresenta e encobre, nada mais é do que uma representação física, do que somos. Uma embalagem, que esconde o que realmente somos por dentro - entre coisas empíricas, ate mesmo coisas clinicas como ossos, carne e sangue, células. E a nudez, assim como a derme, nada mais é do que o ato de aparentar estar despido diante de olhos de Outros. Quando na realidade, a nudez real do verdadeiro Eu, jamais ocorre nem mesmo diante do espelho muitas vezes, à própria pessoa.
Dan, Alice, Anna e Larry. O escritor frustrado que escreve sobre pessoas mortas. A stripper que parece estar sempre fugindo e a procura de algo. A fotografa que bem sucedida que parece nunca estar satisfeita com seus próprios cliques. O dermatologista que continuamente tenta desvendar algo alem do que parece ser capaz de conseguir.
São quatro pessoas que se interligam e representam as nunces das relações humanas, românticas e ate mesmo fraternais e em sociedade dos humanos ao longo dos anos. Tudo isso massificado numa representação inclusive física de descrever essas nuances. vejam, Alice a mais misteriosa dos quatro e no entanto representada por uma mulher de aparência frágil, pequena, constantemente em mudança - seus cabelos esvoaçam em cada leitura da maneira que surge em tela, e isso diz muito sobre seu carater. Ou mesmo Anna, uma mulher alta de aparência segura e forte, mas que desmorona ao primeiro toque, ao primeiro beijo, as primeiras constatações de realidade e duvidas. Dan e Larry, ambos homens inegavelmente sedutores, olhos claros, brancos e padrões, que por trás da sedução e segurança das palavras, escondem pequenez e brutalidades que se desenvolvem e se escancaram ao menor sinal de perda de ego.
São personagens a procura de algo. A procura de sentido. Que se envolvem pelo prazer e remontam isso, associando com amor romântico. Aquele de fases. Do humorado ao possessivo. nenhum deles parece de fato estar seguro em nenhum momento. tentam a todo custo serem honestos com todos e com eles mesmos, jogando um jogo entre verdades em detrimento de mentiras, tentando assim serem fieis ao que são, mas recaindo justamente por isso, em infidelidade, tristezas, frustrações, caos, dor, lagrimas e desespero. Personagens que tentam a todo custo achar a formula de se relacionar com o Outro e acabam sendo os próprios clichês aterradores de suas próprias vidas. Tudo embalado por uma trilha sonora branda, gostosa, quase piegas e que serve para relaxar e entristecer na mesma medida.
Afinal, quem nunca se apaixonou ou achou se apaixonar.? quem nunca se perguntou qual a melhor coisa: a verdade ou a mentira útil? A verdade que destrói ou a mentira útil?
Prazer e amor, devoção e respeito, posse e companhia. Tudo se mescla numa epopeia - ou quase - romântica - ou em ausência de uma -, caracterizados por esses 4 personagens.
''Quem Tem Medo de Virginia Woolf?'' - do mesmo diretor - a cerca de 50 anos, já mostrava esse embate, onde as pessoas que mais estamos ligados, mais perto, em maior 'Closer, são justamente aquelas que acabamos por menos conhecer, menos prever. São as que mais sabemos machucar justamente por serem quem nós mais queremos amar.
A diferença é que se em ''Woolf'' tínhamos uma clareza de intenções desde o inicio, aqui em ''Closer'', tudo vai se enrolando mais e mais a medida que o longa avança. Pois os personagens fatidicamente creem que estão seguindo os caminhos mais honestos para eles mesmos e para os outros envolvidos.
Mas, não por acaso, justamente a pequena, a de cabelos sempre em mudança, a menos sucedida dentre todos, a mais misteriosa, é que abre o primeiro frame do longa e o que o fecha, da mesma maneira - caminhando entre estranhos -. Isso porque "Alice" (e aqui as apas podem ser utilizadas), é talvez a mais sincera dentre os 4. Não com eles, mas para si mesma. Suas falas são chaves, seu poder é pontual. Sua fragilidade, nem tanto. Enganasse quem a lê como antagonista ou mesmo detentora das mais ardilosas mentiras. Na realidade, naquele aglomerado de prazeres e relações, ela é a cola que dá o ponto de quem são aquelas pessoas. (E o filme, como boa representação da realidade, pinta Anna como a desencadeadora de tudo, ora que genial).
Não por acaso também o livro de Dan se chama 'o aquário', e o aquário de fato surge na casa e ambientes diversos nos núcleos de cada um deles. Por que na real, são todos peixes, se afogando, boiando, afundando, e nadando, numa grande vitrine. Num grande aquário diante de nós telespectadores. Estão ali, na estante, na parede, sob uma fina camada de vidro que a menor rachadura, a menor poluição, finda.
Um filme sobre estranhos que estão perto demais. Mas, afinal, quem de nós não somos não é mesmo?
Hello, strangers?!
Boa Noite, Mamãe
3.5 1,5K Assista Agora"Isso dói?"
(Recomendação: Só leiam o texto, após assistir o filme. Contem spoilers e descrição explicativa de varias cenas, incluindo o final e seu significado)
Postei no "Criticofilia" tbm >> http :// criticofilia. blogspot. com.br/ 2016/03/ critica-boa-noite-mamae-goodnight- mommy. html (Basta tirar os espaços)
Dirigido e roteirizado pela dupla Severin Fiala e Veronika Franz, esse filme austríaco - que tentou representar seu país no Oscar desse ano, e arrematou dezenas de prêmios mundo afora - "ICH SEH, ICH SEH" - do original "Eu vejo, Eu vejo" e traduzido pro inglês e pro português como "Boa noite, Mamãe (GoodNight, Mommy)" - é um deleite para os olhos atentos de cinéfilos de qualquer geração.
Isso porque sua força reside nos detalhes e na busca de refletir o cinema suspense com toques de terror lá em seu ápice em anos passados, - mais especificadamente, com referencias a obras dos anos 70 - onde tivemos um considerável requinte de linguagem pro gênero.
É preciso dizer que o filme tem seu plot real apenas nos dez minutos finais de projeção. Talvez nos cinco últimos se considerarmos os elementos que os compõem. Por tanto, a revelação do "implícito" envolvendo os dois irmãos não é o que o filme quer segurar até o final. O roteiro não visa tornar misterioso a condição que une os dois irmãos no filme; muito pelo contrário. Ele espalha pistas escancaradas ao longo da projeção sem nenhum pudor. Ainda assim é belo constatar sua comunicação visual na sutileza nessas indicações.
Primeiro de tudo devemos lembrar que Hollywood nos acostumou mal. Nos criou a base de obviedade onde sutileza não existe e onde diálogo e edição frenética são sinônimos de Bons filmes (pra eles). Aqui, temos cinema base de suspense, onde se tem comunicação por imagens e não por ação ou fala.
Assim, o que se deve prestar atenção nesse filme é a construção narrativa de sua Mise-en-scène, o cenário que compõe o quadro em cena. Atribuir significado à água, aos reflexos, ao solo mole, às sombras, as cores, as árvores, aos quadros, fotos, a maneira que a câmera se posiciona, a maneira que a câmera se movimenta.
O ambiente é o verdadeiro protagonista do filme. É quem está narrando tudo.
Assim é brilhante notar como o filme nos conta através de um gato, através de um isqueiro, através de um quadro feito por silhuetas de sombras, através de reflexos, da ausência de calendários e relógios, bem como através de um cripta e seus ossos, sua real intenção de existir.
O tempo aqui não é fluido, e é importante salientar isso para que se entenda o seu desfecho final. Que sim é aberto a interpretações, mas é um fato planejado também. Os insetos e seu significado quase mitológico e psicológico, também tem papel importante na construção narrativa do filme. E não o bastante, ainda temos o silêncio que é a melhor fala de todo o roteiro.
Falando de aspectos técnicos, é preciso dar louros ao diretor de fotografia Martin Gschlacht, que compreende o universo que esta trabalhando, inserindo uma palheta de cores vibrantes sempre que estamos em lugar comum aos gêmeos, em contraste a palheta de cores mais escuras e opacas de quando nos encontramos diante da mãe deles - que obviamente oferece uma especie de perigo e apreensão às duas crianças. E isso ocorre, por que acompanhamos o filme pela perspectiva dos meninos, ate o inicio do terceiro ato. A partir dali, de maneira bem assertiva pelos diretores, passamos a ser meros espectadores das cenas. Um manejo do cinema de terror eficaz e esquecido atualmente.
A partir daqui escancararei sem a mesma sutileza do filme, o seu entendimento para ajudar aqueles que não compreenderam. Pois é impossível eu falar sobre alguns elementos sem dar spoilers.
Estejam avisados e só leiam depois de ver o filme. Pois, qualquer informação, como disse no inicio do texto, pode 'estragar' a experiencia visual e narrativa do filme. Só leiam, apos terem assistido.
Temos dois irmãos gêmeos, Lukas e Elias. Elias, que surge primeiro em tela com a regata clara, e Lukas com a regata escura.
Após uma brincadeira com o irmão, Lukas morre afogado no lago em frente à casa. Essa cena é mostrada no inicio do filme, entre varias outras brincadeiras dos gêmeos. Logo, após esse acidente, ha um incêndio na casa deles, e seus pais acabam se separando. (A indícios durante o filme, nas ações de submissão e dominação entre os gêmeos, de que o incêndio tenha sido efetuado pelo Lukas, antes deste morrer afogado).
A mãe fica gravemente ferida no incêndio e precisa fazer algumas plásticas no rosto pra reconstruir a face.
Após a morte do irmão, Elias passa a vê-lo, achando que ele continua vivo. Ele passa a negar a morte do irmão.
Eles se mudam da casa queimada, para uma nova casa, mais moderna. A mãe ao retornar pra nova casa comprada após o incêndio, se recusa a fingir que o filho morto está ainda entre eles. E passa a tratar o filho Elias, mais rispidamente. Por dois motivos. Primeiro, pelo trauma da perda do outro filho, ja que ambos são gêmeos e claramente o vivo faz ela lembrar do outro morto, e pelo acidente em si, onde surge o sentimento de culpa versus a separação do marido. Tudo isso culmina num distanciamento da relação dela com o filho.
Por causa das cirurgias, e desse novo comportamento da mãe, Elias e Lukas (morto) passam a achar que aquela mulher, não é sua verdadeira mãe. E após tortura-la, para querer saber onde esta a mãe verdadeira, colocam fogo nela e na nova casa ( somente o Elias no caso).
Assim ao final o que vemos é um vislumbre da primeira casa pegando fogo, seguida da segunda em flashes.
Como eu disse o tempo não é fluido. A montagem do filme de maneira assertiva pelo montador Michael Palm, não é linear, afinal estamos tratando de um mundo entre o real e o mundo dos mortos. Após o segundo incêndio, mãe e filho (Elias) morrem queimados e se juntam a Lukas o filho morto afogado, enfim juntos na floresta.
Assim além de ter uma comunicação visual genial, o filme brilha principalmente por conta de sua montagem, que escolheu essa direção de fragmentar o quebra cabeça. Quando vemos a os gêmeos olhando a nova casa a venda na verdade estamos vislumbrando momentos após o primeiro incêndio. E é notável que eles fazem a distinção de temporalidade, aos olhos atentos, pelas roupas dos meninos. As roupas indicam qual tempo narrativo estamos vendo.
As simbologias do fogo, da água, dos insetos, tudo remete a esse caráter de morte que ronda o filme. Inclusive a analogia da floresta e das mascaras. As cenas da floresta, indicam o submundo psicológico e sentimental de mãe e filhos. Quando vemos a mãe despida na floresta com o rosto em transe, na verdade, é uma representação dos ecos de angustia desta diante daquela nova realidade. Da perda do filho, do corpo mutilado por um do filhos, da inadequação a ela mesma diante do espelho e do papel de mãe, da nova vida distante de tudo. A floresta representa em filmes de suspense e terror, a quebra do palpável e a chegada do mistico. Pode representar tanto a perdição horrenda, quanto a purificação sagrada. O humano dentro dela, o humano urbano, tende a se quebrar de facetas diante de uma floresta. O filme explora bem isso também. Assim como as mascaras tribais. A mascara da cirurgia contrastando com a mascara dos garotos e ambas escondendo a realidade daqueles três personagens. Um morto, um pirotécnico, uma mãe morta-viva - e interessante ainda a a referencia a múmia nesse sentido, inclusive nos planos que mostram seus primeiros passos em tela, e aquele em que ela surge nas sombras do quarto com as persianas fechadas.
Há ainda outro detalhe bacana, que é quando os gêmeos acham a foto da amiga da mãe, que surge parecido, e que causa toda a comoção neles de que estão diante de uma impostora.
A tortura, como é claro ali, serve não só pro terror psicológico crescente de agonia, como também para simbolizar aquela relação que temos de sagrada entre mãe e filhos se quebrando. E o filme extrapola isso sem pudor algum, quando escolhe os ferimentos em ordem materna e progenitora perfeita, ao fazer os gêmeos primeiro ferirem a boca da mãe - a boca que simboliza fala, educação e alimentação -, depois o útero - quando saem insetos de la, denotando a morte das crias - e em seguida, o arrancar de dentes e da mãe tendo urinado. O filme inteira jogo com a relação materna de maneira inversa. A proteção e criação que se transforma em destruição e perigo. Isso em si perturba.
Ainda há cenas de caráter psicológico, claro, em que mostra os gêmeos constantemente disputando, correndo, e se batendo, com destaque a cena em que eles batem no rosto um do outro e perguntam se aquilo dói.
É um filme denso, perturbador e que carrega um terror psicológico a altura de seus prêmios e reconhecimento.
Não tem nada de ''o mistérios das duas irmãs'' ali. Aqui temos o mistérios dos dois irmãos, e sua querida mamãe.
Imperdível!
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraDireção (e roteiro): David Robert Mitchel
Título nacional: A Corrente do Mal.
Aí que felicidade! Quando você um jovem cineasta já descrente num gênero específico de filme, retoma a esperança ao assistir uma obra inspirada que faz jus ao passado, mas se lembra de reinventar o futuro.
Falo do gênero terror/horror que aqui em It Follow é empregado de maneira clássica mas absurdamente inspirada.
Os elementos de suspense do filme se atrelam aos clichês do gênero terror, mas de maneira tão orgânica que é lindo de constatar que realmente quando se atém aos detalhes tudo funciona.
O filme se revela um pesadelo e não só na analogia com a trama não. O designer de produção bem como a direção de arte empregaram uma atmosfera de sonhos ao filme, onde não é possível determinar o tempo que se passa, e nem o tempo que se encontra. Outono? Inverno? Verão? Futuro? Passado? Presente?
Se temos leitores digitais e celulares, também temos carros dos ano 90 e TVs dos anos 70 e 80. E as cores, ah as cores que nos remetem a clássicos como Halloween por exemplo - e proposital com certeza - aumentam o tom ora de desamparo e ora de claustrofobia que o filme emprega através também de planos ora abertos e panorâmicas lentas, e ora fechados ou médios. Tudo lindo.
Mas o que mais me fez gostar e me animar do filme é que ele não busca cometer o erro que vende mas me enche o saco, de se submeter a ser um subgênero igual a centenas atuais, que acham que terror é susto e pulo na cadeira. Que utilizam a sonoplastia em progressão e cortes bruscos para assustar momentaneamente o espectador e esquecem que terror se faz pelo imprevisível e pela atmosfera e não exatamente pela ação de seus monstros.
Mostro esse aqui que assume qualquer forma. Mostro esse aqui que é implacável como a Morte ( com M maiúsculo). Que é lento e moralista e por isso mesmo inevitável e talvez indestrutível.
O final dúbio traz com chave de ouro o fechamento de uma produção cuidadosa que respeita a imaginação e os medos pessoais de cada espectador e que escolheu fazer de seu filme uma pequena pérola cinéfila para este que escreve aqui.
Como nota, para mim meu único incômodo é o sexo no filme. Não o elemento, mas a ação. Sem spoiler, mas o que me incomoda é o tom "estupro" que o ato assume, principalmente diante da protagonista, obviamente mulher. Não é nem questão ética feminista não. Até pq o ato assume esse tom com cada "amaldiçoado" .É mais uma questão de incômodo pessoal rs
O Destino de Júpiter
2.5 1,3K Assista AgoraO Destino de Júpiter dos irmãos Wachowski ( Lana e Andy).
Fantasia, Ficção científica, efeitos visuais soberbos, e uma complexidade narrativa dignas de gênios do cinema. Tudo isso são elementos que se encontram de maneira fácil na filmografia dos irmãos, contudo ainda que tudo isso se encontre aqui, nesse filme se perde um pouco. A sensação é que a ambição foi maior que a execução.
Uma ideia genial mas que tenta entrecortar tantos elementos díspares que vira um emaranhado narrativo sem cola nenhuma.
O filme esta longe de ser ruim. O designer de produção é minucioso ao estabelecer coerência para cada mundo, cada universo, nos mínimos detalhes presentes. O universo a lá Star Wars de O Destino de Júpiter consegue um feito raro nos filmes de ficção científica ufológicas, que é concretizar teorias como possibilidades palpáveis sem precisar de um tempo enorme para tal.
O filme fala sobre consumismo e as burocracias manufaturadas das políticas globais. De certo modo, o filme é muito mais um filme político do que humano ( já que a priori todo filme interplanetário na verdade quer refletir sobre a humanidade terrestre). O mundo político em todas suas facções e ideologias de Júpiter não só é verossímil como pertinente nos dias atuais em que vivemos exatamente as encolhas estatais mostradas lá. Mas, nada disso se sustenta, se não se cria uma narrativa igualmente palpável capaz de nos causar identificação e torcida pelo que vemos. Os atos se intercalam e se perdem.
Li que a teoria é de que assim como os irmãos brincam e criam linguagens afim de revoluciona-la ( como em matrix, em a viagem, mesmo em Sense8 ou até mesmo Speed Racer - que não assisti ainda, mas os moldes remetem a isso), ao criar uma narrativa que se interpola entre os atos, brincando com sua mise en scène, eles na verdade queriam demonstrar uma nova maneira de conduzir ritmo e trama. Pode ser. Mas, isso pode se tornar genial daqui algum tempo. Ainda não é. E por isso, não funciona bem. Ao menos não pra mim.
O filme soa arrastado e perdido no que quer mostrar. E quando finalmente ele se propõe a explicar-se e justificar-se, isso cai por Terra, uma vez que a base de problemática não convence. Nem as jornadas dos heróis, a nível de roteiro ( aliás, as falas são uma falha a parte. Clichê atrás de clichê).
Mas, o maior erro é esquecer o perfil do espectador comum. Quando você traz um filme carregado de características e expectativas blockbusters, é necessário entender o que tais filmes comportam e devem conter para saciar a demanda do público. O Destino de Júpiter peca ao considerar o total de seu público como espectadores que entenderam cem por cento as complexidades e peculiaridades de Matrix, quando na verdade.menos da metade possui a bagagem fílmica e textual necessária para saber que Matrix é muito mais filosofia do que um filme de ação ( como a maioria considera e enxerga). Isso é um erro de produção e criação tremendo para filmes como esse, que talvez funcionasse menor numa escala universal, visual, de atos de ação menor. Enfim...
Uma vez ouvi que ou se faz um filme de trama ou de visual. Conseguir os dois é raro. Concordo. Mas, o raro, por mais raro que seja existe. E os irmãos já provaram que são capazes de faze-lo. Pena que aqui, a preocupação maior parece ter ficado com o visual, com a ideia ( que repito é SENSACIONAL), com a uma experimentação de linguagem do que com todo o resto que faria tudo isso ser relevante ao menos. Não se revoluciona nada para o esquecimento. Somente para a lembrança. E infelizmente sei que daqui uma semana Júpiter continuará sendo apenas referência de um planeta ou alguma interferência no meu mapa astral...
Ruim? Nem de longe.
Ótimo? Ta longe de ter conseguido ser.
Bom? Com certeza. Vale pelo estudo do que o cinema de gênero pode nos trazer, e principalmente para nos atentarmos aos detalhes nas explosões e ações, e no quanto o gado chamado ser humano pode ser apenas um número no relógio de algo que nem enxergamos.
Ps: ponto para a referência bíblica sutil do final. Deus mulher, anjo "enlobado", no alto de uma cruz de ferro urbano. Palmas.
Divertida Mente
4.3 3,2K Assista AgoraAlegria. Medo. Raiva. Nojo. Tristeza.
Quando uma animação/filme que fala sobre as emoções humanas, te pega de jeito e faz você se identificar justamente com a Tristeza ( e gostar mais dessa personagem), isso diz muito sobre quem você é, e sobre as batalhas que a vida traz e trouxe.
Mas, isso é auto análise. O que importa aqui, é que a Pixar, talvez tenha feito a animação mais adulta e complexa até então.
Divertida Mente ( Inside Out do original, que em tradução livre significa Por Dentro ou Do/Pelo Avesso; e é um título mais propício ao meu ver), é um filme intenso, complexo, de teorias tão puxadas, mas disfarçado de animação fofa para criancas. Não que estas não consigam aproveitar o ensejo. Porém o que Inside Out versa é muito melhor aproveitado por adultos, que conseguem de fato sentir cada uma das entrelinhas ali colocadas entre um designer e outro colorido.
Entre choros, lembranças, emoções diversas, melancólicas, tristezas, risos brandos, o filme nos faz mergulhar por dentro de nosso próprio histórico de vida, onde cada representação, cada "ilha" vai surgindo e ressurgindo diante de nós, nos fazendo compreender o que é estar e permanecer por aqui. Vivo, resistindo entre cada soco e cada beijo. Cada desafio e cada paz.
Inside Out é uma pequena pérolas repleta de curvas necessária para cada um de nós.
Ele mostra, como que cada emoção humana é essencial para a nossa existência e sobrevivência. Não existimos se formos alegres o tempo todo. E nem se formos tristes sempre também. Não somos nada se tivermos medo constantemente e nem se formos bravos continuamente. Somos um todo em conjunção com uma parcela de cada uma dessas emoções. A tristeza é necessária para a alegria. Assim como a raiva é essencial para o medo e vice e versa. Somos parcerias mutáveis.
Lindo. Lindo. Lindo. E intenso.
Recomendo.
Ps: a personagem "Nojo" é a única que muda de nome ao meu ver de acordo com a situação. Pq ela representa não só o nojinho de certas situações, mas representa o Ego e a vergonha também.
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista Agora"Senzala e casa grande pós-moderna" - André Gatti
(Na integra no meu blog pra quem interessar: o texto é grande rs criticofilia.blogspot.com.br/2015/09/critica-que-horas-ela-volta )
Dirigido e roteirizado com maestria por Anna Muylaert, O Filme "Que Horas Ela Volta?" é um retrato novo da escravidão velada existente no País à menos de 15 anos atrás, e que ainda encontra suas características na atualidade, entre ''normas pré estabelecidas'' na sociedade. É uma cronica fílmica de diferença de classes, de dominação e dominados, onde ''gentilezas embranquecidas'', são disfarces de chibatadas endurecidas à calos nas mãos.
Protagonizado por Regina Casé numa atuação envolvente - e ate de certa forma - pueril, o filme traça entre sutilezas e sensibilidade - no sentido de se ater a detalhes de gestos, olhares e palavras/tom de voz - um cotidiano de realidade que nos atinge dia após dia, desde que nos entendemos por gente.
"A pernambucana Val se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino vai prestar vestibular, Jéssica lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica."
Regina Casé é Val, uma empregada domestica que passa seus dias entre lavar roupas, arrumar a mesa, servir janta, café da tarde, almoço, lavar pratos, varrer a casa, limpar a casa, arrumar camas, quartos, servir água, colocar prato, tirar prato, estender roupa, ser baba, garçonete... Uma "segunda mãe" para o filho dos patrões, e assim ser considerada 'quase da família'. O problema esta nesse ''quase''. O ''quase'' implícita limites. Limites esses estabelecido por sua classe social. E é aqui que o filme se torna obra.
O que o filme retrata é a desumanização que ha em nossa sociedade, ao estabelecer condutas de acordo com nosso status social. De acordo com nossa etnia, nossa "origem".
Jessica surge como uma mulher empoderada sim, mas que ao primeiro momento diante da hipocrisia condicionada de todos nós, aparenta ser uma mulher cínica e ambiciosa que não sabe seus limites. Quando no entanto a existência dela sob aquela casa burguesa do Morumbi em São Paulo é a unica célula coerente de quebra de paradigmas. O "Não saber seu lugar" de Jessica é justamente a metáfora do que ocorre no nosso cenário politico atual. Jessica é o tapa na cara, do patrão, do cis branco, do machista, do xenofóbico pró meritocracia que tem que aguentar o pobre, o negro, a trans, o nordestino, a mulher; sendo arquiteta na FAU e pegando o mesmo avião que eles. Avião, e não mais carroça ou somente ônibus.
É doloroso notar a ingenuidade resignada de Val a cada ordem que recebe. Por que para Val e tantos outros Brasileiros; classe A não se mistura com classe C. Por que se entende que existe ''sorvete de patrão'' e ''sorvete de empregada''. Porque se entende que quem limpa a piscina não pode usar ela.
Nesse sentido, Jessica - vivida com surpreendente atuação por Camila Márdila - é a quebra de reflexão na narrativa, ao escancarar esses tais limites e formas de conduta ao não se submeter a eles em nenhum momento.
É o tapa na cara, do gueto indo pra faculdade e não sendo apenas matéria de curso onde antes ele - eu, nós - não entravamos.
Se não bastasse o texto minuciosamente trabalhado, Muylaert ainda nos brinda com um cenário de ataque machista, na figura do aparente chefe de família - vivido por um apático Lourenco Mutarelli - que nunca precisou trabalhar na vida, e que vê na menina filha da empregada seu direito de macho de te-la como posse.
Tecnicamente o filme é um esmero a parte, Desde os planos cuidadosamente pensados para simbolizar as relações de poder e vulnerabilidade - Val constantemente aparece ao fundo da tela ou ao lado esquerdo, ou mesmo em cores mais apagadas que os demais - , o som - que sempre foi um problema em nosso cinema por questões de verba mesmo - aqui é limpo, funcional e sem nenhuma falha ou dificuldade de compreensão.
O mesmo se aplica a seu filho Fabinho - o jovem ator de "O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias", Michel Joelsas - que por mais 'fofo' que aparente ser, revela traços desse machismo e domínio burgues que lhe é dado, em pequenos gestos, em pequenas frases, não menos nocivas.
É interessante notar também que a relação de mãe e filha no filme - onde o filme internacionalmente esta recebendo o titulo de "A Segunda Mãe" por isso - se estabelece de forma dura mas profundamente bela, quando se nota, que o afeto de Val por Fabinho, não é exatamente afeto a ele, mas um reflexo de seu amor e cuidado de mãe que gostaria de ser destinado a filha que morava longe. Val vê em Fabinho o seio que não pôde dar a filha por anos.
O filme ainda nos brinda com uma das cenas mais emblemáticas e belas que assisti esse ano, a cena final da piscina.
Como bem diria Cazuza: "a piscina esta cheia de ratos" sim! E que bom.
A sociedade terá que se acostumar com suas Val's e Jessica's. As Barbaras terão que aceitar sim, que os pires e as xícaras, já não são mais uniformes. Agora é preto no branco.
Constelação de estrelas!
Um tapa na cara fílmico de extrema delicadeza, dor e revolta real que já chegou se tornando uma obra prima de Orgulho pro cinema nacional, mas de vergonha para nossa sociedade diante do mundo.
"Tipo campos de concentração, prantos em vão
Quis vida digna, estigma, indignação
O trabalho liberta, ou não
Com essa frase quase que os nazi, varre os judeu? extinção
(...)
Médico salva? Não! Por que? Cor de ladrão
Desacato invenção, maldosa intenção
Cabulosa inversão, jornal distorção
(...)
Cura baixa escolaridade com auto de resistência
Pois na era cyber, ceis vai ler
Os livro que roubou nosso passado igual alzheimer, e vai ver
Que eu faço igual burkina faso
Nóiz quer ser dono do circo
Cansamos da vida de palhaço
É tipo moisés e os hebreus, pés no breu
Onde o inimigo é quem decide quando ofende
(cê é loco meu)" - Trecho da música "Boa Esperança" - Emicida
As Memórias de Marnie
4.3 668 Assista AgoraNão é de hoje que os Estúdios Ghibli mostraram ao mundo Ocidental e Oriental sua periculosidade unica em criar obras que permanecem atemporais e geniais no Cinema.
Exemplos como "A Viagem de Chihiro" e “O Conto da Princesa Kaguya“ são algum deles.
Porem, estes, agraciaram publico e critica, principalmente pelos nomes por trás de tais produções - desculpem-me; por traz de tais obras - que são ninguém mais e nem menos do que Hayao Miyazaki e Isao Takahata (diretores das obras citadas acima respectivamente)
A cerca de dois anos os Estúdios Ghibli anunciaram que parariam de produzir filmes em grande escala global, devida a uma baixa na arrecadação de seus filmes e por consequência por possuírem menor verba para produzirem suas obras.
O mundo das animações entrou numa especie de luto. E com razão.
Dentro da vasta gama de títulos, existe uma chamada "O Mundo dos Pequeninos" uma historia vastamente conhecida por muitos e executada aqui por um jovem cineastas japonês supervisionado pelas mãos e genialidades incomparáveis de Miyiazaki.
Com a parada dos Estúdios, Isao e Miyiazakise afastaram e saíram dos estúdios. Assim, sobrou para os jovens cineastas e menos experientes assumirem a responsabilidade de tentarem levantar a moral financeira dos estúdios.
A ultima ficha deles recaiu sob as mãos justamente desse jovem cineasta, pupilo de Miyiazaki; Hiromasa Yonebayashi, que assume aqui sozinho as responsabilidades pela obra que ficou conhecida desde o ano passado como a ultima comercializada pelos Estúdios Ghibli para tristeza geral do mundo Cinéfilo.
Principalmente, por que ''When Marnie Was There'' (do original "Omoide no Marnie" e que ganhou o título de "As Memórias de Marnie" aqui no Brasil) é uma obra genial de delicadeza, detalhes e de uma qualidade a altura da historia dos Estúdios ao longo de todos esses anos.
Um filme que versa sobretudo,às relações familiares, mas sem morais estranhas de bons costumes. Não. ''Marnie'' aqui, lida sobre temporalidade, depressão na infância, sobre descoberta de quem se é, atrelados a tão conhecida e apaixonante fantasia mistica de crenças orientais que ultrapassam a linha do sonho e da realidade, somadas a uma maravilhosa nova visão sobre o protagonismo feminino, que assumem o destino e escolha de suas próprias historias.
Mas o que chama mais atenção, alem do desenvolvimento e textos impecáveis, são os detalhes, o designer meticuloso que a animação possui, num tom de realismo tão grande que assusta. As sombras, a luz, as pegadas na areia, o movimento do mar, a saturação das cores. Tudo com traços fielmente trabalhados. É arte.
Ao final, uma pequena emoção de um final belo, para uma obra mais bela ainda, que encontra sua feiura e tristeza somente no fato de talvez ser a ultima perola num vasto mar de relíquias de um estúdio que fez historia e deixará saudades... espero que somente por enquanto...
Recomendo ao extremo!
Como curiosidade: o lançamento do filme no japão se deu em 2014, mas nos EUA se deu em Maio deste ano de 2015. O lançamento nos EUA contou com uma vasta divulgação afim de "ajudar" os Estúdios a se recuperarem. Houve uma escalação de grandes estrelas de dubladores para tentar chamar a atenção do publico. O filme arrecadou cerca de U$186.844 dólares dos EUA e ¥3630000000 ienes ( cerca de R$120.454 reais) no Japão.
Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão
3.4 485 Assista AgoraÉ. Minha memoria afetiva foi traída . haha
Terminando minha maratona, acabei de rever Mad Max - Alem da Cúpula do Trovão, que conta com Tina Turner no elenco. O filme que data de 1985, é narrativamente falando o mais fraco da trilogia que tem seu ápice no segundo filme (Mad Max a Caçada Continua).
Como filme isolado, porém, A Cúpula se resolve bem, mas a questão é que não se justifica.
Ao contrário do cunho analítico político e ate antropológico dos dois anteriores, que reflete a questão do consumo, e principalmente os malefícios versus nossa dependência por combustíveis como gasolina e petróleo; esse a Cúpula, insere a questão do combustível água, é o limite dessa epopeia pós apocalíptica que dizimou os seres humanos a uma Era Feroz e animalesca novamente.
Faz sentido. Por isso ele se resolve bem, mas o que não o justifica quanto narrativa, é que esse terceiro comete o erro de Hollywoodianizar demais essa sequência, ignorando a quase mitologia impregnada a saga do protagonista nos dois primeiros. O que vemos aqui, é as sequências de ação, as ações, e as motivações dos personagens serem caricaturados, onde as mortes são veladas e a violencia também. Em troca de resoluções pastelonas de alto requinte tecnico. Problema de produção. Pois, o roteiro e a direção permanecem coesos nas seqüencias. Toda a trama segue interessante, ainda mais a mescla com senhor das moscas numa especie de novo genesis para aquela humanidade desértica. A fotografia permanece maravilhosa. Li, que muitos questionam a subtrama "a lá senhor das moscas" aqui, mas lembro, que Max de herói ele passa a anti herói de sua própria jornada. Assim, ele precisa de uma redenção, que de fato só vem com a morte, mas enquanto isso não chega, ele precisa redimir-se consigo mesmo diante de suas motivações. O tom de heroísmo surge aí.
Claro, que tudo parece forçado demais. A lenda, o chapéu que voa e aponta o caminho, a própria semelhança com os desenhos nas paredes e etc... Claro. Mas, funciona.
Ele só decepciona diante da ruptura que ele comete no imaginário construído pela simplicidade dos dois anteriores. Só.
Mas é um ótimo filme. Não se pode negar. Meu preferido inclusive mesmo agora analisando criticamente haha
No mais, saliento que o eco do personagem piloto ali que surge no segundo filme e reaparece no terceiro servindo de gancho narrativo ( ainda que não aparente ser o mesmo personagem) é genial. Prova a identidade que Mad Max criou.
Tina ta maravilhosa e diva numa vilã mega bem desenvolvida. E : "Dois homem entram, um homem sai" O/
Selma: Uma Luta Pela Igualdade
4.2 794Confesso que deixei por ultimo, porque a anos a industria americana tem me deixado extremamente decepcionado com os filmes que tratam de qualquer assunto sobre segregação ao negro. Isso porque, a maioria deles, sempre há o mocinho ou mocinha branca que é simpático a causa ou simplesmente "bonzinho" que se torna o herói que salva os negros de um destino cruel. Filme apos filmes vimos isso. Ha aqueles que citariam talvez Django ou mesmo o mais recente 12 anos de escravidão. Porem, se nestes, não ha o salvador branco, ha o negro protagonista de moral e motivações duvidosas, fato este que eu, negro, sinto na pele e metaforicamente também, certa preguiça e tristeza ao ver que não ha mais filmes que mantenham o foco correto. Mas então me propus a ver Selma... E que grata surpresa.
Selma é tudo aquilo que eu espero de um filme sobre a segregação aos negros na historia. Isso porque ele não foca no sentimentalismo fácil de se extrair de tais historias. Ele foca na causa, na militância, na conscientização sem vitimismo ou pena. Ele mostra um povo que luta por si só, contra um sistema para possuir seus direitos negados.
Talvez fosse a direção feminina que faltava. Não sei. O que sei é que a diretora não só soube dirigir com maestria o tema, como ainda teve o cuidado de manter a todo o momento o protagonismo aos negros. São os negros que lutam, os negros que decidem seus próprios caminhos. Ha ainda a percepção de não vilanizar o branco, mas sim o sistema de leis históricas e estrutura social e moral.
Sensível e bruto, o filme ainda conta com uma narrativa eficaz que evoca a cada instante o sistema opressor e intolerante - aqui ia usar o termo "da época", mas infelizmente, Selma dialoga ainda muito bem com nossa atualidade global, inclusive a brasileira... -utilizando letreiros de arquivos do FBI. ( ainda que ficcionais).
A trilha sonora que surge poderosa, não cai no artifício de surgir para levar ao pranto, mas para elucidar as ações daqueles homens e mulheres que marcharam por suas vidas e dignidade.
Martin Luther King, aqui merece aplausos, numa concepção que não pretende eudeuza-lo como a persona real histórica o é, mas cria um personagem humano, com falhas e medos, insegurança e milimetricamente perspicaz.. Que chega num nível tão grande de cautela, que em duas horas de projeção, o vemos rir verdadeiramente apenas uma vez. Nem mesmo em sua resolução king esboça sorrisos de vitória. Pois o ator entendeu bem que um líder militante como ele, jamais se daria ao luxo de esquecer que vencer uma batalha significa dar inicio a uma guerra. Guerra essa que se estende por anos enraizada em cada um de nós.
Ainda me vi satisfeito ao constatar a forma que a diretora representa suas mulheres na narrativa. Mulheres fortes, conscientes de suas forcas, que em nenhum momento sao colocadas como frágeis ou protegidas. Elas tomam suas próprias decisões, caem, apanham, e lutam de igual para igual com seus companheiros, mesmo a sra. King, mantem a postura de mulher lucida diante das batalhas do marido.
Por fim, Selma ainda é eficaz em mostrar uma paleta de cores saturadas em meia luz por vezes que destacam esse clima de opressão e luta. Que fazem a pele negra saltar em tela de maneira branda, mas que ao final, ganha maior contraste e nivela os tons da pele branca e negra em igualdade . Mas preciso ainda destacar o cuidado da direção de arte, principalmente na cena da ponte com a fumaça, onde o filme ganha áreas de terror, ao mostrar aquele povo sendo perseguido e massacrado por forcas sem rosto. Os brancos ali surgem em meio a fumaça ironicamente branca. Uma brancura espessa que cega. Com direito a presença de chicotadas que o designer de som faz questão de exaltar. Forte, crítico, e cruelmente lindo.
Selma é realmente um grito que merece ser ecoado ate as profundezas de cada glória em pele, cor e força, seja de quem for.
Recomendo!
Castanha
3.3 21Alguém sabe onde consigo assisti-lo? Download? Estou procurando e não encontro...