O cineasta dinamarquês Joachim Trier se projetou com duas peças elogiadas, Reprise e Oslo, 31 de agosto, ambos com o ator Anders Danielsen Lie e um tom de melancolia exasperante e uma fotografia capaz de captar uma faceta gélida da humanidade. Em sua estreia nos Estados Unidos, realizou o ótimo Mais forte que bombas, em que colocava Jesse Eisenberg no papel de um filho de uma jornalista feita por Isabelle Huppert e retratava a solidão da adolescência nos Estados Unidos, ao mesmo tempo que conflitos estabelecidos de maneira primordial. Sempre interessou a Trier um certo olhar sobre a sociedade, e não por acaso o personagem de Eisenberg nesse filme era um professor da área. Há uma perspectiva muito apurada sobre a solidão contemporânea na obra dele, que se manifesta por meio de figuras diferentes e mesmo sem pontos em comum: o personagem central de Oslo, 31 de agosto tinha questões a resolver totalmente diferentes daquele de Mais forte que bombas, no entanto sente-se uma unidade neles.
Responsável por um excelente filme de adolescentes em homenagem ao noir, A ponta de um crime, e por uma ficção científica que soava como um quebra-cabeça, Looper, Rian Johnson foi convidado a dirigir e escrever o roteiro de Star Wars - Os últimos Jedi, a continuação de O despertar da força, o reinício da série criada por George Lucas desta vez por meio dos estúdios Disney, que comprou os direitos da franquia. No episódio anterior, dirigido por J.J. Abrams, havia uma necessidade clara de retomar a nostalgia do filme dos anos 70, mas com novos personagens reencontrando alguns dos antigos, Han Solo e Princesa Leia.
George Clooney tem se mostrado alguém capaz de mesclar as carreiras de ator e diretor com uma competência poucas vezes vista. Depois de ser elogiado principalmente por Boa noite e boa sorte, que recebeu várias indicações ao Oscar, inclusive a melhor filme, sua carreira passou a ser mais visada: nesse caminho, Tudo pelo poder foi um êxito fora de série, com uma parceria notável entre Clooney e Ryan Gosling, e Caçadores de obras-primas, recebido com uma grande indiferença. Para este novo projeto, depois da rejeição a seu último filme, Clooney obteve um roteiro dos irmãos Joel e Ethan Coen, que ele desenvolveu ainda mais com Grant Heslov.
Um dos grandes títulos lançados no Festival de Cannes de 2017, 120 batidas por minuto, do diretor e roteirista marroquino, naturalizado na França, Robin Campillo, pretende traçar um panorama sobre o vírus da Aids, que se alastrou em meados dos anos 80 em todo o mundo. O foco é a França, mais exatamente um grupo, ACT UP, que protesta contra empresas farmacêuticas no início dos anos 90. Essas empresas não desejam a liberação fácil de remédios para as pessoas doentes. Com um início trepidante, quase em estilo documental e muito influenciado pelo estilo de filmagem de Kechiche em Azul é a cor mais quente, por meio da fotografia instável de Jeanne Lapoirie, o filme de Campillo se situa entre os protestos - nos quais os integrantes jogam balões com um produto que lembra sangue - e as reuniões desse grupo. Não parece inoportuno lembrar que Campillo fez outro filme muito parecido com este em termos de estrutura e constantes debates, Entre os muros da escola, que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2008.
Nos últimos anos, a Pixar tem se destacado junto à Disney com obras como Divertida mente, mesmo sem os atrativos da época de Wall-E e UP, quando a companhia, ainda independente, fazia um trabalho considerado superior à maioria das animações. Particularmente, Universidade Monstros é o trabalho mais interessante da companhia, mas nunca foi devidamente aceito; no início de 2016, O bom dinossauro já havia sido severamente subestimado e Carros 3, no ano passado, fracassou injustamente nas bilheterias. No entanto, ao final do ano, surgiu um novo desenho animado, desta vez assumindo o posto de grande bilheteria: Viva – A vida é uma festa. Trata-se de um projeto pensado com visível afeto pela cultura que apresenta, dando atenção a detalhes temáticos e históricos.
O diretor Todd Haynes já conseguiu, junto a seu fotógrafo Edward Lachman, algumas proezas visuais, a exemplo de Longe do paraíso e Carol, às vezes não encontrando uma ressonância emocional em equilíbrio. Em Sem fôlego, ele adapta uma novela juvenil assinada por Brian Selznick. Este é o mesmo autor de A invenção de Hugo Cabret, e a adaptação de Haynes, pode-se dizer, tem elementos daquela de Martin Scorsese. No entanto, onde Scorsese celebra mais o fantástico e o grandioso, Haynes se concentra mais no material que pode mostrar o cinema como um grande museu a céu aberto. A história também é um pouco mais antilinear do que a de Hugo Cabret.
O diretor mexicano Guillermo del Toro sempre esteve entre os principais nomes situados entre a fantasia, o terror e o suspense. Nos últimos anos, ele entregou dois filmes completamente distintos: Círculo de fogo, uma ficção científica mais pop, mostrando a invasão de monstros (kaijus), na Terra, e A colina escarlate, com uma história mais clássica, sempre com uma parte técnica irretocável. E, apesar de se inspirar muitos em fábulas e lendas populares, ele sempre foi reconhecido pela originalidade. Por isso, a polêmica que surgiu de que seu novo filme, A forma da água, fosse inspirado sem dar crédito à peça teatral Let Me Hear You Whisper, do ganhador do Pulitzer Paul Zindel, surgida na semana passada, talvez coloque seu favoritismo ao Oscar ameaçado. Se a premissa de seu filme é igual à da peça (que também virou filme, em menor escala, nos anos 90), ainda assim a obra de Del Toro pode ser vista como, mais do que uma relação estranha, um retrato de época. Diretor também dos dois primeiros Hellboy e um dos roteiristas da trilogia O hobbit, o mexicano é uma referência do gênero de fantasia, no sentido mais épico.
O tradicional diretor James Ivory, conhecido por seus filmes históricos dos anos 80 e 90, alguns de notável qualidade, adaptou o romance de André Aciman para este filme dirigido pelo italiano Luca Guadagnino, influenciado aqui especificamente por Eric Rohmer, aquele de Pauline na praia. Ele mostra a trajetória de Elio (Timothée Chalamet), de 17 anos, que vive numa área rural da Itália com seus pais, Sr. Perlman (Michael Stuhlbarg) e Annella (Amira Casar). O pai é um estudioso de arquelogia e recebe um estudante de pós-graduação, Oliver (Armie Hammer), para ficar com a família no verão de 1983 e ajudá-lo a catalogar novas peças. A casa é um verdadeiro oásis: lembrando as paisagens de Um bom ano, de Ridley Scott, este interior da Itália é um convite a um passeio, e a bela fotografia de Sayombhu Mukdeeprom consegue mostrá-las de modo atrativo.
O diretor Steven Spielberg é um dos grandes nomes indiscutíveis do cinema. Ter realizado Encurralado, Tubarão e Contatos imediatos do terceiro grau nos anos 70, e Os caçadores da arca perdida, E.T., A cor púrpura e Império do sol nos anos 80 já é motivo suficiente para ter seu nome entre os maiores da história. No entanto, a partir dos anos 90, mais especificamente depois de Jurassic Park, Spielberg foi aos poucos se afastando do gênero da fantasia e mais fantástico – no qual se destacou também como produtor –, incorporando filmes com elementos históricos, a exemplo de A lista de Schindler, Amistad e O resgate do soldado Ryan.
Com a recepção crítica de Batman vs Superman, logo antes de iniciarem as filmagens de Liga da Justiça as expectativas estavam voltadas para o fato de Zack Snyder continuar como diretor ou não. Ele realizou o filme, no entanto, antes da finalização, precisou se ausentar devido a uma tragédia pessoal: o suicídio de uma filha sua. Para refilmar cenas e escrever e dirigir outras, foi chamado Joss Whedon, responsável pelos dois Vingadores. Ele assina o roteiro ao lado de Chris Terrio (Argo), um dos roteiristas de Batman vs Superman. Ocorreram outras mudanças, como na trilha sonora – Danny Elfman substituiu Junkie XL –, e a discussão passou a ser, antes do lançamento: este seria um filme realmente de Snyder?
O diretor Geremy Jasper tem sua estreia à frente de um filme com este inusitado "Patti Cake$". Com produção, entre outros, de Chris Columbus (mais conhecido pelos roteiros de "Gremlins" e "Os Goonies" e dirigir dois "Esqueceram de mim" e os primeiros "Harry Potter") e do brasileiro Rodrigo Teixeira, ele conta a história de Patricia Dombrowski, ou, simplesmente, Patti (Danielle Macdonald), uma jovem obesa, que vive num bairro de periferia tentando obter rimas para seus raps. No entanto, ela é chamada de Dumbo e apenas seu amigo Jheri (Siddharth Dhananjay) a leva a sério. Enquanto cuida de sua avó, Nana (Cathy Moriarty, excelente), precisa ver sua mãe, Barb (Bridget Everett), cantando no mesmo bar onde atende. A mãe gostaria de ter tido uma carreira musical, mas em razão do compromisso a com filha não pôde se dedicar.
O diretor Jasper mostra um talento muito grande para encadear uma sequência de conflitos críveis e por vezes engraçados. Muitos apontam semelhanças com "8 mile", com Eminem, e realmente há, mas esta obra parece mais humana sobretudo por causa de Macdonald, excepcional no papel central, e Everett, como sua mãe (ambas mereciam ser indicadas ao Oscar).
Patti, que tem o nome artístico Killa P, tem como ídolo um rapper, OZ (Sahr Ngaujah), e conhece um músico, Basterd (Mamoudou Athie), um afroamericano rebelde que pode lhe proporcionar a capacitação sonora que sua música precisa. O que chama a atenção em "Patti Cake$" é como ele não se leva a sério no bom sentido, parecendo realmente dar vida a uma personagem que representa muitas outras renegadas pelos "pilares" culturais de uma sociedade. Nisso, o filme lida com relação entre fã e ídolo e rivalidade entre mãe e filha de modo tocante. O visual do filme, baseado no recente "Tangerine", possui cores vibrantes e um movimento contínuo, reforçado por uma trilha sonora de ótimo nível. A canção que Patti faz com seus companheiros e toca num momento-chave é um hit de rap poucas vezes ouvido.
"Dunkirk" é primoroso na parte técnica, mas parece se ressentir de uma construção mais elaborada dos personagens. O objetivo de não desenvolvê-los não é compensado pela tensão da guerra. Ver mais: wp.me/p2lvhr-6KQ
Depois de "A árvore da vida", Terrence Malick resolveu partir para um cinema baseado essencialmente na solidão da vida contemporânea, mesmo que busque, como em toda sua filmografia, a formação de casais. Foi assim em "Amor pleno", "Cavaleiro de copas" e agora em "De canção em canção". Se em "Amor pleno", o personagem central casava com uma europeia e ambos vinham morar no Texas edênico de Malick, em "Cavaleiro de copas" acompanhávamos um roteirista em Hollywood, Rick, que tinha problemas familiares e não conseguia nunca estabelecer ligações afetivas verdadeiras com as mulheres. Em "De canção em canção", Malick apresenta quatro personagens centrais, embora o principal pareça ser Faye (Rooney Mara). Ela se apaixona inicialmente por BV (Ryan Gosling), um aspirante a músico igual a ela, bastante promissor, na cena musical do Texas. Ambos têm por perto o empresário Cook (Michael Fassbender), que se sente a ameaça, nesse sentido, para um amor que possa existir entre eles. Quando Cook entra em contato com a garçonete Rhonda (Natalie Portman, nunca tão bem fotografada e com uma atuação do nível de "Cavaleiro de copas"), junta-se uma figura que irá estabelecer a ligação entre o universo musical solto e uma tentativa de transcendê-lo. Além disso, Rhonda busca a segurança material que Cook pode lhe conceder. As ligações entre eles são indefinidas, a não ser quando Cook e BV viajam com Faye para o México, e se subentende que possa haver um relacionamento entre eles - que se manifesta com clareza mais adiante.
Novamente com fotografia do grande Emmanuel Lubezki, "De canção em canção" é, de longe, o filme mais difícil, em forma estrutural, de Malick: mesmo que nos anteriores não tivéssemos histórias lineares, o novo Malick se sente realmente um produto experimental da indústria. Completamente ignorado nos cinemas (não arrecadou sequer 450 mil dólares) e desabonado pela crítica, esse é um cinema que não se preocupa com a recepção. Depois de mostrar um pôster gigante de Arthur Rimbaud numa parede, Malick está mais interessado no "desregramento dos sentidos" que pregava o poeta francês, uma visão simultânea desses personagens e de suas peregrinações pela vida. Tudo se sente ao mesmo tempo desencaixado, solto, e vinculado. Faye está à procura de um amor, mas não sabe exatamente o que deseja. Procura numa artista francesa, Zoey (Bérénice Marlohe), sua tentativa de encontrar consigo mesma.
Embora haja participações do Red Hot Chili Peppers, Patti Smith e Iggy Pop em diferentes momentos, "De canção em canção" não pretende construir um mosaico musical da vida moderna. Ele pretende mais mostrar como cada existência é governada por dissonantes acordes, que às vezes não seguem a mesma faixa. Rhonda tem uma relação próxima da mãe (Holly Hunter), assim como Gosling tem da sua (Linda Emond) - e em determinado momento precisa cuidar do pai (Neely Bingham) - e Faye do seu pai (Brady Coleman), todos sem nome próprio, como convém à tentativa de Malick em ser universal. O único que parece solto é exatamente Cook.
Mesmo para um filme de Malick, "De canção em canção" se mostra surpreendentemente sem um eixo certo: ele não caminha estabelecendo pontos e sim sensações, como a entrada em determinado momento da personagem Amanda (Cate Blanchett). E em que ordem, afinal, a história acontece? O início e o final conseguem dar um pouco de noção quanto a isso, no entanto é insuficiente para se ter certeza.
Malick, como em "Cavaleiro de copas" e "Amor pleno", usa a arquitetura das casas para falar dos personagens, cria analogias entre pássaros na natureza e de madeira pendurados no teto da sala, distribui uma porção de cenários em que os personagens se sentem ou mais solitários ou em busca de companhia: rios, piscinas de casas, estacionamentos, casas onde moram ou de suas famílias, o contraste entre interior e cidade, a tranquilidade da varanda e o caos dos shows. Todo o cuidado cênico se manifesta em cada sequência.
Temos os personagens novamente à procura de afeto: Malick utiliza sua obsessão em filmar o corpo humano em momentos descompromissados e atrativos, com narrações em "voice over" que alternam a descrição de cada personagem para o que estão sentindo. Como em "Cavaleiro de copas", Malick não está interessado exatamente pela indústria que serve de pano de fundo para tais personagens e seus comportamentos: tudo é motivo para vislumbrar fragmentos da tentativa de pessoas diferentes existirem. Mara, para isso, tem uma contribuição notável para o filme, assim como Gosling, com quem mais contracena e se mostra em determinadas cenas um ator mais versátil ainda do que se mostrou em "Drive" e "La La Land". Portman é tremendamente humana e Fassbender, por sua vez, retrata o próprio vazio que parece cercá-lo. Um destaque também para o elenco coadjuvante de pais ou mães desses personagens, notável, mesmo com pouco tempo de atuação, e a inspirada Blanchett, mesmo com pouco roteiro (Christian Bale teria gravado cenas, mas foram descartadas, e Val Kilmer aparece brevemente como um roqueiro, lembrando um Jim Morrison que pretende integrar o Sonic Youth). "De canção em canção" vai exigir novas visualizações para se obter mais das camadas que Malick entrega. O que se tem, numa primeira sessão, é mais um dos grandes momentos do cinema, uma amostra de como tornar um filme numa verdadeira experiência, muito em razão novamente da arte conjunta de Malick e Lubezki.
Pode-se sentir que em geral há uma preocupação grande com o que Ben Affleck possa ter sido ou vir ainda a ser, e "A lei da noite" acaba atraindo um comportamento crítico em geral que parece mais interessado no que ele estaria planejando do que de fato apresenta aqui. "A lei da noite" possui uma das narrativas de gângster mais focadas num personagem, no caso Joe Coughlin (Ben Affleck), um veterano da I Guerra Mundial e filho de Thomas (Brendan Gleeson), capitão da polícia de Boston. Ele está apaixonado por Emma Gould (Sienna Miller), amante do gângster Albert White (Robert Glenister), e pratica atividades criminosas, para preocupação do pai.
Isso é o começo de uma história que envolve ainda o mafioso Maso Pescatore (Remo Girone), gângsters na Flórida e a Ku Klux Khan.
Baseado num romance de Dennis Lehane, "A lei da noite" tem uma reconstituição de época notável e não por acaso era visto como um dos potenciais candidatos ao Oscar. Affleck tem a colaboração do diretor de fotografia Robert Richardson, habitual colaborador de Tarantino e Oliver Stone. Trata-se de um recorte histórico em que a vida de mafiosos se encaixa com a história da América e, principalmente, do preconceito existente nela, contra latinos e negros, a presença da Ku Klux Khan e a vigência da Lei Seca. Joe é um personagem indefinido entre uma certa gentileza e uma violência extrema, e Affleck consegue equilibrar essas duas facetas principalmente nas sequências em que empreende diálogos com amigos ou inimigos.
Ele conduz o início da trama com uma agilidade que repercute principalmente na segunda metade, mais interessada em fazer analogias entre religião e cinema, violência e arte, culpa e constituição de uma família. Do elenco, não apenas Affleck está bem (como, este ano, em "O contador"), mas, principalmente, Gleeson, Cooper, Maher, Girone, Miller e Fanning, esta num diálogo comovente com Joe em determinado momento, mostrando seu talento.
Quase não há mais filmes de gângsters e, se tratam de uma influência de "Ajuste final", dos irmãos Coen, acredito que há mais de "Os intocáveis", "Dália negra" e "Dick Tracy" (os tiroteios são filmados com uma precisão irretocável), além de "Inimigos públicos", de Michael Mann, principalmente na maneira como Affleck apresenta seus personagens. Não saberia determinar por que este filme é recebido com tanta frieza, mas eu apostaria num certo distanciamento desse gênero. O roteiro, cheio de subtramas, se esclarece como poucas obras conseguem. Se este filme não é uma das realizações do ano, difícil saber muitas outras que seriam. É uma obra de gângsters intimista, feito à moda antiga, fascinante, com um olhar quase europeu por Affleck.
Este filme belíssimo não é decisivamente sobre passar por cima dos outros para chegar a seus sonhos. Ele mostra, como poucos filmes, que mesmo dentro dos sonhos realizados não há perfeição e a melancolia que se almeja não ter em nenhum momento a partir do sucesso é um plano que não pode ser concretizado. É essa a mensagem que o filme parece passar... e o faz de maneira perfeita.
O diretor coreano Chan wook-Park teve uma recepção exitosa com seu filme "Oldboy", em 2003, no Festival de Cannes, quando foi elogiado por Quentin Tarantino. A partir dele, transformou-se num cineasta reconhecido, e em 2009 realizou uma das obras de vampiro mais originais já feitas, "Sede de sangue". Em 2013, finalmente estreou em Hollywood, com grande elenco, incluindo Nicole Kidman e Mia Wasikowska, em "Segredos de sangue". Se Park não perdia seu talento na direção de arte e fotografia, o filme era repleto de maneirismos e contorcionismos de roteiro que diminuíam o impacto final.
Já "The handmaiden", passado na Coreia dos anos 30, é dividido em três partes, e cada uma delas se dá sob um ponto de vista diferente. O Conde Fujiwara (Ha Jung-Woo) pretende conquistar uma nobre coreana, Hideko (Kim Min-Hee), sobrinha de Kouzuki (Jin-woong Jo), um colecionador de livros eróticos raros. Para isso, ele tem ajuda de Sook-hee (Kim Tae-Ri), uma mulher de classe baixa, batedora de carteiras, que ele coloca como serva de Hideko a fim de convencê-la a se apaixonar por ele.
Kim Min-Hee e Kim Tae-Ri estão brilhantes em seus papéis, principalmente quando a história começa a tomar rumos imprevisíveis. A relação entre Hideko e Sook-hee primeiramente é baseada numa ingênua confiança de parte a parte, mas o que o diretor não revela é como o passado da nobre a ser conquistada pelo Conde deve explicações a essa narrativa, e o Conde não é exatamente aquilo que se espera.
A fotografia de Chung-hoon Chung e o desenho de produção de Seong-hie Ryu, um habitual colaborador também de Joon-ho Bong, alimentam visualmente esta obra baseada em "Fingersmith", de Sarah Waters, com razoáveis mudanças. Não sendo fã de "Oldboy", esta me parece ser a obra-prima de Park, um filme tão simples quanto minucioso em seus detalhes e mudanças de rumo narrativas. É interessante como Park utiliza elementos de filme de terror em meio a um cenário de gueixas e cerejeiras (aliás, um dos símbolos máximos não apenas do Oriente, como do destino de algumas das personagens mostradas aqui). Ele também faz analogias entre a biblioteca e o quarto, o sexo com perversão e signos da natureza (como a lua), a atração corporal e a dor que pode se manifestar em algumas circunstâncias. É um filme com alto teor emocional mesmo parecendo, na maior parte do tempo, frio e distante.
O filme lança os homens no lado oposto das mulheres: para Park, elas assumem seus papéis, enquanto eles fingem assumi-los e, quando o fazem, nunca saem de seus esconderijos. "The handmaiden" é um filme bastante psicológico em vários sentidos, e absolutamente simétrico em suas escolhas. O que seria ele? Um drama nos moldes vitorianos transportado para o cenário asiático? Um thriller? Um filme sobre a violência subjetiva? Ou é um filme de costumes excêntricos com tendência ao erótico em algumas cenas belissimamente filmadas?
Há uma cena mais ao final mais violenta e mais próxima da filmografia do diretor, mas mesmo nela se subentende que há uma negação do prazer proporcionado pelo homem. "The handmaiden" não parece, contudo ele consegue demonstrar mais a libertação feminina do que muitas obras com esse intuito. Nesse ponto, é quase um filme satírico sobre como o homem pode imaginar seu domínio sem obtê-lo de fato. É um grande filme, um dos mais notáveis do ano.
O homem nas trevas, como construção de filme, é um verdadeiro susto: eis uma obra que incorpora uma ideia simples e não a expande, ou ao menos a expande apenas em se tratando de lugares-comuns. Não apenas o elenco tem uma atuação superficial, como não parece ter acontecido um acabamento em termos de montagem. Aqui há apenas escombros de uma narrativa, e lamenta-se que o diretor não mostre o mesmo talento de seu longa de estreia, principalmente na construção de uma atmosfera (e mesmo tendo aqui o mesmo produtor para auxiliá-lo, Sam Raimi), tentando, na verdade, apenas estabelecer uma franquia com proposta tão curta quanto seu alcance
Foi nos anos 90 que Todd Solondz construiu sua reputação de diretor excêntrico e corrosivo com dois filmes, "Bem-vindo à casa de bonecas" e "Felicidade", com personagens completamente desprovidos de qualquer previsibilidade. Passaram-se quase 20 anos para que ele voltasse em grande estilo com este "Wiener-Dog". Este não é um filme para todo espectador, mas, sinceramente, me parece aquele tipo de obra que pode ser, mais do que excêntrica, extraordinária.
Solondz seleciona um cão da raça dachshund (no Brasil, o conhecido "linguicinha") que ajuda a entrelaçar algumas histórias. Na primeira, um pai, Danny (Tracy Letts), traz a seu filho Remi (Keaton Nigel Cooke), que acabou de enfrentar um câncer, um cãozinho fêmea dessa raça. No entanto, ela deve ser castrada, o que rende conversas difíceis de Remi com sua mãe, Dina (Julie Delpy).
Na segunda história, o cão descobre uma segunda dona, a enfermeira veterinária Dawn Wiener (Greta Gerwig), o mesmo nome da personagem de "Bem-vindo à casa de bonecas". Ela, determinado dia, encontra um antigo interesse de escola, Brandon (Kieran Cullkin), com quem sai de viagem para Ohio, onde encontrará Tommy (Connor Long), e April (Bridget Brown). Sempre com o cão a tiracolo.
Na terceira história, Danny DeVito é um roteirista de cinema, Dave Schmerz, que dá aulas numa universidade e circula com seu cão para cima e para baixo, em meio a uma vida de solidão, à espera de notícias de novos trabalhos, para, finalmente, na quarta, vermos Nana (Ellen Burstyn, lembrando imediatamente "Réquiem para um sonho"), uma idosa, receber a visita de sua neta Zoe (Zosia Mamet), acompanhada seu namorado Fantasia (Michael Shaw, engraçado).
Além do roteiro bem desenvolvido por Solondz, com atos que não se diferenciam em demasia, sem recorrer a truques, a não ser um intervalo como se o cão participasse de um videoclipe, "Wiener-Dog" apresenta um elenco multiestelar, todos em grande momento, desde Delpy e Gerwig, passando por Culkin e DeVito, até Burstyn. Todos estão excepcionais, sem exceção. Especialmente Gerwig e DeVito entregam atuações de colocar o espectador em suspensão.
O diretor de fotografia é Edward Lachmann, responsável por imagens de "Carol" e "Longe do paraíso", ambos de Todd Haynes, e "As virgens suicidas", de Sofia Coppola, com o qual guarda semelhanças estéticas. Tudo é multicolorido, mesmo que a realidade seja fora desse tom vibrante. O cão simboliza a aventura dos personagens ou sua solidão ao longo da América. "Clair de Lune" é usada para fazer um contraponto à sua presença incômoda por vezes, em determinado momento.
"Wiener-Dog" é estranho e, ao mesmo tempo, inserido no cotidiano. É sarcástico e pesado e, ainda assim, muito humano. É sensível sem cair na pieguice. É mesmo reflexivo, quase uma aula de como fazer cinema com uma ideia simples e sem soar pretensioso. Trata da vida e da morte, dos laços feitos e desfeitos, de mágoas guardadas ou sonhos a serem atingidos. Dentro de seu humor corrosivo, é também um dos mais engraçados a que assisti nos últimos anos.
Após assistir ao filme mais recente de Gus Van Sant, vaiado no Festival de Cannes, quando exibido no ano passado, tive aquela mesma curiosidade que, às vezes, tenho e não deveria: ver qual seria a média de aprovação dessa obra no Rotten Tomatoes. Obviamente, os 9% de aprovação não me surpreenderam, afinal os críticos reunidos lá são considerados os mais representativos.
O roteiro de Chris Sparling certamente é o alvo da maior parte das críticas, com suas simbologias orientais. Arthur Brennan (Matthew McConaughey) é um professor de ciências que parte para o Japão, a fim de cometer suicídio em Aokigahara, à margem do Monte Fuji. Lá, ele encontra Takumi (Ken Watanabe), que lhe conta ter perdido o emprego. Logo, o desentendimento inicial se transforma numa aproximação de duas culturas diferentes. E, nisso, vêm à tona histórias sobre Joan (Naomi Watts), esposa de Arthur. Tudo é uma grande representação do processo de depressão que atravessa o filme de ponta a ponta, seja nas imagens da floresta, seja em como os personagens vão se machucando, como se buscassem o autoflagelo, e enfrentam uma inundação, como num renascimento. Ele se sente mais perto de "Inquietos", em que Van Sant mostrava a obsessão da juventude pela morte e pelo luto, sendo menos acessível em alguns pontos.
Claro que a crítica representativa enxergou na obra uma maneira de tripudiar sobre seus flashbacks e seu tom dramático (é a mesma que viu em "Old joy", muito parecido com este, espetacular). É muito fácil isso quando o Van Sant mais elogiado é o minimalista (e por vezes tedioso) de "Últimos dias" e "Gerry". Mas "The sea of trees" também é excessivamente fácil para quem deseja um novo "Elefante" ou "Paranoid Park", em que o processo de luto era mais subjetivo. Este, porém, é o diretor que também fez peças entre o indie e o comercial, a exemplo de "Gênio indomável", "Encontrando Forrester" e "Garotos de programa". E a crítica em geral sequer ter visto as grandes atuações de McConaughey, Watts e Watanabe, principalmente do primeiro, em mais uma jornada feliz, parece acima de tudo de grande injustiça. O filme tem momentos realmente sentimentais e revigorantes e mostra como "Livre" poderia ter sido um grande filme não se excedesse nos flashbacks. E temos o acerto na fotografia de Kasper Tuxen, com mínimo de cores e ainda assim atrativa.
O cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn pode ser visto como um dos mais polêmicos hoje em dia. Não que a sua trajetória se inscrevesse com essa qualidade em "Drive", filme com Ryan Gosling posando de dublê de cenas com carros em Hollywood, mas principalmente por causa do filme seguinte, "Apenas Deus perdoa", com sua violência literal nas ruas de Bangkok. Este segue sua filmografia anterior a "Drive", como em "Bronson", filtrado por "Laranja mecânica", porém, sobretudo, os filmes da saga "Pusher", com uma violência ainda mais intensa. "Drive", sob qualquer ponto de vista, ainda é um divisor de águas em sua carreira: com seus sintetizadores emulando os anos 80, nas notas de Cliff Martinez, repercutiria no filme seguinte, e agora em "Demônio de neon", agora desprovido de qualquer romantismo.
Não por acaso, o novo filme de Refn se situa entre o suspense e o terror. A sua principal influência é muito clara: "Suspiria", a obra-prima de Dario Argento, dos anos 70. Se naquele filme uma estudante de dança chegava a uma academia alemã de influências sobrenaturais (que se tornaria mais real em "Cisne negro"), em "Demônio de neon", Elle Fanning interpreta Jesse, uma menina de 16 anos que vem do interior, sem pais, para fazer carreira de modelo em Los Angeles. Ela primeiro faz uma sessão de fotos com o Dean (Karl Glusman, de "Love"), onde conhece a maquiadora Ruby (Jena Malone). Em seguida, ela apresenta o book a uma agência de modelos, tendo à frente Roberta Hoffman (Christina Hendricks). A maquiadora, numa festa, a apresenta a suas duas amigas, Sarah (Abbey Lee) e Gigi (Bella Heathcote). Claramente, Refn posiciona Jesse como uma espécie de Alice no país das perdições, com seu figurino de moça inocente e ingênua. Em seu encontro com Dean, numa colina de Los Angeles, à luz do luar, ela diz não ter outros atributos a não ser a beleza. E é essa lua que antecipa o verdadeiro horror de "Demônio de neon". Hospedada num hotel, clara referência a "Psicose", em seus letreiros, em que o gerente, Hank (Keanu Reeves), age de forma pouco convidativa a conversas e como um cafetão, Jesse é uma espécie de personagem de Naomi Watts em "Cidade dos sonhos". Basta reparar na maneira como Refn retrata as cores de seu quarto. Ela pertence a um universo da fantasia. Nesse universo, oposto ao real, ela se sente em casa. No entanto, quando passa, a partir de um desfile para o designer de moda Robert Sarno (Alessandro Nivola), a ser uma das preferidas do mundo da moda, suas antigas conhecidas passam a vê-la ainda mais como uma ameaça. Elas não têm o que conversar entre si: enquanto as antigas modelos falam em plásticas e sexo, Jesse tenta emular uma vida que nunca teve.
Naturalmente, "Demônio de neon" tem um objetivo muito claro: ser uma crítica ao universo da moda. Parece fazê-lo de modo simples, quando na verdade percebe-se que Refn atinge seus detalhes e nuances de modo mais indireta. Os símbolos, como o da lua ou do gato selvagem, e mesmo de três triângulos em neon (que representam a passagem de Jesse para outro universo, como o cubo de "Cidade dos sonhos"), ou de Hank como uma representação do falo masculino, são uma síntese da personagem. O personagem Dean é uma espécie de príncipe encantado, a figura certamente mais despretensiosa do filme, enquanto os outros personagem observam Jesse como se ela fosse uma vítima a ser perseguida - e Refn constrói essa tensão por meio de olhares, sobretudo da personagem da maquiadora em relação a ela. Ou vejamos a maneira como o fotógrafo Jack (Desmond Harrington) a olha durante a sessão de fotos, em que a configuração visual remete a "THX 1138", de George Lucas. A obsessão pela juventude é tão perturbadora quanto em "Fome de viver", filme dos anos 80 com David Bowie e Catherine Deneuve.
Refn tem um interesse em aproximar o universo da fotografia e da modo de um universo cadavérico. Para ele, as pessoas estão sempre fazendo poses, imóveis ou querendo ser invisíveis, como se fossem, como diz Gigi, em determinada altura, fantasmas. Gigi também pergunta a Jesse como é ser o sol num dia de inverno, e, ao final, sua metáfora parece justamente se mostrar ao contrário. E, mesmo Jesse sendo uma pessoa real, sua fachada sempre lembra uma fina camada de porcelana; é como se, de fato, fosse uma boneca humana. Refn a aproveita aqui, muitas vezes, como Coppola o faz em "Virgínia".
O que se pode dizer é que "Demônio de neon" atravessa uma linha que poucos filmes se arriscam a fazer. Não apenas o roteiro de Refn, em parceria com Mary Laws e Polly Stenham, é enigmático, como ingressa, em seus 20 minutos finais, em situações nas quais o cinema pouco pisou, sob uma perspectiva mesmo histórica. É quando Refn mais se mostra desagradável como em vários momentos de "Apenas Deus perdoa" e, justamente, consegue arrematar sua visão sobre o mundo da moda e do que se considera belo. Seu filme é construído com uma fotografia perfeccionista de Natasha Braier ("The Rover"), com cada tiro lembrando uma pintura, e ainda assim o que ele tem a trazer aqui é que, por baixo de toda a beleza, há doença e uma terrível desesperança. Nesse sentido, é um filme mais melancólico do que "Drive" e "Apenas Deus perdoa", que ainda lida com certos elementos românticos. Em "Demônio de neon", é como se Refn admitisse que não há espaço para nenhuma idealização, representada por Jesse, principalmente num universo em que ela é uma estranha, mesmo parecendo ser bem recebida. É como se ela entrasse num bosque do qual não pode voltar justamente no momento em que se depara com os triângulos de neon.
Como Jesse, Elle Fanning está excepcional, mostrando como a atriz de "Super 8" e "Um lugar qualquer" realmente tinha um talento especial, mas é Malone, Lee e, principalmente, Heathcote que conseguem lidar com papéis difíceis. Karl Glusman é um ótimo ator aqui, também, assim como Keanu Reeves faz uma boa participação especial (lamentando-se que Hendricks tenha apenas uma cena).
Entende-se perfeitamente que o espectador não goste deste filme ou se sinta mesmo revoltado com suas premissas, mas é inegável que Refn consegue avançar num terreno que se mostrava inexplorado talvez desde David Lynch em "Twin Peaks - Os últimos dias de Laura Palmer", também, como ele, vaiado em Cannes. No filme de Lynch, tão surrealista quanto este, a ameaça à personagem central se dava de maneira tão contundente que de uma série bem-humorada o espectador passava a um ambiente bem mais próximo do horror e do assustador. Esta parece ser a mesma trajetória visualizada por Jesse. De qualquer modo, Refn não esclarece direito quem seria essa personagem, assim como o motorista de "Drive". Não há nela um sentido de humanidade exato. Ela está durante toda a história entre a realidade e o sonho, e sua realidade é permeada de comportamentos estranhos. Este não é um filme fácil; pelo contrário, é perturbador, pois entrega algo totalmente diferente do que aparenta por suas imagens belíssimas.
"Duna" sempre vai atrair alguns argumentos: o filme não está à altura da carreira de David Lynch; a adaptação que Jodorowsky teria feito seria melhor; e foi uma má adaptação do romance de Frank Herbert. Tendo sido levado ao livro por causa do filme de Lynch, eu acredito que o cineasta americano o adaptou com esforço. Ele é fiel em muitos aspectos (principalmente na versão estendida de 3 horas não assinada pelo diretor) e ficaria feliz se Lynch entregasse seu corte, o que dificilmente, hoje, irá acontecer. Ele tem muitos elementos que Lynch usaria mais tarde em sua trajetória, em filmes como "Veludo azul", "Twin Peaks", "A estrada perdida" e "Cidade dos sonhos" (sugiro a quem diz o contrário ver que muitas simbologias de "Duna" estão nesses filmes). Em segundo, nunca saberemos se a versão de Jodorowsky seria melhor (fica no "se", o que não funciona no cinema); certamente seria mais surrealista, mas não que seria melhor. O filme é um trinfo de design de produção e figurinos, além da trilha sonora do grupo Toto, e, apesar dos efeitos visuais irregulares, possui uma força especial. Kyle MacLachlan está ótimo no papel principal, assim como o elenco de apoio faz uma boa participação (principalmente McMillan como o vilão). A versão de Lynch possui uma segunda metade muito apressada; a versão estendida, neste caso, é a mais indicada. No entanto, isso não tira do filme o status de ser um dos mais subestimados da história do cinema.
Thelma
3.5 342 Assista AgoraO cineasta dinamarquês Joachim Trier se projetou com duas peças elogiadas, Reprise e Oslo, 31 de agosto, ambos com o ator Anders Danielsen Lie e um tom de melancolia exasperante e uma fotografia capaz de captar uma faceta gélida da humanidade. Em sua estreia nos Estados Unidos, realizou o ótimo Mais forte que bombas, em que colocava Jesse Eisenberg no papel de um filho de uma jornalista feita por Isabelle Huppert e retratava a solidão da adolescência nos Estados Unidos, ao mesmo tempo que conflitos estabelecidos de maneira primordial. Sempre interessou a Trier um certo olhar sobre a sociedade, e não por acaso o personagem de Eisenberg nesse filme era um professor da área. Há uma perspectiva muito apurada sobre a solidão contemporânea na obra dele, que se manifesta por meio de figuras diferentes e mesmo sem pontos em comum: o personagem central de Oslo, 31 de agosto tinha questões a resolver totalmente diferentes daquele de Mais forte que bombas, no entanto sente-se uma unidade neles.
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7jI
Star Wars, Episódio VIII: Os Últimos Jedi
4.1 1,6K Assista AgoraResponsável por um excelente filme de adolescentes em homenagem ao noir, A ponta de um crime, e por uma ficção científica que soava como um quebra-cabeça, Looper, Rian Johnson foi convidado a dirigir e escrever o roteiro de Star Wars - Os últimos Jedi, a continuação de O despertar da força, o reinício da série criada por George Lucas desta vez por meio dos estúdios Disney, que comprou os direitos da franquia. No episódio anterior, dirigido por J.J. Abrams, havia uma necessidade clara de retomar a nostalgia do filme dos anos 70, mas com novos personagens reencontrando alguns dos antigos, Han Solo e Princesa Leia.
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7kF
Suburbicon: Bem-Vindos ao Paraíso
3.1 160 Assista AgoraGeorge Clooney tem se mostrado alguém capaz de mesclar as carreiras de ator e diretor com uma competência poucas vezes vista. Depois de ser elogiado principalmente por Boa noite e boa sorte, que recebeu várias indicações ao Oscar, inclusive a melhor filme, sua carreira passou a ser mais visada: nesse caminho, Tudo pelo poder foi um êxito fora de série, com uma parceria notável entre Clooney e Ryan Gosling, e Caçadores de obras-primas, recebido com uma grande indiferença.
Para este novo projeto, depois da rejeição a seu último filme, Clooney obteve um roteiro dos irmãos Joel e Ethan Coen, que ele desenvolveu ainda mais com Grant Heslov.
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7lL
120 Batimentos por Minuto
4.0 190 Assista AgoraUm dos grandes títulos lançados no Festival de Cannes de 2017, 120 batidas por minuto, do diretor e roteirista marroquino, naturalizado na França, Robin Campillo, pretende traçar um panorama sobre o vírus da Aids, que se alastrou em meados dos anos 80 em todo o mundo. O foco é a França, mais exatamente um grupo, ACT UP, que protesta contra empresas farmacêuticas no início dos anos 90. Essas empresas não desejam a liberação fácil de remédios para as pessoas doentes. Com um início trepidante, quase em estilo documental e muito influenciado pelo estilo de filmagem de Kechiche em Azul é a cor mais quente, por meio da fotografia instável de Jeanne Lapoirie, o filme de Campillo se situa entre os protestos - nos quais os integrantes jogam balões com um produto que lembra sangue - e as reuniões desse grupo. Não parece inoportuno lembrar que Campillo fez outro filme muito parecido com este em termos de estrutura e constantes debates, Entre os muros da escola, que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2008.
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7q3
Viva: A Vida é Uma Festa
4.5 2,5K Assista AgoraNos últimos anos, a Pixar tem se destacado junto à Disney com obras como Divertida mente, mesmo sem os atrativos da época de Wall-E e UP, quando a companhia, ainda independente, fazia um trabalho considerado superior à maioria das animações. Particularmente, Universidade Monstros é o trabalho mais interessante da companhia, mas nunca foi devidamente aceito; no início de 2016, O bom dinossauro já havia sido severamente subestimado e Carros 3, no ano passado, fracassou injustamente nas bilheterias. No entanto, ao final do ano, surgiu um novo desenho animado, desta vez assumindo o posto de grande bilheteria: Viva – A vida é uma festa. Trata-se de um projeto pensado com visível afeto pela cultura que apresenta, dando atenção a detalhes temáticos e históricos.
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7qS
Sem Fôlego
3.0 76 Assista AgoraO diretor Todd Haynes já conseguiu, junto a seu fotógrafo Edward Lachman, algumas proezas visuais, a exemplo de Longe do paraíso e Carol, às vezes não encontrando uma ressonância emocional em equilíbrio. Em Sem fôlego, ele adapta uma novela juvenil assinada por Brian Selznick. Este é o mesmo autor de A invenção de Hugo Cabret, e a adaptação de Haynes, pode-se dizer, tem elementos daquela de Martin Scorsese. No entanto, onde Scorsese celebra mais o fantástico e o grandioso, Haynes se concentra mais no material que pode mostrar o cinema como um grande museu a céu aberto.
A história também é um pouco mais antilinear do que a de Hugo Cabret.
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7sS
A Forma da Água
3.9 2,7KO diretor mexicano Guillermo del Toro sempre esteve entre os principais nomes situados entre a fantasia, o terror e o suspense. Nos últimos anos, ele entregou dois filmes completamente distintos: Círculo de fogo, uma ficção científica mais pop, mostrando a invasão de monstros (kaijus), na Terra, e A colina escarlate, com uma história mais clássica, sempre com uma parte técnica irretocável. E, apesar de se inspirar muitos em fábulas e lendas populares, ele sempre foi reconhecido pela originalidade. Por isso, a polêmica que surgiu de que seu novo filme, A forma da água, fosse inspirado sem dar crédito à peça teatral Let Me Hear You Whisper, do ganhador do Pulitzer Paul Zindel, surgida na semana passada, talvez coloque seu favoritismo ao Oscar ameaçado. Se a premissa de seu filme é igual à da peça (que também virou filme, em menor escala, nos anos 90), ainda assim a obra de Del Toro pode ser vista como, mais do que uma relação estranha, um retrato de época. Diretor também dos dois primeiros Hellboy e um dos roteiristas da trilogia O hobbit, o mexicano é uma referência do gênero de fantasia, no sentido mais épico.
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7w0
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraO tradicional diretor James Ivory, conhecido por seus filmes históricos dos anos 80 e 90, alguns de notável qualidade, adaptou o romance de André Aciman para este filme dirigido pelo italiano Luca Guadagnino, influenciado aqui especificamente por Eric Rohmer, aquele de Pauline na praia. Ele mostra a trajetória de Elio (Timothée Chalamet), de 17 anos, que vive numa área rural da Itália com seus pais, Sr. Perlman (Michael Stuhlbarg) e Annella (Amira Casar). O pai é um estudioso de arquelogia e recebe um estudante de pós-graduação, Oliver (Armie Hammer), para ficar com a família no verão de 1983 e ajudá-lo a catalogar novas peças. A casa é um verdadeiro oásis: lembrando as paisagens de Um bom ano, de Ridley Scott, este interior da Itália é um convite a um passeio, e a bela fotografia de Sayombhu Mukdeeprom consegue mostrá-las de modo atrativo.
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7rr
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraO diretor Steven Spielberg é um dos grandes nomes indiscutíveis do cinema. Ter realizado Encurralado, Tubarão e Contatos imediatos do terceiro grau nos anos 70, e Os caçadores da arca perdida, E.T., A cor púrpura e Império do sol nos anos 80 já é motivo suficiente para ter seu nome entre os maiores da história. No entanto, a partir dos anos 90, mais especificamente depois de Jurassic Park, Spielberg foi aos poucos se afastando do gênero da fantasia e mais fantástico – no qual se destacou também como produtor –, incorporando filmes com elementos históricos, a exemplo de A lista de Schindler, Amistad e O resgate do soldado Ryan.
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7uz
Liga da Justiça
3.3 2,5K Assista AgoraCom a recepção crítica de Batman vs Superman, logo antes de iniciarem as filmagens de Liga da Justiça as expectativas estavam voltadas para o fato de Zack Snyder continuar como diretor ou não. Ele realizou o filme, no entanto, antes da finalização, precisou se ausentar devido a uma tragédia pessoal: o suicídio de uma filha sua. Para refilmar cenas e escrever e dirigir outras, foi chamado Joss Whedon, responsável pelos dois Vingadores. Ele assina o roteiro ao lado de Chris Terrio (Argo), um dos roteiristas de Batman vs Superman. Ocorreram outras mudanças, como na trilha sonora – Danny Elfman substituiu Junkie XL –, e a discussão passou a ser, antes do lançamento: este seria um filme realmente de Snyder?
Crítica completa: wp.me/p2lvhr-7gf
Patti Cake$
3.6 33Possíveis spoilers a seguir:
O diretor Geremy Jasper tem sua estreia à frente de um filme com este inusitado "Patti Cake$". Com produção, entre outros, de Chris Columbus (mais conhecido pelos roteiros de "Gremlins" e "Os Goonies" e dirigir dois "Esqueceram de mim" e os primeiros "Harry Potter") e do brasileiro Rodrigo Teixeira, ele conta a história de Patricia Dombrowski, ou, simplesmente, Patti (Danielle Macdonald), uma jovem obesa, que vive num bairro de periferia tentando obter rimas para seus raps. No entanto, ela é chamada de Dumbo e apenas seu amigo Jheri (Siddharth Dhananjay) a leva a sério. Enquanto cuida de sua avó, Nana (Cathy Moriarty, excelente), precisa ver sua mãe, Barb (Bridget Everett), cantando no mesmo bar onde atende. A mãe gostaria de ter tido uma carreira musical, mas em razão do compromisso a com filha não pôde se dedicar.
O diretor Jasper mostra um talento muito grande para encadear uma sequência de conflitos críveis e por vezes engraçados. Muitos apontam semelhanças com "8 mile", com Eminem, e realmente há, mas esta obra parece mais humana sobretudo por causa de Macdonald, excepcional no papel central, e Everett, como sua mãe (ambas mereciam ser indicadas ao Oscar).
Patti, que tem o nome artístico Killa P, tem como ídolo um rapper, OZ (Sahr Ngaujah), e conhece um músico, Basterd (Mamoudou Athie), um afroamericano rebelde que pode lhe proporcionar a capacitação sonora que sua música precisa. O que chama a atenção em "Patti Cake$" é como ele não se leva a sério no bom sentido, parecendo realmente dar vida a uma personagem que representa muitas outras renegadas pelos "pilares" culturais de uma sociedade. Nisso, o filme lida com relação entre fã e ídolo e rivalidade entre mãe e filha de modo tocante. O visual do filme, baseado no recente "Tangerine", possui cores vibrantes e um movimento contínuo, reforçado por uma trilha sonora de ótimo nível. A canção que Patti faz com seus companheiros e toca num momento-chave é um hit de rap poucas vezes ouvido.
Dunkirk
3.8 2,0K Assista Agora"Dunkirk" é primoroso na parte técnica, mas parece se ressentir de uma construção mais elaborada dos personagens. O objetivo de não desenvolvê-los não é compensado pela tensão da guerra. Ver mais: wp.me/p2lvhr-6KQ
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista AgoraO texto abaixo apresenta spoilers.
Depois de "A árvore da vida", Terrence Malick resolveu partir para um cinema baseado essencialmente na solidão da vida contemporânea, mesmo que busque, como em toda sua filmografia, a formação de casais. Foi assim em "Amor pleno", "Cavaleiro de copas" e agora em "De canção em canção". Se em "Amor pleno", o personagem central casava com uma europeia e ambos vinham morar no Texas edênico de Malick, em "Cavaleiro de copas" acompanhávamos um roteirista em Hollywood, Rick, que tinha problemas familiares e não conseguia nunca estabelecer ligações afetivas verdadeiras com as mulheres. Em "De canção em canção", Malick apresenta quatro personagens centrais, embora o principal pareça ser Faye (Rooney Mara). Ela se apaixona inicialmente por BV (Ryan Gosling), um aspirante a músico igual a ela, bastante promissor, na cena musical do Texas. Ambos têm por perto o empresário Cook (Michael Fassbender), que se sente a ameaça, nesse sentido, para um amor que possa existir entre eles. Quando Cook entra em contato com a garçonete Rhonda (Natalie Portman, nunca tão bem fotografada e com uma atuação do nível de "Cavaleiro de copas"), junta-se uma figura que irá estabelecer a ligação entre o universo musical solto e uma tentativa de transcendê-lo. Além disso, Rhonda busca a segurança material que Cook pode lhe conceder. As ligações entre eles são indefinidas, a não ser quando Cook e BV viajam com Faye para o México, e se subentende que possa haver um relacionamento entre eles - que se manifesta com clareza mais adiante.
Novamente com fotografia do grande Emmanuel Lubezki, "De canção em canção" é, de longe, o filme mais difícil, em forma estrutural, de Malick: mesmo que nos anteriores não tivéssemos histórias lineares, o novo Malick se sente realmente um produto experimental da indústria. Completamente ignorado nos cinemas (não arrecadou sequer 450 mil dólares) e desabonado pela crítica, esse é um cinema que não se preocupa com a recepção. Depois de mostrar um pôster gigante de Arthur Rimbaud numa parede, Malick está mais interessado no "desregramento dos sentidos" que pregava o poeta francês, uma visão simultânea desses personagens e de suas peregrinações pela vida. Tudo se sente ao mesmo tempo desencaixado, solto, e vinculado. Faye está à procura de um amor, mas não sabe exatamente o que deseja. Procura numa artista francesa, Zoey (Bérénice Marlohe), sua tentativa de encontrar consigo mesma.
Embora haja participações do Red Hot Chili Peppers, Patti Smith e Iggy Pop em diferentes momentos, "De canção em canção" não pretende construir um mosaico musical da vida moderna. Ele pretende mais mostrar como cada existência é governada por dissonantes acordes, que às vezes não seguem a mesma faixa. Rhonda tem uma relação próxima da mãe (Holly Hunter), assim como Gosling tem da sua (Linda Emond) - e em determinado momento precisa cuidar do pai (Neely Bingham) - e Faye do seu pai (Brady Coleman), todos sem nome próprio, como convém à tentativa de Malick em ser universal. O único que parece solto é exatamente Cook.
Mesmo para um filme de Malick, "De canção em canção" se mostra surpreendentemente sem um eixo certo: ele não caminha estabelecendo pontos e sim sensações, como a entrada em determinado momento da personagem Amanda (Cate Blanchett). E em que ordem, afinal, a história acontece? O início e o final conseguem dar um pouco de noção quanto a isso, no entanto é insuficiente para se ter certeza.
Malick, como em "Cavaleiro de copas" e "Amor pleno", usa a arquitetura das casas para falar dos personagens, cria analogias entre pássaros na natureza e de madeira pendurados no teto da sala, distribui uma porção de cenários em que os personagens se sentem ou mais solitários ou em busca de companhia: rios, piscinas de casas, estacionamentos, casas onde moram ou de suas famílias, o contraste entre interior e cidade, a tranquilidade da varanda e o caos dos shows. Todo o cuidado cênico se manifesta em cada sequência.
Temos os personagens novamente à procura de afeto: Malick utiliza sua obsessão em filmar o corpo humano em momentos descompromissados e atrativos, com narrações em "voice over" que alternam a descrição de cada personagem para o que estão sentindo. Como em "Cavaleiro de copas", Malick não está interessado exatamente pela indústria que serve de pano de fundo para tais personagens e seus comportamentos: tudo é motivo para vislumbrar fragmentos da tentativa de pessoas diferentes existirem. Mara, para isso, tem uma contribuição notável para o filme, assim como Gosling, com quem mais contracena e se mostra em determinadas cenas um ator mais versátil ainda do que se mostrou em "Drive" e "La La Land". Portman é tremendamente humana e Fassbender, por sua vez, retrata o próprio vazio que parece cercá-lo. Um destaque também para o elenco coadjuvante de pais ou mães desses personagens, notável, mesmo com pouco tempo de atuação, e a inspirada Blanchett, mesmo com pouco roteiro (Christian Bale teria gravado cenas, mas foram descartadas, e Val Kilmer aparece brevemente como um roqueiro, lembrando um Jim Morrison que pretende integrar o Sonic Youth). "De canção em canção" vai exigir novas visualizações para se obter mais das camadas que Malick entrega. O que se tem, numa primeira sessão, é mais um dos grandes momentos do cinema, uma amostra de como tornar um filme numa verdadeira experiência, muito em razão novamente da arte conjunta de Malick e Lubezki.
A Lei da Noite
3.2 208 Assista AgoraPode-se sentir que em geral há uma preocupação grande com o que Ben Affleck possa ter sido ou vir ainda a ser, e "A lei da noite" acaba atraindo um comportamento crítico em geral que parece mais interessado no que ele estaria planejando do que de fato apresenta aqui. "A lei da noite" possui uma das narrativas de gângster mais focadas num personagem, no caso Joe Coughlin (Ben Affleck), um veterano da I Guerra Mundial e filho de Thomas (Brendan Gleeson), capitão da polícia de Boston. Ele está apaixonado por Emma Gould (Sienna Miller), amante do gângster Albert White (Robert Glenister), e pratica atividades criminosas, para preocupação do pai.
Isso é o começo de uma história que envolve ainda o mafioso Maso Pescatore (Remo Girone), gângsters na Flórida e a Ku Klux Khan.
Baseado num romance de Dennis Lehane, "A lei da noite" tem uma reconstituição de época notável e não por acaso era visto como um dos potenciais candidatos ao Oscar. Affleck tem a colaboração do diretor de fotografia Robert Richardson, habitual colaborador de Tarantino e Oliver Stone. Trata-se de um recorte histórico em que a vida de mafiosos se encaixa com a história da América e, principalmente, do preconceito existente nela, contra latinos e negros, a presença da Ku Klux Khan e a vigência da Lei Seca. Joe é um personagem indefinido entre uma certa gentileza e uma violência extrema, e Affleck consegue equilibrar essas duas facetas principalmente nas sequências em que empreende diálogos com amigos ou inimigos.
Ele conduz o início da trama com uma agilidade que repercute principalmente na segunda metade, mais interessada em fazer analogias entre religião e cinema, violência e arte, culpa e constituição de uma família. Do elenco, não apenas Affleck está bem (como, este ano, em "O contador"), mas, principalmente, Gleeson, Cooper, Maher, Girone, Miller e Fanning, esta num diálogo comovente com Joe em determinado momento, mostrando seu talento.
Quase não há mais filmes de gângsters e, se tratam de uma influência de "Ajuste final", dos irmãos Coen, acredito que há mais de "Os intocáveis", "Dália negra" e "Dick Tracy" (os tiroteios são filmados com uma precisão irretocável), além de "Inimigos públicos", de Michael Mann, principalmente na maneira como Affleck apresenta seus personagens. Não saberia determinar por que este filme é recebido com tanta frieza, mas eu apostaria num certo distanciamento desse gênero. O roteiro, cheio de subtramas, se esclarece como poucas obras conseguem. Se este filme não é uma das realizações do ano, difícil saber muitas outras que seriam. É uma obra de gângsters intimista, feito à moda antiga, fascinante, com um olhar quase europeu por Affleck.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraEste filme belíssimo não é decisivamente sobre passar por cima dos outros para chegar a seus sonhos. Ele mostra, como poucos filmes, que mesmo dentro dos sonhos realizados não há perfeição e a melancolia que se almeja não ter em nenhum momento a partir do sucesso é um plano que não pode ser concretizado. É essa a mensagem que o filme parece passar... e o faz de maneira perfeita.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraCrítica sobre "A chegada": wp.me/p2lvhr-5Ft
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraCrítica sobre o filme: wp.me/p2lvhr-5ul
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista AgoraCrítica sobre o filme: wp.me/p2lvhr-5BV
A Criada
4.4 1,3K Assista AgoraTexto com possíveis spoilers
O diretor coreano Chan wook-Park teve uma recepção exitosa com seu filme "Oldboy", em 2003, no Festival de Cannes, quando foi elogiado por Quentin Tarantino. A partir dele, transformou-se num cineasta reconhecido, e em 2009 realizou uma das obras de vampiro mais originais já feitas, "Sede de sangue". Em 2013, finalmente estreou em Hollywood, com grande elenco, incluindo Nicole Kidman e Mia Wasikowska, em "Segredos de sangue". Se Park não perdia seu talento na direção de arte e fotografia, o filme era repleto de maneirismos e contorcionismos de roteiro que diminuíam o impacto final.
Já "The handmaiden", passado na Coreia dos anos 30, é dividido em três partes, e cada uma delas se dá sob um ponto de vista diferente. O Conde Fujiwara (Ha Jung-Woo) pretende conquistar uma nobre coreana, Hideko (Kim Min-Hee), sobrinha de Kouzuki (Jin-woong Jo), um colecionador de livros eróticos raros. Para isso, ele tem ajuda de Sook-hee (Kim Tae-Ri), uma mulher de classe baixa, batedora de carteiras, que ele coloca como serva de Hideko a fim de convencê-la a se apaixonar por ele.
Kim Min-Hee e Kim Tae-Ri estão brilhantes em seus papéis, principalmente quando a história começa a tomar rumos imprevisíveis. A relação entre Hideko e Sook-hee primeiramente é baseada numa ingênua confiança de parte a parte, mas o que o diretor não revela é como o passado da nobre a ser conquistada pelo Conde deve explicações a essa narrativa, e o Conde não é exatamente aquilo que se espera.
A fotografia de Chung-hoon Chung e o desenho de produção de Seong-hie Ryu, um habitual colaborador também de Joon-ho Bong, alimentam visualmente esta obra baseada em "Fingersmith", de Sarah Waters, com razoáveis mudanças. Não sendo fã de "Oldboy", esta me parece ser a obra-prima de Park, um filme tão simples quanto minucioso em seus detalhes e mudanças de rumo narrativas. É interessante como Park utiliza elementos de filme de terror em meio a um cenário de gueixas e cerejeiras (aliás, um dos símbolos máximos não apenas do Oriente, como do destino de algumas das personagens mostradas aqui). Ele também faz analogias entre a biblioteca e o quarto, o sexo com perversão e signos da natureza (como a lua), a atração corporal e a dor que pode se manifestar em algumas circunstâncias. É um filme com alto teor emocional mesmo parecendo, na maior parte do tempo, frio e distante.
O filme lança os homens no lado oposto das mulheres: para Park, elas assumem seus papéis, enquanto eles fingem assumi-los e, quando o fazem, nunca saem de seus esconderijos. "The handmaiden" é um filme bastante psicológico em vários sentidos, e absolutamente simétrico em suas escolhas. O que seria ele? Um drama nos moldes vitorianos transportado para o cenário asiático? Um thriller? Um filme sobre a violência subjetiva? Ou é um filme de costumes excêntricos com tendência ao erótico em algumas cenas belissimamente filmadas?
Há uma cena mais ao final mais violenta e mais próxima da filmografia do diretor, mas mesmo nela se subentende que há uma negação do prazer proporcionado pelo homem. "The handmaiden" não parece, contudo ele consegue demonstrar mais a libertação feminina do que muitas obras com esse intuito. Nesse ponto, é quase um filme satírico sobre como o homem pode imaginar seu domínio sem obtê-lo de fato. É um grande filme, um dos mais notáveis do ano.
O Homem nas Trevas
3.7 1,9K Assista AgoraO homem nas trevas, como construção de filme, é um verdadeiro susto: eis uma obra que incorpora uma ideia simples e não a expande, ou ao menos a expande apenas em se tratando de lugares-comuns. Não apenas o elenco tem uma atuação superficial, como não parece ter acontecido um acabamento em termos de montagem. Aqui há apenas escombros de uma narrativa, e lamenta-se que o diretor não mostre o mesmo talento de seu longa de estreia, principalmente na construção de uma atmosfera (e mesmo tendo aqui o mesmo produtor para auxiliá-lo, Sam Raimi), tentando, na verdade, apenas estabelecer uma franquia com proposta tão curta quanto seu alcance
Wiener-Dog
3.2 57Texto com spoilers:
Foi nos anos 90 que Todd Solondz construiu sua reputação de diretor excêntrico e corrosivo com dois filmes, "Bem-vindo à casa de bonecas" e "Felicidade", com personagens completamente desprovidos de qualquer previsibilidade. Passaram-se quase 20 anos para que ele voltasse em grande estilo com este "Wiener-Dog". Este não é um filme para todo espectador, mas, sinceramente, me parece aquele tipo de obra que pode ser, mais do que excêntrica, extraordinária.
Solondz seleciona um cão da raça dachshund (no Brasil, o conhecido "linguicinha") que ajuda a entrelaçar algumas histórias. Na primeira, um pai, Danny (Tracy Letts), traz a seu filho Remi (Keaton Nigel Cooke), que acabou de enfrentar um câncer, um cãozinho fêmea dessa raça. No entanto, ela deve ser castrada, o que rende conversas difíceis de Remi com sua mãe, Dina (Julie Delpy).
Na segunda história, o cão descobre uma segunda dona, a enfermeira veterinária Dawn Wiener (Greta Gerwig), o mesmo nome da personagem de "Bem-vindo à casa de bonecas". Ela, determinado dia, encontra um antigo interesse de escola, Brandon (Kieran Cullkin), com quem sai de viagem para Ohio, onde encontrará Tommy (Connor Long), e April (Bridget Brown). Sempre com o cão a tiracolo.
Na terceira história, Danny DeVito é um roteirista de cinema, Dave Schmerz, que dá aulas numa universidade e circula com seu cão para cima e para baixo, em meio a uma vida de solidão, à espera de notícias de novos trabalhos, para, finalmente, na quarta, vermos Nana (Ellen Burstyn, lembrando imediatamente "Réquiem para um sonho"), uma idosa, receber a visita de sua neta Zoe (Zosia Mamet), acompanhada seu namorado Fantasia (Michael Shaw, engraçado).
Além do roteiro bem desenvolvido por Solondz, com atos que não se diferenciam em demasia, sem recorrer a truques, a não ser um intervalo como se o cão participasse de um videoclipe, "Wiener-Dog" apresenta um elenco multiestelar, todos em grande momento, desde Delpy e Gerwig, passando por Culkin e DeVito, até Burstyn. Todos estão excepcionais, sem exceção. Especialmente Gerwig e DeVito entregam atuações de colocar o espectador em suspensão.
O diretor de fotografia é Edward Lachmann, responsável por imagens de "Carol" e "Longe do paraíso", ambos de Todd Haynes, e "As virgens suicidas", de Sofia Coppola, com o qual guarda semelhanças estéticas. Tudo é multicolorido, mesmo que a realidade seja fora desse tom vibrante. O cão simboliza a aventura dos personagens ou sua solidão ao longo da América. "Clair de Lune" é usada para fazer um contraponto à sua presença incômoda por vezes, em determinado momento.
"Wiener-Dog" é estranho e, ao mesmo tempo, inserido no cotidiano. É sarcástico e pesado e, ainda assim, muito humano. É sensível sem cair na pieguice. É mesmo reflexivo, quase uma aula de como fazer cinema com uma ideia simples e sem soar pretensioso. Trata da vida e da morte, dos laços feitos e desfeitos, de mágoas guardadas ou sonhos a serem atingidos. Dentro de seu humor corrosivo, é também um dos mais engraçados a que assisti nos últimos anos.
O Mar de Árvores
3.3 92 Assista AgoraApós assistir ao filme mais recente de Gus Van Sant, vaiado no Festival de Cannes, quando exibido no ano passado, tive aquela mesma curiosidade que, às vezes, tenho e não deveria: ver qual seria a média de aprovação dessa obra no Rotten Tomatoes. Obviamente, os 9% de aprovação não me surpreenderam, afinal os críticos reunidos lá são considerados os mais representativos.
O roteiro de Chris Sparling certamente é o alvo da maior parte das críticas, com suas simbologias orientais. Arthur Brennan (Matthew McConaughey) é um professor de ciências que parte para o Japão, a fim de cometer suicídio em Aokigahara, à margem do Monte Fuji. Lá, ele encontra Takumi (Ken Watanabe), que lhe conta ter perdido o emprego. Logo, o desentendimento inicial se transforma numa aproximação de duas culturas diferentes. E, nisso, vêm à tona histórias sobre Joan (Naomi Watts), esposa de Arthur. Tudo é uma grande representação do processo de depressão que atravessa o filme de ponta a ponta, seja nas imagens da floresta, seja em como os personagens vão se machucando, como se buscassem o autoflagelo, e enfrentam uma inundação, como num renascimento. Ele se sente mais perto de "Inquietos", em que Van Sant mostrava a obsessão da juventude pela morte e pelo luto, sendo menos acessível em alguns pontos.
Claro que a crítica representativa enxergou na obra uma maneira de tripudiar sobre seus flashbacks e seu tom dramático (é a mesma que viu em "Old joy", muito parecido com este, espetacular). É muito fácil isso quando o Van Sant mais elogiado é o minimalista (e por vezes tedioso) de "Últimos dias" e "Gerry". Mas "The sea of trees" também é excessivamente fácil para quem deseja um novo "Elefante" ou "Paranoid Park", em que o processo de luto era mais subjetivo. Este, porém, é o diretor que também fez peças entre o indie e o comercial, a exemplo de "Gênio indomável", "Encontrando Forrester" e "Garotos de programa". E a crítica em geral sequer ter visto as grandes atuações de McConaughey, Watts e Watanabe, principalmente do primeiro, em mais uma jornada feliz, parece acima de tudo de grande injustiça. O filme tem momentos realmente sentimentais e revigorantes e mostra como "Livre" poderia ter sido um grande filme não se excedesse nos flashbacks. E temos o acerto na fotografia de Kasper Tuxen, com mínimo de cores e ainda assim atrativa.
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraTexto com spoilers:
O cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn pode ser visto como um dos mais polêmicos hoje em dia. Não que a sua trajetória se inscrevesse com essa qualidade em "Drive", filme com Ryan Gosling posando de dublê de cenas com carros em Hollywood, mas principalmente por causa do filme seguinte, "Apenas Deus perdoa", com sua violência literal nas ruas de Bangkok. Este segue sua filmografia anterior a "Drive", como em "Bronson", filtrado por "Laranja mecânica", porém, sobretudo, os filmes da saga "Pusher", com uma violência ainda mais intensa. "Drive", sob qualquer ponto de vista, ainda é um divisor de águas em sua carreira: com seus sintetizadores emulando os anos 80, nas notas de Cliff Martinez, repercutiria no filme seguinte, e agora em "Demônio de neon", agora desprovido de qualquer romantismo.
Não por acaso, o novo filme de Refn se situa entre o suspense e o terror. A sua principal influência é muito clara: "Suspiria", a obra-prima de Dario Argento, dos anos 70. Se naquele filme uma estudante de dança chegava a uma academia alemã de influências sobrenaturais (que se tornaria mais real em "Cisne negro"), em "Demônio de neon", Elle Fanning interpreta Jesse, uma menina de 16 anos que vem do interior, sem pais, para fazer carreira de modelo em Los Angeles. Ela primeiro faz uma sessão de fotos com o Dean (Karl Glusman, de "Love"), onde conhece a maquiadora Ruby (Jena Malone). Em seguida, ela apresenta o book a uma agência de modelos, tendo à frente Roberta Hoffman (Christina Hendricks). A maquiadora, numa festa, a apresenta a suas duas amigas, Sarah (Abbey Lee) e Gigi (Bella Heathcote). Claramente, Refn posiciona Jesse como uma espécie de Alice no país das perdições, com seu figurino de moça inocente e ingênua. Em seu encontro com Dean, numa colina de Los Angeles, à luz do luar, ela diz não ter outros atributos a não ser a beleza. E é essa lua que antecipa o verdadeiro horror de "Demônio de neon". Hospedada num hotel, clara referência a "Psicose", em seus letreiros, em que o gerente, Hank (Keanu Reeves), age de forma pouco convidativa a conversas e como um cafetão, Jesse é uma espécie de personagem de Naomi Watts em "Cidade dos sonhos". Basta reparar na maneira como Refn retrata as cores de seu quarto. Ela pertence a um universo da fantasia. Nesse universo, oposto ao real, ela se sente em casa. No entanto, quando passa, a partir de um desfile para o designer de moda Robert Sarno (Alessandro Nivola), a ser uma das preferidas do mundo da moda, suas antigas conhecidas passam a vê-la ainda mais como uma ameaça. Elas não têm o que conversar entre si: enquanto as antigas modelos falam em plásticas e sexo, Jesse tenta emular uma vida que nunca teve.
Naturalmente, "Demônio de neon" tem um objetivo muito claro: ser uma crítica ao universo da moda. Parece fazê-lo de modo simples, quando na verdade percebe-se que Refn atinge seus detalhes e nuances de modo mais indireta. Os símbolos, como o da lua ou do gato selvagem, e mesmo de três triângulos em neon (que representam a passagem de Jesse para outro universo, como o cubo de "Cidade dos sonhos"), ou de Hank como uma representação do falo masculino, são uma síntese da personagem. O personagem Dean é uma espécie de príncipe encantado, a figura certamente mais despretensiosa do filme, enquanto os outros personagem observam Jesse como se ela fosse uma vítima a ser perseguida - e Refn constrói essa tensão por meio de olhares, sobretudo da personagem da maquiadora em relação a ela. Ou vejamos a maneira como o fotógrafo Jack (Desmond Harrington) a olha durante a sessão de fotos, em que a configuração visual remete a "THX 1138", de George Lucas. A obsessão pela juventude é tão perturbadora quanto em "Fome de viver", filme dos anos 80 com David Bowie e Catherine Deneuve.
Refn tem um interesse em aproximar o universo da fotografia e da modo de um universo cadavérico. Para ele, as pessoas estão sempre fazendo poses, imóveis ou querendo ser invisíveis, como se fossem, como diz Gigi, em determinada altura, fantasmas. Gigi também pergunta a Jesse como é ser o sol num dia de inverno, e, ao final, sua metáfora parece justamente se mostrar ao contrário. E, mesmo Jesse sendo uma pessoa real, sua fachada sempre lembra uma fina camada de porcelana; é como se, de fato, fosse uma boneca humana. Refn a aproveita aqui, muitas vezes, como Coppola o faz em "Virgínia".
O que se pode dizer é que "Demônio de neon" atravessa uma linha que poucos filmes se arriscam a fazer. Não apenas o roteiro de Refn, em parceria com Mary Laws e Polly Stenham, é enigmático, como ingressa, em seus 20 minutos finais, em situações nas quais o cinema pouco pisou, sob uma perspectiva mesmo histórica. É quando Refn mais se mostra desagradável como em vários momentos de "Apenas Deus perdoa" e, justamente, consegue arrematar sua visão sobre o mundo da moda e do que se considera belo. Seu filme é construído com uma fotografia perfeccionista de Natasha Braier ("The Rover"), com cada tiro lembrando uma pintura, e ainda assim o que ele tem a trazer aqui é que, por baixo de toda a beleza, há doença e uma terrível desesperança. Nesse sentido, é um filme mais melancólico do que "Drive" e "Apenas Deus perdoa", que ainda lida com certos elementos românticos. Em "Demônio de neon", é como se Refn admitisse que não há espaço para nenhuma idealização, representada por Jesse, principalmente num universo em que ela é uma estranha, mesmo parecendo ser bem recebida. É como se ela entrasse num bosque do qual não pode voltar justamente no momento em que se depara com os triângulos de neon.
Como Jesse, Elle Fanning está excepcional, mostrando como a atriz de "Super 8" e "Um lugar qualquer" realmente tinha um talento especial, mas é Malone, Lee e, principalmente, Heathcote que conseguem lidar com papéis difíceis. Karl Glusman é um ótimo ator aqui, também, assim como Keanu Reeves faz uma boa participação especial (lamentando-se que Hendricks tenha apenas uma cena).
Entende-se perfeitamente que o espectador não goste deste filme ou se sinta mesmo revoltado com suas premissas, mas é inegável que Refn consegue avançar num terreno que se mostrava inexplorado talvez desde David Lynch em "Twin Peaks - Os últimos dias de Laura Palmer", também, como ele, vaiado em Cannes. No filme de Lynch, tão surrealista quanto este, a ameaça à personagem central se dava de maneira tão contundente que de uma série bem-humorada o espectador passava a um ambiente bem mais próximo do horror e do assustador. Esta parece ser a mesma trajetória visualizada por Jesse. De qualquer modo, Refn não esclarece direito quem seria essa personagem, assim como o motorista de "Drive". Não há nela um sentido de humanidade exato. Ela está durante toda a história entre a realidade e o sonho, e sua realidade é permeada de comportamentos estranhos. Este não é um filme fácil; pelo contrário, é perturbador, pois entrega algo totalmente diferente do que aparenta por suas imagens belíssimas.
Duna
2.9 412 Assista Agora"Duna" sempre vai atrair alguns argumentos: o filme não está à altura da carreira de David Lynch; a adaptação que Jodorowsky teria feito seria melhor; e foi uma má adaptação do romance de Frank Herbert. Tendo sido levado ao livro por causa do filme de Lynch, eu acredito que o cineasta americano o adaptou com esforço. Ele é fiel em muitos aspectos (principalmente na versão estendida de 3 horas não assinada pelo diretor) e ficaria feliz se Lynch entregasse seu corte, o que dificilmente, hoje, irá acontecer. Ele tem muitos elementos que Lynch usaria mais tarde em sua trajetória, em filmes como "Veludo azul", "Twin Peaks", "A estrada perdida" e "Cidade dos sonhos" (sugiro a quem diz o contrário ver que muitas simbologias de "Duna" estão nesses filmes). Em segundo, nunca saberemos se a versão de Jodorowsky seria melhor (fica no "se", o que não funciona no cinema); certamente seria mais surrealista, mas não que seria melhor. O filme é um trinfo de design de produção e figurinos, além da trilha sonora do grupo Toto, e, apesar dos efeitos visuais irregulares, possui uma força especial. Kyle MacLachlan está ótimo no papel principal, assim como o elenco de apoio faz uma boa participação (principalmente McMillan como o vilão). A versão de Lynch possui uma segunda metade muito apressada; a versão estendida, neste caso, é a mais indicada. No entanto, isso não tira do filme o status de ser um dos mais subestimados da história do cinema.