"Frozen" poderia muito bem ser um dos filmes cantantes da Barbie.
É a Disney repetindo sua fórmula de maneira piegas, moralista, previsível e extremamente corrida. E, como sempre, fazem um personagem carismático, o Boneco de Neve neste caso, para deixar o programa menos insuportável.
E 2013 provando ser um ano fraquíssimo também para o Cinema de animação.
A Árvore da Vida é um filme sensorial. Um Cinema que transcende sua linguagem, um trabalho de ruptura estilística, que transita entre o filme de ficção e o vídeo-arte. Uma experiência imagética ímpar, com um rico e elegante uso do som, carregado de uma trilha suave, penetrante, embalando o clássico num filme amplamente moderno, que certamente se destaca por sua originalidade e maestria da parte do diretor, Terrence Mallick.
É sobre a vida. Sobre o homem. Sobre o cosmo. Sobre o caos. O princípio do mundo e o surgimento da civilização. Os sentimentos primitivos do homem, seus instintos, que permutam nos dias atuais. É atemporal, embora se usufrua de contextos históricos. Não há época para que o mal transite a terra, ou o coração. Não há momento específico para se fazer uma ode à vida, ou sua ausência. Não há tempo que difere o amor de agora com o amor de outrora. O amor que destroi, que contamina, mas que instiga, que queima.
Primazia em técnica, sobressaindo-se a fotografia espetacular, deformada, hiper-realista, geométrica, a câmera busca mostrar a autonomia da imagem, a transição dos personagens em momentos aleatórios, improvisados, priorizando a ação do entorno. E vemos isso quando os pés da personagem pisam na areia úmida e posteriormente beijam as águas do mar, ou quando uma borboleta pousa de forma mágica em sua mão.
Um filme-magia.
A magia está naquilo que é mostrado. No Big-Bang, nos animais pré-históricos, no fogo. A magia está no amor que transforma, na ira que arde, no rancor que se intensifica. A magia é a aura do filme, que tendenciosa a um lado espiritualista, questionando o destino atroz, ou o silêncio divino.
Sua narrativa não linear, a montagem fragmentada, distancia o espectador. O espectador torna-se mais um elemento do filme. Um novo corpo que mergulha na tela, afinal, é um filme também sobre ele. Sobre nós.
A magia está na capacidade do Cinema em nos transformar, em fazer com que viajemos no tempo. O tempo empírico. O tempo imaginativo. Invisível.
Claro, é aquele humor escrachado do Jackass, ou seja, tem momentos de muito mau gosto, mas é um filme divertido de se ver com os amigos, por exemplo. Consegue entreter, isso graças à química perfeita entre Knoxville e Jackson Nicoll. (E Spike Jonze mais uma vez produzindo as besteiras dessa galera, sendo até mesmo um dos co-roteiristas.)
Achei bacana este híbrido de "programa de gags" com ficção, envolvendo ainda o gênero roadmovie.
Enfim, esquecível, sim, mas garante alguma diversão.
Mediano. De longe, o trabalho mais fraco de McQueen, infelizmente.
Achei melodramático e arrastado. Tem uma cena realmente impressionante, mas todo o resto é bastante comum; nada de novo nos moldes "filme americano sobre a escravidão".
Nunca melhor do que a obra-prima "Hunger", ou o ótimo - e ainda assim excessivo - "Shame". Superestimado...
Achei que tinha visto de tudo na vida até me deparar com "FREAK ORLANDO", filme que estava dentro da retrospectiva da cineasta alemã Ulrike Ottinger no Festival do Rio 2013, e que o CineSESC agora também está exibindo.
Para vocês terem noção, é como se Jodorowsky, Pasolini e Fernando Arrabal se encontrassem para construir esta preciosidade do Cinema, separada em 5 partes que contam a história do mundo, tendo como base o romance "Orlando" de Virginia Wolf, mas que remete mais claramente ao universo d'A Divina Comédia de Dante Alighieri, sem contar, claro, uma forte influência do clássico "Freaks" (inclusive, tem uma cena de jantar maravilhosa em que eu jurava que iriam cantar "One of Us We Accept Her").
É impressionante o cenário surrealista, bizarro e perturbador que a diretora consegue criar. O filme só apresenta uma forma decifrável lá pelos 100 minutos, e até lá o que nos é oferecido é um verdadeiro show de horrores, cores e símbolos. Há uma preocupação estética notável. Há cenas de grande beleza plástica, minuciosamente fotografadas, lembrando quadros. É também curioso como os elementos da androgenia e da sexualidade se proliferam ao longo do filme. No universo de "Freak City", não existe distinção de sexo. Mulheres possuem barbas (por sofrerem desilusões amorosas), e quase todos os humanos (?) são assexuados.
Mas diante de tanta bizarrice, sem dúvida alguma a cena que mais martelará em nossas mentes para sempre é quando uma versão feminina de Jesus (com barba), pregada na cruz, canta uma ópera-rock em que questiona seus poderes e intervenções divinas, enquanto um dry martini lhe é servido.
O filme ainda terá uma exibição no Cinesesc e é obrigatório aos cinéfilos. Como é impossível achá-lo na internet, é uma experiência única, imperdível!! Além disso, a exibição em película, enaltecendo as cores em Techinicolor, só aumenta a mística por trás do filme.
"O Próximo Filme" é uma realização francesa que vendia algo interessante em sua sinopse, mas que demonstra-se insípida, pedante, com a classe média francesa, de alta cultura, deparando-se com o envelhecimento, envelhecimento físico e criativo. Era uma das minhas maiores apostas da Mostra, e só foi um filme bem mediano, com ares impressionistas, meio que um "docudrama" familiar, que acaba por irritar gradativamente. No fim, deixa um gosto doce, provocado certamente pela bela música de Marie-Jeanne Sérero, mas um gosto esquisito, esquecível. Próximo filme!
Drama fotografado brilhantemente em PB, transparecendo a frieza e a desolação da Segunda Guerra. Linguagem neorrealista; a criança vitimada sofre perdas. Ucrânia Ano Zero.
Também lembra muito o Cinema da década de 50/60 do Bergman, e os recentes trabalhos de Bela Tarr. Poesia. Poesia Melancólica. Mas, para mim, uma poesia com carência emotiva, puramente estética. Bonito e fantasmagórico.
"Um Toque de Pecado" mostra, de maneira bastante exagerada, a violência se inserindo na vida de pessoas comuns. Dividido em episódios, o único destaque se dá ao primeiro, em que a justificativa da violência é a mais crível, uma violência estetizada, silenciosa. Os restantes são irregulares, chatos, tendo personagens apáticos e desmotivados. É um filme a la Takashis. Cada plano grita Miike e Kitano.
É o primeiro filme que assisto de Jia Zhang-ke, um "batismo" de sangue insípido e inodoro. No entanto, irei atrás dos outros trabalhos do diretor, esperando me surpreender positivamente dessa vez.
Se existisse um gênero que categorizasse "La Jaula de Oro" seria "railmovie", um "roadmovie" sobre trilhos, que exala aventura, uma aventura nostálgica, perigosa. Logo no início, lembrei-me de um desses filmes de aventura que muito me marcou, "O Senhor das Moscas". Toda aquela criançada cheia de sonhos e fúria... Em "La Jaula de Oro", a brilhante estreia de Diego Quemada-Diez, acompanhamos um grupo de garotos imigrantes da Guatemala que anseiam viver o sonho americano. Não é só mais um filme sobre fluxos migratórios ilegais, é uma construção singular de narrativa e estética, uma estética seca, humanista. A poética do subdesenvolvimento, sem enfeites, construída por versos de lágrimas e suor. Fiquei perplexo ao término da sessão. Senti algo que há muito tempo não sentia. É um filme que arrepia, que açoita o peito. Que emociona com suas sutilezas, sem forçar a barra, tudo muito naturalista, sincero. Olhares! Olhares através de grades. Atrás delas. Das cercas. A que separa o mundo real da Disneylândia decrépita, a jaula, aparentemente de ouro, mas um ouro que aprisiona. Lindo é pouco! Obra-prima de um jovem diretor promissor. Pra ser aplaudida. De pé.
"Avanti Popolo" é sobre a persistência - e a resistência - da memória. O começo é bastante interessante. A linguagem utilizada é um mérito à parte, um excelente exercício de direção, diria até com experimentalismos, que permeia todo o filme. É muito bonito ver Carlão enchendo a tela. O Cinema eternizando a sua imagem. É também sobre isso, o eterno e o efêmero. As rachaduras nas paredes, as correias velhas de um projetor, a memória rebobinada, a vida seca em constantes buscas. Memória, memória, memória. O chiado, o filme na parede, as cabeças ditadoras, repressões do passado. Um passado vivo. De marcas. Avanti, popolo. Avanti, popolo. Bandiera rossa!
O grande êxito de "Lições de Harmonia" está em sua forma de "esconder" elementos, tratando a violência de maneira implícita, e, justamente por estar subtraída da trama, é que ela se torna poderosa. A decupagem cuidadosa atiça essa brutalidade, explorando o espaço físico e o posicionamento dos personagens. Tem um estudo corporal bastante interessante; corpos que se chocam, e se ferem, e se purificam, e "dançam" uma coreografia fria, silenciosa, harmoniosa. Mas toda essa singularidade vai se minguando no final. Nos finais. Uma pena. Mais um filme que se perde em bifurcações e que demora para achar o caminho de volta. Mas felizmente acha. E se ilumina, se purifica. Uma lição bem feita. Uma aula.
E os mexicanos este ano estão com tudo! "Club Sándwich" é um filme imperdível! Divertido, mostra o primeiro interesse amoroso de um garoto hospedado junto com a mãe num hotel, em época de baixa temporada. Ganharam uma promoção. Nesse relacionamento entre mãe e filho, um pouco do "complexo de Édipo". Ou um amor super-protetor. Íntimo. Muito próximo. Que se distancia, e se cala, com o surgimento de uma garota da sua idade. Hormônios. O bigode nascendo. O desejo sexual. O desejo da independência, o momento de crescer. Tudo muito bem construído, autêntico, delicado. Uma mescla de risos e emoção. Um presente.
"3x3D" é um deslumbre visual sobre os sentidos, e o sentido do Cinema.
Greenaway, sempre ousado, inventivo e esteta, faz uma espécie de "Arca Russa", e nessa "arca portuguesa", com personalidades em tableaux-vivants e letterings, é o que mais soube brincar com o 3D. Somos espectadores-visitantes nesse museu visual e sonoro de imediato fascínio.
Edgar Pêra, também muito experimental, prepara-nos para o filme de Godard, questionando o papel contemporâneo do Cinema e a sua relação com o espectador. Seu capítulo tem o nome "Espantar". O Cinema ainda espanta? O espectador médio, espectador-ator, se aliena? Filme barulhento, tomado por sobreposições e o nonsense. Ainda que interessante, é o mais fraco dos três episódios.
E, para completar, o capítulo de Godard, "Os 3 Desastres", e acho que não preciso explicar mais nada, rs. Fazendo um panorama do Cinema Mundial, utilizando imagens clássicas e cenas icônicas de Lang, Welles, Chaplin e Eisenstein, diante a tradicional poesia godardiana, o diretor francês faz um filme sem perder seu estilo, com o 3D em segundo plano, jogando os dados da sorte, da dúvida inerente, questionando o digital. O adeus à linguagem, com um gosto de "quero mais".
QUE FILME! QUE FILME! Fico me perguntando o porquê d'eu nunca ter ido atrás da obra do filipino Lav Diaz. Só tinha visto a um curta dele, no "Future Reloaded", projeto em comemoração aos 70 anos do Festival de Veneza. Quando fiquei sabendo da retrospectiva do cineasta na programação da Mostra, logo me interessei, no entanto, a filmografia de Lav Diaz é uma verdadeira epopeia, seus filmes possuem 6, 8, 11 horas de duração! Eis que hoje decidi tirar o dia para conferir a mais nova obra-prima do diretor, "Norte, o Fim da História", por ser praticamente um "curta" comparado aos seus trabalhos anteriores, com "apenas" 238 min.
QUE FILME! QUE FILME!
Minhas costas e pernas sentiram as horas, mas minha mente continua tranquila, cheia de pensamentos, ideias, discussões, mas não fatigada. O filme é tão absurdamente lindo que a gente não sente. Ele simplesmente flui, flutua. Dirigido com maestria, decupagem precisa, planos únicos, inesquecíveis. Esqueçam os contra-planos. Pense na ação. Na inércia da ação. No silêncio. Nos dialogos inspirados, transcendentais. Tarkovski. Bergman. Angelopoulos. Tá aí. Dostoievski, Marx. Tá tudo aí. Uma crítica ao fascismo, que ainda nos rondeia. Ao homem. E ao homem-monstro. E ao homem-que-se-transforma no monstro. A culpa. A espiritualidade. E a repressão. A mulher. O sangue. A força do trabalhador. A redenção. A perdição. Contrastes... Ah, Lav Diaz... Não te conheço muito, mas o senhor é um dos cineastas mais geniais que já vi. Aliás, te conheço. Debati. Conversei contigo. Apertei sua mão, Lav Diaz. Humano, sensível, exímio contador-criador de histórias. O começo e o fim delas.
Depois de cancelarem a sessão de "Algo no Lugar", tive que ver ao chinês "A Bala Desaparecida", que é uma cópia descarada do Sherlock do Ritchie. Fotografia, trilha-sonora, roteiros com reviravoltas toscas... E até o ator! Gente, pegaram um clone chinês do Robert D. Jr. Terrível.
Com um atraso de 1:30h da sessão, enfim começou "CÃES ERRANTES", e, até agora, é um dos mais densos e reflexivos da Mostra. O diretor utiliza uma linguagem riquíssima, que lembra muito o Cinema de Apichatpong, com planos longuíssimos e estetas, além de um excelente uso sonoro. Só vemos e ouvimos o necessário. É sobre perdas. Sobre afastar-se, a dificuldade de conviver com um amor-estranho. Um amor que incendeia paredes. Duro. Duro.
"O Lobo Atrás da Porta" é um grande exemplo de que nós temos potencial para o cinema de gênero, no caso, um suspense ou "neo-noir". Com uma direção requintada, a decupagem desse belo trabalho é tão impressionante que dificilmente você se esquecerá das imagens. E do som! Que som! A chuva, os trovões, o grito do trem... Os berros! A fúria dos personagens! Dos atores! E que atores! Leandra Leal, lindíssima, redimindo-se por "Mato sem Cachorro", e Milhem Cortaz, um monstro! Todos os coadjuvantes também muito bem em cena, e alguns simplesmente roubam o espaço e, assim, não o devolvem tão cedo! É um filme cheio de costuras narrativas, e que narrativa bem construída!, com reviravoltas através de flashbacks, deixando esta estória, e que estória!, cada vez mais encoberta pelas sombras.
"Los Tentados" é um filme argentino insuportavelmente insuportável, que beija um modelo Jarmuschiano de retratar o vazio, os estranhos e seus paraísos e um naturalismo extremista e insignificante. Nunca, em toda a minha existência, havia abandonado um filme durante a sua exibição. Para tudo se tem uma primeira vez.
"Não se rouba a realidade." Nem a liberdade. Isso não é só um filme, é uma carta aberta, um grito de desespero do cineasta iraniano Jafar Panahi. Escrever sobre o filme estragará as suas surpresas, por isso, limito-me em dizer que Panahi personifica a sua enlutada liberdade e seu (in)consciente criativo, numa narrativa híbrida e ousada. Subverte a lei e mostra que tem o direito de abrir as cortinas.
"Meu Cachorro Assassino". Mais um. Mais um sobre a crise econômica (aliás, fazendo questão de escancará-la, redundante, por intermédio de diálogos), enfatizando também conflitos étnicos e sociais, usufruindo-se de contrastes. Venceu Rotterdam e foi injustamente mal recebido pela crítica. Não sei se eu estava esperando um "White Dog", não sei se de fato esperava alguma coisa, mas é curioso, estranhamente curioso, acompanhar este (calado) protagonista de olhos fundos . E seu cão, quase metafórico, acaba ficando em segundo plano. E somos preparados para um véu negro que transparece toda a narrativa e estética cinzenta. Apenas uma tentativa de criar brutalidade, mas, nesse ponto, ingênua, previsível. E ainda assim, interessantemente curiosa. Um "cão" que ladra, mas não morde.
Cine Holliúdy
3.5 609 Assista AgoraChato, e cheio de cenas desnecessárias.
Frozen: Uma Aventura Congelante
3.9 3,0K Assista Agora"Frozen" poderia muito bem ser um dos filmes cantantes da Barbie.
É a Disney repetindo sua fórmula de maneira piegas, moralista, previsível e extremamente corrida. E, como sempre, fazem um personagem carismático, o Boneco de Neve neste caso, para deixar o programa menos insuportável.
E 2013 provando ser um ano fraquíssimo também para o Cinema de animação.
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraA Árvore da Vida é um filme sensorial. Um Cinema que transcende sua linguagem, um trabalho de ruptura estilística, que transita entre o filme de ficção e o vídeo-arte. Uma experiência imagética ímpar, com um rico e elegante uso do som, carregado de uma trilha suave, penetrante, embalando o clássico num filme amplamente moderno, que certamente se destaca por sua originalidade e maestria da parte do diretor, Terrence Mallick.
É sobre a vida. Sobre o homem. Sobre o cosmo. Sobre o caos. O princípio do mundo e o surgimento da civilização. Os sentimentos primitivos do homem, seus instintos, que permutam nos dias atuais. É atemporal, embora se usufrua de contextos históricos. Não há época para que o mal transite a terra, ou o coração. Não há momento específico para se fazer uma ode à vida, ou sua ausência. Não há tempo que difere o amor de agora com o amor de outrora. O amor que destroi, que contamina, mas que instiga, que queima.
Primazia em técnica, sobressaindo-se a fotografia espetacular, deformada, hiper-realista, geométrica, a câmera busca mostrar a autonomia da imagem, a transição dos personagens em momentos aleatórios, improvisados, priorizando a ação do entorno. E vemos isso quando os pés da personagem pisam na areia úmida e posteriormente beijam as águas do mar, ou quando uma borboleta pousa de forma mágica em sua mão.
Um filme-magia.
A magia está naquilo que é mostrado. No Big-Bang, nos animais pré-históricos, no fogo. A magia está no amor que transforma, na ira que arde, no rancor que se intensifica. A magia é a aura do filme, que tendenciosa a um lado espiritualista, questionando o destino atroz, ou o silêncio divino.
Sua narrativa não linear, a montagem fragmentada, distancia o espectador. O espectador torna-se mais um elemento do filme. Um novo corpo que mergulha na tela, afinal, é um filme também sobre ele. Sobre nós.
A magia está na capacidade do Cinema em nos transformar, em fazer com que viajemos no tempo. O tempo empírico. O tempo imaginativo. Invisível.
O tempo.
Não importa qual.
Jackass Apresenta: Vovô Sem Vergonha
3.2 727 Assista AgoraNão é tão ruim!!!
Claro, é aquele humor escrachado do Jackass, ou seja, tem momentos de muito mau gosto, mas é um filme divertido de se ver com os amigos, por exemplo. Consegue entreter, isso graças à química perfeita entre Knoxville e Jackson Nicoll.
(E Spike Jonze mais uma vez produzindo as besteiras dessa galera, sendo até mesmo um dos co-roteiristas.)
Achei bacana este híbrido de "programa de gags" com ficção, envolvendo ainda o gênero roadmovie.
Enfim, esquecível, sim, mas garante alguma diversão.
12 Anos de Escravidão
4.3 3,0KMediano. De longe, o trabalho mais fraco de McQueen, infelizmente.
Achei melodramático e arrastado. Tem uma cena realmente impressionante, mas todo o resto é bastante comum; nada de novo nos moldes "filme americano sobre a escravidão".
Nunca melhor do que a obra-prima "Hunger", ou o ótimo - e ainda assim excessivo - "Shame". Superestimado...
Ernest e Célestine
4.4 319Tão inocente... tão verdadeiro... tão lindo...
<3
Freak Orlando
3.9 8 Assista AgoraAchei que tinha visto de tudo na vida até me deparar com "FREAK ORLANDO", filme que estava dentro da retrospectiva da cineasta alemã Ulrike Ottinger no Festival do Rio 2013, e que o CineSESC agora também está exibindo.
Para vocês terem noção, é como se Jodorowsky, Pasolini e Fernando Arrabal se encontrassem para construir esta preciosidade do Cinema, separada em 5 partes que contam a história do mundo, tendo como base o romance "Orlando" de Virginia Wolf, mas que remete mais claramente ao universo d'A Divina Comédia de Dante Alighieri, sem contar, claro, uma forte influência do clássico "Freaks" (inclusive, tem uma cena de jantar maravilhosa em que eu jurava que iriam cantar "One of Us We Accept Her").
É impressionante o cenário surrealista, bizarro e perturbador que a diretora consegue criar. O filme só apresenta uma forma decifrável lá pelos 100 minutos, e até lá o que nos é oferecido é um verdadeiro show de horrores, cores e símbolos. Há uma preocupação estética notável. Há cenas de grande beleza plástica, minuciosamente fotografadas, lembrando quadros. É também curioso como os elementos da androgenia e da sexualidade se proliferam ao longo do filme. No universo de "Freak City", não existe distinção de sexo. Mulheres possuem barbas (por sofrerem desilusões amorosas), e quase todos os humanos (?) são assexuados.
Mas diante de tanta bizarrice, sem dúvida alguma a cena que mais martelará em nossas mentes para sempre é quando uma versão feminina de Jesus (com barba), pregada na cruz, canta uma ópera-rock em que questiona seus poderes e intervenções divinas, enquanto um dry martini lhe é servido.
O filme ainda terá uma exibição no Cinesesc e é obrigatório aos cinéfilos. Como é impossível achá-lo na internet, é uma experiência única, imperdível!! Além disso, a exibição em película, enaltecendo as cores em Techinicolor, só aumenta a mística por trás do filme.
A Parede
4.0 43"Penso que o tempo está imóvel e eu me desloco dentro dele."
O Próximo Filme
2.2 2"O Próximo Filme" é uma realização francesa que vendia algo interessante em sua sinopse, mas que demonstra-se insípida, pedante, com a classe média francesa, de alta cultura, deparando-se com o envelhecimento, envelhecimento físico e criativo. Era uma das minhas maiores apostas da Mostra, e só foi um filme bem mediano, com ares impressionistas, meio que um "docudrama" familiar, que acaba por irritar gradativamente. No fim, deixa um gosto doce, provocado certamente pela bela música de Marie-Jeanne Sérero, mas um gosto esquisito, esquecível. Próximo filme!
Uma Casa com Torre
3.9 1Drama fotografado brilhantemente em PB, transparecendo a frieza e a desolação da Segunda Guerra. Linguagem neorrealista; a criança vitimada sofre perdas. Ucrânia Ano Zero.
Também lembra muito o Cinema da década de 50/60 do Bergman, e os recentes trabalhos de Bela Tarr. Poesia. Poesia Melancólica. Mas, para mim, uma poesia com carência emotiva, puramente estética. Bonito e fantasmagórico.
A Bruta Flor do Querer
2.7 46Tentativa fracassada de se fazer um "cinema marginal" contemporâneo. Só mais um "classe mérdia sofre".
Um Toque de Pecado
3.8 63"Um Toque de Pecado" mostra, de maneira bastante exagerada, a violência se inserindo na vida de pessoas comuns. Dividido em episódios, o único destaque se dá ao primeiro, em que a justificativa da violência é a mais crível, uma violência estetizada, silenciosa. Os restantes são irregulares, chatos, tendo personagens apáticos e desmotivados. É um filme a la Takashis. Cada plano grita Miike e Kitano.
É o primeiro filme que assisto de Jia Zhang-ke, um "batismo" de sangue insípido e inodoro. No entanto, irei atrás dos outros trabalhos do diretor, esperando me surpreender positivamente dessa vez.
A Jaula de Ouro
4.2 84Se existisse um gênero que categorizasse "La Jaula de Oro" seria "railmovie", um "roadmovie" sobre trilhos, que exala aventura, uma aventura nostálgica, perigosa. Logo no início, lembrei-me de um desses filmes de aventura que muito me marcou, "O Senhor das Moscas". Toda aquela criançada cheia de sonhos e fúria...
Em "La Jaula de Oro", a brilhante estreia de Diego Quemada-Diez, acompanhamos um grupo de garotos imigrantes da Guatemala que anseiam viver o sonho americano. Não é só mais um filme sobre fluxos migratórios ilegais, é uma construção singular de narrativa e estética, uma estética seca, humanista. A poética do subdesenvolvimento, sem enfeites, construída por versos de lágrimas e suor.
Fiquei perplexo ao término da sessão. Senti algo que há muito tempo não sentia. É um filme que arrepia, que açoita o peito. Que emociona com suas sutilezas, sem forçar a barra, tudo muito naturalista, sincero.
Olhares! Olhares através de grades. Atrás delas. Das cercas. A que separa o mundo real da Disneylândia decrépita, a jaula, aparentemente de ouro, mas um ouro que aprisiona.
Lindo é pouco! Obra-prima de um jovem diretor promissor. Pra ser aplaudida. De pé.
Avanti Popolo
3.2 19 Assista Agora"Avanti Popolo" é sobre a persistência - e a resistência - da memória. O começo é bastante interessante. A linguagem utilizada é um mérito à parte, um excelente exercício de direção, diria até com experimentalismos, que permeia todo o filme.
É muito bonito ver Carlão enchendo a tela. O Cinema eternizando a sua imagem. É também sobre isso, o eterno e o efêmero. As rachaduras nas paredes, as correias velhas de um projetor, a memória rebobinada, a vida seca em constantes buscas. Memória, memória, memória. O chiado, o filme na parede, as cabeças ditadoras, repressões do passado. Um passado vivo. De marcas. Avanti, popolo. Avanti, popolo. Bandiera rossa!
Lições de Harmonia
3.8 15 Assista AgoraO grande êxito de "Lições de Harmonia" está em sua forma de "esconder" elementos, tratando a violência de maneira implícita, e, justamente por estar subtraída da trama, é que ela se torna poderosa. A decupagem cuidadosa atiça essa brutalidade, explorando o espaço físico e o posicionamento dos personagens. Tem um estudo corporal bastante interessante; corpos que se chocam, e se ferem, e se purificam, e "dançam" uma coreografia fria, silenciosa, harmoniosa. Mas toda essa singularidade vai se minguando no final. Nos finais. Uma pena. Mais um filme que se perde em bifurcações e que demora para achar o caminho de volta. Mas felizmente acha. E se ilumina, se purifica. Uma lição bem feita. Uma aula.
Club Sándwich
3.3 27E os mexicanos este ano estão com tudo! "Club Sándwich" é um filme imperdível! Divertido, mostra o primeiro interesse amoroso de um garoto hospedado junto com a mãe num hotel, em época de baixa temporada. Ganharam uma promoção. Nesse relacionamento entre mãe e filho, um pouco do "complexo de Édipo". Ou um amor super-protetor. Íntimo. Muito próximo. Que se distancia, e se cala, com o surgimento de uma garota da sua idade. Hormônios. O bigode nascendo. O desejo sexual. O desejo da independência, o momento de crescer. Tudo muito bem construído, autêntico, delicado. Uma mescla de risos e emoção. Um presente.
3x3D
3.3 17"3x3D" é um deslumbre visual sobre os sentidos, e o sentido do Cinema.
Greenaway, sempre ousado, inventivo e esteta, faz uma espécie de "Arca Russa", e nessa "arca portuguesa", com personalidades em tableaux-vivants e letterings, é o que mais soube brincar com o 3D. Somos espectadores-visitantes nesse museu visual e sonoro de imediato fascínio.
Edgar Pêra, também muito experimental, prepara-nos para o filme de Godard, questionando o papel contemporâneo do Cinema e a sua relação com o espectador. Seu capítulo tem o nome "Espantar". O Cinema ainda espanta? O espectador médio, espectador-ator, se aliena? Filme barulhento, tomado por sobreposições e o nonsense. Ainda que interessante, é o mais fraco dos três episódios.
E, para completar, o capítulo de Godard, "Os 3 Desastres", e acho que não preciso explicar mais nada, rs. Fazendo um panorama do Cinema Mundial, utilizando imagens clássicas e cenas icônicas de Lang, Welles, Chaplin e Eisenstein, diante a tradicional poesia godardiana, o diretor francês faz um filme sem perder seu estilo, com o 3D em segundo plano, jogando os dados da sorte, da dúvida inerente, questionando o digital. O adeus à linguagem, com um gosto de "quero mais".
Norte, O Fim da História
4.2 24QUE FILME! QUE FILME!
Fico me perguntando o porquê d'eu nunca ter ido atrás da obra do filipino Lav Diaz. Só tinha visto a um curta dele, no "Future Reloaded", projeto em comemoração aos 70 anos do Festival de Veneza. Quando fiquei sabendo da retrospectiva do cineasta na programação da Mostra, logo me interessei, no entanto, a filmografia de Lav Diaz é uma verdadeira epopeia, seus filmes possuem 6, 8, 11 horas de duração! Eis que hoje decidi tirar o dia para conferir a mais nova obra-prima do diretor, "Norte, o Fim da História", por ser praticamente um "curta" comparado aos seus trabalhos anteriores, com "apenas" 238 min.
QUE FILME! QUE FILME!
Minhas costas e pernas sentiram as horas, mas minha mente continua tranquila, cheia de pensamentos, ideias, discussões, mas não fatigada. O filme é tão absurdamente lindo que a gente não sente. Ele simplesmente flui, flutua. Dirigido com maestria, decupagem precisa, planos únicos, inesquecíveis. Esqueçam os contra-planos. Pense na ação. Na inércia da ação. No silêncio. Nos dialogos inspirados, transcendentais. Tarkovski. Bergman. Angelopoulos. Tá aí. Dostoievski, Marx. Tá tudo aí. Uma crítica ao fascismo, que ainda nos rondeia. Ao homem. E ao homem-monstro. E ao homem-que-se-transforma no monstro. A culpa. A espiritualidade. E a repressão. A mulher. O sangue. A força do trabalhador. A redenção. A perdição. Contrastes... Ah, Lav Diaz... Não te conheço muito, mas o senhor é um dos cineastas mais geniais que já vi. Aliás, te conheço. Debati. Conversei contigo. Apertei sua mão, Lav Diaz. Humano, sensível, exímio contador-criador de histórias. O começo e o fim delas.
A Bala Desaparecida
3.1 3 Assista AgoraDepois de cancelarem a sessão de "Algo no Lugar", tive que ver ao chinês "A Bala Desaparecida", que é uma cópia descarada do Sherlock do Ritchie. Fotografia, trilha-sonora, roteiros com reviravoltas toscas... E até o ator! Gente, pegaram um clone chinês do Robert D. Jr. Terrível.
Cães Errantes
3.8 42Com um atraso de 1:30h da sessão, enfim começou "CÃES ERRANTES", e, até agora, é um dos mais densos e reflexivos da Mostra. O diretor utiliza uma linguagem riquíssima, que lembra muito o Cinema de Apichatpong, com planos longuíssimos e estetas, além de um excelente uso sonoro. Só vemos e ouvimos o necessário. É sobre perdas. Sobre afastar-se, a dificuldade de conviver com um amor-estranho. Um amor que incendeia paredes. Duro. Duro.
O Lobo Atrás da Porta
4.0 1,3K Assista Agora"O Lobo Atrás da Porta" é um grande exemplo de que nós temos potencial para o cinema de gênero, no caso, um suspense ou "neo-noir". Com uma direção requintada, a decupagem desse belo trabalho é tão impressionante que dificilmente você se esquecerá das imagens. E do som! Que som! A chuva, os trovões, o grito do trem... Os berros! A fúria dos personagens! Dos atores! E que atores! Leandra Leal, lindíssima, redimindo-se por "Mato sem Cachorro", e Milhem Cortaz, um monstro! Todos os coadjuvantes também muito bem em cena, e alguns simplesmente roubam o espaço e, assim, não o devolvem tão cedo! É um filme cheio de costuras narrativas, e que narrativa bem construída!, com reviravoltas através de flashbacks, deixando esta estória, e que estória!, cada vez mais encoberta pelas sombras.
Los Tentados
1.1 2"Los Tentados" é um filme argentino insuportavelmente insuportável, que beija um modelo Jarmuschiano de retratar o vazio, os estranhos e seus paraísos e um naturalismo extremista e insignificante. Nunca, em toda a minha existência, havia abandonado um filme durante a sua exibição. Para tudo se tem uma primeira vez.
Cortinas Fechadas
3.7 19"Não se rouba a realidade." Nem a liberdade.
Isso não é só um filme, é uma carta aberta, um grito de desespero do cineasta iraniano Jafar Panahi. Escrever sobre o filme estragará as suas surpresas, por isso, limito-me em dizer que Panahi personifica a sua enlutada liberdade e seu (in)consciente criativo, numa narrativa híbrida e ousada. Subverte a lei e mostra que tem o direito de abrir as cortinas.
Meu Cachorro Assassino
2.8 10"Meu Cachorro Assassino". Mais um. Mais um sobre a crise econômica (aliás, fazendo questão de escancará-la, redundante, por intermédio de diálogos), enfatizando também conflitos étnicos e sociais, usufruindo-se de contrastes. Venceu Rotterdam e foi injustamente mal recebido pela crítica. Não sei se eu estava esperando um "White Dog", não sei se de fato esperava alguma coisa, mas é curioso, estranhamente curioso, acompanhar este (calado) protagonista de olhos fundos . E seu cão, quase metafórico, acaba ficando em segundo plano. E somos preparados para um véu negro que transparece toda a narrativa e estética cinzenta. Apenas uma tentativa de criar brutalidade, mas, nesse ponto, ingênua, previsível. E ainda assim, interessantemente curiosa. Um "cão" que ladra, mas não morde.