Sexo e jogos psicológicos. Eles se afetam, controlam e desconcertam de diversas formas. A obsessão pela vitória e o desprezo total por fracassos e derrotas. A admiração existe apenas pela vitória, por deslumbrar que o outro, seu parceiro ou ser desejado, seja vencedor. O desejo acontece por se reconhecer no outro - inclusive(e principalmente, talvez) nas falhas e sujeira.
O tênis é tudo(as sequências das partidas são muito bem filmadas, não posso deixar de citar). O trio é tudo. Tão complexos e cheios de desencontros, mas conectados de uma forma que não se pode desfazer. O tesão está lá, sempre esteve: no passado distante, no mais recente e no presente. Ao contrário do que eles pensam, eles são os mesmos. O que os move, atrai e os medos não mudaram. O melhor tênis nasce do estímulo mais profundo de quem melhor te conhece - por mais doentios que esses estímulos e pessoas sejam.
Corpos, suor e olhares. Movimentos, ritmos. Sons, Caetano. Guadagnino sabe filmar com borogodó. E que trio de atores afiado!
No primeiro episódio da série, o professor de química Walter White fala apaixonadamente como a química para ele, acima de tudo, é o estudo da transformação. Walter faz um paralelo com a vida, porém jamais poderia imaginar no tamanho da sua própria e completa transformação.
A primeira cena desta quinta temporada mostra um pedaço do futuro próximo(algo que "Breaking Bad" e "Better Call Saul" dão aula de como se fazer), com Walter sozinho no dia no seu aniversário, num ambiente frio, se preparando para lidar com a violência do mundo que escolheu; Já na última cena do primeiro episódio, vemos o protagonista abraçando sua esposa numa cena com ares de terror. Ambos os momentos resumem bem a jornada do protagonista e o que ele se tornará para sua família na temporada.
Walter manipula Jesse. Walter aterroriza Skyler, deixando-a sem saída. Mas não é algo simples, pois ambos sabem como atingi-lo de volta - e fazem isso(em maior ou menor grau). Os embates são íntimos e familiares(de diversos tipos), e também criminosos. A série se vira muitíssimo bem ao colocar personagens subindo de posto como antagonistas e apresentando novas figuras interessantes que também se destacam nesse sentido. Mike, por exemplo, teve terreno para brilhar(por isso ganhou merecidamente tanto espaço em "Better Call Saul") e Todd fez o suficiente para se tornar, em pouco tempo, um dos vilões mais interessantes do universo "Breaking Bad".
A primeira parte deste ano é de muita investigação por parte de Hank e de consolidação de força, status e fortuna do homem que descobriu que queria construir um império no seu 'ramo'. O brilhante "Gliding Over All" fecha de forma espetacular a temporada. O episódio não só consolida o personagem principal como o poderoso chefão do crime como também faz com que o mesmo alcance seu objetivo lá do passado, de conseguir dinheiro e tranquilidade o suficiente para dar paz para sua família. O desfecho memorável que desconcerta Hank obviamente desfaz isso, e a temporada caminha para sua conclusão poderosa.
Muito mais do que a violência, a ação e o lado criminal, a melhor coisa da segunda parte é o trágico desmanche familiar. É a queda. São as consequências. A punição. É o fim doloroso da imagem de amor que um dia existiu em relação a um homem. É o fim da imagem de uma família. O incrível "Granite State"(um dos meus 3 episódios favoritos da temporada) mostra de forma melancólica as ruínas, o resultado de tudo. E temos, claro, o absurdo "Ozymandias". "Ozymandias" é o melhor episódio da série, com sobras. Não só isso, facilmente briga para ser um dos melhores da história da TV. Trata-se de um episódio extremamente duro, direto, violento(emocionalmente e fisicamente), devastador e doloroso. Como citei acima, marca o fim de uma família. Decreta a mudança definitiva de imagens antes intocáveis e afetos que um dia também foram.
Tenho algumas ressalvas em relação a "Felina", que encerra a série, acho um pouco calculado demais. Basicamente tudo sai exatamente como Walter deseja. Ainda assim, entendo a escolha da série em reforçar o mito do quase imparável e invencível Heisenberg. Definitivamente, no universo do crime ninguém nunca foi capaz de batê-lo.
A última cena de Jesse e também a derradeira de Walter são tão perfeitas que não há como não adorar o episódio. Ambas são maiores que o mesmo. Mais do que isso: elas são o episódio. Ao término, acho que a grande maioria dos espectadores se sentem satisfeitos com a conclusão da história de transformação de Walter e aliviados por Jesse.
Foi incrível rever "Breaking Bad" inteira pela primeira vez depois de mais de 10 anos e ter agora uma noção renovada de sua enorme qualidade. Foi o primeiro drama de altíssimo que finalizei, sempre terei um carinho diferente e bastante especial por essa obra. O que "Friends" fez pelas comédias, "Breaking Bad" fez pelos dramas. As duas séries abriram o caminho para que eu me apaixonasse mesmo por esse mundo fascinante.
Bryan Cranston(que entregou uma performance que briga para ser a maior dentre as séries), Aaron Paul e cia marcaram seus nomes com esses papéis.
Espetacular temporada. Uma das grandes obras televisivas de todos os tempos.
Ao se proteger demais, se impede de viver. Ao não receber o carinho esperado desde cedo e ser machucada é difícil não endurecer. Eles se aproximam por conta dos problemas. E se afastam quando não há verdade. As gerações, os ambientes e as vivências são totalmente diferentes, porém quando existe real abertura e vulnerabilidade há conexão.
O isolamento, a timidez, traumas e o medo do mundo fecharam e seguem fechando uma pessoa para a vida. Tal questão acrescenta humanidade palpável e torna a aproximação dos dois personagens principais interessante de se ver. Interessante também é ver o filme mostrar uma nova geração que possui mais amigos virtuais e proximidade de um celular do que de pessoas. Não é tão distante da realidade, convenhamos.
Pode não ser tão engraçado(Jennifer Lawrence se entrega totalmente, faz o que pode), uma ou outra cena de constrangimento funciona, mas possui coração e momentos tocantes. Apesar de não ser memorável, fica a sensação boa de ver uma bonita relação nascendo, sobrevivendo a temores, feridas e adversidades e tornando-se sólida. Agradável comédia.
Quem é vilão de verdade? IA/Robôs têm sentimentos? Eliminar um robô é tirar uma vida?
O filme possui um lado antibélico interessante, conversa com o histórico dos EUA.
A cara é uma mistura de "Star Wars' + 'Eu, Robô", mas o ritmo é de "Velozes e Furiosos". "Resistência" não possui um roteiro que se destaque e pesa a mão no drama no final, porém é envolvente e possui personagens e relações fortes. Sci-fi digno.
"As coisas evoluem. E as vezes andam para trás." Serve para o mundo e também para o filme.
A tecnologia de rejuvenescimento funciona, mas não nas cenas que o Indiana está em movimento - parece mais videogame do que cinema. Mas o filme é mais do que isso. Quando resgata o espírito que conhecemos das obras da saga o longa caminha.
A boa parceria e química entre Indy e Fleabag agrada aos olhos e o ritmo de aventura é envolvente. Penso que o filme poderia aproveitar melhor o tema viagem no tempo, mas a resolução sobre não se adequar aos tempos atuais, sentir as perdas e valorizar o que ficou compensa.
"Indiana Jones e a Relíquia do Destino" não se compara ao nível dos 3 primeiros longas da franquia, porém está acima da obra anterior da saga.
O Napoleão mais interessante e a melhor coisa que existe no filme são vistas na relação entre o protagonista e Josefina. A conexão, a vulnerabilidade e a impossibilidade de viver permanentemente como gostaria(por conta dos deveres, tradições e legados de seu posto) ao lado da mulher que ama humanizam a história e impedem que esse "Napoleão" de Ridley Scott seja apenas um fraco drama histórico.
Visualmente agrada. O humor, mais presente do que o esperado, nem sempre funciona. A ambição e a busca por grandeza são ofuscadas pelo amor perdido e sua falta. Ver Joaquin Phoenix e Vanessa Kirby é sempre um prazer.
Um mal que viaja gerações e países. Que suga o Chile e se estabelece pelo mundo. A igreja que se opõe, mas se entrega. Uma realidade na qual todos querem sugar sua parte.
O humor metido a engraçadinho demais, algumas sequências de exagero gratuito(no tom e na violência) e a narração intrusiva tornam o filme bem irregular. Ainda assim, há méritos por ser um filme que sabe rir de si mesmo(a narração já citada é cúmplice do protagonista, algo que fica mais claro o motivo depois), das maldades, falhas de caráter e de seus absurdos.
Pinochet e Thatcher num filme que brinca com gêneros e com a política de forma irônica. A ditadura e o vampirismo não morrem de fato, apenas se transformam. O final é meio corrido, mas reafirma essa realidade universal que pouco muda.
Os traumas que endurecem. As escolhas erradas por conta de olhares enviesados e precipitados. O luto, a solidão e a não aceitação. Cada um reage de um jeito. Não há fórmula para superar.
Uma palavra ou acusação podem destruir. Quando se olha mais afundo e de perto se entende melhor o outro. Diferentes pontos de vistas se completam. Vemos que não há monstros, e sim falhas nas relações.
Kore-eda não é tão sutil nas transformações de opiniões vistas nas diferentes versões e a estrutura chama demais a atenção pra si, mas "Monster" funciona quando foca na beleza de uma relação infantil que proporciona ajuda e sorrisos mútuos em meio a uma realidade que frequentemente castiga o 'diferente' e os mais lindos e puros sentimentos.
A família e a cruel tradição de tragédias. A maldição. Quem acredita nela? Sacrifícios. Mas sem lágrimas. A missão de honrar o sangue está em primeiro lugar.
A 'América' que desumaniza: você tem que dar o máximo do máximo para realizar algo, não há espaço para derrota. Há incômodo ao ver os seus passarem na sua frente em algo que estava destinado a ser seu, mas o amor pela família é muito maior.
A atmosfera evoca o medo do futuro. O terror enraizado insiste em acontecer. A culpa cresce. Os pilares americanos e tradicionais são derrubados no ringue da vida. As paixões ficam de lado para seguir a 'obrigação' que o nome da família impõe. O resultado é doloroso.
Talvez a nova geração entenda melhor que demonstrar fragilidade é ser alguém melhor. Talvez apenas estar distante do que prega o seu sobrenome seja o suficiente. A maldição é da América e da sua visão de mundo; Não da família.
Muito bom ver Jeremy Allen White e Lily James. Bela atuação de Zac Efron. Grande filme.
A solidão e o não dito. Os vazios presentes em diferentes épocas, que carregam o peso do que poderia ter sido e as lacunas que ficaram. A falta da família. As relações que simplesmente surgem e se vão. Um filme sobre memória e conexão, movido por sentimentos que tomam conta da imaginação.
O longa toca em temas importantes como sexualidade e aceitação, mas fica essa sensação que o mesmo não se entrega a esses temas totalmente. O flerte com diferentes gêneros e o tom que varia muito não ajudam. Há bonitas cenas donas de ternura e sensibilidade entre os personagens de Andrew Scott e Paul Mescal, porém o filme não consegue tornar essa relação marcante.
Uma história sobre aquilo 'que poderia ser'. E embora seja uma obra com coisas inegavelmente boas(o elenco é ótimo), o filme também deixa essa mesma sensação em relação a sua qualidade.
Um homem movido por sua paixão, num universo frio moldado pelo próprio e por sua época. Uma história que fala da grande entrega humana a um esporte, de negócios e que mira o sucesso, mas dona de uma atmosfera que parece uma ópera de morte e tragédia. Uma ópera carregada de dor, saudade e suas impossibilidades - vista de forma clara ou oculta por trás das muitas ações.
A velocidade que encanta os que veem de fora. Os homens que arriscam muito suas vidas. As ilusões criadas por paixões. O contraste da alegria do feito com o som da tragédia.
O perfeccionismo e a busca por um legado de hegemonia em contraste com a incapacidade de resolver as coisas mais simples do cotidiano. O homem que anda no meio dos mortos sem se abalar, mas que não é capaz de lidar com os sentimentos que nunca morrem e tanto castigam pessoas e relações.
Odiar o que restou, mas amar quem sempre amou. O presente que lembra e sempre lembrará o passado. As sobras de uma família e casamento. As sobras de um tempo mais bonito que não existe mais.
Na vida e na corrida as coisas são caóticas, simplesmente acontecem. Os Ferrari seguem e agarram o que honra as suas melhores memórias e sentimentos. Lutar pelo que ainda dá sentido a tudo é o que restou. Pode ser seu legado ou o que se foi, mas não se desfez. Lembra "L'amica Geniale"(a maravilhosa série da HBO) e clássicos melodramas, mas acima de tudo é puro Michael Mann.
Obra que vive e relembra o passado, porém reflete a construção do presente. Um filme de caráter extremamente íntimo e familiar, mas também deveras universal. Um dos grandes de seu ano.
Pelo panorama atual do conflito Israel x Palestina, acredito que só os israelenses se empolgam para assistir. Apenas o Oscar mesmo que nos faz ver certos filmes.
Do luto sentido aos efeitos físicos e mentais severos vemos uma líder forte e muito relevante que carrega o peso da guerra em si.
Longa de estrutura burocrática e personagens secundários pálidos, porém possui alguma força graças a sólida performance de Helen Mirren.
A conquista por meio de uma inesperada e desconcertante sensibilidade. A proteção fake. O puritanismo mentiroso. A esposa como troféu.
Ele impondo todas as suas vontades aos poucos. Ela caminhando com algemas cada vez mais apertadas. "Ele precisa de mim." Aceitar o inaceitável. Se sujeitar as chantagens e agressividade por amor. O sucesso do rei em contraste com o homem que é um fracasso como marido. A verdade aparece na convivência.
Sofia filma e desenvolve a trama com sobriedade. "Priscilla" não retrata Elvis como um monstro, e sim como um marido egoísta; Não mostra Priscilla infeliz o tempo todo, mas vemos como a mesma nunca foi ouvida e vista como uma pessoa na relação, apenas representou um papel para Elvis.
Gostaria de ver mais sobre o que sente e quem é Priscilla, em alguns momentos parece mais ser um filme sobre o egoísmo e grosseria de Elvis do que sobre a solidão da protagonista. Penso que o filme se beneficiaria caso caminhasse dessa forma. Dito isso, tal fato não deixa de refletir bem a jornada de uma mulher que não teve tempo de se conhecer e saber o que quer, pois teve que abrir mão de quase tudo para ser 'a mulher do rei'.
Ao partir a jovem mulher poderá viver e ser livre como nunca teve espaço para ser. Uma relação como milhões de outras. Gente como a gente. Bom filme. Condução elegante de Sofia Coppola.
Em "Crônica Francesa" e aqui nota-se que há um esforço de Wes Anderson em se reinventar e/ou abraçar um risco maior como autor. O filme anterior soou como puro exercício de estilo, algo vazio e sem o encantamento tradicional visto na filmografia do diretor, mas felizmente não foi o que aconteceu dessa vez.
Talvez o filme demore a engatar um pouco, porém a paixão pelo processo é sentida tanto através dos personagens do 'drama imaginário Asteroid City' (cheios de aspirações, curiosidade e questionamentos sobre o desconhecido, a vida, a morte, seus trabalhos e si mesmos) quanto por meio da inventividade do longa - na narrativa e nas explanações do autor e seus atores nas cenas de bastidores. Tudo conversa. Flui, funciona. O humor, a inocência e a sensibilidade excêntrica e cativante de sempre do diretor estão presentes. É Wes Anderson.
Não sei onde o diretor vai parar com suas tentativas de criar obras de maneiras cada vez mais particulares, mas "Asteroid City" me fez rir e encantou como sei que o diretor é capaz de fazer.
Uma história que não poderia deixar de ser mostrada. Uma obra que já nasceu pronta para ser premiada.
O filme verbaliza várias vezes através de diferentes pessoas: "Filmem aqui. Filmem para que o mundo veja o que estão fazendo conosco." Entendemos o motivo das vítimas pedirem isso? 100%. Mas isso resume bem o documentário, a abordagem do mesmo. O longa parece não confiar na força natural de sua história e imagens.
Como cinema é um filme protocolar, não há nada particularmente especial.
O toque do bem e o do mal. O fim de um ciclo. A diversão e o descompromisso de uma viagem feita para ser memorável. A pureza da amizade feminina em plena juventude. A liberdade sexual e os limites do consentimento. O desconforto posterior. Não saber para onde ir. Se sentir pior que as amigas no pior momento de maior fragilidade. Se sentir usada e desvalorizada.
A câmera acompanha bem de perto a protagonista, que ainda está absorvendo o que aconteceu e entendendo como está. A sensação é de estar crescentemente sendo acuada. Vemos em sua fisionomia como a protagonista se sente sozinha, isolada. As sequências com ela caminhando por aí, mostrando-a cada vez menor nos planos, dizem muito sobre como ela está se sentindo bem desamparada num local estranho e num momento mais estranho(péssimo) ainda.
Os olhares não mentem. Eles desconfiam, enxergam, mas evitam tocar no assunto difícil. Preferem deixar para lá e acreditar no mais conveniente.
O abuso. A normalização de quem pratica. A falta de coragem da vítima para expor o que ocorreu. A falta de observação de quem está em volta. O trauma que fica, que nem se tem o real tamanho dele ainda.
No final, as mãos que se importam serão aquelas que irão te ajudar a passar por tudo isso da melhor maneira possível.
Importante filme. Bela estreia de Molly Manning Walker como diretora.
Ele está presente e não se pode combatê-lo. O pior que virá se alimenta do medo. Fé e crença religiosa ficaram no passado. Apenas a distância pode vencê-lo.
Aqui o importante não é contextualizar, e sim sentir o desconforto e acompanhar o mal agindo e devastando tudo. As sequências de terror e as mortes são o filme. Funciona.
Gostei muito das tais sete regras. As chiquititas do capeta também são ótimas! Filme de possessão de respeito. Ótimo terror argentino.
Na maior parte do tempo é uma obra genérica e que não faz a menor ideia do que deseja ser(só arranha temas que poderiam ser interessantes na história). No final, vemos que na verdade trata-se apenas de um filme espertinho.
"Saltburn" possui escolhas muitos ruins sobre como desenvolver a trama e envolver o espectador. Filme exageradamente explicativo e feito para chocar. Alguns momentos são constrangedores de tão fracos.
Emerald Fennell precisa aprender a terminar seus filmes de outra forma. Decepcionante.
Walter White, o frustrado professor de química e pai de família comum, não existe mais. A transformação foi completada ao término da temporada. Heisenberg surgiu como um nome para impor respeito, mas virou uma persona incontrolável que tomou o controle e não possui limites.
Hank sentiu o golpe pesadíssimo visto na temporada anterior, porém se recuperou e mostrou o quanto é um investigador impressionante. A inteligência e o faro apurado do agente da DEA acrescentam muito à série, seus avanços sempre provocam ótimos momentos de tensão.
Skyler como Kim Wexler. A personagem mostrou neste quarto ano o quanto foi contaminada pelo poder e artimanhas que nunca teve antes nas mãos. Quando ela está decidida ninguém segura. Vemos como ela a essa altura do campeonato não aceita "não" como resposta, mesmo que para isso a própria tenha que romper princípios e barreiras antes inimagináveis.
Se Walter tornou-se algo que ninguém esperava, Jesse também trilhou um caminho semelhante. Parece num primeiro momento que ele não sentia mais o impacto causado pelas mortes em volta, porém vemos que o personagem apenas fugia como podia disso. Jesse chegou bem perto de figuras capazes de todo tipo de violência e tornou-se alguém capaz de encarar pessoas assim. Trata-se também de um transformação impressionante, quase tanto quanto a do protagonista. A performance de Aaron Paul é visceral, deveras marcante.
Os dois personagens principais brilham, mas pode-se dizer que Gus se destaca em igual proporção aos dois - por vezes até mais. Sem dúvida é um feito e tanto para um personagem que deveria ser 'apenas' o criminoso rival que surge durante a série. A série revela seu passado de perda e acompanhamos como o silencioso criminoso é incomparavelmente implacável, meticuloso e frio. O inesperado embate Gus x Hector(ambos com história também vista em "Better Call Saul") é incrível. O que vemos entre os dois no episódio final(com direito a trilha que remete aos westerns de Sergio Leone) está entre os momentos mais marcantes de "Breaking Bad".
O brilhante e caótico "Crawl Space" nos tirou o fôlego e inseriu terror como nunca antes foi visto na obra. O igualmente poderoso e desconcertante "Face Off" foi o auge quando pensamos em acerto de contas e revelação de quem de fato se tornou Walter White.
Cenas antológicas, fantásticos episódios e um final de temporada espetacular. Excelente ano.
Após a grande tragédia em sua vida, Jesse conseguiu se recompor e seguir em frente apenas quando entendeu e admitiu a si mesmo que é uma pessoa ruim. Walter até tentou largar o mundo do crime e produção de drogas. No início da temporada, conversando com Gus, disse que deixaria de vez, mas a grande ambição e posto alcançado já fazem parte de quem ele se tornou.
Nas duas primeiras temporadas os dois protagonistas mergulharam, agiram e reagiram ao universo que escolheram, fizeram o necessário para crescer e sobreviver. Ainda assim, sempre houve algo dentro dos dois que os balançavam a ponto de pensar que eles não pertencem a esse lugar. A reta final da temporada mostrou a ambos que eles pertencem a esse mundo. E mais do que isso: eles querem continuar pertencendo. Isso vale para os dois e, agora, numa escala menor, claro, vale para Skyler. A escolha de sujar as mãos foi dela - por mais que também exista o fator família aí no meio.
Quando se tem tanto nas mãos, infinitamente mais do que já se teve, é difícil abrir mão. Quando se mexe com mortes, perigos e poderes grandes demais se sabe que os mesmos irão atrás de você novamente.
Hank, Walter e Jesse são protagonistas de excelentes momentos de ação e imensa tensão. A terceira temporada é a mais violenta até aqui. 'One Minute', 'Half Measures' e 'Full Measure' são episódios de tirar o fôlego.
Trabalho de direção espetacular. "Breaking Bad" esbanja excelência nesse sentido, pouquíssimas séries na história fazem frente.
O universo é violento e cruel, não há escapatória. Quem vive e mexe com ele sente na pele isso. Não há volta. Nem para viver como antes, nem para ser alguém diferente de quem se tornou. Como esquecer o olhar de Jesse na cena final? A escuridão que encerra o ano diz tudo.
Épico grandioso de estrutura e jornadas tradicionais. Gosto muito de Paul e Chani, e também dos personagens que estão no núcleo de ambos, ao lado deles. O casal e o que os move são o coração do filme, acompanhar cada passo, questionamento e importante decisão dele e a obstinação dela para não desviar dos seus princípios são coisas fascinantes.
A semente já tinha sido plantada no filme anterior e aqui o tema do fanatismo religioso e crença num salvador ganham enorme destaque(Javier Bardem rouba a cena nesse sentido). Como o controle do povo e da força agem em alguém tão idolatrado? Cuidado com o que se pede. As sequências que envolvem esse tema são poderosas, deveras marcantes.
Gosto dos desdobramentos do filme, possuem inegável força e levantam temas ricos. Ainda assim, preciso pontuar que considero que a grande virada do longa não flui tão bem assim. Os elementos que proporcionaram isso estão na tela, porém falta algo(talvez uma maior sensibilidade do filme - não do Chalamet, que está muito bem) para tornar essa mudança de chave em Paul Atreides mais crível. O protagonista é marcado por um furacão de sentimentos e questionamentos sobre o peso que carrega nas mãos desde a parte 1, ver algo nesse sentido num momento tão importante engrandeceria o mesmo.
Não curto tanto também o lado rival, com o 'Elvis sem cabelo' e o Imperador. Não vejo muita graça nos personagens e boa parte das cenas que envolvem esse núcleo parecem ter vindo de uma obra bem pior. Dito isso, acho que para o funcionamento do conflito e do filme em si tal questão atrapalha pouco. Os arcos fascinantes de Paul, Chani, Jessica e dos que os cercam é o que importa de fato, são os mesmos que dão peso a história, e eles sem dúvida funcionam, impactam o espectador.
"Duna: Parte 2" é um sci-fi de respeito. Um blockbuster com ótimas cenas de ação, protagonistas em grandes jornadas e dono de temas universais super relevantes muito bem desenvolvidos.
Quando a vingança e o desejo de guerra assumem o controle não há mais volta.
Visões e medos do futuro. Se encontrar e entender o que precisa ser feito durante o caminho.
Acho que conhecer mais Arrakis e seu povo daria mais peso ao filme, mas ainda assim é uma construção de universo muito boa, cheia de elementos bem particulares que tornam esse mundo atraente e muito especial. Discordo muito das pessoas que dizem que quase nada acontece no longa, vejo muita força nos acontecimentos e consequências impactantes. Sentimos como tudo afeta os personagens. Sentimos inclusive esses grandes temores antes do pior acontecer.
Traição e ganância movem o tabuleiro, dizimando povos e relações. Comandos cruéis. Realidade devastadora.
Sendo ou não o escolhido que tanta gente observa, põe fé e venera e tendo ou não as ferramentas necessárias, apenas enfrentando o caos interno e sobrevivendo ao externo que o jovem Paul parece finalmente ter uma noção de seu destino.
Teatral e exagerado demais na maior do tempo. Algumas sequências musicais são inventivas, mas não fazem o filme engrenar. Amo musicais e gosto do tema(a pureza e a resistência feminina são boas de ver), porém não me conquistou.
Uma sociedade que resiste as mudanças: racista e homofóbica. Um coração de líder. Alguém atacado por todos os lados.
Saber sua essência e defender sua identidade. A luta por direitos, pela verdadeira liberdade. Movimento e momento histórico poderosos.
O filme aborda muito bem os aspectos da vida de Bayard Rustin, mostrando seus medos, memórias, bagagem e coragem. Bela atuação do ótimo Colman Domingo.
Rivais
4.0 132Tênis à trois.
Sexo e jogos psicológicos. Eles se afetam, controlam e desconcertam de diversas formas.
A obsessão pela vitória e o desprezo total por fracassos e derrotas.
A admiração existe apenas pela vitória, por deslumbrar que o outro, seu parceiro ou ser desejado, seja vencedor.
O desejo acontece por se reconhecer no outro - inclusive(e principalmente, talvez) nas falhas e sujeira.
O tênis é tudo(as sequências das partidas são muito bem filmadas, não posso deixar de citar).
O trio é tudo. Tão complexos e cheios de desencontros, mas conectados de uma forma que não se pode desfazer.
O tesão está lá, sempre esteve: no passado distante, no mais recente e no presente.
Ao contrário do que eles pensam, eles são os mesmos. O que os move, atrai e os medos não mudaram.
O melhor tênis nasce do estímulo mais profundo de quem melhor te conhece - por mais doentios que esses estímulos e pessoas sejam.
Corpos, suor e olhares. Movimentos, ritmos. Sons, Caetano. Guadagnino sabe filmar com borogodó.
E que trio de atores afiado!
Um dos melhores trabalhos do diretor.
Breaking Bad (5ª Temporada)
4.8 3,0K Assista AgoraTransformação e perdição.
Crime e família. Ascensão e queda.
No primeiro episódio da série, o professor de química Walter White fala apaixonadamente como a química para ele, acima de tudo, é o estudo da transformação. Walter faz um paralelo com a vida, porém jamais poderia imaginar no tamanho da sua própria e completa transformação.
A primeira cena desta quinta temporada mostra um pedaço do futuro próximo(algo que "Breaking Bad" e "Better Call Saul" dão aula de como se fazer), com Walter sozinho no dia no seu aniversário, num ambiente frio, se preparando para lidar com a violência do mundo que escolheu; Já na última cena do primeiro episódio, vemos o protagonista abraçando sua esposa numa cena com ares de terror. Ambos os momentos resumem bem a jornada do protagonista e o que ele se tornará para sua família na temporada.
Walter manipula Jesse. Walter aterroriza Skyler, deixando-a sem saída. Mas não é algo simples, pois ambos sabem como atingi-lo de volta - e fazem isso(em maior ou menor grau).
Os embates são íntimos e familiares(de diversos tipos), e também criminosos. A série se vira muitíssimo bem ao colocar personagens subindo de posto como antagonistas e apresentando novas figuras interessantes que também se destacam nesse sentido. Mike, por exemplo, teve terreno para brilhar(por isso ganhou merecidamente tanto espaço em "Better Call Saul") e Todd fez o suficiente para se tornar, em pouco tempo, um dos vilões mais interessantes do universo "Breaking Bad".
A primeira parte deste ano é de muita investigação por parte de Hank e de consolidação de força, status e fortuna do homem que descobriu que queria construir um império no seu 'ramo'. O brilhante "Gliding Over All" fecha de forma espetacular a temporada. O episódio não só consolida o personagem principal como o poderoso chefão do crime como também faz com que o mesmo alcance seu objetivo lá do passado, de conseguir dinheiro e tranquilidade o suficiente para dar paz para sua família.
O desfecho memorável que desconcerta Hank obviamente desfaz isso, e a temporada caminha para sua conclusão poderosa.
Muito mais do que a violência, a ação e o lado criminal, a melhor coisa da segunda parte é o trágico desmanche familiar. É a queda. São as consequências. A punição. É o fim doloroso da imagem de amor que um dia existiu em relação a um homem. É o fim da imagem de uma família.
O incrível "Granite State"(um dos meus 3 episódios favoritos da temporada) mostra de forma melancólica as ruínas, o resultado de tudo. E temos, claro, o absurdo "Ozymandias". "Ozymandias" é o melhor episódio da série, com sobras. Não só isso, facilmente briga para ser um dos melhores da história da TV. Trata-se de um episódio extremamente duro, direto, violento(emocionalmente e fisicamente), devastador e doloroso. Como citei acima, marca o fim de uma família. Decreta a mudança definitiva de imagens antes intocáveis e afetos que um dia também foram.
Tenho algumas ressalvas em relação a "Felina", que encerra a série, acho um pouco calculado demais. Basicamente tudo sai exatamente como Walter deseja. Ainda assim, entendo a escolha da série em reforçar o mito do quase imparável e invencível Heisenberg. Definitivamente, no universo do crime ninguém nunca foi capaz de batê-lo.
A última cena de Jesse e também a derradeira de Walter são tão perfeitas que não há como não adorar o episódio. Ambas são maiores que o mesmo. Mais do que isso: elas são o episódio.
Ao término, acho que a grande maioria dos espectadores se sentem satisfeitos com a conclusão da história de transformação de Walter e aliviados por Jesse.
Foi incrível rever "Breaking Bad" inteira pela primeira vez depois de mais de 10 anos e ter agora uma noção renovada de sua enorme qualidade. Foi o primeiro drama de altíssimo que finalizei, sempre terei um carinho diferente e bastante especial por essa obra.
O que "Friends" fez pelas comédias, "Breaking Bad" fez pelos dramas. As duas séries abriram o caminho para que eu me apaixonasse mesmo por esse mundo fascinante.
Bryan Cranston(que entregou uma performance que briga para ser a maior dentre as séries), Aaron Paul e cia marcaram seus nomes com esses papéis.
Espetacular temporada. Uma das grandes obras televisivas de todos os tempos.
Que Horas Eu Te Pego?
3.3 493Intimidade e verdade.
Ao se proteger demais, se impede de viver.
Ao não receber o carinho esperado desde cedo e ser machucada é difícil não endurecer.
Eles se aproximam por conta dos problemas. E se afastam quando não há verdade.
As gerações, os ambientes e as vivências são totalmente diferentes, porém quando existe real abertura e vulnerabilidade há conexão.
O isolamento, a timidez, traumas e o medo do mundo fecharam e seguem fechando uma pessoa para a vida. Tal questão acrescenta humanidade palpável e torna a aproximação dos dois personagens principais interessante de se ver.
Interessante também é ver o filme mostrar uma nova geração que possui mais amigos virtuais e proximidade de um celular do que de pessoas. Não é tão distante da realidade, convenhamos.
Pode não ser tão engraçado(Jennifer Lawrence se entrega totalmente, faz o que pode), uma ou outra cena de constrangimento funciona, mas possui coração e momentos tocantes.
Apesar de não ser memorável, fica a sensação boa de ver uma bonita relação nascendo, sobrevivendo a temores, feridas e adversidades e tornando-se sólida.
Agradável comédia.
Resistência
3.3 264 Assista AgoraOlhos no futuro e os mesmos erros do passado.
Quem é vilão de verdade?
IA/Robôs têm sentimentos?
Eliminar um robô é tirar uma vida?
O filme possui um lado antibélico interessante, conversa com o histórico dos EUA.
A cara é uma mistura de "Star Wars' + 'Eu, Robô", mas o ritmo é de "Velozes e Furiosos".
"Resistência" não possui um roteiro que se destaque e pesa a mão no drama no final, porém é envolvente e possui personagens e relações fortes. Sci-fi digno.
Indiana Jones e a Relíquia do Destino
3.2 327 Assista Agora"As coisas evoluem. E as vezes andam para trás."
Serve para o mundo e também para o filme.
A tecnologia de rejuvenescimento funciona, mas não nas cenas que o Indiana está em movimento - parece mais videogame do que cinema. Mas o filme é mais do que isso. Quando resgata o espírito que conhecemos das obras da saga o longa caminha.
A boa parceria e química entre Indy e Fleabag agrada aos olhos e o ritmo de aventura é envolvente. Penso que o filme poderia aproveitar melhor o tema viagem no tempo, mas a resolução sobre não se adequar aos tempos atuais, sentir as perdas e valorizar o que ficou compensa.
"Indiana Jones e a Relíquia do Destino" não se compara ao nível dos 3 primeiros longas da franquia, porém está acima da obra anterior da saga.
Napoleão
3.1 322 Assista Agora"Você não é nada sem mim."
O Napoleão mais interessante e a melhor coisa que existe no filme são vistas na relação entre o protagonista e Josefina.
A conexão, a vulnerabilidade e a impossibilidade de viver permanentemente como gostaria(por conta dos deveres, tradições e legados de seu posto) ao lado da mulher que ama humanizam a história e impedem que esse "Napoleão" de Ridley Scott seja apenas um fraco drama histórico.
Visualmente agrada. O humor, mais presente do que o esperado, nem sempre funciona.
A ambição e a busca por grandeza são ofuscadas pelo amor perdido e sua falta.
Ver Joaquin Phoenix e Vanessa Kirby é sempre um prazer.
O Conde
3.2 95 Assista AgoraO mal que não morre.
Um mal que viaja gerações e países. Que suga o Chile e se estabelece pelo mundo.
A igreja que se opõe, mas se entrega.
Uma realidade na qual todos querem sugar sua parte.
O humor metido a engraçadinho demais, algumas sequências de exagero gratuito(no tom e na violência) e a narração intrusiva tornam o filme bem irregular. Ainda assim, há méritos por ser um filme que sabe rir de si mesmo(a narração já citada é cúmplice do protagonista, algo que fica mais claro o motivo depois), das maldades, falhas de caráter e de seus absurdos.
Pinochet e Thatcher num filme que brinca com gêneros e com a política de forma irônica.
A ditadura e o vampirismo não morrem de fato, apenas se transformam.
O final é meio corrido, mas reafirma essa realidade universal que pouco muda.
Monstro
4.3 267 Assista AgoraMonstruosa sociedade.
Os traumas que endurecem. As escolhas erradas por conta de olhares enviesados e precipitados.
O luto, a solidão e a não aceitação. Cada um reage de um jeito. Não há fórmula para superar.
Uma palavra ou acusação podem destruir. Quando se olha mais afundo e de perto se entende melhor o outro.
Diferentes pontos de vistas se completam. Vemos que não há monstros, e sim falhas nas relações.
Kore-eda não é tão sutil nas transformações de opiniões vistas nas diferentes versões e a estrutura chama demais a atenção pra si, mas "Monster" funciona quando foca na beleza de uma relação infantil que proporciona ajuda e sorrisos mútuos em meio a uma realidade que frequentemente castiga o 'diferente' e os mais lindos e puros sentimentos.
Garra de Ferro
3.9 111A verdadeira força.
A família e a cruel tradição de tragédias.
A maldição. Quem acredita nela?
Sacrifícios. Mas sem lágrimas. A missão de honrar o sangue está em primeiro lugar.
A 'América' que desumaniza: você tem que dar o máximo do máximo para realizar algo, não há espaço para derrota.
Há incômodo ao ver os seus passarem na sua frente em algo que estava destinado a ser seu, mas o amor pela família é muito maior.
A atmosfera evoca o medo do futuro. O terror enraizado insiste em acontecer.
A culpa cresce. Os pilares americanos e tradicionais são derrubados no ringue da vida.
As paixões ficam de lado para seguir a 'obrigação' que o nome da família impõe. O resultado é doloroso.
Talvez a nova geração entenda melhor que demonstrar fragilidade é ser alguém melhor.
Talvez apenas estar distante do que prega o seu sobrenome seja o suficiente.
A maldição é da América e da sua visão de mundo; Não da família.
Muito bom ver Jeremy Allen White e Lily James. Bela atuação de Zac Efron.
Grande filme.
Todos Nós Desconhecidos
3.9 175 Assista AgoraTempo, cura e despedidas.
A solidão e o não dito. Os vazios presentes em diferentes épocas, que carregam o peso do que poderia ter sido e as lacunas que ficaram.
A falta da família. As relações que simplesmente surgem e se vão.
Um filme sobre memória e conexão, movido por sentimentos que tomam conta da imaginação.
O longa toca em temas importantes como sexualidade e aceitação, mas fica essa sensação que o mesmo não se entrega a esses temas totalmente. O flerte com diferentes gêneros e o tom que varia muito não ajudam. Há bonitas cenas donas de ternura e sensibilidade entre os personagens de Andrew Scott e Paul Mescal, porém o filme não consegue tornar essa relação marcante.
Uma história sobre aquilo 'que poderia ser'. E embora seja uma obra com coisas inegavelmente boas(o elenco é ótimo), o filme também deixa essa mesma sensação em relação a sua qualidade.
Ferrari
3.3 94 Assista AgoraLuto e paixão.
Um homem movido por sua paixão, num universo frio moldado pelo próprio e por sua época.
Uma história que fala da grande entrega humana a um esporte, de negócios e que mira o sucesso, mas dona de uma atmosfera que parece uma ópera de morte e tragédia. Uma ópera carregada de dor, saudade e suas impossibilidades - vista de forma clara ou oculta por trás das muitas ações.
A velocidade que encanta os que veem de fora.
Os homens que arriscam muito suas vidas.
As ilusões criadas por paixões.
O contraste da alegria do feito com o som da tragédia.
O perfeccionismo e a busca por um legado de hegemonia em contraste com a incapacidade de resolver as coisas mais simples do cotidiano.
O homem que anda no meio dos mortos sem se abalar, mas que não é capaz de lidar com os sentimentos que nunca morrem e tanto castigam pessoas e relações.
Odiar o que restou, mas amar quem sempre amou.
O presente que lembra e sempre lembrará o passado. As sobras de uma família e casamento. As sobras de um tempo mais bonito que não existe mais.
Na vida e na corrida as coisas são caóticas, simplesmente acontecem.
Os Ferrari seguem e agarram o que honra as suas melhores memórias e sentimentos. Lutar pelo que ainda dá sentido a tudo é o que restou. Pode ser seu legado ou o que se foi, mas não se desfez.
Lembra "L'amica Geniale"(a maravilhosa série da HBO) e clássicos melodramas, mas acima de tudo é puro Michael Mann.
Obra que vive e relembra o passado, porém reflete a construção do presente.
Um filme de caráter extremamente íntimo e familiar, mas também deveras universal.
Um dos grandes de seu ano.
Golda: A Mulher De Uma Nação
3.0 63Pelo panorama atual do conflito Israel x Palestina, acredito que só os israelenses se empolgam para assistir. Apenas o Oscar mesmo que nos faz ver certos filmes.
Do luto sentido aos efeitos físicos e mentais severos vemos uma líder forte e muito relevante que carrega o peso da guerra em si.
Longa de estrutura burocrática e personagens secundários pálidos, porém possui alguma força graças a sólida performance de Helen Mirren.
Priscilla
3.4 163 Assista AgoraO falso conto de Cinderela.
A conquista por meio de uma inesperada e desconcertante sensibilidade.
A proteção fake. O puritanismo mentiroso.
A esposa como troféu.
Ele impondo todas as suas vontades aos poucos.
Ela caminhando com algemas cada vez mais apertadas.
"Ele precisa de mim."
Aceitar o inaceitável. Se sujeitar as chantagens e agressividade por amor.
O sucesso do rei em contraste com o homem que é um fracasso como marido.
A verdade aparece na convivência.
Sofia filma e desenvolve a trama com sobriedade. "Priscilla" não retrata Elvis como um monstro, e sim como um marido egoísta; Não mostra Priscilla infeliz o tempo todo, mas vemos como a mesma nunca foi ouvida e vista como uma pessoa na relação, apenas representou um papel para Elvis.
Gostaria de ver mais sobre o que sente e quem é Priscilla, em alguns momentos parece mais ser um filme sobre o egoísmo e grosseria de Elvis do que sobre a solidão da protagonista. Penso que o filme se beneficiaria caso caminhasse dessa forma. Dito isso, tal fato não deixa de refletir bem a jornada de uma mulher que não teve tempo de se conhecer e saber o que quer, pois teve que abrir mão de quase tudo para ser 'a mulher do rei'.
Ao partir a jovem mulher poderá viver e ser livre como nunca teve espaço para ser.
Uma relação como milhões de outras. Gente como a gente.
Bom filme. Condução elegante de Sofia Coppola.
Asteroid City
3.1 191 Assista AgoraUma homenagem ao processo de encenação e criação.
Em "Crônica Francesa" e aqui nota-se que há um esforço de Wes Anderson em se reinventar e/ou abraçar um risco maior como autor.
O filme anterior soou como puro exercício de estilo, algo vazio e sem o encantamento tradicional visto na filmografia do diretor, mas felizmente não foi o que aconteceu dessa vez.
Talvez o filme demore a engatar um pouco, porém a paixão pelo processo é sentida tanto através dos personagens do 'drama imaginário Asteroid City' (cheios de aspirações, curiosidade e questionamentos sobre o desconhecido, a vida, a morte, seus trabalhos e si mesmos) quanto por meio da inventividade do longa - na narrativa e nas explanações do autor e seus atores nas cenas de bastidores. Tudo conversa. Flui, funciona.
O humor, a inocência e a sensibilidade excêntrica e cativante de sempre do diretor estão presentes. É Wes Anderson.
Não sei onde o diretor vai parar com suas tentativas de criar obras de maneiras cada vez mais particulares, mas "Asteroid City" me fez rir e encantou como sei que o diretor é capaz de fazer.
20 Dias em Mariupol
3.9 57 Assista AgoraUma história que não poderia deixar de ser mostrada.
Uma obra que já nasceu pronta para ser premiada.
O filme verbaliza várias vezes através de diferentes pessoas: "Filmem aqui. Filmem para que o mundo veja o que estão fazendo conosco." Entendemos o motivo das vítimas pedirem isso? 100%. Mas isso resume bem o documentário, a abordagem do mesmo.
O longa parece não confiar na força natural de sua história e imagens.
Como cinema é um filme protocolar, não há nada particularmente especial.
How to Have Sex
3.7 110 Assista AgoraUm verão sobre o pior e o melhor das relações.
O toque do bem e o do mal.
O fim de um ciclo. A diversão e o descompromisso de uma viagem feita para ser memorável. A pureza da amizade feminina em plena juventude. A liberdade sexual e os limites do consentimento.
O desconforto posterior. Não saber para onde ir.
Se sentir pior que as amigas no pior momento de maior fragilidade. Se sentir usada e desvalorizada.
A câmera acompanha bem de perto a protagonista, que ainda está absorvendo o que aconteceu e entendendo como está.
A sensação é de estar crescentemente sendo acuada.
Vemos em sua fisionomia como a protagonista se sente sozinha, isolada. As sequências com ela caminhando por aí, mostrando-a cada vez menor nos planos, dizem muito sobre como ela está se sentindo bem desamparada num local estranho e num momento mais estranho(péssimo) ainda.
Os olhares não mentem. Eles desconfiam, enxergam, mas evitam tocar no assunto difícil. Preferem deixar para lá e acreditar no mais conveniente.
O abuso. A normalização de quem pratica.
A falta de coragem da vítima para expor o que ocorreu.
A falta de observação de quem está em volta.
O trauma que fica, que nem se tem o real tamanho dele ainda.
No final, as mãos que se importam serão aquelas que irão te ajudar a passar por tudo isso da melhor maneira possível.
Importante filme. Bela estreia de Molly Manning Walker como diretora.
O Mal Que Nos Habita
3.6 534 Assista AgoraO mal que não se explica.
Ele está presente e não se pode combatê-lo.
O pior que virá se alimenta do medo.
Fé e crença religiosa ficaram no passado. Apenas a distância pode vencê-lo.
Aqui o importante não é contextualizar, e sim sentir o desconforto e acompanhar o mal agindo e devastando tudo.
As sequências de terror e as mortes são o filme. Funciona.
Gostei muito das tais sete regras. As chiquititas do capeta também são ótimas!
Filme de possessão de respeito. Ótimo terror argentino.
Saltburn
3.5 854O que foi isto aqui, hein?
Na maior parte do tempo é uma obra genérica e que não faz a menor ideia do que deseja ser(só arranha temas que poderiam ser interessantes na história). No final, vemos que na verdade trata-se apenas de um filme espertinho.
"Saltburn" possui escolhas muitos ruins sobre como desenvolver a trama e envolver o espectador. Filme exageradamente explicativo e feito para chocar. Alguns momentos são constrangedores de tão fracos.
Emerald Fennell precisa aprender a terminar seus filmes de outra forma. Decepcionante.
Breaking Bad (4ª Temporada)
4.7 1,2K Assista AgoraO novo Rei de Albuquerque.
Walter White, o frustrado professor de química e pai de família comum, não existe mais.
A transformação foi completada ao término da temporada. Heisenberg surgiu como um nome para impor respeito, mas virou uma persona incontrolável que tomou o controle e não possui limites.
Hank sentiu o golpe pesadíssimo visto na temporada anterior, porém se recuperou e mostrou o quanto é um investigador impressionante. A inteligência e o faro apurado do agente da DEA acrescentam muito à série, seus avanços sempre provocam ótimos momentos de tensão.
Skyler como Kim Wexler. A personagem mostrou neste quarto ano o quanto foi contaminada pelo poder e artimanhas que nunca teve antes nas mãos. Quando ela está decidida ninguém segura. Vemos como ela a essa altura do campeonato não aceita "não" como resposta, mesmo que para isso a própria tenha que romper princípios e barreiras antes inimagináveis.
Se Walter tornou-se algo que ninguém esperava, Jesse também trilhou um caminho semelhante. Parece num primeiro momento que ele não sentia mais o impacto causado pelas mortes em volta, porém vemos que o personagem apenas fugia como podia disso.
Jesse chegou bem perto de figuras capazes de todo tipo de violência e tornou-se alguém capaz de encarar pessoas assim. Trata-se também de um transformação impressionante, quase tanto quanto a do protagonista. A performance de Aaron Paul é visceral, deveras marcante.
Os dois personagens principais brilham, mas pode-se dizer que Gus se destaca em igual proporção aos dois - por vezes até mais. Sem dúvida é um feito e tanto para um personagem que deveria ser 'apenas' o criminoso rival que surge durante a série. A série revela seu passado de perda e acompanhamos como o silencioso criminoso é incomparavelmente implacável, meticuloso e frio. O inesperado embate Gus x Hector(ambos com história também vista em "Better Call Saul") é incrível. O que vemos entre os dois no episódio final(com direito a trilha que remete aos westerns de Sergio Leone) está entre os momentos mais marcantes de "Breaking Bad".
O brilhante e caótico "Crawl Space" nos tirou o fôlego e inseriu terror como nunca antes foi visto na obra.
O igualmente poderoso e desconcertante "Face Off" foi o auge quando pensamos em acerto de contas e revelação de quem de fato se tornou Walter White.
Cenas antológicas, fantásticos episódios e um final de temporada espetacular. Excelente ano.
Ele venceu.
Breaking Bad (3ª Temporada)
4.6 840Os bad guys.
Após a grande tragédia em sua vida, Jesse conseguiu se recompor e seguir em frente apenas quando entendeu e admitiu a si mesmo que é uma pessoa ruim.
Walter até tentou largar o mundo do crime e produção de drogas. No início da temporada, conversando com Gus, disse que deixaria de vez, mas a grande ambição e posto alcançado já fazem parte de quem ele se tornou.
Nas duas primeiras temporadas os dois protagonistas mergulharam, agiram e reagiram ao universo que escolheram, fizeram o necessário para crescer e sobreviver. Ainda assim, sempre houve algo dentro dos dois que os balançavam a ponto de pensar que eles não pertencem a esse lugar.
A reta final da temporada mostrou a ambos que eles pertencem a esse mundo. E mais do que isso: eles querem continuar pertencendo.
Isso vale para os dois e, agora, numa escala menor, claro, vale para Skyler. A escolha de sujar as mãos foi dela - por mais que também exista o fator família aí no meio.
Quando se tem tanto nas mãos, infinitamente mais do que já se teve, é difícil abrir mão.
Quando se mexe com mortes, perigos e poderes grandes demais se sabe que os mesmos irão atrás de você novamente.
Hank, Walter e Jesse são protagonistas de excelentes momentos de ação e imensa tensão.
A terceira temporada é a mais violenta até aqui. 'One Minute', 'Half Measures' e 'Full Measure' são episódios de tirar o fôlego.
Trabalho de direção espetacular. "Breaking Bad" esbanja excelência nesse sentido, pouquíssimas séries na história fazem frente.
O universo é violento e cruel, não há escapatória. Quem vive e mexe com ele sente na pele isso.
Não há volta. Nem para viver como antes, nem para ser alguém diferente de quem se tornou.
Como esquecer o olhar de Jesse na cena final? A escuridão que encerra o ano diz tudo.
Excelente temporada.
Duna: Parte 2
4.4 619Produto do meio.
Épico grandioso de estrutura e jornadas tradicionais. Gosto muito de Paul e Chani, e também dos personagens que estão no núcleo de ambos, ao lado deles. O casal e o que os move são o coração do filme, acompanhar cada passo, questionamento e importante decisão dele e a obstinação dela para não desviar dos seus princípios são coisas fascinantes.
A semente já tinha sido plantada no filme anterior e aqui o tema do fanatismo religioso e crença num salvador ganham enorme destaque(Javier Bardem rouba a cena nesse sentido). Como o controle do povo e da força agem em alguém tão idolatrado? Cuidado com o que se pede.
As sequências que envolvem esse tema são poderosas, deveras marcantes.
Gosto dos desdobramentos do filme, possuem inegável força e levantam temas ricos.
Ainda assim, preciso pontuar que considero que a grande virada do longa não flui tão bem assim. Os elementos que proporcionaram isso estão na tela, porém falta algo(talvez uma maior sensibilidade do filme - não do Chalamet, que está muito bem) para tornar essa mudança de chave em Paul Atreides mais crível. O protagonista é marcado por um furacão de sentimentos e questionamentos sobre o peso que carrega nas mãos desde a parte 1, ver algo nesse sentido num momento tão importante engrandeceria o mesmo.
Não curto tanto também o lado rival, com o 'Elvis sem cabelo' e o Imperador. Não vejo muita graça nos personagens e boa parte das cenas que envolvem esse núcleo parecem ter vindo de uma obra bem pior. Dito isso, acho que para o funcionamento do conflito e do filme em si tal questão atrapalha pouco.
Os arcos fascinantes de Paul, Chani, Jessica e dos que os cercam é o que importa de fato, são os mesmos que dão peso a história, e eles sem dúvida funcionam, impactam o espectador.
"Duna: Parte 2" é um sci-fi de respeito. Um blockbuster com ótimas cenas de ação, protagonistas em grandes jornadas e dono de temas universais super relevantes muito bem desenvolvidos.
Quando a vingança e o desejo de guerra assumem o controle não há mais volta.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraO escolhido.
Visões e medos do futuro.
Se encontrar e entender o que precisa ser feito durante o caminho.
Acho que conhecer mais Arrakis e seu povo daria mais peso ao filme, mas ainda assim é uma construção de universo muito boa, cheia de elementos bem particulares que tornam esse mundo atraente e muito especial.
Discordo muito das pessoas que dizem que quase nada acontece no longa, vejo muita força nos acontecimentos e consequências impactantes. Sentimos como tudo afeta os personagens. Sentimos inclusive esses grandes temores antes do pior acontecer.
Traição e ganância movem o tabuleiro, dizimando povos e relações. Comandos cruéis. Realidade devastadora.
Sendo ou não o escolhido que tanta gente observa, põe fé e venera e tendo ou não as ferramentas necessárias, apenas enfrentando o caos interno e sobrevivendo ao externo que o jovem Paul parece finalmente ter uma noção de seu destino.
Ótimo filme. Esse é apenas o começo.
A Cor Púrpura
3.5 102Teatral e exagerado demais na maior do tempo.
Algumas sequências musicais são inventivas, mas não fazem o filme engrenar.
Amo musicais e gosto do tema(a pureza e a resistência feminina são boas de ver), porém não me conquistou.
Rustin
3.3 81 Assista AgoraUma sociedade que resiste as mudanças: racista e homofóbica.
Um coração de líder. Alguém atacado por todos os lados.
Saber sua essência e defender sua identidade. A luta por direitos, pela verdadeira liberdade. Movimento e momento histórico poderosos.
O filme aborda muito bem os aspectos da vida de Bayard Rustin, mostrando seus medos, memórias, bagagem e coragem.
Bela atuação do ótimo Colman Domingo.