A música que retrata uma época culturalmente inspirada. O calor carioca de todas as épocas. O descontentamento com a realidade do momento - que também não mudou. A grande turbulência que é viver. O grande caos que é amar. Um cinema livre de amarras em temas e linguagem. Sganzerla é do caralho.
Um filme sobre um personagem incapaz de se relacionar. De fazer parte do mesmo ambiente que outras pessoas. Que vive uma rotina de profundo incômodo. Um protagonista que é o oposto dos outros, que vivem e compartilham genuinamente o que são, querem, sentem, sonham, vivem e respiram. Que possuem mentes e corpos livres.
Um autor incapaz de chegar minimamente perto do que deseja, do que o toca. De demonstrar o que sente por sua musa. Incapaz de viver, sentir e se entregar aos momentos. Um observador da vida. E apenas isso. Mas não por vontade própria.
As metáforas são fortes e ricas, fluem bastante bem na narrativa. Há algo de sobrenatural que não se explica. Embora o filme respire uma simplicidade fascinante nas interações e ambiente, existe algo que torna aquele local meio mágico e também muito misterioso.
Um escritor incapaz de viver como poderia - e deveria. E justamente por conta dessa incapacidade ele atinge o mínimo de humanidade, colocando no papel, na sua obra, na sua arte algo real, seu, bonito e de coração.
A dor e a perda que ensinam e viram matéria para algo belo e eterno.
"Godzilla" resgata muito a questão histórica e tradicional da honra. De cumprir o seu papel pelo bem do país, essa coisa patriótica que está acima das razões pessoais. Porém, esse dever está envolto em enorme culpa. Uma culpa que martiriza e não deixa seguir em frente.
O Godzilla é visualmente espetacular. Muitas das imagens mais poderosas e inesquecíveis do ano estão neste filme. São sequências que colocam obras dos EUA de caráter similar no bolso. O contexto, o uso e a presença do personagem-título dialogam com presente e passado, acompanham as evoluções técnicas(e como impressiona) e de gênero.
Um filme que investe no clássico, mas que também olha para a frente e entende o novo. O novo que existe na possibilidade de construir uma família com pessoas que não tinham mais nada e, agora, podem ter tudo. Que entende que construir uma família com amor é maior do que qualquer coisa.
Longa de olhar maduro sobre as guerras tão catastróficas e o resultado das mesmas. E também sobre humanidade.
O improvável milagre da vida e do amor construído do zero. Final bonito.
Quando surge um transformador sim num mundo de nãos.
Uma realidade na qual tudo em volta é difícil e incerto. Um mundo de desemprego. Um mundo em guerra. Um mundo de frieza. De defeitos e contratempos que (quase) afastam as possibilidades de se enxergar algo bom dentro de uma rotina de empregos monótonos, instáveis, ruins.
Uma vida de solidão e desesperança. Personagens muito humanos, cheios de defeitos, banhados numa calmaria paralisante. Mas há algo que aproxima e une de forma improvável e muito bonita os dois protagonistas. Duas pessoas comuns como todas as outras naquela cidade. Duas pessoas que se conectam. Mesmo quando tudo indica que é difícil se conectar - e até se encontrar. Mesmo que remeta a dores e traumas.
Apesar de todos os vários contratempos do destino, a frieza e o cinza vão dando espaço a uma nova possibilidade. A novas possibilidades de companhia e sorrisos. Dão espaço a luz. A luz no presente e a um futuro melhor sem solidão.
Os silêncios. As músicas. Os desencontros. O humor. O amor sem muito jeito, mas sincero. Tudo encanta. Está tudo no lugar certo.
Lindamente dirigido e atuado. Um dos melhores filmes de 2023.
Vivendo no perigo. Vivendo segundo seus próprios termos, códigos de conduta e sem se importar com o que os outros estão pensando. Os personagens apenas fazem o que precisa ser feito, o necessário segundo os próprios. Apenas vão em frente.
O policial e o motorista. Prenda-me Se For Capaz. Um jogo de gato e rato muito consciente. Obsessão e perfeição. As formas de proceder de ambos, tão particulares, os tornam imprevisíveis e mais parecidos um com o outro.
As apostas são altas. Os riscos também. Porém não existe medo, pois não há pessoas e relações a perder. Não há espaço para isso nesse tipo de vida. Filme de mais silêncio que palavras. As palavras do motorista e da jogadora são sempre muito, muito diretas. Tão diretas quanto suas ações.
Uma obra movida e resolvida pela ação. Pelas longas perseguições de carros fabulosas(das melhores do cinema). Pelos rastros e corpos que ficam. E também, claro, pelos mistérios escondidos e motivações que só os próprios personagens sabem exatamente quais são.
O que ninguém sabe ao certo, mas o inconsciente revela. A flor que cai. A vida que definha. O vazio. A desordem. A tristeza no olhar. O corpo que não quer mais ser tocado. O cansaço irremediável, definitivo.
Uma verdadeira prisão. Uma alma inquieta se movendo o tempo todo, gritando por uma liberdade definitiva. Uma transformadora e salvadora chave para a fuga. Espelhos e imagens sombrias anunciam o pior. O próprio destino finalmente no controle, finalmente tomado em suas mãos.
14 minutos sobre uma alma em pedaços. 14 minutos que representam uma vida. Uma vida que reflete milhões de pessoas enjauladas em seus corpos, dentro de existências tristes. Que reflete incontáveis mulheres que não enxergam mais outra saída.
Genial como Buñuel que veio antes. Genial como David Lynch que veio depois. Único, sensível e feminino como apenas uma mulher poderia conceber. Genial obra de Maya Deren.
O amor que desarma. O amor que nasce também no constrangimento. O amor que melhora o outro. O amor que causa uma explosão que só ele é capaz.
Paula Prentiss(ótima) entrega uma Abigail super esperta, porém bem mais insegura do que nos acostumamos a ver nas protagonistas de 'longas irmãos' dirigidos pelo diretor. Prentiss e Rock Hudson(sempre muito bom vê-lo em cena) esbanjam boa química desde o primeiro minuto. A forma como eles percebem, passo a passo, o que são um para o outro é bonita de ver.
Uma screwball comedy do jeito apaixonante que ninguém fez tantas vezes tão bem quanto Howard Hawks.
A dura sobrevivência feminina. A inocência tirada forçadamente pela vida. A culpa interna que não é culpa sua. O medo do julgamento. O medo de perder quem se ama. A imagem criada e projeção do outro que se torna maior que o amor por simples orgulho, bloqueando o que antes era tão puro.
Não é a pobreza que é trágica. E ter que se forçar a viver algo que não é você. A sensibilidade poética da alma fez nascer tudo e a vivência dolorosa mostrou o que vale de verdade. O amor é maior que erros e orgulhos, mas o mesmo não é capaz de consertar o mundo.
Um Polanski movie bem diferente em forma e estilo, porém os temores internos e os males da sociedade que tanto oprimem são bem conhecidos. Drama/romance clássico, triste e belo.
Uma conversa, com um possível flerte. Uma provocação. E algo trágico inesperado. E uma acusação. [Não há mais como ouvir "P.I.M.P." e não pensar nesse filme].
Longa de muitas interpretações, de muitas questões que ficam em aberto. Vemos como o que não aparece aos olhos de todos pode esconder muitas coisas. Vemos como somos um reflexo da vida: um mundo de bagagens e um turbilhão de sentimentos entregues a cada momento, sem ter ideia do que acontecerá no futuro.
Uma trama que investiga tudo bem de perto, todos os cenários e possibilidades lógicas. Que usa o máximo de recursos existentes. E a narrativa faz parte disso. O fazer cinematográfico, cada escolha da diretora no que se refere ao que mostrar ou não mostrar, descortina as emoções e inquietações, gera dúvidas e expõe as dores dos personagens.
Conhecer as fraquezas e falhas de caráter da esposa na relação torna a mesma culpada ou apenas mais humana? Ao termos acesso a parte da intimidade deles passamos a entender o casal e o que aconteceu ou apenas estamos inclinados a acreditar no que queremos crer?
Um filme que busca definir com o máximo possível de razão algo feito totalmente com a emoção, motivado por aquilo que não se comunica e que só o dono da ação de fato entende. E, no final, são os olhos da emoção que enxergam o que os outros não conseguiram ver.
Tanto em relação ao que aconteceu quanto ao que unirá ou não aquelas pessoas: trata-se de uma história que é mais sobre escolhas do que sobre respostas.
Sandra Hüller está maravilhosa. Uma das grandes performances do ano. Um dos melhores filmes de 2023.
P.S.: Chorei forte na cena do cachorro(eu vivi essa merda), se fizerem outra cena assim eu paro de ver filmes.
A mãe que vive um trauma e uma hora a saúde mental não aguenta. O filho que tem um sonho do tamanho do seu coração. A filha que vai em frente e sabe o que quer, mesmo que pessoas em volta não a entendam em muitos momentos. O pai que quer o melhor para os filhos, mas que aprende que os filhos sabem melhor do que ele qual caminho devem seguir.
Por vezes tudo dá errado ao mesmo tempo, mas algo sempre é capaz de clarear as coisas, produzir esperança e fazer com que a família passe a se unir e apoiar novamente. É a cara do Brasil. Um filme muito brasileiro. (PS: E DO NADA o Sorín aparece. Também é um filme muito cruzeirense).
O São Luiz. O Nico. As memórias. Os vazios. O tempo.
É muito sobre Recife. É muito sobre Kleber. Mas também fala de um Brasil com constantes e inevitáveis mudanças. E da paixão enorme de quem ama cinema e de tudo envolta da construção dessa paixão.
Gosto mais do primeiro terço do que do restante, mas o final me deixou bem satisfeito. Filme de grande coração e fácil identificação.
Carla Gugino é tudo em todo o lugar ao mesmo tempo.
Maldade, ambição e poder.
A troca escolhida. O preço cobrado. As vidas destruídas. As almas perdidas.
Não se pode escapar daquilo que já estava escrito.
Os episódios possuem estruturas praticamente iguais e previsíveis, mas funcionam ao nos acostumar a esperar algo visualmente atraente, um 'prazer macabro' que só o gênero é capaz de proporcionar.
Belas atuações de Carla Gugino e Bruce Greenwood. Adoro ver a 'família Flanagan' em diferentes minisséries, e ela segue crescendo.
Mike Flanagan e Edgar Allan Poe num casamento de estilos e temas que funciona muito.
Quis o destino que em 2023, ano do grande "Assassino da Lua das Flores", de Martin Scorsese, tivéssemos também a belíssima despedida da linda "Reservation Dogs"(detalhe: a maravilhosa Lily Gladstone está nas duas obras).
A série que mostra com imensa sensibilidade temas como o valor da comunidade, ancestralidade, espiritualidade, tradições, folclores, pertencimento, amadurecimento, perdão, luto e as inquietações dos nativos norte-americanos de hoje e ontem chegou ao seu auge neste terceiro ano.
Os adolescentes que protagonizam a série constantemente buscaram encontrar seu lugar no mundo e ao mesmo tempo lidaram com o medo de não encontrar. As caminhadas por longas estradas, as conversas entre diferentes gerações e as trocas que apenas os próprios olhos podem enxergar e o coração sentir mostram que as respostas são muito mais simples do que parecem. Elas estavam por perto o tempo inteiro.
Nem a morte impede a proteção de quem se ama e precisa de ajuda. A proteção e valorização dos seus foi algo mais forte do que nunca nessa temporada. E é assim que esses personagens se encontram e reencontram: ao entenderem que a felicidade e clareza desejadas estão em contribuir da melhor forma para tornar a comunidade e o mundo em volta melhor. Não há despedidas, apenas até logo. Pois, independente do que aconteça, todos sempre viverão em cada um deles. Lindo ano final.
Que tenhamos mais e mais histórias de tão alto nível que retratem histórias de povos que costumam ficar longe dos holofotes. Uma das melhores séries da atualidade chegou ao fim, mas vou me apropriar e distorcer um pouco o que a jovem Willie Jack disse e levar comigo da seguinte forma: esses personagens e história são para sempre.
Uma temporada com cenários diferentes, mas com o mesma capacidade enorme de debater de forma aberta e eloquente e tocar em questões emocionais e sexuais importantes de uma maneira que apenas ela faz. "Sex Education" entregou 4 sólidos anos, apresentou personagens jovens(em sua maioria, mas não apenas jovens) cativantes e nos fez sempre torcer para que eles pudessem vencer seus demônios e descobrir quem de fato são e querem ser.
Amores e relacionamentos românticos entregaram euforia, constrangimento, momentos bonitos e tristes. Porém, independente de como as coisas terminaram para os muitos casais, neste quarto ano a série fez questão de dizer algo de forma bela: quem passou por nossas vidas sempre fará parte da nossa história e molda parte de quem somos.
Um acerto da netflix. Sentirei saudade de Maeve, Otis, Eric, Ruby, Aimee e companhia.
Um terceiro ano sobre entender para onde se está indo e resolver importantes questões que seguem nos afetando.
As temporadas anteriores são melhores e mais sólidas, mas é um desfecho digno da jornada de crescimento de um pequeno clube que se torna muito melhor e de pessoas que unidas também se tornaram melhores do que eram.
"Ted Lasso" se despede como uma inesperada obra de qualidade sobre o mundo do futebol(precisávamos!). Uma história dona de um espírito acolhedor e otimista, que lembra inclusive os filmes de Frank Capra, mas que também toca com seriedade em dramas e questões atuais e atemporais - adoro como a série aborda saúde mental e a necessidade de terapias no mundo esportivo(e não apenas nele).
Ted Lasso é um dos grandes protagonistas recentes da TV. Personagem especial. Terminou bem e na hora certa(P.S.: Há conversas sobre uma possível quarta temporada no futuro). Os personagens cativantes, a ambientação e as participações especiais vão ficar na nossa memória.
A frieza por vezes criticada de Fincher à serviço de uma história que combina perfeitamente com isso. Um assassino que segue rigorosamente seus padrões de comportamento e rotina para executar suas tarefas e missões. E também para se controlar e manter calmo. Para seguir em frente e dar suas duras e devidas respostas. Ou seja: para lidar com a vida. Tendo o coração 100% frio ou não(talvez seja apenas 99%, vai), vemos como ele responde o que o afeta com vigor e sem misericórdia.
Planejar, agir e cumprir. Não se trata de ter um código de justiça, e sim de reparar o dano e garantir a segurança necessária. Um assassino que trabalha como um relógio suíço. Mas que lida com as próprias falhas, ansiedades e fraquezas. Afinal de contas, num mundo caótico até as melhores máquinas não têm certeza do quanto durarão.
Direção rigorosa(no bom sentido), bem eficiente. Bela atuação do Michael Fassbender, que eu sempre considerei um grandíssimo ator. Pode soar meio vazio, mas é um filme que executa exatamente o que é proposto e reflete o caráter do protagonista. Funciona muito.
A ideia de criminosos condenados descartados pela sociedade lutando pela sobrevivência é interessante. Filme de espaços escuros e apertados, na qual a sujeira(de diferentes tipos) é algo que todos estão acostumados a lidar. O jogo de gato e rato funciona razoavelmente bem como filme de gênero, mas no geral é um típico longa bem genérico de franquias blockbusters do cinema. Fincher fez melhor em todos os outros trabalhos de sua carreira.
Uma história sobre os diferentes tipos de amor? Sobre amor sem julgamentos? Pode-se amar duas pessoas ao mesmo tempo? A felicidade de uma pessoa(ou de um casal) necessariamente causa a infelicidade de alguém? O amor sempre é egoísta de alguma forma?
Varda filma com beleza estonteante e assusta com sua verdade avassaladora. De tão direto, nos sentimos mal com o que vemos. Pensamos: "Onde essa história irá parar?". E aí vem a pancada. E não temos respostas, e sim consequências, ironias e reflexões potencializadas.
A vida como algo imprevisível, com seus caminhos caprichosos e tortos. A vida que se renova. Tão igualmente bela quanto cruel. A utopia da felicidade intocável e 100% sincera. Os ideias de perfeição de família, casamento e amor são exaltados, contestados e desconstruídos e ao mesmo tempo.
Um filme bem único. A trilha sonora, as cores, a ambientação, as mortes e os closes nos lembram um pouco giallos clássicos do cinema italiano. Ou até mesmo Jodorowsky. Ainda assim, "The Love Witch" sabe o que quer abordar e como fazer isso de uma maneira muito particular.
A obra abraça sem medo seu caráter fantasioso, sempre num tom acima do que se espera da realidade. Tudo é um espelho do olhar da protagonista em relação ao mundo e aos relacionamentos românticos/sexuais. Tudo deveras contaminado por misticismo e sedução, através de uma aura de sonho que permeia a obra e reflete o desejo maior de sua protagonista.
Mulheres e homens. As fragilidades psicológicas e afetivas de um sexo sendo exploradas pelo outro. Um jogo de domínio que se alterna. Não se sofre apenas quando se tem o controle da situação. O desejo inevitável do novo. O sexo como arma. A obsessão que leva a morte.
O longa aborda questões como dependência afetiva, conquista, abandono, idealização do outro, amor, paixão e 'jogos românticos' de maneira consciente e até eloquente, mas sem nunca perder seu caráter de fantasia.
Atraente, envolvente e exótico. Uma fantástica história da busca de um amor perfeito, porém distorcido. Um amor que só se pode alcançar na própria mente. E, falando de uma forma geral, quem pode julgar o que é ou não distorcido quando se trata de amor?
Ela encontra nele a pureza de alguém que a vê de forma diferente e quer cuidar como ninguém jamais fez. Ele encontra nela alguém com uma fragilidade, inocência e vigor atraentes, que faz seu olhar brilhar e nascer nele um sentimento extremamente puro.
Vai muito além de um romance. Trata-se muito mais de uma vontade de fazer o bem ao outro do que de concretizar uma relação. Há uma vontade de cuidar que nasce muito naturalmente. Uma bonita conexão genuína mesmo sabendo da impossibilidade de um futuro idealizado.
A tristeza de uma garota perdida. Mas que segue, e carrega uma vontade grande de viver algo melhor. Cardinale está lindíssima, encantadora. O fascínio da juventude ao conhecer um sentimento novo e belo. De um adolescente movido pelo coração, que não julga, com imensa coragem e bondade.
O longa alterna o protagonismo, nos faz entender muito bem os dois personagens principais. Vemos os intensos sentimentos, desejos e inquietações. E também que a vida de um deles é e provavelmente será sempre mais sofrida.
Zurlini filma tudo com muito beleza e humanidade, mas também com muito tristeza nos olhares. O muito bonito abraço derradeiro fica na memória. Um carinho que provavelmente nenhum dos dois tinham sentido antes. No final, apesar das impossibilidades da vida(financeiras, de idade, do olhar da sociedade e dos relacionamentos anteriores), há a consciência de ambos que o melhor possível foi feito entre os dois.
A inquietação existencial que surge em diferentes idades, épocas e vidas. Os encontros nos quais se vivem pequenos e belos momento que ficam para sempre. Os reencontros que reacendem amores e tocam em feridas.
O amor que produz um efeito mágico na vida e dá sentido a tudo. Que se busca, que move, mas faz sofrer. No jogo do amor uns ganham e outros perdem. Uns esperam e sofrem. Outros esperam, sem ter certeza, e são felizes.
O roteiro é menos sólido, mais simples, há mais conveniências. O final não envelheceu tão bem, mas entende-se a época e a visão de amor. O filme não chega a ser apaixonante como outros do cineasta, mas os temas clássicos do cinema belíssimo do mesmo estão aqui. De certa forma, serve como um ensaio para as obras-primas do diretor que vieram depois.
Apesar de distante do melhor já visto nas obras de Demy, sempre é prazeroso enxergar o maior dos sentimentos através do olhar de um fantástico entendedor do assunto.
A quinta temporada continua mostrando o humor engraçadíssimo e seus maravilhosos personagens com particularidades tão únicas. Como digo com frequência: é a série mais engraçada do momento.
Sonho consumado, bloqueio, identidade e questionamento sobre o que realmente traz felicidade. Guillermo foi o destaque. Na verdade, os rumos do personagem são sempre o fator principal que dita para qual caminho a história irá. Se, nesse sentido, o desfecho da temporada não foi original, a jornada foi bastante divertida e envolvente.
Dentro desse plot de Guillermo(especialmente nele) vimos relações crescendo e personagens mostrando maior cuidado e proteção em relação ao outro. Uma bonita e, por vezes surpreendente, valorização da companhia de vários anos(dentro do que eles são, sem descaracterizar os personagens, obviamente). A série ainda aproveita isso para fazer um contraponto maravilhoso com a Guia dos vampiros(uma figura sempre completamente ignorada por quase todos) em cenas sempre muito engraçadas.
Um ano de belas participações especiais(com atores interpretando eles mesmos de forma bastante divertida), alguns questionamentos existenciais, muito constrangimento e a criatividade de sempre. E, claro, sem deixar de lado algo fundamental na série: ser uma comédia acima de tudo.
O espetacular e desconcertante "Local News" é um dos episódios mais engraçados dos últimos tempos. E há outros com momentos de humor inspirado e caos de um jeito que apenas "What We Do in the Shadows" faz.
Outra temporada de muito bom nível dessa que é uma das melhores séries da atualidade.
"Meu amado guaxinim. Esta história sempre foi sua, você só não sabia."
Deixar finalmente pesadelos para trás, se acertar e encontrar seu propósito.
Contra inimigos que tentam criar uma utópica sociedade sem defeitos, através apenas de criaturas supostamente perfeitas, nada é mais perfeito que a amizade entre os Guardiões. A amizade que tanto salva expande a fronteira do grupo para dar uma nova vida para todos os que sempre foram oprimidos e descartados. Através de olhos que aprendem a ser generosos os defeitos não importam. E assim se cria uma nova sociedade baseada no amor. É simples, mas funciona.
As interações especiais repletas de sentimentos desse grupo que é uma grande família, os bons personagens e o bom humor seguem confirmando que os Guardiões da Galáxia estão entre os maiores acertos da Marvel. Funciona bem como final de saga.
Vive e sobrevive do visual super colorido e de referências. O humor é pouquíssimo inspirado e a trama é super, super genérica. Nem a motivação de fazer algo que mostre 'finalmente sua grandeza a todos' nos conquista como poderia. Não irrita, mas é 100% esquecível(e sim, tenho enorme carinho pelo jogo, porém nem mesmo fator nostálgico me pegou).
Copacabana Mon Amour
3.9 78 Assista AgoraDedo no c* e gritaria. Putaria e bruxaria.
A música que retrata uma época culturalmente inspirada.
O calor carioca de todas as épocas. O descontentamento com a realidade do momento - que também não mudou.
A grande turbulência que é viver. O grande caos que é amar.
Um cinema livre de amarras em temas e linguagem. Sganzerla é do caralho.
Afire
3.8 52 Assista AgoraAquele que não sabe viver.
Um filme sobre um personagem incapaz de se relacionar. De fazer parte do mesmo ambiente que outras pessoas. Que vive uma rotina de profundo incômodo.
Um protagonista que é o oposto dos outros, que vivem e compartilham genuinamente o que são, querem, sentem, sonham, vivem e respiram. Que possuem mentes e corpos livres.
Um autor incapaz de chegar minimamente perto do que deseja, do que o toca.
De demonstrar o que sente por sua musa. Incapaz de viver, sentir e se entregar aos momentos.
Um observador da vida. E apenas isso. Mas não por vontade própria.
As metáforas são fortes e ricas, fluem bastante bem na narrativa. Há algo de sobrenatural que não se explica. Embora o filme respire uma simplicidade fascinante nas interações e ambiente, existe algo que torna aquele local meio mágico e também muito misterioso.
Um escritor incapaz de viver como poderia - e deveria. E justamente por conta dessa incapacidade ele atinge o mínimo de humanidade, colocando no papel, na sua obra, na sua arte algo real, seu, bonito e de coração.
A dor e a perda que ensinam e viram matéria para algo belo e eterno.
Paula Beer. S2
Outro grande longa de Petzold.
Godzilla: Minus One
4.1 325Melodrama e espetáculo.
Trauma e finalmente se permitir recomeçar.
"Godzilla" resgata muito a questão histórica e tradicional da honra. De cumprir o seu papel pelo bem do país, essa coisa patriótica que está acima das razões pessoais. Porém, esse dever está envolto em enorme culpa. Uma culpa que martiriza e não deixa seguir em frente.
O Godzilla é visualmente espetacular. Muitas das imagens mais poderosas e inesquecíveis do ano estão neste filme. São sequências que colocam obras dos EUA de caráter similar no bolso.
O contexto, o uso e a presença do personagem-título dialogam com presente e passado, acompanham as evoluções técnicas(e como impressiona) e de gênero.
Um filme que investe no clássico, mas que também olha para a frente e entende o novo.
O novo que existe na possibilidade de construir uma família com pessoas que não tinham mais nada e, agora, podem ter tudo. Que entende que construir uma família com amor é maior do que qualquer coisa.
Longa de olhar maduro sobre as guerras tão catastróficas e o resultado das mesmas.
E também sobre humanidade.
O improvável milagre da vida e do amor construído do zero. Final bonito.
Folhas de Outono
3.8 100*Possíveis spoilers abaixo!*
Quando surge um transformador sim num mundo de nãos.
Uma realidade na qual tudo em volta é difícil e incerto. Um mundo de desemprego.
Um mundo em guerra. Um mundo de frieza. De defeitos e contratempos que (quase) afastam as possibilidades de se enxergar algo bom dentro de uma rotina de empregos monótonos, instáveis, ruins.
Uma vida de solidão e desesperança. Personagens muito humanos, cheios de defeitos, banhados numa calmaria paralisante. Mas há algo que aproxima e une de forma improvável e muito bonita os dois protagonistas.
Duas pessoas comuns como todas as outras naquela cidade. Duas pessoas que se conectam. Mesmo quando tudo indica que é difícil se conectar - e até se encontrar. Mesmo que remeta a dores e traumas.
Apesar de todos os vários contratempos do destino, a frieza e o cinza vão dando espaço a uma nova possibilidade. A novas possibilidades de companhia e sorrisos. Dão espaço a luz. A luz no presente e a um futuro melhor sem solidão.
Os silêncios. As músicas. Os desencontros. O humor. O amor sem muito jeito, mas sincero. Tudo encanta. Está tudo no lugar certo.
Lindamente dirigido e atuado. Um dos melhores filmes de 2023.
Caçador de Morte
3.7 54Vivendo no Limite.
Vivendo no perigo.
Vivendo segundo seus próprios termos, códigos de conduta e sem se importar com o que os outros estão pensando. Os personagens apenas fazem o que precisa ser feito, o necessário segundo os próprios. Apenas vão em frente.
O policial e o motorista. Prenda-me Se For Capaz. Um jogo de gato e rato muito consciente. Obsessão e perfeição. As formas de proceder de ambos, tão particulares, os tornam imprevisíveis e mais parecidos um com o outro.
As apostas são altas. Os riscos também. Porém não existe medo, pois não há pessoas e relações a perder. Não há espaço para isso nesse tipo de vida.
Filme de mais silêncio que palavras. As palavras do motorista e da jogadora são sempre muito, muito diretas. Tão diretas quanto suas ações.
Uma obra movida e resolvida pela ação. Pelas longas perseguições de carros fabulosas(das melhores do cinema). Pelos rastros e corpos que ficam. E também, claro, pelos mistérios escondidos e motivações que só os próprios personagens sabem exatamente quais são.
Belo trio principal de atores. Grande filme.
Tramas do Entardecer
4.4 94A verdade no sonho.
O que ninguém sabe ao certo, mas o inconsciente revela.
A flor que cai. A vida que definha.
O vazio. A desordem. A tristeza no olhar.
O corpo que não quer mais ser tocado. O cansaço irremediável, definitivo.
Uma verdadeira prisão. Uma alma inquieta se movendo o tempo todo, gritando por uma liberdade definitiva. Uma transformadora e salvadora chave para a fuga.
Espelhos e imagens sombrias anunciam o pior. O próprio destino finalmente no controle, finalmente tomado em suas mãos.
14 minutos sobre uma alma em pedaços. 14 minutos que representam uma vida.
Uma vida que reflete milhões de pessoas enjauladas em seus corpos, dentro de existências tristes. Que reflete incontáveis mulheres que não enxergam mais outra saída.
Genial como Buñuel que veio antes. Genial como David Lynch que veio depois.
Único, sensível e feminino como apenas uma mulher poderia conceber.
Genial obra de Maya Deren.
O Esporte Favorito dos Homens
4.1 18Amor & Humor.
O amor que desarma.
O amor que nasce também no constrangimento.
O amor que melhora o outro.
O amor que causa uma explosão que só ele é capaz.
Paula Prentiss(ótima) entrega uma Abigail super esperta, porém bem mais insegura do que nos acostumamos a ver nas protagonistas de 'longas irmãos' dirigidos pelo diretor.
Prentiss e Rock Hudson(sempre muito bom vê-lo em cena) esbanjam boa química desde o primeiro minuto. A forma como eles percebem, passo a passo, o que são um para o outro é bonita de ver.
Uma screwball comedy do jeito apaixonante que ninguém fez tantas vezes tão bem quanto Howard Hawks.
Tess: Uma Lição de Vida
3.7 125 Assista AgoraTarde demais para amar.
A dura sobrevivência feminina. A inocência tirada forçadamente pela vida. A culpa interna que não é culpa sua.
O medo do julgamento. O medo de perder quem se ama. A imagem criada e projeção do outro que se torna maior que o amor por simples orgulho, bloqueando o que antes era tão puro.
Não é a pobreza que é trágica. E ter que se forçar a viver algo que não é você.
A sensibilidade poética da alma fez nascer tudo e a vivência dolorosa mostrou o que vale de verdade.
O amor é maior que erros e orgulhos, mas o mesmo não é capaz de consertar o mundo.
Um Polanski movie bem diferente em forma e estilo, porém os temores internos e os males da sociedade que tanto oprimem são bem conhecidos. Drama/romance clássico, triste e belo.
Amo você, Nastassja Kinski.
Anatomia de uma Queda
4.0 819 Assista Agora*Possíveis spoilers abaixo!*
Escolher acreditar.
Uma conversa, com um possível flerte. Uma provocação.
E algo trágico inesperado. E uma acusação.
[Não há mais como ouvir "P.I.M.P." e não pensar nesse filme].
Longa de muitas interpretações, de muitas questões que ficam em aberto. Vemos como o que não aparece aos olhos de todos pode esconder muitas coisas.
Vemos como somos um reflexo da vida: um mundo de bagagens e um turbilhão de sentimentos entregues a cada momento, sem ter ideia do que acontecerá no futuro.
Uma trama que investiga tudo bem de perto, todos os cenários e possibilidades lógicas. Que usa o máximo de recursos existentes. E a narrativa faz parte disso.
O fazer cinematográfico, cada escolha da diretora no que se refere ao que mostrar ou não mostrar, descortina as emoções e inquietações, gera dúvidas e expõe as dores dos personagens.
Conhecer as fraquezas e falhas de caráter da esposa na relação torna a mesma culpada ou apenas mais humana?
Ao termos acesso a parte da intimidade deles passamos a entender o casal e o que aconteceu ou apenas estamos inclinados a acreditar no que queremos crer?
Um filme que busca definir com o máximo possível de razão algo feito totalmente com a emoção, motivado por aquilo que não se comunica e que só o dono da ação de fato entende. E, no final, são os olhos da emoção que enxergam o que os outros não conseguiram ver.
Tanto em relação ao que aconteceu quanto ao que unirá ou não aquelas pessoas: trata-se de uma história que é mais sobre escolhas do que sobre respostas.
Sandra Hüller está maravilhosa. Uma das grandes performances do ano.
Um dos melhores filmes de 2023.
P.S.: Chorei forte na cena do cachorro(eu vivi essa merda), se fizerem outra cena assim eu paro de ver filmes.
Marte Um
4.1 303 Assista AgoraA mãe que vive um trauma e uma hora a saúde mental não aguenta.
O filho que tem um sonho do tamanho do seu coração.
A filha que vai em frente e sabe o que quer, mesmo que pessoas em volta não a entendam em muitos momentos.
O pai que quer o melhor para os filhos, mas que aprende que os filhos sabem melhor do que ele qual caminho devem seguir.
Por vezes tudo dá errado ao mesmo tempo, mas algo sempre é capaz de clarear as coisas, produzir esperança e fazer com que a família passe a se unir e apoiar novamente.
É a cara do Brasil. Um filme muito brasileiro.
(PS: E DO NADA o Sorín aparece. Também é um filme muito cruzeirense).
Bonito longa de Gabriel Martins.
Retratos Fantasmas
4.2 231 Assista Agora"Vejam Barbarella mandando brasa."
Vida e arte como uma só.
O São Luiz. O Nico. As memórias. Os vazios. O tempo.
É muito sobre Recife. É muito sobre Kleber.
Mas também fala de um Brasil com constantes e inevitáveis mudanças.
E da paixão enorme de quem ama cinema e de tudo envolta da construção dessa paixão.
Gosto mais do primeiro terço do que do restante, mas o final me deixou bem satisfeito.
Filme de grande coração e fácil identificação.
A Queda da Casa de Usher
3.9 287 Assista AgoraCarla Gugino é tudo em todo o lugar ao mesmo tempo.
Maldade, ambição e poder.
A troca escolhida.
O preço cobrado.
As vidas destruídas.
As almas perdidas.
Não se pode escapar daquilo que já estava escrito.
Os episódios possuem estruturas praticamente iguais e previsíveis, mas funcionam ao
nos acostumar a esperar algo visualmente atraente, um 'prazer macabro' que só o gênero é capaz de proporcionar.
Belas atuações de Carla Gugino e Bruce Greenwood.
Adoro ver a 'família Flanagan' em diferentes minisséries, e ela segue crescendo.
Mike Flanagan e Edgar Allan Poe num casamento de estilos e temas que funciona muito.
Reservation Dogs (3ª Temporada)
4.2 7Eternamente em nós.
Quis o destino que em 2023, ano do grande "Assassino da Lua das Flores", de Martin Scorsese, tivéssemos também a belíssima despedida da linda "Reservation Dogs"(detalhe: a maravilhosa Lily Gladstone está nas duas obras).
A série que mostra com imensa sensibilidade temas como o valor da comunidade, ancestralidade, espiritualidade, tradições, folclores, pertencimento, amadurecimento, perdão, luto e as inquietações dos nativos norte-americanos de hoje e ontem chegou ao seu auge neste terceiro ano.
Os adolescentes que protagonizam a série constantemente buscaram encontrar seu lugar no mundo e ao mesmo tempo lidaram com o medo de não encontrar. As caminhadas por longas estradas, as conversas entre diferentes gerações e as trocas que apenas os próprios olhos podem enxergar e o coração sentir mostram que as respostas são muito mais simples do que parecem. Elas estavam por perto o tempo inteiro.
Nem a morte impede a proteção de quem se ama e precisa de ajuda. A proteção e valorização dos seus foi algo mais forte do que nunca nessa temporada. E é assim que esses personagens se encontram e reencontram: ao entenderem que a felicidade e clareza desejadas estão em contribuir da melhor forma para tornar a comunidade e o mundo em volta melhor.
Não há despedidas, apenas até logo. Pois, independente do que aconteça, todos sempre viverão em cada um deles. Lindo ano final.
Que tenhamos mais e mais histórias de tão alto nível que retratem histórias de povos que costumam ficar longe dos holofotes.
Uma das melhores séries da atualidade chegou ao fim, mas vou me apropriar e distorcer um pouco o que a jovem Willie Jack disse e levar comigo da seguinte forma: esses personagens e história são para sempre.
Sex Education (4ª Temporada)
3.5 237 Assista AgoraE a vida está apenas começando.
Uma temporada com cenários diferentes, mas com o mesma capacidade enorme
de debater de forma aberta e eloquente e tocar em questões emocionais e sexuais importantes de uma maneira que apenas ela faz.
"Sex Education" entregou 4 sólidos anos, apresentou personagens jovens(em sua maioria, mas não apenas jovens) cativantes e nos fez sempre torcer para que eles pudessem vencer seus demônios e descobrir quem de fato são e querem ser.
Amores e relacionamentos românticos entregaram euforia, constrangimento, momentos bonitos e tristes. Porém, independente de como as coisas terminaram para os muitos casais, neste quarto ano a série fez questão de dizer algo de forma bela: quem passou por nossas vidas sempre fará parte da nossa história e molda parte de quem somos.
Um acerto da netflix.
Sentirei saudade de Maeve, Otis, Eric, Ruby, Aimee e companhia.
Ted Lasso (3ª Temporada)
4.3 100A família Lasso.
Um terceiro ano sobre entender para onde se está indo e resolver importantes
questões que seguem nos afetando.
As temporadas anteriores são melhores e mais sólidas, mas é um desfecho digno da
jornada de crescimento de um pequeno clube que se torna muito melhor e de pessoas que unidas também se tornaram melhores do que eram.
"Ted Lasso" se despede como uma inesperada obra de qualidade sobre o mundo do futebol(precisávamos!). Uma história dona de um espírito acolhedor e otimista, que lembra inclusive os filmes de Frank Capra, mas que também toca com seriedade em dramas e questões atuais e atemporais - adoro como a série aborda saúde mental e a necessidade de terapias no mundo esportivo(e não apenas nele).
Ted Lasso é um dos grandes protagonistas recentes da TV. Personagem especial.
Terminou bem e na hora certa(P.S.: Há conversas sobre uma possível quarta temporada no futuro).
Os personagens cativantes, a ambientação e as participações especiais vão ficar na nossa memória.
O Assassino
3.3 515O que deve ser feito.
A frieza por vezes criticada de Fincher à serviço de uma história que combina perfeitamente com isso. Um assassino que segue rigorosamente seus padrões de comportamento e rotina para executar suas tarefas e missões. E também para se controlar e manter calmo. Para seguir em frente e dar suas duras e devidas respostas. Ou seja: para lidar com a vida.
Tendo o coração 100% frio ou não(talvez seja apenas 99%, vai), vemos como ele responde o que o afeta com vigor e sem misericórdia.
Planejar, agir e cumprir. Não se trata de ter um código de justiça, e sim de reparar o dano e garantir a segurança necessária.
Um assassino que trabalha como um relógio suíço. Mas que lida com as próprias falhas, ansiedades e fraquezas. Afinal de contas, num mundo caótico até as melhores máquinas não têm certeza do quanto durarão.
Direção rigorosa(no bom sentido), bem eficiente. Bela atuação do Michael Fassbender, que eu sempre considerei um grandíssimo ator.
Pode soar meio vazio, mas é um filme que executa exatamente o que é proposto e reflete o caráter do protagonista. Funciona muito.
Alien 3
3.2 540 Assista AgoraO sacrifício frente ao inevitável.
A ideia de criminosos condenados descartados pela sociedade lutando pela sobrevivência é interessante.
Filme de espaços escuros e apertados, na qual a sujeira(de diferentes tipos) é algo que todos estão acostumados a lidar. O jogo de gato e rato funciona razoavelmente bem como filme de gênero, mas no geral é um típico longa bem genérico de franquias blockbusters do cinema.
Fincher fez melhor em todos os outros trabalhos de sua carreira.
As Duas Faces Da Felicidade
4.0 120 Assista AgoraO caráter do amor.
Uma história sobre os diferentes tipos de amor? Sobre amor sem julgamentos? Pode-se amar duas pessoas ao mesmo tempo?
A felicidade de uma pessoa(ou de um casal) necessariamente causa a infelicidade de alguém? O amor sempre é egoísta de alguma forma?
Varda filma com beleza estonteante e assusta com sua verdade avassaladora. De tão direto, nos sentimos mal com o que vemos. Pensamos: "Onde essa história irá parar?".
E aí vem a pancada. E não temos respostas, e sim consequências, ironias e reflexões potencializadas.
A vida como algo imprevisível, com seus caminhos caprichosos e tortos. A vida que se renova. Tão igualmente bela quanto cruel.
A utopia da felicidade intocável e 100% sincera. Os ideias de perfeição de família, casamento e amor são exaltados, contestados e desconstruídos e ao mesmo tempo.
Filme de diversos sentimentos e significados.
A felicidade que se acumula também pode destruir.
A Bruxa do Amor
3.6 206 Assista AgoraUm amor só seu.
Um filme bem único. A trilha sonora, as cores, a ambientação, as mortes e os closes nos lembram um pouco giallos clássicos do cinema italiano. Ou até mesmo Jodorowsky.
Ainda assim, "The Love Witch" sabe o que quer abordar e como fazer isso de uma maneira muito particular.
A obra abraça sem medo seu caráter fantasioso, sempre num tom acima do que se espera da realidade. Tudo é um espelho do olhar da protagonista em relação ao mundo e aos relacionamentos românticos/sexuais. Tudo deveras contaminado por misticismo e sedução, através de uma aura de sonho que permeia a obra e reflete o desejo maior de sua protagonista.
Mulheres e homens. As fragilidades psicológicas e afetivas de um sexo sendo exploradas pelo outro. Um jogo de domínio que se alterna. Não se sofre apenas quando se tem o controle da situação. O desejo inevitável do novo. O sexo como arma. A obsessão que leva a morte.
O longa aborda questões como dependência afetiva, conquista, abandono, idealização do outro, amor, paixão e 'jogos românticos' de maneira consciente e até eloquente, mas sem nunca perder seu caráter de fantasia.
Atraente, envolvente e exótico. Uma fantástica história da busca de um amor perfeito, porém distorcido. Um amor que só se pode alcançar na própria mente.
E, falando de uma forma geral, quem pode julgar o que é ou não distorcido quando se trata de amor?
A Moça com a Valise
4.2 21Ela encontra nele a pureza de alguém que a vê de forma diferente e quer cuidar como ninguém jamais fez.
Ele encontra nela alguém com uma fragilidade, inocência e vigor atraentes, que faz seu olhar brilhar e nascer nele um sentimento extremamente puro.
Vai muito além de um romance. Trata-se muito mais de uma vontade de fazer o bem ao outro do que de concretizar uma relação. Há uma vontade de cuidar que nasce muito naturalmente. Uma bonita conexão genuína mesmo sabendo da impossibilidade de um futuro idealizado.
A tristeza de uma garota perdida. Mas que segue, e carrega uma vontade grande de viver algo melhor. Cardinale está lindíssima, encantadora.
O fascínio da juventude ao conhecer um sentimento novo e belo. De um adolescente movido pelo coração, que não julga, com imensa coragem e bondade.
O longa alterna o protagonismo, nos faz entender muito bem os dois personagens principais. Vemos os intensos sentimentos, desejos e inquietações. E também que a vida de um deles é e provavelmente será sempre mais sofrida.
Zurlini filma tudo com muito beleza e humanidade, mas também com muito tristeza nos olhares.
O muito bonito abraço derradeiro fica na memória. Um carinho que provavelmente nenhum dos dois tinham sentido antes.
No final, apesar das impossibilidades da vida(financeiras, de idade, do olhar da sociedade e dos relacionamentos anteriores), há a consciência de ambos que o melhor possível foi feito entre os dois.
Grande filme do excelente Valerio Zurlini.
Lola, a Flor Proibida
3.9 25Os diferentes tempos do amor.
A inquietação existencial que surge em diferentes idades, épocas e vidas.
Os encontros nos quais se vivem pequenos e belos momento que ficam para sempre.
Os reencontros que reacendem amores e tocam em feridas.
O amor que produz um efeito mágico na vida e dá sentido a tudo. Que se busca, que move, mas faz sofrer.
No jogo do amor uns ganham e outros perdem. Uns esperam e sofrem. Outros esperam, sem ter certeza, e são felizes.
O roteiro é menos sólido, mais simples, há mais conveniências. O final não envelheceu tão bem, mas entende-se a época e a visão de amor.
O filme não chega a ser apaixonante como outros do cineasta, mas os temas clássicos do cinema belíssimo do mesmo estão aqui. De certa forma, serve como um ensaio para as obras-primas do diretor que vieram depois.
Apesar de distante do melhor já visto nas obras de Demy, sempre é prazeroso enxergar o maior dos sentimentos através do olhar de um fantástico entendedor do assunto.
O Que Fazemos Nas Sombras (5ª temporada)
4.2 15O mesmo humor e um coração maior.
A quinta temporada continua mostrando o humor engraçadíssimo e seus maravilhosos personagens com particularidades tão únicas. Como digo com frequência: é a série mais engraçada do momento.
Sonho consumado, bloqueio, identidade e questionamento sobre o que realmente traz felicidade.
Guillermo foi o destaque. Na verdade, os rumos do personagem são sempre o fator principal que dita para qual caminho a história irá. Se, nesse sentido, o desfecho da temporada não foi original, a jornada foi bastante divertida e envolvente.
Dentro desse plot de Guillermo(especialmente nele) vimos relações crescendo e personagens mostrando maior cuidado e proteção em relação ao outro. Uma bonita e, por vezes surpreendente, valorização da companhia de vários anos(dentro do que eles são, sem descaracterizar os personagens, obviamente). A série ainda aproveita isso para fazer um contraponto maravilhoso com a Guia dos vampiros(uma figura sempre completamente ignorada por quase todos) em cenas sempre muito engraçadas.
Um ano de belas participações especiais(com atores interpretando eles mesmos de forma bastante divertida), alguns questionamentos existenciais, muito constrangimento e a criatividade de sempre. E, claro, sem deixar de lado algo fundamental na série: ser uma comédia acima de tudo.
O espetacular e desconcertante "Local News" é um dos episódios mais engraçados dos últimos tempos. E há outros com momentos de humor inspirado e caos de um jeito que apenas "What We Do in the Shadows" faz.
Outra temporada de muito bom nível dessa que é uma das melhores séries da atualidade.
Guardiões da Galáxia: Vol. 3
4.2 807 Assista Agora"Meu amado guaxinim. Esta história sempre foi sua, você só não sabia."
Deixar finalmente pesadelos para trás, se acertar e encontrar seu propósito.
Contra inimigos que tentam criar uma utópica sociedade sem defeitos, através apenas de criaturas supostamente perfeitas, nada é mais perfeito que a amizade entre os Guardiões.
A amizade que tanto salva expande a fronteira do grupo para dar uma nova vida para todos os que sempre foram oprimidos e descartados. Através de olhos que aprendem a ser generosos os defeitos não importam. E assim se cria uma nova sociedade baseada no amor. É simples, mas funciona.
As interações especiais repletas de sentimentos desse grupo que é uma grande família, os bons personagens e o bom humor seguem confirmando que os Guardiões da Galáxia estão entre os maiores acertos da Marvel.
Funciona bem como final de saga.
Super Mario Bros.: O Filme
3.9 788 Assista AgoraVive e sobrevive do visual super colorido e de referências. O humor é pouquíssimo inspirado e a trama é super, super genérica.
Nem a motivação de fazer algo que mostre 'finalmente sua grandeza a todos' nos conquista como poderia.
Não irrita, mas é 100% esquecível(e sim, tenho enorme carinho pelo jogo, porém nem mesmo fator nostálgico me pegou).