Tod Browning é fantástico. Sendo um cineasta de universo todo próprio, é interessante como o aspecto circence perpassa alguns de seus melhores filmes que abordam lados escuros da natureza humana. Como em Freaks ou The Unknown, o espetáculo em The Show empresta uma aura onírica a dramas nos quais a corrupção da virtude está em jogo. Acontece que o senso de irreversibilidade incômoda que dá tons gerais a Freaks e The Unknown aqui é abrandado pelo que se pode chamar de autêntico final feliz; mesmo assim, os aspectos sombrios do enredo não desbotam durante o desenrolar da trama. Válido. Destaque para a atuação de Lionel Barrymore.
Legalzinho. Talvez o diretor, produtor e roteirista Nick Palumbo estivesse querendo realizar um filme de terror chocante, mas acaba por divertir o espectador com um hilário trash explicitamente acidental. Mulheres cobertas de sangue - neste caso um sangue muito mal feito, diga-se de passagem - é quase que uma das conveções comuns ao horror no cinema. Este recurso, quando bem explorado, já salvou muitos filmes da completa irrelevância. Seria o caso em Ëstripador de Las Vegas, onde o psicótico misógino que dá título ao filme não aparece em nenhum momento, nem por sugestão, estripando literalmente suas inúmeras vítimas. Acontece que o mérito do filme não reside apenas na nudez softcore feminina ou em sua sanguinolência de quinta categoria. A atuação do protagonista é divinamente tosca em sua ingenuidade, tipo um Cigano Igor, tão expressivo quanto um bloco de concreto. É de morrer de rir. Isso sem falar no cômico, porque previsível, constrangedor e enorme clichê: o serial killer em questão é um descendente de alemães que leva a vida atualmente nos E.U.A. Dá pra imaginar de qual postura política seus antepassados não muito distantes eram adeptos, não? Sem mais palavras. No final a impressão que fica é de que o espectador está sendo presenteado com a mesma estória com a qual já teve contato milhões de vezes antes. Só que contada de maneira tão mambembe que, dependendo do humor de quem se dispõe a vivenciá-la, a experiência pode divertir.
O tema da vingança já foi explorado de várias formas no cinema. A engenhosa trilogia de Park Chan-wook e o duro preciosismo de "A Fonte da Donzela" de Ingmar Bergman figuram entre bem sucedidos exemplos. "I Spit on your Grave", o primeiro, também merece destaque ao retratar o "toma lá dá cá" no extremismo alegórico do gênero exploitation. Isto para falar que o canadense "Les 7 jours du talion" veio para marcar território num terreno já batido. O filme é bem interessante. De um ritmo plácido, a grande turbulência é, em sua maioria, desenvolvida na interpretação de Claude Legault, que não deixa a desejar. A natureza reflexiva da obra fica bem explícita, e isso pode soar como um contra-senso, na bela escolha de metáforas relevantes para a desintegração e/ou desconstrução do que é considerado realidade e o subsequente auto-questionamento do protagonista -
para isso basta lembrar, por exemplo, do viado morto em decomposição e das diferentes maneiras que ele é apresentado em momentos diversos.
Este filme é quase um ensaio sobre o vazio da existência. Que soe blasé, mas não há melhores palavras para descrever o que ele faz ao retratar a constante pulsão geral do ser humano, que como Bataille analisa com relação ao sexo em "O Erotismo", mais do que frequentemente resulta no nada. Desolador.
A premissa do questionamento da validade histórica é o mais válido: o benefício da dúvida como fato. O tema sombrio não desce do salto com o tratamento posudo que direção e fotografia fílmicas lhe dispensam. Atuações corretas, embora não muito exigidas, e alguns furos no roteiro. Tais constatações para dizer que "A Condessa" é um filme literalmente medíocre embalado pomposamente.
Murnau é um gênio. Quem já viu Nosferatu ou Fausto sempre espera deste artista algo para além do correto. E ainda assim Aurora é de um primor técnico surpreendente - montagem fantástica, efeitos especiais soberbos e boa direção de atores. Isto tudo inventa magia... a magia da empatia. Não há como imaginar uma era em que este filme não cause efeito. A maestria do Murnau autor está, acima de tudo, na condução da atenção do espectador. Independentemente de seus gostos e pontos de vista pessoais, quem se propõe a ver Aurora sentirá o que sentem os protagonistas retratados: rirá com vontade e chorará sem querer, se e quando F.W. Murnau quiser. Este drama está para o romance como os filmes de Chaplin para a comédia. Redentor mesmo na pieguice.
Imprescindível para fãs de filmes de horror, "Zinda Laash" é uma espécie de José Mojica Marins encontrando com o terror bollywoodiano e da Hammer. A escassez de falas, principalmente na primeira parte do filme, acaba por ressaltar a interessante trilha e efeitos sonoros que as tornam pontuais. A segunda parte da obra é mais teatral em sua representação, com destaque para a ação em boa perseguição de carros e clímax com luta corporal. E por falar em corpo, na falta de sua exposição, extrema sensualidade árabe feminina nos números musicais. Muito bom.
É um filme de casa mal-assombrada? É um filme sobre possessão? A mistura poderia até ser interessante, se não tivesse sido tão mal explorada. Há tantos subplots superficiais, dando um tom desnecessariamente auto-explicativo ao enredo, que este sai prejudicado. Personagens sem motivações e atuações sofríveis também danificam "Coisa Ruim", que pretendendo ser um filme de horror sério, consegue apenas ser ruim. Até a trilha sonora contribui, obviamente sem querer, para a aura amadora do filme. Só a fotografia se salva, com belos enquadramentos. De resto, duas estrelas pelo filme ser português e isto ser inusitado.
Ruim. Até a reviravolta previsível no estilo Shyamalan que ocorre por volta dos 40 minutos de filme dá pra engolir; depois a qualidade decai vertiginosamente. O final é inacreditável, no pior sentido. A trama é prejudicada em favor do moral e politicamente correto no que se refere a instituição familiar e a baixeza apelativa do filmeco se revela em toda a sua pobreza
Engraçado e ridículo. Uma espécie de Troma Films encontrando o cinema de Baiestorf. Bem, depois da sinopse acima não há muito a acrescentar. O filme é rodado em digital e parece um tanto amador, o que de determinado ponto de vista pode fazer parte do seu charme. Se você se importa com boas atuações, roteiros minimamente bem escritos e efeitos especiais convincentes, este não é o seu filme. Agora, se você é um fã de filmes de zumbi que as pessoas em geral consideram pervertido... bem... então junte-se ao fã-clube de "The Necro Files". Muito embora a impressão geral prevalecente seja de que o filme de Matt Jaissle em muitos momentos não atinge a ousadia que pretende, qualquer outra discussão, incluindo a questão sobre trash intencional ou não, é menor diante da urgência por "sangueira e mulher pelada".
Filmásso. Estilo grande Hollywood. Dirigido por Michael Curtiz, que traz no currículo obras-primas como "Casablanca" e "Anjos da Cara Suja"; baseado num romance do talentoso escritor James M. Cain, mesmo autor de ótimos livros como "Indenização em Dobro" e "O Destino Bate à sua Porta" - ambos também adaptados para o cinema; e estrelado pela hipnotizante Joan Crawford acompanhada de competente elenco, não é de se surpreender que tenha sido sucesso de crítica e público na época em que foi lançado. Mesmo assim, com seis indicações ao Oscar, levou apenas um - o de melhor atriz para Crawford, a única estatueta que recebeu em sua carreira. E desde quando Oscar é medida pra qualidade? Mesmo em suas épocas mais áureas, a Academia sempre deixou a desejar. Normal. Fato é que "Mildred Pierce" passa no teste do tempo. Apesar de não ser um noir típico, muitos elementos são pegos emprestados do subgênero: ambientes esfumaçados, fortes contrastes em preto e branco acentuando sombras, profundidade de campo em angulações estreitas; isto sem falar na trama desenvolvida em torno da questão de um crime, sendo que este crime é de uma autoria previsível que se faz menos importante diante do drama que o envolve. Tirando as influências noir, entram fascinantes convenções cinematográficas de uma era distinta, como closes dados no rosto da protagonista, com uma combinação de foco e iluminação, dando um aspecto etéreo à imagem ali representada. Impossível, neste caso, não refletir sobre os tempos das divas e semi-deusas e em como eles, definitivamente, ficaram para trás. Não que uma análise da "linha evolutiva" do cinemão cause nostalgia. Aliás, esta questão é apenas um detalhe diante da eficácia do filme.
Parece uma longa entrevista, só que sem revelações relevantes para os fãs de Alan Moore. As intervenções imagéticas e sonoras ainda dão um tom caricatural às idéias que o quadrinista e xamã pretende expor seriamente. Equivocado.
Terence Fisher é um cineasta clássico, no sentido dos meios usuais que usa para contar estórias de uma maneira eficiente - seus objetivos passam longe da inovação. Christopher Lee e Peter Cushing são bons atores que vêm da escola clássica de interpretação e que, por um ou vários acasos, se tornaram ícones do horror no cinema. As três personalidades têm em comum a ligação de seus nomes à mitológica produtora inglesa Hammer, que durante os anos 60 e 70 se notabilizou por seus filmes de horror. Pode-se dizer que tais filmes também foram trabalhados sob um prisma clássico, com seus toques góticos pincelando os séculos XVIII e XIV, em meio a grandes e obscuros castelos e pequenos povoados aterrorizados. Conclusão: "The Gorgon" é um pequeno clássiso dos filmes de terror. Por quê? Porque mistura todos os elementos acima citados, muito embora a trama por vezes se arraste e tenha um desfecho desleixado. Mesmo assim, experiência obrigatória, e muito provavelmente satisfatória, para os fãs do gênero.
Filmeco mais doentinho e inocente. Doentinho porque não existe snuff que não o seja. Inocente porque a impressão que se tem é que uma molecada pegou uma câmera de vhs com o objetivo de registrar suas ideias atrozes para chocar a sociedade. Até que ponto eles conseguem escandalizar é muito subjetivo. O mérito de August Underground's Mordum, segundo filme de uma série, está na completa entrega de seus atores. Isto faz com que o filme alcance uma realidade quase palpável, "qualidade" rara em snuffs em geral. O espectador que se predispõe a este tipo de experiência sabendo do que se trata é fisgado. Plus: a trilha, para fãs de Death Metal, é ótima e Cristie Whiles, a protagonista, é uma gracinha com curiosa aptidão para o vômito auto-induzido.
Olha, fantástico resgitro da comemoração dos 50 anos de carreira... quer dizer, estrada do Tremendão. A banda Filhos da Judith traz uma cozinha que dá roupagem vintage aos clássicos do compositor. E funciona, sejam eles de uma levada mais rock'n'roll ou mais romântica. A releitura fantasmagórica de Negro Gato e a pegada hard rock em Quero Que Vá Tudo Pro Inferno são bem sucedidas. Outro ponto alto (como não haveria de ser?) são os duetos entre Erasmo e Roberto Carlos: emocionante, bicho. O show, com ótima qualidade de som e boa captação de imagens só não ganha cinco estrelas pela presença chatinha de Marisa Monte, pela apresentação da composição fruto de uma parceria com o medíocre Nelson Mala... quer dizer, Motta; e pela falta que fez no repertório a grande canção Close. De resto, fica a nítida impressão de que por mais que Roberto seja bom demais, Erasmão é mesmo o rei do rock brazuca.
Curte filmes de samurai? Se a sua resposta for positiva, este épico do cineasta Takashi Miike, um dos diretores mais prolíficos e talentosos das últimas duas décadas, se faz imperdível. Jūsannin no Shikaku é uma produção nipo-inglesa, remake do homônimo clássico de 1963. Mas esta obra-prima de Miike, quando analisada à luz do filme no qual se baseia, faz menos sentido do que se comparada a outro tesouro do cinema mundial, Os Sete Samurais, do magnânimo Akira Kurosawa. Aliás, o próprio filme original, de 63, é quase que uma soberba homenagem ao gênio de Kurosawa. Samurais, recrutados por alguém, se reúnem por uma causa justa - até o enredo básico é o mesmo. Takashi Miike trafega bem por todos os gêneros nos quais se aventura. O diretor multifacetado é tão bem sucedido numa obra de horror quanto numa infantil, por exemplo. E tudo que ele faz traz um toque muito singular, um quê grotesco/surreal que o apreciador do seu cinema como um todo pode reconhecer facilmente. Isto não é diferente em 13 Assassinos. Como no filme de Kurosawa, ângulos baixos característicos, complexidade de caráter em vários personagens e extremo bom gosto na execução das cenas de ação deixam produções milionárias de Hollywood no chinelo. Ao mesmo tempo, este exemplar cinematográfico está cheio de Miike em suas brechas dantescas, flamejantes e loucas. Muito bom.
Esta obra deve ser considerada uma espécie de pré-sequência para "The Turn of the Screw", novela escrita por Henry James, que foi eficientemente adaptada para o cinema no filme "Os Inocentes" de 1961. E que bela pré-sequência! Em "Os que chegam com a noite" a agressividade é direta. Não há espaço para a sugestão, pois ela sobraria. O efeito de "causa e consequência" se revela no que tem de mais sombrio enquanto as crianças se projetam naquilo que observam e selecionam como válido. O descaramento voluptuoso da violência aqui apresentada só atinge tamanho grau de preciosidade porque as nuances do roteiro são muito bem valorizadas pelo diretor Michael Winner. Destaque também para a magistral atuação de Marlon Brando, um monstro que talvez só conseguisse alcançar tais picos de perfeição por julgar o trabalho de ator como sendo algo menor.
Filme insosso com trama resolvida rápida e confusamente nos últimos instantes. Tudo bem com os fantasmas, e até com a cabeleira negra a eles relacionada, quando o assunto é cinema de horror oriental. No entanto, "Possuída pelo Mal" desce quadrado enquanto o espectador mais experiente presencia os apelos para sustos fáceis se perguntando quanto tempo falta para a experiência acabar. Para coroar os instantes finais de inúmeras e risíveis reviravoltas no enredo, só mesmo a cafonice de seu último quadro. Tudo ressaltado pela trilha sonora sentimentalóide. De lascar.
Ótimo filme. Em comum com outra grande obra, "O Senhor das Moscas" de 1963, "¿Quién puede matar a un niño?" apresenta o tema da inocência infantil como sendo mais ligado ao instinto humano que à ideia de virtude ocidental. O desenvolver da trama e seu desfecho, que muito lembram os melhores filmes de zumbi de Romero, mostram o revanchismo como um processo ciclicamente nulo - não é por acaso que o filme começa com cenas documentais de crianças sofrendo. Incomoda. Nada suaviza. Até a fotografia, com sua crueza clara, faz o suor brotar na testa do espectador. E em meio a crescente angústia, onde o caos caminha para o silêncio, comparações com questões sociais se fazem menores; já com questões humanas, maiores. Padrões precisam ser invertidos para o errado ser notado? O fator provocador está mais presente na ficção que na realidade? Realidade? Melhor parar de pensar neste filme e ir comer uma pizza.
A sinopse dada aqui é uma maneira de ver o filme. "Slaughtered Vomit Dolls" é um desfile de prostitutas e strippers, às quais são atribuídas relevâncias maléficas por meio de efeitos sonoros simples; algum gore fora de foco editado rapidamente em curtas sequências; mais auto-induções de vômito. Breve contraposição a isto está nos registros de uma menininha angelical e loira, como que num passado comum pré-perversão, que confere à obra, paradoxalmente, certa ingenuidade. Não há ordem para os acontecimentos. É como se o espectador estivesse presente numa exposição de slides que se sucedem sem padrão narrativo linear algum, com audio sincronizado, versando sobre aspectos da morbidez humana. "Slaughtered..." está longe de inaugurar um subgênero qualquer, mas sem sombra de dúvida é um exercício particular no campo dos filmes de terror. Válido pra quem realmente é fã do gênero.
Alguns detalhes, como a relação de John Holmes com seus sobrinhos, são jogados meio que repentinamente e de qualquer maneira, especialmente nos minutos finais do filme. Tirando isso, "Wadd: A vida e época de John C. Holmes" chega muito próximo do que deveria ser a objetividade de um "documentário sério", apresentando diferentes pontos de vista sobre um mesmo tema. Leve-se em consideração o quanto isto deve ter sido difícil, tamanho o caráter fantástico da vida do ator em questão. Muito bom.
É muito clichê de sabedoria de verniz falar sobre a fotografia de um filme, mas em "Valhalla Rising - O Guerreiro Silencioso" isto se faz necessário, pois ela é extremamente bela. No mais, Nicolas Winding Refn se mostra um diretor extremamente autoral, capaz de fazer filmes mais lentos com vários elementos comuns ao gênero de ação. De uma agressividade introspectiva, como uma boa música do grupo de rock alternativo Sonic Youth.
No Domínio das Ilusões
4.0 5Tod Browning é fantástico. Sendo um cineasta de universo todo próprio, é interessante como o aspecto circence perpassa alguns de seus melhores filmes que abordam lados escuros da natureza humana. Como em Freaks ou The Unknown, o espetáculo em The Show empresta uma aura onírica a dramas nos quais a corrupção da virtude está em jogo. Acontece que o senso de irreversibilidade incômoda que dá tons gerais a Freaks e The Unknown aqui é abrandado pelo que se pode chamar de autêntico final feliz; mesmo assim, os aspectos sombrios do enredo não desbotam durante o desenrolar da trama. Válido.
Destaque para a atuação de Lionel Barrymore.
Krull
3.5 187 Assista Agoraiiiiiiiiiiiiiiiiiiihhhhhrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
Estripador de Las Vegas
2.2 72Legalzinho. Talvez o diretor, produtor e roteirista Nick Palumbo estivesse querendo realizar um filme de terror chocante, mas acaba por divertir o espectador com um hilário trash explicitamente acidental.
Mulheres cobertas de sangue - neste caso um sangue muito mal feito, diga-se de passagem - é quase que uma das conveções comuns ao horror no cinema. Este recurso, quando bem explorado, já salvou muitos filmes da completa irrelevância. Seria o caso em Ëstripador de Las Vegas, onde o psicótico misógino que dá título ao filme não aparece em nenhum momento, nem por sugestão, estripando literalmente suas inúmeras vítimas.
Acontece que o mérito do filme não reside apenas na nudez softcore feminina ou em sua sanguinolência de quinta categoria. A atuação do protagonista é divinamente tosca em sua ingenuidade, tipo um Cigano Igor, tão expressivo quanto um bloco de concreto. É de morrer de rir.
Isso sem falar no cômico, porque previsível, constrangedor e enorme clichê: o serial killer em questão é um descendente de alemães que leva a vida atualmente nos E.U.A. Dá pra imaginar de qual postura política seus antepassados não muito distantes eram adeptos, não? Sem mais palavras.
No final a impressão que fica é de que o espectador está sendo presenteado com a mesma estória com a qual já teve contato milhões de vezes antes. Só que contada de maneira tão mambembe que, dependendo do humor de quem se dispõe a vivenciá-la, a experiência pode divertir.
O que é aquela parte final com uma frágil menininha vencendo o forte monstro de instinto assassino irrefreável numa briga senão uma piada?
Destaque para a pequena participação de Gunnar Hansen, o primeiro e eterno Leatherface.
7 Dias
3.5 79O tema da vingança já foi explorado de várias formas no cinema. A engenhosa trilogia de Park Chan-wook e o duro preciosismo de "A Fonte da Donzela" de Ingmar Bergman figuram entre bem sucedidos exemplos. "I Spit on your Grave", o primeiro, também merece destaque ao retratar o "toma lá dá cá" no extremismo alegórico do gênero exploitation.
Isto para falar que o canadense "Les 7 jours du talion" veio para marcar território num terreno já batido. O filme é bem interessante. De um ritmo plácido, a grande turbulência é, em sua maioria, desenvolvida na interpretação de Claude Legault, que não deixa a desejar.
A natureza reflexiva da obra fica bem explícita, e isso pode soar como um contra-senso, na bela escolha de metáforas relevantes para a desintegração e/ou desconstrução do que é considerado realidade e o subsequente auto-questionamento do protagonista -
para isso basta lembrar, por exemplo, do viado morto em decomposição e das diferentes maneiras que ele é apresentado em momentos diversos.
Este filme é quase um ensaio sobre o vazio da existência. Que soe blasé, mas não há melhores palavras para descrever o que ele faz ao retratar a constante pulsão geral do ser humano, que como Bataille analisa com relação ao sexo em "O Erotismo", mais do que frequentemente resulta no nada. Desolador.
A Condessa
3.6 104A premissa do questionamento da validade histórica é o mais válido: o benefício da dúvida como fato. O tema sombrio não desce do salto com o tratamento posudo que direção e fotografia fílmicas lhe dispensam. Atuações corretas, embora não muito exigidas, e alguns furos no roteiro.
Tais constatações para dizer que "A Condessa" é um filme literalmente medíocre embalado pomposamente.
A Paixão de Joana d'Arc
4.5 229 Assista AgoraOs closes mais eficazes da história do cinema.
Aurora
4.4 205 Assista AgoraMurnau é um gênio. Quem já viu Nosferatu ou Fausto sempre espera deste artista algo para além do correto. E ainda assim Aurora é de um primor técnico surpreendente - montagem fantástica, efeitos especiais soberbos e boa direção de atores. Isto tudo inventa magia... a magia da empatia. Não há como imaginar uma era em que este filme não cause efeito. A maestria do Murnau autor está, acima de tudo, na condução da atenção do espectador. Independentemente de seus gostos e pontos de vista pessoais, quem se propõe a ver Aurora sentirá o que sentem os protagonistas retratados: rirá com vontade e chorará sem querer, se e quando F.W. Murnau quiser. Este drama está para o romance como os filmes de Chaplin para a comédia. Redentor mesmo na pieguice.
Dracula in Pakistan
3.8 3Imprescindível para fãs de filmes de horror, "Zinda Laash" é uma espécie de José Mojica Marins encontrando com o terror bollywoodiano e da Hammer.
A escassez de falas, principalmente na primeira parte do filme, acaba por ressaltar a interessante trilha e efeitos sonoros que as tornam pontuais. A segunda parte da obra é mais teatral em sua representação, com destaque para a ação em boa perseguição de carros e clímax com luta corporal.
E por falar em corpo, na falta de sua exposição, extrema sensualidade árabe feminina nos números musicais. Muito bom.
Coisa Ruim
3.2 26É um filme de casa mal-assombrada? É um filme sobre possessão? A mistura poderia até ser interessante, se não tivesse sido tão mal explorada. Há tantos subplots superficiais, dando um tom desnecessariamente auto-explicativo ao enredo, que este sai prejudicado.
Personagens sem motivações e atuações sofríveis também danificam "Coisa Ruim", que pretendendo ser um filme de horror sério, consegue apenas ser ruim. Até a trilha sonora contribui, obviamente sem querer, para a aura amadora do filme. Só a fotografia se salva, com belos enquadramentos. De resto, duas estrelas pelo filme ser português e isto ser inusitado.
Meu Melhor Inimigo
4.2 30Fantástico!
A Casa dos Sonhos
3.2 1,4K Assista AgoraRuim.
Até a reviravolta previsível no estilo Shyamalan que ocorre por volta dos 40 minutos de filme dá pra engolir; depois a qualidade decai vertiginosamente. O final é inacreditável, no pior sentido. A trama é prejudicada em favor do moral e politicamente correto no que se refere a instituição familiar e a baixeza apelativa do filmeco se revela em toda a sua pobreza
ao recorrer a fantasmas em seus minutos finais.
Perda de tempo.
The Necro Files
2.0 13Engraçado e ridículo. Uma espécie de Troma Films encontrando o cinema de Baiestorf.
Bem, depois da sinopse acima não há muito a acrescentar. O filme é rodado em digital e parece um tanto amador, o que de determinado ponto de vista pode fazer parte do seu charme.
Se você se importa com boas atuações, roteiros minimamente bem escritos e efeitos especiais convincentes, este não é o seu filme. Agora, se você é um fã de filmes de zumbi que as pessoas em geral consideram pervertido... bem... então junte-se ao fã-clube de "The Necro Files".
Muito embora a impressão geral prevalecente seja de que o filme de Matt Jaissle em muitos momentos não atinge a ousadia que pretende, qualquer outra discussão, incluindo a questão sobre trash intencional ou não, é menor diante da urgência por "sangueira e mulher pelada".
Alma em Suplício
4.2 140 Assista AgoraFilmásso. Estilo grande Hollywood. Dirigido por Michael Curtiz, que traz no currículo obras-primas como "Casablanca" e "Anjos da Cara Suja"; baseado num romance do talentoso escritor James M. Cain, mesmo autor de ótimos livros como "Indenização em Dobro" e "O Destino Bate à sua Porta" - ambos também adaptados para o cinema; e estrelado pela hipnotizante Joan Crawford acompanhada de competente elenco, não é de se surpreender que tenha sido sucesso de crítica e público na época em que foi lançado. Mesmo assim, com seis indicações ao Oscar, levou apenas um - o de melhor atriz para Crawford, a única estatueta que recebeu em sua carreira.
E desde quando Oscar é medida pra qualidade? Mesmo em suas épocas mais áureas, a Academia sempre deixou a desejar. Normal. Fato é que "Mildred Pierce" passa no teste do tempo. Apesar de não ser um noir típico, muitos elementos são pegos emprestados do subgênero: ambientes esfumaçados, fortes contrastes em preto e branco acentuando sombras, profundidade de campo em angulações estreitas; isto sem falar na trama desenvolvida em torno da questão de um crime, sendo que este crime é de uma autoria previsível que se faz menos importante diante do drama que o envolve.
Tirando as influências noir, entram fascinantes convenções cinematográficas de uma era distinta, como closes dados no rosto da protagonista, com uma combinação de foco e iluminação, dando um aspecto etéreo à imagem ali representada. Impossível, neste caso, não refletir sobre os tempos das divas e semi-deusas e em como eles, definitivamente, ficaram para trás. Não que uma análise da "linha evolutiva" do cinemão cause nostalgia. Aliás, esta questão é apenas um detalhe diante da eficácia do filme.
A Paisagem Mental de Alan Moore
4.3 38Parece uma longa entrevista, só que sem revelações relevantes para os fãs de Alan Moore. As intervenções imagéticas e sonoras ainda dão um tom caricatural às idéias que o quadrinista e xamã pretende expor seriamente.
Equivocado.
A Górgona
3.4 40 Assista AgoraTerence Fisher é um cineasta clássico, no sentido dos meios usuais que usa para contar estórias de uma maneira eficiente - seus objetivos passam longe da inovação. Christopher Lee e Peter Cushing são bons atores que vêm da escola clássica de interpretação e que, por um ou vários acasos, se tornaram ícones do horror no cinema. As três personalidades têm em comum a ligação de seus nomes à mitológica produtora inglesa Hammer, que durante os anos 60 e 70 se notabilizou por seus filmes de horror. Pode-se dizer que tais filmes também foram trabalhados sob um prisma clássico, com seus toques góticos pincelando os séculos XVIII e XIV, em meio a grandes e obscuros castelos e pequenos povoados aterrorizados.
Conclusão: "The Gorgon" é um pequeno clássiso dos filmes de terror. Por quê? Porque mistura todos os elementos acima citados, muito embora a trama por vezes se arraste e tenha um desfecho desleixado. Mesmo assim, experiência obrigatória, e muito provavelmente satisfatória, para os fãs do gênero.
August Underground's Mordum
2.8 43Filmeco mais doentinho e inocente. Doentinho porque não existe snuff que não o seja. Inocente porque a impressão que se tem é que uma molecada pegou uma câmera de vhs com o objetivo de registrar suas ideias atrozes para chocar a sociedade. Até que ponto eles conseguem escandalizar é muito subjetivo.
O mérito de August Underground's Mordum, segundo filme de uma série, está na completa entrega de seus atores. Isto faz com que o filme alcance uma realidade quase palpável, "qualidade" rara em snuffs em geral. O espectador que se predispõe a este tipo de experiência sabendo do que se trata é fisgado.
Plus: a trilha, para fãs de Death Metal, é ótima e Cristie Whiles, a protagonista, é uma gracinha com curiosa aptidão para o vômito auto-induzido.
Erasmo Carlos - 50 anos de estrada
4.2 3Olha, fantástico resgitro da comemoração dos 50 anos de carreira... quer dizer, estrada do Tremendão. A banda Filhos da Judith traz uma cozinha que dá roupagem vintage aos clássicos do compositor. E funciona, sejam eles de uma levada mais rock'n'roll ou mais romântica. A releitura fantasmagórica de Negro Gato e a pegada hard rock em Quero Que Vá Tudo Pro Inferno são bem sucedidas. Outro ponto alto (como não haveria de ser?) são os duetos entre Erasmo e Roberto Carlos: emocionante, bicho. O show, com ótima qualidade de som e boa captação de imagens só não ganha cinco estrelas pela presença chatinha de Marisa Monte, pela apresentação da composição fruto de uma parceria com o medíocre Nelson Mala... quer dizer, Motta; e pela falta que fez no repertório a grande canção Close. De resto, fica a nítida impressão de que por mais que Roberto seja bom demais, Erasmão é mesmo o rei do rock brazuca.
13 Assassinos
3.8 285Curte filmes de samurai? Se a sua resposta for positiva, este épico do cineasta Takashi Miike, um dos diretores mais prolíficos e talentosos das últimas duas décadas, se faz imperdível. Jūsannin no Shikaku é uma produção nipo-inglesa, remake do homônimo clássico de 1963. Mas esta obra-prima de Miike, quando analisada à luz do filme no qual se baseia, faz menos sentido do que se comparada a outro tesouro do cinema mundial, Os Sete Samurais, do magnânimo Akira Kurosawa. Aliás, o próprio filme original, de 63, é quase que uma soberba homenagem ao gênio de Kurosawa. Samurais, recrutados por alguém, se reúnem por uma causa justa - até o enredo básico é o mesmo.
Takashi Miike trafega bem por todos os gêneros nos quais se aventura. O diretor multifacetado é tão bem sucedido numa obra de horror quanto numa infantil, por exemplo. E tudo que ele faz traz um toque muito singular, um quê grotesco/surreal que o apreciador do seu cinema como um todo pode reconhecer facilmente. Isto não é diferente em 13 Assassinos. Como no filme de Kurosawa, ângulos baixos característicos, complexidade de caráter em vários personagens e extremo bom gosto na execução das cenas de ação deixam produções milionárias de Hollywood no chinelo. Ao mesmo tempo, este exemplar cinematográfico está cheio de Miike em suas brechas dantescas, flamejantes e loucas. Muito bom.
Os Que Chegam Com a Noite
3.4 39 Assista AgoraEsta obra deve ser considerada uma espécie de pré-sequência para "The Turn of the Screw", novela escrita por Henry James, que foi eficientemente adaptada para o cinema no filme "Os Inocentes" de 1961.
E que bela pré-sequência! Em "Os que chegam com a noite" a agressividade é direta. Não há espaço para a sugestão, pois ela sobraria. O efeito de "causa e consequência" se revela no que tem de mais sombrio enquanto as crianças se projetam naquilo que observam e selecionam como válido.
O descaramento voluptuoso da violência aqui apresentada só atinge tamanho grau de preciosidade porque as nuances do roteiro são muito bem valorizadas pelo diretor Michael Winner. Destaque também para a magistral atuação de Marlon Brando, um monstro que talvez só conseguisse alcançar tais picos de perfeição por julgar o trabalho de ator como sendo algo menor.
Possuída Pelo Mal
2.4 62 Assista AgoraFilme insosso com trama resolvida rápida e confusamente nos últimos instantes. Tudo bem com os fantasmas, e até com a cabeleira negra a eles relacionada, quando o assunto é cinema de horror oriental. No entanto, "Possuída pelo Mal" desce quadrado enquanto o espectador mais experiente presencia os apelos para sustos fáceis se perguntando quanto tempo falta para a experiência acabar. Para coroar os instantes finais de inúmeras e risíveis reviravoltas no enredo, só mesmo a cafonice de seu último quadro. Tudo ressaltado pela trilha sonora sentimentalóide. De lascar.
Os Meninos
3.9 104Ótimo filme. Em comum com outra grande obra, "O Senhor das Moscas" de 1963, "¿Quién puede matar a un niño?" apresenta o tema da inocência infantil como sendo mais ligado ao instinto humano que à ideia de virtude ocidental. O desenvolver da trama e seu desfecho, que muito lembram os melhores filmes de zumbi de Romero, mostram o revanchismo como um processo ciclicamente nulo - não é por acaso que o filme começa com cenas documentais de crianças sofrendo.
Incomoda. Nada suaviza. Até a fotografia, com sua crueza clara, faz o suor brotar na testa do espectador. E em meio a crescente angústia, onde o caos caminha para o silêncio, comparações com questões sociais se fazem menores; já com questões humanas, maiores. Padrões precisam ser invertidos para o errado ser notado? O fator provocador está mais presente na ficção que na realidade? Realidade? Melhor parar de pensar neste filme e ir comer uma pizza.
Slaughtered Vomit Dolls
2.3 55A sinopse dada aqui é uma maneira de ver o filme. "Slaughtered Vomit Dolls" é um desfile de prostitutas e strippers, às quais são atribuídas relevâncias maléficas por meio de efeitos sonoros simples; algum gore fora de foco editado rapidamente em curtas sequências; mais auto-induções de vômito. Breve contraposição a isto está nos registros de uma menininha angelical e loira, como que num passado comum pré-perversão, que confere à obra, paradoxalmente, certa ingenuidade.
Não há ordem para os acontecimentos. É como se o espectador estivesse presente numa exposição de slides que se sucedem sem padrão narrativo linear algum, com audio sincronizado, versando sobre aspectos da morbidez humana. "Slaughtered..." está longe de inaugurar um subgênero qualquer, mas sem sombra de dúvida é um exercício particular no campo dos filmes de terror. Válido pra quem realmente é fã do gênero.
Wadd - A Vida e Época de John C. Holmes
3.7 2Alguns detalhes, como a relação de John Holmes com seus sobrinhos, são jogados meio que repentinamente e de qualquer maneira, especialmente nos minutos finais do filme. Tirando isso, "Wadd: A vida e época de John C. Holmes" chega muito próximo do que deveria ser a objetividade de um "documentário sério", apresentando diferentes pontos de vista sobre um mesmo tema. Leve-se em consideração o quanto isto deve ter sido difícil, tamanho o caráter fantástico da vida do ator em questão. Muito bom.
O Guerreiro Silencioso
3.1 277 Assista AgoraÉ muito clichê de sabedoria de verniz falar sobre a fotografia de um filme, mas em "Valhalla Rising - O Guerreiro Silencioso" isto se faz necessário, pois ela é extremamente bela.
No mais, Nicolas Winding Refn se mostra um diretor extremamente autoral, capaz de fazer filmes mais lentos com vários elementos comuns ao gênero de ação. De uma agressividade introspectiva, como uma boa música do grupo de rock alternativo Sonic Youth.