tinha potencial, mas fez a escolha consciente de ser brega em 100% das situações possíveis. Se fosse uma tecnologia, seria um demo do clichê. Parece uma redação de ENEM.
Nunca foi tão fácil separar o gado dos demais quanto ao descer essa página de comentários.
Sobre o filme, é bom. É simples, apesar de tratar de temas aparentemente incrivelmente "carapuçáveis" pra muitos aqui. Boas atuações, críticas ácidas, importantes. Ótima trilha sonora. Um pouco longo demais.
Me senti dividido entre extremos. Alguns momentos de rara beleza e sensibilidade, alguns momentos de clichês e focos em aspectos meio sem graça/batidos. No todo, um filme com mensagens bastante bonitas e uma vibe reflexiva, medidativa. Claro que a turma que não curte o ritmo vai reclamar.
Já assisti desenhos animados, em episodios de 15 minutos, com personagens mais trabalhados que os desse filme. Em termos de construção de universo, me senti em uma exposição exótica de um museu em que as pinturas não têm texto de apoio nem explicação a respeito delas. Um belissimo universo, mas tristemente raso. E longo.
Por mais simples que seja, a gente fica cada vez mais acabado a cada sorriso torto que vê o pai dar, a cada pequeno momento que passaria despercebido, não fosse a morte pairando no ar. Um filme que retrata bem um cotidiano preenchido por essa dor tão grande quanto invisível.
Descrição sincera: "Matthew Broderick encanta em 'Curtindo a Vida Adoidado', um filme leve e irremediavelmente descontraído sobre ser jovem e ser feliz".
Alguns Comentários do Filmow:
"O protagonista é chato, queria ter visto em outra época." "As cenas são absurdas demais" "Glamourização da vagabundagem" "UmA bOsTa"
Aos que se identificaram com os comentários acima, desejo um belo filme sobre a história do pagamento de boletos. Real, moderno, honrado e cheio de ensinamentos legais.
---------
"Ferris Bueller's Day Off" é suco de diversão, purinho, purinho. É filme que merece celular desligado e pipoca quente no colo. É a história descontraída sobre um dia na vida de um adolescente mais parecido com a gente do que gostávamos de admitir. Se vocês repararem, o filme é o exato oposto da famosa "jornada do herói" - ele é a incomum "anti-jornada do herói". Da primeira à última cena, Ferris surfa na crista da onda, da boa sorte , das aventuras despreocupadas. Não temos limiares, provações, ressurreições: a jornada de Ferris é marcada pela alegria, irreverência e improvável sorte, rivalizada poucas vezes em Hollywood. É a lei de Murphy ao contrário.
É um filme que nos dá chance de ser assistido um sem precisarmos torcer pelo protagonista, é como um sonho. Filme espirituoso, desbravador, reflexivo. O mais bacana é que essa energia tão boa não vem vazia: o filme é recheado de referências, de nostalgia, de dilemas que um dia já nos foram tão grandes. Ferris é um pouco de várias coisinhas que talvez já tenhamos sonhado em ser, e fazer, e viver quando tínhamos a tenra idade. A cena do musical no centro de Chicago deve ser um dos clipes que assisti mais vezes na vida, fora do filme. Tudo sobre ela é mágico.
Ferris não se leva a sério demais nem um segundo sequer. Por que você o levaria? Típico filme que consegue ficar um pouco melhor a cada vez que assistimos. Quanto mais velhos, mais claras se tornam certas frustrações naturais com a vida adulta e mais rebelde e encantadora se torna a jornada do nosso camarada. Save Ferris!
Falando como alguém que não tem a menor paciência ou apreço pelo gênero do terror, em geral, A Mosca se salva no seu aspecto criativo e por não ser escravo da receita tradicional do gênero, altamente previsível. Pontos também, se for a sua praia, pelas cenas grotescas que vão demorar a sair da nossa cabeça (quem viu sabem quem a quais me refiro).
No geral, não envelheceu a ponto de ser um "filmaço" pro espectador leigo que não está preocupado quem é Cronenberg ou a relevância do seu trabalho (como eu). Considerando que em geral termino filmes de terror puto por ter desperdiçado tempo, A Mosca conseguiu a proeza de não estar nessa lista. Uma experiência interessante.
O antiprotagonista mais fácil de conquistar seu coração.. Engraçado assistir e adorar um filme que foi quase um fiasco completo de bilheteria e público em geral e achar tão bom, com nomes tão fortes envolvidos na criação. Para Scorcese, "o filme que ele talvez nem devesse ter feito". Pra mim, uma baita experiência! É como se o universo do coringa fosse seu irmão gêmeo, mas cada um seguiu seu caminho diferente na vida. Um mergulhou nas sombras e caiu num abismo de insanidade e maldade, outro tentou ser o "bom malandro" e irreverente.
O que eu não assisto só pra ver um pouco mais do meu querido Saulo, agora que estou orfão de Better Call Saul?
O que posso dizer disso aqui? Se você sabe em que está pisando, imagino que tenha mais elogios que reclamações. Por acaso esbarrei na seguinte dica de ouro antes de assistir: "não leve o filme muito a sério: nem ele se leva".
A história é simples e seus personagens parecem aqueles de desenhos antigos do Cartoon Network, que tinham que ser rasos e previsíveis a ponto de uma trama inteira começar e terminar em episódios de 21 minutos. Mas por entendermos isso, o filme tenta nos recompensar com aquilo que não está na história em si: plasticidade, violência, piadinhas infames normalmente com bom timing e aquela satisfação em ver cuzão apanhando até não poder mais. Ah, e importante dizer, o filme tem estilo. Claramente foi feito por quem sabe o que faz!
Algo que achei interessante é ver que o filme não dá muita moral pros vilões. Eles são apresentados apenas o suficiente pra vermos que são violentos e filhos da puta. Mas fica nisso. Não tem aquele embate eterno de forças quase equivalentes, não tem aquele revés inesperado que coloca o vilão em superioridade e que obriga o mocinho a correr atrás. Pelo contrário, boa parte do filme se desenrola apenas mostrando diferentes adversários sendo espancados em cenários diferentes, com armas diferentes, com punchlines diferentes. É uma mudança agradável de ritmo. Uma baita distração!
Um filme gostoso de assistir, especialmente pelas pelas paisagens urbanas e rurais da Itália e pelo tom descontraído e irreverente do diretor. Comparado com Aprile, que assisti antes, preferi o outro. Achei Caro Diário um pouco menos focado, com alguns excessos que poderiam ser aparados. Uma experiência positiva, de todo modo!
Deixa aquele "que merda..." engasgado. É revoltante imaginar quantas "escritórios" ou "bases avançadas" como o do filme são a única coisa separando populações de inocentes das mãos de lunáticos filhos da puta. E isso tudo aconteceu "ontem"...
Uma das vantagens de assistir um filme sabendo somente o absolutamente mínimo sobre ele (de preferência, nada!) é ter a nossa frente um leque de leituras e sensações, de nuances muito mais rico do que quando já sabemos onde estamos pisando.
Quinze minutos assistindo "Meu Pai" e, se você estiver nessa situação descrita acima, você ainda não sabe exatamente que gosto é aquele na sua boca. "Ué? O que está rolando, exatamente?" A linha entre thriller psicológico e drama sensível é tão fina que, até minutos antes de acabar o filme, é possível ainda estar suspeitando de uma ou outra teoria da conspiração. Mas a verdade é mais simples do que sugere. É simples de explicar, mas inacreditavelmente dolorida de atravessar.
As pinceladas de deja vu, a sensação de que faltaram uma ou duas pontes em uma cena, a sensação de que falas estão sendo repetidas, as quebras frequentes e nada homogêneas na linha do tempo, a nítida impressão de que, assim que a camera sai de um cômodo, móveis mudam de lugar, entes queridos mudam de rosto, de passado, relógios e lembranças somem, e voltam, e somem... é um ruim lento, inevitável, de solidão absoluta.
"Father" nos põe sem aviso dentro do corpo assolado pela doença. Parece que vivemos algo em realidade virtual. Estamos dentro de uma cabeça outrora brilhante, cujas folhas estão secando ao vivo e definhando bem na nossa frente. É um desfile de carinho, de perseverança e de dor. É implacável e irreparável. Como não se sentir tocado quando é algo que pode estar a nossa espreita na próxima curva da vida? Como não se emocionar em ver no que Anthony Hopkins se tornou? Puxa, bem na nossa vez. Estamos testemunhando, e não é de agora, o desfile e o bailar ao vivo de um dos mais talentosos atores que teremos a chance de ver, agora ou no futuro.
Deixa claro desde o início que é uma super produção. Bem produzido, bem feito, com um elenco de renome, com dinheiro, com uma história "semi real", redonda. Primoroso em criar mal estar com as injustiças e atrocidades que mostra.
Não sei se é de opinião geral, mas acho que não envelheceu tão bem quanto eu esperava. Não sei se já hoje, em 2021, já foram feitos filmes demais sobre a temática racial na época da KKK, mas o filme hoje não entrega muita coisa fora da "receitinha" que estamos acostumados. Os personagens, também, são bem simples, previsíveis. Faltou aquele quê de realidade mais crua à trama. Um bom filme, apesar dos pesares.
Meu primeiro contato com Nanni Moretti foi com Aprile, e quero ver mais dele por causa disso. Assisti porque um caro amigo achou que essa seria uma anti-indicação, algo que com ingredientes para eu não gostar, e a curiosidade me venceu (descobrir se sabem do que você não gosta é quase tão interessante quanto descobrir o oposto).
Gostei do formato diário, gostei de ver a Itália dos anos 90 por uma ótica intimista, criativa. Principalmente, gostei de Nanni Moretti. Bem-humorado, comunicativo, ele se parece com o pai de muita gente, às vezes com o nosso próprio, guardadas as devidas diferenças.
Curtinho, Aprile ainda consegue esconder em meio a si diversas belas históras e reflexões, se não ensinamentos, sobre a nossa vida, sonhos e arrependimentos sobre chances quase perdidas.
Como se espera, algumas cenas são em torno de política, e pessoalmente não é um tema que sigo com muito cuidado, muito menos a italiana daquela década. A parte política do filme não me foi interessante.
Frank é um filme gostosinho. Sua primeira metade (por aí) é uma mistura de humor feel-good inglês com algumas pitadas, gradualmente introduzidas, de psicodelismo e excentricidade. É de uma narrativa redondinha, que tem diversos momentos de humor discretos, outros nem tão discretos, sobre um jovem que sonha em ser músico encontrando uma improvável oportunidade de entrar em uma banda que chamaremos de “exótica”, mas sabendo que essa.
Meio road-movie, meio mockumentary sobre o processo criativo da banda, o filme segue contando suas histórias e apresentando personagens de forma discreta e marcante, até chegarmos na cereja do bolo, Frank. Escrito tendo em mente Johnny Depp para interpretá-lo, nosso amigo cabeçudo acabou interpretado por Michael Fassbender, cuja atuação de gala não nos fez sentir saudade de nenhum outro. Já imaginaram o que é representar o papel de músico líder de uma banda excêntrica
e uma bagagem tremenda sem poder mostrar seu rosto? Se expressar sem mostrar suas expressões? Deixando escapar apenas o que o seu corpo e uma voz abafada permitem? A dificuldade de um papel desses nem entra direito na minha cabeça!
A segunda metade tem um ritmo, pra mim, um pouco menos “sob controle”, digamos.
Desentendimentos, imprevistos e separações acontecem mais atabalhoadamente. Ainda que o protagonista tivesse demonstrando ser ambicioso demais, talvez quase inescrupuloso, achei que ele largou a direção e passou a ser passageiro demais.
Em sua segunda metade, o filme deixa por vezes o humor em segundo plano (ele não desaparece) e dá lugar a dramas mais reais, a certas feridas e passa a se levar mais a sério. Não é um filme que recomendamos a todo mundo, mas é um filme único. Descobri tempos depois ter sido “inspirado” em uma história real, a de Chris Sievey e da banda The Freshies.
É muito difícil falar desse filme, mas é também extremamente fácil.
Em um teste cego com uma pessoa ordinária, aleatória na rua, eu chuto que "TRASH" seria disparada a palavra mais comum usada pra se referir a esse filme. Sério. Tire o nome do diretor, tire a década de 70, tire a aparente relevância histórica e cultural desse filme, ele é um filme tosco em quase todos os aspectos.
Esse é um dos preços que eu pago pela forma como pego filmes pra assistir. Eu sou um cara simples. Eu não "estudo" diretores, nem o cinema nacional do país X ou da época Y. Eu abro listas no Filmow, converso com amigos, vejo posts em rede sociais e no fim disso saem ideias. Pode não ser muito elaborado, mas tem coesão, tem uma certa filtragem por trás, faz sentido. mas nada me prepararia pra essa experiência.
Ao contrário de quando pegamos de tudo um pouco que está na geladeira e juntamos, aqui nem sempre o resultado é gostoso. Esse filme leva a coroa, de longe, de experiência mais bizarra da minha vida. Tudo que ele faz é estranho, o grau de estranheza variando de montagem que remete a recorte & colagem, estilo ensino infantil, até pianos com teclas coloridas que piscam e comem os membros da pianista. Doidão, isso parece até algo que eu intencionalmente curtiria assistir. Mas no meu domingão normal? Logo depois de ver uma partida de futebol extremamente comum? Depois de ver Dança dos Famosos com a minha avó?
Eu nao quero ser injusto: talvez me falte bagagem cultural (e drogas) pra apreciar esse filme. Muito se bate nessa tecla por aí. Ontem eu só terminei de vê-lo porque ele é curto e porque você fica curioso de bater o próximo recorde de excentricidade. Mas... como filme? Como divertimento, como entretenimento, que pra mim ajuda se for estruturado de outra forma? É muito fraco, muito pobre, muito aleatório.
PS: Há ainda o tempero "Japão" por cima dessa mistureba aí. Filme repleto de personagens extremamente emocionadas, gritando, musiquinha de centro Pokemon tocando no fundo de diversas cenas, produção excessivamente chamativa... e daí em diante.
Comentários avulsos só pra lembrar daqui a dez anos:
- Cinematograficamente, é nítido ser um projeto de qualidade, bem planejado e executado, artisticamente cuidadoso. Não tem tosquices, não tem partes piores, não tem preguiça. É realmente um produto muito bem acabado e "material de Oscar", como adoram escrever.
- Daniel Kaluuya é uma monstruosidade. Eu sei que você já viu líderes inflamados, já viu atuações enérgicas, já viu mártires sendo traídos, já viu performances explosivas e com sotaques bem específicos, mas nada disso importa - a performance do cara é magnética, é visceral, é humana. Ame-o ou não, ele não te oferece a oportunidade da indiferença aqui. Um monstro.
- A história em si não é nova e o tema explorado já foi usado diversas vezes nas telas. Achei que o que se propuseram a contar foi narrado de forma convencional, pouco inspirada em termos de storytelling.
- As duas horas de filme são dedicadas ao tema central e o filme não consegue (e nem tenta muito) dar profundidade a assuntos ou personagens secundários. A verdade é que temos um elenco de apoio bem "esquecível", não por culpa deles, mas do roteiro. Vi essa semana e já não lembro nomes, não lembro muitos fatos além daqueles que dizem respeito ao dueto central. À parte, temos um policial riquinho com muita ambição e uma ponta de princípios, temos alguns ativistas com "spin offs" curtos ao longo do filme, temos um romance pouco explorado, e segue o jogo.
- A verdade é que o filme não é ruim, mas não entrega quase nada além da quase protocolar trama que já nos é exposta na própria sinopse (novamente, um desserviço a quem possa não conhecer o caso real que inspira o longa).
Um bom filme. Parece um sonho. Nem sempre o sonho é feliz, mas é assim que as coisas são, e esse filme soube mostrar as coisas como elas são. Ah, é como um sonho lento, sim; somos espectadores da luta de uma família pobre e fragmentada, mas com pedaços cheios de vida, de erros, de arrependimentos, de humanidade, de força. São seres imperfeitos tentando dançar em sincronia, sem deixar a música parar.
David é uma figura que dá vontade de apertar até cheirando a xixi. Sem querer querendo, ele é o centro das coisas que o filme faz girar em torno dele, e do alto dos seus 7 anos de idade, transborda humanidade. Seus medos são os das crianças que vivem na nossa memória. Não centralizando os méritos do filme nele, mas é muito comum filmes não "encaixarem" por performances da criançada que às vezes não convencem. Aqui, parece que estamos vendo o nosso álbum de família, tão fácil vem a identificação com a os Yi.
A trilha sonora é fabulosa. Pensa em algo vibrante e melódico, doce e pungente, ao mesmo tempo familiar e imprevisível. Quando a gente acha que não dá pra manter o nível até o fim (todo disco tem suas faixas acima da média, e é por causa do restantes que essas se destacam), vem a próxima e você está apaixonado de novo.
Entendo os paralelos traçados com Nomadland. Pra mim, são dois filmes com semelhanças - o ritmo mais cadenciado, a exploração de algo que se encontra à margem da sociedade "comercial de margarina", digamos; explorar emoções que todos temos dentro de nós, a sensibilidade de transformar pessoas normais e suas bagagens em material de cinema de primeira linha.
envolvendo um mercado negro de "mercadorias canibais"
nunca imaginaria ser possível chegar aqui e dizer essa frase, mas: que filme gostoso de assistir!
A marca dos diretores é muito clara com cores vibrantes, zooms faciais cheios de olhos esbugalhados, ritmo frenético e imprevisível e uma estética poderosa. O açougue/pousada é um ambiente que respira e tem vida própria. Me lembra o que boas novelas costumavam fazer em outros tempos, criando um núcleo de personagens diversificados e interessantes que enriquecem o universo que conhecemos brevemente. Delicatessen consegue fazer isso mesmo sendo um filme de pouco mais de 1 hora e meia!
O humor é daquele tipo que temos dificuldade em descrever. Não é "besteirol" porque é inteligente demais pra isso, mas definitivamente é exótico e não agrada a qualquer um. O filme me passou uma vibe Amelie Poulain (claro, ne!) ft. Wes Anderson ft. uma pitada de bizarrices que seriam desconfortáveis em 99% dos outros filmes que tentassem repetir a dose.
Talvez seja o filme mais sensível que já vi na vida.
Digo isso da melhor forma possível. Um problema frequente, especialmente com Hollywood, é achar que a fórmula mágica pra emocionar é realmente mágica. Via de regra, costuma ser a combinação entre diálogos "fáceis demais", personagens colocados em cenas que os pisoteiam e música no piano na hora H. E toda hora isso funciona, com muita gente.
Pois quero dizer pra vocês que Nomadland pega essa fórmula, amassa ela todinha e manda ela virar poeira cósmica e se perder, pra ver se encontramos uma versão um pouquinho melhor dela pela estrada.
Com uma fotografia simplesmente deslumbrante e uma edição cirúrgica, o filme de Chloé Zhao (guardem esse nome, porque Nomadland não será o "one hit wonder" dela) é uma viagem por paisagens conhecidas por muita gente, americanos ou não. Pobreza, precariedade, vulnerabilidade, saudade, solidão, descoberta.
Frances McDormand passou meses vivendo como uma nômade, trabalhando em empregos e subempregos, por opção. A atriz queria "encenar menos" e viver mais o que colocaria em tela. a colecionadora de Oscar, novamente rouba a cena, mas aqui compartilha a tela com os "não-atores" mais humanos e talentosos que já vi na vida. A maioria deles nômades reais, que usam inclusive seus primeiros nomes na história.
Há uma energia mística, linda, triste nesse pessoal que é realmente difícil colocar em palavras. Mas Nomadland, através de sua talentosa diretora, coloca. Os diálogos são de riqueza e humanidade ímpares, tratando de amor, de aperto, de luto e de luta, de companheirismo e de cansaço.
Cortes de cena colocados na hora certa, com carinho; Ludovico Einaudi tocando nos mais bonitos nasceres do sol; sorrisos, lágrimas, histórias. E tudo isso sem a covardia hollywoodiana de fazer o expectador de marionete. Não há deixas para choro ou riso nesse filme. As cenas são verdadeiras, a dor e a solidão são tão doloridas e sós que a gente apenas segue esse barco, organicamente, quase:
"Uma das coisas que amo nessa vida é que não existe adeus definitivo. Eu conheci centenas de pessoas por aí e eu nunca dei um adeus final. Eu sempre costumo dizer 'Vejo você pela estrada'. E eu vejo. Seja um mês, um ano ou muitos depois, eu os encontro de novo."
Só consegue ser minimamente distraído porque é baseado em uma história, em uma obra, fora de série, interessantíssima. O que fizeram no filme é cringeante em vários níveis. Os diálogos e a construção de personagem beiram a tosquice. Não tem realismo, não tem camadas; os personagens parecem robôs testando formas de inteligência artificial primitivas. Imagino a dificuldade de adaptar um livro de mais de 1000 páginas, mas assassinaram a história.
Arte em um estilo diferente, personagens interessantes, mas tendo um pé inteiro dentro do lado sociopolítico e da história do Irã, acaba apenas pincelando histórias menores paralelas. Gostei do humor exótico que tem.
Nolan criou um filme inovador: é a primeira vez que um familiar pode aparecer na sala e ser convidado a se sentar e assistir o filme do ponto em que ele chegar. Não faz diferença ter assistido o que veio antes. Ninguém vai entender nada mesmo.
In The Heart Of The Machine
3.2 3 Assista Agoratinha potencial, mas fez a escolha consciente de ser brega em 100% das situações possíveis. Se fosse uma tecnologia, seria um demo do clichê. Parece uma redação de ENEM.
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraNunca foi tão fácil separar o gado dos demais quanto ao descer essa página de comentários.
Sobre o filme, é bom. É simples, apesar de tratar de temas aparentemente incrivelmente "carapuçáveis" pra muitos aqui. Boas atuações, críticas ácidas, importantes. Ótima trilha sonora. Um pouco longo demais.
Nove Dias
3.7 76Me senti dividido entre extremos. Alguns momentos de rara beleza e sensibilidade, alguns momentos de clichês e focos em aspectos meio sem graça/batidos. No todo, um filme com mensagens bastante bonitas e uma vibe reflexiva, medidativa. Claro que a turma que não curte o ritmo vai reclamar.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraJá assisti desenhos animados, em episodios de 15 minutos, com personagens mais trabalhados que os desse filme. Em termos de construção de universo, me senti em uma exposição exótica de um museu em que as pinturas não têm texto de apoio nem explicação a respeito delas. Um belissimo universo, mas tristemente raso. E longo.
Cruella
4.0 1,4K Assista Agoranão dá, repitam comigo, não dá - pra ficar 2h20 contando ESSA história...
Algum Lugar Especial
3.8 33 Assista AgoraPor mais simples que seja, a gente fica cada vez mais acabado a cada sorriso torto que vê o pai dar, a cada pequeno momento que passaria despercebido, não fosse a morte pairando no ar. Um filme que retrata bem um cotidiano preenchido por essa dor tão grande quanto invisível.
Curtindo a Vida Adoidado
4.2 2,3K Assista AgoraDescrição sincera: "Matthew Broderick encanta em 'Curtindo a Vida Adoidado', um filme leve e irremediavelmente descontraído sobre ser jovem e ser feliz".
Alguns Comentários do Filmow:
"O protagonista é chato, queria ter visto em outra época."
"As cenas são absurdas demais"
"Glamourização da vagabundagem"
"UmA bOsTa"
Aos que se identificaram com os comentários acima, desejo um belo filme sobre a história do pagamento de boletos. Real, moderno, honrado e cheio de ensinamentos legais.
---------
"Ferris Bueller's Day Off" é suco de diversão, purinho, purinho. É filme que merece celular desligado e pipoca quente no colo. É a história descontraída sobre um dia na vida de um adolescente mais parecido com a gente do que gostávamos de admitir. Se vocês repararem, o filme é o exato oposto da famosa "jornada do herói" - ele é a incomum "anti-jornada do herói". Da primeira à última cena, Ferris surfa na crista da onda, da boa sorte , das aventuras despreocupadas. Não temos limiares, provações, ressurreições: a jornada de Ferris é marcada pela alegria, irreverência e improvável sorte, rivalizada poucas vezes em Hollywood. É a lei de Murphy ao contrário.
É um filme que nos dá chance de ser assistido um sem precisarmos torcer pelo protagonista, é como um sonho. Filme espirituoso, desbravador, reflexivo. O mais bacana é que essa energia tão boa não vem vazia: o filme é recheado de referências, de nostalgia, de dilemas que um dia já nos foram tão grandes. Ferris é um pouco de várias coisinhas que talvez já tenhamos sonhado em ser, e fazer, e viver quando tínhamos a tenra idade. A cena do musical no centro de Chicago deve ser um dos clipes que assisti mais vezes na vida, fora do filme. Tudo sobre ela é mágico.
Ferris não se leva a sério demais nem um segundo sequer. Por que você o levaria? Típico filme que consegue ficar um pouco melhor a cada vez que assistimos. Quanto mais velhos, mais claras se tornam certas frustrações naturais com a vida adulta e mais rebelde e encantadora se torna a jornada do nosso camarada. Save Ferris!
A Mosca
3.7 1,1KNojentaço!
Falando como alguém que não tem a menor paciência ou apreço pelo gênero do terror, em geral, A Mosca se salva no seu aspecto criativo e por não ser escravo da receita tradicional do gênero, altamente previsível. Pontos também, se for a sua praia, pelas cenas grotescas que vão demorar a sair da nossa cabeça (quem viu sabem quem a quais me refiro).
No geral, não envelheceu a ponto de ser um "filmaço" pro espectador leigo que não está preocupado quem é Cronenberg ou a relevância do seu trabalho (como eu). Considerando que em geral termino filmes de terror puto por ter desperdiçado tempo, A Mosca conseguiu a proeza de não estar nessa lista. Uma experiência interessante.
O Rei da Comédia
4.0 366 Assista AgoraO antiprotagonista mais fácil de conquistar seu coração..
Engraçado assistir e adorar um filme que foi quase um fiasco completo de bilheteria e público em geral e achar tão bom, com nomes tão fortes envolvidos na criação.
Para Scorcese, "o filme que ele talvez nem devesse ter feito". Pra mim, uma baita experiência! É como se o universo do coringa fosse seu irmão gêmeo, mas cada um seguiu seu caminho diferente na vida. Um mergulhou nas sombras e caiu num abismo de insanidade e maldade, outro tentou ser o "bom malandro" e irreverente.
Anônimo
3.7 746O que eu não assisto só pra ver um pouco mais do meu querido Saulo, agora que estou orfão de Better Call Saul?
O que posso dizer disso aqui? Se você sabe em que está pisando, imagino que tenha mais elogios que reclamações. Por acaso esbarrei na seguinte dica de ouro antes de assistir: "não leve o filme muito a sério: nem ele se leva".
A história é simples e seus personagens parecem aqueles de desenhos antigos do Cartoon Network, que tinham que ser rasos e previsíveis a ponto de uma trama inteira começar e terminar em episódios de 21 minutos. Mas por entendermos isso, o filme tenta nos recompensar com aquilo que não está na história em si: plasticidade, violência, piadinhas infames normalmente com bom timing e aquela satisfação em ver cuzão apanhando até não poder mais. Ah, e importante dizer, o filme tem estilo. Claramente foi feito por quem sabe o que faz!
Algo que achei interessante é ver que o filme não dá muita moral pros vilões. Eles são apresentados apenas o suficiente pra vermos que são violentos e filhos da puta. Mas fica nisso. Não tem aquele embate eterno de forças quase equivalentes, não tem aquele revés inesperado que coloca o vilão em superioridade e que obriga o mocinho a correr atrás. Pelo contrário, boa parte do filme se desenrola apenas mostrando diferentes adversários sendo espancados em cenários diferentes, com armas diferentes, com punchlines diferentes. É uma mudança agradável de ritmo. Uma baita distração!
Caro Diário
3.7 38Um filme gostoso de assistir, especialmente pelas pelas paisagens urbanas e rurais da Itália e pelo tom descontraído e irreverente do diretor. Comparado com Aprile, que assisti antes, preferi o outro. Achei Caro Diário um pouco menos focado, com alguns excessos que poderiam ser aparados. Uma experiência positiva, de todo modo!
Quo Vadis, Aida?
4.2 177 Assista AgoraDeixa aquele "que merda..." engasgado.
É revoltante imaginar quantas "escritórios" ou "bases avançadas" como o do filme são a única coisa separando populações de inocentes das mãos de lunáticos filhos da puta. E isso tudo aconteceu "ontem"...
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraUma das vantagens de assistir um filme sabendo somente o absolutamente mínimo sobre ele (de preferência, nada!) é ter a nossa frente um leque de leituras e sensações, de nuances muito mais rico do que quando já sabemos onde estamos pisando.
Quinze minutos assistindo "Meu Pai" e, se você estiver nessa situação descrita acima, você ainda não sabe exatamente que gosto é aquele na sua boca. "Ué? O que está rolando, exatamente?" A linha entre thriller psicológico e drama sensível é tão fina que, até minutos antes de acabar o filme, é possível ainda estar suspeitando de uma ou outra teoria da conspiração. Mas a verdade é mais simples do que sugere. É simples de explicar, mas inacreditavelmente dolorida de atravessar.
As pinceladas de deja vu, a sensação de que faltaram uma ou duas pontes em uma cena, a sensação de que falas estão sendo repetidas, as quebras frequentes e nada homogêneas na linha do tempo, a nítida impressão de que, assim que a camera sai de um cômodo, móveis mudam de lugar, entes queridos mudam de rosto, de passado, relógios e lembranças somem, e voltam, e somem... é um ruim lento, inevitável, de solidão absoluta.
"Father" nos põe sem aviso dentro do corpo assolado pela doença. Parece que vivemos algo em realidade virtual. Estamos dentro de uma cabeça outrora brilhante, cujas folhas estão secando ao vivo e definhando bem na nossa frente. É um desfile de carinho, de perseverança e de dor. É implacável e irreparável. Como não se sentir tocado quando é algo que pode estar a nossa espreita na próxima curva da vida? Como não se emocionar em ver no que Anthony Hopkins se tornou? Puxa, bem na nossa vez. Estamos testemunhando, e não é de agora, o desfile e o bailar ao vivo de um dos mais talentosos atores que teremos a chance de ver, agora ou no futuro.
Mississipi em Chamas
4.2 332 Assista AgoraDeixa claro desde o início que é uma super produção. Bem produzido, bem feito, com um elenco de renome, com dinheiro, com uma história "semi real", redonda. Primoroso em criar mal estar com as injustiças e atrocidades que mostra.
Não sei se é de opinião geral, mas acho que não envelheceu tão bem quanto eu esperava. Não sei se já hoje, em 2021, já foram feitos filmes demais sobre a temática racial na época da KKK, mas o filme hoje não entrega muita coisa fora da "receitinha" que estamos acostumados. Os personagens, também, são bem simples, previsíveis. Faltou aquele quê de realidade mais crua à trama. Um bom filme, apesar dos pesares.
Aprile
3.8 10 Assista AgoraMeu primeiro contato com Nanni Moretti foi com Aprile, e quero ver mais dele por causa disso. Assisti porque um caro amigo achou que essa seria uma anti-indicação, algo que com ingredientes para eu não gostar, e a curiosidade me venceu (descobrir se sabem do que você não gosta é quase tão interessante quanto descobrir o oposto).
Gostei do formato diário, gostei de ver a Itália dos anos 90 por uma ótica intimista, criativa. Principalmente, gostei de Nanni Moretti. Bem-humorado, comunicativo, ele se parece com o pai de muita gente, às vezes com o nosso próprio, guardadas as devidas diferenças.
Curtinho, Aprile ainda consegue esconder em meio a si diversas belas históras e reflexões, se não ensinamentos, sobre a nossa vida, sonhos e arrependimentos sobre chances quase perdidas.
Como se espera, algumas cenas são em torno de política, e pessoalmente não é um tema que sigo com muito cuidado, muito menos a italiana daquela década. A parte política do filme não me foi interessante.
Frank
3.7 599 Assista AgoraFrank é um filme gostosinho. Sua primeira metade (por aí) é uma mistura de humor feel-good inglês com algumas pitadas, gradualmente introduzidas, de psicodelismo e excentricidade. É de uma narrativa redondinha, que tem diversos momentos de humor discretos, outros nem tão discretos, sobre um jovem que sonha em ser músico encontrando uma improvável oportunidade de entrar em uma banda que chamaremos de “exótica”, mas sabendo que essa.
Meio road-movie, meio mockumentary sobre o processo criativo da banda, o filme segue contando suas histórias e apresentando personagens de forma discreta e marcante, até chegarmos na cereja do bolo, Frank. Escrito tendo em mente Johnny Depp para interpretá-lo, nosso amigo cabeçudo acabou interpretado por Michael Fassbender, cuja atuação de gala não nos fez sentir saudade de nenhum outro. Já imaginaram o que é representar o papel de músico líder de uma banda excêntrica
com problemas psiquiátricos
A segunda metade tem um ritmo, pra mim, um pouco menos “sob controle”, digamos.
O clímax do filme, como podemos chamá-lo, envolve o festival e a chance de a banda atravessar um “teste de fogo” e ganhar notoriedade nacional.
Desentendimentos, imprevistos e separações acontecem mais atabalhoadamente. Ainda que o protagonista tivesse demonstrando ser ambicioso demais, talvez quase inescrupuloso, achei que ele largou a direção e passou a ser passageiro demais.
Em sua segunda metade, o filme deixa por vezes o humor em segundo plano (ele não desaparece) e dá lugar a dramas mais reais, a certas feridas e passa a se levar mais a sério. Não é um filme que recomendamos a todo mundo, mas é um filme único. Descobri tempos depois ter sido “inspirado” em uma história real, a de Chris Sievey e da banda The Freshies.
Hausu
3.7 241É muito difícil falar desse filme, mas é também extremamente fácil.
Em um teste cego com uma pessoa ordinária, aleatória na rua, eu chuto que "TRASH" seria disparada a palavra mais comum usada pra se referir a esse filme. Sério. Tire o nome do diretor, tire a década de 70, tire a aparente relevância histórica e cultural desse filme, ele é um filme tosco em quase todos os aspectos.
Esse é um dos preços que eu pago pela forma como pego filmes pra assistir. Eu sou um cara simples. Eu não "estudo" diretores, nem o cinema nacional do país X ou da época Y. Eu abro listas no Filmow, converso com amigos, vejo posts em rede sociais e no fim disso saem ideias. Pode não ser muito elaborado, mas tem coesão, tem uma certa filtragem por trás, faz sentido. mas nada me prepararia pra essa experiência.
Ao contrário de quando pegamos de tudo um pouco que está na geladeira e juntamos, aqui nem sempre o resultado é gostoso. Esse filme leva a coroa, de longe, de experiência mais bizarra da minha vida. Tudo que ele faz é estranho, o grau de estranheza variando de montagem que remete a recorte & colagem, estilo ensino infantil, até pianos com teclas coloridas que piscam e comem os membros da pianista. Doidão, isso parece até algo que eu intencionalmente curtiria assistir. Mas no meu domingão normal? Logo depois de ver uma partida de futebol extremamente comum? Depois de ver Dança dos Famosos com a minha avó?
Eu nao quero ser injusto: talvez me falte bagagem cultural (e drogas) pra apreciar esse filme. Muito se bate nessa tecla por aí. Ontem eu só terminei de vê-lo porque ele é curto e porque você fica curioso de bater o próximo recorde de excentricidade. Mas... como filme? Como divertimento, como entretenimento, que pra mim ajuda se for estruturado de outra forma? É muito fraco, muito pobre, muito aleatório.
PS: Há ainda o tempero "Japão" por cima dessa mistureba aí. Filme repleto de personagens extremamente emocionadas, gritando, musiquinha de centro Pokemon tocando no fundo de diversas cenas, produção excessivamente chamativa... e daí em diante.
Judas e o Messias Negro
4.1 516 Assista AgoraComentários avulsos só pra lembrar daqui a dez anos:
- Cinematograficamente, é nítido ser um projeto de qualidade, bem planejado e executado, artisticamente cuidadoso. Não tem tosquices, não tem partes piores, não tem preguiça. É realmente um produto muito bem acabado e "material de Oscar", como adoram escrever.
- Daniel Kaluuya é uma monstruosidade. Eu sei que você já viu líderes inflamados, já viu atuações enérgicas, já viu mártires sendo traídos, já viu performances explosivas e com sotaques bem específicos, mas nada disso importa - a performance do cara é magnética, é visceral, é humana. Ame-o ou não, ele não te oferece a oportunidade da indiferença aqui. Um monstro.
- A história em si não é nova e o tema explorado já foi usado diversas vezes nas telas. Achei que o que se propuseram a contar foi narrado de forma convencional, pouco inspirada em termos de storytelling.
- As duas horas de filme são dedicadas ao tema central e o filme não consegue (e nem tenta muito) dar profundidade a assuntos ou personagens secundários. A verdade é que temos um elenco de apoio bem "esquecível", não por culpa deles, mas do roteiro. Vi essa semana e já não lembro nomes, não lembro muitos fatos além daqueles que dizem respeito ao dueto central. À parte, temos um policial riquinho com muita ambição e uma ponta de princípios, temos alguns ativistas com "spin offs" curtos ao longo do filme, temos um romance pouco explorado, e segue o jogo.
- A verdade é que o filme não é ruim, mas não entrega quase nada além da quase protocolar trama que já nos é exposta na própria sinopse (novamente, um desserviço a quem possa não conhecer o caso real que inspira o longa).
Minari - Em Busca da Felicidade
3.9 553 Assista AgoraUm bom filme. Parece um sonho. Nem sempre o sonho é feliz, mas é assim que as coisas são, e esse filme soube mostrar as coisas como elas são. Ah, é como um sonho lento, sim; somos espectadores da luta de uma família pobre e fragmentada, mas com pedaços cheios de vida, de erros, de arrependimentos, de humanidade, de força. São seres imperfeitos tentando dançar em sincronia, sem deixar a música parar.
David é uma figura que dá vontade de apertar até cheirando a xixi. Sem querer querendo, ele é o centro das coisas que o filme faz girar em torno dele, e do alto dos seus 7 anos de idade, transborda humanidade. Seus medos são os das crianças que vivem na nossa memória. Não centralizando os méritos do filme nele, mas é muito comum filmes não "encaixarem" por performances da criançada que às vezes não convencem. Aqui, parece que estamos vendo o nosso álbum de família, tão fácil vem a identificação com a os Yi.
A trilha sonora é fabulosa. Pensa em algo vibrante e melódico, doce e pungente, ao mesmo tempo familiar e imprevisível. Quando a gente acha que não dá pra manter o nível até o fim (todo disco tem suas faixas acima da média, e é por causa do restantes que essas se destacam), vem a próxima e você está apaixonado de novo.
Entendo os paralelos traçados com Nomadland. Pra mim, são dois filmes com semelhanças - o ritmo mais cadenciado, a exploração de algo que se encontra à margem da sociedade "comercial de margarina", digamos; explorar emoções que todos temos dentro de nós, a sensibilidade de transformar pessoas normais e suas bagagens em material de cinema de primeira linha.
Delicatessen
3.8 278 Assista AgoraQuem lê as sinopses que mencionam ser um filme
envolvendo um mercado negro de "mercadorias canibais"
A marca dos diretores é muito clara com cores vibrantes, zooms faciais cheios de olhos esbugalhados, ritmo frenético e imprevisível e uma estética poderosa. O açougue/pousada é um ambiente que respira e tem vida própria. Me lembra o que boas novelas costumavam fazer em outros tempos, criando um núcleo de personagens diversificados e interessantes que enriquecem o universo que conhecemos brevemente. Delicatessen consegue fazer isso mesmo sendo um filme de pouco mais de 1 hora e meia!
O humor é daquele tipo que temos dificuldade em descrever. Não é "besteirol" porque é inteligente demais pra isso, mas definitivamente é exótico e não agrada a qualquer um. O filme me passou uma vibe Amelie Poulain (claro, ne!) ft. Wes Anderson ft. uma pitada de bizarrices que seriam desconfortáveis em 99% dos outros filmes que tentassem repetir a dose.
Nomadland
3.9 896 Assista AgoraTalvez seja o filme mais sensível que já vi na vida.
Digo isso da melhor forma possível. Um problema frequente, especialmente com Hollywood, é achar que a fórmula mágica pra emocionar é realmente mágica. Via de regra, costuma ser a combinação entre diálogos "fáceis demais", personagens colocados em cenas que os pisoteiam e música no piano na hora H. E toda hora isso funciona, com muita gente.
Pois quero dizer pra vocês que Nomadland pega essa fórmula, amassa ela todinha e manda ela virar poeira cósmica e se perder, pra ver se encontramos uma versão um pouquinho melhor dela pela estrada.
Com uma fotografia simplesmente deslumbrante e uma edição cirúrgica, o filme de Chloé Zhao (guardem esse nome, porque Nomadland não será o "one hit wonder" dela) é uma viagem por paisagens conhecidas por muita gente, americanos ou não. Pobreza, precariedade, vulnerabilidade, saudade, solidão, descoberta.
Frances McDormand passou meses vivendo como uma nômade, trabalhando em empregos e subempregos, por opção. A atriz queria "encenar menos" e viver mais o que colocaria em tela. a colecionadora de Oscar, novamente rouba a cena, mas aqui compartilha a tela com os "não-atores" mais humanos e talentosos que já vi na vida. A maioria deles nômades reais, que usam inclusive seus primeiros nomes na história.
Há uma energia mística, linda, triste nesse pessoal que é realmente difícil colocar em palavras. Mas Nomadland, através de sua talentosa diretora, coloca. Os diálogos são de riqueza e humanidade ímpares, tratando de amor, de aperto, de luto e de luta, de companheirismo e de cansaço.
Cortes de cena colocados na hora certa, com carinho; Ludovico Einaudi tocando nos mais bonitos nasceres do sol; sorrisos, lágrimas, histórias. E tudo isso sem a covardia hollywoodiana de fazer o expectador de marionete. Não há deixas para choro ou riso nesse filme. As cenas são verdadeiras, a dor e a solidão são tão doloridas e sós que a gente apenas segue esse barco, organicamente, quase:
"Uma das coisas que amo nessa vida é que não existe adeus definitivo. Eu conheci centenas de pessoas por aí e eu nunca dei um adeus final. Eu sempre costumo dizer 'Vejo você pela estrada'. E eu vejo. Seja um mês, um ano ou muitos depois, eu os encontro de novo."
O Conde de Monte Cristo
4.1 1,2KSó consegue ser minimamente distraído porque é baseado em uma história, em uma obra, fora de série, interessantíssima. O que fizeram no filme é cringeante em vários níveis. Os diálogos e a construção de personagem beiram a tosquice. Não tem realismo, não tem camadas; os personagens parecem robôs testando formas de inteligência artificial primitivas. Imagino a dificuldade de adaptar um livro de mais de 1000 páginas, mas assassinaram a história.
Persépolis
4.5 754Arte em um estilo diferente, personagens interessantes, mas tendo um pé inteiro dentro do lado sociopolítico e da história do Irã, acaba apenas pincelando histórias menores paralelas. Gostei do humor exótico que tem.
Tenet
3.4 1,3K Assista AgoraNolan criou um filme inovador: é a primeira vez que um familiar pode aparecer na sala e ser convidado a se sentar e assistir o filme do ponto em que ele chegar. Não faz diferença ter assistido o que veio antes. Ninguém vai entender nada mesmo.