Pow, baita filme trash! Mesmo com poucos recursos, inegável o esforço e a habilidade em apresentar uma construção eficiente do expressionismo. A cena do cultuamento à carne em plena Sexta-Feira Santa é sensacional.
Trilouco! E a referência à crítica aos filmes brasileiros é sensacional, quando uma das personagens indica "Perdidos de Amor", um filme nacional, e a outra torce o nariz. 51 anos depois, tristemente ainda presenciamos a mesma coisa.
Vi numa versão bem ruim em termos de qualidade, quase impossível de acompanhar. A história é muito boa e o remake que fizeram não deixa nada a desejar, o ótimo João Miguel cumpre a altura o grande papel de Leonardo Villar.
Um melodrama sirkiano que me deixou mais incomodado do que atento às discussões que propôs. Racismo, empoderamento feminino, assédio, relacionamento com mais velhos, muitos temas para um tom novelesco e que, quando misturadas, ficam diluídas demais dentro de um filme. Não entendi a trilha quando a Sarah Jone apanha do namorado, era para ser algo dramático e colocaram um instrumental de esquete de humor. O filme tem seu charme, a atuação da Juanita Moore é ótima, mas não achei um grande obra.
"Sei que alguns pássaros não podem viver numa gaiola. Suas penas brilham demais. E, quando eles voam, você fica contente, porque sabia que era um pecado prendê-los."
Com uma fotografia alaranjada e que remete ao estilo de produção retrô, o longa é um prato cheio para quem gosta de publicidade e revisões históricas. Gael García Bernal, famoso por interpretar papéis totalmente distintos, imprime a dualidade que carrega entre a formação familiar e os ideais necessários para o sucesso da campanha. A vitória é triunfante, mas também amarga, com um final que exala os caminhos contraditórios de quem precisa se manter na comunicação.
Mais do que o retrato do sincretismo religioso, o filme é uma vitrine de um Brasil que pouco mudou: fortes características culturais em conflito com a intolerância religiosa, com o oportunismo e com a hipocrisia. O texto de Dias Gomes flerta no humor, mas alardeia crítica social; penso que seria quase impossível fazer um filme ruim com um texto tão perfeito. O Zé do Burro interpretado por Leonardo Villar é digno de nota, a ingenuidade até o ápice de revolta do personagem é construído com muita competência. A cena final é assustadoramente impactante, uma das mais fortes do nosso cinema.
Quem já conhece o estilo do diretor sabe que faz parte do seu universo o exagero das emoções e os embaraços novelescos, mas sempre com muita qualidade, o que não ocorre, infelizmente, com o filme em questão. “De Salto Alto” padece com um roteiro mal resolvido. A princípio, parece fazer alusão a “Sonata de Outono”, grande filme de Bergman, inclusive citado por Rebeca (Victoria Abril), mas nem ela e nem Beck (Marisa Paredes) chegam aos pés das emoções críveis imortalizadas por Ingrid Bergman e Liv Ullmann. A atuação da Victoria Abril beira o piegas com as caras e bocas fora do tom. No meio da lavagem de roupa suja entre mãe e filha há um crime, e a narrativa se sustenta para descoberta do autor por meio de um misterioso juiz: um ponto fora da curva dentro do falho arco dramático. Pouca coisa funciona neste filme pouco inspirado do Almodóvar, que tem seu valor pelo universo das cores e a valorização artística dentro da produção, que fazem o drama ser visto mesmo com um roteiro menor.
O protagonista, Travis, interpretado por Harry Dean Stanton, passa por transformações internas à medida que a sua memória retorna. "Quatro anos é muito tempo? Bom, é muito para um menino. É metade da vida dele". O ápice é o reencontro com a sua antiga amante Jane (Nastassja Kinski), num diálogo emblemático em que eles se comunicam separados por um espelho.Essa barreira representa um acerto de contas necessário, mas impossível de ser reparado. Travis se vê perdido não somente por questões psicológicas, como também pelas mudanças no mundo externo capitalista, algo demarcante quando ele se nega a viajar de avião. A conexão de Travis com o mundo é representada de forma brilhante por Wenders com o uso de grandes planos gerais, enfatizando a solidão do personagem, reforçada por cores fortes, fotografia de Robby Muller, e marcantes acordes de uma guitarra, de Ry Cooder. Os desdobramentos finais poderiam ter sido mais elaborados, mas corria-se o risco de prejudicar o ritmo, por vezes remansoso.
Mais melodramático e novelesco que o habitual, Almodóvar constroi uma protagonista que se descobre na maturidade. A mudança dela também demarca uma transição na carreira do diretor. Cheio de referências a grandes filmes como “Se Meu Apartamento Falasse”, “Casablanca” e “Ricas e Famosas”, Almodóvar parece em confronto consigo para entregar a posteriori filmes marcantes assim com os citados. Ainda bem que a mudança com a protagonista também ocorre com o ilustre diretor espanhol.
Julia Roberts, Jude Law, Natalie Portman e Clive Owen dão vida aos personagens centrais que se interligam pelo amor e por uma rede de mentiras. Os dois últimos foram indicados ao Oscar, mas todos eles estão igualmente bem, honestos e entregues a um texto primorosamente bem escrito. A direção de Nichols é certeira: constroi elementos românticos e os desfaz utilizando-se muitas vezes das mesmas reações dos atores, algo próximo do que chamamos de efeito Kuleshov. Tudo depende do ponto de vista de como queremos encarar os fatos. Para demarcar os efeitos catárticos, a trilha sonora é extremamente essencial, como a oscilação entre o romântico The Blower’s Daughter, de Dimen Rice, e o trágico, com trechos da ópera Così fan tutte, de Mozart. É um filme que prende pelo texto com a feliz união entre direção e acerto de casting.
Filmado no outono de Vemont, o filme chama atenção já pela belíssima locação e fotografia policromática do diretor, acostumado a filmar grandes filmes em preto e branco. É nesse clima bucólico que a história se desenrola com a inquietude dos personagens diante de um morto, mas, o que seria mais óbvio de ser feito, como chamar a polícia ou se assustar com o ocorrido, não acontece. Diante dessas peculiaridades, Hitch brinca com o gênero e entrega um filme com ar de humor negro, leve e até romântico. A graciosa Shirley MacLaine, do ótimo “Se Meu Apartamento Falasse”, faz aqui sua estreia no cinema. É um filme pouco lembrado do mestre e talvez seria ainda menos conhecido se não tivesse a assinatura dele. Apesar da ideia interessante, que lembra até o seu aclamado “Festim Diabólico”, o ritmo é sonolento e por vezes desinteressante. Vale para conferir a maestria do Hitch em conduzir pequenos lapsos de suspense apenas em detalhes e ou sugestões, mostrando seu brilhantismo mesmo em obras menores.
A história incialmente lembra bons filme similares como “À Espera do Milagre” e “O Sol é Para Todos”. Mas falta aqui sutileza e um propósito dramático. Todas as cenas, do início ao fim, são jogadas forçadamente para arrancar as emoções mais primárias do espectador, sem nuances. Neste quesito, lembra também o “A Vida é Bela”. Nem mesmo o déficit intelectual de Memo é crível, com os trejeitos clássicos de personagens do gênero. Salva o carisma da simpática Ova. Há cenas bonitas como a comunicação dela com o pai pelas paredes da prisão e também o momento em que ela o visita na cela. O clímax é altamente previsível pelo spoiler do próprio título. É um filme infantil. O sucesso é claro pelo público que aclama pelo cinema de fácil degustação.
Contado de forma biográfica, o filme não acontece por diversos motivos. Primeiro, a não-linearidade da narrativa, com diversos flashbacks e flashforward que não contribuem para o bom fluido dramático. Segundo, o foco no romance de Sérgio com Carolina (Ana de Armas), que apesar de esboçar uma leve química, destoa o tempo inteiro do argumento central, além de apresentar cenas românticas carimbadas. Por fim, apenas para não me alongar, pois há mais defeitos, o cenário geopolítico é retratado de forma rasa e pouco convincente - mesmo sabendo que não se trata de um documentário, espera-se algo mínimo de uma inspiração de acontecimentos reais. É um filme que tinha todos os atribuídos para ser uma grande produção, mas não foi. Creio que o principal problema foi o roteiro, muito mambembe.
O título engana à primeira vista se acharmos que é um mais um filme novelesco sobre o amor proibido. É uma história sobre a repressão do desejo e as suas consequências. Não há espaço para romantismo na arquitetura escolhida por Andrade (diretor) nas ruínas e grutas de uma Minas Gerais esquecida e pessimista com a fortuna do ouro. O diretor utiliza-se de uma linguagem incomum no cinema novo do Brasil à época, trazendo para cá referências de um cinema mais introspectivo, bergniano. Sobre a tortura do silêncio e do desejo impuro, o sofrimento da protagonista eclode “não sei se é o Demônio mesmo ou se é Deus que tá no meu corpo." Não há salvação, nem mesmo quando amor é por alguém enviado pelo divino. A fotografia é um dos grandes destaques, uma das mais bonitas que eu já vi no cinema brasileiro antes da retomada. Vale muito a pena conferir.
Iniciante, Amaral constroi a narrativa de maneira simples e leve, o que colabora para uma imersão naturalista e verdadeira ao drama, sensações pouco vistas no cinema brasileiro. Macabéa é o retrato de que a ingenuidade não tem vez. Ela é passada a perna pela amiga, pelo namorado, pela vida. Mesmo assim, ela se questiona “ser feliz serve pra que?”. Macabéa tem muitas perguntas e poucas respostas. A humanidade é cruel e não a fornece, quem não as sabem, julgam-a para alcançar um sentimento de superioridade. A personagem corria o risco de ser pouco crível e estereotipada com uma escalação incorreta, mas Marcelia Cartaxo dá vida à Macabéa de forma irretocável. Também iniciante, curiosamente assim como a personagem, ela tem o sonho de ser estrela de cinema. A realização do sonho chega e a hora da estrela é como cada espectador imagina. Um belo filme!
Com diálogos em alguns momentos quase inaudíveis, Mendonça coloca como destaque o som corriqueiro, aquele que muitas vezes incomoda: o som do carro do vizinho, o latido do cachorro, a lavadora de roupas. Mas o que mais incomoda não é o som ao redor. É a podridão da classe média. Por meio de um recorte de um quarteirão, Mendonça monta uma espécie de sistema feudal, onde o colonialismo impera e quem está na base da pirâmide é a corda que explode incendiada por aqueles que nem ainda chegaram ao topo. A sequência da reunião de condomínio em que os moradores discutem o trabalho do vigilante reflete bem o viés da classe. Há também o som mais alto da patroa que humilha a empregada, algo que vimos também com maestria pela Muyelart em “Que Horas Ela Volta?”. Ao contrário deste, faltou a “O Som ao Redor” a construção rítmica que envolve o espectador não somente a refletir sobre o que se quer elucidar, mas também o envolvimento com, ao menos, algum personagem.
Há uma vaga lembrança ao filme Persona, de Bergman. Só que em “Elena” não é somente ficção. Recheado de vídeos de arquivos, recortes de jornais e fotografias antigas, Petra narra o filme e imprime a sua visão dos fatos. O filme trata de uma dor pessoal e é delicado mergulhar na história, mesmo com o domínio da sensibilidade narrativa. A impressão que tive é que eu era um intruso como espectador. Petra adentra à raizes famíliares profundas em busca de encontrar a si mesma, tanto como pessoa quanto como estilo cinematográfico. Como balanço final, para ela, possivelmente um ótimo aprendizado; para o público, não sei ao certo.
Com uma luz natural, Glauber apresenta um retrato duro de um Brasil castigado entre a religião e o poder no sertão. Sobre promessas como "o sertão vai virar mar", a esperança do oprimido um dia se tornar o opressor. Talvez incomode cenas de violências sem pirotécnicas e com marcações erradas, mas era o naturalismo e a fuga do politicamente aceito do Cinema Novo.
À Meia-Noite Levarei Sua Alma
3.9 288 Assista AgoraPow, baita filme trash! Mesmo com poucos recursos, inegável o esforço e a habilidade em apresentar uma construção eficiente do expressionismo. A cena do cultuamento à carne em plena Sexta-Feira Santa é sensacional.
Matou a Família e Foi ao Cinema
3.6 91Trilouco! E a referência à crítica aos filmes brasileiros é sensacional, quando uma das personagens indica "Perdidos de Amor", um filme nacional, e a outra torce o nariz. 51 anos depois, tristemente ainda presenciamos a mesma coisa.
Pink
4.3 41 Assista AgoraFilmaço! Pra quem gosta de longas de tribunais é um prato cheio. Os indianos estão mandando muito bem!
A Hora e a Vez de Augusto Matraga
4.0 30Vi numa versão bem ruim em termos de qualidade, quase impossível de acompanhar. A história é muito boa e o remake que fizeram não deixa nada a desejar, o ótimo João Miguel cumpre a altura o grande papel de Leonardo Villar.
Pequena Miss Sunshine
4.1 2,8K Assista Agora"-Dedico esta dança a meu avô
- Onde está ele?
- No porta-malas"
Deuses e Monstros
3.8 88Há tempos eu não via um roteiro tão bem construído, não à toa venceu nesta categoria no Oscar. Baita filme!
Imitação da Vida
4.2 94 Assista AgoraUm melodrama sirkiano que me deixou mais incomodado do que atento às discussões que propôs. Racismo, empoderamento feminino, assédio, relacionamento com mais velhos, muitos temas para um tom novelesco e que, quando misturadas, ficam diluídas demais dentro de um filme. Não entendi a trilha quando a Sarah Jone apanha do namorado, era para ser algo dramático e colocaram um instrumental de esquete de humor. O filme tem seu charme, a atuação da Juanita Moore é ótima, mas não achei um grande obra.
Um Sonho de Liberdade
4.6 2,4K Assista Agora"Sei que alguns pássaros não podem viver numa gaiola. Suas penas brilham demais. E, quando eles voam, você fica contente, porque sabia que era um pecado prendê-los."
Não
4.2 472 Assista AgoraCom uma fotografia alaranjada e que remete ao estilo de produção retrô, o longa é um prato cheio para quem gosta de publicidade e revisões históricas. Gael García Bernal, famoso por interpretar papéis totalmente distintos, imprime a dualidade que carrega entre a formação familiar e os ideais necessários para o sucesso da campanha. A vitória é triunfante, mas também amarga, com um final que exala os caminhos contraditórios de quem precisa se manter na comunicação.
O Pagador de Promessas
4.3 364 Assista AgoraMais do que o retrato do sincretismo religioso, o filme é uma vitrine de um Brasil que pouco mudou: fortes características culturais em conflito com a intolerância religiosa, com o oportunismo e com a hipocrisia. O texto de Dias Gomes flerta no humor, mas alardeia crítica social; penso que seria quase impossível fazer um filme ruim com um texto tão perfeito. O Zé do Burro interpretado por Leonardo Villar é digno de nota, a ingenuidade até o ápice de revolta do personagem é construído com muita competência. A cena final é assustadoramente impactante, uma das mais fortes do nosso cinema.
De Salto Alto
3.7 175 Assista AgoraQuem já conhece o estilo do diretor sabe que faz parte do seu universo o exagero das emoções e os embaraços novelescos, mas sempre com muita qualidade, o que não ocorre, infelizmente, com o filme em questão. “De Salto Alto” padece com um roteiro mal resolvido. A princípio, parece fazer alusão a “Sonata de Outono”, grande filme de Bergman, inclusive citado por Rebeca (Victoria Abril), mas nem ela e nem Beck (Marisa Paredes) chegam aos pés das emoções críveis imortalizadas por Ingrid Bergman e Liv Ullmann. A atuação da Victoria Abril beira o piegas com as caras e bocas fora do tom. No meio da lavagem de roupa suja entre mãe e filha há um crime, e a narrativa se sustenta para descoberta do autor por meio de um misterioso juiz: um ponto fora da curva dentro do falho arco dramático. Pouca coisa funciona neste filme pouco inspirado do Almodóvar, que tem seu valor pelo universo das cores e a valorização artística dentro da produção, que fazem o drama ser visto mesmo com um roteiro menor.
A Despedida
4.0 298Atuações honestas e um roteiro simples, mas eficiente. Após vê-lo, certamente você irá tratar melhor a sua avó. Um filme bonito.
Paris, Texas
4.3 698 Assista AgoraO protagonista, Travis, interpretado por Harry Dean Stanton, passa por transformações internas à medida que a sua memória retorna. "Quatro anos é muito tempo? Bom, é muito para um menino. É metade da vida dele". O ápice é o reencontro com a sua antiga amante Jane (Nastassja Kinski), num diálogo emblemático em que eles se comunicam separados por um espelho.Essa barreira representa um acerto de contas necessário, mas impossível de ser reparado. Travis se vê perdido não somente por questões psicológicas, como também pelas mudanças no mundo externo capitalista, algo demarcante quando ele se nega a viajar de avião. A conexão de Travis com o mundo é representada de forma brilhante por Wenders com o uso de grandes planos gerais, enfatizando a solidão do personagem, reforçada por cores fortes, fotografia de Robby Muller, e marcantes acordes de uma guitarra, de Ry Cooder. Os desdobramentos finais poderiam ter sido mais elaborados, mas corria-se o risco de prejudicar o ritmo, por vezes remansoso.
A Flor do Meu Segredo
3.7 160Mais melodramático e novelesco que o habitual, Almodóvar constroi uma protagonista que se descobre na maturidade. A mudança dela também demarca uma transição na carreira do diretor. Cheio de referências a grandes filmes como “Se Meu Apartamento Falasse”, “Casablanca” e “Ricas e Famosas”, Almodóvar parece em confronto consigo para entregar a posteriori filmes marcantes assim com os citados. Ainda bem que a mudança com a protagonista também ocorre com o ilustre diretor espanhol.
Closer: Perto Demais
3.9 3,3K Assista AgoraJulia Roberts, Jude Law, Natalie Portman e Clive Owen dão vida aos personagens centrais que se interligam pelo amor e por uma rede de mentiras. Os dois últimos foram indicados ao Oscar, mas todos eles estão igualmente bem, honestos e entregues a um texto primorosamente bem escrito. A direção de Nichols é certeira: constroi elementos românticos e os desfaz utilizando-se muitas vezes das mesmas reações dos atores, algo próximo do que chamamos de efeito Kuleshov. Tudo depende do ponto de vista de como queremos encarar os fatos. Para demarcar os efeitos catárticos, a trilha sonora é extremamente essencial, como a oscilação entre o romântico The Blower’s Daughter, de Dimen Rice, e o trágico, com trechos da ópera Così fan tutte, de Mozart. É um filme que prende pelo texto com a feliz união entre direção e acerto de casting.
O Terceiro Tiro
3.7 145Filmado no outono de Vemont, o filme chama atenção já pela belíssima locação e fotografia policromática do diretor, acostumado a filmar grandes filmes em preto e branco. É nesse clima bucólico que a história se desenrola com a inquietude dos personagens diante de um morto, mas, o que seria mais óbvio de ser feito, como chamar a polícia ou se assustar com o ocorrido, não acontece. Diante dessas peculiaridades, Hitch brinca com o gênero e entrega um filme com ar de humor negro, leve e até romântico. A graciosa Shirley MacLaine, do ótimo “Se Meu Apartamento Falasse”, faz aqui sua estreia no cinema. É um filme pouco lembrado do mestre e talvez seria ainda menos conhecido se não tivesse a assinatura dele. Apesar da ideia interessante, que lembra até o seu aclamado “Festim Diabólico”, o ritmo é sonolento e por vezes desinteressante. Vale para conferir a maestria do Hitch em conduzir pequenos lapsos de suspense apenas em detalhes e ou sugestões, mostrando seu brilhantismo mesmo em obras menores.
Milagre na Cela 7
4.1 1,2K Assista AgoraA história incialmente lembra bons filme similares como “À Espera do Milagre” e “O Sol é Para Todos”. Mas falta aqui sutileza e um propósito dramático. Todas as cenas, do início ao fim, são jogadas forçadamente para arrancar as emoções mais primárias do espectador, sem nuances. Neste quesito, lembra também o “A Vida é Bela”. Nem mesmo o déficit intelectual de Memo é crível, com os trejeitos clássicos de personagens do gênero. Salva o carisma da simpática Ova. Há cenas bonitas como a comunicação dela com o pai pelas paredes da prisão e também o momento em que ela o visita na cela. O clímax é altamente previsível pelo spoiler do próprio título. É um filme infantil. O sucesso é claro pelo público que aclama pelo cinema de fácil degustação.
Sérgio
3.2 223Contado de forma biográfica, o filme não acontece por diversos motivos. Primeiro, a não-linearidade da narrativa, com diversos flashbacks e flashforward que não contribuem para o bom fluido dramático. Segundo, o foco no romance de Sérgio com Carolina (Ana de Armas), que apesar de esboçar uma leve química, destoa o tempo inteiro do argumento central, além de apresentar cenas românticas carimbadas. Por fim, apenas para não me alongar, pois há mais defeitos, o cenário geopolítico é retratado de forma rasa e pouco convincente - mesmo sabendo que não se trata de um documentário, espera-se algo mínimo de uma inspiração de acontecimentos reais. É um filme que tinha todos os atribuídos para ser uma grande produção, mas não foi. Creio que o principal problema foi o roteiro, muito mambembe.
O Padre e a Moça
3.9 51O título engana à primeira vista se acharmos que é um mais um filme novelesco sobre o amor proibido. É uma história sobre a repressão do desejo e as suas consequências. Não há espaço para romantismo na arquitetura escolhida por Andrade (diretor) nas ruínas e grutas de uma Minas Gerais esquecida e pessimista com a fortuna do ouro. O diretor utiliza-se de uma linguagem incomum no cinema novo do Brasil à época, trazendo para cá referências de um cinema mais introspectivo, bergniano. Sobre a tortura do silêncio e do desejo impuro, o sofrimento da protagonista eclode “não sei se é o Demônio mesmo ou se é Deus que tá no meu corpo." Não há salvação, nem mesmo quando amor é por alguém enviado pelo divino. A fotografia é um dos grandes destaques, uma das mais bonitas que eu já vi no cinema brasileiro antes da retomada. Vale muito a pena conferir.
A Hora da Estrela
3.9 516Iniciante, Amaral constroi a narrativa de maneira simples e leve, o que colabora para uma imersão naturalista e verdadeira ao drama, sensações pouco vistas no cinema brasileiro. Macabéa é o retrato de que a ingenuidade não tem vez. Ela é passada a perna pela amiga, pelo namorado, pela vida. Mesmo assim, ela se questiona “ser feliz serve pra que?”. Macabéa tem muitas perguntas e poucas respostas. A humanidade é cruel e não a fornece, quem não as sabem, julgam-a para alcançar um sentimento de superioridade. A personagem corria o risco de ser pouco crível e estereotipada com uma escalação incorreta, mas Marcelia Cartaxo dá vida à Macabéa de forma irretocável. Também iniciante, curiosamente assim como a personagem, ela tem o sonho de ser estrela de cinema. A realização do sonho chega e a hora da estrela é como cada espectador imagina. Um belo filme!
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraCom diálogos em alguns momentos quase inaudíveis, Mendonça coloca como destaque o som corriqueiro, aquele que muitas vezes incomoda: o som do carro do vizinho, o latido do cachorro, a lavadora de roupas. Mas o que mais incomoda não é o som ao redor. É a podridão da classe média. Por meio de um recorte de um quarteirão, Mendonça monta uma espécie de sistema feudal, onde o colonialismo impera e quem está na base da pirâmide é a corda que explode incendiada por aqueles que nem ainda chegaram ao topo. A sequência da reunião de condomínio em que os moradores discutem o trabalho do vigilante reflete bem o viés da classe. Há também o som mais alto da patroa que humilha a empregada, algo que vimos também com maestria pela Muyelart em “Que Horas Ela Volta?”. Ao contrário deste, faltou a “O Som ao Redor” a construção rítmica que envolve o espectador não somente a refletir sobre o que se quer elucidar, mas também o envolvimento com, ao menos, algum personagem.
Da Derrota à Vitória
3.0 8Fraco. Cheio de músicas. Não apresenta nada de destaque no gênero.
Elena
4.2 1,3K Assista AgoraHá uma vaga lembrança ao filme Persona, de Bergman. Só que em “Elena” não é somente ficção. Recheado de vídeos de arquivos, recortes de jornais e fotografias antigas, Petra narra o filme e imprime a sua visão dos fatos. O filme trata de uma dor pessoal e é delicado mergulhar na história, mesmo com o domínio da sensibilidade narrativa. A impressão que tive é que eu era um intruso como espectador. Petra adentra à raizes famíliares profundas em busca de encontrar a si mesma, tanto como pessoa quanto como estilo cinematográfico. Como balanço final, para ela, possivelmente um ótimo aprendizado; para o público, não sei ao certo.
Deus e o Diabo na Terra do Sol
4.1 429 Assista AgoraCom uma luz natural, Glauber apresenta um retrato duro de um Brasil castigado entre a religião e o poder no sertão. Sobre promessas como "o sertão vai virar mar", a esperança do oprimido um dia se tornar o opressor. Talvez incomode cenas de violências sem pirotécnicas e com marcações erradas, mas era o naturalismo e a fuga do politicamente aceito do Cinema Novo.