Já tinha ouvido falar muito sobre essa dupla de comediantes, mas nunca tive a oportunidade de conferir nenhum de seus filmes. Acho que comecei por um ideal, repleto de 'gags' e trama geral. É o modelo que deu origem às imitações chanchadescas no Brasil, né? Uma ou outra palhaçada (aliás, palhaçadas o tempo inteiro), perseguições frenéticas, um mote romântico entre coadjuvantes e canções afetadas, aqui e acolá. O Abbott é sério demais, pouco engraçado. Mas papouquei-me de rir com o Costello, desde a primeira aparição, e a situação envolvendo o Rags Ragland. Minha mãe estava ao meu lado, e lembrou de quando via estes filmes, em sua pré-adolescência, na década de 1950. O roteiro é mero pretexto para as 'gags' (e canções), mas o filme diverte. Quando entendemos que ele segue à risca uma fórmula bem sucedida, deixamo-nos levar e caímos na gargalhada. A seqüência final, na montanha-russa, é pura ode às aventuras de quem se atrapalha no dia a dia... kkkkkkkkkkkk (WPC>)
Vi o filme por puro acaso, numa exibição na HBO, e achei uma gracinha. 'Pop' e despretensioso, mas não blasfemo, como talvez tenha sido acusado. Tudo bem, não curti os estereótipos trapalhões do Anjo Gabriel e dos Reis Magos, mas as canções são fofinhas, Milo Manheim é apaixonante e Antonio Banderas está divertindo-se à beça, entregando-se à caricatura sem receio e sem medo de ser feliz (ainda que seja o vilão). Foi realmente uma grata surpresa. Sou obcecado por musicais, não tinha como não funcionar comigo! (risos) - WPC>
Ainda que a temática das drogas não apareça aqui, achei este filme muitíssimo parecido com (e/ou influenciado por) TRAINSPOTTING - SEM LIMITES. Não apenas pela relação entre os personagens e pela narração dramático-satírica, mas até mesmo alguns planos e enquadramentos são bastante semelhantes. Como eu vi o primeiro da trilogia de Oslo depois de ter conferido os demais exemplares, decepcionei-me um tantinho: o que é elogiosamente visto e descrito como crueza 'punk' tem também um quinhão mui desagradável de elogio concessivo à masculinidade tóxica. As interpretações são desenvoltas, mas acho na hipertrofia do repentino reconhecimento literário dos personagens incomodou-me: pareceu tão corriqueiro publicar um livro, ser reconhecido por ele, etc. . Por vezes, o vai e vém da narrativa confundiu-me, o que é intencional, mas, no geral, acho que o filme teve mais boas idéias que acertos de execução. É gracioso, mas promete mais do que oferece, enquanto obra imbuída de muito frescor juvenil. Culpa do gélido clima norueguês, talvez. (WPC>)
P.S.: achei o intérprete do Erik muito parecido com o Evan Peters!
A empolgação era extrema: enquanto minha mãe assistia ao filme, na sala, ouvi trechos da fantástica trilha musical, de caráter sinfônico, do Scott Walker e fiquei obcecado para conferir o filme. Com as expectativas nas alturas, fui de fato, arrebatado pela seqüência de abertura e gostei da maneira um tanto distanciada como são retratados as situações políticas e os personagens, não obstante as interpretações intensas de um ótimo elenco. Foi quando a frustração instaurou-se: por mais que a direção me fascinasse, em seu pendor experimental, achei o roteiro óbvio, em seu adlerismo. Reiterativo e redundante, em sua demonstração de que crianças mimadas convertem-se em fascistas, oh! A revelação do desfecho, quanto à origem genética do garoto crescido, pareceu-me igualmente insossa, como a maior parte do que acontece. Tudo bem, concordo que o garotinho Tom Sweet entrega-nos uma potente demonstração do quão irritante um filho único pode ser, mas o filme passa a redundar em círculos, a partir de determinado momento. A empolgação do início fenece, ao final, tudo chafurda numa metáfora previsível sobre um fascismo que é também hodierno. Uma pena. Mas preciso do CD deste filme, uau! (WPC>)
O titulo brasileiro não é infiel à proposta da narrativa, mas é o original que sintetiza melhor as intenções da diretora, ao fazer com que acompanhemos o cotidiano de produção de uma artista que, a princípio, revela-se tão desagradável enquanto pessoa. Foi importante, para isso, o enfeamento da maravilhosa protagonista, uma de minhas atrizes contemporâneas favoritas: não conseguimos sentir simpatia por ela, mas a empatia surge gradualmente, quando compreendemos o porquê de ela ter ficado tão amargurada, convivendo com aqueles familiares tão problemáticos. Hong Chau transforma-se em cada papel que dignifica: ela está maravilhosa aqui, a personificação de diversas amigas formadas em Artes Visuais. Por quase uma hora de projeção, parecia que eu estava desgostando do filme, de seu ritmo lento, do enfoque ostensivo da diretora em anticlímaces (vide quase todas as situações referentes ao cuidado com o pombo), Mas, na seqüência da exposição, tudo se justifica, como objetivo a ser alcançado, como ápice de um processo que, mesmo que continue em aberto ou "em curso produtivo", tanto quanto o filme em si (vide a importância situação dos créditos finais), provoca reações intensas em quem testemunha o percurso de criação, não apenas a obra acabada. É uma trama difícil e, não vou mentir, intencionalmente "chata", mas que cresce bastante em nossa apreciação ao término, quando cozemos interiormente os elementos rigorosamente urdidos pelo roteiro minimalista de uma cineasta caracterizada por este adjetivo. Presumo que, numa revisão, gostarei bem mais: num primeiro contato, ele intimida bastante, assusta-nos pela lentidão, pelo registro da alienação de quem trabalha com arte, mas não consegue administrar adequadamente os prazeres da vida. Uma aula de reeducação espectatorial! (WPC>)
Não sabia o que esperar, exceto uma multiplicação de camadas psicanalíticas e alguma metalinguagem roteirística. a julgar pelo que descobrimos no trabalho mais famoso (e premiado) da diretora. Percebi que ele seria exibido no Telecine Cult e aproveitei a oportunidade. E adorei: no início, demorei um pouco para imergir. Minha mãe, ao meu lado, reclamava que não estava entendendo os vais e véns da narrativa. Mas, de repente, eu estava fascinado, obcecado, apaixonado... Cheguei mesmo a gargalhar, de tão aflitivos que são os ápices dramáticos. Virginie Efira está maravilhosa, mas é eclipsada pelo defsile de talentos: Adéle Exarchopoulos tem o desempenho actancial mais pungente desde AZUL É A COR MAIS QUENTE; Gaspard Ulliel angaria um fascínio repulsivo e crescente, em cada aparição; Niels Schneider encanta pela beleza; e Sandra Hüller está absolutamente soberba. Um exercício de análise, em múltiplas significações para a palavra, trabalho de gênia. Só melhora, quanto mais se complexifica: incrível! (WPC>)
Acho válido o espírito de cooperação que validou a feitura, mas, enquanto discurso, o filme é sobremaneira problemático, no sentido de que, por vezes, parece celebrar aquilo que condena, celebrar a esperteza de quem sobrevive mediante o ludibrio... Percebo que, a despeito de seus evidentes defeitos, o filme seja deveras apreciado, o que talvez tenha a ver com um conhecimento de conjuntura (os espaços destinados às interações juvenis de classe média no Rio de Janeiro), com certa verossimilhança na abordagem e confecção dos personagens. Comigo, nada funcionou: além do mau ritmo e das interpretações forçadas, as reviravoltas à la Tarantino não engrenam, o que só piora pela inserção de uma montagem que reverencia a linguagem televisiva. Repito: que bom que o filme foi feito e distribuído, nas condições possíveis, mas foi difícil chegar até o final, de tão contaminado pela podridão que o roteiro é. Desgostei plenamente, o que lamento. (WPC>)
Ainda não vi O PESO DO TALENTO, mas é evidente que é u filme que pega carona nesta verve superexpositiva do Nicolas Cage. Seu personagem, entretanto, é composto com muita seriedade: apesar de a situação tramática logo se desgastar, e o filme ficar cansativo do meio para o final, em razão de sustentar-se em apenas uma piada, seu personagem é delineado com seriedade dramática, oscilando entre o conscientemente ridículo e o merecedor de piedade. Não chegamos a nos identificar, mas torcemos por ele, no desespero. O clima é de pasticho kaufmaniano, mas a direção não é muito firme, o tom do filme é indefinido, encerrando-se de maneira quase cruel, em sua inevitabilidade melancólica. Funciona melhor depois que a sessão termina, em verdade. A execução de uma canção de Talking Heads, nos créditos finais, ressignifica aquilo que pareceu afoito no decorrer das situações: poderia ser um excelente estudo de personagem, mas o roteiro se desperdiça em piadas neogeracionais, em cacoetes da A24 e no reaproveitamento chistoso de temas que renderam um eficiente filme de suspense no oitentista A MORTE NOS SONHOS. Acho que, numa revisão sem expectativas, funcionará bem melhor... (WPC>)
Assisti aos principais filmes deste realizador supostamente 'trash' em ordem invertida, e fiquei positivamente chocado com o teor psicanalítico dos mesmos. Adentrei a sessão enquanto lidava com uma grava situação familiar, envolvendo um irmão mais novo, de modo que o arrebatamento foi intenso: será que o Frank Henenlotter teve acesso aos meus diários?! Brincadeiras à parte, é maravilhoso como ele consegue tornar tão crível um personagem de látex, fazer-nos experimentar legítimas, que vão do medo ou horror inicial a uma piedade sincera, a uma necessidade de compreensão e entendimento da situação trazida à tona: é um filme sobremaneira triste e melancólico, sobre diversos tipos de solidões, não sendo casual que tenha sido locado em Nova York, numa região consagrada aos artistas "alternativos". De fato, antecipa o mote geral de MALIGNO, do James Wan, mas pensei ainda mais na ambientação scorseseana, que se irmana ao que o cineasta fez em DEPOIS DE HORAS ou em seu episódio de CONTOS DE NOVA YORK. 'Exploitation' é algo premonitório, em âmbito social, afinal. Fui pessoalmente tocado por este filmaço, amei! (WPC>)
Ainda não vi a estréia mui elogiada e cultuada deste diretor, mas, depois deste filmaço aqui, fiquei mais do que curioso! O vi por acidente e fiquei impressionado e apaixonado: além de ser muito divertido e sensual, aborda a questão do vício em substâncias alucinógenas de maneira honesta e até mesmo séria. Os efeitos especiais são ótimos e, mesmo quando adere ao 'trash' assumido, não abonadona a verve reflexiva. Há algo de muito 'camp' nas atuações (minha mãe riu, ao ouvir tantos gritos, desde o início) e o diretor não foi nada econômico na adoção do homoerotismo: a beleza do protagonista Rick Hearst é acachapante e muito bem explorada pelo enredo. Fascinante e aterrorizante, ao mesmo tempo, naquilo que propõe e expõe. Adorei! (WPC>)
Não conhecia nem o romance original nem o filme dele derivado. Ganhei o primeiro de um amigo olavista e demorei bastante na leitura, dada a densidade digressiva da obra. A adaptação ficou famosa pela adoção de muitos 'flashbacks', direcionadas à apreciação num tribunal. Sei que o Duvivier foi atacado enquanto representante do "cinéma de papá", mas demonstrou enorme habilidade na interpretação/adaptação da obra, que ficou sintética e bastante fiel aos propósitos originais: houve apenas a supressão de uma personagem e uma leve (porém capital) alteração no desfecho. Temi que as menções homossexuais fossem abortadas, mas até que elas foram eficientemente transcritas. Há muito mais por detrás da mera abordagem advocatícia, um conflito geracional de proporções violentas que, no romance, deu origem a mais dois livros. Interessante descoberta! (WPC>)
Continuo achando a versão de 1937 a minha favorita, mas compreendo o favoritismo, por parte de vários críticos, sobre esta produção aqui: a extensão da duração é justificada pela intensidade dos envolvidos, pela entrega de Judy Garland a uma condição que ser-lhe-ia muito pessoal. Como tal, enquanto espectador, foi muito pessoal para mim também. A relação entre os dois protagonistas é muito intensa e a intepretação dela é arrebatadora. Tenho um pantim quanto à categorização da obra enquanto musical, já que as canções são excessivamente diegetizadas, enquanto espetáculos efetivados pelos intérpretes, no universo em que eles atuam. Mas como ficar incólume perante o impacto de "The Man That Got Away"? Como sofro de alcoolismo passivo (cuido de alguém que sofre deste mal), o roteiro acerta-me em cheio. E, a cada revisão, refaço as pazes com o estilo cukoriano, cuja afetação demorei para compreender: precisei envelhecer/amadurecer para isso. A lentidão do processo não é casual, há todo um percurso emocional em jogo! Fiquei surpreso ao descobrir que o estratagema das fotos em tom sépia foi uma compensação "póstuma" à retaliação do filme, quando originalmente lançado. Foi algo que impressionou-me bastante no primeiro contato, pensei que fôra intencional (risos). Insisto que não é nem a minha versão favorita nem meu preferido do diretor, mas é um filme que nos afeta intimamente, que marca-nos a partir da identificação proposta! (WPC>)
A direção é um horror: descrente que é em suas próprias imagens, Rodrigo van Der Put tenta desviar-se delas, muitas vezes, o que é hipertrofiado no momento em que os personagens assistem a um programa de TV, em que a tela do aparelho é quase um tabu, nas suas breves aparições. Dá pena perceber Eduardo Sterbitch tão desperdiçado, depois de demonstrar que, sim, é um ótimo ator, e não apenas um comediante obrigado a repetir os mesmos papéis exagerados. Gosto da Polly Marinho (mostrada muito pouco) e achei o garoto Pedro Burgarelli simpaticíssimo, mas a composição "redentora" do pai é atroz, ainda mais vilanaz que a paspalhice do personagem de Daniel Furlan. Quando eu cria que o filme não poderia ficar mais ridículo (como o próprio Cacá comenta), ele vai lá e desce mais alguns níveis, em mau gosto lingüístico (emulando a montagem de Tik Tok e afins) e no puxa-saquismo de classe. Não sei se tinha nojo ou pena daqueles personagens, mas esforcei-me por simpatizar ao menos com as lições morais advindas da convivência forçada entre João e o garoto. Nada se aproveita, entretanto: os clichês convertem-se em estereótipos piorados e trama parece figurante em meio às filmagens de atores e equipe divertindo-se no parque. Trata-se de uma peça publicitária disfarçada de filme infantil. Indefensável, infelizmente! (WPC>)
É estranho que este filme seja tão rejeitado por público e crítico: eu o achei tão oportuno, em termos de ambientação pré-denuncista. Tudo bem, admito que a personagem central é tão narcisista quanto apática e que a sua transformação profissional/publicitária seja um tanto repentina, mas, para quem trabalhou nas mesmas áreas que ela, é algo sobremaneira verossímil. Tom Hanks aparece pouco, bem como John Boyega e Ella Coltrane, e, cada qual a seu modo, estes coadjuvantes possuem aparições marcantes, no fascínio que desencadeiam na protagonista. Mas foi Karen Gillan quem realmente em deixou apaixonado: que mulher linda e carismática! Eu trabalho como atendente num setor de TI há dois anos, e identifiquei-me com diversas situações apresentadas. Concordo que, sim, há algo da estética que se convencionou chamar de "Black Mirror", no desenvolvimento do enredo (afinal, lacunar e suspeitoso), mas acho que ele atualiza de maneira inteligente os cacoetes de MATRIX para a era facebookiana. Particularmente, apesar de decepcionar-me sobremaneira com o desfecho repentino e inconvincente, eu curti este filme. Demais, até! (WPC>)
Temendo que este filme fosse mais um conjunto de clichês em prol do identitarismo, evitei-o por algum tempo, por mais que todos os meus amigos dissessem que era ótimo. Estava sendo exibido num canal pago de TV e resolvi conferi-lo ao lado de minha mãe: adoramos. Ela pulava da cadeira, empolgada, torcendo pela maravilhosa protagonista, esplendidamente vivida pela excelente Viola Davis. De fato, há, sim, muitos clcihês, mas estes são validados pela História, pelas atrocidades do colonialismo. Diferentemente de PANTERA NEGRA - que é um filme que não funcionou comigo, a despeito de suas alegadas "boas intenções" - aqui, temos a aplicação orgânica das questões de classe, gênero e raça, sendo o filme muito efetivo na inserção representativa dessas questões, convertendo-se numa diversão sumamente empoderada. A direção é tão eficiente que consegue tornar atrativas mesmo as barrigadas, as cenas "banais" entre os clímaces. A duração é aproveitada em cada um de seus minutos: conhecemos bem os personagens, deslumbramo-nos perante a reconstituição artística do Reino de Daomé, captamos a magia da trilha musical de Terence Blanchard... Lasanna Lynch é uma fascinante coadjuvante e John Boyega está lindo! Se, de fato, algumas seqüências são extremamente violentas, não se pode negar que isso foi necessário aos propósitos reivindicativos da trama, de maneira que incomodei-me menos com as comemorações bélicas aqui do que em BACURAU, por exemplo. Em sua adesão às convenções de filmes de heróis, o roteiro realmente faz jus à organicidade supramencionada, de maneira que o filme é merecedor dos elogios que recebeu e merece ser ainda mais visto e divulgado, sobretudo em sua potência motivadora, no que tanga à identificação com a galhardia das mulheres negras, guerreiras e emocionais, humanas e intensas, no enfrentamento das dores e compreensão do valor de suas cicatrizes. Impressionante, neste sentido! (WPC>)
Gosto muito da diretora e, vendo este filme - pelo qual esperava há tempos! -, percebi que ela complexifica, em chave feminina, aquilo que o Ang Lee faz internacionalmente, no que tange à abordagem traumatizante da autoridade familiar. Ao invés de uma perspectiva biográfica, ela adere à imersão psicanalítica: o Pedro, além de ser um canalha, é frágil, suscetível, impotente em diversos âmbitos, em contraponto à fama heróica, conservada em diversas estátuas e relatos institucionais. Não lembrava que ele tinha falecido tão jovem (menos de 36 anos) e gostei bastante de como o Cauã Reymond compõe o personagem: não força sotaque, não evita os anacronismos. Parece que ele está ensaiando e esperando o personagem chegar, entrar em seu corpo, o possuir... Isso até ocorre, mas pelo viés da culpa. Adorei a maneira como os vários idiomas (alemão, francês, inglês e iorubá, além do português) surgem no filme e apreciei a preocupação do roteiro quanto aos pequenos atos (comer a sobremesa na cozinha de um navio, por exemplo). O quartel final adere aos 'flashbacks' excessivos e não é tão interessante quanto o começo e o meio, mas imergi no filme, senti-me invadido por aquelas situações, por aquela aflição culposa. O que estranhei é que a perspectiva do relato não fosse necessariamente a de Pedro, o que se percebe em seqüências mais objetivas, como os embates entre o protagonista e seu irmão português ou o desembarque dos escravos, mas, mesmo assim, adorei o conjunto. Como tal, aplaudo a coragem da diretora em levar a cabo um projeto tão arriscado e autoral: que bom que ela ousou. Tem muito a ver com JOAQUIM, outro filme que eu também amo. (WPC>)
Acho muito interessante como os filmes italianos 'pop' contemporâneos conseguem capitanear a nossa atenção, e emocionar-nos legitimamente, mesmo aderindo aos clichês e lugares comuns das produções de gênero. Aqui, o diretor Paolo Genovese não é tão exitoso quanto em sua realização mais famosa, mas, mesmo assim, concede às novas gerações a atualização de A FELICIDADE NÃO SE COMPRA que elas merecem. A duração é um tanto excessiva, mas ele constrói com habilidade a montanha-russa de situações que permitem a inevitável identificação emocional do espectador. O roteiro é um tanto bipolar em seus vais e vens, mas administra de maneira graciosa os procedimentos de 'coaches' que ele refuta internamente: é um filme sobre auto-ajuda, mas inteligente e sensível, mesmo em suas obviedades. Atropela-se bastante, claro, mas justifica-se pelo tom fabular da narrativa. Toni Servillo está ótimo como anjo e Margherita Buy é muito credível em seu mergulho na depressão. Mas a trama dedica mais atenção aos personagens de Valerio Mastrandea e Sara Serraioco. O primeiro porque tem muito de alter-ego, em seus reflexos com o protagonista e com o próprio público, que nem sempre lida com a galhardia requerida aos temores da vida, enquanto a segunda fascina-nos pela maneira com que os seus segredos são desvendados e compreendemos a complexidade emocional da personagem. A trilha cancional aproveita-se de músicas utilizadas à exaustão em 'stories' de Instagram e as frases feitas são abudantes, mas tudo isso é coadjunado ao projeto de resgate anti-suicida, de modo que, ao final, aplaudimos o percurso eventualmente equivocado dos personagens, da mesma maneira que fazemos quanto ao nosso, enquanto pessoas. É o exemplar farmacêutico de cinema que os diagnósticos contínuos de ansiedade nas redes sociais torna emergencial. Serve-se de tropos utilizados à exaustão em diversos outros filmes, mas cozinha com algum charme estudado a mistura. Fará sucesso em seu lançamento comercial, tudo indica, se anunciado da maneira devida! (WPC>)
Não gosto muito da versão clássica do Mel Stuart, não sou um chocólatra e achei desnecessário este projeto, quando soube de sua existência. Porém, surpreendi-me curtindo bastante o filme: a entrega de Timothée Chalamet ao protagonismo é excelente e achei magnífica a decisão de realizar o filme em formato musical, que particularmente aprecio. Gostei das canções e da mensagem geral, de um "segredo" que, em verdade, está no compartilhamento. O elenco é primoroso (quem diria?) e mesmo a adesão à lógica do empreendimento não atrapalha. Afinal, o que e exortado aqui é a amizade, o companheirismo, o trabalho em equipe. Não entendi o porquê de Hugh Grant ter ficado envergonhado com a sua participação: ele está ótimo! (WPC>)
Não conhecia nem o filme nem seu diretor. Tive acesso ao mesmo graças a uma apresentação cineclubista, e a palestrante assegurou que o cineasta possui outros títulos merecedores de muita atenção. Porém, gostei muito mais da professora mostrada (Alicia Vega, continuadora de Luis Espinal) que do documentário com um todo. Por motivos discursivamente compreensíveis, há algo de manipulatório nas boas intenções propagandísticas do excelente projeto militante, construtivo e orgânico apresentado. Fiquei encantado, mas também um tanto triste, pelos depoimentos que surgem em paralelismo às aulas de cine-educação. Fiquei imaginado como seria a minha vida hoje se eu tivesse uma professora daquela em minha infância: que mulher impressionante, que trabalho incrível! Na trilha musical, o tema de ZERO DE CONDUTA, como exortação para a pujança didática daqueles garotos, que compreenderam na prática a importância do que estava sendo ensinado. Impressionante! Quero saber mais sobre este projeto real, incrível! (WPC>)
O que parece incômodo no primeiro contato permanece incômodo na revisão. As interpretações são boas e, ainda que esteja muito longe de seu estilo, podemos encontrar traços do "Hitchcock touch" em diversas cenas, sobretudo na do parque de diversões. Porém, o retrato da violência matrimonial assusta demais aqui: que casal bizarro, que situações esdrúxulas, que relacionamento tóxico! Alguns dos diálogos, sobretudo os proferidos pela personagem de Carole Lombard, são apavorantes, em termos de defesa do próprio tormento relacional. Mas não é um filme de todo indefensável: ele diverte, ao menos. Traz consigo muitos dos parâmetros das comédias românticas que, ainda hoje, são produzidas aos borbotões. Mas que é incômodo, ah, isso é! (WPC>)
Os esforços do Hathaway para erigir um correspondente hollywoodiano do neo-realismo atingem um píncaro impressionante aqui. Que direção impressionante! Que roteiro preciso e ainda muito atual! A interpretação do Victor Mature rejeita os cacoetes de canastrão que lhe contaminarão em trabalhos futuros. E, sim, Richard Widmark brilha em cada instante: que personificação assustadora, um tenebroso Coringa 'noir'! A narração de Coleen Gray é ótima, em seu esforço por algum otimismo, em meio à sina dos desafortunados. Só não é uma obra-prima porque, em seu quartel final, a situação persecutória fica um tanto repetitiva. Mas o delineamento dos personagens e da corrupção advocatícia é impressionante: um ensaio sublime do que seria O PAGAMENTO FINAL, décadas depois. Amei - e, por ora, não tenho coragem de encarar a regravação noventista! (WPC>)
Depois de muito, muito tempo, revi um filme que fascinou-me bastante quando visto no cinema: fiquei deslumbrado, à época, e ainda continuo. A interpretação de Gwyneth Paltrow é belíssima, fico triste que ela seja tão hostilizada por causa do Oscar. Aliás, quase todo mundo que detesta esta filmaço o faz por causa da premiação, não por conta de suas qualidades intrínsecas, que, afinal, são ótimas. Judi Dench está magnífica em cada aparição, a direção de arte é primorosa e o roteiro é muito esperto, na conjunção de fatos reais e trechos de peças diversificadas. São muitas referências e um jogo inteligente de metalinguagem romântica. Emocionei-me demais, projetei-me no casal central (Joseph Fiennes, saudades de ti), ri nos abundantes momentos engraçados e fui inebriado, graças à linda trilha musical de Stephen Warbeck. Sou absolutamente obcecado por este filme, mas admito que foi um acerto isolado de John Madden. A ser revisto mais e mais vezes. Amo! <3 (WPC>)
Assisti a este filme em sessão doméstica, com um vizinho e a mãe dele. Todos ficaram vidrados e empolgados, com os olhos grudados na tela. Porém, ainda que eu admita que, no que tange às convenções de ação, o filme é muito bem sucedido, fiquei desconfiado quanto aos interesses da adaptação, por conta do maniqueísmo entre herói e vilão. Na verdade, até que há respeito e humanização na descrição deste segundo, mas a interpretação é um tanto estereotipada. Gostei da direção, do elenco e do modo como a trama avança. Mas achei suspeitoso o modo coo o contexto de época aparece: jornalisticamente fundamentado, na abertura, mas logo abandonado. Haveria algum recado implícito, no cotejo com a situação de 2023? O filme não responde. Parece não se preocupar, contentando-se em ser elogiado por "ser tão eficiente quanto uma obra de Hollywood". Pessoalmente, cri que ele poderia avançar em relação a isso, mas gosto do modo como as nuanças dos personagens surgem, por vezes. Fora que, sim, é muito divertido. E isso basta, nalguns parâmetros: quem viu, torceu e gostou. Até bateram palmas para o piloto, mesmo diante da TV (risos)! - WPC>
Adentrei a sessão preparado para reclamar dos mesmos pontos que incomodaram-me no bastante similar DED NA FERIDA. Depois de acompanhar o processo de feitura de Silvio Tendler em relação a seus documentários recentes, mais didáticos quanto aos problemas do neoliberalismo econômico, fui indulgente quanto à análise de aspectos técnicos/estéticos na audiência a este filme. Temos aqui um caso em que, aparentemente, o conteúdo se sobrepõe à forma. Porém, conhecedor da lógica orgânica que é o realizador, o que ocorre é uma dissolução no próprio projeto: temos uma demonstração de multiplicidade de opiniões, dentro de um panorama de esquerda, sobre o que é tematizado. Temos, portanto, desde um monsenhor que usa uma batina com o logotipo da Lacoste até a simplicidade efetivamente franciscana do Padre Júlio Lancelotti, em depoimentos tão frontais quanto certeiros. A construção do documentário, por conta da lógica pandêmica, ocorreu através dos envios de conteúdos diversos, dos colaboradores do realizador, provenientes dos mais distintos lugares do mundo. Uma voz, entretanto, chama a atenção pelas contradições evidentes em seu discurso de "inveja de classes", mais que luta de classes em si, que é o da estudante de Arquitetura que trabalha como entregadora de aplicativo. As animações entre os segmentos são sintéticas, no que tange á abordagem tencionada. É um filme que ensina e nos leva à reflexão, ainda que tenha ficado um tantinho datado enquanto manifesto (afinal, seu interesse, nalguns aspectos, é de intervenção eleitoral. Não apenas, mas também, e explicitamente). Não figura entre os melhores trabalhos do Tendler, mas consegue ser urgente enquanto proposta de discussão. Isso conta e valida os prêmios jornalísticos que ele recebeu. A canção-título é muito boa! (WPC>)
Abbott e Costello em Hollywood
3.2 1Já tinha ouvido falar muito sobre essa dupla de comediantes, mas nunca tive a oportunidade de conferir nenhum de seus filmes. Acho que comecei por um ideal, repleto de 'gags' e trama geral. É o modelo que deu origem às imitações chanchadescas no Brasil, né? Uma ou outra palhaçada (aliás, palhaçadas o tempo inteiro), perseguições frenéticas, um mote romântico entre coadjuvantes e canções afetadas, aqui e acolá. O Abbott é sério demais, pouco engraçado. Mas papouquei-me de rir com o Costello, desde a primeira aparição, e a situação envolvendo o Rags Ragland. Minha mãe estava ao meu lado, e lembrou de quando via estes filmes, em sua pré-adolescência, na década de 1950. O roteiro é mero pretexto para as 'gags' (e canções), mas o filme diverte. Quando entendemos que ele segue à risca uma fórmula bem sucedida, deixamo-nos levar e caímos na gargalhada. A seqüência final, na montanha-russa, é pura ode às aventuras de quem se atrapalha no dia a dia... kkkkkkkkkkkk (WPC>)
Jornada para Belém
3.3 6 Assista AgoraVi o filme por puro acaso, numa exibição na HBO, e achei uma gracinha. 'Pop' e despretensioso, mas não blasfemo, como talvez tenha sido acusado. Tudo bem, não curti os estereótipos trapalhões do Anjo Gabriel e dos Reis Magos, mas as canções são fofinhas, Milo Manheim é apaixonante e Antonio Banderas está divertindo-se à beça, entregando-se à caricatura sem receio e sem medo de ser feliz (ainda que seja o vilão). Foi realmente uma grata surpresa. Sou obcecado por musicais, não tinha como não funcionar comigo! (risos) - WPC>
Começar de Novo
3.6 54Ainda que a temática das drogas não apareça aqui, achei este filme muitíssimo parecido com (e/ou influenciado por) TRAINSPOTTING - SEM LIMITES. Não apenas pela relação entre os personagens e pela narração dramático-satírica, mas até mesmo alguns planos e enquadramentos são bastante semelhantes. Como eu vi o primeiro da trilogia de Oslo depois de ter conferido os demais exemplares, decepcionei-me um tantinho: o que é elogiosamente visto e descrito como crueza 'punk' tem também um quinhão mui desagradável de elogio concessivo à masculinidade tóxica. As interpretações são desenvoltas, mas acho na hipertrofia do repentino reconhecimento literário dos personagens incomodou-me: pareceu tão corriqueiro publicar um livro, ser reconhecido por ele, etc. . Por vezes, o vai e vém da narrativa confundiu-me, o que é intencional, mas, no geral, acho que o filme teve mais boas idéias que acertos de execução. É gracioso, mas promete mais do que oferece, enquanto obra imbuída de muito frescor juvenil. Culpa do gélido clima norueguês, talvez. (WPC>)
P.S.: achei o intérprete do Erik muito parecido com o Evan Peters!
A Infância de Um Líder
3.1 59 Assista AgoraA empolgação era extrema: enquanto minha mãe assistia ao filme, na sala, ouvi trechos da fantástica trilha musical, de caráter sinfônico, do Scott Walker e fiquei obcecado para conferir o filme. Com as expectativas nas alturas, fui de fato, arrebatado pela seqüência de abertura e gostei da maneira um tanto distanciada como são retratados as situações políticas e os personagens, não obstante as interpretações intensas de um ótimo elenco. Foi quando a frustração instaurou-se: por mais que a direção me fascinasse, em seu pendor experimental, achei o roteiro óbvio, em seu adlerismo. Reiterativo e redundante, em sua demonstração de que crianças mimadas convertem-se em fascistas, oh! A revelação do desfecho, quanto à origem genética do garoto crescido, pareceu-me igualmente insossa, como a maior parte do que acontece. Tudo bem, concordo que o garotinho Tom Sweet entrega-nos uma potente demonstração do quão irritante um filho único pode ser, mas o filme passa a redundar em círculos, a partir de determinado momento. A empolgação do início fenece, ao final, tudo chafurda numa metáfora previsível sobre um fascismo que é também hodierno. Uma pena. Mas preciso do CD deste filme, uau! (WPC>)
Esculturas da Vida
3.3 17 Assista AgoraO titulo brasileiro não é infiel à proposta da narrativa, mas é o original que sintetiza melhor as intenções da diretora, ao fazer com que acompanhemos o cotidiano de produção de uma artista que, a princípio, revela-se tão desagradável enquanto pessoa. Foi importante, para isso, o enfeamento da maravilhosa protagonista, uma de minhas atrizes contemporâneas favoritas: não conseguimos sentir simpatia por ela, mas a empatia surge gradualmente, quando compreendemos o porquê de ela ter ficado tão amargurada, convivendo com aqueles familiares tão problemáticos. Hong Chau transforma-se em cada papel que dignifica: ela está maravilhosa aqui, a personificação de diversas amigas formadas em Artes Visuais. Por quase uma hora de projeção, parecia que eu estava desgostando do filme, de seu ritmo lento, do enfoque ostensivo da diretora em anticlímaces (vide quase todas as situações referentes ao cuidado com o pombo), Mas, na seqüência da exposição, tudo se justifica, como objetivo a ser alcançado, como ápice de um processo que, mesmo que continue em aberto ou "em curso produtivo", tanto quanto o filme em si (vide a importância situação dos créditos finais), provoca reações intensas em quem testemunha o percurso de criação, não apenas a obra acabada. É uma trama difícil e, não vou mentir, intencionalmente "chata", mas que cresce bastante em nossa apreciação ao término, quando cozemos interiormente os elementos rigorosamente urdidos pelo roteiro minimalista de uma cineasta caracterizada por este adjetivo. Presumo que, numa revisão, gostarei bem mais: num primeiro contato, ele intimida bastante, assusta-nos pela lentidão, pelo registro da alienação de quem trabalha com arte, mas não consegue administrar adequadamente os prazeres da vida. Uma aula de reeducação espectatorial! (WPC>)
Sibyl
3.2 31 Assista AgoraNão sabia o que esperar, exceto uma multiplicação de camadas psicanalíticas e alguma metalinguagem roteirística. a julgar pelo que descobrimos no trabalho mais famoso (e premiado) da diretora. Percebi que ele seria exibido no Telecine Cult e aproveitei a oportunidade. E adorei: no início, demorei um pouco para imergir. Minha mãe, ao meu lado, reclamava que não estava entendendo os vais e véns da narrativa. Mas, de repente, eu estava fascinado, obcecado, apaixonado... Cheguei mesmo a gargalhar, de tão aflitivos que são os ápices dramáticos. Virginie Efira está maravilhosa, mas é eclipsada pelo defsile de talentos: Adéle Exarchopoulos tem o desempenho actancial mais pungente desde AZUL É A COR MAIS QUENTE; Gaspard Ulliel angaria um fascínio repulsivo e crescente, em cada aparição; Niels Schneider encanta pela beleza; e Sandra Hüller está absolutamente soberba. Um exercício de análise, em múltiplas significações para a palavra, trabalho de gênia. Só melhora, quanto mais se complexifica: incrível! (WPC>)
O Abajour
2.6 7 Assista AgoraAcho válido o espírito de cooperação que validou a feitura, mas, enquanto discurso, o filme é sobremaneira problemático, no sentido de que, por vezes, parece celebrar aquilo que condena, celebrar a esperteza de quem sobrevive mediante o ludibrio... Percebo que, a despeito de seus evidentes defeitos, o filme seja deveras apreciado, o que talvez tenha a ver com um conhecimento de conjuntura (os espaços destinados às interações juvenis de classe média no Rio de Janeiro), com certa verossimilhança na abordagem e confecção dos personagens. Comigo, nada funcionou: além do mau ritmo e das interpretações forçadas, as reviravoltas à la Tarantino não engrenam, o que só piora pela inserção de uma montagem que reverencia a linguagem televisiva. Repito: que bom que o filme foi feito e distribuído, nas condições possíveis, mas foi difícil chegar até o final, de tão contaminado pela podridão que o roteiro é. Desgostei plenamente, o que lamento. (WPC>)
O Homem dos Sonhos
3.5 146Ainda não vi O PESO DO TALENTO, mas é evidente que é u filme que pega carona nesta verve superexpositiva do Nicolas Cage. Seu personagem, entretanto, é composto com muita seriedade: apesar de a situação tramática logo se desgastar, e o filme ficar cansativo do meio para o final, em razão de sustentar-se em apenas uma piada, seu personagem é delineado com seriedade dramática, oscilando entre o conscientemente ridículo e o merecedor de piedade. Não chegamos a nos identificar, mas torcemos por ele, no desespero. O clima é de pasticho kaufmaniano, mas a direção não é muito firme, o tom do filme é indefinido, encerrando-se de maneira quase cruel, em sua inevitabilidade melancólica. Funciona melhor depois que a sessão termina, em verdade. A execução de uma canção de Talking Heads, nos créditos finais, ressignifica aquilo que pareceu afoito no decorrer das situações: poderia ser um excelente estudo de personagem, mas o roteiro se desperdiça em piadas neogeracionais, em cacoetes da A24 e no reaproveitamento chistoso de temas que renderam um eficiente filme de suspense no oitentista A MORTE NOS SONHOS. Acho que, numa revisão sem expectativas, funcionará bem melhor... (WPC>)
O Mistério do Cesto
3.5 146Assisti aos principais filmes deste realizador supostamente 'trash' em ordem invertida, e fiquei positivamente chocado com o teor psicanalítico dos mesmos. Adentrei a sessão enquanto lidava com uma grava situação familiar, envolvendo um irmão mais novo, de modo que o arrebatamento foi intenso: será que o Frank Henenlotter teve acesso aos meus diários?! Brincadeiras à parte, é maravilhoso como ele consegue tornar tão crível um personagem de látex, fazer-nos experimentar legítimas, que vão do medo ou horror inicial a uma piedade sincera, a uma necessidade de compreensão e entendimento da situação trazida à tona: é um filme sobremaneira triste e melancólico, sobre diversos tipos de solidões, não sendo casual que tenha sido locado em Nova York, numa região consagrada aos artistas "alternativos". De fato, antecipa o mote geral de MALIGNO, do James Wan, mas pensei ainda mais na ambientação scorseseana, que se irmana ao que o cineasta fez em DEPOIS DE HORAS ou em seu episódio de CONTOS DE NOVA YORK. 'Exploitation' é algo premonitório, em âmbito social, afinal. Fui pessoalmente tocado por este filmaço, amei! (WPC>)
O Soro do Mal
3.6 81 Assista AgoraAinda não vi a estréia mui elogiada e cultuada deste diretor, mas, depois deste filmaço aqui, fiquei mais do que curioso! O vi por acidente e fiquei impressionado e apaixonado: além de ser muito divertido e sensual, aborda a questão do vício em substâncias alucinógenas de maneira honesta e até mesmo séria. Os efeitos especiais são ótimos e, mesmo quando adere ao 'trash' assumido, não abonadona a verve reflexiva. Há algo de muito 'camp' nas atuações (minha mãe riu, ao ouvir tantos gritos, desde o início) e o diretor não foi nada econômico na adoção do homoerotismo: a beleza do protagonista Rick Hearst é acachapante e muito bem explorada pelo enredo. Fascinante e aterrorizante, ao mesmo tempo, naquilo que propõe e expõe. Adorei! (WPC>)
O Caso Maurizius
3.5 2Não conhecia nem o romance original nem o filme dele derivado. Ganhei o primeiro de um amigo olavista e demorei bastante na leitura, dada a densidade digressiva da obra. A adaptação ficou famosa pela adoção de muitos 'flashbacks', direcionadas à apreciação num tribunal. Sei que o Duvivier foi atacado enquanto representante do "cinéma de papá", mas demonstrou enorme habilidade na interpretação/adaptação da obra, que ficou sintética e bastante fiel aos propósitos originais: houve apenas a supressão de uma personagem e uma leve (porém capital) alteração no desfecho. Temi que as menções homossexuais fossem abortadas, mas até que elas foram eficientemente transcritas. Há muito mais por detrás da mera abordagem advocatícia, um conflito geracional de proporções violentas que, no romance, deu origem a mais dois livros. Interessante descoberta! (WPC>)
Nasce Uma Estrela
4.0 113 Assista AgoraContinuo achando a versão de 1937 a minha favorita, mas compreendo o favoritismo, por parte de vários críticos, sobre esta produção aqui: a extensão da duração é justificada pela intensidade dos envolvidos, pela entrega de Judy Garland a uma condição que ser-lhe-ia muito pessoal. Como tal, enquanto espectador, foi muito pessoal para mim também. A relação entre os dois protagonistas é muito intensa e a intepretação dela é arrebatadora. Tenho um pantim quanto à categorização da obra enquanto musical, já que as canções são excessivamente diegetizadas, enquanto espetáculos efetivados pelos intérpretes, no universo em que eles atuam. Mas como ficar incólume perante o impacto de "The Man That Got Away"? Como sofro de alcoolismo passivo (cuido de alguém que sofre deste mal), o roteiro acerta-me em cheio. E, a cada revisão, refaço as pazes com o estilo cukoriano, cuja afetação demorei para compreender: precisei envelhecer/amadurecer para isso. A lentidão do processo não é casual, há todo um percurso emocional em jogo! Fiquei surpreso ao descobrir que o estratagema das fotos em tom sépia foi uma compensação "póstuma" à retaliação do filme, quando originalmente lançado. Foi algo que impressionou-me bastante no primeiro contato, pensei que fôra intencional (risos). Insisto que não é nem a minha versão favorita nem meu preferido do diretor, mas é um filme que nos afeta intimamente, que marca-nos a partir da identificação proposta! (WPC>)
Dois é Demais em Orlando
2.2 5 Assista AgoraA direção é um horror: descrente que é em suas próprias imagens, Rodrigo van Der Put tenta desviar-se delas, muitas vezes, o que é hipertrofiado no momento em que os personagens assistem a um programa de TV, em que a tela do aparelho é quase um tabu, nas suas breves aparições. Dá pena perceber Eduardo Sterbitch tão desperdiçado, depois de demonstrar que, sim, é um ótimo ator, e não apenas um comediante obrigado a repetir os mesmos papéis exagerados. Gosto da Polly Marinho (mostrada muito pouco) e achei o garoto Pedro Burgarelli simpaticíssimo, mas a composição "redentora" do pai é atroz, ainda mais vilanaz que a paspalhice do personagem de Daniel Furlan. Quando eu cria que o filme não poderia ficar mais ridículo (como o próprio Cacá comenta), ele vai lá e desce mais alguns níveis, em mau gosto lingüístico (emulando a montagem de Tik Tok e afins) e no puxa-saquismo de classe. Não sei se tinha nojo ou pena daqueles personagens, mas esforcei-me por simpatizar ao menos com as lições morais advindas da convivência forçada entre João e o garoto. Nada se aproveita, entretanto: os clichês convertem-se em estereótipos piorados e trama parece figurante em meio às filmagens de atores e equipe divertindo-se no parque. Trata-se de uma peça publicitária disfarçada de filme infantil. Indefensável, infelizmente! (WPC>)
O Círculo
2.6 587 Assista AgoraÉ estranho que este filme seja tão rejeitado por público e crítico: eu o achei tão oportuno, em termos de ambientação pré-denuncista. Tudo bem, admito que a personagem central é tão narcisista quanto apática e que a sua transformação profissional/publicitária seja um tanto repentina, mas, para quem trabalhou nas mesmas áreas que ela, é algo sobremaneira verossímil. Tom Hanks aparece pouco, bem como John Boyega e Ella Coltrane, e, cada qual a seu modo, estes coadjuvantes possuem aparições marcantes, no fascínio que desencadeiam na protagonista. Mas foi Karen Gillan quem realmente em deixou apaixonado: que mulher linda e carismática! Eu trabalho como atendente num setor de TI há dois anos, e identifiquei-me com diversas situações apresentadas. Concordo que, sim, há algo da estética que se convencionou chamar de "Black Mirror", no desenvolvimento do enredo (afinal, lacunar e suspeitoso), mas acho que ele atualiza de maneira inteligente os cacoetes de MATRIX para a era facebookiana. Particularmente, apesar de decepcionar-me sobremaneira com o desfecho repentino e inconvincente, eu curti este filme. Demais, até! (WPC>)
A Mulher Rei
4.1 488 Assista AgoraTemendo que este filme fosse mais um conjunto de clichês em prol do identitarismo, evitei-o por algum tempo, por mais que todos os meus amigos dissessem que era ótimo. Estava sendo exibido num canal pago de TV e resolvi conferi-lo ao lado de minha mãe: adoramos. Ela pulava da cadeira, empolgada, torcendo pela maravilhosa protagonista, esplendidamente vivida pela excelente Viola Davis. De fato, há, sim, muitos clcihês, mas estes são validados pela História, pelas atrocidades do colonialismo. Diferentemente de PANTERA NEGRA - que é um filme que não funcionou comigo, a despeito de suas alegadas "boas intenções" - aqui, temos a aplicação orgânica das questões de classe, gênero e raça, sendo o filme muito efetivo na inserção representativa dessas questões, convertendo-se numa diversão sumamente empoderada. A direção é tão eficiente que consegue tornar atrativas mesmo as barrigadas, as cenas "banais" entre os clímaces. A duração é aproveitada em cada um de seus minutos: conhecemos bem os personagens, deslumbramo-nos perante a reconstituição artística do Reino de Daomé, captamos a magia da trilha musical de Terence Blanchard... Lasanna Lynch é uma fascinante coadjuvante e John Boyega está lindo! Se, de fato, algumas seqüências são extremamente violentas, não se pode negar que isso foi necessário aos propósitos reivindicativos da trama, de maneira que incomodei-me menos com as comemorações bélicas aqui do que em BACURAU, por exemplo. Em sua adesão às convenções de filmes de heróis, o roteiro realmente faz jus à organicidade supramencionada, de maneira que o filme é merecedor dos elogios que recebeu e merece ser ainda mais visto e divulgado, sobretudo em sua potência motivadora, no que tanga à identificação com a galhardia das mulheres negras, guerreiras e emocionais, humanas e intensas, no enfrentamento das dores e compreensão do valor de suas cicatrizes. Impressionante, neste sentido! (WPC>)
A Viagem de Pedro
3.2 24 Assista AgoraGosto muito da diretora e, vendo este filme - pelo qual esperava há tempos! -, percebi que ela complexifica, em chave feminina, aquilo que o Ang Lee faz internacionalmente, no que tange à abordagem traumatizante da autoridade familiar. Ao invés de uma perspectiva biográfica, ela adere à imersão psicanalítica: o Pedro, além de ser um canalha, é frágil, suscetível, impotente em diversos âmbitos, em contraponto à fama heróica, conservada em diversas estátuas e relatos institucionais. Não lembrava que ele tinha falecido tão jovem (menos de 36 anos) e gostei bastante de como o Cauã Reymond compõe o personagem: não força sotaque, não evita os anacronismos. Parece que ele está ensaiando e esperando o personagem chegar, entrar em seu corpo, o possuir... Isso até ocorre, mas pelo viés da culpa. Adorei a maneira como os vários idiomas (alemão, francês, inglês e iorubá, além do português) surgem no filme e apreciei a preocupação do roteiro quanto aos pequenos atos (comer a sobremesa na cozinha de um navio, por exemplo). O quartel final adere aos 'flashbacks' excessivos e não é tão interessante quanto o começo e o meio, mas imergi no filme, senti-me invadido por aquelas situações, por aquela aflição culposa. O que estranhei é que a perspectiva do relato não fosse necessariamente a de Pedro, o que se percebe em seqüências mais objetivas, como os embates entre o protagonista e seu irmão português ou o desembarque dos escravos, mas, mesmo assim, adorei o conjunto. Como tal, aplaudo a coragem da diretora em levar a cabo um projeto tão arriscado e autoral: que bom que ela ousou. Tem muito a ver com JOAQUIM, outro filme que eu também amo. (WPC>)
O Primeiro Dia da Minha Vida
3.3 9Acho muito interessante como os filmes italianos 'pop' contemporâneos conseguem capitanear a nossa atenção, e emocionar-nos legitimamente, mesmo aderindo aos clichês e lugares comuns das produções de gênero. Aqui, o diretor Paolo Genovese não é tão exitoso quanto em sua realização mais famosa, mas, mesmo assim, concede às novas gerações a atualização de A FELICIDADE NÃO SE COMPRA que elas merecem. A duração é um tanto excessiva, mas ele constrói com habilidade a montanha-russa de situações que permitem a inevitável identificação emocional do espectador. O roteiro é um tanto bipolar em seus vais e vens, mas administra de maneira graciosa os procedimentos de 'coaches' que ele refuta internamente: é um filme sobre auto-ajuda, mas inteligente e sensível, mesmo em suas obviedades. Atropela-se bastante, claro, mas justifica-se pelo tom fabular da narrativa. Toni Servillo está ótimo como anjo e Margherita Buy é muito credível em seu mergulho na depressão. Mas a trama dedica mais atenção aos personagens de Valerio Mastrandea e Sara Serraioco. O primeiro porque tem muito de alter-ego, em seus reflexos com o protagonista e com o próprio público, que nem sempre lida com a galhardia requerida aos temores da vida, enquanto a segunda fascina-nos pela maneira com que os seus segredos são desvendados e compreendemos a complexidade emocional da personagem. A trilha cancional aproveita-se de músicas utilizadas à exaustão em 'stories' de Instagram e as frases feitas são abudantes, mas tudo isso é coadjunado ao projeto de resgate anti-suicida, de modo que, ao final, aplaudimos o percurso eventualmente equivocado dos personagens, da mesma maneira que fazemos quanto ao nosso, enquanto pessoas. É o exemplar farmacêutico de cinema que os diagnósticos contínuos de ansiedade nas redes sociais torna emergencial. Serve-se de tropos utilizados à exaustão em diversos outros filmes, mas cozinha com algum charme estudado a mistura. Fará sucesso em seu lançamento comercial, tudo indica, se anunciado da maneira devida! (WPC>)
Wonka
3.4 392 Assista AgoraNão gosto muito da versão clássica do Mel Stuart, não sou um chocólatra e achei desnecessário este projeto, quando soube de sua existência. Porém, surpreendi-me curtindo bastante o filme: a entrega de Timothée Chalamet ao protagonismo é excelente e achei magnífica a decisão de realizar o filme em formato musical, que particularmente aprecio. Gostei das canções e da mensagem geral, de um "segredo" que, em verdade, está no compartilhamento. O elenco é primoroso (quem diria?) e mesmo a adesão à lógica do empreendimento não atrapalha. Afinal, o que e exortado aqui é a amizade, o companheirismo, o trabalho em equipe. Não entendi o porquê de Hugh Grant ter ficado envergonhado com a sua participação: ele está ótimo! (WPC>)
Cem Crianças Esperando um Trem
4.3 1Não conhecia nem o filme nem seu diretor. Tive acesso ao mesmo graças a uma apresentação cineclubista, e a palestrante assegurou que o cineasta possui outros títulos merecedores de muita atenção. Porém, gostei muito mais da professora mostrada (Alicia Vega, continuadora de Luis Espinal) que do documentário com um todo. Por motivos discursivamente compreensíveis, há algo de manipulatório nas boas intenções propagandísticas do excelente projeto militante, construtivo e orgânico apresentado. Fiquei encantado, mas também um tanto triste, pelos depoimentos que surgem em paralelismo às aulas de cine-educação. Fiquei imaginado como seria a minha vida hoje se eu tivesse uma professora daquela em minha infância: que mulher impressionante, que trabalho incrível! Na trilha musical, o tema de ZERO DE CONDUTA, como exortação para a pujança didática daqueles garotos, que compreenderam na prática a importância do que estava sendo ensinado. Impressionante! Quero saber mais sobre este projeto real, incrível! (WPC>)
Sr. & Sra. Smith - Um Casal do Barulho
3.3 36O que parece incômodo no primeiro contato permanece incômodo na revisão. As interpretações são boas e, ainda que esteja muito longe de seu estilo, podemos encontrar traços do "Hitchcock touch" em diversas cenas, sobretudo na do parque de diversões. Porém, o retrato da violência matrimonial assusta demais aqui: que casal bizarro, que situações esdrúxulas, que relacionamento tóxico! Alguns dos diálogos, sobretudo os proferidos pela personagem de Carole Lombard, são apavorantes, em termos de defesa do próprio tormento relacional. Mas não é um filme de todo indefensável: ele diverte, ao menos. Traz consigo muitos dos parâmetros das comédias românticas que, ainda hoje, são produzidas aos borbotões. Mas que é incômodo, ah, isso é! (WPC>)
O Beijo da Morte
3.8 28 Assista AgoraOs esforços do Hathaway para erigir um correspondente hollywoodiano do neo-realismo atingem um píncaro impressionante aqui. Que direção impressionante! Que roteiro preciso e ainda muito atual! A interpretação do Victor Mature rejeita os cacoetes de canastrão que lhe contaminarão em trabalhos futuros. E, sim, Richard Widmark brilha em cada instante: que personificação assustadora, um tenebroso Coringa 'noir'! A narração de Coleen Gray é ótima, em seu esforço por algum otimismo, em meio à sina dos desafortunados. Só não é uma obra-prima porque, em seu quartel final, a situação persecutória fica um tanto repetitiva. Mas o delineamento dos personagens e da corrupção advocatícia é impressionante: um ensaio sublime do que seria O PAGAMENTO FINAL, décadas depois. Amei - e, por ora, não tenho coragem de encarar a regravação noventista! (WPC>)
Shakespeare Apaixonado
3.5 650 Assista AgoraDepois de muito, muito tempo, revi um filme que fascinou-me bastante quando visto no cinema: fiquei deslumbrado, à época, e ainda continuo. A interpretação de Gwyneth Paltrow é belíssima, fico triste que ela seja tão hostilizada por causa do Oscar. Aliás, quase todo mundo que detesta esta filmaço o faz por causa da premiação, não por conta de suas qualidades intrínsecas, que, afinal, são ótimas. Judi Dench está magnífica em cada aparição, a direção de arte é primorosa e o roteiro é muito esperto, na conjunção de fatos reais e trechos de peças diversificadas. São muitas referências e um jogo inteligente de metalinguagem romântica. Emocionei-me demais, projetei-me no casal central (Joseph Fiennes, saudades de ti), ri nos abundantes momentos engraçados e fui inebriado, graças à linda trilha musical de Stephen Warbeck. Sou absolutamente obcecado por este filme, mas admito que foi um acerto isolado de John Madden. A ser revisto mais e mais vezes. Amo! <3 (WPC>)
O Sequestro do Voo 375
3.8 194 Assista AgoraAssisti a este filme em sessão doméstica, com um vizinho e a mãe dele. Todos ficaram vidrados e empolgados, com os olhos grudados na tela. Porém, ainda que eu admita que, no que tange às convenções de ação, o filme é muito bem sucedido, fiquei desconfiado quanto aos interesses da adaptação, por conta do maniqueísmo entre herói e vilão. Na verdade, até que há respeito e humanização na descrição deste segundo, mas a interpretação é um tanto estereotipada. Gostei da direção, do elenco e do modo como a trama avança. Mas achei suspeitoso o modo coo o contexto de época aparece: jornalisticamente fundamentado, na abertura, mas logo abandonado. Haveria algum recado implícito, no cotejo com a situação de 2023? O filme não responde. Parece não se preocupar, contentando-se em ser elogiado por "ser tão eficiente quanto uma obra de Hollywood". Pessoalmente, cri que ele poderia avançar em relação a isso, mas gosto do modo como as nuanças dos personagens surgem, por vezes. Fora que, sim, é muito divertido. E isso basta, nalguns parâmetros: quem viu, torceu e gostou. Até bateram palmas para o piloto, mesmo diante da TV (risos)! - WPC>
A Bolsa ou a Vida
3.9 4Adentrei a sessão preparado para reclamar dos mesmos pontos que incomodaram-me no bastante similar DED NA FERIDA. Depois de acompanhar o processo de feitura de Silvio Tendler em relação a seus documentários recentes, mais didáticos quanto aos problemas do neoliberalismo econômico, fui indulgente quanto à análise de aspectos técnicos/estéticos na audiência a este filme. Temos aqui um caso em que, aparentemente, o conteúdo se sobrepõe à forma. Porém, conhecedor da lógica orgânica que é o realizador, o que ocorre é uma dissolução no próprio projeto: temos uma demonstração de multiplicidade de opiniões, dentro de um panorama de esquerda, sobre o que é tematizado. Temos, portanto, desde um monsenhor que usa uma batina com o logotipo da Lacoste até a simplicidade efetivamente franciscana do Padre Júlio Lancelotti, em depoimentos tão frontais quanto certeiros. A construção do documentário, por conta da lógica pandêmica, ocorreu através dos envios de conteúdos diversos, dos colaboradores do realizador, provenientes dos mais distintos lugares do mundo. Uma voz, entretanto, chama a atenção pelas contradições evidentes em seu discurso de "inveja de classes", mais que luta de classes em si, que é o da estudante de Arquitetura que trabalha como entregadora de aplicativo. As animações entre os segmentos são sintéticas, no que tange á abordagem tencionada. É um filme que ensina e nos leva à reflexão, ainda que tenha ficado um tantinho datado enquanto manifesto (afinal, seu interesse, nalguns aspectos, é de intervenção eleitoral. Não apenas, mas também, e explicitamente). Não figura entre os melhores trabalhos do Tendler, mas consegue ser urgente enquanto proposta de discussão. Isso conta e valida os prêmios jornalísticos que ele recebeu. A canção-título é muito boa! (WPC>)