Um trabalho de pesquisa riquíssimo e uma narração prenhe de sensibilidade. Como sergipano, emocionei-me ao entrar e contato com registros de uma época que não vivi, mas cujos acontecimentos conheço através dos relatos apaixonados de amigos. A abertura do filme é muito boa, quando a diretora revela o acaso que lhe permitiu desenterrar um valioso tesouro. Há brincadeiras válidas com a montagem, mas, do meio para o final, algumas imagens são excessivamente reiteradas, tornando-se repetitivas, bem como o tempo excessivo concedido a uma apresentação contemporânea de dança, que, nalguns sentidos, compete com o que é trazido à tona em alguns depoimentos, no que tange ao desleixo hodierno do local representado. Os efeitos de envelhecimento imagético nem sempre funcionam (quando aparece alguém manuseando um telefone celular, por exemplo, soou mais que anacrônico, mas esteticamente problemático, sem propósito) e a trilha cancional está muito calcada em projetos similares do Kléber Mendonça Filho, tal como acontece com a divisão capitular. Afora isso, somente elogios à execução, à escolha dos entrevistados, à captação de "fantasmas" afetivos (num complemento descritivo mui acertado da realizadora) e à relevância do que é mostrado e emulado. Para quem não é do Estado e não conhece o CULTART, fica evidente o interesse do média-metragem, no que tange à rememoração bem-vinda, de algo sobremaneira marcante para a cultura sergipana. Por vezes, o filme assume ares de manifesto (quanto à demonstração do estágio atual de desuso do ambiente) e pode ser aproveitado como extensão reivindicativa, a fim de que apresentações semelhantes àquelas mencionadas voltem a ocorrer no local. De minha parte, estou na torcida. Gostei muito! (WPC>)
Lendo a sinopse do filme, presumi que identificar-me-ia com algum dos personagens. Porém, li tantas opiniões contraditórias, que terminei procrastinando a sessão... Numa imersão casual, graças a uma exibição televisiva, gargalhei de imediato: ri muito e percebi que o roteiro trata de questões muito sérias, como a violência da especulação imobiliária e os vícios digitais (e expositivos) da geração hodierna, que não desgruda dos telefones celulares. Além de estar excelente, Jennifer Lawrence compõe uma personagem inesquecível, em seu carisma e charme agridoce. Andrew Barth Feldman é um coadjuvante à altura, terno e gracioso. E a participação simbólica de Matthew Broderick, como um pai hiperprotetor não é nada gratuita, visto que o filme aborda um conflito geracional, ao mesmo tempo em que exorta-nos à maturação social, para além das supostas exigências etárias. Gostei muitíssimo: a execução de "Maneater", ao piano, emocionou-me bastante! (WPC>)
Antes de adentrar a sessão, sem saber nada sobre o tema do filme e considerando que eu não tinha gostado muito dos últimos filmes do Silvio Tendler, demonstrei um errôneo preconceito quanto ao seu automatismo documental contemporâneo. Paguei a língua: o filme é um belíssimo acerto de contas com o próprio passado do realizador, um animado filme-memória, ressaltando a importância de manter-se alegre durante os atos de resistência. Entremeando as imagens e entrevistas, há intertítulos mui pessoais, em que o diretor reforça que não há espaço para a desesperança em suas obras, muito menos na conclusão das mesmas. De maneira assumidamente ingênua, ele fala sobre a sua vida familiar e sobre a sua trajetória profissional e de viagens sem se culpar por seus privilégios de classe ou por ter tido a honra de conhecer pessoas como Chris Marker, Jean Rouch, Joris Ivens e Patricio Guzmàn: eles apenas compartilha conosco o seu entusiasmo e demonstra que sua passagem pela Terra foi repleta de atividades relevantes, não apenas para si mesmo como para a crença na aplicação de um Socialismo em direção à liberdade. O diretor é tão defensor das possibilidades concretas do Socialismo, relegadas permanentemente às condições de ideal utópico, que, acidentalmente, refere-se à queda do Muro de Berlim como a abertura ao fracasso, no sentido de que, a partir daquele feito histórico, o Capitalismo destroçou por completo o comunismo. As suas histórias de vida são ótimas e riquíssimas em experiências artísticas, mas ele insiste em declarar o amor por suas namoradas e amigos, em passagens que demonstram o quão fofo e merecedor do apelido adolescente de "boi gamado" ele é. Tive o privilégio de assistir ao filme na véspera de seu aniversário de 74 anos, o que foi uma coincidência feliz, uma das muitas elencadas no roteiro, visto que o diretor tem consciência do quanto o Acaso foi fundamental em sua vida. O material de arquivo que ele felizmente acumulou é magistral, bem como a sua verve atuante, a sua sede de produzir e de transformar a realidade (para melhor) mediante o conhecimento das situações históricas. Incrivelmente ótimo: saí da sessão emocionado e motivado, além de pessoalmente apaixonado pela pessoa-Tendler. Que cara apaixonante e cheio de vida, amei! (WPC>)
Bem mais interessante que uma congênere contemporâneo sobre a Warner Brothers, com quatro horas de duração, este documentário é balsâmico para os cinéfilos da velha geração, para os apreciadores analógicos de filmes. Há algo de apaixonado na narração de James Coburn e as cenas dos filmes apesentados são ótimas. O problema, como esperado, talvez seja o viés excessivamente defensor, a abordagem compreensivamente chapa-branca e elogiosa, que termina numa ode ao triunfalismo, mas ignorando o que aconteceu com O FANTÁSTICO DR. DOLITTLE, por exemplo. Nada que prejudique a imersão nostálgica ou a gana por informações fílmicas. Muito bom: ria sempre que o Roddy McDowall expunha as suas opiniões! (risos) - WPC>
Sendo bastante sincero, adentrei a sessão com muita desconfiança, pensei que não fosse funcionar comigo. Mas fui arrebatado desde a esplêndida seqüência inicial, muitíssimo eloqüente enquanto demonstração da apropriação invertida do identitarismo, associada a condições de classe. E o desenvolvimento do roteiro só melhora, contando com diálogos memoráveis (anotei várias frases) e interpretações, idem. Jeffrey Wright está maravilhoso, dotando de suma dignidade um personagem insuportável, e os coadjuvantes são ótimos. De repente, surge a previsível situação do júri literário, e a piada repetida N vezes começa a dar sinais de desgaste, culminando num desfecho que, de tão "didático" em sua pretensa alternatividade, pareceu-me uma cópia não tão inspirada do que já havia sido ensaiado em ADAPTAÇÃO, do Spike Jonze. Mas, tirando uma ou outra digressão, tendo a elogiar este filme, bem mais do que atacá-lo. O roteiro é primoroso, bem como a leveza jazzística da trilha musical. Durante a primeira hora, maravilhoso. E mui assertivo naquilo que expõe, e acerca do qual todos nós, de alguma maneira, somos cúmplices. Reflitamos, portanto! (WPC>)
Demorei para enfrentar este filme. Temia que fosse o documentário 'gore' anunciado, ainda que eu ache necessário que situações duras de guerra sejam mostradas, à guisa de denúncia. E é nesse aspecto que o filme soçobra: diferentemente de PARA SAMA, que eu amo, o diretor não sabe como dosar suas pretensas intenções ensaísticas. Ao narrar as situações em inglês, após a montagem, o efeito que ele provoca é a chantagem emocional, o que piora quando as mesmas imagens duras que ele filma são reapresentadas editadas, enquanto notícias telejornalísticas. O caráter manipulador se sobressai em relação às intenções válidas de denúncia, conforme intensificado pela falta de modéstia dos envolvidos, que se autocongratulam por estarem realizando um trabalho muito importante, fazem questão de referendar que todos os agradeceram por isso... O produto geral soa como uma campanha de propaganda partidária, em que até mesmo as insinuações, por parte dos detratores, de que os materiais chocantes apresentados poderiam ser encenados têm efeito duvidoso. Moralmente, reprovável, em diversos sentidos. Cinematograficamente, muito pobre. Mas, no miolo documentarista/jornalístico pretendido, não se pode sair da sessão sem ser afetado. Talvez funcionasse melhor se tivesse sido lançado antes, mas presumo que isso não foi possível, dadas as inúmeras dificuldades de produção. Ruim, mas necessário, nalgum meandro: muito mais pelo que exibe, do que pela maneira reprovável como o faz! (WPC>)
Revisto, percebo que algumas cenas e diálogos não funcionam tão bem hoje, por mais importantes e revolucionários que tenham sido no período de lançamento. A concepção da empregada doméstica que revolta-se contra o namorado negro da garotinha branca que criara incomodou-me bastante, bem como a servidão do roteiro ao liberalismo de fachada do velho branco vivido pelo excelente Spencer Tracy. Consinto que o elenco seja ótimo (como foi bom perceber Sidney Poitier tão sorridente!) e encantei-me pelo monsenhor vivido por Cecil Kellaway, o mais subversivo de todos os personagens, em sua aceitação do novo (até uma canção de The Beatles ele entoa!). Beah Richards está incrível em cena, mesmo quando está calada, e Katharine Hepburn faz jus ao Oscar que recebeu. Sou apaixonado pela canção-tema ("The Glory of Love") e, superados alguns entraves quase teatrais, curti o desfecho, torci pelo final feliz. O problema maior é a lógica classista, a defesa do patriarcado mantida em seu elogio à aceitação, aff! (WPC>)
Vi apenas os dois filmes mais famosos deste diretor e, obviamente, gostei muito de ambos. Como tal, saber mais sobre a sua filmografia, seu modo de pensar e sobre as curiosidades de sua vida pessoal (que ele fôra tenista, antes de ser diretor, por exemplo) foi ótimo. As entrevistas são ótimas, evitando enfiar o dedo na ferida da questão 'Kapò', que não vi ainda. Apaixonei-me pelo diretor, muito terno na maneira como aborda as questões mencionadas na sinopse. Ótimo! (WPC>)
Revi. Estou lendo sobre a produção deste filme (bem como sobre a safra Oscar deste ano de 1967) e, na prática, o diretor consegue ótimos resultados, na abordagem de uma temática que, àquela época, ainda era tabu. Para os padrões atuais, há ainda muito de problemático na maneira como o racismo aparece aqui. E que o Sidney Poitier tenha sido ignorado naquela temporada do Oscar diz muita coisa. Não é o meu título favorito do período, mas ele é eficiente em sua abordagem policial, não obstante a investigação ser resolvida de maneira quase sherlockiana, como se o Mr. Tibbs fosse um investigador mediúnico. A fotografia é ótima, em seu registro do calor intenso, e algumas cenas são antológicas (a famosa seqüência do tapa, por exemplo). Mas a perseguição na ponte e o momento em que Sidney Poitier é cercado por kukluxklianos são dissonantes, em relação ao restante da trama, apesar de fundamentarem a mesma. É um filme que possui os seus momentos de irregularidade e, no fim, é rápido demais, rasteiro em sua abordagem pretensamente discursiva. Quiçá porque as exigências de produção ficam mais evidentes que as intenções directivas. Mas é inegavelmente muito, muito bom! (WPC>)
Sou obcecado pelo Jesse Eisenberg, enquanto ator, faz tempo. Por mais que ele repita seus tiques, identifico-me tanto com a maneira como ele escancara as suas contradições, que, não tem como: identifico-me, apaixono-me! Até soube que ele havia estreado como diretor, mas não tinha muitas informações sobre o título, até me deparar com ele, numa sessão casual do Telecine Cult - e fui arrebatado! O jovem diretor aprendeu muito com Kelly Reichardt e Noah Baumbach, com quem trabalhara anteriormente, mas a referência mais perceptível é a Nicole Holofcener, que também amo. Que roteiro bem estruturado: amei a concomitância dramática das duas trama paralelas. E quarteto central de atores está magnífico. Diálogos esplêndidos, muita segurança na condução dos píncaros sentimentais e inevitável lida com as contradições discursivas e comportamentais da esquerda. É como se o Jesse Eisenberg, mesmo por detrás das câmeras, contaminasse os seus intérpretes com as suas angústias e inquietações típicas. Amei, fui intiimamente impactado! <3 (WPC>)
Inteligente e muito sensível, conforme eu esperava, ao saber que o roteiro era do Charlie Kaufman - que amo. E, da mesma forma, há muitas questões metalingüísticas e narratológicas em curso, em meio à trama de superação, a lição de moral infantil, sobre as construções de personalidade que se insurgem a partir dos enfrentamentos necessários do cotidiano. Por motivos compreensíveis e esperados, isso faz com que o escopo de ensinamentos do filme não fique reservado às crianças: é um filme adulto, em muitos âmbitos, mas que se desperdiça um pouco quando aceita a convenção enredística clicherosa do sumiço de alguém machucado, previsível e rapidamente solucionada. Há muitos aspectos em comum com o recente DIVERTIDA MENTE, o que cansa um pouquinho o espectador, sobretudo pela celeridade com que as situações ocorrem e são resolvidas. Mas, em suas entrelinhas psicanalíticas, é um filme que grita aquilo que já ouvimos bastante e, ainda assim, precisamos reouvir. De quebra, ainda somos inebriados pela voz do Werner Herzog, em relances. Que belezura de longa-metragem animado! (WPC>)
No começo, a impressão era a de que eu assistia a um extra dirigido por Paul Thomas Anderson, para um DVD da banda Sonic Youth. Pouco a pouco, fui notando que, ao documentar as reações das pessoas do colégio às "garotas sujas" do título - zineiras 'riot girls' -, o diretor registrava uma mudança geracional de paradigma, uma ascensão orgânica do feminismo adolescente, que abraça lutas transversais. importantíssimas para a fruição musical dos artistas que elas citam. Neste sentido, o filme é muito importante por aquilo que traz à tona, ainda que não o seja muito enquanto produto cinematográfico específico. Mas merece ser considerado como tão seminal quanto o PUNK ROCK HARDCORE, dirigido por Adelina Pontual, Cláudio Assis e Marcelo Gomes. Ao término da sessão, fiz questão de recomendá-lo a algumas amigas, que, obviamente, identificaram-se bastante. Uhuuuuu! (WPC>
Primeiro, uma confissão: da mesma maneira que, na Literatura, ainda tenho problemas de concentração/recepção com a Poesia, em Cinema, filmes silenciosos demoram um pouco para me cativarem. Foi o que aconteceu aqui. Porém, vamos ao segundo ponto: a despeito de meu travamento inicial, logo percebi a conjunção estilístico-imagética entre motes de Jonas Mekas e Jean Genet, numa conotação muito própria, em que a masturbação surge como tema e ônus, como solução e como perigo, como convite ao prazer e deixa para a perdição... O mito de Narciso é recontado de maneira belíssima e sensual, numa versão em curta-metragem que, estranhamente, era estranha para mim. Gostei, mas preciso voltar a ele, já sabendo do que se trata. Fascina, deveras: isso ninguém nega! (WPC>)
No início, eu estava incomodando-me com algo muito recorrente nessa abordagem oriental para o 'bullying': o exagero na incomunicabilidade, o modo como as mentiras e as rejeições dialogísticas contribuem para que as violências contra os alunos se perpetuem... De repente, isso aparece como assunto mesmo do filme: ao contrário do que alguns alegam, não há versões "à la RASHOMON" para o enredo, em que as contradições aparecem, mas testemunhos complementares, que adicionam novos enfoques a uma situação julgada às pressas e, por conta disso, desencadeando problemas muito maiores que aqueles inicialmente detectados. O segundo testemunho, entretanto, ainda continha o aspecto incômodo, no que tange aos gritos do professor, clamando por contato em meio á chuva torrencial, por exemplo. Mas eis que o terceiro relato aparece, em que o garotinho protagonista pode realmente ser o protagonista de sua própria trama. A emoção cresce, em alinhamento com os ternos acordes do Ryuichi Sakamoto, que permite que enxerguemos aquele desfecho como feliz, diante de tudo o que ocorre anteriormente... Lindo, lindo, lindo: o diretor consegue se superar em relação às suas auto-fórmulas familiares. Meus parabéns - e tem muito a ver com o recente CLOSE, como alguém disse: é a mesma conjuntura! (WPC>)
Que beleza de filme, que direção refinada, que interpretações sensíveis! O roteiro mereceu o Oscar e o desfecho que não "conclui" em excesso reitera aquilo que mais amo no estilo de Peter Weir: as aberturas à realidade que prossegue depois que luzes do cinema se acendem... Trilha musical muito bem inserida e momentos insignes, protagonizados pelo eloqüente garotinho Lukas Haas. Poderia ser um policial oitentista convencional, mas o diretor preferiu outro ritmo, mais comedido, tanto quanto o cotidiano da comunidade que aborda. O 'male gaze' está la, na cena de nudez com a Kelly McGillis, mas ela tira de letra, virando-se de costas, adicionando poesia á observação furtiva. Muitíssimo bonito e repleto de camadas a serem discursivamente preenchidas, fazendo jus ao sobrenome do personagem principal, um livro ainda sendo escrito. Incrível! (WPC>)
Julian Sands era o muso de minha adolescência e, como tal, sempre tive muita curiosidade em conferir este filme. O fiz ao lado de minha mãe, que divertiu-se bastante, sobretudo pelo absurdo da trama, pelas situações sem sentido, pela falta de lógica na adaptação dos personagens do Século XVII à atualidade. Em meio ás interpretações quase 'camp', Richard E. Grant brilha, enquanto Julian Sans encarna a suma malevolência, matador de homossexuais, mulheres, idosos e crianças, sem piedade. O terror e o nonsense convivem juntos, na maior parte da metragem, mas o tom geral é lúgubre, em razão das perdas enfrentadas pelos personagens, da crueldade crescente do vilão. Bacana, no cômputo geral. Mas não o suficiente para me fazer encarar as continuações! (WPC>)
Adentrei a sessão relativamente descrente: confiava no taco do Mojica, brilhante até mesmo em seus trabalho póstumo (perdido após várias tentativas de finalização), mas não achava que a montagem organizadora e mui esforçada de Eugênio Puppo fosse capaz de resgatar a maestria do projeto original. De fato, no início, os enxertos das apresentações do "Cine Trash" e cenas de outros filmes pareceram forçados (em sua valiosa tentativa), bem como soa problemática a maneira como as religiões de matriz africana são mostradas aqui. Mas, do meio para o final, quando Wanda Kosmo está em cena, como o filme cresce! Idem para os repugnantes e maravilhosos efeitos de maquiagem, bem como a sensualidade inerente ao casal protagonista. Saí da sessão enjoado (por aquilo que o filme provoca - ou seja, é uma reação positiva dentro do gênero) e encantado. Filmaço! (WPC>)
Amo musicais e detesto regravações, uma combinação de opiniões que encontra, neste objeto, um píncaro e enfrentamento. Relutei por algum tempo em conferi-lo, mas minha mãe ficou curiosa, obcecada que é pelo filme anterior. O que já configurou um problema para ela, que ficou comparando as duas versões, o tempo inteiro. Algo que eu tentei evitar, mais preocupado com maneira como as canções seriam inseridas em meio aos estupros e espancamentos. Surpreendentemente, o diretor fez isso muito bem: depois de uma abertura 'gospel' e objetiva, que não funcionou tanto - apesar do talento dos artistas envolvidos - , percebi que as canções serviriam como evasão fantasiosa para as duas irmãs, o que é justificado pelas convenções históricas do gênero. Em meio à celeridade da narrativa, mais compacta que a anterior - em relação à qual posta-se de maneira imitativa -, comecei a curtir a trama dolorosa e permeada pela esperança comprobatória de que Deus exista. No terço final, a trama avança bastante em relação ao desfecho da versão spielberguiana - e, daí por diante, gostei muito, caí na esparrela do perdão, na necessidade compensatória (e cristã) do final feliz. Achei a derradeira seqüência muito bonita e gostei de reconhecer os participantes famosos do elenco. Afinal, aplaudo o realizador: conseguiu dotar a sua versão de simpatia e unicidade. Era "desnecessária", claro, mas demonstrou-se útil nos seus complementos de caráter religioso. (WPC>)
Não sei por que motivo eu evitei este filme por tanto tempo: é maravilhoso! Além de o protagonista canino ser magnífico (que olhar eloqüente!), as situações são muito elaboradas, enquanto ainda não há efetivamente uma trama: o que é abordado, na maior parte do enredo, é a rotina de amizades múltiplas de uma cachorro de rua. Pouco a pouco, através de 'flashbacks', entendemos o que aconteceu anteriormente ao bichinho protagonista. E, quando insurge-se uma ocorrência policial que confirma o heroísmo nato de Benji, a direção revela-se mui exitosa na aplicação de clichês familiares e convenções de gênero. Com momentos mui aplaudíveis à parte, como toda a seqüência da delegacia de polícia e a entrada em cena da sofrida Thiffany. Eu e minha mãe ficamos muito emocionados: filme lindo! (WPC>)
A sinopse promete mais que o filme entrega, no sentido de que a imersão no "plano improvável" soa um tanto infantilizado, numa crença de "salvação mundial" que, na prática, é menos funcional que aplicável. A interação entre o excelente trio de atrizes é muito bacana, mas o deslumbramento da personagem de Grace Passô traz à tona um problema de composição orgânica, no sentido de que sua argumentação lacradora beira o delírio, desperdiçando as possibilidades de interação com as demais irmãs. Ah, é um enredo sobre o surgimento de distúrbios psicológicos, acentuados pelo confinamento no contexto de poderio bolsonarista? Se for assim, talvez até sirva, enquanto contra-exemplo. Mas é um trabalho bastante inferior aos demais projetos da diretora! (WPC>)
Muitíssimo imponente tanto em seus aspectos enciclopédicos quanto ensaísticos. Por algum motivo injusto, não é tão conhecido quanto os trabalhos de Mark Cousins - e merecia: não conhecia vários dos títulos citados, e já estou em busca dos mesmos. Gostaria muito que também fosse lançado em versão escrita: os depoimentos e entrevistas são excelentes, e foi muito sagaz que a história tenha "terminado" em 1978, pois há um ponto de virada fundamental a partir dali, que justifica, inclusive, a feitura de continuações documentais (tomara que elas surjam, nalgum momento). A narração é extraordinária, os argumentos são muito bem fundamentados, e as reflexões são esplêndidas. Um tesouro, a ser exibido e revisto como aula! (WPC>)
Não gosto do oportunismo do Ken Wiederhorn, no que tange ao aproveitamos das condições de terror em voga, mas fiquei curioso quanto ao seu primeiro longa-metragem. Quando soube que este filme seria visto e debatido pelos integrantes de um cineclube formado por pessoas inteligentes e queridas, revolvi rever, antes da sessão, um clássico fulciano que cria possuir vários pontos em contato com ele. De fato, confirmaram-se, mas isso evidenciou ainda mais a fraqueza do roteiro desta obra, tão rápida na apresentação de seus fatos, que desperdiça o ótimo ponto de partida e o elenco com nomes famosos. É tudo rápido demais, superficial demais. Gosto da fotografia super iluminada - que lembra as produções da Ozploitation - e curto alguns breves momentos (a condução das situações que explicam o trauma da sobrevivente encontrada na cena inicial, por exemplo). Mas, como sói acontecer em 'slasher movies', desgosto de como a tese do "assassinato por procuração" serve para que eliminemos desejosamente personagens que se associam a comportamentos preconceituosos ou desagradáveis. Diverte, ao menos. Mas poderia ir beeeeeeeem mais longe! (WPC>)
A cada novo contato, melhor fica: além de eu ser obcecado pelas elaboradas seqüências do Fulci (vide a célebre luta submarina entre o zumbi e o tubarão, as câmeras subjetivas dos conquistadores espanhóis renascidos, as situações de morte), surpreendi-me ao percebi críticas coloniais impressionantes no roteiro. O desenvolvimento dos personagens é vago, mas não as situações em que eles se envolvem. Fotografia impressionante, bem como o suo inventivo da trilha musical. Desfecho pessimista de alto calibre. Clássico! (WPC>)
'Cult' discreto da década em que eu nasci, que explora ao máximo o 'sex appeal' do jovem Dennis Quaid, mostrado seminu em diversas oportunidades. Os efeitos visuais são interessantes e a narrativa tem um ótimo ponto de partida, mas, quanto o enredo mergulha de vez no suspense político, não me empolgou tanto (ao contrário de minha mãe, ao meu lado, que torcia euforicamente pelo presidente). O elenco é primoroso e a equipe envolvida no filme tornar-se-ia deveras relevante naquele período. Vale a pena ser conhecido, portanto: é um preâmbulo gostoso de uma época! (WPC>)
Entretempos, Entremeios
4.0 1Um trabalho de pesquisa riquíssimo e uma narração prenhe de sensibilidade. Como sergipano, emocionei-me ao entrar e contato com registros de uma época que não vivi, mas cujos acontecimentos conheço através dos relatos apaixonados de amigos. A abertura do filme é muito boa, quando a diretora revela o acaso que lhe permitiu desenterrar um valioso tesouro. Há brincadeiras válidas com a montagem, mas, do meio para o final, algumas imagens são excessivamente reiteradas, tornando-se repetitivas, bem como o tempo excessivo concedido a uma apresentação contemporânea de dança, que, nalguns sentidos, compete com o que é trazido à tona em alguns depoimentos, no que tange ao desleixo hodierno do local representado. Os efeitos de envelhecimento imagético nem sempre funcionam (quando aparece alguém manuseando um telefone celular, por exemplo, soou mais que anacrônico, mas esteticamente problemático, sem propósito) e a trilha cancional está muito calcada em projetos similares do Kléber Mendonça Filho, tal como acontece com a divisão capitular. Afora isso, somente elogios à execução, à escolha dos entrevistados, à captação de "fantasmas" afetivos (num complemento descritivo mui acertado da realizadora) e à relevância do que é mostrado e emulado. Para quem não é do Estado e não conhece o CULTART, fica evidente o interesse do média-metragem, no que tange à rememoração bem-vinda, de algo sobremaneira marcante para a cultura sergipana. Por vezes, o filme assume ares de manifesto (quanto à demonstração do estágio atual de desuso do ambiente) e pode ser aproveitado como extensão reivindicativa, a fim de que apresentações semelhantes àquelas mencionadas voltem a ocorrer no local. De minha parte, estou na torcida. Gostei muito! (WPC>)
Que Horas Eu Te Pego?
3.3 495Lendo a sinopse do filme, presumi que identificar-me-ia com algum dos personagens. Porém, li tantas opiniões contraditórias, que terminei procrastinando a sessão... Numa imersão casual, graças a uma exibição televisiva, gargalhei de imediato: ri muito e percebi que o roteiro trata de questões muito sérias, como a violência da especulação imobiliária e os vícios digitais (e expositivos) da geração hodierna, que não desgruda dos telefones celulares. Além de estar excelente, Jennifer Lawrence compõe uma personagem inesquecível, em seu carisma e charme agridoce. Andrew Barth Feldman é um coadjuvante à altura, terno e gracioso. E a participação simbólica de Matthew Broderick, como um pai hiperprotetor não é nada gratuita, visto que o filme aborda um conflito geracional, ao mesmo tempo em que exorta-nos à maturação social, para além das supostas exigências etárias. Gostei muitíssimo: a execução de "Maneater", ao piano, emocionou-me bastante! (WPC>)
Nas Asas da Pan Am
4.0 1Antes de adentrar a sessão, sem saber nada sobre o tema do filme e considerando que eu não tinha gostado muito dos últimos filmes do Silvio Tendler, demonstrei um errôneo preconceito quanto ao seu automatismo documental contemporâneo. Paguei a língua: o filme é um belíssimo acerto de contas com o próprio passado do realizador, um animado filme-memória, ressaltando a importância de manter-se alegre durante os atos de resistência. Entremeando as imagens e entrevistas, há intertítulos mui pessoais, em que o diretor reforça que não há espaço para a desesperança em suas obras, muito menos na conclusão das mesmas. De maneira assumidamente ingênua, ele fala sobre a sua vida familiar e sobre a sua trajetória profissional e de viagens sem se culpar por seus privilégios de classe ou por ter tido a honra de conhecer pessoas como Chris Marker, Jean Rouch, Joris Ivens e Patricio Guzmàn: eles apenas compartilha conosco o seu entusiasmo e demonstra que sua passagem pela Terra foi repleta de atividades relevantes, não apenas para si mesmo como para a crença na aplicação de um Socialismo em direção à liberdade. O diretor é tão defensor das possibilidades concretas do Socialismo, relegadas permanentemente às condições de ideal utópico, que, acidentalmente, refere-se à queda do Muro de Berlim como a abertura ao fracasso, no sentido de que, a partir daquele feito histórico, o Capitalismo destroçou por completo o comunismo. As suas histórias de vida são ótimas e riquíssimas em experiências artísticas, mas ele insiste em declarar o amor por suas namoradas e amigos, em passagens que demonstram o quão fofo e merecedor do apelido adolescente de "boi gamado" ele é. Tive o privilégio de assistir ao filme na véspera de seu aniversário de 74 anos, o que foi uma coincidência feliz, uma das muitas elencadas no roteiro, visto que o diretor tem consciência do quanto o Acaso foi fundamental em sua vida. O material de arquivo que ele felizmente acumulou é magistral, bem como a sua verve atuante, a sua sede de produzir e de transformar a realidade (para melhor) mediante o conhecimento das situações históricas. Incrivelmente ótimo: saí da sessão emocionado e motivado, além de pessoalmente apaixonado pela pessoa-Tendler. Que cara apaixonante e cheio de vida, amei! (WPC>)
Os Primeiros 50 Anos da 20th Century Fox
4.1 12Bem mais interessante que uma congênere contemporâneo sobre a Warner Brothers, com quatro horas de duração, este documentário é balsâmico para os cinéfilos da velha geração, para os apreciadores analógicos de filmes. Há algo de apaixonado na narração de James Coburn e as cenas dos filmes apesentados são ótimas. O problema, como esperado, talvez seja o viés excessivamente defensor, a abordagem compreensivamente chapa-branca e elogiosa, que termina numa ode ao triunfalismo, mas ignorando o que aconteceu com O FANTÁSTICO DR. DOLITTLE, por exemplo. Nada que prejudique a imersão nostálgica ou a gana por informações fílmicas. Muito bom: ria sempre que o Roddy McDowall expunha as suas opiniões! (risos) - WPC>
Ficção Americana
3.8 377 Assista AgoraSendo bastante sincero, adentrei a sessão com muita desconfiança, pensei que não fosse funcionar comigo. Mas fui arrebatado desde a esplêndida seqüência inicial, muitíssimo eloqüente enquanto demonstração da apropriação invertida do identitarismo, associada a condições de classe. E o desenvolvimento do roteiro só melhora, contando com diálogos memoráveis (anotei várias frases) e interpretações, idem. Jeffrey Wright está maravilhoso, dotando de suma dignidade um personagem insuportável, e os coadjuvantes são ótimos. De repente, surge a previsível situação do júri literário, e a piada repetida N vezes começa a dar sinais de desgaste, culminando num desfecho que, de tão "didático" em sua pretensa alternatividade, pareceu-me uma cópia não tão inspirada do que já havia sido ensaiado em ADAPTAÇÃO, do Spike Jonze. Mas, tirando uma ou outra digressão, tendo a elogiar este filme, bem mais do que atacá-lo. O roteiro é primoroso, bem como a leveza jazzística da trilha musical. Durante a primeira hora, maravilhoso. E mui assertivo naquilo que expõe, e acerca do qual todos nós, de alguma maneira, somos cúmplices. Reflitamos, portanto! (WPC>)
20 Dias em Mariupol
3.9 57 Assista AgoraDemorei para enfrentar este filme. Temia que fosse o documentário 'gore' anunciado, ainda que eu ache necessário que situações duras de guerra sejam mostradas, à guisa de denúncia. E é nesse aspecto que o filme soçobra: diferentemente de PARA SAMA, que eu amo, o diretor não sabe como dosar suas pretensas intenções ensaísticas. Ao narrar as situações em inglês, após a montagem, o efeito que ele provoca é a chantagem emocional, o que piora quando as mesmas imagens duras que ele filma são reapresentadas editadas, enquanto notícias telejornalísticas. O caráter manipulador se sobressai em relação às intenções válidas de denúncia, conforme intensificado pela falta de modéstia dos envolvidos, que se autocongratulam por estarem realizando um trabalho muito importante, fazem questão de referendar que todos os agradeceram por isso... O produto geral soa como uma campanha de propaganda partidária, em que até mesmo as insinuações, por parte dos detratores, de que os materiais chocantes apresentados poderiam ser encenados têm efeito duvidoso. Moralmente, reprovável, em diversos sentidos. Cinematograficamente, muito pobre. Mas, no miolo documentarista/jornalístico pretendido, não se pode sair da sessão sem ser afetado. Talvez funcionasse melhor se tivesse sido lançado antes, mas presumo que isso não foi possível, dadas as inúmeras dificuldades de produção. Ruim, mas necessário, nalgum meandro: muito mais pelo que exibe, do que pela maneira reprovável como o faz! (WPC>)
Adivinhe Quem Vem Para Jantar
4.1 222 Assista AgoraRevisto, percebo que algumas cenas e diálogos não funcionam tão bem hoje, por mais importantes e revolucionários que tenham sido no período de lançamento. A concepção da empregada doméstica que revolta-se contra o namorado negro da garotinha branca que criara incomodou-me bastante, bem como a servidão do roteiro ao liberalismo de fachada do velho branco vivido pelo excelente Spencer Tracy. Consinto que o elenco seja ótimo (como foi bom perceber Sidney Poitier tão sorridente!) e encantei-me pelo monsenhor vivido por Cecil Kellaway, o mais subversivo de todos os personagens, em sua aceitação do novo (até uma canção de The Beatles ele entoa!). Beah Richards está incrível em cena, mesmo quando está calada, e Katharine Hepburn faz jus ao Oscar que recebeu. Sou apaixonado pela canção-tema ("The Glory of Love") e, superados alguns entraves quase teatrais, curti o desfecho, torci pelo final feliz. O problema maior é a lógica classista, a defesa do patriarcado mantida em seu elogio à aceitação, aff! (WPC>)
Pontecorvo: A Ditadura da Verdade
4.0 1Vi apenas os dois filmes mais famosos deste diretor e, obviamente, gostei muito de ambos. Como tal, saber mais sobre a sua filmografia, seu modo de pensar e sobre as curiosidades de sua vida pessoal (que ele fôra tenista, antes de ser diretor, por exemplo) foi ótimo. As entrevistas são ótimas, evitando enfiar o dedo na ferida da questão 'Kapò', que não vi ainda. Apaixonei-me pelo diretor, muito terno na maneira como aborda as questões mencionadas na sinopse. Ótimo! (WPC>)
No Calor da Noite
4.0 139 Assista AgoraRevi. Estou lendo sobre a produção deste filme (bem como sobre a safra Oscar deste ano de 1967) e, na prática, o diretor consegue ótimos resultados, na abordagem de uma temática que, àquela época, ainda era tabu. Para os padrões atuais, há ainda muito de problemático na maneira como o racismo aparece aqui. E que o Sidney Poitier tenha sido ignorado naquela temporada do Oscar diz muita coisa. Não é o meu título favorito do período, mas ele é eficiente em sua abordagem policial, não obstante a investigação ser resolvida de maneira quase sherlockiana, como se o Mr. Tibbs fosse um investigador mediúnico. A fotografia é ótima, em seu registro do calor intenso, e algumas cenas são antológicas (a famosa seqüência do tapa, por exemplo). Mas a perseguição na ponte e o momento em que Sidney Poitier é cercado por kukluxklianos são dissonantes, em relação ao restante da trama, apesar de fundamentarem a mesma. É um filme que possui os seus momentos de irregularidade e, no fim, é rápido demais, rasteiro em sua abordagem pretensamente discursiva. Quiçá porque as exigências de produção ficam mais evidentes que as intenções directivas. Mas é inegavelmente muito, muito bom! (WPC>)
Quando Você Terminar de Salvar o Mundo
3.1 28 Assista AgoraSou obcecado pelo Jesse Eisenberg, enquanto ator, faz tempo. Por mais que ele repita seus tiques, identifico-me tanto com a maneira como ele escancara as suas contradições, que, não tem como: identifico-me, apaixono-me! Até soube que ele havia estreado como diretor, mas não tinha muitas informações sobre o título, até me deparar com ele, numa sessão casual do Telecine Cult - e fui arrebatado! O jovem diretor aprendeu muito com Kelly Reichardt e Noah Baumbach, com quem trabalhara anteriormente, mas a referência mais perceptível é a Nicole Holofcener, que também amo. Que roteiro bem estruturado: amei a concomitância dramática das duas trama paralelas. E quarteto central de atores está magnífico. Diálogos esplêndidos, muita segurança na condução dos píncaros sentimentais e inevitável lida com as contradições discursivas e comportamentais da esquerda. É como se o Jesse Eisenberg, mesmo por detrás das câmeras, contaminasse os seus intérpretes com as suas angústias e inquietações típicas. Amei, fui intiimamente impactado! <3 (WPC>)
Orion e o Escuro
3.3 72 Assista AgoraInteligente e muito sensível, conforme eu esperava, ao saber que o roteiro era do Charlie Kaufman - que amo. E, da mesma forma, há muitas questões metalingüísticas e narratológicas em curso, em meio à trama de superação, a lição de moral infantil, sobre as construções de personalidade que se insurgem a partir dos enfrentamentos necessários do cotidiano. Por motivos compreensíveis e esperados, isso faz com que o escopo de ensinamentos do filme não fique reservado às crianças: é um filme adulto, em muitos âmbitos, mas que se desperdiça um pouco quando aceita a convenção enredística clicherosa do sumiço de alguém machucado, previsível e rapidamente solucionada. Há muitos aspectos em comum com o recente DIVERTIDA MENTE, o que cansa um pouquinho o espectador, sobretudo pela celeridade com que as situações ocorrem e são resolvidas. Mas, em suas entrelinhas psicanalíticas, é um filme que grita aquilo que já ouvimos bastante e, ainda assim, precisamos reouvir. De quebra, ainda somos inebriados pela voz do Werner Herzog, em relances. Que belezura de longa-metragem animado! (WPC>)
Dirty Girls
4.3 5No começo, a impressão era a de que eu assistia a um extra dirigido por Paul Thomas Anderson, para um DVD da banda Sonic Youth. Pouco a pouco, fui notando que, ao documentar as reações das pessoas do colégio às "garotas sujas" do título - zineiras 'riot girls' -, o diretor registrava uma mudança geracional de paradigma, uma ascensão orgânica do feminismo adolescente, que abraça lutas transversais. importantíssimas para a fruição musical dos artistas que elas citam. Neste sentido, o filme é muito importante por aquilo que traz à tona, ainda que não o seja muito enquanto produto cinematográfico específico. Mas merece ser considerado como tão seminal quanto o PUNK ROCK HARDCORE, dirigido por Adelina Pontual, Cláudio Assis e Marcelo Gomes. Ao término da sessão, fiz questão de recomendá-lo a algumas amigas, que, obviamente, identificaram-se bastante. Uhuuuuu! (WPC>
Jerovi
3.5 1Primeiro, uma confissão: da mesma maneira que, na Literatura, ainda tenho problemas de concentração/recepção com a Poesia, em Cinema, filmes silenciosos demoram um pouco para me cativarem. Foi o que aconteceu aqui. Porém, vamos ao segundo ponto: a despeito de meu travamento inicial, logo percebi a conjunção estilístico-imagética entre motes de Jonas Mekas e Jean Genet, numa conotação muito própria, em que a masturbação surge como tema e ônus, como solução e como perigo, como convite ao prazer e deixa para a perdição... O mito de Narciso é recontado de maneira belíssima e sensual, numa versão em curta-metragem que, estranhamente, era estranha para mim. Gostei, mas preciso voltar a ele, já sabendo do que se trata. Fascina, deveras: isso ninguém nega! (WPC>)
Monstro
4.3 273 Assista AgoraNo início, eu estava incomodando-me com algo muito recorrente nessa abordagem oriental para o 'bullying': o exagero na incomunicabilidade, o modo como as mentiras e as rejeições dialogísticas contribuem para que as violências contra os alunos se perpetuem... De repente, isso aparece como assunto mesmo do filme: ao contrário do que alguns alegam, não há versões "à la RASHOMON" para o enredo, em que as contradições aparecem, mas testemunhos complementares, que adicionam novos enfoques a uma situação julgada às pressas e, por conta disso, desencadeando problemas muito maiores que aqueles inicialmente detectados. O segundo testemunho, entretanto, ainda continha o aspecto incômodo, no que tange aos gritos do professor, clamando por contato em meio á chuva torrencial, por exemplo. Mas eis que o terceiro relato aparece, em que o garotinho protagonista pode realmente ser o protagonista de sua própria trama. A emoção cresce, em alinhamento com os ternos acordes do Ryuichi Sakamoto, que permite que enxerguemos aquele desfecho como feliz, diante de tudo o que ocorre anteriormente... Lindo, lindo, lindo: o diretor consegue se superar em relação às suas auto-fórmulas familiares. Meus parabéns - e tem muito a ver com o recente CLOSE, como alguém disse: é a mesma conjuntura! (WPC>)
A Testemunha
3.6 142 Assista AgoraQue beleza de filme, que direção refinada, que interpretações sensíveis! O roteiro mereceu o Oscar e o desfecho que não "conclui" em excesso reitera aquilo que mais amo no estilo de Peter Weir: as aberturas à realidade que prossegue depois que luzes do cinema se acendem... Trilha musical muito bem inserida e momentos insignes, protagonizados pelo eloqüente garotinho Lukas Haas. Poderia ser um policial oitentista convencional, mas o diretor preferiu outro ritmo, mais comedido, tanto quanto o cotidiano da comunidade que aborda. O 'male gaze' está la, na cena de nudez com a Kelly McGillis, mas ela tira de letra, virando-se de costas, adicionando poesia á observação furtiva. Muitíssimo bonito e repleto de camadas a serem discursivamente preenchidas, fazendo jus ao sobrenome do personagem principal, um livro ainda sendo escrito. Incrível! (WPC>)
Warlock: O Demônio
3.3 89Julian Sands era o muso de minha adolescência e, como tal, sempre tive muita curiosidade em conferir este filme. O fiz ao lado de minha mãe, que divertiu-se bastante, sobretudo pelo absurdo da trama, pelas situações sem sentido, pela falta de lógica na adaptação dos personagens do Século XVII à atualidade. Em meio ás interpretações quase 'camp', Richard E. Grant brilha, enquanto Julian Sans encarna a suma malevolência, matador de homossexuais, mulheres, idosos e crianças, sem piedade. O terror e o nonsense convivem juntos, na maior parte da metragem, mas o tom geral é lúgubre, em razão das perdas enfrentadas pelos personagens, da crueldade crescente do vilão. Bacana, no cômputo geral. Mas não o suficiente para me fazer encarar as continuações! (WPC>)
A Praga
3.0 1Adentrei a sessão relativamente descrente: confiava no taco do Mojica, brilhante até mesmo em seus trabalho póstumo (perdido após várias tentativas de finalização), mas não achava que a montagem organizadora e mui esforçada de Eugênio Puppo fosse capaz de resgatar a maestria do projeto original. De fato, no início, os enxertos das apresentações do "Cine Trash" e cenas de outros filmes pareceram forçados (em sua valiosa tentativa), bem como soa problemática a maneira como as religiões de matriz africana são mostradas aqui. Mas, do meio para o final, quando Wanda Kosmo está em cena, como o filme cresce! Idem para os repugnantes e maravilhosos efeitos de maquiagem, bem como a sensualidade inerente ao casal protagonista. Saí da sessão enjoado (por aquilo que o filme provoca - ou seja, é uma reação positiva dentro do gênero) e encantado. Filmaço! (WPC>)
A Cor Púrpura
3.5 102Amo musicais e detesto regravações, uma combinação de opiniões que encontra, neste objeto, um píncaro e enfrentamento. Relutei por algum tempo em conferi-lo, mas minha mãe ficou curiosa, obcecada que é pelo filme anterior. O que já configurou um problema para ela, que ficou comparando as duas versões, o tempo inteiro. Algo que eu tentei evitar, mais preocupado com maneira como as canções seriam inseridas em meio aos estupros e espancamentos. Surpreendentemente, o diretor fez isso muito bem: depois de uma abertura 'gospel' e objetiva, que não funcionou tanto - apesar do talento dos artistas envolvidos - , percebi que as canções serviriam como evasão fantasiosa para as duas irmãs, o que é justificado pelas convenções históricas do gênero. Em meio à celeridade da narrativa, mais compacta que a anterior - em relação à qual posta-se de maneira imitativa -, comecei a curtir a trama dolorosa e permeada pela esperança comprobatória de que Deus exista. No terço final, a trama avança bastante em relação ao desfecho da versão spielberguiana - e, daí por diante, gostei muito, caí na esparrela do perdão, na necessidade compensatória (e cristã) do final feliz. Achei a derradeira seqüência muito bonita e gostei de reconhecer os participantes famosos do elenco. Afinal, aplaudo o realizador: conseguiu dotar a sua versão de simpatia e unicidade. Era "desnecessária", claro, mas demonstrou-se útil nos seus complementos de caráter religioso. (WPC>)
Benji, o Filme
3.2 52Não sei por que motivo eu evitei este filme por tanto tempo: é maravilhoso! Além de o protagonista canino ser magnífico (que olhar eloqüente!), as situações são muito elaboradas, enquanto ainda não há efetivamente uma trama: o que é abordado, na maior parte do enredo, é a rotina de amizades múltiplas de uma cachorro de rua. Pouco a pouco, através de 'flashbacks', entendemos o que aconteceu anteriormente ao bichinho protagonista. E, quando insurge-se uma ocorrência policial que confirma o heroísmo nato de Benji, a direção revela-se mui exitosa na aplicação de clichês familiares e convenções de gênero. Com momentos mui aplaudíveis à parte, como toda a seqüência da delegacia de polícia e a entrada em cena da sofrida Thiffany. Eu e minha mãe ficamos muito emocionados: filme lindo! (WPC>)
O Nosso Pai
3.5 7A sinopse promete mais que o filme entrega, no sentido de que a imersão no "plano improvável" soa um tanto infantilizado, numa crença de "salvação mundial" que, na prática, é menos funcional que aplicável. A interação entre o excelente trio de atrizes é muito bacana, mas o deslumbramento da personagem de Grace Passô traz à tona um problema de composição orgânica, no sentido de que sua argumentação lacradora beira o delírio, desperdiçando as possibilidades de interação com as demais irmãs. Ah, é um enredo sobre o surgimento de distúrbios psicológicos, acentuados pelo confinamento no contexto de poderio bolsonarista? Se for assim, talvez até sirva, enquanto contra-exemplo. Mas é um trabalho bastante inferior aos demais projetos da diretora! (WPC>)
A História do Cinema Negro nos EUA
4.2 14 Assista AgoraMuitíssimo imponente tanto em seus aspectos enciclopédicos quanto ensaísticos. Por algum motivo injusto, não é tão conhecido quanto os trabalhos de Mark Cousins - e merecia: não conhecia vários dos títulos citados, e já estou em busca dos mesmos. Gostaria muito que também fosse lançado em versão escrita: os depoimentos e entrevistas são excelentes, e foi muito sagaz que a história tenha "terminado" em 1978, pois há um ponto de virada fundamental a partir dali, que justifica, inclusive, a feitura de continuações documentais (tomara que elas surjam, nalgum momento). A narração é extraordinária, os argumentos são muito bem fundamentados, e as reflexões são esplêndidas. Um tesouro, a ser exibido e revisto como aula! (WPC>)
Horror em Alto Mar
3.0 35Não gosto do oportunismo do Ken Wiederhorn, no que tange ao aproveitamos das condições de terror em voga, mas fiquei curioso quanto ao seu primeiro longa-metragem. Quando soube que este filme seria visto e debatido pelos integrantes de um cineclube formado por pessoas inteligentes e queridas, revolvi rever, antes da sessão, um clássico fulciano que cria possuir vários pontos em contato com ele. De fato, confirmaram-se, mas isso evidenciou ainda mais a fraqueza do roteiro desta obra, tão rápida na apresentação de seus fatos, que desperdiça o ótimo ponto de partida e o elenco com nomes famosos. É tudo rápido demais, superficial demais. Gosto da fotografia super iluminada - que lembra as produções da Ozploitation - e curto alguns breves momentos (a condução das situações que explicam o trauma da sobrevivente encontrada na cena inicial, por exemplo). Mas, como sói acontecer em 'slasher movies', desgosto de como a tese do "assassinato por procuração" serve para que eliminemos desejosamente personagens que se associam a comportamentos preconceituosos ou desagradáveis. Diverte, ao menos. Mas poderia ir beeeeeeeem mais longe! (WPC>)
Zombie: A Volta dos Mortos
3.7 181A cada novo contato, melhor fica: além de eu ser obcecado pelas elaboradas seqüências do Fulci (vide a célebre luta submarina entre o zumbi e o tubarão, as câmeras subjetivas dos conquistadores espanhóis renascidos, as situações de morte), surpreendi-me ao percebi críticas coloniais impressionantes no roteiro. O desenvolvimento dos personagens é vago, mas não as situações em que eles se envolvem. Fotografia impressionante, bem como o suo inventivo da trilha musical. Desfecho pessimista de alto calibre. Clássico! (WPC>)
A Morte nos Sonhos
3.2 55 Assista Agora'Cult' discreto da década em que eu nasci, que explora ao máximo o 'sex appeal' do jovem Dennis Quaid, mostrado seminu em diversas oportunidades. Os efeitos visuais são interessantes e a narrativa tem um ótimo ponto de partida, mas, quanto o enredo mergulha de vez no suspense político, não me empolgou tanto (ao contrário de minha mãe, ao meu lado, que torcia euforicamente pelo presidente). O elenco é primoroso e a equipe envolvida no filme tornar-se-ia deveras relevante naquele período. Vale a pena ser conhecido, portanto: é um preâmbulo gostoso de uma época! (WPC>)