Não tem como não ficar encantado pelos filmes deste grande mestre: por mais que, às vezes, parece que ele se deixou influenciar pelo saudoso Satoshi Kon (na perspectiva onírica), a lógica miyazakiana é facilmente reconhecível: aqui, ao invés das típicas meninas de doze anos, temos um menino. Nos diálogos, a maldade é explicitamente citada, mais de uma vez. E a pletora de animais e situações sobrenaturais/mágicas parece relacionada, de maneira direta, a um delírio convalescente do protagonista, que se recupera de uma ferida auto-infligida na cabeça. Há diferenças mui perceptíveis em relação aos filmes anteriores, portanto. Mas o charme habitual explode em imagens belíssimas, na trilha musical inebriante de Joe Hisaishi e num roteiro que se desenvolve de maneira tão lenta quanto fascinante, em que somos surpreendidos por novas informações e contextos a cada dez minutos. Como não amar, portanto? Não está entre os meus favoritos do diretor, mas ele acostumou-nos a escalas tão altas, que revela-se um filme extraordinário, portanto! (WPC>)
Já assisti à regravação mais de uma vez, porém o charme da descoberta desta versão original é impactante: as interpretações são ótimas e mui expressivas, bem como o uso indicial dos objetos. Aquela bicicleta, por exemplo, é um personagem tão presente quanto o próprio Shinkichi! Em sentido formal, Ozu antecipa procedimentos antonionianos, aqui, mas em viés oposto, já que ele acredita e fomenta a comunicabilidade entre os personagens. Ainda que só tenhamos acesso a este filmaço em versão completamente silenciosa, sem acompanhamento musical, a trama é tão bem contada e tão direta que logo estamos apaixonados por todos os envolvidos, torcendo para eles estejam bem, em seu percurso similar às ervas do título: a fotografia e os enquadramentos são sublimes! (WPC>)
Não sei se, em comunhão com o outro episódio do longa-metragem, o filme faz mais sentido em sua denúncia cínica. Admiro a relevância histórica do filme, mas o discurso é problemático, em sua lógica da inveja de classe: é como se, ao final, o ranço do personagem só fizesse sentido porque ele foi pego, não porque discorda dos "granjestes". Gostei dos flertes com a ficção científica - a ponto de alguns cinéfilos notarem antecipações temáticas em relação a CORRA! - mas a coadjuvação do personagem Magrão cria outra emenda discursiva que merece debate: comigo, infelizmente, não funcionou. A Dialética da Malandragem, aqui, está pouco dialética (ao menos, num primeiro contato)! :( - WPC>
Apesar de a publicidade do filme destacar a filiação do diretor à Escola de Berlim e de o material de divulgação alegar que há algo de fassbinderiano na trama, as referências que pude identificar na trama são MÁQUINA MORTÍFERA e O PAGAMENTO FINAL, com as devidas oposições estilísticas, claro. Trata-se de um filme que adere à narrativa policialesca clássica - um tanto 'noir', conforme notaram alguns exegetas - , mas com largas aberturas às reflexões sobre os preconceitos e desconfianças enfrentados pelas pessoas transexuais. Neste sentido, a personificação de Thea Eher é mui elogiável e aplaudível, mas há algo de incomodamente afetado na interpretação de Timocin Ziegler, o que tem a ver com as dúvidas de seu personagem. A narrativa é afobada, na maneira como os personagens se conhecem e se aproximam, e o desfecho é antecipado dialogisticamente, em mais de um instante. O que tem menos a ver com previsibilidade que com tragicidade, com um determinismo associado ás convenções do gênero - e/ou de gênero, já que as rusgas entre homens e mulheres são reiteradas através das insatisfações dos dois casais observados pelo roteiro. Gosto do uso das baladas cancionais e da condução entretenedora, de modo que nem sentimos a duração um tanto prolongada. Não inova muito, mas é uma atualização tipicamente alemã de tramas reconhecidamente hollywoodianas. Curti! (WPC>)
Tinha visto apenas curtas-metragens do diretor e não sabia direito o que encontraria aqui: fiquei apaixonado pelo frenesi do protagonista, pela direção que faz jus ao que conhecemos como 'mise-en-scène', pelo uso expressivo dos mecanismos internos de um relógio (da mesma forma forma que ocorre no contemporâneo AGITAÇÃO) e pela musicalidade onipresente. Um filmaço que, após a revisão, será ainda mais reconhecido em seu brilhantismo. Preciso conhecer mais desse diretor: extraordinário, gênio das posições humanas em cena. Incrível! (WPC>)
Desde que li este titulo genial pela primeira vez, fiquei obcecado para conhecer o cinema de Rosa von Praunheim - e o achei ainda melhor do que esperava: a narrativa é propositalmente monótona, mas o estilo de docudrama antecipa situações que, ainda hoje, cinqüenta anos após a sua realização, prosseguem dolorosamente atuais: é um filme que antecipa as questões referentes ao 'pink money', à assimilação capitalista/burguesa dos comportamentos homossexuais heteronormativos e de uma competividade burra entre amantes que poderiam se unir através da comunhão política. Neste sentido, os conselhos que surgem na suruba final merecem ser aplaudidos de pé. Absolutamente magistral: obra-prima em tom de manifesto, que reverei ao longo de toda a minha vida futura. Soberbo! (WPC>)
Antes da sessão, um amigo desejou-me sorte no "enfrentamento do sofrimento". Por mais que algo tenha me divertido na sinopse e que o início parecesse promissor, logo entendi o que ele quis dizer: enquanto via o filme, repetia comigo que ele era um forte candidato ao titulo de pior produção cinematográfica que vi na vida. Passado algum tempo, talvez não seja para tanto: é péssimo, nada se aproveita, mas, ao menos, ganha alguma consideração póstuma pelo fato de ser o derradeiro trabalho de Cléber Colombo e por Tony Lee divertir-se nas suas duas interpretações. Mas é um filme péssimo, repito (e é importante que isso ocorra): não há um infinitésimo da mesma desenvoltura temática das produções de Cheech & Chong (para citar um exemplo congênere), além de ser vexatório o desenvolvimento (ou melhor, a falta de) no personagem de Daniel Rocha. Um horror, que, ao contrário das obras de Hálder Gomes, não parece respeitar as obras que finge reverenciar (no caso, os 'wuxia pian' ou os filmes de pancadaria). Odiável, infelizmente! (WPC>)
Adentrei a sessão atravessado por dois grupos de reações de amigos: de um lado, os críticos e/ou profissionais de cinema, que se chatearam pelo convencionalismo biográfico e elas generalizações estereotipificantes do roteiro do bolsonarista Paulo Cursino; do outro, pessoas que se identificaram intimamente com a história de amor entre mãe e filho. Fiquei no meio-termo, portanto, quanto à minha própria reação: vi o filme com minha mãe e notei diversas semelhanças entre o que era mostrado na tela e a minha própria infância. E apreciei a leveza (ainda que rasteira) com que é apresentada a juventude do personagem-título. O problema é quando ele é contratado pela TV Globo, de modo que, daí por diante, a empresa produtora passa a contar mais a história da emissora que a do próprio humorista. Seja como for, gostei de como a história é contada, das interpretações sinceras ou crentes (mesmo que histriônicas, como a do Ailton Graça) e de reconhecer eventos que marcaram o meu crescimento demarcado pelo acompanhamento a várias produções midiáticas. Senti falta de uma exposição ostensiva dos anos em que se passavam os eventos e, obviamente, não há menções à conjuntura militar. O enredo investe em impulsionamentos emocionais deveras "higienizados", em que os adultérios do biografado são ignorados, por exemplo. O relacionamento com os demais Trapalhões é abordado de maneira célere e a presença de Felipe Rocha, como Dedé Santana, corresponde aos instantes menos autênticos do filme, que cresce muito quando Cacau Protásio e Neusa Borges comparecem, ambas inspiradíssimas. Dentro do subgênero, até que eu curti: defendo com fervor que filmes como este sejam realizados, no sentido de que os brasileiros precisam ver as vidas de seus artistas recontadas nas telas, não obstante isso dizer mais sobre as intenções de quem produz os filmes que sobre os biografados em si. Malgrado ter atribuído uma cotação modesta, estou entre os defensores da obra: a conversa com a minha mãe, após a sessão, foi magistral! (WPC>)
Descobri, estupefato, que possuía dois DVDs deste filme, em meu acervo. Como tal, obriguei-me a conferi-lo de imediato, mesmo que algo no cartaz e na sinopse não chamasse tanto a atenção, visto que se trata de uma produção de propaganda pró-participação da Inglaterra na II Guerra Mundial, realizada quase dez anos após o término do conflito. A despeito de isso ser confirmado, trata-se de uma produção simpática, com boa participação de Alec Guiness como um personagem secundário que se assume como protagonista. Ainda que santifique ou infantilize os sobreviventes malteses, o roteiro os dignifica, em seqüências tão breves e bonitas de confiança nos bons sentimentos, no apoio em situações difíceis. O romance entre Ross e Maria corresponde aos melhores momentos do filme, tornando o clímax trágico ainda mais dramático. Porém, o intuito geral é elogiar a intervenção dos britânicos na sofrida ilha, louvando o seu heroísmo. Convencional, claro, mas gracioso em diversos aspectos, bom de ser assistido! (WPC>)
Assisti a este curta-metragem depois de ler "O Diário de Anne Frank" e de saber que o filme foi proibido em algumas escolas norte-americanas. A listagem é preocupante e "explicável" pelo ideário progressivamente conservador e censurador da lógica protetoral da extrema-direita. A diretora serve de poderosos testemunhos (principalmente infantis) para demonstrar o quão preparadas estão as novas gerações para compreender as questões associadas ao que chamam de identitarismo. Gosto muito do posicionamento da cidadã centenária, no inicio, mas não expor as razões dos censuradores, pois "suas vozes já foram ouvidas", pareceu-me uma estratégia pouco funcional, para quem não sabe em quais contextos os banimentos ocorreram. É um filme, portanto, que serve muito mais pela exposição temática que pela condução em si, mas que impulsiona um necessário debate. Isso importa! (WPC>)
O título brasileiro, bem como parte da publicidade destinada ao público infantil, fez com que eu esperasse algo muito diferente do que eu encontrei, de modo que, imediatamente após a sessão, era como se eu não tivesse gostado tanto do filme. Passado algum tempo, e em debate com alguns amigos, é que pude ruminar a inteligência da proposta, que aproveita de maneira sagaz o título original, havendo diversas seqüências onírico-robóticas, que abrem espaço para interpretações comportamentalmente homoeróticas da narrativa. É um roteiro muito mais complexo do que propõe a partir da sinopse e possui um desfecho impactante, naquilo que emula, na assunção de sua temática adulta e metafórica. Admito, ainda sob as expectativas anteriores, que o filme talvez tenha se estendido bastante em seu miolo compensatório, além de possuir algumas "inverossimilhanças" (pode-se requerer isso numa animação?), como as questões referentes ao descuido com os efeitos da maresia sobre o robô, ao longo de um ano, por exemplo. Isso faz com que a lógica de feitura seja igualmente problematizada, ao menos em dois aspectos: o primeiro referente à alegação de que seria um filme "sem diálogos", quando há franca dependência das informações por escrito (em inglês); o segundo, concernente ao fato de que, infelizmente, há pouca conversa entre os personagens/amantes, de modo que a ausência de diálogo aparece como lacuna estrutural. Mas essa é justamente o verdadeiro tema do filme, não? Trata-se de uma obra que cresce muito após a sessão, que merece debate e recomendação, e que possui questões muitíssimo adultas em suas entrelinhas. Sei se que se trata de uma adaptação literária e que, por conta disso, a ambientação em Nova York, na década de 1970, é justificada, mas isso incomodou-me um pouco, ainda que eu tenha adorado a pletora de referências cinefílicas (o jogo de "câmeras" à la PSICOSE, o pôster do longa-metragem de Pierre Étaix, na sala do protagonista, as brincadeiras com O MÁGICO DE OZ, sob a égide do World Trade Center...). Voltarei a este filme, eis uma certeza - de maneira intimamente traumatizada, inclusive, pois ele questiona o próprio conceito de solidão: às vezes, ela não seria induzida pelas más escolhas? Aquele cachorro talvez seja mais tóxico que vítima, não é não? Refletiremos... (WPC>)
Estava com saudade de assistir a uma produção efetivamente esquisita, encontrei bastante "aconchego" quanto a este anseio. Mas não em relação à imersão espectatorial (risos): a trama é até simples, mas o diretor opta pela maneira mais complicada de narrá-la. Há inspirações evidentemente caligarianas e um elenco de luxo, em interpretações discretas porém marcantes, na maneira como se entregam às bizarrices das situações. Gosto do clima solene dos encontros, e da ameaça perene que circunda os personagens. Mas tenho que admitir que a extrema lentidão nos asfixia, em mais de um sentido. Como bem disseram abaixo, é um filme que requer revisão, sim, senhor: 'cult', sem sobra de dúvida! (WPC>)
Sabia que era péssimo, mas resolvi arriscar mesmo assim, pois acho importante ver alguns filmes ruins, de vez em quando... Só não esperava encontrar um drama de múltiplas perspectivas, à la REQUIÉM PARA UM SONHO, ainda mais moralista. Pensei que fosse um filme de terror e, nalguma perspectiva, talvez seja mesmo: o diretor creu que poderia interpretar um adolescente, e, apesar de seu esforço, tanto a sua como as demais interpretações são pouco convincentes. Os personagens são todos passivos-agressivos e a montagem pretensamente "alucinógena" é sub-expressiva. Mas, depois que superamos a modorra inicial, o filme até que fica suportável, minimamente divertido, incorrendo num desfecho canhestro, em sua obsessão por parecer chocante, por trazer à tona uma enorme reviravolta. Tive o que esperava, portanto: faz parte! (WPC>)
Esplêndido reaproveitamento de um maravilhoso material de arquivo, onde testemunhamos o surgimento e o (re)encontro de vários gênios (e privilegiados) em encontros repletos de vida e arte, de imersão expressiva e de diversão estendida. Nem sempre se consegue ouvir a ótima narração do Fausto Fawcett, mas é um delicioso exercício reconhecer e compreender a importância cultural e artística de quem aparece na tela: amei o detalhe metalingüístico do comentário sobre o próprio trabalho do Ivan Cardoso! (risos) - WPC>
A despeito do que é anunciado no título, nem todo mundo ama Jeanne: é difícil para nós também, no início, aliás. Há algo de aburguesado na composição da personagem (uma pesquisadora ambiental cujo ambicioso projeto fracassa) e o ritmo do filme é intencionalmente monocórdico, quase anticlimático, o que é mantido até o desfecho. Mas, paradoxalmente, é justamente isso que vai erigindo algum fascínio, após o término da sessão: à medida que as lembranças cinematográficas vão se sedimentando, direcionamos uma simpatia tardia à protagonista, que, em vista do que ela passou com a sua mãe (a enorme Marthe Keller, em participação avantesmática), merece ser compreendida, em sua confusão psíquica, em sua dificuldade de admitir os sentimentos. O elenco é muito bom e a diretora foi hábil ao assumir o tom progressivo de comédia romântica, mas sem aderir aos clichês dominantes no subgênero. É um filme simpático, portanto: sem expectativas, funciona. As barulhentas animações da consciência de Jeanne são irritantes no começo, mas logo demonstram-se divertidas! (WPC>)
O tema é muito interessante e as histórias de vidas dos candidatos a empréstimos são ótimas, mas a estrutura do documentário é jornalística em excesso, técnica, fria, pouco interessante em âmbito estilístico. Como tal, por mais que torçamos por aqueles personagens reais e que aprendamos algo - humanisticamente, inclusive - com todo o processo relatado, é um filme que não empolga, que pode ser confundido com uma reportagem da New Yorker, conforme crédito produtivo. Fiquei muito interessado em saber mais sobre o assunto, mas o produto aqui derivado não funciona tanto... Infelizmente! (WPC>)
Antes de assistir a este curta-metragem, descobri que trata-se de um projeto trifásico do diretor, que está preparando o seu primeiro curta-metragem. Achei o mote tramático-ensaístico muito bonito e fiquei encantado pela 'joie de vivre' da velhinha japonesa que relembra com orgulho as suas pesquisas com lepidópteros e a amizade com a avó do realizador, que migrara do Japão para o Brasil, onde encantou-se pela nação que a acolheu. A fotografia paisagística é belíssima e há elementos que remetes aos primeiros trabalhos de Naomi Kawase. Deveras gracioso! (WPC>)
Depois de, em tom de brincadeira, eu ter experimentado um charuto pela primeira vez, este filme apareceu para mim, como dica de exibição - e, além de ser uma descoberta coincidente, foi também muito divertida. Ri com as situações absurdas (alguém até brincou "não seria um cigarrinho alucinógeno?"), enquanto minha mãe, ao meu lado na sessão, estranhava as traquinagens das fadinhas safadinhas, que chegam mesmo a levantar a parte de trás da saia para o fumante. Considerado o ano de produção, achei as trucagens inovadoras. E as situações hilárias, ainda que estapafúrdias, como o próprio ato de fumar (risos) - WPC>
Que gratíssima surpresa, que filme maravilhosamente dirigido! Não fica a dever aos clássicos da Nouvelle Vague Taiwanesa, parecendo citar ADEUS AO SUL muitas vezes: o modo como a violência familiar surge em meio a diálogos inicialmente brandos, os enquadramentos longos e frontais, a câmera seguindo o protagonista em meio às escadarias apertadas... Gosto muito da mudança de tom que ocorre com a entrada em cena de Long. Amei os números musicais (oh, o poder reconciliador do karaokê!), a montagem elíptica, a narrativa que precisa de tempo para que compreendamos as situações... e a possibilidade de um final feliz, através da aceitação do fluxo. Incrivelmente bom: não esperava, fui arrebatado! (WPC>)
Um curta-metragem sobre avós que me encantou pela leveza, pela comunhão entre ambas as mulheres, no que tange ao reconhecimento de uma família escolhida pela contingência matrimonial de outrem. Ótima montagem e depoimentos mui graciosos. Fofinho! (WPC>)
Queria ter gostado mais, bem mais, deste filme. A protagonista é suprema e atriz que a interpreta faz jus ao seu brilho, mas o discurso central é problemático, dado que o realizador não consegue esconder a sua misantropia, a sua descrença na humanidade. E, como tal, apesar de seu papel central e de seu extremo fascínio, a perspectiva da narração não pertence a Bella Baxter: ela é observada por alguém que parece ter visão telescópica, numa posição teológica ainda mais vaidosa que a do próprio Godwin. A fala do gigolô vivido por Jerrod Carmichael foi fundamental na percepção deste anti-humanismo, felizmente contrabalançado pela entrada em cena da maravilhosa prostituta comunista vivida por Suzy Bemba. O desfecho é quase um plágio de MONSTROS, do Tod Browning, evidenciando um problema no feminismo: como ser feminista sem ser humanista? (o fato de isso provir de um homem é um capítulo à parte). Tecnicamente, entretanto, o filme é supremo: a trilha musical é suprema e a direção de fotografia é acachapante. Mas as aparições de Mark Ruffalo beiram o constrangedor, em sua demonstração estereotipada (e verossímil, infelizmente) do quão ignóbil é um macho ciumento e hipócrita em seu liberalismo. A sala de cinema em que eu vi o filme estava lotada e aplaudiram e reagiram com euforia em diversas seqüências. Fiquei muito feliz por isso. Portanto, mesmo que eu não tenha gostado tanto do filme, o defenderei e o recomendarei efusivamente: se ainda se provoca polêmica ao se falar sobre ou mostrar situações de sexo e/ou masturbação, que o óbvio seja levado às telas, preferencialmente numa defesa actancial tão cheia de vida e vontade de conhecimento e maturação quanto a de Emma Stone. Amei a breve participação de Hanna Schygulla e fiquei apaixonado pela complexidade no desenvolvimento do personagem de Willem Defoe. Imperfeito, mas muito bonito! Apesar da colcha de retalhos referenciais (tem tanto de A BELA DA TARDE LARANJA MECÂNICA e tantos outros filmes ali!). Que surjam mais provocações hollywoodianas como esta! (WPC>)
Dos filmes que eu vi com a Carmen Miranda, acho que é o que ela tem mais tempo válido em cena, para além das canções. Por não ser tão musical quanto os demais, a "pequena notável" brilha em instantes cômicos, ainda que sumamente estereotipados. O personagem de Phil Silvers é ainda mais estereotipado que ele, por vezes beirando o insuportável. E o roteiro força a barra para tornar o romance entre Vivian Blaine e Michael O'Shea plausível e defensável, em meio a tanto machismo, a tanto racismo subjacente... Quando a trama adere aos exercícios de guerra, fica ainda mais problemático, Mas é um filme simpático e entretenedor. Deu vontade de revê-lo, após a sessão - devidamente acompanhado, claro! (WPC>)
Aqui, infelizmente, não consegui mergulhar a proposta... Por algum motivo, reagi de maneira "purista", não consegui me divertir com as múltiplas manipulações a partir de imagens de ERA UMA VEZ NO OESTE. Preciso rever o curta-metragem? Preciso estudar mais sobre as intenções tscherkasskianas? Tudo indica que sim. Por ora, fica a minha apreciação apenas mediana. (WPC>)
O Menino e a Garça
4.0 217Não tem como não ficar encantado pelos filmes deste grande mestre: por mais que, às vezes, parece que ele se deixou influenciar pelo saudoso Satoshi Kon (na perspectiva onírica), a lógica miyazakiana é facilmente reconhecível: aqui, ao invés das típicas meninas de doze anos, temos um menino. Nos diálogos, a maldade é explicitamente citada, mais de uma vez. E a pletora de animais e situações sobrenaturais/mágicas parece relacionada, de maneira direta, a um delírio convalescente do protagonista, que se recupera de uma ferida auto-infligida na cabeça. Há diferenças mui perceptíveis em relação aos filmes anteriores, portanto. Mas o charme habitual explode em imagens belíssimas, na trilha musical inebriante de Joe Hisaishi e num roteiro que se desenvolve de maneira tão lenta quanto fascinante, em que somos surpreendidos por novas informações e contextos a cada dez minutos. Como não amar, portanto? Não está entre os meus favoritos do diretor, mas ele acostumou-nos a escalas tão altas, que revela-se um filme extraordinário, portanto! (WPC>)
Uma História de Ervas Flutuantes
4.0 4Já assisti à regravação mais de uma vez, porém o charme da descoberta desta versão original é impactante: as interpretações são ótimas e mui expressivas, bem como o uso indicial dos objetos. Aquela bicicleta, por exemplo, é um personagem tão presente quanto o próprio Shinkichi! Em sentido formal, Ozu antecipa procedimentos antonionianos, aqui, mas em viés oposto, já que ele acredita e fomenta a comunicabilidade entre os personagens. Ainda que só tenhamos acesso a este filmaço em versão completamente silenciosa, sem acompanhamento musical, a trama é tão bem contada e tão direta que logo estamos apaixonados por todos os envolvidos, torcendo para eles estejam bem, em seu percurso similar às ervas do título: a fotografia e os enquadramentos são sublimes! (WPC>)
Vida Nova... Por Acaso
3.6 1Não sei se, em comunhão com o outro episódio do longa-metragem, o filme faz mais sentido em sua denúncia cínica. Admiro a relevância histórica do filme, mas o discurso é problemático, em sua lógica da inveja de classe: é como se, ao final, o ranço do personagem só fizesse sentido porque ele foi pego, não porque discorda dos "granjestes". Gostei dos flertes com a ficção científica - a ponto de alguns cinéfilos notarem antecipações temáticas em relação a CORRA! - mas a coadjuvação do personagem Magrão cria outra emenda discursiva que merece debate: comigo, infelizmente, não funcionou. A Dialética da Malandragem, aqui, está pouco dialética (ao menos, num primeiro contato)! :( - WPC>
Até o Cair da Noite
3.0 2 Assista AgoraApesar de a publicidade do filme destacar a filiação do diretor à Escola de Berlim e de o material de divulgação alegar que há algo de fassbinderiano na trama, as referências que pude identificar na trama são MÁQUINA MORTÍFERA e O PAGAMENTO FINAL, com as devidas oposições estilísticas, claro. Trata-se de um filme que adere à narrativa policialesca clássica - um tanto 'noir', conforme notaram alguns exegetas - , mas com largas aberturas às reflexões sobre os preconceitos e desconfianças enfrentados pelas pessoas transexuais. Neste sentido, a personificação de Thea Eher é mui elogiável e aplaudível, mas há algo de incomodamente afetado na interpretação de Timocin Ziegler, o que tem a ver com as dúvidas de seu personagem. A narrativa é afobada, na maneira como os personagens se conhecem e se aproximam, e o desfecho é antecipado dialogisticamente, em mais de um instante. O que tem menos a ver com previsibilidade que com tragicidade, com um determinismo associado ás convenções do gênero - e/ou de gênero, já que as rusgas entre homens e mulheres são reiteradas através das insatisfações dos dois casais observados pelo roteiro. Gosto do uso das baladas cancionais e da condução entretenedora, de modo que nem sentimos a duração um tanto prolongada. Não inova muito, mas é uma atualização tipicamente alemã de tramas reconhecidamente hollywoodianas. Curti! (WPC>)
Era Uma Vez Um Melro Cantor
3.9 4Tinha visto apenas curtas-metragens do diretor e não sabia direito o que encontraria aqui: fiquei apaixonado pelo frenesi do protagonista, pela direção que faz jus ao que conhecemos como 'mise-en-scène', pelo uso expressivo dos mecanismos internos de um relógio (da mesma forma forma que ocorre no contemporâneo AGITAÇÃO) e pela musicalidade onipresente. Um filmaço que, após a revisão, será ainda mais reconhecido em seu brilhantismo. Preciso conhecer mais desse diretor: extraordinário, gênio das posições humanas em cena. Incrível! (WPC>)
Não é o Homossexual que é Perverso, mas a Situação …
4.1 46Desde que li este titulo genial pela primeira vez, fiquei obcecado para conhecer o cinema de Rosa von Praunheim - e o achei ainda melhor do que esperava: a narrativa é propositalmente monótona, mas o estilo de docudrama antecipa situações que, ainda hoje, cinqüenta anos após a sua realização, prosseguem dolorosamente atuais: é um filme que antecipa as questões referentes ao 'pink money', à assimilação capitalista/burguesa dos comportamentos homossexuais heteronormativos e de uma competividade burra entre amantes que poderiam se unir através da comunhão política. Neste sentido, os conselhos que surgem na suruba final merecem ser aplaudidos de pé. Absolutamente magistral: obra-prima em tom de manifesto, que reverei ao longo de toda a minha vida futura. Soberbo! (WPC>)
O Mestre da Fumaça
2.7 10 Assista AgoraAntes da sessão, um amigo desejou-me sorte no "enfrentamento do sofrimento". Por mais que algo tenha me divertido na sinopse e que o início parecesse promissor, logo entendi o que ele quis dizer: enquanto via o filme, repetia comigo que ele era um forte candidato ao titulo de pior produção cinematográfica que vi na vida. Passado algum tempo, talvez não seja para tanto: é péssimo, nada se aproveita, mas, ao menos, ganha alguma consideração póstuma pelo fato de ser o derradeiro trabalho de Cléber Colombo e por Tony Lee divertir-se nas suas duas interpretações. Mas é um filme péssimo, repito (e é importante que isso ocorra): não há um infinitésimo da mesma desenvoltura temática das produções de Cheech & Chong (para citar um exemplo congênere), além de ser vexatório o desenvolvimento (ou melhor, a falta de) no personagem de Daniel Rocha. Um horror, que, ao contrário das obras de Hálder Gomes, não parece respeitar as obras que finge reverenciar (no caso, os 'wuxia pian' ou os filmes de pancadaria). Odiável, infelizmente! (WPC>)
Mussum: O Filmis
3.7 166 Assista AgoraAdentrei a sessão atravessado por dois grupos de reações de amigos: de um lado, os críticos e/ou profissionais de cinema, que se chatearam pelo convencionalismo biográfico e elas generalizações estereotipificantes do roteiro do bolsonarista Paulo Cursino; do outro, pessoas que se identificaram intimamente com a história de amor entre mãe e filho. Fiquei no meio-termo, portanto, quanto à minha própria reação: vi o filme com minha mãe e notei diversas semelhanças entre o que era mostrado na tela e a minha própria infância. E apreciei a leveza (ainda que rasteira) com que é apresentada a juventude do personagem-título. O problema é quando ele é contratado pela TV Globo, de modo que, daí por diante, a empresa produtora passa a contar mais a história da emissora que a do próprio humorista. Seja como for, gostei de como a história é contada, das interpretações sinceras ou crentes (mesmo que histriônicas, como a do Ailton Graça) e de reconhecer eventos que marcaram o meu crescimento demarcado pelo acompanhamento a várias produções midiáticas. Senti falta de uma exposição ostensiva dos anos em que se passavam os eventos e, obviamente, não há menções à conjuntura militar. O enredo investe em impulsionamentos emocionais deveras "higienizados", em que os adultérios do biografado são ignorados, por exemplo. O relacionamento com os demais Trapalhões é abordado de maneira célere e a presença de Felipe Rocha, como Dedé Santana, corresponde aos instantes menos autênticos do filme, que cresce muito quando Cacau Protásio e Neusa Borges comparecem, ambas inspiradíssimas. Dentro do subgênero, até que eu curti: defendo com fervor que filmes como este sejam realizados, no sentido de que os brasileiros precisam ver as vidas de seus artistas recontadas nas telas, não obstante isso dizer mais sobre as intenções de quem produz os filmes que sobre os biografados em si. Malgrado ter atribuído uma cotação modesta, estou entre os defensores da obra: a conversa com a minha mãe, após a sessão, foi magistral! (WPC>)
Heróis de Malta
3.7 1Descobri, estupefato, que possuía dois DVDs deste filme, em meu acervo. Como tal, obriguei-me a conferi-lo de imediato, mesmo que algo no cartaz e na sinopse não chamasse tanto a atenção, visto que se trata de uma produção de propaganda pró-participação da Inglaterra na II Guerra Mundial, realizada quase dez anos após o término do conflito. A despeito de isso ser confirmado, trata-se de uma produção simpática, com boa participação de Alec Guiness como um personagem secundário que se assume como protagonista. Ainda que santifique ou infantilize os sobreviventes malteses, o roteiro os dignifica, em seqüências tão breves e bonitas de confiança nos bons sentimentos, no apoio em situações difíceis. O romance entre Ross e Maria corresponde aos melhores momentos do filme, tornando o clímax trágico ainda mais dramático. Porém, o intuito geral é elogiar a intervenção dos britânicos na sofrida ilha, louvando o seu heroísmo. Convencional, claro, mas gracioso em diversos aspectos, bom de ser assistido! (WPC>)
O ABC da Proibição de Livros
3.6 30Assisti a este curta-metragem depois de ler "O Diário de Anne Frank" e de saber que o filme foi proibido em algumas escolas norte-americanas. A listagem é preocupante e "explicável" pelo ideário progressivamente conservador e censurador da lógica protetoral da extrema-direita. A diretora serve de poderosos testemunhos (principalmente infantis) para demonstrar o quão preparadas estão as novas gerações para compreender as questões associadas ao que chamam de identitarismo. Gosto muito do posicionamento da cidadã centenária, no inicio, mas não expor as razões dos censuradores, pois "suas vozes já foram ouvidas", pareceu-me uma estratégia pouco funcional, para quem não sabe em quais contextos os banimentos ocorreram. É um filme, portanto, que serve muito mais pela exposição temática que pela condução em si, mas que impulsiona um necessário debate. Isso importa! (WPC>)
Meu Amigo Robô
4.0 84O título brasileiro, bem como parte da publicidade destinada ao público infantil, fez com que eu esperasse algo muito diferente do que eu encontrei, de modo que, imediatamente após a sessão, era como se eu não tivesse gostado tanto do filme. Passado algum tempo, e em debate com alguns amigos, é que pude ruminar a inteligência da proposta, que aproveita de maneira sagaz o título original, havendo diversas seqüências onírico-robóticas, que abrem espaço para interpretações comportamentalmente homoeróticas da narrativa. É um roteiro muito mais complexo do que propõe a partir da sinopse e possui um desfecho impactante, naquilo que emula, na assunção de sua temática adulta e metafórica. Admito, ainda sob as expectativas anteriores, que o filme talvez tenha se estendido bastante em seu miolo compensatório, além de possuir algumas "inverossimilhanças" (pode-se requerer isso numa animação?), como as questões referentes ao descuido com os efeitos da maresia sobre o robô, ao longo de um ano, por exemplo. Isso faz com que a lógica de feitura seja igualmente problematizada, ao menos em dois aspectos: o primeiro referente à alegação de que seria um filme "sem diálogos", quando há franca dependência das informações por escrito (em inglês); o segundo, concernente ao fato de que, infelizmente, há pouca conversa entre os personagens/amantes, de modo que a ausência de diálogo aparece como lacuna estrutural. Mas essa é justamente o verdadeiro tema do filme, não? Trata-se de uma obra que cresce muito após a sessão, que merece debate e recomendação, e que possui questões muitíssimo adultas em suas entrelinhas. Sei se que se trata de uma adaptação literária e que, por conta disso, a ambientação em Nova York, na década de 1970, é justificada, mas isso incomodou-me um pouco, ainda que eu tenha adorado a pletora de referências cinefílicas (o jogo de "câmeras" à la PSICOSE, o pôster do longa-metragem de Pierre Étaix, na sala do protagonista, as brincadeiras com O MÁGICO DE OZ, sob a égide do World Trade Center...). Voltarei a este filme, eis uma certeza - de maneira intimamente traumatizada, inclusive, pois ele questiona o próprio conceito de solidão: às vezes, ela não seria induzida pelas más escolhas? Aquele cachorro talvez seja mais tóxico que vítima, não é não? Refletiremos... (WPC>)
O Estranho Poder de Matar
3.2 24Estava com saudade de assistir a uma produção efetivamente esquisita, encontrei bastante "aconchego" quanto a este anseio. Mas não em relação à imersão espectatorial (risos): a trama é até simples, mas o diretor opta pela maneira mais complicada de narrá-la. Há inspirações evidentemente caligarianas e um elenco de luxo, em interpretações discretas porém marcantes, na maneira como se entregam às bizarrices das situações. Gosto do clima solene dos encontros, e da ameaça perene que circunda os personagens. Mas tenho que admitir que a extrema lentidão nos asfixia, em mais de um sentido. Como bem disseram abaixo, é um filme que requer revisão, sim, senhor: 'cult', sem sobra de dúvida! (WPC>)
Viagem Suícida
2.4 12 Assista AgoraSabia que era péssimo, mas resolvi arriscar mesmo assim, pois acho importante ver alguns filmes ruins, de vez em quando... Só não esperava encontrar um drama de múltiplas perspectivas, à la REQUIÉM PARA UM SONHO, ainda mais moralista. Pensei que fosse um filme de terror e, nalguma perspectiva, talvez seja mesmo: o diretor creu que poderia interpretar um adolescente, e, apesar de seu esforço, tanto a sua como as demais interpretações são pouco convincentes. Os personagens são todos passivos-agressivos e a montagem pretensamente "alucinógena" é sub-expressiva. Mas, depois que superamos a modorra inicial, o filme até que fica suportável, minimamente divertido, incorrendo num desfecho canhestro, em sua obsessão por parecer chocante, por trazer à tona uma enorme reviravolta. Tive o que esperava, portanto: faz parte! (WPC>)
Heliorama
3.7 2Esplêndido reaproveitamento de um maravilhoso material de arquivo, onde testemunhamos o surgimento e o (re)encontro de vários gênios (e privilegiados) em encontros repletos de vida e arte, de imersão expressiva e de diversão estendida. Nem sempre se consegue ouvir a ótima narração do Fausto Fawcett, mas é um delicioso exercício reconhecer e compreender a importância cultural e artística de quem aparece na tela: amei o detalhe metalingüístico do comentário sobre o próprio trabalho do Ivan Cardoso! (risos) - WPC>
Todo Mundo Ama Jeanne
3.4 2A despeito do que é anunciado no título, nem todo mundo ama Jeanne: é difícil para nós também, no início, aliás. Há algo de aburguesado na composição da personagem (uma pesquisadora ambiental cujo ambicioso projeto fracassa) e o ritmo do filme é intencionalmente monocórdico, quase anticlimático, o que é mantido até o desfecho. Mas, paradoxalmente, é justamente isso que vai erigindo algum fascínio, após o término da sessão: à medida que as lembranças cinematográficas vão se sedimentando, direcionamos uma simpatia tardia à protagonista, que, em vista do que ela passou com a sua mãe (a enorme Marthe Keller, em participação avantesmática), merece ser compreendida, em sua confusão psíquica, em sua dificuldade de admitir os sentimentos. O elenco é muito bom e a diretora foi hábil ao assumir o tom progressivo de comédia romântica, mas sem aderir aos clichês dominantes no subgênero. É um filme simpático, portanto: sem expectativas, funciona. As barulhentas animações da consciência de Jeanne são irritantes no começo, mas logo demonstram-se divertidas! (WPC>)
The Barber of Little Rock
3.3 18O tema é muito interessante e as histórias de vidas dos candidatos a empréstimos são ótimas, mas a estrutura do documentário é jornalística em excesso, técnica, fria, pouco interessante em âmbito estilístico. Como tal, por mais que torçamos por aqueles personagens reais e que aprendamos algo - humanisticamente, inclusive - com todo o processo relatado, é um filme que não empolga, que pode ser confundido com uma reportagem da New Yorker, conforme crédito produtivo. Fiquei muito interessado em saber mais sobre o assunto, mas o produto aqui derivado não funciona tanto... Infelizmente! (WPC>)
Kokoro - De Coração a Coração
3.0 1Antes de assistir a este curta-metragem, descobri que trata-se de um projeto trifásico do diretor, que está preparando o seu primeiro curta-metragem. Achei o mote tramático-ensaístico muito bonito e fiquei encantado pela 'joie de vivre' da velhinha japonesa que relembra com orgulho as suas pesquisas com lepidópteros e a amizade com a avó do realizador, que migrara do Japão para o Brasil, onde encantou-se pela nação que a acolheu. A fotografia paisagística é belíssima e há elementos que remetes aos primeiros trabalhos de Naomi Kawase. Deveras gracioso! (WPC>)
Princess Nicotine; or, The Smoke Fairy
4.0 3Depois de, em tom de brincadeira, eu ter experimentado um charuto pela primeira vez, este filme apareceu para mim, como dica de exibição - e, além de ser uma descoberta coincidente, foi também muito divertida. Ri com as situações absurdas (alguém até brincou "não seria um cigarrinho alucinógeno?"), enquanto minha mãe, ao meu lado na sessão, estranhava as traquinagens das fadinhas safadinhas, que chegam mesmo a levantar a parte de trás da saia para o fumante. Considerado o ano de produção, achei as trucagens inovadoras. E as situações hilárias, ainda que estapafúrdias, como o próprio ato de fumar (risos) - WPC>
Moneyboys
3.5 12Que gratíssima surpresa, que filme maravilhosamente dirigido! Não fica a dever aos clássicos da Nouvelle Vague Taiwanesa, parecendo citar ADEUS AO SUL muitas vezes: o modo como a violência familiar surge em meio a diálogos inicialmente brandos, os enquadramentos longos e frontais, a câmera seguindo o protagonista em meio às escadarias apertadas... Gosto muito da mudança de tom que ocorre com a entrada em cena de Long. Amei os números musicais (oh, o poder reconciliador do karaokê!), a montagem elíptica, a narrativa que precisa de tempo para que compreendamos as situações... e a possibilidade de um final feliz, através da aceitação do fluxo. Incrivelmente bom: não esperava, fui arrebatado! (WPC>)
Vovó & Avó
3.7 25 Assista AgoraUm curta-metragem sobre avós que me encantou pela leveza, pela comunhão entre ambas as mulheres, no que tange ao reconhecimento de uma família escolhida pela contingência matrimonial de outrem. Ótima montagem e depoimentos mui graciosos. Fofinho! (WPC>)
Pobres Criaturas
4.1 1,1K Assista AgoraQueria ter gostado mais, bem mais, deste filme. A protagonista é suprema e atriz que a interpreta faz jus ao seu brilho, mas o discurso central é problemático, dado que o realizador não consegue esconder a sua misantropia, a sua descrença na humanidade. E, como tal, apesar de seu papel central e de seu extremo fascínio, a perspectiva da narração não pertence a Bella Baxter: ela é observada por alguém que parece ter visão telescópica, numa posição teológica ainda mais vaidosa que a do próprio Godwin. A fala do gigolô vivido por Jerrod Carmichael foi fundamental na percepção deste anti-humanismo, felizmente contrabalançado pela entrada em cena da maravilhosa prostituta comunista vivida por Suzy Bemba. O desfecho é quase um plágio de MONSTROS, do Tod Browning, evidenciando um problema no feminismo: como ser feminista sem ser humanista? (o fato de isso provir de um homem é um capítulo à parte). Tecnicamente, entretanto, o filme é supremo: a trilha musical é suprema e a direção de fotografia é acachapante. Mas as aparições de Mark Ruffalo beiram o constrangedor, em sua demonstração estereotipada (e verossímil, infelizmente) do quão ignóbil é um macho ciumento e hipócrita em seu liberalismo. A sala de cinema em que eu vi o filme estava lotada e aplaudiram e reagiram com euforia em diversas seqüências. Fiquei muito feliz por isso. Portanto, mesmo que eu não tenha gostado tanto do filme, o defenderei e o recomendarei efusivamente: se ainda se provoca polêmica ao se falar sobre ou mostrar situações de sexo e/ou masturbação, que o óbvio seja levado às telas, preferencialmente numa defesa actancial tão cheia de vida e vontade de conhecimento e maturação quanto a de Emma Stone. Amei a breve participação de Hanna Schygulla e fiquei apaixonado pela complexidade no desenvolvimento do personagem de Willem Defoe. Imperfeito, mas muito bonito! Apesar da colcha de retalhos referenciais (tem tanto de A BELA DA TARDE LARANJA MECÂNICA e tantos outros filmes ali!). Que surjam mais provocações hollywoodianas como esta! (WPC>)
Alegria, Rapazes!
3.6 17Dos filmes que eu vi com a Carmen Miranda, acho que é o que ela tem mais tempo válido em cena, para além das canções. Por não ser tão musical quanto os demais, a "pequena notável" brilha em instantes cômicos, ainda que sumamente estereotipados. O personagem de Phil Silvers é ainda mais estereotipado que ele, por vezes beirando o insuportável. E o roteiro força a barra para tornar o romance entre Vivian Blaine e Michael O'Shea plausível e defensável, em meio a tanto machismo, a tanto racismo subjacente... Quando a trama adere aos exercícios de guerra, fica ainda mais problemático, Mas é um filme simpático e entretenedor. Deu vontade de revê-lo, após a sessão - devidamente acompanhado, claro! (WPC>)
Erotique
4.0 1 Assista AgoraErótico e alucinante. Pulsante e metacinematográfico. Cheio de vida e erotismo. Numa palavra: tscherkasskiano! (WPC>)
Instructions for a Light and Sound Machine
3.6 4 Assista AgoraAqui, infelizmente, não consegui mergulhar a proposta... Por algum motivo, reagi de maneira "purista", não consegui me divertir com as múltiplas manipulações a partir de imagens de ERA UMA VEZ NO OESTE. Preciso rever o curta-metragem? Preciso estudar mais sobre as intenções tscherkasskianas? Tudo indica que sim. Por ora, fica a minha apreciação apenas mediana. (WPC>)