Curto e eficiente - e protagonizado por um rapaz muito bonito, também roteirista. Particularmente, não aprecio a lógica de valorização da vida a partir da sujeição ao sadismo (o que,
internamente, não faz sentido, quando vemos o sobrevivente insistir e fumar
), mas é um curta-metragem divertido, que engendrou uma cinessérie que acho assaz questionável (e até mesmo perigosa). Mas funciona enquanto entretenimento de reflexão imediatista. Fiquei até curioso para rever o longa-metragem derivado (que detestei, num primeiro contato). Será que terei coragem? (WPC>)
Proverbial, simples e com todas as marcas características da filmografia vindoura e seriada do Éric Rohmer. O seu sucessor sul-coreano deve adorar esse curta-metragem recém-descoberto. Como eu pude não reconhecer o jovem Godard de imediato? A sua voz está igualzinha, bem como a chantagem emocional de cunho heterossexual (risos). Vou até rever, de tão gracioso que ele é em sua brevidade. Fofinho e autoral, mesmo em condições tão juvenis. (WPC>)
Depois de ser arrebatado pelo derradeiro DE CIERTA MANERA, resolvi conferir os curtas documentais da diretora e, neste aqui, fui exposto à fascinação apaixonada pelos deleites e apanágios de uma cidade mui singular. A narração é ótima, as imagens são dotadas de muito fulgor vivaz e o estilo humanista da diretora é perceptível desde o começo. Incrível! (WPC>)
Apesar de um dos realizadores ser sergipano e de este curta-metragem ter recebido um premio importante num dos festivais locais que pesquisei num TCC, não conhecia este filme. E não vou mentir: surpreendi-me com a montagem - tanto a visual quanto a sonora -, apreciei a denúncia embutida, gostei da audácia na temática dura. Mas, ao mesmo tempo, fica a impressão de que, para afiliar-se ao sofrimento da mulher, ela é exposta em excesso, havendo muito de incitador à masturbação na exposição dos estupros e abusos a que ela é submetida. Contradições contextuais de época, talvez? Inevitabilidade do machismo estrutural? Ao menos, sim, é bem realizado e causa-nos reações intensas. O resto é debate: que venha! (WPC>)
Conheci a Cláudia Andujar graças ao longa-metragem documental GYURI, do qual não gostei muito, infelizmente. Porém, fiquei encantado por seu trabalho tão artístico quanto militante. Impressionei-me por seu talento e seu zelo quanto à causa Yanomami. Tive o privilégio de assistir a este curta-metragem entre amigos, num cineclube, e fiquei impressionado. É magistral: seja no modo como as fotografias são "animadas" a partir de efeitos de montagem e som, seja pelas denúncias ferozes contra a exploração e o desmatamento, que surgem nos depoimentos captados e nas entrelinhas imagéticas. os registros de garotinhas grávidas e doentes impressionaram-me bastante, bem como o fato de que, quarenta anos depois, muitos dos problemas listados seguem em curso - piorados, inclusive. Incomodei-me um tanto com a narração de caráter televisivo, mas o texto lido pela eloqüente narradora é maravilhoso, deveras pertinaz. Um filme que precisa ser redescoberto e exibido em espaços públicos, à guisa de urgência. Exemplar e pioneiro. Ou seja, incisivo e apaixonado! (WPC>)
Primeiro, os problemas: exceto pela translação francesa, é como se Larry Clark tivesse parado no tempo, em sua obsessão pelo voyeurismo adolescente. Em defesa dele, confirma-se uma lógica cíclica, que faz com que percebamos aqueles padrões comportamentais em qualquer lugar do mundo, mas... E fica só nisso? Não consegui entender em que o Jonathan Velasquez contribuiu na direção. E, ao final, queremos mais termina tudo muito rápido, como uma masturbação precoce e sem a ereção suficiente...
Segundo, os elogios: quem conhece (e gosta do) Larry Clark, encontrará aqui o que ele sempre fez em seus filmes e, como tal, o filme funciona, enquanto repetição autoral, enquanto atualização sociológica daquilo que ele sempre mostrou (inclusive, a questionável responsabilização dos pais pelos excessos dos filhos). Muito bom!
Terceiro, uma síntese culpada: a fórmula dá sinais de cansaço, né? Mas envelhecer não é justamente isso? É como se o diretor passasse a batuta para um pupilo, que parece ter aprendido muito bem o que interessa ao público-alvo, Porém, isso soa perigosamente ambivalente, no sentido de que esse tipo de enredo deseja que as situações conflituosas da adolescências não se resolvam, que o consumo de drogas e o desregramento sexual sigam exacerbados. Moralismo de minha parte? Aguardemos as vindouras produções... (WPC>)
Se eu já tive qualquer restrição em relação à Helena Solberg, fui completamente desarmado frente a este documentário demolidor, tristíssimo e, para o nosso espanto realista, ainda bastante atual: mais de quarenta anos se passaram e as condições de exploração ou subestimação feminina seguem dilacerantes. Impressionou-me a agudeza de olhar da diretora, que alia a perspectiva feminista de sua investigação a uma análise histórica muitíssimo bem fundamentada e a um recorte político agudíssimo. Foi difícil assistir, de tão dolorosos que são os depoimentos. Tive a sorte de descobri-lo em sessão pública, num debate magistral. Preciso ver mais trabalhos dessa diretora, urgentemente! (WPC>)
A cada revisão, descubro um novo aspecto, fico mais e mais impressionado. Terminar o documentário daquele jeito foi audacioso 'ad extremis', para além das concepções hodiernas de sororidade: ao registrar as contradições da classe social à qual pertence, a diretora foi sumamente arguta num olhar não condescendente, demonstrando como os preconceitos que afligem as mulheres são, muitas vezes, levados a cabo pelas próprias mulheres, reféns de uma opressão ideológica impingida enquanto tradição. A cunhada da diretora é muito bonita e eloqüente, o que propicia ao espectador um "conforto" que, no cotejo com obras posteriores da diretora, serve a interesses autocríticos específicos. Clássico muito corajoso de nosso cinema: que bom que está sendo bastante difundido pelas novas gerações! (WPC>)
Que filme sufocante e aflitivo! Fiquei querendo ver mais, acompanhar mais, saber o que acontece depois... O diretor devolve à nossa imaginação (e conhecimento político sobre as leis iranianas) a obrigação de completar as lacunas, de sofrer junto com os personagens, numa situação inicial que seria corriqueira em quase qualquer lugar. Mas ali, não - e isso faz toda a diferença! O desfecho é tão angustiante quanto inevitável. Quero conhecer mais sobre este realizador: demonstrou-se sobremaneira promissor aqui! (WPC>)
Lindo e doloroso! Se eu já amava as canções do The Carpenters antes, depois desse filme, fiquei ainda mais apaixonado. O modo como as bonecas "atuam" é espetacular, numa espécie de cruzamento de táticas de fotonovela e radionovela. Desenho de som muito bem executado e tropos roteirísticos deveras reconhecíveis, em relação àquilo que machucou o diretor na juventude e que, com certeza, encontra eco nos traumas de seus admiradores, como eu. Brilhante! (WPC>)
Que filme audacioso, corajoso e poderoso. Fiquei imaginando o que seria de mim se eu o tivesse visto em minha adolescência: a identificação não apenas foi total como, no cotejo com as humilhações diárias, o ato de estraçalhar a própria carne parece, de fato, indolor. A montagem é ótima e o garoto protagonista aderiu bem à proposta do realizador. Aliás, que talento para dirigir crianças e adolescentes, nesta primeira fase da carreira, uau! (WPC>)
Na revisão, o que tinha incomodado-me bastante no primeiro contato foi secundarizado pela excelência da animação no que tange aos detalhes circunstanciais do percurso (os exercícios exibicionistas da lebre, os botões estourando na camisa da coruja que apita a corrida, a gentileza da lebre ao cumprimentar outrem...). Segue um tanto suspeitoso ao aderir ao triunfalismo da vítima, mas deveras qualitativo e válido enquanto lição de moral! (WPC>)
O título deste curta-metragem é um tesouro em si mesmo e a seqüência de abertura mergulha-nos em múltiplas reflexões concomitantes, mas não sei se compreendi devidamente o que fôra proposto no clímax urbano do filme - o que é positivo, no sentido de que passei muito tempo pensando nele, após a sessão. O protagonista é muito expressivo e as demais participações são sinceras. Talvez eu precise de uma revisão e de algum debate para mensurar com justeza o que este filme traz de revolucionariamente propositivo, mas, da maneira como está, num primeiro contato ainda intimidado, fui tocado, quis saber mais, escolhi lados, completei mentalmente a trama... Isso importa! (WPC>)
Os traços são bonitos, a trilha sonora é bacana, o contexto histórico é valoroso, mas... Não nos conectamos aos personagens, a envergadura emocional é secundarizada por algo de pretensioso na encenação, o filme não engrena ritmicamente. Merece ser discutido, claro, em termos dos fatos que inspiraram o roteiro, mas não consegui sequer prestar a atenção devida ao curta-metragem, de tão moroso e empedernido (num mal sentido) que o achei! - WPC>
O modo compassada com que a narrativa avança faz com que pensemos nos filmes de Nuri Bilge Ceylan, visto que cada ação fortuita demonstra-se entrelaçada a aspectos políticos e econômicos mais gerais, quase não percebidos ou reconhecidos pelos personagens. Entretanto, eles tergiversam a partir daí: as dimensões da reflexão sobre a validade das profecias religiosas, após o funeral, são muito interessantes. Talvez elas requeressem um tempo maior de desenvolvimento, visto que a lentidão do curta-metragem não implica em exigüidade de temas: há muita coisa acontecendo, em meio à aparente placidez daquele ambiente ressequido. A canção que é executada durante os créditos finais é maravilhosa! (WPC>)
Que filme belíssimo! O excelente desenho de som transporta-nos para aquele ambiente, deixando-nos desejosos de amparar aquele garotinho. A fotografia, claro, é deslumbrante e o roteiro sintetiza vários motes do cinema taiwanês (a recorrência transformadora da água, à la Tsai Ming-Liang; as irrupções familiares, à la Hou Hsiao-Hsien...). Fiquei triste quando o filme acabou: queria mais! Eu estava imerso naquele ambiente, próximo aquelas pessoas, sentindo a pujança dos ambientes naturais que os circundam. Belíssimo! (WPC>)
Além de eu ter entrado em transe quando uma canção do Cake aparece na trilha cancional, curti muito a pegada 'indie' deste filme. Projetei-me rapidamente na relação entre os personagens, gostei daquele pai tão equivocado e assemelhado ao jovem Ethan Hawke. Montagem ótima, situações críveis, beirando o realismo mágico, em seu amontado de crônicas do dia a dia disfuncional. Deveras terno e bem realizado! (WPC>)
Tinha visto o igualmente poético RETOUR À TOYAMA e percebi que essa tônica reflexivo-existencial é comum às obras do cineasta, ainda em desenvolvimento. Fotograficamente sensível e muitíssimo bem-interpretado, este filme aumenta a conotação simbólica do banho: senti muita vontade de estar numa ducha pública como aquela, testemunhando as interações e o enfrentamento dos problemas, como aqueles figurantes fazem. Lindo demais! (WPC>)
O ponto de partida tramático é muito interessante e a diretora desenvolve muitas questões paralelas, a partir da lógica auto-repressiva da incompreensão dos desejos homossexuais. A montagem é ótima e o desfecho é poderosamente denuncista. Mas senti-me confuso durante a projeção, não entendi direito alguns aspectos nem a mudança de perspectiva, nalguns momentos. Mas o aproveitamento da trilha musical é excelente - e a atriz juvenil protagonista é muito boa também! (WPC>)
Não sei se eu não estava com o humor adequado, durante a sessão, ou se eu carecia de alguma informação adicional para entender o fluxo de sentimentos que atravessava aqueles garotos, personagens reais de um local periférico e, aparentemente, povoado por imigrantes do Leste Europeu. A fotografia é linda e os olhares impressionam, tanto quanto os diálogos fortuitos sobre desesperança e prenhes de xingamentos, mas... E daí? Sinceramente, não consegui mergulhar, infelizmente! (WPC>)
Quem diria, Feuillade e Guy-Blaché parceiros numa comédia, uau! Conhecendo-se os estilos de ambos os mestres, ela se destaca aqui, em relação a ele. Mas é uma comédia rápida, de quiproquós e correria, em que a personagem-título salva muitas vidas, enquanto é julgada como peralta pelas pessoas a seu redor. Anacronicamente, enxergamos aqui um feminismo neo-geracional (risos), uma exortação do poder demonstrado pelas garotinhas inteligentes e ativas. Bacana! (WPC>)
Não entendi o porquê de tanto fuzuê relativo em relação ao caminhar da dama titular, vestida em excesso, inclusive. Mas trata-se de uma comédia curta e muito sintética acerca dos principais motes cômicos (recorrentes) da alegada "pré-história do cinema". Muito engraçado e dinâmico. Uma delícia - e uma advertência sobre o machismo atávico, claro. (WPC>)
Não lembro nada do longa-metragem derivado, mas decepcionei-me bastante com este curta-metragem. Ok, a entrega de Owen Wilson ao papel e ao desenvolvimento do enredo é mui aplaudível e um ou outro aspecto do TOC característico do diretor são percebidos, mas é um filme que não tem tempo suficiente para elaborar as suas idéias, parece mais um plágio apressado de algo feito por algum imitador contumaz do Woody Allen. As situações do desfecho, a lida com o fracasso, são graciosas, mas não consegui me conectar ao que o filme propõe, infelizmente. E, sendo bastante sincero, não senti vontade de rever PURA ADRENALINA. Lembro que o achei igualmente decepcionante no primeiro - e, até então, único - contato! (WPC>)
Ainda que tenha falecido fisicamente, Kenneth Anger é imortal, converteu-se em energia orgástica. Percebi que não havia visto este filme, mergulhei nele após a minha jornada de trabalho e foi algo balsâmico: amei o jogo de contrastes cromáticos entre o azul e o dourado, as sobreposições de imagens, as fusões eróticas, as ressignificações fetichistas do platonismo, a aplicação certeira daquilo que é prometido no título... Saber que isso foi realizado na primeira metade da década de 1950 só melhora a imersão: que homem ousado, audacioso, genial. Adorei! (WPC>)
Jogos Mortais 0.5
3.7 65Curto e eficiente - e protagonizado por um rapaz muito bonito, também roteirista. Particularmente, não aprecio a lógica de valorização da vida a partir da sujeição ao sadismo (o que,
internamente, não faz sentido, quando vemos o sobrevivente insistir e fumar
Charlotte e seu Bife
3.5 11Proverbial, simples e com todas as marcas características da filmografia vindoura e seriada do Éric Rohmer. O seu sucessor sul-coreano deve adorar esse curta-metragem recém-descoberto. Como eu pude não reconhecer o jovem Godard de imediato? A sua voz está igualzinha, bem como a chantagem emocional de cunho heterossexual (risos). Vou até rever, de tão gracioso que ele é em sua brevidade. Fofinho e autoral, mesmo em condições tão juvenis. (WPC>)
Iré a Santiago
4.1 2Depois de ser arrebatado pelo derradeiro DE CIERTA MANERA, resolvi conferir os curtas documentais da diretora e, neste aqui, fui exposto à fascinação apaixonada pelos deleites e apanágios de uma cidade mui singular. A narração é ótima, as imagens são dotadas de muito fulgor vivaz e o estilo humanista da diretora é perceptível desde o começo. Incrível! (WPC>)
Brabeza
4.2 1Apesar de um dos realizadores ser sergipano e de este curta-metragem ter recebido um premio importante num dos festivais locais que pesquisei num TCC, não conhecia este filme. E não vou mentir: surpreendi-me com a montagem - tanto a visual quanto a sonora -, apreciei a denúncia embutida, gostei da audácia na temática dura. Mas, ao mesmo tempo, fica a impressão de que, para afiliar-se ao sofrimento da mulher, ela é exposta em excesso, havendo muito de incitador à masturbação na exposição dos estupros e abusos a que ela é submetida. Contradições contextuais de época, talvez? Inevitabilidade do machismo estrutural? Ao menos, sim, é bem realizado e causa-nos reações intensas. O resto é debate: que venha! (WPC>)
Povo da Lua, Povo do Sangue
4.0 1Conheci a Cláudia Andujar graças ao longa-metragem documental GYURI, do qual não gostei muito, infelizmente. Porém, fiquei encantado por seu trabalho tão artístico quanto militante. Impressionei-me por seu talento e seu zelo quanto à causa Yanomami. Tive o privilégio de assistir a este curta-metragem entre amigos, num cineclube, e fiquei impressionado. É magistral: seja no modo como as fotografias são "animadas" a partir de efeitos de montagem e som, seja pelas denúncias ferozes contra a exploração e o desmatamento, que surgem nos depoimentos captados e nas entrelinhas imagéticas. os registros de garotinhas grávidas e doentes impressionaram-me bastante, bem como o fato de que, quarenta anos depois, muitos dos problemas listados seguem em curso - piorados, inclusive. Incomodei-me um tanto com a narração de caráter televisivo, mas o texto lido pela eloqüente narradora é maravilhoso, deveras pertinaz. Um filme que precisa ser redescoberto e exibido em espaços públicos, à guisa de urgência. Exemplar e pioneiro. Ou seja, incisivo e apaixonado! (WPC>)
A DAY IN A LIFE
2.6 8Primeiro, os problemas: exceto pela translação francesa, é como se Larry Clark tivesse parado no tempo, em sua obsessão pelo voyeurismo adolescente. Em defesa dele, confirma-se uma lógica cíclica, que faz com que percebamos aqueles padrões comportamentais em qualquer lugar do mundo, mas... E fica só nisso? Não consegui entender em que o Jonathan Velasquez contribuiu na direção. E, ao final, queremos mais termina tudo muito rápido, como uma masturbação precoce e sem a ereção suficiente...
Segundo, os elogios: quem conhece (e gosta do) Larry Clark, encontrará aqui o que ele sempre fez em seus filmes e, como tal, o filme funciona, enquanto repetição autoral, enquanto atualização sociológica daquilo que ele sempre mostrou (inclusive, a questionável responsabilização dos pais pelos excessos dos filhos). Muito bom!
Terceiro, uma síntese culpada: a fórmula dá sinais de cansaço, né? Mas envelhecer não é justamente isso? É como se o diretor passasse a batuta para um pupilo, que parece ter aprendido muito bem o que interessa ao público-alvo, Porém, isso soa perigosamente ambivalente, no sentido de que esse tipo de enredo deseja que as situações conflituosas da adolescências não se resolvam, que o consumo de drogas e o desregramento sexual sigam exacerbados. Moralismo de minha parte? Aguardemos as vindouras produções... (WPC>)
Simplesmente Jenny
4.2 1Se eu já tive qualquer restrição em relação à Helena Solberg, fui completamente desarmado frente a este documentário demolidor, tristíssimo e, para o nosso espanto realista, ainda bastante atual: mais de quarenta anos se passaram e as condições de exploração ou subestimação feminina seguem dilacerantes. Impressionou-me a agudeza de olhar da diretora, que alia a perspectiva feminista de sua investigação a uma análise histórica muitíssimo bem fundamentada e a um recorte político agudíssimo. Foi difícil assistir, de tão dolorosos que são os depoimentos. Tive a sorte de descobri-lo em sessão pública, num debate magistral. Preciso ver mais trabalhos dessa diretora, urgentemente! (WPC>)
A Entrevista
4.0 8 Assista AgoraA cada revisão, descubro um novo aspecto, fico mais e mais impressionado. Terminar o documentário daquele jeito foi audacioso 'ad extremis', para além das concepções hodiernas de sororidade: ao registrar as contradições da classe social à qual pertence, a diretora foi sumamente arguta num olhar não condescendente, demonstrando como os preconceitos que afligem as mulheres são, muitas vezes, levados a cabo pelas próprias mulheres, reféns de uma opressão ideológica impingida enquanto tradição. A cunhada da diretora é muito bonita e eloqüente, o que propicia ao espectador um "conforto" que, no cotejo com obras posteriores da diretora, serve a interesses autocríticos específicos. Clássico muito corajoso de nosso cinema: que bom que está sendo bastante difundido pelas novas gerações! (WPC>)
Mais de Duas Horas
4.0 5Que filme sufocante e aflitivo! Fiquei querendo ver mais, acompanhar mais, saber o que acontece depois... O diretor devolve à nossa imaginação (e conhecimento político sobre as leis iranianas) a obrigação de completar as lacunas, de sofrer junto com os personagens, numa situação inicial que seria corriqueira em quase qualquer lugar. Mas ali, não - e isso faz toda a diferença! O desfecho é tão angustiante quanto inevitável. Quero conhecer mais sobre este realizador: demonstrou-se sobremaneira promissor aqui! (WPC>)
Superstar: A História de Karen Carpenter
4.0 12Lindo e doloroso! Se eu já amava as canções do The Carpenters antes, depois desse filme, fiquei ainda mais apaixonado. O modo como as bonecas "atuam" é espetacular, numa espécie de cruzamento de táticas de fotonovela e radionovela. Desenho de som muito bem executado e tropos roteirísticos deveras reconhecíveis, em relação àquilo que machucou o diretor na juventude e que, com certeza, encontra eco nos traumas de seus admiradores, como eu. Brilhante! (WPC>)
O Suicídio
3.8 1Que filme audacioso, corajoso e poderoso. Fiquei imaginando o que seria de mim se eu o tivesse visto em minha adolescência: a identificação não apenas foi total como, no cotejo com as humilhações diárias, o ato de estraçalhar a própria carne parece, de fato, indolor. A montagem é ótima e o garoto protagonista aderiu bem à proposta do realizador. Aliás, que talento para dirigir crianças e adolescentes, nesta primeira fase da carreira, uau! (WPC>)
A Tartaruga e a Lebre
3.6 19 Assista AgoraNa revisão, o que tinha incomodado-me bastante no primeiro contato foi secundarizado pela excelência da animação no que tange aos detalhes circunstanciais do percurso (os exercícios exibicionistas da lebre, os botões estourando na camisa da coruja que apita a corrida, a gentileza da lebre ao cumprimentar outrem...). Segue um tanto suspeitoso ao aderir ao triunfalismo da vítima, mas deveras qualitativo e válido enquanto lição de moral! (WPC>)
Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo
3.6 2O título deste curta-metragem é um tesouro em si mesmo e a seqüência de abertura mergulha-nos em múltiplas reflexões concomitantes, mas não sei se compreendi devidamente o que fôra proposto no clímax urbano do filme - o que é positivo, no sentido de que passei muito tempo pensando nele, após a sessão. O protagonista é muito expressivo e as demais participações são sinceras. Talvez eu precise de uma revisão e de algum debate para mensurar com justeza o que este filme traz de revolucionariamente propositivo, mas, da maneira como está, num primeiro contato ainda intimidado, fui tocado, quis saber mais, escolhi lados, completei mentalmente a trama... Isso importa! (WPC>)
Margarethe 89
2.0 1Os traços são bonitos, a trilha sonora é bacana, o contexto histórico é valoroso, mas... Não nos conectamos aos personagens, a envergadura emocional é secundarizada por algo de pretensioso na encenação, o filme não engrena ritmicamente. Merece ser discutido, claro, em termos dos fatos que inspiraram o roteiro, mas não consegui sequer prestar a atenção devida ao curta-metragem, de tão moroso e empedernido (num mal sentido) que o achei! - WPC>
The House Is on Fire, Might as Well Get Warm
2.5 1O modo compassada com que a narrativa avança faz com que pensemos nos filmes de Nuri Bilge Ceylan, visto que cada ação fortuita demonstra-se entrelaçada a aspectos políticos e econômicos mais gerais, quase não percebidos ou reconhecidos pelos personagens. Entretanto, eles tergiversam a partir daí: as dimensões da reflexão sobre a validade das profecias religiosas, após o funeral, são muito interessantes. Talvez elas requeressem um tempo maior de desenvolvimento, visto que a lentidão do curta-metragem não implica em exigüidade de temas: há muita coisa acontecendo, em meio à aparente placidez daquele ambiente ressequido. A canção que é executada durante os créditos finais é maravilhosa! (WPC>)
Talking to the River
4.5 1Que filme belíssimo! O excelente desenho de som transporta-nos para aquele ambiente, deixando-nos desejosos de amparar aquele garotinho. A fotografia, claro, é deslumbrante e o roteiro sintetiza vários motes do cinema taiwanês (a recorrência transformadora da água, à la Tsai Ming-Liang; as irrupções familiares, à la Hou Hsiao-Hsien...). Fiquei triste quando o filme acabou: queria mais! Eu estava imerso naquele ambiente, próximo aquelas pessoas, sentindo a pujança dos ambientes naturais que os circundam. Belíssimo! (WPC>)
Lemon Tree
3.5 1Além de eu ter entrado em transe quando uma canção do Cake aparece na trilha cancional, curti muito a pegada 'indie' deste filme. Projetei-me rapidamente na relação entre os personagens, gostei daquele pai tão equivocado e assemelhado ao jovem Ethan Hawke. Montagem ótima, situações críveis, beirando o realismo mágico, em seu amontado de crônicas do dia a dia disfuncional. Deveras terno e bem realizado! (WPC>)
Oyu
4.0 1Tinha visto o igualmente poético RETOUR À TOYAMA e percebi que essa tônica reflexivo-existencial é comum às obras do cineasta, ainda em desenvolvimento. Fotograficamente sensível e muitíssimo bem-interpretado, este filme aumenta a conotação simbólica do banho: senti muita vontade de estar numa ducha pública como aquela, testemunhando as interações e o enfrentamento dos problemas, como aqueles figurantes fazem. Lindo demais! (WPC>)
I Saw the Face of the Devil
3.0 1O ponto de partida tramático é muito interessante e a diretora desenvolve muitas questões paralelas, a partir da lógica auto-repressiva da incompreensão dos desejos homossexuais. A montagem é ótima e o desfecho é poderosamente denuncista. Mas senti-me confuso durante a projeção, não entendi direito alguns aspectos nem a mudança de perspectiva, nalguns momentos. Mas o aproveitamento da trilha musical é excelente - e a atriz juvenil protagonista é muito boa também! (WPC>)
A Stlorm Inside
2.0 1Não sei se eu não estava com o humor adequado, durante a sessão, ou se eu carecia de alguma informação adicional para entender o fluxo de sentimentos que atravessava aqueles garotos, personagens reais de um local periférico e, aparentemente, povoado por imigrantes do Leste Europeu. A fotografia é linda e os olhares impressionam, tanto quanto os diálogos fortuitos sobre desesperança e prenhes de xingamentos, mas... E daí? Sinceramente, não consegui mergulhar, infelizmente! (WPC>)
Uma Heroína de Quatro Anos
3.7 3Quem diria, Feuillade e Guy-Blaché parceiros numa comédia, uau! Conhecendo-se os estilos de ambos os mestres, ela se destaca aqui, em relação a ele. Mas é uma comédia rápida, de quiproquós e correria, em que a personagem-título salva muitas vidas, enquanto é julgada como peralta pelas pessoas a seu redor. Anacronicamente, enxergamos aqui um feminismo neo-geracional (risos), uma exortação do poder demonstrado pelas garotinhas inteligentes e ativas. Bacana! (WPC>)
A Very Fine Lady
3.6 3Papouquei-me de rir sozinho! kkkkk
Não entendi o porquê de tanto fuzuê relativo em relação ao caminhar da dama titular, vestida em excesso, inclusive. Mas trata-se de uma comédia curta e muito sintética acerca dos principais motes cômicos (recorrentes) da alegada "pré-história do cinema". Muito engraçado e dinâmico. Uma delícia - e uma advertência sobre o machismo atávico, claro. (WPC>)
Bottle Rocket
3.3 15Não lembro nada do longa-metragem derivado, mas decepcionei-me bastante com este curta-metragem. Ok, a entrega de Owen Wilson ao papel e ao desenvolvimento do enredo é mui aplaudível e um ou outro aspecto do TOC característico do diretor são percebidos, mas é um filme que não tem tempo suficiente para elaborar as suas idéias, parece mais um plágio apressado de algo feito por algum imitador contumaz do Woody Allen. As situações do desfecho, a lida com o fracasso, são graciosas, mas não consegui me conectar ao que o filme propõe, infelizmente. E, sendo bastante sincero, não senti vontade de rever PURA ADRENALINA. Lembro que o achei igualmente decepcionante no primeiro - e, até então, único - contato! (WPC>)
Inauguration of the Pleasure Dome
3.9 6Ainda que tenha falecido fisicamente, Kenneth Anger é imortal, converteu-se em energia orgástica. Percebi que não havia visto este filme, mergulhei nele após a minha jornada de trabalho e foi algo balsâmico: amei o jogo de contrastes cromáticos entre o azul e o dourado, as sobreposições de imagens, as fusões eróticas, as ressignificações fetichistas do platonismo, a aplicação certeira daquilo que é prometido no título... Saber que isso foi realizado na primeira metade da década de 1950 só melhora a imersão: que homem ousado, audacioso, genial. Adorei! (WPC>)