7even + Nolan + noir + terror = The Batman. Pattinson entrega um puta Batman. A estética do filme é sensacional. Finalmente vemos o maior detetive do mundo em ação. Mas não saí do cinema impactado como em O Cavaleiro das Trevas.
O Golpista do Tinder é um filme de utilidade pública. Importante porque desmascara uma situação extremamente tóxica. Mas, como documentário em si, deixa a desejar. A narrativa é convencional e a maioria dos personagens não é interessante. Mesmo assim, você fica puto com o cara e vira fã da namorada holandesa.
Que filme poderoso. Uma fantasia de encher os olhos. E, ao mesmo tempo, uma desconstrução do gênero. Uma metáfora sobre ambição. E também sobre o conflito da humanidade com a Natureza.
Duna, que filme lindo de ver no cinema. Denis Villeneuve entendeu o que Frank Herbert pretendia ao escrever o livro e traduziu a mitologia daquele universo numa estética realmente estranha e imersiva.
Os roteiristas souberam simplificar as coisas sem comprometer os elementos-chave de uma obra complexa. O filme é bem fiel ao romance, mas toma liberdades justificáveis, que funcionam. A versão de David Lynch é uma bagunça acelerada, com um potencial que se perdeu miseravelmente. O Duna de Villeneuve triunfa ao dar o ritmo certo para o desenvolvimento da trama e dos personagens. Até as menores participações causam impacto. Destaque para as Bene Gesserit, os Mentat, Duncan Idaho, Gurney Halleck, o Duque Leto, Jamis, Stilgar, o Barão Harkonnen, a agora dra. Kynes e principalmente Lady Jessica e Paul.
Infelizmente o filme é algo incompleto. Apenas com o lançamento já confirmado da Parte 2 poderemos fazer uma avaliação de fato desse épico. Outra ressalva é a ausência da subtrama envolvendo o dr. Yueh, um personagem importantíssimo no livro e que no filme é uma figura vazia, apenas jogada na tela.
De qualquer maneira, essa Parte 1 já se tornou um marco do cinema, uma das melhores adaptações já produzidas de um livro clássico da ficção científica. E fica a torcida para que prevaleça a vontade de Villeneuve e ele possa dirigir o terceiro filme da franquia, baseado em Messias de Duna, o encerramento do arco de Paul Muad´Dib.
O Grande Silêncio (1968) talvez seja o western mais subversivo de todos os tempos. O mestre Sergio Corbucci era membro do partido comunista italiano e um grande cineasta. Essa combinação deu origem a filmes como Companheiros (1970), uma produção em que revolucionários na Revolução Mexicana eram os protagonistas. Mas Companheiros tem um tom divertido e malandro, mais próximo do western spaghetti em geral e da obra do próprio pai do subgênero, Sergio Leone. Mas em O Grande Silêncio, Corbucci leva abaixo toda a tradição do western, conseguindo a proeza de criar algo único. A trama se passa num inverno rigoroso e não em locais áridos. Os bandidos são párias sociais. Os homens da lei são sanguinários. Os justos sofrem e os corruptos são recompensados. É um filme melancólico, anticlimático e até mesmo cínico. E o final é um dos mais surpreendentes da história do cinema.
Tô chocado e feliz com a bizarrice de O Esquadrão Suicida. Essa é a diferença entre Warner/DC e Disney/Marvel. No MCU, você vai ter o melhor do mesmo. Na DC, pode rolar qualquer coisa, uma caixinha de surpresas do capeta.
Rodantes é um filme de impacto. Tanto pelo tema como pela estética. Acompanhamos a trajetória de alguns personagens em crise em uma das regiões mais explosivas do Brasil. No Norte do país, a Rondônia mostrada é um cenário de imensos conflitos internos e externos. Dramas pessoais se misturam a garimpo ilegal, desmatamento, tráfico de drogas, exploração de mão de obra barata, imigração, violência, sangue e morte.
O diretor Leandro Hbl teve ambição em não é apenas contar uma história, mas de proporcionar uma experiência sensorial, com uma montagem não linear, trilha sonora tensa, longos silêncios, fotografia ora épica, ora intimista, design de som potente e atuações marcantes, com destaque para Caroline Abras, no papel de uma prostituta que tenta sobreviver a tudo e a todos.
A estrutura do roteiro circular lembra o de Amores Perros, de Iñárritu. Mas se Rodantes é um filme tão brutal quanto a produção mexicana, ele, por outro lado, torna-se mais delicado. Um verdadeiro poema visual do caos.
O fã de Evangelion ganhou não um, mas dois finais. O filme, na verdade, mostra o que aconteceu nos dois últimos episódios numa visão mais ampla da coisa. Épico e ainda assim extremamente pessoal, intimista.
Demon Slayer é uma série de anime muito especial. Não é um shonen apenas focado em lutas, mesmo que este seja um de seus pontos fortes. As escolhas narrativas, o desenvolvimento de personagens e o valor de produção levam essa animação para outro nível. O filme continua onde a primeira temporada parou. A comédia dar lugar ao drama e à ação. O choque de realidade que Tanjiro sofre no longa metragem é de cortar o coração. Um decisivo e amargo passo para seu amadurecimento. Mas a estrela do filme é o hashira do fogo Kyojuro Rengoku. Como é de costume em Demon Slayer, ao conhecer o passado dos personagens é que vemos seu lado humano. Rengoku brilha com sua elegância de guerreiro e, principalmente, com seu altruísmo. Tudo embalado em mais uma trilha sonora sensacional. O filme não é perfeito, mas é um dos pontos altos desse universo tão cativante.
O filme "Estou pensando em acabar com tudo" se tornou um queridinho da crítica. Charlie Kaufman é um roteirista brilhante e um diretor talentoso. Seus roteiros dos filmes Quero ser John Malkovich, Adaptação e Brilho eterno de uma mente sem lembranças são inovadores. A animação Anomalisa é uma pungente meditação sobre a condição humana. Mas seu último filme como diretor e roteirista deixa a desejar.
É a adaptação do romance de mesmo nome. O livro é um filme thriller envolvente que derrapa feio no final por trazer uma grande revelação que causa surpresa, mas não faz muito sentido com tudo o que veio antes. No filme, mesmo para quem não leu o livro, fica claro, desde o início, do que se trata. Kaufman aposta no surrealismo e no nonsense para que o espectador acompanhe a jornada emocional dos personagens.
Há bons momentos de interação entre eles e soluções visuais instigantes que materializam ideias e sentimentos. Mas, quando o filme não funciona, torna-se pretensioso e repetitivo. O elenco está muito bem, mas irrita ou nos deixa entediados nos excessos do roteiro. A duração de mais de duas horas não ajuda em nada.
O valor de produção está lá. Bela fotografia, montagem eficiente e a direção de arte mostra toda a bizarrice que se enconde num ambiente de aparente normalidade.
"Estou pensando em acabar com tudo" é praticamente obrigatório para os fãs de Charlie Kaufman. Para o resto da humanidade, a conferida é uma opção.
Rede de Ódio (2020) é uma das novas sensações da Netflix. O filme é didático sobre a questão das fake news e da destruição de reputações, mesmo cometendo erros de como essas operações nefastas acontecem na vida real para aumentar a carga dramática do filme. Do ponto de vista da informação, matérias on line, vídeos e livros já destrincharam com maior profundidade e nuances o tema. Num filme, numa ficção, procuramos uma conexão emocional. No caso aqui, a respeito de uma preocupação cada vez mais crescente na sociedade contemporânea, que nos afeta nos círculos familiares e profissionais, na relação com as pessoas nas ruas e na política de governo de um país. Quando uma obra de arte é talentosa o suficiente para nos impactar, a estética consegue passar o recado de maneira muito mais eficiente. Apocalipse Now (1979) é um filme primoroso e um filme anti-guerra definitivo porque nos mostra, de maneira visceral, a insanidade de uma invasão imperialista. Algo semelhante, e relacionado às fake news, podemos encontrar em O Abutre (2014) com Jake Gyllenhaal, sobre cinegrafistas que inventam reportagens sensacionalistas, num vale tudo por audiência, com direito a manipulação da verdade, destruição de reputações e de vidas. O Abutre é muito mais filme. E é uma óbvia referência para Rede de Ódio.
Ponto Cego (2018) é um filme independente que chamou muita atenção por utilizar o rap como elemento narrativo. Não é um musical. Mas a música tem toda sua importância, uma vez que os dois protagonistas criam e declamam letras de rap. É um projeto pessoal de Daveed Diggs, do musical Hamilton, e do poeta e ator Rafael Casal, ambos amigos de infância. Ponto Cego é um filme tenso por tratar das indignidades na vida do negro norte-americano e do trauma da violência policial. Mas também é divertido ao acompanharmos o humor que envolve a amizade de Collin e Miles. Além de ser uma carta de amor a Oakland, cidade da Califórnia. Daveed Diggs se esforça e se sai bem como protagonista. O diretor estreante Carlos López Estrada mostra talento nas soluções visuais e sonoras para o vibrante roteiro de Diggs e Casal. Com ressalva para a montagem, um tanto truncada em certos momentos, comprometendo o ritmo do filme. Ponto Cego se alinha a Fruitvale Station (2013), de Ryan Coogler, Moonlight (2016), de Barry Jenkins e a série Olhos que condenam (2019) como a nova onda de obras audiovisuais vigorosas que trazem o debate da necropolítica.
Destacamento Blood (2020) é um filme lançado com um timing perfeito, infelizmente. Os protestos após o assassinato do americano George Floyd pelo policial Derek Chauvin geraram uma revolta mundial. Mais uma vez, estamos exigindo que pessoas negras sejam tratadas como seres humanos. O filme de Spike Lee exige o mesmo, de maneira contundente. Não porque o diretor tenha um dom premonitório. E sim porque o Black Lives Matter sempre esteve na sua agenda política, muito antes do surgimento da hashtag. E, como é mostrado no filme, o negro americano luta, literalmente, para ser reconhecido como um pleno cidadão dos EUA desde a fundação do país.
Spike Lee entrega para o espectador um grande filme. Uma produção cinematográfica com a ambição de um mestre do ofício. O diretor mostra claramente sua visão política, contando uma história rica e vívida. Uma história que diverte e faz pensar. O equilíbrio entre humor e drama é uma constante em sua carreira, o que torna personagens e situações muito humanas, com camadas e contradições.
Quatro homens negros, veteranos da guerra do Vietnã, voltam àquele país para encontrar os restos mortais de seu líder de pelotão. E também para desenterrar um tesouro escondido na selva há cinquenta anos: os destroços de um avião que levava barras de ouros do governo americano.
Esse retorno dos Bloods é doloroso. Mistura nostalgia, estresse pós-traumático e, principalmente, a noção de que eles lutaram uma guerra imoral. O filme deixa evidente duas coisas: 1) geralmente, guerras são sobre dinheiro, ganância; e 2) os verdadeiros inimigos estão em casa, as instituições que oprimem a população negra, como a polícia, os tribunais e os partidos políticos.
O que torna esse filme atual é a conexão entre passado e presente. A guerra do Vietnã é vista aqui pela perspectiva do soldado negro, muitas vezes, usado como bucha de canhão para ser morto na linha de frente. Assim como aconteceu em tantas outras guerras. E ainda ocorre o desrespeito no dia a dia, de maneira brutal.
Spike Lee é um diretor da velha guarda, mas muito antenado com o que está rolando, na produção audiovisual contemporânea e nas ruas. Ele é um homem hétero cis negro que sabe muito bem que temos de lutar contra qualquer tipo de preconceito.
Como cinema, Destacamento Blood é de encher os olhos. Um épico de guerra mais intimista, digamos assim. O valor de produção está lá. Spike Lee teve à disposição um grande orçamento. A fotografia muda de enquadramento, cores e espaços de maneira orgânica, fazendo transições entre a década de 1960 e os dias de hoje que enriquecem a narrativa e não confundem o espectador.
A trilha sonora sinfônica e as músicas de Marvin Gaye elevam os momentos mais impactantes do filme. A montagem não-realista segue o estilo provocador de Spike Lee, com o uso inspirado de imagens de arquivo. O didatismo do diretor está longe de ser chato. É elucidativo. E o elenco está ótimo, com grandes atuações, mas quem rouba a cena é Delroy Lindo, interpretando Paul, o veterano mais machucado pela vida, alguém cheio de raiva e eleitor de Trump.
A ressalva fica para a falta de maior coesão do filme. Uma ou duas subtramas podiam ser reduzidas ou cortadas sem prejudicar a força da história dos Bloods. E com isso diminuir uns vinte minutos da duração. Além de haver claramente uma dicotomia entre o drama de guerra inicial e depois a busca pelo ouro em ritmo de uma aventura intensa e violenta, inspirada no clássico O Tesouro de Sierra Madre (1948).
Com Destacamento Blood, Spike Lee procura o que há de bom em nós mesmos. Apesar de toda injustiça e falta de esperança, ele mostra nesse filme que devemos ser pessoas melhores. E que, para isso, devemos enfrentar nossos fantasmas, como indivíduos e sociedade. Devemos encarar as dores e os traumas do passado para combater o que nos assombra no presente.
(Resenha originalmente publicada no site avoador.com.br)
Atômica (2017) foi vendido como a resposta feminina para o fenômeno John Wick. Inclusive o diretor de Atômica co-dirigiu o primeiro John Wick. Mas o que o filme com Keannu Reeves tinha de simples e direto, a mistura de ação e espionagem com Charlize Theron tem uma trama confusa e entediante. O destaque fica mesmo para as cenas de luta, bem ao estilo John Wick, mostrando um ótimo trabalho de coreografia, algo mais realista, imperfeito e sujo. A personagem de Theron fica fisicamente destruída depois de cada round. O filme é estiloso, com muito neon, figurino fashion e hits dos anos 80, mostrando uma Berlim caótica pouco antes da queda do muro, em 1989. Theron está poderosa e bela. Mas o problema é que a abordagem de seu papel é bastante masculina, com a câmera passeando pelo seu corpo e com uma personagem durona que, no final das contas, precisa da tutela de homens para se sentir segura. Esperava-se muito mais, tendo a Imperatriz Furiosa como estrela e produtora do filme. Uma produção de ação e espionagem que acerta em tudo o que Atômica erra é a série Killing Eve, com mulheres dando um show na frente e atrás das câmeras.
O que me fascina no cinema sul-coreano é que você pode esperar qualquer coisa. Os diretores de lá são mestres em quebrar expectativas e trazer algo de novo quando se trata de estrutura narrativa. Fora que nenhum protagonista está a salvo. Finalmente vi O Lamento (2016), de Na Hong-jin, o mesmo diretor do tenso O Caçador (2008) . O Lamento é um terror pra desgraçar sua cabeça. O que causa mais impacto no filme não é o gore (que é farto), mas os efeitos do horror na mente dos personagens e no comportamento deles diante da sociedade, da família. Os moradores de um povoado ficam em pânico quando começa a acontecer uma série de assassinatos macabros. Os assassinos são pessoas que inexplicavelmente matam seus familiares. Um policial local meio relapso se envolve nas investigações e tem sua vida transformada num inferno. O filme começa como uma comédia boba e termina com o espectador grudado na cadeira, especulando o que de fato aconteceu, qual o significado dos diversos elementos e símbolos apresentados. Há muita sugestão e pouca explicação. É uma produção que utiliza mais efeitos visuais práticos e maquiagem, com muita competência. Além de uma montagem primorosa. Os personagens são marcantes por serem tão imperfeitos. A ressalva fica para certas inconsistências e furos de roteiro. Foi pro meu TOP 10 de filmes sul-coreanos.
Você acompanharia durante quase uma hora e meia as desventuras de uma mão? É isso mesmo. A jornada de uma mão que perdeu seu corpo? Na animação francesa Perdi Meu Corpo (2019), o diretor e roteirista Jérémy Clapin entrega uma obra para adultos belíssima e contundente. Num incidente violento, o jovem marroquino Naoufel tem a mão amputada. A partir de então acompanhamos a vida do jovem em flashbacks. E, no presente, a busca da mão pelo corpo perdido pelas ruas de Paris. O elemento fantástico é sutil. Mesmo sem falar, mesmo sem ter um rosto, a mão se torna um personagem completo. Em paralelo, vamos descobrindo mais sobre a história triste e trágica de Naoufel. Ele é um garoto tímido e inseguro, revoltado com um mundo tão caótico e cruel. Mas ele nem sempre é uma vítima. Premiado em Cannes e indicado ao Oscar, o filme aquece o coração sem apelar para o sentimentalismo.
Como Nossos Pais é um filme de uma Laís Bodanzky madura, plenamente no controle do fazer cinematográfico. Tudo funciona: roteiro, atuações, montagem, fotografia, trilha sonora. É um filme simples e potente. Maria Ribeiro entrega uma performance marcante, talvez a melhor de sua carreira. Sua protagonista é uma mulher tentando encontrar uma brecha para respirar numa rotina convencional. Outro destaque é Clarisse Abujamra, que faz o papel da mãe "insensível". Esse é um filme que ganha o espectador tanto por suas sutilezas quanto pelas verdades jogadas na cara.
O filme vale pela ação divertida e pelo belo visual futurístico. As cenas de luta são insanas. E tiraram leite de pedra do baixo orçamento do filme, desenvolvendo um universo de ficção científica criativo, com efeitos especiais competentes. Mas o roteiro é praticamente um lixo. Tem uma visão apocalíptica da ciência e trata muito mal as personagens femininas. Fora que as reviravoltas do roteiro não fazem muito sentido. Para alívio geral, o talentoso diretor e roteirista Leigh Whannell mostrou uma enorme evolução em seu próximo filme, a última versão de O Homem Invisível, com Elizabeth Moss.
O Poço (El Hoyo) é um dos filmes do momento. A Netflix lançou recentemente essa mistura de terror e alegoria social para incendiar a internet, tomada por diversos comentários sobre os significados do filme. Essa produção espanhola fez sucesso no Festival de Toronto em 2019, chamando a atenção da Netflix. É um filme de baixo orçamento, mas com uma habilidade cinematográfica muito eficiente. O uso do espaço único é dinâmico, os diálogos são provocadores e as soluções de roteiro geralmente são criativas. Até o final, o filme surpreende e causa tensão. O gore é pesado. Ainda mais por não ser gratuito, por haver uma razão muito verossímil na atitude dos personagens, envolvendo sobrevivência e moral. O Poço levanta algumas reflexões sobre o comportamento humano em tempos de crise. Perfeito para os tempos atuais sob a ameaça do coronavírus.
O que os homens podem aprender com o filme O homem invisível? Porque o problema do machismo, da masculinidade tóxica e da relação abusiva é nosso, dos homens. Sem a gente na jogada, as mulheres deixariam de sofrer a ameaça física e psicológica de namorados, maridos, chefes, colegas de escola, de trabalho ou de qualquer cara que passasse na rua, tendo seus comportamentos nocivos normalizados por um sistema social que inferioriza as mulheres. Pior, que as culpa por serem independentes, por se vestirem do que jeito que bem entender, por escolherem seus parceiros e parceiras, chegando ao ponto de criminalizar e tirar delas as decisões sobre o próprio corpo. Uma mulher sai de casa pela manhã para estudar, trabalhar ou ir na esquina comprar pão e não sabe se retornará sem sofrer um assédio moral, sexual, uma violência física ou com a vida intacta. A grande sacada da nova versão de O homem invisível foi fazer um suspense de primeira, um entretenimento muito competente, que, ao mesmo tempo, nos faz refletir sobre um tema tão atual.
O filme preserva alguns elementos do romance clássico de H.G. Wells, publicado em 1897, como a arrogância do cientista e suas pesquisas no campo da óptica. Assim como a ideia do terror social provocado pela condição do homem invisível. De resto, a trama do filme é uma criação do diretor e roteirista Leigh Whannell.
A situação do relacionamento abusivo é muito bem trabalhada, na medida em que o tema se insere nos desdobramentos da história de forma orgânica, casando acertadamente a maneira de contar a história e o que ela pretende discutir, seja pela fala dos personagens, seja pelas cenas de tensão e violência.
O homem invisível conta com a produção da Blumhouse (que também produziu o filme Corra! que fala de racismo de uma maneira inovadora) e com o talento da atriz Elisabeth Moss (a protagonista da série The handmaid´s tale), que carrega o filme nas costas, mostrando toda a fragilidade de uma mulher traumatizada pela violência doméstica, mas também revelando força e determinação quando necessário . Destaque também para a montagem precisa, a fotografia que provoca aflição com tomadas abertas e espaços vazios, a direção de arte frequentemente sugestionando a presença do homem invisível, o design de som que mexe com as tensões do espectador e a trilha sonora ora sutil, ora potente, empregada nos momentos certos. Há problemas? Claro, furos de roteiro, falta de desenvolvimento de personagens, atuações medianas e, principalmente, o clímax convencional, em que o eficiente suspense dá lugar a um tipo de ação, de correria, já vista em outras produções.
O fascinante em O homem invisível é utilizarem os recursos do terror psicológico para criar uma alegoria tão contundente, tão incômoda. O homem invisível transforma a vida da mulher que ele ama num inferno, no que atualmente chamamos de gaslighting, que é uma maneira do abusador manipular a percepção da realidade da vítima ao ponto dela duvidar da própria sanidade, levando outras pessoas a fazer o mesmo.
O terror do filme é de dar nos nervos por ser tão real.
Batman
4.0 1,9K Assista Agora7even + Nolan + noir + terror = The Batman. Pattinson entrega um puta Batman. A estética do filme é sensacional. Finalmente vemos o maior detetive do mundo em ação. Mas não saí do cinema impactado como em O Cavaleiro das Trevas.
O Golpista do Tinder
3.5 418O Golpista do Tinder é um filme de utilidade pública. Importante porque desmascara uma situação extremamente tóxica. Mas, como documentário em si, deixa a desejar. A narrativa é convencional e a maioria dos personagens não é interessante. Mesmo assim, você fica puto com o cara e vira fã da namorada holandesa.
A Lenda do Cavaleiro Verde
3.6 475 Assista AgoraQue filme poderoso. Uma fantasia de encher os olhos. E, ao mesmo tempo, uma desconstrução do gênero. Uma metáfora sobre ambição. E também sobre o conflito da humanidade com a Natureza.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraDuna, que filme lindo de ver no cinema. Denis Villeneuve entendeu o que Frank Herbert pretendia ao escrever o livro e traduziu a mitologia daquele universo numa estética realmente estranha e imersiva.
Os roteiristas souberam simplificar as coisas sem comprometer os elementos-chave de uma obra complexa. O filme é bem fiel ao romance, mas toma liberdades justificáveis, que funcionam. A versão de David Lynch é uma bagunça acelerada, com um potencial que se perdeu miseravelmente. O Duna de Villeneuve triunfa ao dar o ritmo certo para o desenvolvimento da trama e dos personagens. Até as menores participações causam impacto. Destaque para as Bene Gesserit, os Mentat, Duncan Idaho, Gurney Halleck, o Duque Leto, Jamis, Stilgar, o Barão Harkonnen, a agora dra. Kynes e principalmente Lady Jessica e Paul.
Infelizmente o filme é algo incompleto. Apenas com o lançamento já confirmado da Parte 2 poderemos fazer uma avaliação de fato desse épico. Outra ressalva é a ausência da subtrama envolvendo o dr. Yueh, um personagem importantíssimo no livro e que no filme é uma figura vazia, apenas jogada na tela.
De qualquer maneira, essa Parte 1 já se tornou um marco do cinema, uma das melhores adaptações já produzidas de um livro clássico da ficção científica. E fica a torcida para que prevaleça a vontade de Villeneuve e ele possa dirigir o terceiro filme da franquia, baseado em Messias de Duna, o encerramento do arco de Paul Muad´Dib.
O Vingador Silencioso
4.1 61 Assista AgoraO Grande Silêncio (1968) talvez seja o western mais subversivo de todos os tempos. O mestre Sergio Corbucci era membro do partido comunista italiano e um grande cineasta. Essa combinação deu origem a filmes como Companheiros (1970), uma produção em que revolucionários na Revolução Mexicana eram os protagonistas. Mas Companheiros tem um tom divertido e malandro, mais próximo do western spaghetti em geral e da obra do próprio pai do subgênero, Sergio Leone. Mas em O Grande Silêncio, Corbucci leva abaixo toda a tradição do western, conseguindo a proeza de criar algo único. A trama se passa num inverno rigoroso e não em locais áridos. Os bandidos são párias sociais. Os homens da lei são sanguinários. Os justos sofrem e os corruptos são recompensados. É um filme melancólico, anticlimático e até mesmo cínico. E o final é um dos mais surpreendentes da história do cinema.
O Esquadrão Suicida
3.6 1,3K Assista AgoraTô chocado e feliz com a bizarrice de O Esquadrão Suicida. Essa é a diferença entre Warner/DC e Disney/Marvel. No MCU, você vai ter o melhor do mesmo. Na DC, pode rolar qualquer coisa, uma caixinha de surpresas do capeta.
Rodantes
3.5 10 Assista AgoraRodantes é um filme de impacto. Tanto pelo tema como pela estética. Acompanhamos a trajetória de alguns personagens em crise em uma das regiões mais explosivas do Brasil. No Norte do país, a Rondônia mostrada é um cenário de imensos conflitos internos e externos. Dramas pessoais se misturam a garimpo ilegal, desmatamento, tráfico de drogas, exploração de mão de obra barata, imigração, violência, sangue e morte.
O diretor Leandro Hbl teve ambição em não é apenas contar uma história, mas de proporcionar uma experiência sensorial, com uma montagem não linear, trilha sonora tensa, longos silêncios, fotografia ora épica, ora intimista, design de som potente e atuações marcantes, com destaque para Caroline Abras, no papel de uma prostituta que tenta sobreviver a tudo e a todos.
A estrutura do roteiro circular lembra o de Amores Perros, de Iñárritu. Mas se Rodantes é um filme tão brutal quanto a produção mexicana, ele, por outro lado, torna-se mais delicado. Um verdadeiro poema visual do caos.
Neon Genesis Evangelion: Morte e Renascimento
3.9 49 Assista AgoraResumão da série. Pega os momentos principais, mas perde em sutileza, na construção dos personagens, o ponto alto de Evangelion.
Neon Genesis Evangelion: O Fim do Evangelho
4.3 253 Assista AgoraO fã de Evangelion ganhou não um, mas dois finais. O filme, na verdade, mostra o que aconteceu nos dois últimos episódios numa visão mais ampla da coisa. Épico e ainda assim extremamente pessoal, intimista.
Demon Slayer - Mugen Train: O Filme
4.3 206 Assista AgoraDemon Slayer é uma série de anime muito especial. Não é um shonen apenas focado em lutas, mesmo que este seja um de seus pontos fortes. As escolhas narrativas, o desenvolvimento de personagens e o valor de produção levam essa animação para outro nível. O filme continua onde a primeira temporada parou. A comédia dar lugar ao drama e à ação. O choque de realidade que Tanjiro sofre no longa metragem é de cortar o coração. Um decisivo e amargo passo para seu amadurecimento. Mas a estrela do filme é o hashira do fogo Kyojuro Rengoku. Como é de costume em Demon Slayer, ao conhecer o passado dos personagens é que vemos seu lado humano. Rengoku brilha com sua elegância de guerreiro e, principalmente, com seu altruísmo. Tudo embalado em mais uma trilha sonora sensacional. O filme não é perfeito, mas é um dos pontos altos desse universo tão cativante.
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraO filme "Estou pensando em acabar com tudo" se tornou um queridinho da crítica. Charlie Kaufman é um roteirista brilhante e um diretor talentoso. Seus roteiros dos filmes Quero ser John Malkovich, Adaptação e Brilho eterno de uma mente sem lembranças são inovadores. A animação Anomalisa é uma pungente meditação sobre a condição humana. Mas seu último filme como diretor e roteirista deixa a desejar.
É a adaptação do romance de mesmo nome. O livro é um filme thriller envolvente que derrapa feio no final por trazer uma grande revelação que causa surpresa, mas não faz muito sentido com tudo o que veio antes. No filme, mesmo para quem não leu o livro, fica claro, desde o início, do que se trata. Kaufman aposta no surrealismo e no nonsense para que o espectador acompanhe a jornada emocional dos personagens.
Há bons momentos de interação entre eles e soluções visuais instigantes que materializam ideias e sentimentos. Mas, quando o filme não funciona, torna-se pretensioso e repetitivo. O elenco está muito bem, mas irrita ou nos deixa entediados nos excessos do roteiro. A duração de mais de duas horas não ajuda em nada.
O valor de produção está lá. Bela fotografia, montagem eficiente e a direção de arte mostra toda a bizarrice que se enconde num ambiente de aparente normalidade.
"Estou pensando em acabar com tudo" é praticamente obrigatório para os fãs de Charlie Kaufman. Para o resto da humanidade, a conferida é uma opção.
Pixels: O Filme
2.8 1,0K Assista AgoraUm dos filmes mais podres que tive o desprazer de assistir. Machista, racista e chato até dizer chega.
Rede de Ódio
3.7 362 Assista AgoraRede de Ódio (2020) é uma das novas sensações da Netflix. O filme é didático sobre a questão das fake news e da destruição de reputações, mesmo cometendo erros de como essas operações nefastas acontecem na vida real para aumentar a carga dramática do filme. Do ponto de vista da informação, matérias on line, vídeos e livros já destrincharam com maior profundidade e nuances o tema. Num filme, numa ficção, procuramos uma conexão emocional. No caso aqui, a respeito de uma preocupação cada vez mais crescente na sociedade contemporânea, que nos afeta nos círculos familiares e profissionais, na relação com as pessoas nas ruas e na política de governo de um país. Quando uma obra de arte é talentosa o suficiente para nos impactar, a estética consegue passar o recado de maneira muito mais eficiente. Apocalipse Now (1979) é um filme primoroso e um filme anti-guerra definitivo porque nos mostra, de maneira visceral, a insanidade de uma invasão imperialista. Algo semelhante, e relacionado às fake news, podemos encontrar em O Abutre (2014) com Jake Gyllenhaal, sobre cinegrafistas que inventam reportagens sensacionalistas, num vale tudo por audiência, com direito a manipulação da verdade, destruição de reputações e de vidas. O Abutre é muito mais filme. E é uma óbvia referência para Rede de Ódio.
Ponto Cego
4.0 142 Assista AgoraPonto Cego (2018) é um filme independente que chamou muita atenção por utilizar o rap como elemento narrativo. Não é um musical. Mas a música tem toda sua importância, uma vez que os dois protagonistas criam e declamam letras de rap. É um projeto pessoal de Daveed Diggs, do musical Hamilton, e do poeta e ator Rafael Casal, ambos amigos de infância. Ponto Cego é um filme tenso por tratar das indignidades na vida do negro norte-americano e do trauma da violência policial. Mas também é divertido ao acompanharmos o humor que envolve a amizade de Collin e Miles. Além de ser uma carta de amor a Oakland, cidade da Califórnia. Daveed Diggs se esforça e se sai bem como protagonista. O diretor estreante Carlos López Estrada mostra talento nas soluções visuais e sonoras para o vibrante roteiro de Diggs e Casal. Com ressalva para a montagem, um tanto truncada em certos momentos, comprometendo o ritmo do filme. Ponto Cego se alinha a Fruitvale Station (2013), de Ryan Coogler, Moonlight (2016), de Barry Jenkins e a série Olhos que condenam (2019) como a nova onda de obras audiovisuais vigorosas que trazem o debate da necropolítica.
Destacamento Blood
3.8 448 Assista AgoraDestacamento Blood (2020) é um filme lançado com um timing perfeito, infelizmente. Os protestos após o assassinato do americano George Floyd pelo policial Derek Chauvin geraram uma revolta mundial. Mais uma vez, estamos exigindo que pessoas negras sejam tratadas como seres humanos. O filme de Spike Lee exige o mesmo, de maneira contundente. Não porque o diretor tenha um dom premonitório. E sim porque o Black Lives Matter sempre esteve na sua agenda política, muito antes do surgimento da hashtag. E, como é mostrado no filme, o negro americano luta, literalmente, para ser reconhecido como um pleno cidadão dos EUA desde a fundação do país.
Spike Lee entrega para o espectador um grande filme. Uma produção cinematográfica com a ambição de um mestre do ofício. O diretor mostra claramente sua visão política, contando uma história rica e vívida. Uma história que diverte e faz pensar. O equilíbrio entre humor e drama é uma constante em sua carreira, o que torna personagens e situações muito humanas, com camadas e contradições.
Quatro homens negros, veteranos da guerra do Vietnã, voltam àquele país para encontrar os restos mortais de seu líder de pelotão. E também para desenterrar um tesouro escondido na selva há cinquenta anos: os destroços de um avião que levava barras de ouros do governo americano.
Esse retorno dos Bloods é doloroso. Mistura nostalgia, estresse pós-traumático e, principalmente, a noção de que eles lutaram uma guerra imoral. O filme deixa evidente duas coisas: 1) geralmente, guerras são sobre dinheiro, ganância; e 2) os verdadeiros inimigos estão em casa, as instituições que oprimem a população negra, como a polícia, os tribunais e os partidos políticos.
O que torna esse filme atual é a conexão entre passado e presente. A guerra do Vietnã é vista aqui pela perspectiva do soldado negro, muitas vezes, usado como bucha de canhão para ser morto na linha de frente. Assim como aconteceu em tantas outras guerras. E ainda ocorre o desrespeito no dia a dia, de maneira brutal.
Spike Lee é um diretor da velha guarda, mas muito antenado com o que está rolando, na produção audiovisual contemporânea e nas ruas. Ele é um homem hétero cis negro que sabe muito bem que temos de lutar contra qualquer tipo de preconceito.
Como cinema, Destacamento Blood é de encher os olhos. Um épico de guerra mais intimista, digamos assim. O valor de produção está lá. Spike Lee teve à disposição um grande orçamento. A fotografia muda de enquadramento, cores e espaços de maneira orgânica, fazendo transições entre a década de 1960 e os dias de hoje que enriquecem a narrativa e não confundem o espectador.
A trilha sonora sinfônica e as músicas de Marvin Gaye elevam os momentos mais impactantes do filme. A montagem não-realista segue o estilo provocador de Spike Lee, com o uso inspirado de imagens de arquivo. O didatismo do diretor está longe de ser chato. É elucidativo. E o elenco está ótimo, com grandes atuações, mas quem rouba a cena é Delroy Lindo, interpretando Paul, o veterano mais machucado pela vida, alguém cheio de raiva e eleitor de Trump.
A ressalva fica para a falta de maior coesão do filme. Uma ou duas subtramas podiam ser reduzidas ou cortadas sem prejudicar a força da história dos Bloods. E com isso diminuir uns vinte minutos da duração. Além de haver claramente uma dicotomia entre o drama de guerra inicial e depois a busca pelo ouro em ritmo de uma aventura intensa e violenta, inspirada no clássico O Tesouro de Sierra Madre (1948).
Com Destacamento Blood, Spike Lee procura o que há de bom em nós mesmos. Apesar de toda injustiça e falta de esperança, ele mostra nesse filme que devemos ser pessoas melhores. E que, para isso, devemos enfrentar nossos fantasmas, como indivíduos e sociedade. Devemos encarar as dores e os traumas do passado para combater o que nos assombra no presente.
(Resenha originalmente publicada no site avoador.com.br)
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraLady Bird é o prequel de Frances Ha.
Atômica
3.6 1,1K Assista AgoraAtômica (2017) foi vendido como a resposta feminina para o fenômeno John Wick. Inclusive o diretor de Atômica co-dirigiu o primeiro John Wick. Mas o que o filme com Keannu Reeves tinha de simples e direto, a mistura de ação e espionagem com Charlize Theron tem uma trama confusa e entediante. O destaque fica mesmo para as cenas de luta, bem ao estilo John Wick, mostrando um ótimo trabalho de coreografia, algo mais realista, imperfeito e sujo. A personagem de Theron fica fisicamente destruída depois de cada round. O filme é estiloso, com muito neon, figurino fashion e hits dos anos 80, mostrando uma Berlim caótica pouco antes da queda do muro, em 1989. Theron está poderosa e bela. Mas o problema é que a abordagem de seu papel é bastante masculina, com a câmera passeando pelo seu corpo e com uma personagem durona que, no final das contas, precisa da tutela de homens para se sentir segura. Esperava-se muito mais, tendo a Imperatriz Furiosa como estrela e produtora do filme. Uma produção de ação e espionagem que acerta em tudo o que Atômica erra é a série Killing Eve, com mulheres dando um show na frente e atrás das câmeras.
O Lamento
3.9 431 Assista AgoraO que me fascina no cinema sul-coreano é que você pode esperar qualquer coisa. Os diretores de lá são mestres em quebrar expectativas e trazer algo de novo quando se trata de estrutura narrativa. Fora que nenhum protagonista está a salvo. Finalmente vi O Lamento (2016), de Na Hong-jin, o mesmo diretor do tenso O Caçador (2008) . O Lamento é um terror pra desgraçar sua cabeça. O que causa mais impacto no filme não é o gore (que é farto), mas os efeitos do horror na mente dos personagens e no comportamento deles diante da sociedade, da família. Os moradores de um povoado ficam em pânico quando começa a acontecer uma série de assassinatos macabros. Os assassinos são pessoas que inexplicavelmente matam seus familiares. Um policial local meio relapso se envolve nas investigações e tem sua vida transformada num inferno. O filme começa como uma comédia boba e termina com o espectador grudado na cadeira, especulando o que de fato aconteceu, qual o significado dos diversos elementos e símbolos apresentados. Há muita sugestão e pouca explicação. É uma produção que utiliza mais efeitos visuais práticos e maquiagem, com muita competência. Além de uma montagem primorosa. Os personagens são marcantes por serem tão imperfeitos. A ressalva fica para certas inconsistências e furos de roteiro. Foi pro meu TOP 10 de filmes sul-coreanos.
Perdi Meu Corpo
3.8 351 Assista AgoraVocê acompanharia durante quase uma hora e meia as desventuras de uma mão? É isso mesmo. A jornada de uma mão que perdeu seu corpo? Na animação francesa Perdi Meu Corpo (2019), o diretor e roteirista Jérémy Clapin entrega uma obra para adultos belíssima e contundente. Num incidente violento, o jovem marroquino Naoufel tem a mão amputada. A partir de então acompanhamos a vida do jovem em flashbacks. E, no presente, a busca da mão pelo corpo perdido pelas ruas de Paris. O elemento fantástico é sutil. Mesmo sem falar, mesmo sem ter um rosto, a mão se torna um personagem completo. Em paralelo, vamos descobrindo mais sobre a história triste e trágica de Naoufel. Ele é um garoto tímido e inseguro, revoltado com um mundo tão caótico e cruel. Mas ele nem sempre é uma vítima. Premiado em Cannes e indicado ao Oscar, o filme aquece o coração sem apelar para o sentimentalismo.
Como Nossos Pais
3.8 444Como Nossos Pais é um filme de uma Laís Bodanzky madura, plenamente no controle do fazer cinematográfico. Tudo funciona: roteiro, atuações, montagem, fotografia, trilha sonora. É um filme simples e potente. Maria Ribeiro entrega uma performance marcante, talvez a melhor de sua carreira. Sua protagonista é uma mulher tentando encontrar uma brecha para respirar numa rotina convencional. Outro destaque é Clarisse Abujamra, que faz o papel da mãe "insensível". Esse é um filme que ganha o espectador tanto por suas sutilezas quanto pelas verdades jogadas na cara.
Upgrade: Atualização
3.7 687 Assista AgoraO filme vale pela ação divertida e pelo belo visual futurístico. As cenas de luta são insanas. E tiraram leite de pedra do baixo orçamento do filme, desenvolvendo um universo de ficção científica criativo, com efeitos especiais competentes. Mas o roteiro é praticamente um lixo. Tem uma visão apocalíptica da ciência e trata muito mal as personagens femininas. Fora que as reviravoltas do roteiro não fazem muito sentido. Para alívio geral, o talentoso diretor e roteirista Leigh Whannell mostrou uma enorme evolução em seu próximo filme, a última versão de O Homem Invisível, com Elizabeth Moss.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraMidsommar é o Shyamalan gourmet
O Poço
3.7 2,1K Assista AgoraO Poço (El Hoyo) é um dos filmes do momento. A Netflix lançou recentemente essa mistura de terror e alegoria social para incendiar a internet, tomada por diversos comentários sobre os significados do filme. Essa produção espanhola fez sucesso no Festival de Toronto em 2019, chamando a atenção da Netflix. É um filme de baixo orçamento, mas com uma habilidade cinematográfica muito eficiente. O uso do espaço único é dinâmico, os diálogos são provocadores e as soluções de roteiro geralmente são criativas. Até o final, o filme surpreende e causa tensão. O gore é pesado. Ainda mais por não ser gratuito, por haver uma razão muito verossímil na atitude dos personagens, envolvendo sobrevivência e moral. O Poço levanta algumas reflexões sobre o comportamento humano em tempos de crise. Perfeito para os tempos atuais sob a ameaça do coronavírus.
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraO que os homens podem aprender com o filme O homem invisível? Porque o problema do machismo, da masculinidade tóxica e da relação abusiva é nosso, dos homens. Sem a gente na jogada, as mulheres deixariam de sofrer a ameaça física e psicológica de namorados, maridos, chefes, colegas de escola, de trabalho ou de qualquer cara que passasse na rua, tendo seus comportamentos nocivos normalizados por um sistema social que inferioriza as mulheres. Pior, que as culpa por serem independentes, por se vestirem do que jeito que bem entender, por escolherem seus parceiros e parceiras, chegando ao ponto de criminalizar e tirar delas as decisões sobre o próprio corpo. Uma mulher sai de casa pela manhã para estudar, trabalhar ou ir na esquina comprar pão e não sabe se retornará sem sofrer um assédio moral, sexual, uma violência física ou com a vida intacta.
A grande sacada da nova versão de O homem invisível foi fazer um suspense de primeira, um entretenimento muito competente, que, ao mesmo tempo, nos faz refletir sobre um tema tão atual.
O filme preserva alguns elementos do romance clássico de H.G. Wells, publicado em 1897, como a arrogância do cientista e suas pesquisas no campo da óptica. Assim como a ideia do terror social provocado pela condição do homem invisível. De resto, a trama do filme é uma criação do diretor e roteirista Leigh Whannell.
A situação do relacionamento abusivo é muito bem trabalhada, na medida em que o tema se insere nos desdobramentos da história de forma orgânica, casando acertadamente a maneira de contar a história e o que ela pretende discutir, seja pela fala dos personagens, seja pelas cenas de tensão e violência.
O homem invisível conta com a produção da Blumhouse (que também produziu o filme Corra! que fala de racismo de uma maneira inovadora) e com o talento da atriz Elisabeth Moss (a protagonista da série The handmaid´s tale), que carrega o filme nas costas, mostrando toda a fragilidade de uma mulher traumatizada pela violência doméstica, mas também revelando força e determinação quando necessário
.
Destaque também para a montagem precisa, a fotografia que provoca aflição com tomadas abertas e espaços vazios, a direção de arte frequentemente sugestionando a presença do homem invisível, o design de som que mexe com as tensões do espectador e a trilha sonora ora sutil, ora potente, empregada nos momentos certos. Há problemas? Claro, furos de roteiro, falta de desenvolvimento de personagens, atuações medianas e, principalmente, o clímax convencional, em que o eficiente suspense dá lugar a um tipo de ação, de correria, já vista em outras produções.
O fascinante em O homem invisível é utilizarem os recursos do terror psicológico para criar uma alegoria tão contundente, tão incômoda. O homem invisível transforma a vida da mulher que ele ama num inferno, no que atualmente chamamos de gaslighting, que é uma maneira do abusador manipular a percepção da realidade da vítima ao ponto dela duvidar da própria sanidade, levando outras pessoas a fazer o mesmo.
O terror do filme é de dar nos nervos por ser tão real.