A Pixar já havia tentado abordar antes as relações entre mães possessivas e filhas adolescentes no bem intencionado, mas raso, "Valente". "Turning Red" pega algumas das ideias daquele filme (sendo a transfiguração de um dos personagens em um animal a mais evidente) e a eleva para um roteiro bem melhor estruturado e desenvolvido. As metáforas sobre as mudanças da puberdade que não poderiam faltar são bem encaixadas, concluindo com uma reflexão bacana sobre a necessidade de aceitarmos a nossa própria natureza e a nossa condição de filhos de nossos pais, e de que um dia todos teremos que fazer nossas próprias escolhas. É uma lição meio clichê, sim, mas a diretora Domee Shi tem a sensibilidade de fazê-la de uma forma envolvente e que consegue atravessar gerações. "Turning Red" é um filme para filhas, mas também é um filme para mães. Ambas precisando aprender a viver (e, principalmente, a conviver) respeitando o espaço e as escolhas uma da outra. Não é exatamente original, mas inegavelmente tem o seu valor.
Basicamente uma releitura de "Emma", da Jane Austen, para o universo adolescente da década de 90. "As Patricinhas de Beverly Hills" tenta de forma insípida fazer uma imagem caricata e crítica da geração fútil, superficial e enlatada da juventude norte-americana, todavia, só o que consegue é ser igualmente fútil, superficial e enlatado no processo. Assim, o filme acaba caindo de forma contraditória na própria armadilha em que monta, se tornando exatamente aquilo que critica. Ao mesmo tempo que o longa debocha da frugalidade, ele a enaltece. Ao menos, vê-se que Alicia Silverstone levou a sério o projeto e buscou se esforçar para entregar uma atuação competente, enquanto que Paul Rudd é um interesse amoroso apático e sem química, e Brittany Murphy é prejudicada pelo roteiro por conta das mudanças bruscas e repentinas na personalidade de sua personagem. No geral, 'Clueless', no original, é uma obra teenager inconsistente. Até dá para entender o apelo nostálgico geracional, mas o filme não sobrevive a uma olhada mais a fundo.
Quase um 'Sem Limites' versão feminina, mas mais despirocado, mais ambicioso e um pouco melhor dirigido que o filme estrelado por Bradley Cooper. Tem algumas boas cenas de ação, ainda que a atuação meio robótica de Scarlett Johansson soe meio caricata e 'over' às vezes. Ainda assim, o roteiro é meio pobre e mal desenvolvido e não sustenta o filme, não conseguindo alcançar o que os potenciais da trama tanto prometem. É curto e consegue distrair por sua uma hora e meia, mas é automaticamente esquecível assim que se encerra.
Um Woody Allen fraco ainda é melhor do que muita coisa. Em "O Escorpião de Jade", Woody Allen vive C.W. Briggs, um investigador de seguros a la 'Pacto de Sangue' que se envolve em uma trama envolvendo roubo de joias, hipnose e a rivalidade com a nova sócia da empresa, Srta. Fitzgerald (Helen Hunt). O roteiro é bem bobinho e fraco, uma das comédias menos inspiradas de Woody Allen, mas a química entre os dois protagonistas até que compensa. Charlize Theron também funciona como 'femme fatale' nas poucas cenas em que aparece. Mas a melhor coisa mesmo de "O Escorpião de Jade" é o charme, a reconstrução de época, e o seu clima de comédia inocente dos anos quarenta.
Típico filme de adolescentes em que os personagens adolescentes precisam lidar com conflitos adolescentes sobre popularidade. Como se o mundinho deles se limitasse a quem é mais legal dentro das paredes de um colégio. Certamente tem o seu nicho de público específico, do qual eu não faço parte já há bastante tempo (se é que um dia eu fiz, mesmo nessa idade eu já não me interessava muito por esse tipo de tema). Tem algumas piadas de humor negro bacanas, reconheço, um elenco 'teen' esforçado, uma direção competente. Mas nada que seja muito marcante ou único.
O CGI é realmente fraco e deixa a desejar em vários momentos, e Ezra Miller é um protagonista extremamente irritante na sua composição de Barry Allen como um ser debiloide (em suas duas versões). Mas o roteiro é suficientemente criativo e se esforça para nos entregar algo que seja um pouco diferente daquilo que estamos habituados a ver no gênero (e olha que eu nem acho que o roteiro alopra tanto quanto poderia ter aloprado). E para quem cresceu na década de 90 vendo o Batman do Michael Keaton passando na Sessão da Tarde, consegue ter uma ponta de nostalgia carinhosa em várias cenas do filme, em especial as da BatCaverna. As piadas oscilam, quando autodepreciam o próprio universo DC elas funcionam, mas as demais são apenas bobinhas. No fim, confesso que me distraiu e gostei mais do que esperava ter gostado, ainda que reconheça que o longa esteja muito, muito distante de ser perfeito. Mas sei que o que mais me cativou no filme foram suas tentativas de ser uma homenagem a todo o legado da editora nos cinemas depois de todos esses anos, reconhecendo e dando crédito a cada universo criado, e não a sua trama individual. Se tivesse vindo por último seria um tematicamente adequado 'ponto final' pro claudicante Snyderverse (ou, um 'ponto e vírgula', um reconhecimento das mudanças que estão por vir, mas sem fechar completamente a porta para esses personagens - os poucos - que de fato funcionaram).
P.S.: é um alívio perceber que o filme reconhece os eventos do SnyderCut como aqueles que de fato ocorreram e que são oficiais nesse universo. Sepultando a pavorosa versão do Whedon de vez.
Basicamente uma versão ruim do 'Sucker Punch'. E não que o filme de Zack Snyder seja necessariamente bom. "Aterrorizada" acompanha as desventuras de um grupo de meninas em uma ala psiquiátrica enquanto são assombradas por um fantasma misterioso e mal-feito. A trama tem seus momentos em que poderia brilhar, mas falta identidade a um filme de terror tão genérico e fora de forma. Dói ver um cineasta gabaritado como John Carpenter recorrer, por exemplo, ao clichê do fantasma no espelho. Utiliza as convenções do gênero no piloto automático, sem qualquer tipo de originalidade, e mesmo o plot twist - copiado de vários outros filmes - acaba não surpreendendo. A protagonista Amber Heard é insossa, e ganha a companhia de Danielle Panabaker, atriz presente em vários filmes de terror trash e de baixo orçamento do início dos anos dois mil e dez... No mais, Jared Harris precisando pagar umas contas e John Carpenter se aposentando em um filme que não faz jus ao nível de sua filmografia.
Independente se você gosta da trama de 'Midsommar' ou não, uma coisa é inegável: Ari Aster é um diretor que sabe conduzir uma câmera e compôr enquadramentos visuais. "Midsommar" é, assim como já era "Hereditário" antes dele, um filme perturbadoramente bonito de se assistir. E também como acontecia em "Hereditário", Aster sabe partir de situações altamente incômodas para construir uma atmosfera de terror desesperadora (em ambos os filmes o que há de mais sinistro, na verdade, é algo possível e real). Entretanto, ainda que o longa realize com competência a composição gradual da ameaça daquele mundo, da sua cultura pagã e da atmosfera sinistra de seus costumes e hábitos, o seu terceiro ato - que até então prometia algo apoteótico - acaba soando pobre em criatividade, broxante, e até involuntariamente risível em alguns momentos. Aquela velha sensação de... 'hmm, então é só isso?' Esse sentimento de frustração inviabiliza a qualidade do que veio antes? Sim e não, pois não tem como esconder um certo ar de frivolidade banal extraído da conclusão da história. Em tempo, o fato de nenhum dos personagens - incluindo a protagonista - ser minimamente carismático prejudica a nossa torcida e mesmo a empatia por seus destinos. Por fim, de se citar uma inesperada - e completamente gratuita - referência ao horrível "O Sacrifício", com Nicolas Cage (remake, por sua vez, do infinitamente superior "O Homem de Palha")..
Poderia ser pior. Originalmente, quem estava cotada para o papel de Natasha Henstridge era Courteney Love. Não que Henstridge salve o filme - na verdade, nada salva - mas ao menos Henstridge convence mais no papel de heroína motherfucker chutadora de traseiros. De resto, "Fantasmas de Marte" é completamente indefensável. A premissa é uma mistura de "Assalto à 13ª DP", "Invasores de Corpos" e "Missão: Marte", e até poderia ter rendido uma trama interessante, se não fosse pelo fato do roteiro tacanho e mal construído reunir os personagens mais estúpidos de toda a filmografia de John Carpenter em um único filme. Sério, parece que os 'fantasmas' afinal não eram a única coisa com o poder de se espalhar na atmosfera marciana, já que a burrice nesse longa também aparenta ser contagiosa. Soma-se a isso os efeitos especiais lixo e o "carisma" de Ice Cube e Jason Stathan e a obra beira o limite do suportável.
Filme de estreia de Christopher Nolan, com certa influência estética de 'Eraserhead', do David Lynch, e de "Pi", do Aronofsky. Desde cedo já dá para perceber a predileção de Nolan por verdadeiros quebra-cabeças fílmicos. Contando uma história de golpes entre ladrões de uma maneira fragmentada, "Following" divide a sua narrativa em linhas do tempo diferentes de forma a tornar a trama mais enigmática, embora sempre compreensível - usando um artifício relativamente simples para situar o espectador no tempo da narrativa, a aparência do protagonista. É um filme bem cru em técnica, é verdade, mas tal crueza contribui para a experiência. E os plot twists já mostram que Nolan se mostraria no futuro um roteirista, se não genial, ao menos ousado.
Dirigido por Akira Kurosawa e baseado em 'Rei Lear' de Shakespeare, "Ran" é um épico que se passa no Japão feudal e que mistura sangue, batalhas e conspirações políticas e familiares. Basicamente um 'Game of Thrones' nipônico da década de 80. O longa-metragem (seus 160 minutos passam incrivelmente rápido) não é apenas sobre pais e filhos em relações problemáticas, mas tem sua importância ao retratar principalmente temas como a honra e a lealdade. Kurosawa dirige as cenas de guerra como o verdadeiro Mestre do Cinema que de fato era, utilizando de forma inteligente o conceito das cores diferentes para representar o exército de cada irmão e, assim, tornar as sequências sempre geograficamente compreensíveis. Uma obra-prima fabulosa do cinema japonês, e um dos últimos filmes feitos por Akira Kurosawa, uma joia extremamente preciosa e bem lapidada que, por muito pouco, quase não existiu.
Poucos filmes podem ser considerados como sendo de ficção científica pura. Naturalmente esse gênero acaba se misturando com outros gêneros. "O Enigma de Andrômeda", por sua vez, é um dos que fogem a regra. Contando o que seria o início de uma crise biológica pelo ponto de vista exclusivo dos cientistas que estudam o fenômeno, o longa-metragem coloca a ciência e seus procedimentos científicos em primeiro lugar. Por um lado, isso é interessante, pois dota a produção de uma identidade própria e de uma valorização do papel do cientista enquanto protagonista que poucas obras hollywoodianas conferem. Por outro, o excesso de preciosismo na investigação e as tecnicidades acabam conferindo ao longa uma certa frieza emocional, já que não nos importamos com o destino da humanidade, tampouco com o de seus personagens. Ainda assim, é um filme que merece ser visto por conta de suas prospecções futuras (bastante pessimistas, mas pandemicamente relevantes) e questões filosóficas que provoca.
Continuação do primeiro 'Creepshow', que, por sua vez, era uma adaptação de uma revistinha de contos de terror avulsos norte-americana. Esta continuação segue a mesma linha, com três segmentos independentes e uma historinha em animação que serve como ligação entre eles - e que, convenhamos, é bem bobinha. O primeiro conto é o da estátua do índio que ganha vida para vingar os seus donos. A maquiagem utilizada é bacana, mas o curta não é nem um pouco envolvente, não assustando e com uma historia que dura bem mais do que deveria. Felizmente os dois seguintes são melhores. O segundo - que já era um dos melhores contos do livro "Tripulação de Esqueletos" - funciona pelo seu conceito gore criativo e absolutamente trash, ainda que deixe a desejar nas atuações ruins. Ironicamente, o terceiro e último funciona muito por conta da construção do pânico da personagem pela atriz Lois Chiles em uma história que é literalmente uma estrutura de pesadelo. No todo, 'Creepshow 2' é um filme irregular, com altos e baixos, e esquecível - como também era o primeiro - mas ao menos eficiente em distrair.
O começo do declínio. A despeito de ter o nome no título, "Vampiros, de John Carpenter" é um filme que se me dissessem que foi comandado por outro diretor, eu acreditaria. Aqui e ali ainda dá para captar alguma coisa da assinatura do cineasta - como a forte influência do western - mas, no geral, é um filme excessivamente genérico e morno. O roteiro medíocre não empolga, muito menos as atuações artificiais dos personagens sem carisma. James Woods faz o que pode, mas é o mesmo que tentar tirar leite - ou 'sangue' - de pedra. Melhora um pouquinho no clímax perto de acabar, é verdade, mas quando já é muito tarde para salvar alguma coisa. Sonolento, o único momento em que 'Vampiros' parece despertar é na cena do massacre trash no motel, que acaba sendo a melhor coisa do filme... mas não pelos motivos corretos
"Memórias de um Homem Invisível" começa com uma poltrona vazia e a voz de Chevy Chase. A partir daí o protagonista conta em flashback como ele chegou naquele estado, uma estrutura de roteiro bastante recorrente e até clichê. Na verdade, este é um filme genérico muito mais do Chase do que do John Carpenter, que o dirige meio que no piloto automático, sem deixar evidente em nenhum momento sua assinatura autoral. Dirigir uma obra audiovisual sobre um personagem invisível é um desafio complicado. Por ou lado, a necessidade das questões técnicas se sobressaírem são evidentes, por outro, revelar em excesso o ator para o público pode ser um mal necessário, ainda que soe como uma trapaça no conceito. Aqui, John Carpenter faz o suficiente para o filme funcionar, o feijão com o arroz, mas em nenhum momento impressiona ou desafia o espectador. Ademais, o timing cômico do filme - que, receio, se deve as influências de Chevy Chase - não funciona, e as piadas não têm a menor graça. Acaba sendo uma sessão da tarde bacaninha, mas que se esvanece na memória assim que acaba, bem como a visibilidade de seu protagonista.
Os fãs de John Carpenter gostam de incluir "Príncipe das Sombras" em uma trilogia temática do diretor sobre o apocalipse, que também incluiria "Eles Vivem" e "À Beira da Loucura". Uma reunião bastante questionável, haja vista que o desfecho de "O Enigma de Outro Mundo" também o validaria para entrar nesse grupo. Mas divago, seja como for, "Príncipe das Sombras" é o melhor filme entre esses três e, certamente, o filme mais herético da filmografia de John Carpenter. Ousado e corajoso, o cineasta não se importa em atingir crenças sensíveis ou mesmo em ofender a Igreja com uma história que traz o conceito de um 'antiDeus' e a insinuação de que os católicos estariam depositando sua fé na entidade equivocada durante dois mil anos. A atmosfera de terror é bem construída, uma das melhores dos filmes do cineasta, e ainda que os personagens não exatamente cativem, seus destinos impressionam pela qualidade visual da maquiagem e dos efeitos práticos. A dualidade entre ciência e religião até funciona em um primeiro momento como ponto de partida, mas logo é abandonada a medida que o ceticismo dos cientistas vai cedendo lugar ao pavor puro. E, afinal, era exatamente isso o que mais interessava a John Carpenter.
Após a frustração pela recepção morna de "O Enigma de Outro Mundo", John Carpenter resolveu seguir o caminho oposto e investir no filme do 'alien bonzinho'. E se "Starman" é basicamente o antípoda do filme anterior em praticamente todos os sentidos, pelo menos em qualidade não deixa tanto assim a desejar. Claro, está longe de ser um marco do gênero da ficção científica como o seu antecessor, mas funciona e envolve enquanto um romance bonito, otimista e inspirador. Uma visão de um visitante inesperado sobre as nossas fragilidades, as nossas limitações, mas, também, sobre o que nós temos de bom. Aquela fagulha do ser humano que... faz valer a pena. "Starman" é o ponto em que o cinema de John Carpenter quase atinge o altruísmo e a sensibilidade do cinema de Steven Spielberg. E, incrivelmente, funciona.
Cultuado por gerações e completamente escalafobético. "The Rocky Horror Picture Show" se situa entre a homenagem aos filmes de terror e de sci-fi B antigões e, ao mesmo tempo, entre a consciência de ser uma autoparódia absurda no formato de musical. É o 'trash' em alto estilo, o luxo do lixo. E é justamente nessa sua contra-cultura anárquica sexual que reside boa parte de seu charme. Insano, mas divertido.
Um exercício de gênero feito com assaz competência por um diretor que, até então, era praticamente um estreante. "Alguém Me Vigia" é um thriller de suspense com pitadas de 'Janela Indiscreta', que John Carpenter assina com segurança, criando uma trama envolvente, interessante, com identidade própria e criativa. E surpreendentemente bem dirigida para uma obra originalmente pensada para a TV (algo que acaba sendo denunciado pelas várias pausas, obviamente necessárias aos intervalos comerciais). É interessante notar como já no início da carreira John Carpenter sabia usar e subverter os clichês do horror, conhecendo a hora certa, por exemplo, de usar um jumpscare completamente inesperado. A progressão do terror psicológico da protagonista é construído com competência pela atriz Lauren Hutton (que, na verdade, era modelo). O mesmo não se pode dizer da química entre ela e o interesse romântico David Birney, o relacionamento do casal soa meio forçado. Por fim, ainda que o filme não tenha problemas de ritmo evidentes, creio que poderia ter uns dez minutos a menos.
Filme de estreia do cineasta John Carpenter, "Dark Star" é uma paródia dos filmes de ficção científica. Mais especificamente, uma espécie de "2001" completamente despirocado. A intenção é bacana, e o filme poderia ter resultado em algo legal, se tivesse desenvolvido melhor sua história, seus personagens e. principalmente, suas piadas. "Dark Star" é uma comédia que não faz rir, não possui timing cômico. O número relativo escasso de situações são comprometidas pela excesso de tempo que Carpenter confere a cada uma delas. A sequência do 'alienígena-balão', por exemplo, parece durar uma eternidade. Feliz que Carpenter tenha conseguido se estabelecer como um grande diretor de filmes de ficção científica e de terror com o passar dos anos. Ainda mais, a julgar por esse trabalho de estreia tão irregular.
Dirigido por Jason Reitman e roteirizado por Diablo Cody, a mesma dupla por trás do eficiente "Juno". "Tully" é quase que, de certa forma, uma espécie de continuação temática sobre a maternidade. Enquanto que no primeiro temos uma adolescente convicta de sua ausente aptidão maternal, aqui temos uma mãe de meia idade em sua terceira gestação completamente sobrecarregada pelas demandas infindáveis da vida doméstica. Psicologicamente, no entanto, "Tully" se mostra um filme bem mais instigante - mesmo que seu plot twist se torne meio previsível a partir da metade da projeção para quem tenha prestado atenção nas pistas deixadas pelo roteiro. É um estudo de personagem sobre a figura da mãe, seus anseios, angústias e medos. Mas, também, uma lembrança do que a torna mais forte, jovial, resignada e persistente, ainda que a rotina pareça sufocá-la.
Uma oportunidade desperdiçada. "Star Trek - Generations" poderia ter sido um marco cinematográfico na franquia ao oportunizar o encontro das duas gerações da Enterprise, a clássica e a nova. E de certa forma ele até faz isso. Mas o resultado fica muito, muito aquém do que poderia ter sido. Poucos atores da série clássica toparam retornar e sua participação, no geral, soa medíocre. O filme acaba sendo mesmo um filme sobre a 'Next Generation' e, se fosse vendido apenas por esse ponto de vista, ao menos não chegaria a decepcionar. A trama é razoável, (existem episódios soltos de Next Generation que conseguem ser melhores) o vilão ganha pontos por ser interpretado por Malcolm McDowell, mas sua motivação é pífia. O filme tenta explorar facetas inexploradas de Data e Pickard, mas soa profundamente raso. Ao menos possui uma das melhores cenas envolvendo a Enterprise de toda a série de filmes.
Consigo respeitar "Babylon" pela sua clara e megalomaníaca intenção de fazer uma homenagem - ainda que absurda e histérica - a toda grandiosidade da história do Cinema. Não à toa, a conversa entre um ator decadente e uma jornalista crítica sobre a imortalidade dos filmes é um dos melhores diálogos da projeção. Mas isso não retira o fato de que na maior parte do tempo tive a sensação de estar vendo uma espécie de Baz Luhrmann mais exagerado do que o habitual, obsceno e gratuitamente escatológico. Sim, pode até haver uma função alegórica nas cenas em que Damien Chazelle usa e abusa do excesso de fezes, urina e vômito, mas a verdade é que elas acabam chamando a atenção mais para si mesmo do que qualquer outra coisa, desafiando a percepção do 'bom(?)' gosto do público (e, de certa forma, colocando em xeque a do diretor). Uma coisa, ao menos, é certa... "Babylon" não é um filme para qualquer público. Conquista seus pontos altos quando aborda tão vividamente a história do cinema e a conturbada transição do período mudo para o sonoro. Mas, particularmente, sobre esse mesmo tema prefiro rever a classe e o refino de um "Cantando na Chuva", a ter que rever esse longa novamente.
Remake de "O Homem de Palha", essa versão estrelada por Nicolas Cage tenta manter o essencial da história, mas em um filme sem atmosfera, sem ousadia, sem criatividade, sem enlace. A trama meio furada já começa ruim, mas empalidece ainda mais à medida que o longa vai avançando. Não é de se espantar que o histriônico e exagerado Cage - que topa qualquer coisa - tenha aceitado participar dessa besteira, mas surpreende a presença de Ellen Burstyn que provavelmente devia estar precisando pagar as contas da casa. Não considero o original, de 1973, uma obra-prima do gênero. Mas, sem dúvida, tem mais presença, coragem e impacto do que este daqui.
Red: Crescer é uma Fera
3.9 555 Assista AgoraA Pixar já havia tentado abordar antes as relações entre mães possessivas e filhas adolescentes no bem intencionado, mas raso, "Valente". "Turning Red" pega algumas das ideias daquele filme (sendo a transfiguração de um dos personagens em um animal a mais evidente) e a eleva para um roteiro bem melhor estruturado e desenvolvido. As metáforas sobre as mudanças da puberdade que não poderiam faltar são bem encaixadas, concluindo com uma reflexão bacana sobre a necessidade de aceitarmos a nossa própria natureza e a nossa condição de filhos de nossos pais, e de que um dia todos teremos que fazer nossas próprias escolhas. É uma lição meio clichê, sim, mas a diretora Domee Shi tem a sensibilidade de fazê-la de uma forma envolvente e que consegue atravessar gerações. "Turning Red" é um filme para filhas, mas também é um filme para mães. Ambas precisando aprender a viver (e, principalmente, a conviver) respeitando o espaço e as escolhas uma da outra. Não é exatamente original, mas inegavelmente tem o seu valor.
As Patricinhas de Beverly Hills
3.4 1,0K Assista AgoraBasicamente uma releitura de "Emma", da Jane Austen, para o universo adolescente da década de 90. "As Patricinhas de Beverly Hills" tenta de forma insípida fazer uma imagem caricata e crítica da geração fútil, superficial e enlatada da juventude norte-americana, todavia, só o que consegue é ser igualmente fútil, superficial e enlatado no processo. Assim, o filme acaba caindo de forma contraditória na própria armadilha em que monta, se tornando exatamente aquilo que critica. Ao mesmo tempo que o longa debocha da frugalidade, ele a enaltece. Ao menos, vê-se que Alicia Silverstone levou a sério o projeto e buscou se esforçar para entregar uma atuação competente, enquanto que Paul Rudd é um interesse amoroso apático e sem química, e Brittany Murphy é prejudicada pelo roteiro por conta das mudanças bruscas e repentinas na personalidade de sua personagem. No geral, 'Clueless', no original, é uma obra teenager inconsistente. Até dá para entender o apelo nostálgico geracional, mas o filme não sobrevive a uma olhada mais a fundo.
Lucy
3.3 3,4K Assista AgoraQuase um 'Sem Limites' versão feminina, mas mais despirocado, mais ambicioso e um pouco melhor dirigido que o filme estrelado por Bradley Cooper. Tem algumas boas cenas de ação, ainda que a atuação meio robótica de Scarlett Johansson soe meio caricata e 'over' às vezes. Ainda assim, o roteiro é meio pobre e mal desenvolvido e não sustenta o filme, não conseguindo alcançar o que os potenciais da trama tanto prometem. É curto e consegue distrair por sua uma hora e meia, mas é automaticamente esquecível assim que se encerra.
O Escorpião de Jade
3.4 115 Assista AgoraUm Woody Allen fraco ainda é melhor do que muita coisa. Em "O Escorpião de Jade", Woody Allen vive C.W. Briggs, um investigador de seguros a la 'Pacto de Sangue' que se envolve em uma trama envolvendo roubo de joias, hipnose e a rivalidade com a nova sócia da empresa, Srta. Fitzgerald (Helen Hunt). O roteiro é bem bobinho e fraco, uma das comédias menos inspiradas de Woody Allen, mas a química entre os dois protagonistas até que compensa. Charlize Theron também funciona como 'femme fatale' nas poucas cenas em que aparece. Mas a melhor coisa mesmo de "O Escorpião de Jade" é o charme, a reconstrução de época, e o seu clima de comédia inocente dos anos quarenta.
Meninas Malvadas
3.7 2,1K Assista AgoraTípico filme de adolescentes em que os personagens adolescentes precisam lidar com conflitos adolescentes sobre popularidade. Como se o mundinho deles se limitasse a quem é mais legal dentro das paredes de um colégio. Certamente tem o seu nicho de público específico, do qual eu não faço parte já há bastante tempo (se é que um dia eu fiz, mesmo nessa idade eu já não me interessava muito por esse tipo de tema). Tem algumas piadas de humor negro bacanas, reconheço, um elenco 'teen' esforçado, uma direção competente. Mas nada que seja muito marcante ou único.
The Flash
3.1 749 Assista AgoraO CGI é realmente fraco e deixa a desejar em vários momentos, e Ezra Miller é um protagonista extremamente irritante na sua composição de Barry Allen como um ser debiloide (em suas duas versões). Mas o roteiro é suficientemente criativo e se esforça para nos entregar algo que seja um pouco diferente daquilo que estamos habituados a ver no gênero (e olha que eu nem acho que o roteiro alopra tanto quanto poderia ter aloprado). E para quem cresceu na década de 90 vendo o Batman do Michael Keaton passando na Sessão da Tarde, consegue ter uma ponta de nostalgia carinhosa em várias cenas do filme, em especial as da BatCaverna. As piadas oscilam, quando autodepreciam o próprio universo DC elas funcionam, mas as demais são apenas bobinhas. No fim, confesso que me distraiu e gostei mais do que esperava ter gostado, ainda que reconheça que o longa esteja muito, muito distante de ser perfeito. Mas sei que o que mais me cativou no filme foram suas tentativas de ser uma homenagem a todo o legado da editora nos cinemas depois de todos esses anos, reconhecendo e dando crédito a cada universo criado, e não a sua trama individual. Se tivesse vindo por último seria um tematicamente adequado 'ponto final' pro claudicante Snyderverse (ou, um 'ponto e vírgula', um reconhecimento das mudanças que estão por vir, mas sem fechar completamente a porta para esses personagens - os poucos - que de fato funcionaram).
P.S.: é um alívio perceber que o filme reconhece os eventos do SnyderCut como aqueles que de fato ocorreram e que são oficiais nesse universo. Sepultando a pavorosa versão do Whedon de vez.
Aterrorizada
2.8 542Basicamente uma versão ruim do 'Sucker Punch'. E não que o filme de Zack Snyder seja necessariamente bom. "Aterrorizada" acompanha as desventuras de um grupo de meninas em uma ala psiquiátrica enquanto são assombradas por um fantasma misterioso e mal-feito. A trama tem seus momentos em que poderia brilhar, mas falta identidade a um filme de terror tão genérico e fora de forma. Dói ver um cineasta gabaritado como John Carpenter recorrer, por exemplo, ao clichê do fantasma no espelho. Utiliza as convenções do gênero no piloto automático, sem qualquer tipo de originalidade, e mesmo o plot twist - copiado de vários outros filmes - acaba não surpreendendo. A protagonista Amber Heard é insossa, e ganha a companhia de Danielle Panabaker, atriz presente em vários filmes de terror trash e de baixo orçamento do início dos anos dois mil e dez... No mais, Jared Harris precisando pagar umas contas e John Carpenter se aposentando em um filme que não faz jus ao nível de sua filmografia.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraIndependente se você gosta da trama de 'Midsommar' ou não, uma coisa é inegável: Ari Aster é um diretor que sabe conduzir uma câmera e compôr enquadramentos visuais. "Midsommar" é, assim como já era "Hereditário" antes dele, um filme perturbadoramente bonito de se assistir. E também como acontecia em "Hereditário", Aster sabe partir de situações altamente incômodas para construir uma atmosfera de terror desesperadora (em ambos os filmes o que há de mais sinistro, na verdade, é algo possível e real). Entretanto, ainda que o longa realize com competência a composição gradual da ameaça daquele mundo, da sua cultura pagã e da atmosfera sinistra de seus costumes e hábitos, o seu terceiro ato - que até então prometia algo apoteótico - acaba soando pobre em criatividade, broxante, e até involuntariamente risível em alguns momentos. Aquela velha sensação de... 'hmm, então é só isso?' Esse sentimento de frustração inviabiliza a qualidade do que veio antes? Sim e não, pois não tem como esconder um certo ar de frivolidade banal extraído da conclusão da história. Em tempo, o fato de nenhum dos personagens - incluindo a protagonista - ser minimamente carismático prejudica a nossa torcida e mesmo a empatia por seus destinos. Por fim, de se citar uma inesperada - e completamente gratuita - referência ao horrível "O Sacrifício", com Nicolas Cage (remake, por sua vez, do infinitamente superior "O Homem de Palha")..
Fantasmas de Marte
2.3 164 Assista AgoraPoderia ser pior. Originalmente, quem estava cotada para o papel de Natasha Henstridge era Courteney Love. Não que Henstridge salve o filme - na verdade, nada salva - mas ao menos Henstridge convence mais no papel de heroína motherfucker chutadora de traseiros. De resto, "Fantasmas de Marte" é completamente indefensável. A premissa é uma mistura de "Assalto à 13ª DP", "Invasores de Corpos" e "Missão: Marte", e até poderia ter rendido uma trama interessante, se não fosse pelo fato do roteiro tacanho e mal construído reunir os personagens mais estúpidos de toda a filmografia de John Carpenter em um único filme. Sério, parece que os 'fantasmas' afinal não eram a única coisa com o poder de se espalhar na atmosfera marciana, já que a burrice nesse longa também aparenta ser contagiosa. Soma-se a isso os efeitos especiais lixo e o "carisma" de Ice Cube e Jason Stathan e a obra beira o limite do suportável.
Following
4.0 302 Assista AgoraFilme de estreia de Christopher Nolan, com certa influência estética de 'Eraserhead', do David Lynch, e de "Pi", do Aronofsky. Desde cedo já dá para perceber a predileção de Nolan por verdadeiros quebra-cabeças fílmicos. Contando uma história de golpes entre ladrões de uma maneira fragmentada, "Following" divide a sua narrativa em linhas do tempo diferentes de forma a tornar a trama mais enigmática, embora sempre compreensível - usando um artifício relativamente simples para situar o espectador no tempo da narrativa, a aparência do protagonista. É um filme bem cru em técnica, é verdade, mas tal crueza contribui para a experiência. E os plot twists já mostram que Nolan se mostraria no futuro um roteirista, se não genial, ao menos ousado.
Ran
4.5 265 Assista AgoraDirigido por Akira Kurosawa e baseado em 'Rei Lear' de Shakespeare, "Ran" é um épico que se passa no Japão feudal e que mistura sangue, batalhas e conspirações políticas e familiares. Basicamente um 'Game of Thrones' nipônico da década de 80. O longa-metragem (seus 160 minutos passam incrivelmente rápido) não é apenas sobre pais e filhos em relações problemáticas, mas tem sua importância ao retratar principalmente temas como a honra e a lealdade. Kurosawa dirige as cenas de guerra como o verdadeiro Mestre do Cinema que de fato era, utilizando de forma inteligente o conceito das cores diferentes para representar o exército de cada irmão e, assim, tornar as sequências sempre geograficamente compreensíveis. Uma obra-prima fabulosa do cinema japonês, e um dos últimos filmes feitos por Akira Kurosawa, uma joia extremamente preciosa e bem lapidada que, por muito pouco, quase não existiu.
O Enigma de Andrômeda
3.6 77Poucos filmes podem ser considerados como sendo de ficção científica pura. Naturalmente esse gênero acaba se misturando com outros gêneros. "O Enigma de Andrômeda", por sua vez, é um dos que fogem a regra. Contando o que seria o início de uma crise biológica pelo ponto de vista exclusivo dos cientistas que estudam o fenômeno, o longa-metragem coloca a ciência e seus procedimentos científicos em primeiro lugar. Por um lado, isso é interessante, pois dota a produção de uma identidade própria e de uma valorização do papel do cientista enquanto protagonista que poucas obras hollywoodianas conferem. Por outro, o excesso de preciosismo na investigação e as tecnicidades acabam conferindo ao longa uma certa frieza emocional, já que não nos importamos com o destino da humanidade, tampouco com o de seus personagens. Ainda assim, é um filme que merece ser visto por conta de suas prospecções futuras (bastante pessimistas, mas pandemicamente relevantes) e questões filosóficas que provoca.
Creepshow 2: Show de Horrores
3.5 167Continuação do primeiro 'Creepshow', que, por sua vez, era uma adaptação de uma revistinha de contos de terror avulsos norte-americana. Esta continuação segue a mesma linha, com três segmentos independentes e uma historinha em animação que serve como ligação entre eles - e que, convenhamos, é bem bobinha. O primeiro conto é o da estátua do índio que ganha vida para vingar os seus donos. A maquiagem utilizada é bacana, mas o curta não é nem um pouco envolvente, não assustando e com uma historia que dura bem mais do que deveria. Felizmente os dois seguintes são melhores. O segundo - que já era um dos melhores contos do livro "Tripulação de Esqueletos" - funciona pelo seu conceito gore criativo e absolutamente trash, ainda que deixe a desejar nas atuações ruins. Ironicamente, o terceiro e último funciona muito por conta da construção do pânico da personagem pela atriz Lois Chiles em uma história que é literalmente uma estrutura de pesadelo. No todo, 'Creepshow 2' é um filme irregular, com altos e baixos, e esquecível - como também era o primeiro - mas ao menos eficiente em distrair.
Vampiros de John Carpenter
3.1 268 Assista AgoraO começo do declínio. A despeito de ter o nome no título, "Vampiros, de John Carpenter" é um filme que se me dissessem que foi comandado por outro diretor, eu acreditaria. Aqui e ali ainda dá para captar alguma coisa da assinatura do cineasta - como a forte influência do western - mas, no geral, é um filme excessivamente genérico e morno. O roteiro medíocre não empolga, muito menos as atuações artificiais dos personagens sem carisma. James Woods faz o que pode, mas é o mesmo que tentar tirar leite - ou 'sangue' - de pedra. Melhora um pouquinho no clímax perto de acabar, é verdade, mas quando já é muito tarde para salvar alguma coisa. Sonolento, o único momento em que 'Vampiros' parece despertar é na cena do massacre trash no motel, que acaba sendo a melhor coisa do filme... mas não pelos motivos corretos
Memórias de um Homem Invisível
3.0 77"Memórias de um Homem Invisível" começa com uma poltrona vazia e a voz de Chevy Chase. A partir daí o protagonista conta em flashback como ele chegou naquele estado, uma estrutura de roteiro bastante recorrente e até clichê. Na verdade, este é um filme genérico muito mais do Chase do que do John Carpenter, que o dirige meio que no piloto automático, sem deixar evidente em nenhum momento sua assinatura autoral. Dirigir uma obra audiovisual sobre um personagem invisível é um desafio complicado. Por ou lado, a necessidade das questões técnicas se sobressaírem são evidentes, por outro, revelar em excesso o ator para o público pode ser um mal necessário, ainda que soe como uma trapaça no conceito. Aqui, John Carpenter faz o suficiente para o filme funcionar, o feijão com o arroz, mas em nenhum momento impressiona ou desafia o espectador. Ademais, o timing cômico do filme - que, receio, se deve as influências de Chevy Chase - não funciona, e as piadas não têm a menor graça. Acaba sendo uma sessão da tarde bacaninha, mas que se esvanece na memória assim que acaba, bem como a visibilidade de seu protagonista.
Príncipe das Sombras
3.5 151Os fãs de John Carpenter gostam de incluir "Príncipe das Sombras" em uma trilogia temática do diretor sobre o apocalipse, que também incluiria "Eles Vivem" e "À Beira da Loucura". Uma reunião bastante questionável, haja vista que o desfecho de "O Enigma de Outro Mundo" também o validaria para entrar nesse grupo. Mas divago, seja como for, "Príncipe das Sombras" é o melhor filme entre esses três e, certamente, o filme mais herético da filmografia de John Carpenter. Ousado e corajoso, o cineasta não se importa em atingir crenças sensíveis ou mesmo em ofender a Igreja com uma história que traz o conceito de um 'antiDeus' e a insinuação de que os católicos estariam depositando sua fé na entidade equivocada durante dois mil anos. A atmosfera de terror é bem construída, uma das melhores dos filmes do cineasta, e ainda que os personagens não exatamente cativem, seus destinos impressionam pela qualidade visual da maquiagem e dos efeitos práticos. A dualidade entre ciência e religião até funciona em um primeiro momento como ponto de partida, mas logo é abandonada a medida que o ceticismo dos cientistas vai cedendo lugar ao pavor puro. E, afinal, era exatamente isso o que mais interessava a John Carpenter.
Starman: O Homem das Estrelas
3.4 98 Assista AgoraApós a frustração pela recepção morna de "O Enigma de Outro Mundo", John Carpenter resolveu seguir o caminho oposto e investir no filme do 'alien bonzinho'. E se "Starman" é basicamente o antípoda do filme anterior em praticamente todos os sentidos, pelo menos em qualidade não deixa tanto assim a desejar. Claro, está longe de ser um marco do gênero da ficção científica como o seu antecessor, mas funciona e envolve enquanto um romance bonito, otimista e inspirador. Uma visão de um visitante inesperado sobre as nossas fragilidades, as nossas limitações, mas, também, sobre o que nós temos de bom. Aquela fagulha do ser humano que... faz valer a pena. "Starman" é o ponto em que o cinema de John Carpenter quase atinge o altruísmo e a sensibilidade do cinema de Steven Spielberg. E, incrivelmente, funciona.
The Rocky Horror Picture Show
4.1 1,3K Assista AgoraCultuado por gerações e completamente escalafobético. "The Rocky Horror Picture Show" se situa entre a homenagem aos filmes de terror e de sci-fi B antigões e, ao mesmo tempo, entre a consciência de ser uma autoparódia absurda no formato de musical. É o 'trash' em alto estilo, o luxo do lixo. E é justamente nessa sua contra-cultura anárquica sexual que reside boa parte de seu charme. Insano, mas divertido.
Alguém Me Vigia
3.5 55Um exercício de gênero feito com assaz competência por um diretor que, até então, era praticamente um estreante. "Alguém Me Vigia" é um thriller de suspense com pitadas de 'Janela Indiscreta', que John Carpenter assina com segurança, criando uma trama envolvente, interessante, com identidade própria e criativa. E surpreendentemente bem dirigida para uma obra originalmente pensada para a TV (algo que acaba sendo denunciado pelas várias pausas, obviamente necessárias aos intervalos comerciais). É interessante notar como já no início da carreira John Carpenter sabia usar e subverter os clichês do horror, conhecendo a hora certa, por exemplo, de usar um jumpscare completamente inesperado. A progressão do terror psicológico da protagonista é construído com competência pela atriz Lauren Hutton (que, na verdade, era modelo). O mesmo não se pode dizer da química entre ela e o interesse romântico David Birney, o relacionamento do casal soa meio forçado. Por fim, ainda que o filme não tenha problemas de ritmo evidentes, creio que poderia ter uns dez minutos a menos.
Dark Star
3.3 64 Assista AgoraFilme de estreia do cineasta John Carpenter, "Dark Star" é uma paródia dos filmes de ficção científica. Mais especificamente, uma espécie de "2001" completamente despirocado. A intenção é bacana, e o filme poderia ter resultado em algo legal, se tivesse desenvolvido melhor sua história, seus personagens e. principalmente, suas piadas. "Dark Star" é uma comédia que não faz rir, não possui timing cômico. O número relativo escasso de situações são comprometidas pela excesso de tempo que Carpenter confere a cada uma delas. A sequência do 'alienígena-balão', por exemplo, parece durar uma eternidade. Feliz que Carpenter tenha conseguido se estabelecer como um grande diretor de filmes de ficção científica e de terror com o passar dos anos. Ainda mais, a julgar por esse trabalho de estreia tão irregular.
Tully
3.9 562 Assista AgoraDirigido por Jason Reitman e roteirizado por Diablo Cody, a mesma dupla por trás do eficiente "Juno". "Tully" é quase que, de certa forma, uma espécie de continuação temática sobre a maternidade. Enquanto que no primeiro temos uma adolescente convicta de sua ausente aptidão maternal, aqui temos uma mãe de meia idade em sua terceira gestação completamente sobrecarregada pelas demandas infindáveis da vida doméstica. Psicologicamente, no entanto, "Tully" se mostra um filme bem mais instigante - mesmo que seu plot twist se torne meio previsível a partir da metade da projeção para quem tenha prestado atenção nas pistas deixadas pelo roteiro. É um estudo de personagem sobre a figura da mãe, seus anseios, angústias e medos. Mas, também, uma lembrança do que a torna mais forte, jovial, resignada e persistente, ainda que a rotina pareça sufocá-la.
Jornada nas Estrelas: Novas Gerações
3.3 64 Assista AgoraUma oportunidade desperdiçada. "Star Trek - Generations" poderia ter sido um marco cinematográfico na franquia ao oportunizar o encontro das duas gerações da Enterprise, a clássica e a nova. E de certa forma ele até faz isso. Mas o resultado fica muito, muito aquém do que poderia ter sido. Poucos atores da série clássica toparam retornar e sua participação, no geral, soa medíocre. O filme acaba sendo mesmo um filme sobre a 'Next Generation' e, se fosse vendido apenas por esse ponto de vista, ao menos não chegaria a decepcionar. A trama é razoável, (existem episódios soltos de Next Generation que conseguem ser melhores) o vilão ganha pontos por ser interpretado por Malcolm McDowell, mas sua motivação é pífia. O filme tenta explorar facetas inexploradas de Data e Pickard, mas soa profundamente raso. Ao menos possui uma das melhores cenas envolvendo a Enterprise de toda a série de filmes.
Babilônia
3.6 334 Assista AgoraConsigo respeitar "Babylon" pela sua clara e megalomaníaca intenção de fazer uma homenagem - ainda que absurda e histérica - a toda grandiosidade da história do Cinema. Não à toa, a conversa entre um ator decadente e uma jornalista crítica sobre a imortalidade dos filmes é um dos melhores diálogos da projeção. Mas isso não retira o fato de que na maior parte do tempo tive a sensação de estar vendo uma espécie de Baz Luhrmann mais exagerado do que o habitual, obsceno e gratuitamente escatológico. Sim, pode até haver uma função alegórica nas cenas em que Damien Chazelle usa e abusa do excesso de fezes, urina e vômito, mas a verdade é que elas acabam chamando a atenção mais para si mesmo do que qualquer outra coisa, desafiando a percepção do 'bom(?)' gosto do público (e, de certa forma, colocando em xeque a do diretor). Uma coisa, ao menos, é certa... "Babylon" não é um filme para qualquer público. Conquista seus pontos altos quando aborda tão vividamente a história do cinema e a conturbada transição do período mudo para o sonoro. Mas, particularmente, sobre esse mesmo tema prefiro rever a classe e o refino de um "Cantando na Chuva", a ter que rever esse longa novamente.
O Sacrificio
2.0 645Remake de "O Homem de Palha", essa versão estrelada por Nicolas Cage tenta manter o essencial da história, mas em um filme sem atmosfera, sem ousadia, sem criatividade, sem enlace. A trama meio furada já começa ruim, mas empalidece ainda mais à medida que o longa vai avançando. Não é de se espantar que o histriônico e exagerado Cage - que topa qualquer coisa - tenha aceitado participar dessa besteira, mas surpreende a presença de Ellen Burstyn que provavelmente devia estar precisando pagar as contas da casa. Não considero o original, de 1973, uma obra-prima do gênero. Mas, sem dúvida, tem mais presença, coragem e impacto do que este daqui.