Uma série de retratos de homens americanos de meia-idade solitários à procura de amor. Homens que não se responsabilizam por sua solidão e recorrem às noivas por correspondência. Através da estranheza do desgosto, da solidão e da incerteza, testemunhamos a gama de reações que esses homens e mulheres têm às suas circunstâncias uns aos outros sobre o que entendem sobre amor. Talvez, fosse mais feliz se tivesse o ponto de vista das mulheres também. Contudo, é um olhar fascinante sobre o tema, merece ser conhecido.
É um estudo de personagem oco. Uma narrativa que se sente apenas aterrada o suficiente para ser crível, infelizmente nunca é particularmente atraente. O resultado é um produto que é muito, muito desigual para ser plenamente apreciado.
Paul Verhoeven sabe provocar como ninguém. É um filme que é tão estranho e complicado que dissecá-lo se torna uma tarefa difícil devido às suas implicações temáticas que precisam ser pensadas e repensadas com cuidado. A moralidade é realmente jogada para fora. Verhoeven é do tipo de cineasta que pode penetrar a mente de um homem e uma mulher com a mesma profundidade.
Neste enredo descreve a vida de uma mulher que potencialmente poderia ser tão perigosa quanto seu enigmático passado, e em algum lugar no fundo de sua mente, ela ainda é. Como se pode imaginar, uma questão de tempo para ela trazer as profundezas de sua consciência que tenta esconder de todos. Ninguém poderia interpretar este personagem melhor que Isabelle Huppert, sem dúvidas uma das maiores atrizes vivas. Confere a personagem uma complexidade estonteante que só Huppert pode oferecer. Ela é atraente, forte e capaz de derrotar qualquer inimigo que deseja. Mas seu primeiro inimigo é ela mesma, e o segundo seus desejos escuros que nunca vão deixá-la em paz.
Verhoeven surpreendentemente muda de tom, acrescenta subtramas familiares cômicas, e tem a ousadia de se tornar uma comédia de humor negro em um piscar de olhos. Sem nunca esquecer que é acima de tudo um suspense psicosexual com controle e equilíbrio. Uma trama que fez meu queixo cair como nenhum outro filme em 2016. Uma super combinação da mente perversa de Verhoeven, e um desempenho indiscutivelmente incomparável de Isabelle Huppert tornam este filme em um dos filmes mais atrevidos do ano.
O título pode soar como um filme de super-herói, e no fundo ele é. É um 'super' pai na busca de oferecer o melhor aos filhos. A trama coloca no centro uma família que vive na floresta em um contato íntimo com a natureza, tocam música e discutem sobre Rousseau. Parece ser a receita para um desastre repleto de clichês, mas o diretor Matt Ross habilmente consegue contar uma história única de uma família incomum com sinceridade e graça.
A beleza do filme está em sua recusa em pintar o pai, interpretado por um brilhante Viggo Mortensen como um tirano iludido ou pioneiro de princípios. Opta em traçar todos os seus lados e seus métodos incomuns de educar seus filhos. Sugere responder as perguntas das crianças com honestidade, sem censura, condescendência e qualquer diluição que nada mais é do que um mecanismo que permite tempo para refletir criticamente sobre diversos temas ao invés de temê-los, deixando-os mais preparados para enfrentar esses problemas quando eles surgirem, particularmente traz à luz a qualidade questionável de algumas instituições de Ensino que condicionam as crianças a decorar ao invés de ter um pensamento crítico sobre tudo o que lêem ou aprendem.
Contudo, o mais excepcional é que o roteiro sagaz apresenta genuinamente os prós e contras de uma educação alternativa e de uma educação do sistema capitalista. Não adianta saber tudo o que está nos livros e não conseguir se relacionar com as demais pessoas. É triunfante em apresentar os dois lados da mesma moeda. Embora perca parte de seu impacto com um desfecho excessivamente sentimental, contudo, equilibra certa angústia, tragédia e esperança. Um filme irresistível.
Grande estréia de Barry Jenkins. Particularmente não gosto da fotografia. Mas, confesso que há algo atraente nela com seus tons de sépia dando lugar a lampejos ocasionais de vermelho, azul e amarelo. Evoca a ressaca e os sentimentos nebulosos dos dois protagonistas.
A trama coloca no centro um homem e uma mulher, ambos negros em uma cama estranha, de ressaca após uma festa, por meio de um relacionamento que pode vir acontecer. Os dois são 'Outsiders' na Cidade de São Francisco e compartilham sentimentos mútuos sobre consciência política, cultura, arte, e a cena Indie. É tudo sobre ser Indie e negro, conseqüentemente não se enquadrar nos estereótipos que a sociedade espera de você.
O amor que ambos nutrem pela música Indie, no entanto, não é um desejo de escapar ou negar a negritude. Mas, que ocasionalmente desperta nos dois certas incertezas em uma cultura cuja configuração padrão é ser "branco" e "descolado". Usando a cidade de São Francisco como um aspecto vital para a trama, o diretor imprime na tela poderosos embates entre os dois, ao mesmo tempo ha conexão e desconexão entre estes amantes temporários de origens culturais semelhantes. É uma pílula amarga para se engolir.
Como os E.U.A chegaram a este ponto? - De a população presidiária ser composta por 40% de negros, percentual elevado, considerando que representam apenas 12% da população total do país. A diretora Ava Duvernay inicia uma conversa sobre as medidas políticas que facilitaram o encarceramento em massa dos afro-americanos. É simultaneamente uma acusação ao complexo prisional-industrial, aos partidos republicano e democrata, e a população branca que foi perniciosa com tudo isso, mas acima de tudo é uma carta de alerta para as comunidades negras devastadas por décadas de injustiça racial.
A missão que Duvernay definiu a si mesma é enorme para seu crédito, entende o seu próprio fardo. Disseca exatamente que o sistema de justiça criminal americano perpetua uma espécie de escravização sistemática. Apresenta argumentos poderosos, após a abolição da escravatura, culturalmente se reformulou o estigma dos negros como predadores e fonte de ameaça à ordem social. E a palavra "criminal" sempre esteve intimamente ligada aos negros, especialmente os homens. O ponto que procura discutir é que uma forma de escravidão foi substituída por outra. Olha para trás dos muros da prisão e explora o sistema prisional privatizado americano para uma forma de escravidão capitalista que existe agora, não reconhecida.
É um documentário que é excepcionalmente pesquisado, e concisamente apresenta sua tese em 1 hora e 40 minutos. O público é bombardeado com uma sensação de que algo fundamental foi descoberto. É uma revelação em tantos níveis. É tanto uma poderosa obra de história quanto um argumento lúcido para a mudança. Sem dúvidas, um dos filmes mais importantes do ano.
É a visão de Donald Trump e da ala mais conservadora americana sobre como fazer América grande outra vez em formato de um thriller subversivo de gato e rato à moda antiga.
Os horrores do filme são baseados nos medos reais de imigrantes latinos sem documentos que enfrentam e cruzaram a fronteira americana em busca de um futuro melhor. Milhares morreram, outros simplesmente desapareceram e por quê não? - alguns foram assassinados!
O suspense é bem construído e a trama não faz rodeios. É completamente compreensível o quanto este filme tem sido massacrado pela critica americana. É uma produção para dividir opiniões.
Brian De Palma senta em uma cadeira, e relembra a sua carreira em um documentário emocional. É um verdadeiro passeio através de seus sucessos, fracassos, momentos favoritos e seus maiores arrependimentos. É acima de tudo uma imagem nostálgica de um diretor de temperamento difícil, mas absolutamente apaixonado por Cinema.
Ao longo do documentário, De Palma discute muitas das suas marcas registradas e escolhas estilísticas que são freqüentes em toda a sua filmografia. Ao atravessar as suas obras, muitas vezes menciona o seu amor universal por Alfred Hitchcock. É interessante ouvir De Palma discutir as várias técnicas que foram inspiradas nas obras do 'mestre do suspense'. Quem poderia imaginar algo tão simples como um diretor sentado em uma cadeira por quase duas horas recontando sua filmografia em ordem cronológica poderia se tornar uma das declarações mais cruas e bonitas sobre o Cinema.
É um belíssimo estudo de personagem em que o público tem a oportunidade de entender o vínculo criado entre um enfermeiro paliativo e pacientes terminais. Os meses que passam juntos intimamente e co-dependentes em que os corpos nus são lavados, sangue, suor e lágrimas enxugados dentro de quartos claustrofóbicos, mas que afeta o público de uma maneira completamente oposta. Enquanto, os familiares se tornam mais distantes dos entes devido a uma incapacidade de ajudar, de lidar, ou até mesmo de se importar com o inevitável. A trama pede uma indiferença de nossa parte que é difícil de manter.
O ator Tim Roth é excelente e eu quero dizer realmente excelente com uma de suas melhores performances. É um filme silencioso com um brilhante senso de realismo, contudo, difícil de assistir e com um final extremamente questionável. Mas, que é justo com a sua trama. É existencial, fala da temporalidade humana e é deliciosamente contrário a fórmula pervertida de Hollywood.
Parece haver algo intrinsecamente atemporal e indestrutível sobre este filme, bem visto nos dias de hoje como um Clássico Cult de Horror. É incrível o quanto esta produção envelheceu bem ao tempo.
Embora anunciado como um filme de terror, não se encaixa nas convenções típicas do gênero. Não encontramos baldes de sangue, pulos de susto ao sermos surpreendidos por criaturas sobrenaturais ou presenciamos momentos de tortura gráfica. É uma trama mais esperta que estas convenções. O que oferece é uma crescente sensação de desconforto, simplesmente porque é desafiador e incomum o seu poderoso confronto de ideais religiosas confrontadas com a sexualidade explícita e estranhezas indizíveis combinadas dos habitantes. Serve como um microcosmo sobre o fanatismo religioso, tanto em sua forma mais obscura quanto popular. É um terror em seu estado bruto.
Seus personagens pagãos celebram um modo de vida aparentemente fora de sincronia com o mundo moderno. São insanamente felizes, mentem através dos dentes e a narrativa envolvente mantém o suspense genuíno até o fim da trama em um das mais memoráveis reviravoltas do Cinema. É inquestionável até o ponto onde seu final é profundamente comovente e horripilante. Um supra-sumo do gênero.
Literalmente uma mulher à beira de um colapso nervoso. O filme é um estudo intimo e observacional com personagens amontoados em um mesmo espaço. Uma reunião de família em um feriado que tinha todos os ingredientes para ser especial. No entanto, a trama despe em 77 minutos camada por camada alguns dos muitos segredos da misteriosa personagem Krisha.
A tensão que se arrasta através de suas relações rachadas com os familiares convida o público a participar de um filme que é na verdade uma bomba-relógio definida para explodir emocionalmente sua personagem central.
Um dos filmes esquecidos da década de 70. Um estudo subversivo de personagem, que traz Dustin Hoffman em um desempenho discreto e poderoso de uma alma tentando o seu melhor para sobreviver em um mundo repleto de cinismo e hipocrisia.
É uma trama controversa que parece levar a frase seguinte ao seu expoente máximo: "Pau que nasce torto nunca se endireita".
Uau, que estréia! Que filme impressionante dos irmãos Coen. Um thriller sinuoso genuinamente imprevisível com um senso incrível de atmosfera. Rodeado de personagens mal-entendidos em situações que os levam a complicações posteriores. O curioso é que tão raro conferir uma trama que apresente personagens que são realmente inteligentes e tomam decisões lógicas com base nas circunstâncias em que estão inseridos. Um dos melhores filmes da década de 80.
O filme é apresentado a partir de uma perspectiva onisciente: pensamentos, memórias e hipocrisias diferentes dos personagens escorrem como destroços sobre destroços. Você pode culpar a guerra ou a natureza humana, mas ninguém é inocente aqui. Todos têm falhas morais.
É uma trama que contrasta a loucura masculina frente à guerra com a repressão sexual feminina. Clint Eastwood é a escolha perfeita para representar um símbolo de masculinidade em pedaços. Aliás, o mito da masculinidade é constantemente subjugado por fortes personagens femininos. Parece ser um conto moral feminista, mas não é, pois a trama transforma as mulheres que estamos supostos a simpatizar em estereótipos unidimensionais. Se a batalha dos sexos não fosse tão confusa teríamos um filme completamente diferente. Mas, perderíamos este filme que inescrupulosamente maluco.
É um filme que oferece um olhar surpreendente sobre a indústria da moda. É, sem dúvidas, um Thriller Erótico, mas com abundância de conteúdo digno de um documentário.
A trama nunca tenta pintar a moda em qualquer tipo de luz favorável, transporta sua protagonista como veículo que viaja rapidamente através dela. Na superfície, é fácil apontá-la como uma vítima de uma indústria, mas sua evolução com a trama avança e vira as expectativas e sentimentos que nutrimos com a personagem. Grande parte do sucesso é o desempenho da modelo dinamarquesa Maria Palm com nenhuma experiência anterior é mais do que convincente no filme. De vítima passa para uma brilhante antagonista.
É um daqueles filmes que você não consegue tirar os olhos. É sexy e repleto de suspense. É muito atraente e a abordagem escura, voyeurista destina-se a deixar o espectador em completo desconforto.
O filme é Nitroglicerina pura. Joga reflexões no ventilador e não sobra para ninguém. Destina sua raiva contra: ditadura, grupos de esquerda, de direita, filantropia, movimentos estudantis e assistências, acadêmicos, jornalistas e artistas.
É uma trama nervosa que funciona melhor ao expor todas estas insatisfações, mas que se afunda em seu próprio veneno em não saber aprofundá-las. No entanto, não desmereçam a importância do maior 'Terrorista' do Cinema Brasileiro.
Em Julieta, Pedro Almodóvar tece sua história mais simples e direta. Parece estar despojado de muitos dos floreios melodramáticos e reviravoltas que tantas vezes permearam suas obras anteriores, mas ainda assim é uma trama poderosa e provocante sobre o peso do silêncio.
É sobre mulheres - e a experiência de culpa. São mulheres fortes que carregam a responsabilidade pelo comportamento masculino. Este elemento se expande para todas as personagens femininas que têm alguma carga de culpa ligada aos homens (ausentes) em suas vidas. É um belo filme, contudo não é um dos seus esforços mais memoráveis.
Uma trama que sensivelmente lida com a escravidão sexual de jovens garotas no México. O filme funciona tão bem porque, apesar de seu tema delicado, não usa a questão deplorável para valor de choque. Em vez disso, alcança certo nível de reverência à natureza grave de seu tema em seqüências que expressam a repulsa e a natureza terrível dos encontros através de imagens e áudios intercalados entre a garota e "clientes".
As personagens femininas são desumanizadas e roubadas de sua adolescência, o diretor enfoca no quanto normalizada esta escravidão humana pode se tornar. Aborda o problema da escravidão sexual de modo corajoso e convincente. Embora em alguns momentos se afaste do realismo e se esquece de tornar o assunto vital, irritado e perturbador como um filme sobre este assunto poderia ser. Às vezes ser sensível demais não é o melhor caminho.
É um inferno de um passeio, com certeza. Não reinventa o gênero, mas leva grande parte de suas emoções e conteúdo de volta às raízes - Um enxame inteiro de zumbis correndo atrás de pessoas. É uma produção caprichada nos aspectos técnicos: som, maquiagem e efeitos especiais.
Uma das poucas ironias inerentes a alguns dos melhores filmes de zumbis são como os personagens centrais em meio a uma devastação total da humanidade se tornam conscientes da humanidade dentro de si. Em suma, a trama é familiar. No entanto, revitaliza e se atreve a definir o que significa ser um pai, uma filha, um marido, um amigo nos dias de hoje. Ao longo do caminho também pergunta se o mundo fosse para o inferno, hoje, quais dos valores manteríamos e quais jogaríamos para fora do trem?
A primeira hora é absolutamente insana. Em seguida, perde parte de seu ritmo e dá lugar a uma miscelânea assumidamente sacarina de sentimentalismo. Contudo, bons filmes de zumbis familiarizam com o familiar, e este consegue realizar sem complexidade, com sinceridade, sarcasmo e cinismo um apocalipse zumbi em larga escala. Orgulhosamente revela seus momentos humanos, mas não se esquece dos dentes encharcados de sangue que o público está sedento por ver.
Matthew McConaughey certamente faz um bom trabalho. No entanto, no topo de tentar ser um grande filme, e vitrine para o astro. O roteiro transforma seu personagem em um salvador 'branco' que vimos por diversas vezes em filmes hollywoodianos. Em todas as instancias, ele é o marido perfeito, pai, amigo, protetor e líder. E o diretor Gary Ross comete a heresia de entrelinhas transformá-lo em uma espécie de herói dos movimentos civis.
Mas não para por aí, a trama passa a maior parte do seu tempo de execução com foco nos problemas das pessoas brancas e pede ao seu público para simpatizar com um grupo menos aflito de pessoas ignorando a enorme perseguição da comunidade negra. E não é preciso ser um historiador para saber que havia coisas piores acontecendo nos E.U.A durante o início de 1860 do que o milho de pessoas brancas que estava sendo roubado. É um filme historicamente preocupante pela deturpação que realiza.
Existem alguns momentos dedicados a vida dos personagens negros, muitos dos quais são os momentos mais fortes do filme. A trama traça uma tentativa infeliz para si, e tenta ser um pau para toda obra, falar sobre raça, classe social e justiça e se torna amplamente vazia, intencionalmente pinta os homens brancos como os únicos heróis desta história. É um filme ignorante e daltônico. Não caiam nesta armadilha.
É uma trama que corta alguns clichês a distância. Embora, colocar duas pessoas completamente estranhas em uma mesma jornada não seja algo original. O diretor Taika Waititi utiliza a circunstância de dois personagens estarem isolados como uma oportunidade para o desenvolvimento da relação dos dois. Consegue criar uma dinâmica envolvente e continua com ela até o final, equilibra momentos de riso e drama, passando da química crescente entre os dois e a ameaça implacável de seu hilário antagonista. O roteiro faz um grande trabalho ao desenvolvê-los como pessoas que são completamente compreensíveis e igualmente excêntricas.
As reflexões temáticas pertinentes à aceitação, amor, adoção e noção de família são fantásticas, especialmente quando se trata do motivo pelo qual o garoto foi adotado pelo casal. Apesar de todos os assuntos sérios, eles são abordados com um senso de humor muito "peculiar".
Este é um filme sobre identidade. De um jovem inserido em um contexto nada usual que passa a explorar sua sexualidade como algo completamente natural. É sobre quem ele é e o que gosta. Estas perguntas, especialmente na adolescência, desencadeiam uma série de crises existenciais e é muitas vezes a causa de grandes conflitos entre os desejos, paixões, família, amigos e consigo mesmo. A trama consegue pintar um interessante retrato do turbilhão de emoções que é este período.
O personagem central é complexo e acompanhamos o quanto ele é forçado a lutar por sua identidade recém descoberta afim de definir os limites para que os demais respeitem seu jeito de ser. É tematicamente ambicioso, e melhor sucedido em levantar questões do que expor em tela.
Na veia do realismo social e do neo-realismo, Pixote (1981) do diretor Hector Babenco nos leva profundamente nas entranhas da selva urbana de São Paulo no final da década de 70. A trama se concentra em crianças e personagens atormentados por uma vida relegada a situação de rua e crime, e merece um lugar no topo de qualquer lista de melhores filmes, uma vez que mantém o seu poder e relevância para a sociedade mais de 30 anos após a sua estréia.
Bem como Cidade de Deus (2002) faria quase 20 anos depois, Pixote tem uma abordagem Cinema Verité para melhor representar a realidade de seu assunto. Estas vidas, figurativas e literais, são vistas em toda a sua nudez. A maioria das crianças no filme são crianças reais em situações de rua que adicionam um realismo a sua presença na tela.
Ao concentrar-se na vida do personagem Pixote, Babenco apresenta essencialmente o que podemos considerar um estudo de caso de uma criança privada de sua inocência. Serve como um símbolo para o desespero enfrentado por crianças pobres brasileiras até os dias atuais. Poucos filmes atrevem a entrar em um material tão escuro com tanta dignidade, sem sucumbir a certo nível de tragédia romantizada. Em Pixote, as coisas são como são elas são. Uma obra-prima em todo o seu direito.
O filme desafia estereótipos. Não há heróis ou mocinhos. É um trama tensa e traz reviravoltas inesperadas ao longo do caminho. Com poucos diálogos a grande força reside nas torções do roteiro e no trabalho de câmera. O roteiro tem a sua quota de perguntas sem respostas que pode ser negligenciado para o seu próprio bem. Contudo, o diretor constrói uma tensão palpável, e faz um trabalho de mestre em um espaço tão pequeno ao explorar cada canto e recanto para potenciais sustos e choques. Em geral, é uma produção que consegue oferecer algo original e adiciona fôlego para um gênero tão castigado.
Love Me
3.2 10Uma série de retratos de homens americanos de meia-idade solitários à procura de amor. Homens que não se responsabilizam por sua solidão e recorrem às noivas por correspondência. Através da estranheza do desgosto, da solidão e da incerteza, testemunhamos a gama de reações que esses homens e mulheres têm às suas circunstâncias uns aos outros sobre o que entendem sobre amor. Talvez, fosse mais feliz se tivesse o ponto de vista das mulheres também. Contudo, é um olhar fascinante sobre o tema, merece ser conhecido.
King Cobra
2.6 254É um estudo de personagem oco. Uma narrativa que se sente apenas aterrada o suficiente para ser crível, infelizmente nunca é particularmente atraente. O resultado é um produto que é muito, muito desigual para ser plenamente apreciado.
Elle
3.8 886Paul Verhoeven sabe provocar como ninguém. É um filme que é tão estranho e complicado que dissecá-lo se torna uma tarefa difícil devido às suas implicações temáticas que precisam ser pensadas e repensadas com cuidado. A moralidade é realmente jogada para fora. Verhoeven é do tipo de cineasta que pode penetrar a mente de um homem e uma mulher com a mesma profundidade.
Neste enredo descreve a vida de uma mulher que potencialmente poderia ser tão perigosa quanto seu enigmático passado, e em algum lugar no fundo de sua mente, ela ainda é. Como se pode imaginar, uma questão de tempo para ela trazer as profundezas de sua consciência que tenta esconder de todos. Ninguém poderia interpretar este personagem melhor que Isabelle Huppert, sem dúvidas uma das maiores atrizes vivas. Confere a personagem uma complexidade estonteante que só Huppert pode oferecer. Ela é atraente, forte e capaz de derrotar qualquer inimigo que deseja. Mas seu primeiro inimigo é ela mesma, e o segundo seus desejos escuros que nunca vão deixá-la em paz.
Verhoeven surpreendentemente muda de tom, acrescenta subtramas familiares cômicas, e tem a ousadia de se tornar uma comédia de humor negro em um piscar de olhos. Sem nunca esquecer que é acima de tudo um suspense psicosexual com controle e equilíbrio. Uma trama que fez meu queixo cair como nenhum outro filme em 2016. Uma super combinação da mente perversa de Verhoeven, e um desempenho indiscutivelmente incomparável de Isabelle Huppert tornam este filme em um dos filmes mais atrevidos do ano.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraO título pode soar como um filme de super-herói, e no fundo ele é. É um 'super' pai na busca de oferecer o melhor aos filhos. A trama coloca no centro uma família que vive na floresta em um contato íntimo com a natureza, tocam música e discutem sobre Rousseau. Parece ser a receita para um desastre repleto de clichês, mas o diretor Matt Ross habilmente consegue contar uma história única de uma família incomum com sinceridade e graça.
A beleza do filme está em sua recusa em pintar o pai, interpretado por um brilhante Viggo Mortensen como um tirano iludido ou pioneiro de princípios. Opta em traçar todos os seus lados e seus métodos incomuns de educar seus filhos. Sugere responder as perguntas das crianças com honestidade, sem censura, condescendência e qualquer diluição que nada mais é do que um mecanismo que permite tempo para refletir criticamente sobre diversos temas ao invés de temê-los, deixando-os mais preparados para enfrentar esses problemas quando eles surgirem, particularmente traz à luz a qualidade questionável de algumas instituições de Ensino que condicionam as crianças a decorar ao invés de ter um pensamento crítico sobre tudo o que lêem ou aprendem.
Contudo, o mais excepcional é que o roteiro sagaz apresenta genuinamente os prós e contras de uma educação alternativa e de uma educação do sistema capitalista. Não adianta saber tudo o que está nos livros e não conseguir se relacionar com as demais pessoas. É triunfante em apresentar os dois lados da mesma moeda. Embora perca parte de seu impacto com um desfecho excessivamente sentimental, contudo, equilibra certa angústia, tragédia e esperança. Um filme irresistível.
Remédio Para Melancolia
3.3 7 Assista AgoraGrande estréia de Barry Jenkins. Particularmente não gosto da fotografia. Mas, confesso que há algo atraente nela com seus tons de sépia dando lugar a lampejos ocasionais de vermelho, azul e amarelo. Evoca a ressaca e os sentimentos nebulosos dos dois protagonistas.
A trama coloca no centro um homem e uma mulher, ambos negros em uma cama estranha, de ressaca após uma festa, por meio de um relacionamento que pode vir acontecer. Os dois são 'Outsiders' na Cidade de São Francisco e compartilham sentimentos mútuos sobre consciência política, cultura, arte, e a cena Indie. É tudo sobre ser Indie e negro, conseqüentemente não se enquadrar nos estereótipos que a sociedade espera de você.
O amor que ambos nutrem pela música Indie, no entanto, não é um desejo de escapar ou negar a negritude. Mas, que ocasionalmente desperta nos dois certas incertezas em uma cultura cuja configuração padrão é ser "branco" e "descolado". Usando a cidade de São Francisco como um aspecto vital para a trama, o diretor imprime na tela poderosos embates entre os dois, ao mesmo tempo ha conexão e desconexão entre estes amantes temporários de origens culturais semelhantes. É uma pílula amarga para se engolir.
A 13ª Emenda
4.6 354 Assista AgoraComo os E.U.A chegaram a este ponto? - De a população presidiária ser composta por 40% de negros, percentual elevado, considerando que representam apenas 12% da população total do país. A diretora Ava Duvernay inicia uma conversa sobre as medidas políticas que facilitaram o encarceramento em massa dos afro-americanos. É simultaneamente uma acusação ao complexo prisional-industrial, aos partidos republicano e democrata, e a população branca que foi perniciosa com tudo isso, mas acima de tudo é uma carta de alerta para as comunidades negras devastadas por décadas de injustiça racial.
A missão que Duvernay definiu a si mesma é enorme para seu crédito, entende o seu próprio fardo. Disseca exatamente que o sistema de justiça criminal americano perpetua uma espécie de escravização sistemática. Apresenta argumentos poderosos, após a abolição da escravatura, culturalmente se reformulou o estigma dos negros como predadores e fonte de ameaça à ordem social. E a palavra "criminal" sempre esteve intimamente ligada aos negros, especialmente os homens. O ponto que procura discutir é que uma forma de escravidão foi substituída por outra. Olha para trás dos muros da prisão e explora o sistema prisional privatizado americano para uma forma de escravidão capitalista que existe agora, não reconhecida.
É um documentário que é excepcionalmente pesquisado, e concisamente apresenta sua tese em 1 hora e 40 minutos. O público é bombardeado com uma sensação de que algo fundamental foi descoberto. É uma revelação em tantos níveis. É tanto uma poderosa obra de história quanto um argumento lúcido para a mudança. Sem dúvidas, um dos filmes mais importantes do ano.
Deserto
3.1 117 Assista AgoraÉ a visão de Donald Trump e da ala mais conservadora americana sobre como fazer América grande outra vez em formato de um thriller subversivo de gato e rato à moda antiga.
Os horrores do filme são baseados nos medos reais de imigrantes latinos sem documentos que enfrentam e cruzaram a fronteira americana em busca de um futuro melhor. Milhares morreram, outros simplesmente desapareceram e por quê não? - alguns foram assassinados!
O suspense é bem construído e a trama não faz rodeios. É completamente compreensível o quanto este filme tem sido massacrado pela critica americana. É uma produção para dividir opiniões.
De Palma
3.7 28 Assista AgoraBrian De Palma senta em uma cadeira, e relembra a sua carreira em um documentário emocional. É um verdadeiro passeio através de seus sucessos, fracassos, momentos favoritos e seus maiores arrependimentos. É acima de tudo uma imagem nostálgica de um diretor de temperamento difícil, mas absolutamente apaixonado por Cinema.
Ao longo do documentário, De Palma discute muitas das suas marcas registradas e escolhas estilísticas que são freqüentes em toda a sua filmografia. Ao atravessar as suas obras, muitas vezes menciona o seu amor universal por Alfred Hitchcock. É interessante ouvir De Palma discutir as várias técnicas que foram inspiradas nas obras do 'mestre do suspense'. Quem poderia imaginar algo tão simples como um diretor sentado em uma cadeira por quase duas horas recontando sua filmografia em ordem cronológica poderia se tornar uma das declarações mais cruas e bonitas sobre o Cinema.
Chronic
3.6 34É um belíssimo estudo de personagem em que o público tem a oportunidade de entender o vínculo criado entre um enfermeiro paliativo e pacientes terminais. Os meses que passam juntos intimamente e co-dependentes em que os corpos nus são lavados, sangue, suor e lágrimas enxugados dentro de quartos claustrofóbicos, mas que afeta o público de uma maneira completamente oposta. Enquanto, os familiares se tornam mais distantes dos entes devido a uma incapacidade de ajudar, de lidar, ou até mesmo de se importar com o inevitável. A trama pede uma indiferença de nossa parte que é difícil de manter.
O ator Tim Roth é excelente e eu quero dizer realmente excelente com uma de suas melhores performances. É um filme silencioso com um brilhante senso de realismo, contudo, difícil de assistir e com um final extremamente questionável. Mas, que é justo com a sua trama. É existencial, fala da temporalidade humana e é deliciosamente contrário a fórmula pervertida de Hollywood.
O Homem de Palha
4.0 483 Assista AgoraParece haver algo intrinsecamente atemporal e indestrutível sobre este filme, bem visto nos dias de hoje como um Clássico Cult de Horror. É incrível o quanto esta produção envelheceu bem ao tempo.
Embora anunciado como um filme de terror, não se encaixa nas convenções típicas do gênero. Não encontramos baldes de sangue, pulos de susto ao sermos surpreendidos por criaturas sobrenaturais ou presenciamos momentos de tortura gráfica. É uma trama mais esperta que estas convenções. O que oferece é uma crescente sensação de desconforto, simplesmente porque é desafiador e incomum o seu poderoso confronto de ideais religiosas confrontadas com a sexualidade explícita e estranhezas indizíveis combinadas dos habitantes. Serve como um microcosmo sobre o fanatismo religioso, tanto em sua forma mais obscura quanto popular. É um terror em seu estado bruto.
Seus personagens pagãos celebram um modo de vida aparentemente fora de sincronia com o mundo moderno. São insanamente felizes, mentem através dos dentes e a narrativa envolvente mantém o suspense genuíno até o fim da trama em um das mais memoráveis reviravoltas do Cinema. É inquestionável até o ponto onde seu final é profundamente comovente e horripilante. Um supra-sumo do gênero.
Krisha
3.7 83Literalmente uma mulher à beira de um colapso nervoso. O filme é um estudo intimo e observacional com personagens amontoados em um mesmo espaço. Uma reunião de família em um feriado que tinha todos os ingredientes para ser especial. No entanto, a trama despe em 77 minutos camada por camada alguns dos muitos segredos da misteriosa personagem Krisha.
A tensão que se arrasta através de suas relações rachadas com os familiares convida o público a participar de um filme que é na verdade uma bomba-relógio definida para explodir emocionalmente sua personagem central.
Liberdade Condicional
3.7 18 Assista AgoraUm dos filmes esquecidos da década de 70. Um estudo subversivo de personagem, que traz Dustin Hoffman em um desempenho discreto e poderoso de uma alma tentando o seu melhor para sobreviver em um mundo repleto de cinismo e hipocrisia.
É uma trama controversa que parece levar a frase seguinte ao seu expoente máximo:
"Pau que nasce torto nunca se endireita".
Thug Life, baby!
Gosto de Sangue
3.9 158Uau, que estréia! Que filme impressionante dos irmãos Coen. Um thriller sinuoso genuinamente imprevisível com um senso incrível de atmosfera. Rodeado de personagens mal-entendidos em situações que os levam a complicações posteriores. O curioso é que tão raro conferir uma trama que apresente personagens que são realmente inteligentes e tomam decisões lógicas com base nas circunstâncias em que estão inseridos. Um dos melhores filmes da década de 80.
O Estranho Que Nós Amamos
3.9 131 Assista AgoraO filme é apresentado a partir de uma perspectiva onisciente: pensamentos, memórias e hipocrisias diferentes dos personagens escorrem como destroços sobre destroços. Você pode culpar a guerra ou a natureza humana, mas ninguém é inocente aqui. Todos têm falhas morais.
É uma trama que contrasta a loucura masculina frente à guerra com a repressão sexual feminina. Clint Eastwood é a escolha perfeita para representar um símbolo de masculinidade em pedaços. Aliás, o mito da masculinidade é constantemente subjugado por fortes personagens femininos. Parece ser um conto moral feminista, mas não é, pois a trama transforma as mulheres que estamos supostos a simpatizar em estereótipos unidimensionais. Se a batalha dos sexos não fosse tão confusa teríamos um filme completamente diferente. Mas, perderíamos este filme que inescrupulosamente maluco.
Top Model
2.8 96 Assista AgoraÉ um filme que oferece um olhar surpreendente sobre a indústria da moda. É, sem dúvidas, um Thriller Erótico, mas com abundância de conteúdo digno de um documentário.
A trama nunca tenta pintar a moda em qualquer tipo de luz favorável, transporta sua protagonista como veículo que viaja rapidamente através dela. Na superfície, é fácil apontá-la como uma vítima de uma indústria, mas sua evolução com a trama avança e vira as expectativas e sentimentos que nutrimos com a personagem. Grande parte do sucesso é o desempenho da modelo dinamarquesa Maria Palm com nenhuma experiência anterior é mais do que convincente no filme. De vítima passa para uma brilhante antagonista.
É um daqueles filmes que você não consegue tirar os olhos. É sexy e repleto de suspense. É muito atraente e a abordagem escura, voyeurista destina-se a deixar o espectador em completo desconforto.
Jogo das Decapitações
3.6 20O filme é Nitroglicerina pura. Joga reflexões no ventilador e não sobra para ninguém. Destina sua raiva contra: ditadura, grupos de esquerda, de direita, filantropia, movimentos estudantis e assistências, acadêmicos, jornalistas e artistas.
É uma trama nervosa que funciona melhor ao expor todas estas insatisfações, mas que se afunda em seu próprio veneno em não saber aprofundá-las. No entanto, não desmereçam a importância do maior 'Terrorista' do Cinema Brasileiro.
Julieta
3.8 529 Assista AgoraEm Julieta, Pedro Almodóvar tece sua história mais simples e direta. Parece estar despojado de muitos dos floreios melodramáticos e reviravoltas que tantas vezes permearam suas obras anteriores, mas ainda assim é uma trama poderosa e provocante sobre o peso do silêncio.
É sobre mulheres - e a experiência de culpa. São mulheres fortes que carregam a responsabilidade pelo comportamento masculino. Este elemento se expande para todas as personagens femininas que têm alguma carga de culpa ligada aos homens (ausentes) em suas vidas. É um belo filme, contudo não é um dos seus esforços mais memoráveis.
As Escolhidas
3.8 15Uma trama que sensivelmente lida com a escravidão sexual de jovens garotas no México. O filme funciona tão bem porque, apesar de seu tema delicado, não usa a questão deplorável para valor de choque. Em vez disso, alcança certo nível de reverência à natureza grave de seu tema em seqüências que expressam a repulsa e a natureza terrível dos encontros através de imagens e áudios intercalados entre a garota e "clientes".
As personagens femininas são desumanizadas e roubadas de sua adolescência, o diretor enfoca no quanto normalizada esta escravidão humana pode se tornar. Aborda o problema da escravidão sexual de modo corajoso e convincente. Embora em alguns momentos se afaste do realismo e se esquece de tornar o assunto vital, irritado e perturbador como um filme sobre este assunto poderia ser. Às vezes ser sensível demais não é o melhor caminho.
Invasão Zumbi
4.0 2,1K Assista AgoraÉ um inferno de um passeio, com certeza. Não reinventa o gênero, mas leva grande parte de suas emoções e conteúdo de volta às raízes - Um enxame inteiro de zumbis correndo atrás de pessoas. É uma produção caprichada nos aspectos técnicos: som, maquiagem e efeitos especiais.
Uma das poucas ironias inerentes a alguns dos melhores filmes de zumbis são como os personagens centrais em meio a uma devastação total da humanidade se tornam conscientes da humanidade dentro de si. Em suma, a trama é familiar. No entanto, revitaliza e se atreve a definir o que significa ser um pai, uma filha, um marido, um amigo nos dias de hoje. Ao longo do caminho também pergunta se o mundo fosse para o inferno, hoje, quais dos valores manteríamos e quais jogaríamos para fora do trem?
A primeira hora é absolutamente insana. Em seguida, perde parte de seu ritmo e dá lugar a uma miscelânea assumidamente sacarina de sentimentalismo. Contudo, bons filmes de zumbis familiarizam com o familiar, e este consegue realizar sem complexidade, com sinceridade, sarcasmo e cinismo um apocalipse zumbi em larga escala. Orgulhosamente revela seus momentos humanos, mas não se esquece dos dentes encharcados de sangue que o público está sedento por ver.
Um Estado de Liberdade
3.7 215 Assista AgoraMatthew McConaughey certamente faz um bom trabalho. No entanto, no topo de tentar ser um grande filme, e vitrine para o astro. O roteiro transforma seu personagem em um salvador 'branco' que vimos por diversas vezes em filmes hollywoodianos. Em todas as instancias, ele é o marido perfeito, pai, amigo, protetor e líder. E o diretor Gary Ross comete a heresia de entrelinhas transformá-lo em uma espécie de herói dos movimentos civis.
Mas não para por aí, a trama passa a maior parte do seu tempo de execução com foco nos problemas das pessoas brancas e pede ao seu público para simpatizar com um grupo menos aflito de pessoas ignorando a enorme perseguição da comunidade negra. E não é preciso ser um historiador para saber que havia coisas piores acontecendo nos E.U.A durante o início de 1860 do que o milho de pessoas brancas que estava sendo roubado. É um filme historicamente preocupante pela deturpação que realiza.
Existem alguns momentos dedicados a vida dos personagens negros, muitos dos quais são os momentos mais fortes do filme. A trama traça uma tentativa infeliz para si, e tenta ser um pau para toda obra, falar sobre raça, classe social e justiça e se torna amplamente vazia, intencionalmente pinta os homens brancos como os únicos heróis desta história. É um filme ignorante e daltônico. Não caiam nesta armadilha.
Fuga Para a Liberdade
4.0 232É uma trama que corta alguns clichês a distância. Embora, colocar duas pessoas completamente estranhas em uma mesma jornada não seja algo original. O diretor Taika Waititi utiliza a circunstância de dois personagens estarem isolados como uma oportunidade para o desenvolvimento da relação dos dois. Consegue criar uma dinâmica envolvente e continua com ela até o final, equilibra momentos de riso e drama, passando da química crescente entre os dois e a ameaça implacável de seu hilário antagonista. O roteiro faz um grande trabalho ao desenvolvê-los como pessoas que são completamente compreensíveis e igualmente excêntricas.
As reflexões temáticas pertinentes à aceitação, amor, adoção e noção de família são fantásticas, especialmente quando se trata do motivo pelo qual o garoto foi adotado pelo casal. Apesar de todos os assuntos sérios, eles são abordados com um senso de humor muito "peculiar".
Mãe Só Há Uma
3.5 408 Assista AgoraEste é um filme sobre identidade. De um jovem inserido em um contexto nada usual que passa a explorar sua sexualidade como algo completamente natural. É sobre quem ele é e o que gosta. Estas perguntas, especialmente na adolescência, desencadeiam uma série de crises existenciais e é muitas vezes a causa de grandes conflitos entre os desejos, paixões, família, amigos e consigo mesmo. A trama consegue pintar um interessante retrato do turbilhão de emoções que é este período.
O personagem central é complexo e acompanhamos o quanto ele é forçado a lutar por sua identidade recém descoberta afim de definir os limites para que os demais respeitem seu jeito de ser. É tematicamente ambicioso, e melhor sucedido em levantar questões do que expor em tela.
Pixote: A Lei do Mais Fraco
4.0 449Na veia do realismo social e do neo-realismo, Pixote (1981) do diretor Hector Babenco nos leva profundamente nas entranhas da selva urbana de São Paulo no final da década de 70. A trama se concentra em crianças e personagens atormentados por uma vida relegada a situação de rua e crime, e merece um lugar no topo de qualquer lista de melhores filmes, uma vez que mantém o seu poder e relevância para a sociedade mais de 30 anos após a sua estréia.
Bem como Cidade de Deus (2002) faria quase 20 anos depois, Pixote tem uma abordagem Cinema Verité para melhor representar a realidade de seu assunto. Estas vidas, figurativas e literais, são vistas em toda a sua nudez. A maioria das crianças no filme são crianças reais em situações de rua que adicionam um realismo a sua presença na tela.
Ao concentrar-se na vida do personagem Pixote, Babenco apresenta essencialmente o que podemos considerar um estudo de caso de uma criança privada de sua inocência. Serve como um símbolo para o desespero enfrentado por crianças pobres brasileiras até os dias atuais. Poucos filmes atrevem a entrar em um material tão escuro com tanta dignidade, sem sucumbir a certo nível de tragédia romantizada. Em Pixote, as coisas são como são elas são. Uma obra-prima em todo o seu direito.
O Homem nas Trevas
3.7 1,9K Assista AgoraO filme desafia estereótipos. Não há heróis ou mocinhos. É um trama tensa e traz reviravoltas inesperadas ao longo do caminho. Com poucos diálogos a grande força reside nas torções do roteiro e no trabalho de câmera. O roteiro tem a sua quota de perguntas sem respostas que pode ser negligenciado para o seu próprio bem. Contudo, o diretor constrói uma tensão palpável, e faz um trabalho de mestre em um espaço tão pequeno ao explorar cada canto e recanto para potenciais sustos e choques. Em geral, é uma produção que consegue oferecer algo original e adiciona fôlego para um gênero tão castigado.