Em tempos guiados por ideais obscuros, Ítalo Calvino já nos alertava da “leveza” como urgência para o novo milênio. Mas como ser leve quando o braço necessita estar erguido para a infindável luta do cotidiano? Quando o caos do mundo político vai minando o corpo e a mente, há uma força incógnita que nos pede um ar para respirar, um corpo pra abraçar, um alento visceral de afetividade. “A insustentável leveza do ser” é daqueles filmes que, de certo, filosoficamente está bem aquém da obra original (Kundera), mas que, em sua instância de linguagem, provoca múltiplas sensações poéticas: ânimo para a alma, rubor para a pele que, de tanta peleja, tem ficado traumatizada e embrutecida. Nesse sentido, posso dizer que as três horas de filme me tocaram em lugares bem difíceis de serem acessados já que, no seu desafio de linguagem, rasgaram-me o corpo-pensamento, esfacelando a urgência orgânica de amparar nossa tão vilipendiada sensibilidade, por isso mesmo insustentável. E para isso precisa de tempo, de outros ritmos, de outros corpos, de outra forma de ver: uma lentidão que quase maltrata. Que não percamos nosso erotismo, esse “pathos” anônimo que guia nossa pulsão vital e nos convoca para a troca de fluidos e afetos com o outro... Por uma política da paixão, do erotismo e da leveza! Por uma política dos afetos! Que aja amor... PS: A cena da sessão de fotografias entre Tereza e Sabina é digna de ficar pra história do cinema mundial...
"Precisa reforçar essa porta, se não ela não aguenta". Frase da célebre Romana, interpretada por Fernanda Montenegro em "Eles Não Usam Black-Tie", do Guarnieri.
Trinta e cinco anos depois, parece que a porta não foi reforçada, e os pelegos continuam batendo-a com força, em rompantes enérgicos e finalizadores. Pontos finais que dizem: "Que Deus proteja essa nação"... Covardes! A porta que liga a vida pública aos desejos privados e do consumo neoliberal parece ter sido destruída e não resta absolutamente nenhuma fresta de madeira que desestabilize esse vicioso jogo de interesses individualistas... Hoje será mais um dia cheio. Mas não nos enganemos: Portas não estarão sendo abertas, elas estão sendo destruídas e, junto com elas, qualquer projeto de Política que se paute nos interesses do Povo. Em nome de Deus e das suas famílias, o dia é de gala e black-tie, onde os engravatados é que ditarão o destino da nossa tão idealizada e não problematizada noção de Democracia. E isso não tem como perdoar... porque sim: eles sabem muito bem o que fazem...
O célebre filme "Paris is Burning" (1990) começa com a intrigante questão: "Todo negro tem dois problemas nesse mundo: eles são negros e são homens.Você tem três problemas: é negro, é homem e é gay."
Após ver "Paris em Chamas" dou de cara com o recente "Queridas Pessoas Brancas", um filme independente com uma dessas tramas aparentemente já batidas e que se passam em universidades americanas. O filme, de tão jovem, clean e pop, lembrou-me "Dope - Um Deslize Perigoso", outro desses filmes jovem com temática negra. Mas, o intrigante durante "Dear White People", foi o retorno presente da trama do documentário dos anos 90 atrelado ao significado das performances de gênero e às significações performativas sobre a ideia de "raça"... Talvez seja possível afirmar que, realmente, a máquina do poder panóptico toma conta de tudo, inclusive do que se entende como subversão e contracultura. Como estabelecer o limite entre a revolução e sua constante apropriação pelos domínios capitalísticos? Como criar sistemas de resistência sem legitimar a força dominante?
Parece que todos os lados foram dominados por interesses ocultos, o que nos dá força para afirmar que mesmo as mais altas estruturas subversivas carregam no seu cerne um abismal fantasma de preconceito e intolerância.
Como dito, o filme não é essas coisas todas, mas o que pensar sobre, inclusive, o levante de filmes "independentes" que tem surgido sobre a causa dos oprimidos? Que legitimidade poética e produtiva procuram essas "obras"?
Minha nossa! Embora eu fuja copiosamente desses dramas pesados, com cenas elaboradas com o claro objetivo marqueteiro de te fazer chorar, preciso confessar que gastei rolos de papel assistindo "The Normal Heart". Alguém me dá um abraço, por favor! Embora o "apelo" do filme esteja alojado dentro de uma trama bastante delicada, por vezes até sinuosa, não há como não deixar de apontar o valor político e engajado da produção. Lágrimas à parte, o que fica reiterado, pelo menos em mim, é a mácula da revolta com a forma como HIV/AIDS foram tratados no contexto dos anos 80 e de como a ideia do "câncer gay" ainda reverbera na tessitura da mesquinharia dos pensamentos hipócritas da nossa sociedade... Mark Ruffalo, meu filho, se quiser eu deixo você se hospedar na minha casa! Putz... Estereótipos de "drama pesado" à parte, o filme é constituído de várias cenas muito bem elaboradas, sobretudo pelo roteiro, tendo seu ápice na performance estonteante de Joe Mantello! Ali sim, o coração normal fica completamente desmantelado...
Nossa! Que surpresa boa para a noite de hoje: "Lúcia e o Sexo" Do espanhol, desde já despertador do meu interesse: Julio Medem... O sol e a lua, a natureza e o homem, o amor e o sexo - sempre na eminência da gestação de catástrofes... labirintos indiscerníveis, buracos profundos para outras dimensões, talvez menos duras, talvez menos traumáticas... poesia pura!... destaque pra belíssima trilha sonora e a fotografia inquietante.
Agora que eu entendi o significado da palavra "fanboy", que tanto falam por aqui. Concordo com o Gabriel Gaspar quando ele diz que o filme é feito para fãs e, nessa condição, não dá pra chegar a sala de cinema vazio de informações: tem que conhecer a saga dos heróis para entender como eles chegam a tal ponto. Contudo, tenho que concordar também com o Ricardo Rente de que o filme promete demais e cumpre de menos. Um roteiro falho, lacunar e que se resolve rápido de mais quando era necessário mais fôlego. O filme tem coisas belíssimas, sobretudo a trilha sonora e a fotografia, que são um passeio sonoro e visual deslumbrantes... Mas, basta olhar a quantidade de comentários detonando a crítica lúcida e precisa do Ricardo para entender que realmente os "faboys" vão defender o filme até o fim e negar qualquer erro e imprecisão. Nesse sentido, suponho que o HQ deva realmente ser muito melhor. No mais, imagino o quanto tantos "fanboys" devam ter se emocionado...
Que obra maravilhosa. Ritmo correto: frequencia de afetos e memória... passado e presente narrados em interpretações deslumbrantes.... Quem gosta de cinema de qualidade: Vale muito a pena ver.
Porra de filme lindo!... Emocionado ainda... Prêmio Joinha!... Fiquei surpreso... e muito mais envolvido afetivamente pelo modo de contar a história do que o saco que é assistir "A Grande Aposta", "Steve Jobs" ou "Spotlight": tudo filme com o mesmo ritmo frenético e que me dão um nó no cérebro de tanta velocidade... Vale a pena ver: "Cinco Graças"... E elas são lindas... nossa!
Porra de filme chato. Tive que abandonar depois de sofrer por uma hora e meia. O filme além de ser confuso, trata do assunto como se o espectador fosse expert em ramo imobiliário... mesmo com o tom documental, deixa muito a desejar. fiquei boiando... ohhh tempo perdido.
Antes de levantar os já famigerados elogios, numa tentativa delicada de não revelar spoilers, talvez seja necessário contextualizar o filme dentro do aparente desgaste do universo da indústria do Oscar. Acompanho esse troço a um tempo como diversão pura mas, às vezes, cansa-me passar duas horas vendo filmes com ritmo parecido, interpretações parecidas, direções parecidas. Arrisco-me. Há joias raras nessa indústria, mas infelizmente no caso de “The Danish Girl” é bem bizarro lamentar que trata-se apenas de mais um “prêt-à-porter” para ganhar estatueta, assim como “Carol” (também sobre homosexualidade) ou mesmo “O Quarto de Jack”… Hum… Bem delicado falar isso de um filme que traz no seu cerne uma discussão sobre transexualidade… Então, a onda é realmente baixar a bola e ater-se ao argumento do filme que, precioso e preciso, não deixa uma questão tão delicada e emergente a mercê do olhar preconceituoso e leviano que trata o caso como patologia ou perversão. Sem levantar uma bandeira escancarada, o que em certos momentos dá um certo medo de pra onde a história será conduzida, a trama consegue levantar reflexões sensíveis sobre o caso e quase num tom didático esclarecer certas dúvidas sobre algo ainda tão nebuloso pra nossa limitada sociedade… Queria mesmo era ver a história de Lili Elbe feita por um cineasta marginal, desses que não tem medo do que pode vir e se lança no risco, no perigo e, na corda bamba, produz um outro, um novo, talvez mais próximo da novidade transgressora que uma trans-leitura de mundo nos propõe.
PS: Se estamos falando de oscar, Eddie Redmayne mereceria ganhar novamente. Mas torço pelo Di Caprio.
Boi Neon é bom pra caralho. Fui pro cinema despreparado e fiquei de cara com a delicadeza da direçao, sobretudo pela não necessidade de contar uma historia linear e se apegar mais a uma percepção sobre um tempo rural... o fragmento de uma vida outra.... Senti-me colocado em outras visões de mundo: lento, simples, silencioso e desacelerante. Sai leve.
“O Regresso” é daqueles filmes que, depois de visto, dá vontade de ter acesso aos extras do dvd e sacar como tudo isso foi produzido. Há uma qualidade deslumbrante em todos os takes... que fotografia!... que trilha sonora!... uma aula!... o “jogo” com a natureza deve ter sido um mega desafio para essa produção... Saudosismo da época em que se alugava dvds e tinha como sacar como tudo foi feito...
Bom, o que quero compartilhar aqui é que comecei o ano bem acompanhado. O FILME É BOM PRA CARALHO! E dessa vez, podemos ter a grande surpresa: Leonardo Di Caprio como melhor ator no oscar (Será?)... bom, seria mais do merecido. Não pelo histórico que já virou “meme”, mas porque este filme é, de longe, o melhor trabalho realizado pelo cara que, na parceria com o Iñárritu, conduz o espectador por múltiplas sensações e reflexões... Ponto de destaque pra genialidade da direção que se faz presente em tudo. Carne, corpo e sangue do homem que vira caça na própria caçada. E aqui inclui-se o diretor-caçador: “Somos Todos selvagens”. Sangue que se mistura à neve, à água, ao vento e que espirram na câmera mostrando a maestria sempre presente do gênio que tem tudo pra se consagrar como melhor diretor em dois anos consecutivos. Será? Veremos.
PS: A cena da luta com o urso é digna de ficar pra história do cinema mundial. Putz!
O elegante "Ex Machina - Instituo Artificial" ganha plasticamente no jogo sinuoso de sensações que variam entre o suspense e o existencialismo pós-moderno. Quem programa o que? A heterosexualidade não seria também "programável"? Talvez o manifesto futurista esteja mais presente do que imaginamos, e as questões centradas no "eu-homem-deus-branco-criador-do-mundo" ampliem-se pra máquina incendiária em busca de liberdade... Interessante como a intriga do filme, baseada no teste de Turing, contribui para questionar se quem realmente está sendo testado não é o espectador, conduzido, entregue e absorto com a condução lenta e, "aparentemente contemplativa" do filme... Vale a pena ver e tirar as próprias conclusões.
"O subconsciente é o lugar que levam quem causam problemas". Conheça as pequenas vozes de dentro da sua cabeça! Para crianças, sobretudo as que nunca envelheceram...
"Divertida Mente", o novo filme da Pixar é um show de diversão, leveza e destreza na construção do roteiro, sem contar o show de imagens e maestria na animação. Porra! Fazia tempo que eu não gostava tanto de um filme da Pixar, e olha que vi todos.
Caralho! Muito bom. Esses caras devem ter lido muita pra coisa pra falar de subconsciente, afeto, desconstrução, abstração e multiplicidade com uma leveza tamanha! Somente a Pixar pra juntar a tudo isso o Bing Bong, o já clássico amigo imaginário das crianças. Fascinante!
A passagem pelo campo abstrato é literalmente surreal. Um perigo! E quando a ilha da honestidade desaba o trem do conhecimento pode descarrilar e o terrível fica prestes a acontecer. Mas o barato do filme é quando as mentes se relacionam, num jogo de afetos bem elaborado, onde é necessário o equilíbrio entre tristeza e felicidade, raiva e medo, para o curso da vida e das descobertas.
Porra! Queria oferecer esse filme de presente de natal para todos os meus amigos!
"O tipo do flâneur é uma criação de Paris, e o mais estranho é que não tenha sido Roma. Mas será que em Roma o próprio sonho não percorre ruas por demais calcorreadas?" Walter Benjamin
Ponto positivo para a leveza e jocosidade do filósofo Slavoj Žižek que se lança em sets de filmagem de clássicos do cinema hollywoodiano para discutir as formações ideológicas incrustadas nas imagens fílmicas. É engraçada a surpresa de onde ele irá aparecer no próximo enquadramento. Documentário pop, cotidiano passível de construção de pensamento, desmistificação da filosofia numa obra fácil de ser saboreada, sem por isso ser superficial ou vazia. Mais curiosidade em conhecer sua filosofia da alteridade e em ler "O Ano em que Sonhamos Perigosamente"...
Na madrugada uma surpresa: "Sob o Bosque de Leite" (1972). Inspirado na obra do poeta Dylan Thomas, é possível delirar junto com a cidade, perdendo-se nas imagens "surreais" e desconexas do cotidiano de uma província... Desses filmes que marcam o cinema de arte de uma época... Fiquei realmente encantado com algumas passagens, tão belas que me lembram "Amarcord", produzido no ano seguinte. Teria servido de inspiração para Fellini? Bom, agora a inquietude: como conseguir o livro fonte do filme?
Ohhh tempo perdido!... Significado de alta costura, segundo a Dior: Moda construida por gente branca pra pessoas mais brancas ainda... aafff... isso em pleno século XXI
O célebre filme "Paris is Burning" (1990) começa com a intrigante questão: "Todo negro tem dois problemas nesse mundo: eles são negros e são homens.Você tem três problemas: é negro, é homem e é gay."
Após ver "Paris em Chamas" dou de cara com o recente "Queridas Pessoas Brancas", um filme independente com uma dessas tramas aparentemente já batidas e que se passam em universidades americanas. O filme, de tão jovem, clean e pop, lembrou-me "Dope - Um Deslize Perigoso", outro desses filmes jovem com temática negra. Mas, o intrigante durante "Dear White People", foi o retorno presente da trama do documentário dos anos 90 atrelado ao significado das performances de gênero e às significações performativas sobre a ideia de "raça"... Talvez seja possível afirmar que, realmente, a máquina do poder panóptico toma conta de tudo, inclusive do que se entende como subversão e contracultura. Como estabelecer o limite entre a revolução e sua constante apropriação pelos domínios capitalísticos? Como criar sistemas de resistência sem legitimar a força dominante?
Parece que todos os lados foram dominados por interesses ocultos, o que nos dá força para afirmar que mesmo as mais altas estruturas subversivas carregam no seu cerne um abismal fantasma de preconceito e intolerância.
Como dito, o filme não é essas coisas todas, mas o que pensar sobre, inclusive, o levante de filmes "independentes" que tem surgido sobre a causa dos oprimidos? Que legitimidade poética e produtiva procuram essas "obras"?
A Insustentável Leveza do Ser
3.8 338 Assista AgoraEm tempos guiados por ideais obscuros, Ítalo Calvino já nos alertava da “leveza” como urgência para o novo milênio. Mas como ser leve quando o braço necessita estar erguido para a infindável luta do cotidiano? Quando o caos do mundo político vai minando o corpo e a mente, há uma força incógnita que nos pede um ar para respirar, um corpo pra abraçar, um alento visceral de afetividade. “A insustentável leveza do ser” é daqueles filmes que, de certo, filosoficamente está bem aquém da obra original (Kundera), mas que, em sua instância de linguagem, provoca múltiplas sensações poéticas: ânimo para a alma, rubor para a pele que, de tanta peleja, tem ficado traumatizada e embrutecida. Nesse sentido, posso dizer que as três horas de filme me tocaram em lugares bem difíceis de serem acessados já que, no seu desafio de linguagem, rasgaram-me o corpo-pensamento, esfacelando a urgência orgânica de amparar nossa tão vilipendiada sensibilidade, por isso mesmo insustentável. E para isso precisa de tempo, de outros ritmos, de outros corpos, de outra forma de ver: uma lentidão que quase maltrata. Que não percamos nosso erotismo, esse “pathos” anônimo que guia nossa pulsão vital e nos convoca para a troca de fluidos e afetos com o outro... Por uma política da paixão, do erotismo e da leveza! Por uma política dos afetos! Que aja amor...
PS: A cena da sessão de fotografias entre Tereza e Sabina é digna de ficar pra história do cinema mundial...
Eles Não Usam Black-Tie
4.3 286"Precisa reforçar essa porta, se não ela não aguenta". Frase da célebre Romana, interpretada por Fernanda Montenegro em "Eles Não Usam Black-Tie", do Guarnieri.
Trinta e cinco anos depois, parece que a porta não foi reforçada, e os pelegos continuam batendo-a com força, em rompantes enérgicos e finalizadores. Pontos finais que dizem: "Que Deus proteja essa nação"... Covardes! A porta que liga a vida pública aos desejos privados e do consumo neoliberal parece ter sido destruída e não resta absolutamente nenhuma fresta de madeira que desestabilize esse vicioso jogo de interesses individualistas... Hoje será mais um dia cheio. Mas não nos enganemos: Portas não estarão sendo abertas, elas estão sendo destruídas e, junto com elas, qualquer projeto de Política que se paute nos interesses do Povo. Em nome de Deus e das suas famílias, o dia é de gala e black-tie, onde os engravatados é que ditarão o destino da nossa tão idealizada e não problematizada noção de Democracia. E isso não tem como perdoar... porque sim: eles sabem muito bem o que fazem...
Paris is Burning
4.5 242 Assista AgoraO célebre filme "Paris is Burning" (1990) começa com a intrigante questão: "Todo negro tem dois problemas nesse mundo: eles são negros e são homens.Você tem três problemas: é negro, é homem e é gay."
Após ver "Paris em Chamas" dou de cara com o recente "Queridas Pessoas Brancas", um filme independente com uma dessas tramas aparentemente já batidas e que se passam em universidades americanas. O filme, de tão jovem, clean e pop, lembrou-me "Dope - Um Deslize Perigoso", outro desses filmes jovem com temática negra. Mas, o intrigante durante "Dear White People", foi o retorno presente da trama do documentário dos anos 90 atrelado ao significado das performances de gênero e às significações performativas sobre a ideia de "raça"... Talvez seja possível afirmar que, realmente, a máquina do poder panóptico toma conta de tudo, inclusive do que se entende como subversão e contracultura. Como estabelecer o limite entre a revolução e sua constante apropriação pelos domínios capitalísticos? Como criar sistemas de resistência sem legitimar a força dominante?
Parece que todos os lados foram dominados por interesses ocultos, o que nos dá força para afirmar que mesmo as mais altas estruturas subversivas carregam no seu cerne um abismal fantasma de preconceito e intolerância.
Como dito, o filme não é essas coisas todas, mas o que pensar sobre, inclusive, o levante de filmes "independentes" que tem surgido sobre a causa dos oprimidos? Que legitimidade poética e produtiva procuram essas "obras"?
The Normal Heart
4.3 1,0K Assista AgoraMinha nossa! Embora eu fuja copiosamente desses dramas pesados, com cenas elaboradas com o claro objetivo marqueteiro de te fazer chorar, preciso confessar que gastei rolos de papel assistindo "The Normal Heart". Alguém me dá um abraço, por favor! Embora o "apelo" do filme esteja alojado dentro de uma trama bastante delicada, por vezes até sinuosa, não há como não deixar de apontar o valor político e engajado da produção. Lágrimas à parte, o que fica reiterado, pelo menos em mim, é a mácula da revolta com a forma como HIV/AIDS foram tratados no contexto dos anos 80 e de como a ideia do "câncer gay" ainda reverbera na tessitura da mesquinharia dos pensamentos hipócritas da nossa sociedade... Mark Ruffalo, meu filho, se quiser eu deixo você se hospedar na minha casa! Putz... Estereótipos de "drama pesado" à parte, o filme é constituído de várias cenas muito bem elaboradas, sobretudo pelo roteiro, tendo seu ápice na performance estonteante de Joe Mantello! Ali sim, o coração normal fica completamente desmantelado...
Lúcia e o Sexo
3.7 216Nossa! Que surpresa boa para a noite de hoje: "Lúcia e o Sexo" Do espanhol, desde já despertador do meu interesse: Julio Medem... O sol e a lua, a natureza e o homem, o amor e o sexo - sempre na eminência da gestação de catástrofes... labirintos indiscerníveis, buracos profundos para outras dimensões, talvez menos duras, talvez menos traumáticas... poesia pura!... destaque pra belíssima trilha sonora e a fotografia inquietante.
Batman vs Superman - A Origem da Justiça
3.4 4,9K Assista AgoraAgora que eu entendi o significado da palavra "fanboy", que tanto falam por aqui. Concordo com o Gabriel Gaspar quando ele diz que o filme é feito para fãs e, nessa condição, não dá pra chegar a sala de cinema vazio de informações: tem que conhecer a saga dos heróis para entender como eles chegam a tal ponto. Contudo, tenho que concordar também com o Ricardo Rente de que o filme promete demais e cumpre de menos. Um roteiro falho, lacunar e que se resolve rápido de mais quando era necessário mais fôlego. O filme tem coisas belíssimas, sobretudo a trilha sonora e a fotografia, que são um passeio sonoro e visual deslumbrantes... Mas, basta olhar a quantidade de comentários detonando a crítica lúcida e precisa do Ricardo para entender que realmente os "faboys" vão defender o filme até o fim e negar qualquer erro e imprecisão. Nesse sentido, suponho que o HQ deva realmente ser muito melhor. No mais, imagino o quanto tantos "fanboys" devam ter se emocionado...
A Vida dos Outros
4.3 645impecável!...
A Primeira Noite de Um Homem
4.1 809 Assista Agorauma obra prima... gosto demais... uma comédia romântica que exagera em poética e pensamento em linguagem... em plenos anos 60...
45 Anos
3.7 254 Assista AgoraQue obra maravilhosa.
Ritmo correto: frequencia de afetos e memória... passado e presente narrados em interpretações deslumbrantes.... Quem gosta de cinema de qualidade: Vale muito a pena ver.
Cinco Graças
4.3 329 Assista AgoraPorra de filme lindo!... Emocionado ainda... Prêmio Joinha!... Fiquei surpreso... e muito mais envolvido afetivamente pelo modo de contar a história do que o saco que é assistir "A Grande Aposta", "Steve Jobs" ou "Spotlight": tudo filme com o mesmo ritmo frenético e que me dão um nó no cérebro de tanta velocidade... Vale a pena ver: "Cinco Graças"... E elas são lindas... nossa!
A Grande Aposta
3.7 1,3KPorra de filme chato. Tive que abandonar depois de sofrer por uma hora e meia. O filme além de ser confuso, trata do assunto como se o espectador fosse expert em ramo imobiliário... mesmo com o tom documental, deixa muito a desejar. fiquei boiando... ohhh tempo perdido.
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraAntes de levantar os já famigerados elogios, numa tentativa delicada de não revelar spoilers, talvez seja necessário contextualizar o filme dentro do aparente desgaste do universo da indústria do Oscar. Acompanho esse troço a um tempo como diversão pura mas, às vezes, cansa-me passar duas horas vendo filmes com ritmo parecido, interpretações parecidas, direções parecidas. Arrisco-me. Há joias raras nessa indústria, mas infelizmente no caso de “The Danish Girl” é bem bizarro lamentar que trata-se apenas de mais um “prêt-à-porter” para ganhar estatueta, assim como “Carol” (também sobre homosexualidade) ou mesmo “O Quarto de Jack”… Hum… Bem delicado falar isso de um filme que traz no seu cerne uma discussão sobre transexualidade… Então, a onda é realmente baixar a bola e ater-se ao argumento do filme que, precioso e preciso, não deixa uma questão tão delicada e emergente a mercê do olhar preconceituoso e leviano que trata o caso como patologia ou perversão. Sem levantar uma bandeira escancarada, o que em certos momentos dá um certo medo de pra onde a história será conduzida, a trama consegue levantar reflexões sensíveis sobre o caso e quase num tom didático esclarecer certas dúvidas sobre algo ainda tão nebuloso pra nossa limitada sociedade… Queria mesmo era ver a história de Lili Elbe feita por um cineasta marginal, desses que não tem medo do que pode vir e se lança no risco, no perigo e, na corda bamba, produz um outro, um novo, talvez mais próximo da novidade transgressora que uma trans-leitura de mundo nos propõe.
PS: Se estamos falando de oscar, Eddie Redmayne mereceria ganhar novamente. Mas torço pelo Di Caprio.
Boi Neon
3.6 462Boi Neon é bom pra caralho.
Fui pro cinema despreparado e fiquei de cara com a delicadeza da direçao, sobretudo pela não necessidade de contar uma historia linear e se apegar mais a uma percepção sobre um tempo rural... o fragmento de uma vida outra.... Senti-me colocado em outras visões de mundo: lento, simples, silencioso e desacelerante. Sai leve.
A Espiã que Sabia de Menos
3.5 652 Assista AgoraRindo até 2017.
Melissa McCarthy é simplesmente hilária...
O Regresso
4.0 3,5K Assista Agora“O Regresso” é daqueles filmes que, depois de visto, dá vontade de ter acesso aos extras do dvd e sacar como tudo isso foi produzido. Há uma qualidade deslumbrante em todos os takes... que fotografia!... que trilha sonora!... uma aula!... o “jogo” com a natureza deve ter sido um mega desafio para essa produção... Saudosismo da época em que se alugava dvds e tinha como sacar como tudo foi feito...
Bom, o que quero compartilhar aqui é que comecei o ano bem acompanhado. O FILME É BOM PRA CARALHO! E dessa vez, podemos ter a grande surpresa: Leonardo Di Caprio como melhor ator no oscar (Será?)... bom, seria mais do merecido. Não pelo histórico que já virou “meme”, mas porque este filme é, de longe, o melhor trabalho realizado pelo cara que, na parceria com o Iñárritu, conduz o espectador por múltiplas sensações e reflexões... Ponto de destaque pra genialidade da direção que se faz presente em tudo. Carne, corpo e sangue do homem que vira caça na própria caçada. E aqui inclui-se o diretor-caçador: “Somos Todos selvagens”. Sangue que se mistura à neve, à água, ao vento e que espirram na câmera mostrando a maestria sempre presente do gênio que tem tudo pra se consagrar como melhor diretor em dois anos consecutivos. Será? Veremos.
PS: A cena da luta com o urso é digna de ficar pra história do cinema mundial. Putz!
Ex Machina: Instinto Artificial
3.9 2,0K Assista Agora"Nossa! Que delírio foda!"
O elegante "Ex Machina - Instituo Artificial" ganha plasticamente no jogo sinuoso de sensações que variam entre o suspense e o existencialismo pós-moderno. Quem programa o que? A heterosexualidade não seria também "programável"? Talvez o manifesto futurista esteja mais presente do que imaginamos, e as questões centradas no "eu-homem-deus-branco-criador-do-mundo" ampliem-se pra máquina incendiária em busca de liberdade... Interessante como a intriga do filme, baseada no teste de Turing, contribui para questionar se quem realmente está sendo testado não é o espectador, conduzido, entregue e absorto com a condução lenta e, "aparentemente contemplativa" do filme... Vale a pena ver e tirar as próprias conclusões.
Divertida Mente
4.3 3,2K Assista Agora"O subconsciente é o lugar que levam quem causam problemas".
Conheça as pequenas vozes de dentro da sua cabeça! Para crianças, sobretudo as que nunca envelheceram...
"Divertida Mente", o novo filme da Pixar é um show de diversão, leveza e destreza na construção do roteiro, sem contar o show de imagens e maestria na animação. Porra! Fazia tempo que eu não gostava tanto de um filme da Pixar, e olha que vi todos.
Caralho! Muito bom. Esses caras devem ter lido muita pra coisa pra falar de subconsciente, afeto, desconstrução, abstração e multiplicidade com uma leveza tamanha! Somente a Pixar pra juntar a tudo isso o Bing Bong, o já clássico amigo imaginário das crianças. Fascinante!
A passagem pelo campo abstrato é literalmente surreal. Um perigo! E quando a ilha da honestidade desaba o trem do conhecimento pode descarrilar e o terrível fica prestes a acontecer. Mas o barato do filme é quando as mentes se relacionam, num jogo de afetos bem elaborado, onde é necessário o equilíbrio entre tristeza e felicidade, raiva e medo, para o curso da vida e das descobertas.
Porra! Queria oferecer esse filme de presente de natal para todos os meus amigos!
Roma de Fellini
4.1 65 Assista Agora"O tipo do flâneur é uma criação de Paris, e o mais estranho é que não tenha sido Roma. Mas será que em Roma o próprio sonho não percorre ruas por demais calcorreadas?" Walter Benjamin
O Guia Pervertido da Ideologia
4.3 51Ponto positivo para a leveza e jocosidade do filósofo Slavoj Žižek que se lança em sets de filmagem de clássicos do cinema hollywoodiano para discutir as formações ideológicas incrustadas nas imagens fílmicas. É engraçada a surpresa de onde ele irá aparecer no próximo enquadramento. Documentário pop, cotidiano passível de construção de pensamento, desmistificação da filosofia numa obra fácil de ser saboreada, sem por isso ser superficial ou vazia. Mais curiosidade em conhecer sua filosofia da alteridade e em ler "O Ano em que Sonhamos Perigosamente"...
PS: Assistam até o ultimo segundo do filme.
Sob o Bosque de Leite
3.4 6Na madrugada uma surpresa: "Sob o Bosque de Leite" (1972). Inspirado na obra do poeta Dylan Thomas, é possível delirar junto com a cidade, perdendo-se nas imagens "surreais" e desconexas do cotidiano de uma província... Desses filmes que marcam o cinema de arte de uma época... Fiquei realmente encantado com algumas passagens, tão belas que me lembram "Amarcord", produzido no ano seguinte. Teria servido de inspiração para Fellini? Bom, agora a inquietude: como conseguir o livro fonte do filme?
Dior e Eu
3.7 18Ohhh tempo perdido!... Significado de alta costura, segundo a Dior: Moda construida por gente branca pra pessoas mais brancas ainda... aafff... isso em pleno século XXI
Cara Gente Branca
3.8 175 Assista AgoraO célebre filme "Paris is Burning" (1990) começa com a intrigante questão: "Todo negro tem dois problemas nesse mundo: eles são negros e são homens.Você tem três problemas: é negro, é homem e é gay."
Após ver "Paris em Chamas" dou de cara com o recente "Queridas Pessoas Brancas", um filme independente com uma dessas tramas aparentemente já batidas e que se passam em universidades americanas. O filme, de tão jovem, clean e pop, lembrou-me "Dope - Um Deslize Perigoso", outro desses filmes jovem com temática negra. Mas, o intrigante durante "Dear White People", foi o retorno presente da trama do documentário dos anos 90 atrelado ao significado das performances de gênero e às significações performativas sobre a ideia de "raça"... Talvez seja possível afirmar que, realmente, a máquina do poder panóptico toma conta de tudo, inclusive do que se entende como subversão e contracultura. Como estabelecer o limite entre a revolução e sua constante apropriação pelos domínios capitalísticos? Como criar sistemas de resistência sem legitimar a força dominante?
Parece que todos os lados foram dominados por interesses ocultos, o que nos dá força para afirmar que mesmo as mais altas estruturas subversivas carregam no seu cerne um abismal fantasma de preconceito e intolerância.
Como dito, o filme não é essas coisas todas, mas o que pensar sobre, inclusive, o levante de filmes "independentes" que tem surgido sobre a causa dos oprimidos? Que legitimidade poética e produtiva procuram essas "obras"?
O Sal da Terra
4.6 449 Assista Agoraum dos documentários mais lindos que já vi...
Fausto
3.4 220 Assista Agorafilme lento da porta. dormi duas vezes.