Ainda não vi O PESO DO TALENTO, mas é evidente que é u filme que pega carona nesta verve superexpositiva do Nicolas Cage. Seu personagem, entretanto, é composto com muita seriedade: apesar de a situação tramática logo se desgastar, e o filme ficar cansativo do meio para o final, em razão de sustentar-se em apenas uma piada, seu personagem é delineado com seriedade dramática, oscilando entre o conscientemente ridículo e o merecedor de piedade. Não chegamos a nos identificar, mas torcemos por ele, no desespero. O clima é de pasticho kaufmaniano, mas a direção não é muito firme, o tom do filme é indefinido, encerrando-se de maneira quase cruel, em sua inevitabilidade melancólica. Funciona melhor depois que a sessão termina, em verdade. A execução de uma canção de Talking Heads, nos créditos finais, ressignifica aquilo que pareceu afoito no decorrer das situações: poderia ser um excelente estudo de personagem, mas o roteiro se desperdiça em piadas neogeracionais, em cacoetes da A24 e no reaproveitamento chistoso de temas que renderam um eficiente filme de suspense no oitentista A MORTE NOS SONHOS. Acho que, numa revisão sem expectativas, funcionará bem melhor... (WPC>)
Assisti aos principais filmes deste realizador supostamente 'trash' em ordem invertida, e fiquei positivamente chocado com o teor psicanalítico dos mesmos. Adentrei a sessão enquanto lidava com uma grava situação familiar, envolvendo um irmão mais novo, de modo que o arrebatamento foi intenso: será que o Frank Henenlotter teve acesso aos meus diários?! Brincadeiras à parte, é maravilhoso como ele consegue tornar tão crível um personagem de látex, fazer-nos experimentar legítimas, que vão do medo ou horror inicial a uma piedade sincera, a uma necessidade de compreensão e entendimento da situação trazida à tona: é um filme sobremaneira triste e melancólico, sobre diversos tipos de solidões, não sendo casual que tenha sido locado em Nova York, numa região consagrada aos artistas "alternativos". De fato, antecipa o mote geral de MALIGNO, do James Wan, mas pensei ainda mais na ambientação scorseseana, que se irmana ao que o cineasta fez em DEPOIS DE HORAS ou em seu episódio de CONTOS DE NOVA YORK. 'Exploitation' é algo premonitório, em âmbito social, afinal. Fui pessoalmente tocado por este filmaço, amei! (WPC>)
Ainda não vi a estréia mui elogiada e cultuada deste diretor, mas, depois deste filmaço aqui, fiquei mais do que curioso! O vi por acidente e fiquei impressionado e apaixonado: além de ser muito divertido e sensual, aborda a questão do vício em substâncias alucinógenas de maneira honesta e até mesmo séria. Os efeitos especiais são ótimos e, mesmo quando adere ao 'trash' assumido, não abonadona a verve reflexiva. Há algo de muito 'camp' nas atuações (minha mãe riu, ao ouvir tantos gritos, desde o início) e o diretor não foi nada econômico na adoção do homoerotismo: a beleza do protagonista Rick Hearst é acachapante e muito bem explorada pelo enredo. Fascinante e aterrorizante, ao mesmo tempo, naquilo que propõe e expõe. Adorei! (WPC>)
Não conhecia nem o romance original nem o filme dele derivado. Ganhei o primeiro de um amigo olavista e demorei bastante na leitura, dada a densidade digressiva da obra. A adaptação ficou famosa pela adoção de muitos 'flashbacks', direcionadas à apreciação num tribunal. Sei que o Duvivier foi atacado enquanto representante do "cinéma de papá", mas demonstrou enorme habilidade na interpretação/adaptação da obra, que ficou sintética e bastante fiel aos propósitos originais: houve apenas a supressão de uma personagem e uma leve (porém capital) alteração no desfecho. Temi que as menções homossexuais fossem abortadas, mas até que elas foram eficientemente transcritas. Há muito mais por detrás da mera abordagem advocatícia, um conflito geracional de proporções violentas que, no romance, deu origem a mais dois livros. Interessante descoberta! (WPC>)
Continuo achando a versão de 1937 a minha favorita, mas compreendo o favoritismo, por parte de vários críticos, sobre esta produção aqui: a extensão da duração é justificada pela intensidade dos envolvidos, pela entrega de Judy Garland a uma condição que ser-lhe-ia muito pessoal. Como tal, enquanto espectador, foi muito pessoal para mim também. A relação entre os dois protagonistas é muito intensa e a intepretação dela é arrebatadora. Tenho um pantim quanto à categorização da obra enquanto musical, já que as canções são excessivamente diegetizadas, enquanto espetáculos efetivados pelos intérpretes, no universo em que eles atuam. Mas como ficar incólume perante o impacto de "The Man That Got Away"? Como sofro de alcoolismo passivo (cuido de alguém que sofre deste mal), o roteiro acerta-me em cheio. E, a cada revisão, refaço as pazes com o estilo cukoriano, cuja afetação demorei para compreender: precisei envelhecer/amadurecer para isso. A lentidão do processo não é casual, há todo um percurso emocional em jogo! Fiquei surpreso ao descobrir que o estratagema das fotos em tom sépia foi uma compensação "póstuma" à retaliação do filme, quando originalmente lançado. Foi algo que impressionou-me bastante no primeiro contato, pensei que fôra intencional (risos). Insisto que não é nem a minha versão favorita nem meu preferido do diretor, mas é um filme que nos afeta intimamente, que marca-nos a partir da identificação proposta! (WPC>)
A direção é um horror: descrente que é em suas próprias imagens, Rodrigo van Der Put tenta desviar-se delas, muitas vezes, o que é hipertrofiado no momento em que os personagens assistem a um programa de TV, em que a tela do aparelho é quase um tabu, nas suas breves aparições. Dá pena perceber Eduardo Sterbitch tão desperdiçado, depois de demonstrar que, sim, é um ótimo ator, e não apenas um comediante obrigado a repetir os mesmos papéis exagerados. Gosto da Polly Marinho (mostrada muito pouco) e achei o garoto Pedro Burgarelli simpaticíssimo, mas a composição "redentora" do pai é atroz, ainda mais vilanaz que a paspalhice do personagem de Daniel Furlan. Quando eu cria que o filme não poderia ficar mais ridículo (como o próprio Cacá comenta), ele vai lá e desce mais alguns níveis, em mau gosto lingüístico (emulando a montagem de Tik Tok e afins) e no puxa-saquismo de classe. Não sei se tinha nojo ou pena daqueles personagens, mas esforcei-me por simpatizar ao menos com as lições morais advindas da convivência forçada entre João e o garoto. Nada se aproveita, entretanto: os clichês convertem-se em estereótipos piorados e trama parece figurante em meio às filmagens de atores e equipe divertindo-se no parque. Trata-se de uma peça publicitária disfarçada de filme infantil. Indefensável, infelizmente! (WPC>)
É estranho que este filme seja tão rejeitado por público e crítico: eu o achei tão oportuno, em termos de ambientação pré-denuncista. Tudo bem, admito que a personagem central é tão narcisista quanto apática e que a sua transformação profissional/publicitária seja um tanto repentina, mas, para quem trabalhou nas mesmas áreas que ela, é algo sobremaneira verossímil. Tom Hanks aparece pouco, bem como John Boyega e Ella Coltrane, e, cada qual a seu modo, estes coadjuvantes possuem aparições marcantes, no fascínio que desencadeiam na protagonista. Mas foi Karen Gillan quem realmente em deixou apaixonado: que mulher linda e carismática! Eu trabalho como atendente num setor de TI há dois anos, e identifiquei-me com diversas situações apresentadas. Concordo que, sim, há algo da estética que se convencionou chamar de "Black Mirror", no desenvolvimento do enredo (afinal, lacunar e suspeitoso), mas acho que ele atualiza de maneira inteligente os cacoetes de MATRIX para a era facebookiana. Particularmente, apesar de decepcionar-me sobremaneira com o desfecho repentino e inconvincente, eu curti este filme. Demais, até! (WPC>)
Temendo que este filme fosse mais um conjunto de clichês em prol do identitarismo, evitei-o por algum tempo, por mais que todos os meus amigos dissessem que era ótimo. Estava sendo exibido num canal pago de TV e resolvi conferi-lo ao lado de minha mãe: adoramos. Ela pulava da cadeira, empolgada, torcendo pela maravilhosa protagonista, esplendidamente vivida pela excelente Viola Davis. De fato, há, sim, muitos clcihês, mas estes são validados pela História, pelas atrocidades do colonialismo. Diferentemente de PANTERA NEGRA - que é um filme que não funcionou comigo, a despeito de suas alegadas "boas intenções" - aqui, temos a aplicação orgânica das questões de classe, gênero e raça, sendo o filme muito efetivo na inserção representativa dessas questões, convertendo-se numa diversão sumamente empoderada. A direção é tão eficiente que consegue tornar atrativas mesmo as barrigadas, as cenas "banais" entre os clímaces. A duração é aproveitada em cada um de seus minutos: conhecemos bem os personagens, deslumbramo-nos perante a reconstituição artística do Reino de Daomé, captamos a magia da trilha musical de Terence Blanchard... Lasanna Lynch é uma fascinante coadjuvante e John Boyega está lindo! Se, de fato, algumas seqüências são extremamente violentas, não se pode negar que isso foi necessário aos propósitos reivindicativos da trama, de maneira que incomodei-me menos com as comemorações bélicas aqui do que em BACURAU, por exemplo. Em sua adesão às convenções de filmes de heróis, o roteiro realmente faz jus à organicidade supramencionada, de maneira que o filme é merecedor dos elogios que recebeu e merece ser ainda mais visto e divulgado, sobretudo em sua potência motivadora, no que tanga à identificação com a galhardia das mulheres negras, guerreiras e emocionais, humanas e intensas, no enfrentamento das dores e compreensão do valor de suas cicatrizes. Impressionante, neste sentido! (WPC>)
Gosto muito da diretora e, vendo este filme - pelo qual esperava há tempos! -, percebi que ela complexifica, em chave feminina, aquilo que o Ang Lee faz internacionalmente, no que tange à abordagem traumatizante da autoridade familiar. Ao invés de uma perspectiva biográfica, ela adere à imersão psicanalítica: o Pedro, além de ser um canalha, é frágil, suscetível, impotente em diversos âmbitos, em contraponto à fama heróica, conservada em diversas estátuas e relatos institucionais. Não lembrava que ele tinha falecido tão jovem (menos de 36 anos) e gostei bastante de como o Cauã Reymond compõe o personagem: não força sotaque, não evita os anacronismos. Parece que ele está ensaiando e esperando o personagem chegar, entrar em seu corpo, o possuir... Isso até ocorre, mas pelo viés da culpa. Adorei a maneira como os vários idiomas (alemão, francês, inglês e iorubá, além do português) surgem no filme e apreciei a preocupação do roteiro quanto aos pequenos atos (comer a sobremesa na cozinha de um navio, por exemplo). O quartel final adere aos 'flashbacks' excessivos e não é tão interessante quanto o começo e o meio, mas imergi no filme, senti-me invadido por aquelas situações, por aquela aflição culposa. O que estranhei é que a perspectiva do relato não fosse necessariamente a de Pedro, o que se percebe em seqüências mais objetivas, como os embates entre o protagonista e seu irmão português ou o desembarque dos escravos, mas, mesmo assim, adorei o conjunto. Como tal, aplaudo a coragem da diretora em levar a cabo um projeto tão arriscado e autoral: que bom que ela ousou. Tem muito a ver com JOAQUIM, outro filme que eu também amo. (WPC>)
Acho muito interessante como os filmes italianos 'pop' contemporâneos conseguem capitanear a nossa atenção, e emocionar-nos legitimamente, mesmo aderindo aos clichês e lugares comuns das produções de gênero. Aqui, o diretor Paolo Genovese não é tão exitoso quanto em sua realização mais famosa, mas, mesmo assim, concede às novas gerações a atualização de A FELICIDADE NÃO SE COMPRA que elas merecem. A duração é um tanto excessiva, mas ele constrói com habilidade a montanha-russa de situações que permitem a inevitável identificação emocional do espectador. O roteiro é um tanto bipolar em seus vais e vens, mas administra de maneira graciosa os procedimentos de 'coaches' que ele refuta internamente: é um filme sobre auto-ajuda, mas inteligente e sensível, mesmo em suas obviedades. Atropela-se bastante, claro, mas justifica-se pelo tom fabular da narrativa. Toni Servillo está ótimo como anjo e Margherita Buy é muito credível em seu mergulho na depressão. Mas a trama dedica mais atenção aos personagens de Valerio Mastrandea e Sara Serraioco. O primeiro porque tem muito de alter-ego, em seus reflexos com o protagonista e com o próprio público, que nem sempre lida com a galhardia requerida aos temores da vida, enquanto a segunda fascina-nos pela maneira com que os seus segredos são desvendados e compreendemos a complexidade emocional da personagem. A trilha cancional aproveita-se de músicas utilizadas à exaustão em 'stories' de Instagram e as frases feitas são abudantes, mas tudo isso é coadjunado ao projeto de resgate anti-suicida, de modo que, ao final, aplaudimos o percurso eventualmente equivocado dos personagens, da mesma maneira que fazemos quanto ao nosso, enquanto pessoas. É o exemplar farmacêutico de cinema que os diagnósticos contínuos de ansiedade nas redes sociais torna emergencial. Serve-se de tropos utilizados à exaustão em diversos outros filmes, mas cozinha com algum charme estudado a mistura. Fará sucesso em seu lançamento comercial, tudo indica, se anunciado da maneira devida! (WPC>)
Não gosto muito da versão clássica do Mel Stuart, não sou um chocólatra e achei desnecessário este projeto, quando soube de sua existência. Porém, surpreendi-me curtindo bastante o filme: a entrega de Timothée Chalamet ao protagonismo é excelente e achei magnífica a decisão de realizar o filme em formato musical, que particularmente aprecio. Gostei das canções e da mensagem geral, de um "segredo" que, em verdade, está no compartilhamento. O elenco é primoroso (quem diria?) e mesmo a adesão à lógica do empreendimento não atrapalha. Afinal, o que e exortado aqui é a amizade, o companheirismo, o trabalho em equipe. Não entendi o porquê de Hugh Grant ter ficado envergonhado com a sua participação: ele está ótimo! (WPC>)
Não conhecia nem o filme nem seu diretor. Tive acesso ao mesmo graças a uma apresentação cineclubista, e a palestrante assegurou que o cineasta possui outros títulos merecedores de muita atenção. Porém, gostei muito mais da professora mostrada (Alicia Vega, continuadora de Luis Espinal) que do documentário com um todo. Por motivos discursivamente compreensíveis, há algo de manipulatório nas boas intenções propagandísticas do excelente projeto militante, construtivo e orgânico apresentado. Fiquei encantado, mas também um tanto triste, pelos depoimentos que surgem em paralelismo às aulas de cine-educação. Fiquei imaginado como seria a minha vida hoje se eu tivesse uma professora daquela em minha infância: que mulher impressionante, que trabalho incrível! Na trilha musical, o tema de ZERO DE CONDUTA, como exortação para a pujança didática daqueles garotos, que compreenderam na prática a importância do que estava sendo ensinado. Impressionante! Quero saber mais sobre este projeto real, incrível! (WPC>)
O que parece incômodo no primeiro contato permanece incômodo na revisão. As interpretações são boas e, ainda que esteja muito longe de seu estilo, podemos encontrar traços do "Hitchcock touch" em diversas cenas, sobretudo na do parque de diversões. Porém, o retrato da violência matrimonial assusta demais aqui: que casal bizarro, que situações esdrúxulas, que relacionamento tóxico! Alguns dos diálogos, sobretudo os proferidos pela personagem de Carole Lombard, são apavorantes, em termos de defesa do próprio tormento relacional. Mas não é um filme de todo indefensável: ele diverte, ao menos. Traz consigo muitos dos parâmetros das comédias românticas que, ainda hoje, são produzidas aos borbotões. Mas que é incômodo, ah, isso é! (WPC>)
Os esforços do Hathaway para erigir um correspondente hollywoodiano do neo-realismo atingem um píncaro impressionante aqui. Que direção impressionante! Que roteiro preciso e ainda muito atual! A interpretação do Victor Mature rejeita os cacoetes de canastrão que lhe contaminarão em trabalhos futuros. E, sim, Richard Widmark brilha em cada instante: que personificação assustadora, um tenebroso Coringa 'noir'! A narração de Coleen Gray é ótima, em seu esforço por algum otimismo, em meio à sina dos desafortunados. Só não é uma obra-prima porque, em seu quartel final, a situação persecutória fica um tanto repetitiva. Mas o delineamento dos personagens e da corrupção advocatícia é impressionante: um ensaio sublime do que seria O PAGAMENTO FINAL, décadas depois. Amei - e, por ora, não tenho coragem de encarar a regravação noventista! (WPC>)
Depois de muito, muito tempo, revi um filme que fascinou-me bastante quando visto no cinema: fiquei deslumbrado, à época, e ainda continuo. A interpretação de Gwyneth Paltrow é belíssima, fico triste que ela seja tão hostilizada por causa do Oscar. Aliás, quase todo mundo que detesta esta filmaço o faz por causa da premiação, não por conta de suas qualidades intrínsecas, que, afinal, são ótimas. Judi Dench está magnífica em cada aparição, a direção de arte é primorosa e o roteiro é muito esperto, na conjunção de fatos reais e trechos de peças diversificadas. São muitas referências e um jogo inteligente de metalinguagem romântica. Emocionei-me demais, projetei-me no casal central (Joseph Fiennes, saudades de ti), ri nos abundantes momentos engraçados e fui inebriado, graças à linda trilha musical de Stephen Warbeck. Sou absolutamente obcecado por este filme, mas admito que foi um acerto isolado de John Madden. A ser revisto mais e mais vezes. Amo! <3 (WPC>)
Assisti a este filme em sessão doméstica, com um vizinho e a mãe dele. Todos ficaram vidrados e empolgados, com os olhos grudados na tela. Porém, ainda que eu admita que, no que tange às convenções de ação, o filme é muito bem sucedido, fiquei desconfiado quanto aos interesses da adaptação, por conta do maniqueísmo entre herói e vilão. Na verdade, até que há respeito e humanização na descrição deste segundo, mas a interpretação é um tanto estereotipada. Gostei da direção, do elenco e do modo como a trama avança. Mas achei suspeitoso o modo coo o contexto de época aparece: jornalisticamente fundamentado, na abertura, mas logo abandonado. Haveria algum recado implícito, no cotejo com a situação de 2023? O filme não responde. Parece não se preocupar, contentando-se em ser elogiado por "ser tão eficiente quanto uma obra de Hollywood". Pessoalmente, cri que ele poderia avançar em relação a isso, mas gosto do modo como as nuanças dos personagens surgem, por vezes. Fora que, sim, é muito divertido. E isso basta, nalguns parâmetros: quem viu, torceu e gostou. Até bateram palmas para o piloto, mesmo diante da TV (risos)! - WPC>
Adentrei a sessão preparado para reclamar dos mesmos pontos que incomodaram-me no bastante similar DED NA FERIDA. Depois de acompanhar o processo de feitura de Silvio Tendler em relação a seus documentários recentes, mais didáticos quanto aos problemas do neoliberalismo econômico, fui indulgente quanto à análise de aspectos técnicos/estéticos na audiência a este filme. Temos aqui um caso em que, aparentemente, o conteúdo se sobrepõe à forma. Porém, conhecedor da lógica orgânica que é o realizador, o que ocorre é uma dissolução no próprio projeto: temos uma demonstração de multiplicidade de opiniões, dentro de um panorama de esquerda, sobre o que é tematizado. Temos, portanto, desde um monsenhor que usa uma batina com o logotipo da Lacoste até a simplicidade efetivamente franciscana do Padre Júlio Lancelotti, em depoimentos tão frontais quanto certeiros. A construção do documentário, por conta da lógica pandêmica, ocorreu através dos envios de conteúdos diversos, dos colaboradores do realizador, provenientes dos mais distintos lugares do mundo. Uma voz, entretanto, chama a atenção pelas contradições evidentes em seu discurso de "inveja de classes", mais que luta de classes em si, que é o da estudante de Arquitetura que trabalha como entregadora de aplicativo. As animações entre os segmentos são sintéticas, no que tange á abordagem tencionada. É um filme que ensina e nos leva à reflexão, ainda que tenha ficado um tantinho datado enquanto manifesto (afinal, seu interesse, nalguns aspectos, é de intervenção eleitoral. Não apenas, mas também, e explicitamente). Não figura entre os melhores trabalhos do Tendler, mas consegue ser urgente enquanto proposta de discussão. Isso conta e valida os prêmios jornalísticos que ele recebeu. A canção-título é muito boa! (WPC>)
Lendo a sinopse do filme, presumi que identificar-me-ia com algum dos personagens. Porém, li tantas opiniões contraditórias, que terminei procrastinando a sessão... Numa imersão casual, graças a uma exibição televisiva, gargalhei de imediato: ri muito e percebi que o roteiro trata de questões muito sérias, como a violência da especulação imobiliária e os vícios digitais (e expositivos) da geração hodierna, que não desgruda dos telefones celulares. Além de estar excelente, Jennifer Lawrence compõe uma personagem inesquecível, em seu carisma e charme agridoce. Andrew Barth Feldman é um coadjuvante à altura, terno e gracioso. E a participação simbólica de Matthew Broderick, como um pai hiperprotetor não é nada gratuita, visto que o filme aborda um conflito geracional, ao mesmo tempo em que exorta-nos à maturação social, para além das supostas exigências etárias. Gostei muitíssimo: a execução de "Maneater", ao piano, emocionou-me bastante! (WPC>)
Antes de adentrar a sessão, sem saber nada sobre o tema do filme e considerando que eu não tinha gostado muito dos últimos filmes do Silvio Tendler, demonstrei um errôneo preconceito quanto ao seu automatismo documental contemporâneo. Paguei a língua: o filme é um belíssimo acerto de contas com o próprio passado do realizador, um animado filme-memória, ressaltando a importância de manter-se alegre durante os atos de resistência. Entremeando as imagens e entrevistas, há intertítulos mui pessoais, em que o diretor reforça que não há espaço para a desesperança em suas obras, muito menos na conclusão das mesmas. De maneira assumidamente ingênua, ele fala sobre a sua vida familiar e sobre a sua trajetória profissional e de viagens sem se culpar por seus privilégios de classe ou por ter tido a honra de conhecer pessoas como Chris Marker, Jean Rouch, Joris Ivens e Patricio Guzmàn: eles apenas compartilha conosco o seu entusiasmo e demonstra que sua passagem pela Terra foi repleta de atividades relevantes, não apenas para si mesmo como para a crença na aplicação de um Socialismo em direção à liberdade. O diretor é tão defensor das possibilidades concretas do Socialismo, relegadas permanentemente às condições de ideal utópico, que, acidentalmente, refere-se à queda do Muro de Berlim como a abertura ao fracasso, no sentido de que, a partir daquele feito histórico, o Capitalismo destroçou por completo o comunismo. As suas histórias de vida são ótimas e riquíssimas em experiências artísticas, mas ele insiste em declarar o amor por suas namoradas e amigos, em passagens que demonstram o quão fofo e merecedor do apelido adolescente de "boi gamado" ele é. Tive o privilégio de assistir ao filme na véspera de seu aniversário de 74 anos, o que foi uma coincidência feliz, uma das muitas elencadas no roteiro, visto que o diretor tem consciência do quanto o Acaso foi fundamental em sua vida. O material de arquivo que ele felizmente acumulou é magistral, bem como a sua verve atuante, a sua sede de produzir e de transformar a realidade (para melhor) mediante o conhecimento das situações históricas. Incrivelmente ótimo: saí da sessão emocionado e motivado, além de pessoalmente apaixonado pela pessoa-Tendler. Que cara apaixonante e cheio de vida, amei! (WPC>)
Bem mais interessante que uma congênere contemporâneo sobre a Warner Brothers, com quatro horas de duração, este documentário é balsâmico para os cinéfilos da velha geração, para os apreciadores analógicos de filmes. Há algo de apaixonado na narração de James Coburn e as cenas dos filmes apesentados são ótimas. O problema, como esperado, talvez seja o viés excessivamente defensor, a abordagem compreensivamente chapa-branca e elogiosa, que termina numa ode ao triunfalismo, mas ignorando o que aconteceu com O FANTÁSTICO DR. DOLITTLE, por exemplo. Nada que prejudique a imersão nostálgica ou a gana por informações fílmicas. Muito bom: ria sempre que o Roddy McDowall expunha as suas opiniões! (risos) - WPC>
Sendo bastante sincero, adentrei a sessão com muita desconfiança, pensei que não fosse funcionar comigo. Mas fui arrebatado desde a esplêndida seqüência inicial, muitíssimo eloqüente enquanto demonstração da apropriação invertida do identitarismo, associada a condições de classe. E o desenvolvimento do roteiro só melhora, contando com diálogos memoráveis (anotei várias frases) e interpretações, idem. Jeffrey Wright está maravilhoso, dotando de suma dignidade um personagem insuportável, e os coadjuvantes são ótimos. De repente, surge a previsível situação do júri literário, e a piada repetida N vezes começa a dar sinais de desgaste, culminando num desfecho que, de tão "didático" em sua pretensa alternatividade, pareceu-me uma cópia não tão inspirada do que já havia sido ensaiado em ADAPTAÇÃO, do Spike Jonze. Mas, tirando uma ou outra digressão, tendo a elogiar este filme, bem mais do que atacá-lo. O roteiro é primoroso, bem como a leveza jazzística da trilha musical. Durante a primeira hora, maravilhoso. E mui assertivo naquilo que expõe, e acerca do qual todos nós, de alguma maneira, somos cúmplices. Reflitamos, portanto! (WPC>)
Demorei para enfrentar este filme. Temia que fosse o documentário 'gore' anunciado, ainda que eu ache necessário que situações duras de guerra sejam mostradas, à guisa de denúncia. E é nesse aspecto que o filme soçobra: diferentemente de PARA SAMA, que eu amo, o diretor não sabe como dosar suas pretensas intenções ensaísticas. Ao narrar as situações em inglês, após a montagem, o efeito que ele provoca é a chantagem emocional, o que piora quando as mesmas imagens duras que ele filma são reapresentadas editadas, enquanto notícias telejornalísticas. O caráter manipulador se sobressai em relação às intenções válidas de denúncia, conforme intensificado pela falta de modéstia dos envolvidos, que se autocongratulam por estarem realizando um trabalho muito importante, fazem questão de referendar que todos os agradeceram por isso... O produto geral soa como uma campanha de propaganda partidária, em que até mesmo as insinuações, por parte dos detratores, de que os materiais chocantes apresentados poderiam ser encenados têm efeito duvidoso. Moralmente, reprovável, em diversos sentidos. Cinematograficamente, muito pobre. Mas, no miolo documentarista/jornalístico pretendido, não se pode sair da sessão sem ser afetado. Talvez funcionasse melhor se tivesse sido lançado antes, mas presumo que isso não foi possível, dadas as inúmeras dificuldades de produção. Ruim, mas necessário, nalgum meandro: muito mais pelo que exibe, do que pela maneira reprovável como o faz! (WPC>)
Revisto, percebo que algumas cenas e diálogos não funcionam tão bem hoje, por mais importantes e revolucionários que tenham sido no período de lançamento. A concepção da empregada doméstica que revolta-se contra o namorado negro da garotinha branca que criara incomodou-me bastante, bem como a servidão do roteiro ao liberalismo de fachada do velho branco vivido pelo excelente Spencer Tracy. Consinto que o elenco seja ótimo (como foi bom perceber Sidney Poitier tão sorridente!) e encantei-me pelo monsenhor vivido por Cecil Kellaway, o mais subversivo de todos os personagens, em sua aceitação do novo (até uma canção de The Beatles ele entoa!). Beah Richards está incrível em cena, mesmo quando está calada, e Katharine Hepburn faz jus ao Oscar que recebeu. Sou apaixonado pela canção-tema ("The Glory of Love") e, superados alguns entraves quase teatrais, curti o desfecho, torci pelo final feliz. O problema maior é a lógica classista, a defesa do patriarcado mantida em seu elogio à aceitação, aff! (WPC>)
Vi apenas os dois filmes mais famosos deste diretor e, obviamente, gostei muito de ambos. Como tal, saber mais sobre a sua filmografia, seu modo de pensar e sobre as curiosidades de sua vida pessoal (que ele fôra tenista, antes de ser diretor, por exemplo) foi ótimo. As entrevistas são ótimas, evitando enfiar o dedo na ferida da questão 'Kapò', que não vi ainda. Apaixonei-me pelo diretor, muito terno na maneira como aborda as questões mencionadas na sinopse. Ótimo! (WPC>)
O Homem dos Sonhos
3.5 134Ainda não vi O PESO DO TALENTO, mas é evidente que é u filme que pega carona nesta verve superexpositiva do Nicolas Cage. Seu personagem, entretanto, é composto com muita seriedade: apesar de a situação tramática logo se desgastar, e o filme ficar cansativo do meio para o final, em razão de sustentar-se em apenas uma piada, seu personagem é delineado com seriedade dramática, oscilando entre o conscientemente ridículo e o merecedor de piedade. Não chegamos a nos identificar, mas torcemos por ele, no desespero. O clima é de pasticho kaufmaniano, mas a direção não é muito firme, o tom do filme é indefinido, encerrando-se de maneira quase cruel, em sua inevitabilidade melancólica. Funciona melhor depois que a sessão termina, em verdade. A execução de uma canção de Talking Heads, nos créditos finais, ressignifica aquilo que pareceu afoito no decorrer das situações: poderia ser um excelente estudo de personagem, mas o roteiro se desperdiça em piadas neogeracionais, em cacoetes da A24 e no reaproveitamento chistoso de temas que renderam um eficiente filme de suspense no oitentista A MORTE NOS SONHOS. Acho que, numa revisão sem expectativas, funcionará bem melhor... (WPC>)
O Mistério do Cesto
3.5 146Assisti aos principais filmes deste realizador supostamente 'trash' em ordem invertida, e fiquei positivamente chocado com o teor psicanalítico dos mesmos. Adentrei a sessão enquanto lidava com uma grava situação familiar, envolvendo um irmão mais novo, de modo que o arrebatamento foi intenso: será que o Frank Henenlotter teve acesso aos meus diários?! Brincadeiras à parte, é maravilhoso como ele consegue tornar tão crível um personagem de látex, fazer-nos experimentar legítimas, que vão do medo ou horror inicial a uma piedade sincera, a uma necessidade de compreensão e entendimento da situação trazida à tona: é um filme sobremaneira triste e melancólico, sobre diversos tipos de solidões, não sendo casual que tenha sido locado em Nova York, numa região consagrada aos artistas "alternativos". De fato, antecipa o mote geral de MALIGNO, do James Wan, mas pensei ainda mais na ambientação scorseseana, que se irmana ao que o cineasta fez em DEPOIS DE HORAS ou em seu episódio de CONTOS DE NOVA YORK. 'Exploitation' é algo premonitório, em âmbito social, afinal. Fui pessoalmente tocado por este filmaço, amei! (WPC>)
O Soro do Mal
3.6 81Ainda não vi a estréia mui elogiada e cultuada deste diretor, mas, depois deste filmaço aqui, fiquei mais do que curioso! O vi por acidente e fiquei impressionado e apaixonado: além de ser muito divertido e sensual, aborda a questão do vício em substâncias alucinógenas de maneira honesta e até mesmo séria. Os efeitos especiais são ótimos e, mesmo quando adere ao 'trash' assumido, não abonadona a verve reflexiva. Há algo de muito 'camp' nas atuações (minha mãe riu, ao ouvir tantos gritos, desde o início) e o diretor não foi nada econômico na adoção do homoerotismo: a beleza do protagonista Rick Hearst é acachapante e muito bem explorada pelo enredo. Fascinante e aterrorizante, ao mesmo tempo, naquilo que propõe e expõe. Adorei! (WPC>)
O Caso Maurizius
3.5 2Não conhecia nem o romance original nem o filme dele derivado. Ganhei o primeiro de um amigo olavista e demorei bastante na leitura, dada a densidade digressiva da obra. A adaptação ficou famosa pela adoção de muitos 'flashbacks', direcionadas à apreciação num tribunal. Sei que o Duvivier foi atacado enquanto representante do "cinéma de papá", mas demonstrou enorme habilidade na interpretação/adaptação da obra, que ficou sintética e bastante fiel aos propósitos originais: houve apenas a supressão de uma personagem e uma leve (porém capital) alteração no desfecho. Temi que as menções homossexuais fossem abortadas, mas até que elas foram eficientemente transcritas. Há muito mais por detrás da mera abordagem advocatícia, um conflito geracional de proporções violentas que, no romance, deu origem a mais dois livros. Interessante descoberta! (WPC>)
Nasce Uma Estrela
4.0 113 Assista AgoraContinuo achando a versão de 1937 a minha favorita, mas compreendo o favoritismo, por parte de vários críticos, sobre esta produção aqui: a extensão da duração é justificada pela intensidade dos envolvidos, pela entrega de Judy Garland a uma condição que ser-lhe-ia muito pessoal. Como tal, enquanto espectador, foi muito pessoal para mim também. A relação entre os dois protagonistas é muito intensa e a intepretação dela é arrebatadora. Tenho um pantim quanto à categorização da obra enquanto musical, já que as canções são excessivamente diegetizadas, enquanto espetáculos efetivados pelos intérpretes, no universo em que eles atuam. Mas como ficar incólume perante o impacto de "The Man That Got Away"? Como sofro de alcoolismo passivo (cuido de alguém que sofre deste mal), o roteiro acerta-me em cheio. E, a cada revisão, refaço as pazes com o estilo cukoriano, cuja afetação demorei para compreender: precisei envelhecer/amadurecer para isso. A lentidão do processo não é casual, há todo um percurso emocional em jogo! Fiquei surpreso ao descobrir que o estratagema das fotos em tom sépia foi uma compensação "póstuma" à retaliação do filme, quando originalmente lançado. Foi algo que impressionou-me bastante no primeiro contato, pensei que fôra intencional (risos). Insisto que não é nem a minha versão favorita nem meu preferido do diretor, mas é um filme que nos afeta intimamente, que marca-nos a partir da identificação proposta! (WPC>)
Dois é Demais em Orlando
2.2 5A direção é um horror: descrente que é em suas próprias imagens, Rodrigo van Der Put tenta desviar-se delas, muitas vezes, o que é hipertrofiado no momento em que os personagens assistem a um programa de TV, em que a tela do aparelho é quase um tabu, nas suas breves aparições. Dá pena perceber Eduardo Sterbitch tão desperdiçado, depois de demonstrar que, sim, é um ótimo ator, e não apenas um comediante obrigado a repetir os mesmos papéis exagerados. Gosto da Polly Marinho (mostrada muito pouco) e achei o garoto Pedro Burgarelli simpaticíssimo, mas a composição "redentora" do pai é atroz, ainda mais vilanaz que a paspalhice do personagem de Daniel Furlan. Quando eu cria que o filme não poderia ficar mais ridículo (como o próprio Cacá comenta), ele vai lá e desce mais alguns níveis, em mau gosto lingüístico (emulando a montagem de Tik Tok e afins) e no puxa-saquismo de classe. Não sei se tinha nojo ou pena daqueles personagens, mas esforcei-me por simpatizar ao menos com as lições morais advindas da convivência forçada entre João e o garoto. Nada se aproveita, entretanto: os clichês convertem-se em estereótipos piorados e trama parece figurante em meio às filmagens de atores e equipe divertindo-se no parque. Trata-se de uma peça publicitária disfarçada de filme infantil. Indefensável, infelizmente! (WPC>)
O Círculo
2.6 587 Assista AgoraÉ estranho que este filme seja tão rejeitado por público e crítico: eu o achei tão oportuno, em termos de ambientação pré-denuncista. Tudo bem, admito que a personagem central é tão narcisista quanto apática e que a sua transformação profissional/publicitária seja um tanto repentina, mas, para quem trabalhou nas mesmas áreas que ela, é algo sobremaneira verossímil. Tom Hanks aparece pouco, bem como John Boyega e Ella Coltrane, e, cada qual a seu modo, estes coadjuvantes possuem aparições marcantes, no fascínio que desencadeiam na protagonista. Mas foi Karen Gillan quem realmente em deixou apaixonado: que mulher linda e carismática! Eu trabalho como atendente num setor de TI há dois anos, e identifiquei-me com diversas situações apresentadas. Concordo que, sim, há algo da estética que se convencionou chamar de "Black Mirror", no desenvolvimento do enredo (afinal, lacunar e suspeitoso), mas acho que ele atualiza de maneira inteligente os cacoetes de MATRIX para a era facebookiana. Particularmente, apesar de decepcionar-me sobremaneira com o desfecho repentino e inconvincente, eu curti este filme. Demais, até! (WPC>)
A Mulher Rei
4.1 486 Assista AgoraTemendo que este filme fosse mais um conjunto de clichês em prol do identitarismo, evitei-o por algum tempo, por mais que todos os meus amigos dissessem que era ótimo. Estava sendo exibido num canal pago de TV e resolvi conferi-lo ao lado de minha mãe: adoramos. Ela pulava da cadeira, empolgada, torcendo pela maravilhosa protagonista, esplendidamente vivida pela excelente Viola Davis. De fato, há, sim, muitos clcihês, mas estes são validados pela História, pelas atrocidades do colonialismo. Diferentemente de PANTERA NEGRA - que é um filme que não funcionou comigo, a despeito de suas alegadas "boas intenções" - aqui, temos a aplicação orgânica das questões de classe, gênero e raça, sendo o filme muito efetivo na inserção representativa dessas questões, convertendo-se numa diversão sumamente empoderada. A direção é tão eficiente que consegue tornar atrativas mesmo as barrigadas, as cenas "banais" entre os clímaces. A duração é aproveitada em cada um de seus minutos: conhecemos bem os personagens, deslumbramo-nos perante a reconstituição artística do Reino de Daomé, captamos a magia da trilha musical de Terence Blanchard... Lasanna Lynch é uma fascinante coadjuvante e John Boyega está lindo! Se, de fato, algumas seqüências são extremamente violentas, não se pode negar que isso foi necessário aos propósitos reivindicativos da trama, de maneira que incomodei-me menos com as comemorações bélicas aqui do que em BACURAU, por exemplo. Em sua adesão às convenções de filmes de heróis, o roteiro realmente faz jus à organicidade supramencionada, de maneira que o filme é merecedor dos elogios que recebeu e merece ser ainda mais visto e divulgado, sobretudo em sua potência motivadora, no que tanga à identificação com a galhardia das mulheres negras, guerreiras e emocionais, humanas e intensas, no enfrentamento das dores e compreensão do valor de suas cicatrizes. Impressionante, neste sentido! (WPC>)
A Viagem de Pedro
3.2 23 Assista AgoraGosto muito da diretora e, vendo este filme - pelo qual esperava há tempos! -, percebi que ela complexifica, em chave feminina, aquilo que o Ang Lee faz internacionalmente, no que tange à abordagem traumatizante da autoridade familiar. Ao invés de uma perspectiva biográfica, ela adere à imersão psicanalítica: o Pedro, além de ser um canalha, é frágil, suscetível, impotente em diversos âmbitos, em contraponto à fama heróica, conservada em diversas estátuas e relatos institucionais. Não lembrava que ele tinha falecido tão jovem (menos de 36 anos) e gostei bastante de como o Cauã Reymond compõe o personagem: não força sotaque, não evita os anacronismos. Parece que ele está ensaiando e esperando o personagem chegar, entrar em seu corpo, o possuir... Isso até ocorre, mas pelo viés da culpa. Adorei a maneira como os vários idiomas (alemão, francês, inglês e iorubá, além do português) surgem no filme e apreciei a preocupação do roteiro quanto aos pequenos atos (comer a sobremesa na cozinha de um navio, por exemplo). O quartel final adere aos 'flashbacks' excessivos e não é tão interessante quanto o começo e o meio, mas imergi no filme, senti-me invadido por aquelas situações, por aquela aflição culposa. O que estranhei é que a perspectiva do relato não fosse necessariamente a de Pedro, o que se percebe em seqüências mais objetivas, como os embates entre o protagonista e seu irmão português ou o desembarque dos escravos, mas, mesmo assim, adorei o conjunto. Como tal, aplaudo a coragem da diretora em levar a cabo um projeto tão arriscado e autoral: que bom que ela ousou. Tem muito a ver com JOAQUIM, outro filme que eu também amo. (WPC>)
O Primeiro Dia da Minha Vida
3.3 9Acho muito interessante como os filmes italianos 'pop' contemporâneos conseguem capitanear a nossa atenção, e emocionar-nos legitimamente, mesmo aderindo aos clichês e lugares comuns das produções de gênero. Aqui, o diretor Paolo Genovese não é tão exitoso quanto em sua realização mais famosa, mas, mesmo assim, concede às novas gerações a atualização de A FELICIDADE NÃO SE COMPRA que elas merecem. A duração é um tanto excessiva, mas ele constrói com habilidade a montanha-russa de situações que permitem a inevitável identificação emocional do espectador. O roteiro é um tanto bipolar em seus vais e vens, mas administra de maneira graciosa os procedimentos de 'coaches' que ele refuta internamente: é um filme sobre auto-ajuda, mas inteligente e sensível, mesmo em suas obviedades. Atropela-se bastante, claro, mas justifica-se pelo tom fabular da narrativa. Toni Servillo está ótimo como anjo e Margherita Buy é muito credível em seu mergulho na depressão. Mas a trama dedica mais atenção aos personagens de Valerio Mastrandea e Sara Serraioco. O primeiro porque tem muito de alter-ego, em seus reflexos com o protagonista e com o próprio público, que nem sempre lida com a galhardia requerida aos temores da vida, enquanto a segunda fascina-nos pela maneira com que os seus segredos são desvendados e compreendemos a complexidade emocional da personagem. A trilha cancional aproveita-se de músicas utilizadas à exaustão em 'stories' de Instagram e as frases feitas são abudantes, mas tudo isso é coadjunado ao projeto de resgate anti-suicida, de modo que, ao final, aplaudimos o percurso eventualmente equivocado dos personagens, da mesma maneira que fazemos quanto ao nosso, enquanto pessoas. É o exemplar farmacêutico de cinema que os diagnósticos contínuos de ansiedade nas redes sociais torna emergencial. Serve-se de tropos utilizados à exaustão em diversos outros filmes, mas cozinha com algum charme estudado a mistura. Fará sucesso em seu lançamento comercial, tudo indica, se anunciado da maneira devida! (WPC>)
Wonka
3.4 387 Assista AgoraNão gosto muito da versão clássica do Mel Stuart, não sou um chocólatra e achei desnecessário este projeto, quando soube de sua existência. Porém, surpreendi-me curtindo bastante o filme: a entrega de Timothée Chalamet ao protagonismo é excelente e achei magnífica a decisão de realizar o filme em formato musical, que particularmente aprecio. Gostei das canções e da mensagem geral, de um "segredo" que, em verdade, está no compartilhamento. O elenco é primoroso (quem diria?) e mesmo a adesão à lógica do empreendimento não atrapalha. Afinal, o que e exortado aqui é a amizade, o companheirismo, o trabalho em equipe. Não entendi o porquê de Hugh Grant ter ficado envergonhado com a sua participação: ele está ótimo! (WPC>)
Cem Crianças Esperando um Trem
4.3 1Não conhecia nem o filme nem seu diretor. Tive acesso ao mesmo graças a uma apresentação cineclubista, e a palestrante assegurou que o cineasta possui outros títulos merecedores de muita atenção. Porém, gostei muito mais da professora mostrada (Alicia Vega, continuadora de Luis Espinal) que do documentário com um todo. Por motivos discursivamente compreensíveis, há algo de manipulatório nas boas intenções propagandísticas do excelente projeto militante, construtivo e orgânico apresentado. Fiquei encantado, mas também um tanto triste, pelos depoimentos que surgem em paralelismo às aulas de cine-educação. Fiquei imaginado como seria a minha vida hoje se eu tivesse uma professora daquela em minha infância: que mulher impressionante, que trabalho incrível! Na trilha musical, o tema de ZERO DE CONDUTA, como exortação para a pujança didática daqueles garotos, que compreenderam na prática a importância do que estava sendo ensinado. Impressionante! Quero saber mais sobre este projeto real, incrível! (WPC>)
Sr. & Sra. Smith - Um Casal do Barulho
3.3 36O que parece incômodo no primeiro contato permanece incômodo na revisão. As interpretações são boas e, ainda que esteja muito longe de seu estilo, podemos encontrar traços do "Hitchcock touch" em diversas cenas, sobretudo na do parque de diversões. Porém, o retrato da violência matrimonial assusta demais aqui: que casal bizarro, que situações esdrúxulas, que relacionamento tóxico! Alguns dos diálogos, sobretudo os proferidos pela personagem de Carole Lombard, são apavorantes, em termos de defesa do próprio tormento relacional. Mas não é um filme de todo indefensável: ele diverte, ao menos. Traz consigo muitos dos parâmetros das comédias românticas que, ainda hoje, são produzidas aos borbotões. Mas que é incômodo, ah, isso é! (WPC>)
O Beijo da Morte
3.8 28 Assista AgoraOs esforços do Hathaway para erigir um correspondente hollywoodiano do neo-realismo atingem um píncaro impressionante aqui. Que direção impressionante! Que roteiro preciso e ainda muito atual! A interpretação do Victor Mature rejeita os cacoetes de canastrão que lhe contaminarão em trabalhos futuros. E, sim, Richard Widmark brilha em cada instante: que personificação assustadora, um tenebroso Coringa 'noir'! A narração de Coleen Gray é ótima, em seu esforço por algum otimismo, em meio à sina dos desafortunados. Só não é uma obra-prima porque, em seu quartel final, a situação persecutória fica um tanto repetitiva. Mas o delineamento dos personagens e da corrupção advocatícia é impressionante: um ensaio sublime do que seria O PAGAMENTO FINAL, décadas depois. Amei - e, por ora, não tenho coragem de encarar a regravação noventista! (WPC>)
Shakespeare Apaixonado
3.5 650 Assista AgoraDepois de muito, muito tempo, revi um filme que fascinou-me bastante quando visto no cinema: fiquei deslumbrado, à época, e ainda continuo. A interpretação de Gwyneth Paltrow é belíssima, fico triste que ela seja tão hostilizada por causa do Oscar. Aliás, quase todo mundo que detesta esta filmaço o faz por causa da premiação, não por conta de suas qualidades intrínsecas, que, afinal, são ótimas. Judi Dench está magnífica em cada aparição, a direção de arte é primorosa e o roteiro é muito esperto, na conjunção de fatos reais e trechos de peças diversificadas. São muitas referências e um jogo inteligente de metalinguagem romântica. Emocionei-me demais, projetei-me no casal central (Joseph Fiennes, saudades de ti), ri nos abundantes momentos engraçados e fui inebriado, graças à linda trilha musical de Stephen Warbeck. Sou absolutamente obcecado por este filme, mas admito que foi um acerto isolado de John Madden. A ser revisto mais e mais vezes. Amo! <3 (WPC>)
O Sequestro do Voo 375
3.8 191 Assista AgoraAssisti a este filme em sessão doméstica, com um vizinho e a mãe dele. Todos ficaram vidrados e empolgados, com os olhos grudados na tela. Porém, ainda que eu admita que, no que tange às convenções de ação, o filme é muito bem sucedido, fiquei desconfiado quanto aos interesses da adaptação, por conta do maniqueísmo entre herói e vilão. Na verdade, até que há respeito e humanização na descrição deste segundo, mas a interpretação é um tanto estereotipada. Gostei da direção, do elenco e do modo como a trama avança. Mas achei suspeitoso o modo coo o contexto de época aparece: jornalisticamente fundamentado, na abertura, mas logo abandonado. Haveria algum recado implícito, no cotejo com a situação de 2023? O filme não responde. Parece não se preocupar, contentando-se em ser elogiado por "ser tão eficiente quanto uma obra de Hollywood". Pessoalmente, cri que ele poderia avançar em relação a isso, mas gosto do modo como as nuanças dos personagens surgem, por vezes. Fora que, sim, é muito divertido. E isso basta, nalguns parâmetros: quem viu, torceu e gostou. Até bateram palmas para o piloto, mesmo diante da TV (risos)! - WPC>
A Bolsa ou a Vida
3.9 4Adentrei a sessão preparado para reclamar dos mesmos pontos que incomodaram-me no bastante similar DED NA FERIDA. Depois de acompanhar o processo de feitura de Silvio Tendler em relação a seus documentários recentes, mais didáticos quanto aos problemas do neoliberalismo econômico, fui indulgente quanto à análise de aspectos técnicos/estéticos na audiência a este filme. Temos aqui um caso em que, aparentemente, o conteúdo se sobrepõe à forma. Porém, conhecedor da lógica orgânica que é o realizador, o que ocorre é uma dissolução no próprio projeto: temos uma demonstração de multiplicidade de opiniões, dentro de um panorama de esquerda, sobre o que é tematizado. Temos, portanto, desde um monsenhor que usa uma batina com o logotipo da Lacoste até a simplicidade efetivamente franciscana do Padre Júlio Lancelotti, em depoimentos tão frontais quanto certeiros. A construção do documentário, por conta da lógica pandêmica, ocorreu através dos envios de conteúdos diversos, dos colaboradores do realizador, provenientes dos mais distintos lugares do mundo. Uma voz, entretanto, chama a atenção pelas contradições evidentes em seu discurso de "inveja de classes", mais que luta de classes em si, que é o da estudante de Arquitetura que trabalha como entregadora de aplicativo. As animações entre os segmentos são sintéticas, no que tange á abordagem tencionada. É um filme que ensina e nos leva à reflexão, ainda que tenha ficado um tantinho datado enquanto manifesto (afinal, seu interesse, nalguns aspectos, é de intervenção eleitoral. Não apenas, mas também, e explicitamente). Não figura entre os melhores trabalhos do Tendler, mas consegue ser urgente enquanto proposta de discussão. Isso conta e valida os prêmios jornalísticos que ele recebeu. A canção-título é muito boa! (WPC>)
Que Horas Eu Te Pego?
3.3 492Lendo a sinopse do filme, presumi que identificar-me-ia com algum dos personagens. Porém, li tantas opiniões contraditórias, que terminei procrastinando a sessão... Numa imersão casual, graças a uma exibição televisiva, gargalhei de imediato: ri muito e percebi que o roteiro trata de questões muito sérias, como a violência da especulação imobiliária e os vícios digitais (e expositivos) da geração hodierna, que não desgruda dos telefones celulares. Além de estar excelente, Jennifer Lawrence compõe uma personagem inesquecível, em seu carisma e charme agridoce. Andrew Barth Feldman é um coadjuvante à altura, terno e gracioso. E a participação simbólica de Matthew Broderick, como um pai hiperprotetor não é nada gratuita, visto que o filme aborda um conflito geracional, ao mesmo tempo em que exorta-nos à maturação social, para além das supostas exigências etárias. Gostei muitíssimo: a execução de "Maneater", ao piano, emocionou-me bastante! (WPC>)
Nas Asas da Pan Am
4.0 1Antes de adentrar a sessão, sem saber nada sobre o tema do filme e considerando que eu não tinha gostado muito dos últimos filmes do Silvio Tendler, demonstrei um errôneo preconceito quanto ao seu automatismo documental contemporâneo. Paguei a língua: o filme é um belíssimo acerto de contas com o próprio passado do realizador, um animado filme-memória, ressaltando a importância de manter-se alegre durante os atos de resistência. Entremeando as imagens e entrevistas, há intertítulos mui pessoais, em que o diretor reforça que não há espaço para a desesperança em suas obras, muito menos na conclusão das mesmas. De maneira assumidamente ingênua, ele fala sobre a sua vida familiar e sobre a sua trajetória profissional e de viagens sem se culpar por seus privilégios de classe ou por ter tido a honra de conhecer pessoas como Chris Marker, Jean Rouch, Joris Ivens e Patricio Guzmàn: eles apenas compartilha conosco o seu entusiasmo e demonstra que sua passagem pela Terra foi repleta de atividades relevantes, não apenas para si mesmo como para a crença na aplicação de um Socialismo em direção à liberdade. O diretor é tão defensor das possibilidades concretas do Socialismo, relegadas permanentemente às condições de ideal utópico, que, acidentalmente, refere-se à queda do Muro de Berlim como a abertura ao fracasso, no sentido de que, a partir daquele feito histórico, o Capitalismo destroçou por completo o comunismo. As suas histórias de vida são ótimas e riquíssimas em experiências artísticas, mas ele insiste em declarar o amor por suas namoradas e amigos, em passagens que demonstram o quão fofo e merecedor do apelido adolescente de "boi gamado" ele é. Tive o privilégio de assistir ao filme na véspera de seu aniversário de 74 anos, o que foi uma coincidência feliz, uma das muitas elencadas no roteiro, visto que o diretor tem consciência do quanto o Acaso foi fundamental em sua vida. O material de arquivo que ele felizmente acumulou é magistral, bem como a sua verve atuante, a sua sede de produzir e de transformar a realidade (para melhor) mediante o conhecimento das situações históricas. Incrivelmente ótimo: saí da sessão emocionado e motivado, além de pessoalmente apaixonado pela pessoa-Tendler. Que cara apaixonante e cheio de vida, amei! (WPC>)
Os Primeiros 50 Anos da 20th Century Fox
4.1 12Bem mais interessante que uma congênere contemporâneo sobre a Warner Brothers, com quatro horas de duração, este documentário é balsâmico para os cinéfilos da velha geração, para os apreciadores analógicos de filmes. Há algo de apaixonado na narração de James Coburn e as cenas dos filmes apesentados são ótimas. O problema, como esperado, talvez seja o viés excessivamente defensor, a abordagem compreensivamente chapa-branca e elogiosa, que termina numa ode ao triunfalismo, mas ignorando o que aconteceu com O FANTÁSTICO DR. DOLITTLE, por exemplo. Nada que prejudique a imersão nostálgica ou a gana por informações fílmicas. Muito bom: ria sempre que o Roddy McDowall expunha as suas opiniões! (risos) - WPC>
Ficção Americana
3.8 370 Assista AgoraSendo bastante sincero, adentrei a sessão com muita desconfiança, pensei que não fosse funcionar comigo. Mas fui arrebatado desde a esplêndida seqüência inicial, muitíssimo eloqüente enquanto demonstração da apropriação invertida do identitarismo, associada a condições de classe. E o desenvolvimento do roteiro só melhora, contando com diálogos memoráveis (anotei várias frases) e interpretações, idem. Jeffrey Wright está maravilhoso, dotando de suma dignidade um personagem insuportável, e os coadjuvantes são ótimos. De repente, surge a previsível situação do júri literário, e a piada repetida N vezes começa a dar sinais de desgaste, culminando num desfecho que, de tão "didático" em sua pretensa alternatividade, pareceu-me uma cópia não tão inspirada do que já havia sido ensaiado em ADAPTAÇÃO, do Spike Jonze. Mas, tirando uma ou outra digressão, tendo a elogiar este filme, bem mais do que atacá-lo. O roteiro é primoroso, bem como a leveza jazzística da trilha musical. Durante a primeira hora, maravilhoso. E mui assertivo naquilo que expõe, e acerca do qual todos nós, de alguma maneira, somos cúmplices. Reflitamos, portanto! (WPC>)
20 Dias em Mariupol
3.9 56 Assista AgoraDemorei para enfrentar este filme. Temia que fosse o documentário 'gore' anunciado, ainda que eu ache necessário que situações duras de guerra sejam mostradas, à guisa de denúncia. E é nesse aspecto que o filme soçobra: diferentemente de PARA SAMA, que eu amo, o diretor não sabe como dosar suas pretensas intenções ensaísticas. Ao narrar as situações em inglês, após a montagem, o efeito que ele provoca é a chantagem emocional, o que piora quando as mesmas imagens duras que ele filma são reapresentadas editadas, enquanto notícias telejornalísticas. O caráter manipulador se sobressai em relação às intenções válidas de denúncia, conforme intensificado pela falta de modéstia dos envolvidos, que se autocongratulam por estarem realizando um trabalho muito importante, fazem questão de referendar que todos os agradeceram por isso... O produto geral soa como uma campanha de propaganda partidária, em que até mesmo as insinuações, por parte dos detratores, de que os materiais chocantes apresentados poderiam ser encenados têm efeito duvidoso. Moralmente, reprovável, em diversos sentidos. Cinematograficamente, muito pobre. Mas, no miolo documentarista/jornalístico pretendido, não se pode sair da sessão sem ser afetado. Talvez funcionasse melhor se tivesse sido lançado antes, mas presumo que isso não foi possível, dadas as inúmeras dificuldades de produção. Ruim, mas necessário, nalgum meandro: muito mais pelo que exibe, do que pela maneira reprovável como o faz! (WPC>)
Adivinhe Quem Vem Para Jantar
4.1 222 Assista AgoraRevisto, percebo que algumas cenas e diálogos não funcionam tão bem hoje, por mais importantes e revolucionários que tenham sido no período de lançamento. A concepção da empregada doméstica que revolta-se contra o namorado negro da garotinha branca que criara incomodou-me bastante, bem como a servidão do roteiro ao liberalismo de fachada do velho branco vivido pelo excelente Spencer Tracy. Consinto que o elenco seja ótimo (como foi bom perceber Sidney Poitier tão sorridente!) e encantei-me pelo monsenhor vivido por Cecil Kellaway, o mais subversivo de todos os personagens, em sua aceitação do novo (até uma canção de The Beatles ele entoa!). Beah Richards está incrível em cena, mesmo quando está calada, e Katharine Hepburn faz jus ao Oscar que recebeu. Sou apaixonado pela canção-tema ("The Glory of Love") e, superados alguns entraves quase teatrais, curti o desfecho, torci pelo final feliz. O problema maior é a lógica classista, a defesa do patriarcado mantida em seu elogio à aceitação, aff! (WPC>)
Pontecorvo: A Ditadura da Verdade
4.0 1Vi apenas os dois filmes mais famosos deste diretor e, obviamente, gostei muito de ambos. Como tal, saber mais sobre a sua filmografia, seu modo de pensar e sobre as curiosidades de sua vida pessoal (que ele fôra tenista, antes de ser diretor, por exemplo) foi ótimo. As entrevistas são ótimas, evitando enfiar o dedo na ferida da questão 'Kapò', que não vi ainda. Apaixonei-me pelo diretor, muito terno na maneira como aborda as questões mencionadas na sinopse. Ótimo! (WPC>)