Sinceramente, não entendi a necessidade de se realizar este filme: primeiro, porque a versão do Ron Howard, em muitos sentidos, já era definitiva; segundo, porque há uma falta de rumo evidente neste filme, cujo roteiro é desperdiçado, salvo pela introdução e pelo desfecho do personagem-título. Todo o resto é uma seqüência de clímaces de aventura insossos e incongruentes. Por mais graciosa que seja a relação entre o Grinch e o seu cachorro, os diretores parecem muito mais interessados em mostras quedas, corridas e acidentes, pouco atrativos (desagradáveis, aliás). Forcei-me para assistir até o final: curto e muito ruim. Vazio, infelizmente: tadinhos dos envolvidos! (WPC>)
O trabalho mais atípico deste genial realizador: se as suas obsessões freudianas estão lá, escancaradas, como de praxe, o tom é sombrio, macambúzio, tétrico, assustador... Não há qualquer concessão na resolução da trama, exceto em seu viés imitativamente shakesperano: as referências são múltiplas e evidentes. E como fiquei apaixonado pela malevolência cênica do trio central. Mais precisamente pelo casal de assimetria classista formado pelos jovens personagens de Nelson Xavier (tesudíssimo) e Dina Sfat (suprema como uma diva de ópera). A montagem é deveras experimental, bem como o tema musical, e há muito da segunda fase do Cinema Novo nesta obra. Amei: o desfecho é uma análise profética do Brasil atual, em termos de registro da rapacidade das classes mais favorecidas. Maravilhoso, quero ver de novo e de novo e de novo, uau! (WPC>)
Quantas pessoas tu conheces que são fãs do Mark Sandrich? Oficialmente, acabo de assumir-me como um deles! Assisti a este filme num "dia de Cecília", sem imaginar que eu gostaria tanto (ou até mais) que O PICOLINO. E fiquei surpreso com a excelência desta obra: já não bastasse a magnificência das canções - a cargo dos irmãos Gershwin, em um dos mais célebres períodos - deparei-me com um verdadeiro 'show' de 'mise-en-scène': vide o número de Fred Astaire em meio aos trabalhadores negros do navio, a seqüência do passeio com o cachorrinho e o jogo interessante de perspectiva na cena dos quartos interligados. O casal central está em um de seus melhores momentos (quem diria que eles se odiavam tanto, né?) e, com certeza, o Fellini viu este filme, a fim de inspirar-se para a homenagem derradeira aos astros do mesmo (tem muito de E LA NAVE VA aqui!). Saí da sessão encantado e renovado, um musical esplêndido. Adquiri o DVD por mero acaso, não esperava ser tão arrebatado! (WPC>)
Descobri este filme por causa de sua canção-tema famosa e fiquei impressionado com a lógica mui otimista de seu roteiro: se, no início, pensei tratar-se de um 'noir' prisional, pouco a pouco, constatei estar diante de um filme efetivamente crente na reabilitação de pessoas que eventualmente cometeram um crime. O protagonista é um tanto histriônico em sua caracterização violenta e indecisa (o ator era jogador de futebol americano, em verdade), mas os coadjuvantes são muito bons, bem como a multiplicidade de situações relacionadas à musicalidade e à temática da espera: gostei muito das seqüências de visitas das mulheres e filhos dos detentos. Um drama inusual, curti! (WPC>)
Não gosto do filme original, mas amo a Catherine Breillat, de modo que não sabia o que esperar deste filme. Entretanto, não consegue direcionar as minhas expectativas, no sentido de que eu temia que a diretora capitulasse frente às ameaças de cancelamento, ao lidar com um tema tão delicado, numa conjuntura hodierna em que o conservadorismo atingiu níveis acachapantes. Por um lado, não entendi o porquê de ela regravar quase 'ipsis literis' dois terços da trama original; por outro, fiquei muito satisfeito ao perceber que ela não se limitou à reconstituição tramática, ela transcreveu o filme em âmbito estético, ampliando-o audiovisualmente, fazendo-nos compartilhar das experiências vividas pelos personagens. Não é por acaso que Samuel Kircher seja continuamente enquadrado em 'close-ups', a fim de nos conquistar, tal qual um Tadzio contemporâneo. A diretora finge estar compactuando com o determinismo julgamento do filme original, mas tempera a sua adaptação com muita ambigüidade, a ponto de fazer com que o terço final do filem vá num rumo completamente distinto, sendo o desfecho absolutamente brilhante (mesmo ocorrendo através do genial escurecimento de um cômodo). Não gostei muito, foi um dos filmes da diretora que menos apreciei, mas, por causa do que ocorre na meia-hora derradeira, senti que ela permanece inteligente, sensível e contraventora. Periga até que, numa revisão sem qualquer expectativa, eu o aprecie um pouco mais: Catherine Breillat, sigo te amando! (WPC>)
Minha mãe, que é obcecada por filmes natalinos, pediu que revesse este filme ao seu lado. Aceitei, de imediato: desteto essa comemoração, mas identifico-me bastante com este protagonista (risos). Fico imaginando o que o Tim Burton de antigamente faria com esta trama... A despeito de ser um enredo infantil, o humor de Jim Carrey é recorrentemente glúteo e algumas piadas sexualizadas e/ou platônicas talvez não sejam devidamente compreendidas pelas crianças. A direção de arte é efusiva e "autocrítica", ao mesmo tempo, e a maquiagem do Rick Baker mereceu o Oscar que recebeu. A narração do Anthony Hopkins é linda e o desfecho reconciliador é mui meritório, necessário, comovedor: como não ficar encantado pelo enorme carisma da pequenina Taylor Momsen? Acho este filme uma gracinha! (WPC>)
Quem diria? Até que eu curti este filme... Ri num ou noutro momento (por mais que eu tenha achada dissonante a participação do Jon Bass, identifiquei-me com ele - risos) e gostei bastante das participações femininas (fiquei apaixonado por elas!). O roteiro é muito indeciso em suas intenções climáticas (na maior parte das vezes, investe no humor rasgado; noutras, investe numa breve seriedade investigativa). A rivalidade formulaica entre os personagens de Dwayne Johnson e Zac Efron serve para destilar aforismos comerciais sobre a importância do trabalho em equipe. A despeito de aproximar-se das duas horas de duração, não cansa: diverte e quase me fez querer conferir a telessérie original, em relação à qual nunca vi sequer um episódio, até hoje. Parece ter sido feito às pressas, mas agrada, para quem não tem muitas expectativas: como eu o sintonizei por acaso, funcionou comigo! (WPC>)
Na revisão, percebi que não lembrava de quase nada, quando, em verdade, não acontece muita coisa: a trama chega a ser simplista em seu acúmulo de pequeníssimas situações (a indiferença paterna, o velho rabugento que se torna melhor amigo de um garoto recém-conhecido, o casal feliz apesar de tantos anos...). A fotografia é muito bonita e, de fato, o trabalho sonoro é interessante, a ponto de o filme ser indicado a 10 prêmios Oscar (incluindo Trilha Musical e Som). Jane Fonda é exuberante, como de praxe, Henry Fonda matura o seu personagem conservador "de bom coração" e Katharine Hepburn está maravilhosa como alguém tão carinhoso e cheio de vida. O problema é o roteiro frouxo, previsível e até forçado em sua dramaticidade aburguesada. Mas é fofinho, tem seus bons momentos de acalanto... Só insisto que, sim. é um filme hiperestimado! (WPC>)
Por mais que, nos letreiros finais, o filme compartilhe a sua indignação contra os feminicídios cometidos sob a égide protetoral da "legítima defesa da honra", a sua execução segue um caminho inverso: a personagem-título é representada de maneira fútil, pernóstica, irritante... Ísis Valverde faz o que pode para dignificá-la, mas isso só ocorre efetivamente depois que a Alice Carvalho entra em cena, engendrando embates que humanizam a personagem: antes, ela é um mero estereótipo classista, inclusive objetificado através de diversas seqüências de sexo que evidenciam o machismo da realização, a lógica do 'male gaze' hipertrofiada à enésima medida. Para piorar, a trilha cancional (predominantemente anglofílica), no afã por emular a atmosfera 'disco' do período, parece zombar do sofrimento da protagonista, ao adotar um tom monocórdio, perenemente festivo, inadequado em diversos momentos. O elenco masculino é exitoso ao expor os piores apanágios desta acomodada condição de gênero, enquanto, no feminino, destaco a presença de Chris Couto, enquanto coadjuvante. Mas as atrizes, por mais que se esforcem, podem fazer pouco, num roteiro que as "acolhe" apenas para vitimizá-las ou para julgá-las, através de seus comportamentos eventualmente afoitos, na tentativa de serem minimamente felizes. Um filme que envergonha todos os envolvidos, infelizmente! (WPC>)
Christopher Nolan é ignóbil em muitos aspectos, mas, admitamos, é um pirotecnista sagaz, um cineasta muito esperto na aplicação dos atributos técnicos em seus filmes. Aqui, ele conta com um elenco estelar e com parcerias certeiras (o músico Ludwig Göransson à frente), mas comete equívocos patrióticos enquanto roteirista: o protagonista surge como um patriota a ser defendido abnegadamente, numa estrutura de filme de tribunal que serve-se de estratégias da filosofia erística (não sendo casual o interesse dos espectadores de direita, portanto). Não se trata de um filme ruim - ainda que seja "mau" nalguns aspectos discursivos - mas promove um desfecho revanchista e oportunista para o extraordinário personagem de Robert Downey Jr.. O profético diálogo final é impactante e desolador, fazendo ainda mais sentido na conjuntura bélica atual. O problema é que o filme disfarça mal o seu ponto de vista: ainda que o roteiro assuma a responsabilidade dos norte-americanos em diversas tragédias bélicas, ele defende que "poderia ser pior" se isso fosse perpetrado por outros países. É uma tomada de partido em prol desse tipo de projeto destrutivo, como fica evidente na menção ao John Fitzgerald Kennedy, em determinada situação. A montagem entrecortada e paralela soou-me bastante problemática, em seu excesso de cortes e na sobrecarga intencional de elementos intencionalmente confusos (o despejo de nomes e patentes militares, por exemplo), mas a manipulação dos efeitos sonoros pareceu-me acertada: tenho certeza de que gostaria muito mais se visse o filme no cinema! Cillian Murphy está completamente entregue ao papel, mas o personagem é evasivo, difícil de ser compreendido emocionalmente, exceto como "mulherengo", o que também é defendido pelo enredo, o que redunda em diversos instantes de objetificação feminina. Mas impressiona no conjunto, entretém-nos devidamente por três horas. Aceito os paradoxos espectatoriais, portanto, ainda que eu siga anti-fã deste diretor! (WPC>)
Como estou muito ansioso pela versão da Catherine Breillat, talvez tenha prejudicado esta sessão com o meu sobejo de expectativas. O título do filme é muito claro acerca do que ele deseja esmiuçar: um impiedoso registro de personagem, registrando as bases hipócritas do bem-estar pequeno-burguês. Trine Dyrholm, como de praxe, está excelente enquanto protagonista, mas a abordagem gélida, a direção fria, o ritmo excessivamente espaço entre os eventos e a demora do roteiro em demonstrar-se incisivo em sua crítica (que só ocorre no quartel final) afetaram negativamente a minha fruição, dificultaram a minha imersão, fizeram com que um desconforto que deveria ser temático se tornasse também reativo, erroneamente julgamental: desgostei do filme, não funcionou comigo, achei um porre, por mais acertada que seja a decisão da diretora em não fetichizar a relação intergeracional, desprovida de erotismo e prenhe de auto-avaliação vaidosa. Há bons momentos, claro (a relação entre os personagens e as gêmeas, por exemplo), mas, em minha opinião, o filme como um todo os desperdiça. Saí da sessão realmente irritado: o que a publicidade dos moralistas faz com este filme é o cúmulo! (WPC>)
Eu sei que o Max Linder é super influente, enquanto pioneiro burlesco, mas o seu personagem de janota mulherengo parece-me extremamente negativo. Tive problemas crassos em meu primeiro contato com o realizador, através do longa-metragem SEJA MINHA MULHER. Aqui, gostei bem mais, ainda que os mesmos problemas estejam lá (principalmente, um imperdoável racismo, presente na maneira vergonhosa como o protagonista se disfarça de negro!). O roteiro parte de uma interessante 'gag' no espelho - tantas vezes imitada! - para reviravoltas persecutórias cumulativas, desembocando num casamento que não parece de todo crível (em aspecto sentimental), ainda que a cena final seja hilária. O que ele faz com o cachorrinho é terrível! Até gostei do filme, reitero, mas esse Max Linder não parece muito boa pessoa, não: as condições de seu suicídio que o digam, aff! (WPC>)
Na época do Fotolog, eu tinha um amigo virtual que era obcecado pelo Willi Forst. Como quase todas as minhas referencias enciclopédicas (Jean Tulard à frente) falavam mal dele (chamavam-no de cafona, por exemplo), demorei um tempinho para conhecê-lo, até que este filme me surgiu como recomendação num jogo de Instagram... E, caramba, como o amei! Demorei um tempo para entrar no clima, pois, de fato, há algo de "brega" no trecho inicial, soba perspectiva de uma adolescente um tanto melindrosa. Os ângulos subjetivos deixavam-me ciente de que algo arrebatador aconteceria a qualquer momento... O que, de fato, acontece quando a Pola Negri entra em cena: que mulher, quanta força, quanta resiliência, quanta capacidade de adaptação ao sofrimento altruísta. Que reviravolta! De uma trama sobre rance interrompido, mergulhamos num violento melodrama de tribunal. O abraço do desfecho possui um elemento sobrenatural/platônico que me fez aplaudir de pé, soltando um inevitável palavrão (enquanto interjeição admirada), de tão chocado que fiquei frente à genialidade da solução afetiva. Que incrível! Buscarei mais obras deste realizador... Fui excitado e incitado, afinal! (WPC>)
Não vi os dois exemplares anteriores, mas percebi que as idéias do Francis Veber seguem duradouras, elogiosas, divertidas... A cada regravação, a trama fica menos "politicamente incorreta", de modo que, aqui, a perspectiva é extremamente conciliadora, abandonando a dependência do humor físico, embasado nas 'gags' exageradas de Jamel Debbouze. Gostei muito da direção de arte, da interação entre o elenco e do aproveitamento dos clichês dramático-familiares, mas achei a trilha cancional (predominantemente anglofílica) equivocada e achei o desfecho negativamente abrupto, como se fosse o término de um episódio de série televisiva. Mas diverti-me enquanto via o filme, por mais discursivamente incoerente que ele se torne, à medida que avança... (WPC>)
Na revisão, aquilo que incomodou-me na primeira vez (o uso do personagem de Kenneth Branagh como bode expiatório e a adesão à narrativa de aventura, sobretudo) continuou a truncar um pouco de minha adesão ao filme, mas, como o revi ao lado de minha mãe, percebi que o filme é efetivo em âmbito comunicacional, no que tange à exposição de uma mazela histórica que poucos conhecem. Ao perceber que o filme passa rápido demais, notei que ele se dissolve nos pequenos encontros, num otimismo crente, em relação à salvação das meninas. A fotografia do Christopher Doyle e a música do Peter Gabriel, ambas ótimas, reforçam o caráter espetaculoso da produção, mas relevarei um pouco de meus dissabores críticos, visto que, num debate marxista do qual eu participei, sobre o filme, notei que ele foi muito bem-quisto. Compreendo os motivos... (WPC>)
Por mais que eu tenho adorado a sinopse - como não se identificar, no âmbito universitário? - pensei que se tratasse de mais um exemplar genérico da "GloboFilmes francesa". Nalguns aspectos, talvez até seja: o enredo possui muitos clichês típicos das comédias românticas estadunidenses, mas o desenvolvimento da protagonista é muito interessante, pois é construído a partir de anticlímaces . É como se o filme pegasse alguns aspectos do clássico CADA UM VIVE COMO QUER e os atualizasse numa translação adulta e feminina do terno MENTES QUE BRILHAM. Achei algumas soluções repetitivas (os 'insights' matemáticos e a descoberta do 'mahjong', principalmente),mas surpreendi-me ao perceber-me cada vez mais empático em relação à personagem-título, torcendo por seu sucesso, por suas vitórias íntimas e coletivas, ansiando para que ela gozasse... A trilha musical de Pascal Bideau é um presente à parte (amei aqueles côros sobrepostos!) e o filme é de uma simpatia mui aplaudível. Adorei: deu até vontade de preencher uma listas de exercícios algébricos após a sessão! (WPC>)
Sempre tive curiosidade em ver este filme, por causa de sua sinopse tentadora, no que tange às discussões sobre o aprimoramento da inteligência humana. Deparei-me com um filme que, apesar de sua abordagem tramática convencional (clicherosa mesmo!), adere às transformações contemporâneas, via adoção de uma montagem modernosa, repleta de projeções lado a lado. Porém, isso hipertrofia alguns problemas, sobretudo no que diz respeito ao maniqueísmo com que se aborda a lógica intelectual: nem bem a cirurgia ocorre (sem que se precise raspar o cabelo do protagonista), e ele já se interessa por física quântica, biologia genética e arte modernista. Fica evidente que o livro original seja bem mais interessante que a sua adaptação cinematográfica, mas é preciso destacar que a situação de um quase-estupro como indicativo de um mero sintoma de "imaturidade emocional" pareceu-me deveras problemática, traumatizante mesmo. Mas achei o justíssimo o Oscar concedido ao Cliff Robertson, por mais que a sua atuação passe por transformações sobremaneira bruscas, advindas dos atropelos de direção e roteiro. Minha mãe gostou bem mais do que eu, talvez por causa de comparações com o personagem de Sean Penn em UMA LIÇÃO DE AMOR, da Jessie Nelson... (WPC>)
Não conhecia o trabalho da fotógrafa biografada, mas fiquei apaixonado por ela: identifiquei-me muito com o seu percurso, de resgate da erotização e da politização inerentes à arte. A montagem da diretora é muito hábil ao fazer colidir um percurso histórico com os registros contemporâneos, com as ações explicitamente militantes de Nan Goldin: está tudo intersecionado, em verdade. Como eu passo por questões relacionadas ao suporte de viciados, aderi prontamente ao discurso de superação dos estigmas, gritados não apenas pelos aliados registrados da fotógrafa, como também por seus amigos, já falecidos, como o magno David Wojnarowicz, de quem sou fã absoluto. Dá uma quedinha no desfecho advocatício, mas é um filmaço, fiquei alucinado e estimulado. Ótimo (WPC>)
Poucas vezes em minha vida tive tantas dificuldades em chegar ao final de um filme: aqui, experimentei uma sessão extrema de derrota. Além de péssimo em seus componentes roteirísticos - que atesta o extremo desgaste da temática referente ao Multiverso - a composição dos personagens legitima discursivamente o que de pior associamos aos pantins neogeracionais: por mais que se assuma a lógica do humor como mecanismo de defesa ("muleta", dizem eles), a oscilação entre pretensas cenas dramáticas (ou melhor, emocionalmente chantagistas, em âmbito familiar) e as piadinhas freqüentes e inconvenientes causa extrema irritação, o que só piora no desfecho irresolvido, baseado num ilógico acúmulo de situações forçosamente condicionais. Admito que a montagem é interessante e que os efeitos variados de animação possuem algum charme, mas este filme surgiu até mesmo como a constatação do "fim do cinema", o fracasso extremo das pretensões estilísticas contemporâneas. Lixo sub-reciclável (visto que já é o conjunto de retalhos de outras produções congêneres). Abominável: saí da sessão sentindo-me péssimo! (WPC>)
Por causa de título e sinopse futebolísticos, procrastinei a sessão deste filme, mesmo eu sendo obcecado pelos Irmãos Marx. Erro meu! Era só traduzir o original ("Penas de Cavalo") para constatar que eu estaria diante de mais uma obra de gênio, tão radical e anárquica que beira a periculosidade (vide a cena em que Harpo alimenta o fogo de uma lareira com pás cheias de livros!). Amei as canções levadas a cabo pelo Groucho, surpreendi-me com a sexualidade emulada nalgumas piadas e ri muito, mas muito mesmo. A bagunça é extrema e generalizada. Maravilhoso! (WPC>)
Trata-se de um dos filmes favoritos de minha mãe, de modo que o revi ao lado dela, mais cedo. Emocionada, ela não parava de exclamar "não se fazem mais filmes tão bonitos como este, né?". eu concordava, sorridentemente. Vivien Leigh está soberba e a trilha musical é adotada com charme emocionante. Porém, algo na lógica honorífica incomodou, enquanto tragédia previsível para o destino das mulheres. Seja como for, um filme que possui os melhores apanágios da era de ouro hollywoodiana; Pressinto que o reverei mais vezes, inclusive: minha mãe é realmente obcecada por este filme! (WPC>)
Bela despedida do Robert Altman: há algo de ostensivamente anacrônico e arrítmico no filme, mas isso foi proposital, no sentido de que temas de filmes anteriores do diretor são convocados. Não é por acaso que o narrador chama-se Guy Noir. E que elenco! Kevin Kline e Lindsay Lohan demoram um tanto para encontrar o tom, mas Meryl Streep e Lily Tomlin cativam a nossa atenção, sempre que estão em cena. A dupla formada por John C. Reilly e Woody Harrelson também é muito boa (ri na canção das piadas!) e quis saber mais sobre a trajetória de Garrison Keillor. Muito fofo este filme - e o agradecimento em destaque para o Paul Thomas Anderson, nos créditos finais, não foi casual: ele aceitou com fervor a empreitada continuadora! (WPC>)
Caramba, que grata surpresa! Como sou fã absoluto dos filmes iniciais de Will Stillman, achei o estilo do precocemente falecido Bill Sherwood bastante semelhante: ótimo o registro de época da 'intelligentsia' nova-iorquina, com diálogos inteligentes e personagens mui carismáticos. Os atores são bonitos e expressivos, e também cônscios de seus benefícios de classe. Mas é Steve Buscemi quem chama a atenção a cada aparição: 'rocker' e sardônico, lidando com a AIDS de maneira não comiserativa, como tornou-se padrão noutras obras, Neste sentido, este filme, além de criativo e divertido, é também inovador na exposição não estereotipada dos homossexuais: aqui, eles são, sobretudo, pessoas (não tão) comuns, artistas e cidadãos, reinventores de seu cotidiano, quando necessário (vide a seqüência do taxista homofóbico). Adorei! (WPC>)
Ainda que, sim, o filme seja merecedor dos prêmios roteirísticos que recebeu, admitamos que a trama é até óbvia naquilo que apregoa, visto que os parâmetros machistas seguem pouco modificados até hoje. Como tal, quando o protagonista masculino passa a se relacionar com ambas as mulheres, sabemos de imediato qual o destino das duas, afinal confirmados pelos preconceitos sociais arraigados. Para além disso, a trilha musical de Mario Nascimbene possui acordes plangentes e a interpretação de Simone Signoret é deslumbrante, acachapante, emocionante... Pitoresco é constatar que, mesmo não tendo completado sequer 40 anos de idade (no enredo e fora dela), a mulher é julgada como "velha" de maneira tão inclemente. A relação que desenvolvemos com o protagonista é truncada por seus valores cegados pela ambição rancorosos. Mas ele esforça-se por alguma redenção. A fotografia em preto-e-branco é belíssima e é facilmente perceptível o impacto do filme, à época! (WPC>)
O Grinch
3.3 195 Assista AgoraSinceramente, não entendi a necessidade de se realizar este filme: primeiro, porque a versão do Ron Howard, em muitos sentidos, já era definitiva; segundo, porque há uma falta de rumo evidente neste filme, cujo roteiro é desperdiçado, salvo pela introdução e pelo desfecho do personagem-título. Todo o resto é uma seqüência de clímaces de aventura insossos e incongruentes. Por mais graciosa que seja a relação entre o Grinch e o seu cachorro, os diretores parecem muito mais interessados em mostras quedas, corridas e acidentes, pouco atrativos (desagradáveis, aliás). Forcei-me para assistir até o final: curto e muito ruim. Vazio, infelizmente: tadinhos dos envolvidos! (WPC>)
A Culpa
3.6 4 Assista AgoraO trabalho mais atípico deste genial realizador: se as suas obsessões freudianas estão lá, escancaradas, como de praxe, o tom é sombrio, macambúzio, tétrico, assustador... Não há qualquer concessão na resolução da trama, exceto em seu viés imitativamente shakesperano: as referências são múltiplas e evidentes. E como fiquei apaixonado pela malevolência cênica do trio central. Mais precisamente pelo casal de assimetria classista formado pelos jovens personagens de Nelson Xavier (tesudíssimo) e Dina Sfat (suprema como uma diva de ópera). A montagem é deveras experimental, bem como o tema musical, e há muito da segunda fase do Cinema Novo nesta obra. Amei: o desfecho é uma análise profética do Brasil atual, em termos de registro da rapacidade das classes mais favorecidas. Maravilhoso, quero ver de novo e de novo e de novo, uau! (WPC>)
Vamos Dançar
3.9 18Quantas pessoas tu conheces que são fãs do Mark Sandrich? Oficialmente, acabo de assumir-me como um deles! Assisti a este filme num "dia de Cecília", sem imaginar que eu gostaria tanto (ou até mais) que O PICOLINO. E fiquei surpreso com a excelência desta obra: já não bastasse a magnificência das canções - a cargo dos irmãos Gershwin, em um dos mais célebres períodos - deparei-me com um verdadeiro 'show' de 'mise-en-scène': vide o número de Fred Astaire em meio aos trabalhadores negros do navio, a seqüência do passeio com o cachorrinho e o jogo interessante de perspectiva na cena dos quartos interligados. O casal central está em um de seus melhores momentos (quem diria que eles se odiavam tanto, né?) e, com certeza, o Fellini viu este filme, a fim de inspirar-se para a homenagem derradeira aos astros do mesmo (tem muito de E LA NAVE VA aqui!). Saí da sessão encantado e renovado, um musical esplêndido. Adquiri o DVD por mero acaso, não esperava ser tão arrebatado! (WPC>)
Fuga Desesperada
3.2 3Descobri este filme por causa de sua canção-tema famosa e fiquei impressionado com a lógica mui otimista de seu roteiro: se, no início, pensei tratar-se de um 'noir' prisional, pouco a pouco, constatei estar diante de um filme efetivamente crente na reabilitação de pessoas que eventualmente cometeram um crime. O protagonista é um tanto histriônico em sua caracterização violenta e indecisa (o ator era jogador de futebol americano, em verdade), mas os coadjuvantes são muito bons, bem como a multiplicidade de situações relacionadas à musicalidade e à temática da espera: gostei muito das seqüências de visitas das mulheres e filhos dos detentos. Um drama inusual, curti! (WPC>)
Verão Passado
3.3 10 Assista AgoraNão gosto do filme original, mas amo a Catherine Breillat, de modo que não sabia o que esperar deste filme. Entretanto, não consegue direcionar as minhas expectativas, no sentido de que eu temia que a diretora capitulasse frente às ameaças de cancelamento, ao lidar com um tema tão delicado, numa conjuntura hodierna em que o conservadorismo atingiu níveis acachapantes. Por um lado, não entendi o porquê de ela regravar quase 'ipsis literis' dois terços da trama original; por outro, fiquei muito satisfeito ao perceber que ela não se limitou à reconstituição tramática, ela transcreveu o filme em âmbito estético, ampliando-o audiovisualmente, fazendo-nos compartilhar das experiências vividas pelos personagens. Não é por acaso que Samuel Kircher seja continuamente enquadrado em 'close-ups', a fim de nos conquistar, tal qual um Tadzio contemporâneo. A diretora finge estar compactuando com o determinismo julgamento do filme original, mas tempera a sua adaptação com muita ambigüidade, a ponto de fazer com que o terço final do filem vá num rumo completamente distinto, sendo o desfecho absolutamente brilhante (mesmo ocorrendo através do genial escurecimento de um cômodo). Não gostei muito, foi um dos filmes da diretora que menos apreciei, mas, por causa do que ocorre na meia-hora derradeira, senti que ela permanece inteligente, sensível e contraventora. Periga até que, numa revisão sem qualquer expectativa, eu o aprecie um pouco mais: Catherine Breillat, sigo te amando! (WPC>)
O Grinch
3.4 830 Assista AgoraMinha mãe, que é obcecada por filmes natalinos, pediu que revesse este filme ao seu lado. Aceitei, de imediato: desteto essa comemoração, mas identifico-me bastante com este protagonista (risos). Fico imaginando o que o Tim Burton de antigamente faria com esta trama... A despeito de ser um enredo infantil, o humor de Jim Carrey é recorrentemente glúteo e algumas piadas sexualizadas e/ou platônicas talvez não sejam devidamente compreendidas pelas crianças. A direção de arte é efusiva e "autocrítica", ao mesmo tempo, e a maquiagem do Rick Baker mereceu o Oscar que recebeu. A narração do Anthony Hopkins é linda e o desfecho reconciliador é mui meritório, necessário, comovedor: como não ficar encantado pelo enorme carisma da pequenina Taylor Momsen? Acho este filme uma gracinha! (WPC>)
Baywatch: S.O.S. Malibu
2.8 445 Assista AgoraQuem diria? Até que eu curti este filme... Ri num ou noutro momento (por mais que eu tenha achada dissonante a participação do Jon Bass, identifiquei-me com ele - risos) e gostei bastante das participações femininas (fiquei apaixonado por elas!). O roteiro é muito indeciso em suas intenções climáticas (na maior parte das vezes, investe no humor rasgado; noutras, investe numa breve seriedade investigativa). A rivalidade formulaica entre os personagens de Dwayne Johnson e Zac Efron serve para destilar aforismos comerciais sobre a importância do trabalho em equipe. A despeito de aproximar-se das duas horas de duração, não cansa: diverte e quase me fez querer conferir a telessérie original, em relação à qual nunca vi sequer um episódio, até hoje. Parece ter sido feito às pressas, mas agrada, para quem não tem muitas expectativas: como eu o sintonizei por acaso, funcionou comigo! (WPC>)
Num Lago Dourado
3.9 77 Assista AgoraNa revisão, percebi que não lembrava de quase nada, quando, em verdade, não acontece muita coisa: a trama chega a ser simplista em seu acúmulo de pequeníssimas situações (a indiferença paterna, o velho rabugento que se torna melhor amigo de um garoto recém-conhecido, o casal feliz apesar de tantos anos...). A fotografia é muito bonita e, de fato, o trabalho sonoro é interessante, a ponto de o filme ser indicado a 10 prêmios Oscar (incluindo Trilha Musical e Som). Jane Fonda é exuberante, como de praxe, Henry Fonda matura o seu personagem conservador "de bom coração" e Katharine Hepburn está maravilhosa como alguém tão carinhoso e cheio de vida. O problema é o roteiro frouxo, previsível e até forçado em sua dramaticidade aburguesada. Mas é fofinho, tem seus bons momentos de acalanto... Só insisto que, sim. é um filme hiperestimado! (WPC>)
Angela
2.5 83Por mais que, nos letreiros finais, o filme compartilhe a sua indignação contra os feminicídios cometidos sob a égide protetoral da "legítima defesa da honra", a sua execução segue um caminho inverso: a personagem-título é representada de maneira fútil, pernóstica, irritante... Ísis Valverde faz o que pode para dignificá-la, mas isso só ocorre efetivamente depois que a Alice Carvalho entra em cena, engendrando embates que humanizam a personagem: antes, ela é um mero estereótipo classista, inclusive objetificado através de diversas seqüências de sexo que evidenciam o machismo da realização, a lógica do 'male gaze' hipertrofiada à enésima medida. Para piorar, a trilha cancional (predominantemente anglofílica), no afã por emular a atmosfera 'disco' do período, parece zombar do sofrimento da protagonista, ao adotar um tom monocórdio, perenemente festivo, inadequado em diversos momentos. O elenco masculino é exitoso ao expor os piores apanágios desta acomodada condição de gênero, enquanto, no feminino, destaco a presença de Chris Couto, enquanto coadjuvante. Mas as atrizes, por mais que se esforcem, podem fazer pouco, num roteiro que as "acolhe" apenas para vitimizá-las ou para julgá-las, através de seus comportamentos eventualmente afoitos, na tentativa de serem minimamente felizes. Um filme que envergonha todos os envolvidos, infelizmente! (WPC>)
Oppenheimer
4.0 1,1KChristopher Nolan é ignóbil em muitos aspectos, mas, admitamos, é um pirotecnista sagaz, um cineasta muito esperto na aplicação dos atributos técnicos em seus filmes. Aqui, ele conta com um elenco estelar e com parcerias certeiras (o músico Ludwig Göransson à frente), mas comete equívocos patrióticos enquanto roteirista: o protagonista surge como um patriota a ser defendido abnegadamente, numa estrutura de filme de tribunal que serve-se de estratégias da filosofia erística (não sendo casual o interesse dos espectadores de direita, portanto). Não se trata de um filme ruim - ainda que seja "mau" nalguns aspectos discursivos - mas promove um desfecho revanchista e oportunista para o extraordinário personagem de Robert Downey Jr.. O profético diálogo final é impactante e desolador, fazendo ainda mais sentido na conjuntura bélica atual. O problema é que o filme disfarça mal o seu ponto de vista: ainda que o roteiro assuma a responsabilidade dos norte-americanos em diversas tragédias bélicas, ele defende que "poderia ser pior" se isso fosse perpetrado por outros países. É uma tomada de partido em prol desse tipo de projeto destrutivo, como fica evidente na menção ao John Fitzgerald Kennedy, em determinada situação. A montagem entrecortada e paralela soou-me bastante problemática, em seu excesso de cortes e na sobrecarga intencional de elementos intencionalmente confusos (o despejo de nomes e patentes militares, por exemplo), mas a manipulação dos efeitos sonoros pareceu-me acertada: tenho certeza de que gostaria muito mais se visse o filme no cinema! Cillian Murphy está completamente entregue ao papel, mas o personagem é evasivo, difícil de ser compreendido emocionalmente, exceto como "mulherengo", o que também é defendido pelo enredo, o que redunda em diversos instantes de objetificação feminina. Mas impressiona no conjunto, entretém-nos devidamente por três horas. Aceito os paradoxos espectatoriais, portanto, ainda que eu siga anti-fã deste diretor! (WPC>)
Rainha de Copas
3.8 101 Assista AgoraComo estou muito ansioso pela versão da Catherine Breillat, talvez tenha prejudicado esta sessão com o meu sobejo de expectativas. O título do filme é muito claro acerca do que ele deseja esmiuçar: um impiedoso registro de personagem, registrando as bases hipócritas do bem-estar pequeno-burguês. Trine Dyrholm, como de praxe, está excelente enquanto protagonista, mas a abordagem gélida, a direção fria, o ritmo excessivamente espaço entre os eventos e a demora do roteiro em demonstrar-se incisivo em sua crítica (que só ocorre no quartel final) afetaram negativamente a minha fruição, dificultaram a minha imersão, fizeram com que um desconforto que deveria ser temático se tornasse também reativo, erroneamente julgamental: desgostei do filme, não funcionou comigo, achei um porre, por mais acertada que seja a decisão da diretora em não fetichizar a relação intergeracional, desprovida de erotismo e prenhe de auto-avaliação vaidosa. Há bons momentos, claro (a relação entre os personagens e as gêmeas, por exemplo), mas, em minha opinião, o filme como um todo os desperdiça. Saí da sessão realmente irritado: o que a publicidade dos moralistas faz com este filme é o cúmulo! (WPC>)
Sete Anos de Azar
3.7 3Eu sei que o Max Linder é super influente, enquanto pioneiro burlesco, mas o seu personagem de janota mulherengo parece-me extremamente negativo. Tive problemas crassos em meu primeiro contato com o realizador, através do longa-metragem SEJA MINHA MULHER. Aqui, gostei bem mais, ainda que os mesmos problemas estejam lá (principalmente, um imperdoável racismo, presente na maneira vergonhosa como o protagonista se disfarça de negro!). O roteiro parte de uma interessante 'gag' no espelho - tantas vezes imitada! - para reviravoltas persecutórias cumulativas, desembocando num casamento que não parece de todo crível (em aspecto sentimental), ainda que a cena final seja hilária. O que ele faz com o cachorrinho é terrível! Até gostei do filme, reitero, mas esse Max Linder não parece muito boa pessoa, não: as condições de seu suicídio que o digam, aff! (WPC>)
Mazurka
4.0 2Na época do Fotolog, eu tinha um amigo virtual que era obcecado pelo Willi Forst. Como quase todas as minhas referencias enciclopédicas (Jean Tulard à frente) falavam mal dele (chamavam-no de cafona, por exemplo), demorei um tempinho para conhecê-lo, até que este filme me surgiu como recomendação num jogo de Instagram... E, caramba, como o amei! Demorei um tempo para entrar no clima, pois, de fato, há algo de "brega" no trecho inicial, soba perspectiva de uma adolescente um tanto melindrosa. Os ângulos subjetivos deixavam-me ciente de que algo arrebatador aconteceria a qualquer momento... O que, de fato, acontece quando a Pola Negri entra em cena: que mulher, quanta força, quanta resiliência, quanta capacidade de adaptação ao sofrimento altruísta. Que reviravolta! De uma trama sobre rance interrompido, mergulhamos num violento melodrama de tribunal. O abraço do desfecho possui um elemento sobrenatural/platônico que me fez aplaudir de pé, soltando um inevitável palavrão (enquanto interjeição admirada), de tão chocado que fiquei frente à genialidade da solução afetiva. Que incrível! Buscarei mais obras deste realizador... Fui excitado e incitado, afinal! (WPC>)
Meu Novo Brinquedo
3.1 8 Assista AgoraNão vi os dois exemplares anteriores, mas percebi que as idéias do Francis Veber seguem duradouras, elogiosas, divertidas... A cada regravação, a trama fica menos "politicamente incorreta", de modo que, aqui, a perspectiva é extremamente conciliadora, abandonando a dependência do humor físico, embasado nas 'gags' exageradas de Jamel Debbouze. Gostei muito da direção de arte, da interação entre o elenco e do aproveitamento dos clichês dramático-familiares, mas achei a trilha cancional (predominantemente anglofílica) equivocada e achei o desfecho negativamente abrupto, como se fosse o término de um episódio de série televisiva. Mas diverti-me enquanto via o filme, por mais discursivamente incoerente que ele se torne, à medida que avança... (WPC>)
Geração Roubada
3.8 46Na revisão, aquilo que incomodou-me na primeira vez (o uso do personagem de Kenneth Branagh como bode expiatório e a adesão à narrativa de aventura, sobretudo) continuou a truncar um pouco de minha adesão ao filme, mas, como o revi ao lado de minha mãe, percebi que o filme é efetivo em âmbito comunicacional, no que tange à exposição de uma mazela histórica que poucos conhecem. Ao perceber que o filme passa rápido demais, notei que ele se dissolve nos pequenos encontros, num otimismo crente, em relação à salvação das meninas. A fotografia do Christopher Doyle e a música do Peter Gabriel, ambas ótimas, reforçam o caráter espetaculoso da produção, mas relevarei um pouco de meus dissabores críticos, visto que, num debate marxista do qual eu participei, sobre o filme, notei que ele foi muito bem-quisto. Compreendo os motivos... (WPC>)
O Desafio de Marguerite
3.3 9 Assista AgoraPor mais que eu tenho adorado a sinopse - como não se identificar, no âmbito universitário? - pensei que se tratasse de mais um exemplar genérico da "GloboFilmes francesa". Nalguns aspectos, talvez até seja: o enredo possui muitos clichês típicos das comédias românticas estadunidenses, mas o desenvolvimento da protagonista é muito interessante, pois é construído a partir de anticlímaces . É como se o filme pegasse alguns aspectos do clássico CADA UM VIVE COMO QUER e os atualizasse numa translação adulta e feminina do terno MENTES QUE BRILHAM. Achei algumas soluções repetitivas (os 'insights' matemáticos e a descoberta do 'mahjong', principalmente),mas surpreendi-me ao perceber-me cada vez mais empático em relação à personagem-título, torcendo por seu sucesso, por suas vitórias íntimas e coletivas, ansiando para que ela gozasse... A trilha musical de Pascal Bideau é um presente à parte (amei aqueles côros sobrepostos!) e o filme é de uma simpatia mui aplaudível. Adorei: deu até vontade de preencher uma listas de exercícios algébricos após a sessão! (WPC>)
Os Dois Mundos de Charly
3.3 26Sempre tive curiosidade em ver este filme, por causa de sua sinopse tentadora, no que tange às discussões sobre o aprimoramento da inteligência humana. Deparei-me com um filme que, apesar de sua abordagem tramática convencional (clicherosa mesmo!), adere às transformações contemporâneas, via adoção de uma montagem modernosa, repleta de projeções lado a lado. Porém, isso hipertrofia alguns problemas, sobretudo no que diz respeito ao maniqueísmo com que se aborda a lógica intelectual: nem bem a cirurgia ocorre (sem que se precise raspar o cabelo do protagonista), e ele já se interessa por física quântica, biologia genética e arte modernista. Fica evidente que o livro original seja bem mais interessante que a sua adaptação cinematográfica, mas é preciso destacar que a situação de um quase-estupro como indicativo de um mero sintoma de "imaturidade emocional" pareceu-me deveras problemática, traumatizante mesmo. Mas achei o justíssimo o Oscar concedido ao Cliff Robertson, por mais que a sua atuação passe por transformações sobremaneira bruscas, advindas dos atropelos de direção e roteiro. Minha mãe gostou bem mais do que eu, talvez por causa de comparações com o personagem de Sean Penn em UMA LIÇÃO DE AMOR, da Jessie Nelson... (WPC>)
All the Beauty and the Bloodshed
3.6 23Não conhecia o trabalho da fotógrafa biografada, mas fiquei apaixonado por ela: identifiquei-me muito com o seu percurso, de resgate da erotização e da politização inerentes à arte. A montagem da diretora é muito hábil ao fazer colidir um percurso histórico com os registros contemporâneos, com as ações explicitamente militantes de Nan Goldin: está tudo intersecionado, em verdade. Como eu passo por questões relacionadas ao suporte de viciados, aderi prontamente ao discurso de superação dos estigmas, gritados não apenas pelos aliados registrados da fotógrafa, como também por seus amigos, já falecidos, como o magno David Wojnarowicz, de quem sou fã absoluto. Dá uma quedinha no desfecho advocatício, mas é um filmaço, fiquei alucinado e estimulado. Ótimo (WPC>)
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
4.3 524 Assista AgoraPoucas vezes em minha vida tive tantas dificuldades em chegar ao final de um filme: aqui, experimentei uma sessão extrema de derrota. Além de péssimo em seus componentes roteirísticos - que atesta o extremo desgaste da temática referente ao Multiverso - a composição dos personagens legitima discursivamente o que de pior associamos aos pantins neogeracionais: por mais que se assuma a lógica do humor como mecanismo de defesa ("muleta", dizem eles), a oscilação entre pretensas cenas dramáticas (ou melhor, emocionalmente chantagistas, em âmbito familiar) e as piadinhas freqüentes e inconvenientes causa extrema irritação, o que só piora no desfecho irresolvido, baseado num ilógico acúmulo de situações forçosamente condicionais. Admito que a montagem é interessante e que os efeitos variados de animação possuem algum charme, mas este filme surgiu até mesmo como a constatação do "fim do cinema", o fracasso extremo das pretensões estilísticas contemporâneas. Lixo sub-reciclável (visto que já é o conjunto de retalhos de outras produções congêneres). Abominável: saí da sessão sentindo-me péssimo! (WPC>)
Os Gênios da Pelota
3.7 8Por causa de título e sinopse futebolísticos, procrastinei a sessão deste filme, mesmo eu sendo obcecado pelos Irmãos Marx. Erro meu! Era só traduzir o original ("Penas de Cavalo") para constatar que eu estaria diante de mais uma obra de gênio, tão radical e anárquica que beira a periculosidade (vide a cena em que Harpo alimenta o fogo de uma lareira com pás cheias de livros!). Amei as canções levadas a cabo pelo Groucho, surpreendi-me com a sexualidade emulada nalgumas piadas e ri muito, mas muito mesmo. A bagunça é extrema e generalizada. Maravilhoso! (WPC>)
A Ponte de Waterloo
4.2 38 Assista AgoraTrata-se de um dos filmes favoritos de minha mãe, de modo que o revi ao lado dela, mais cedo. Emocionada, ela não parava de exclamar "não se fazem mais filmes tão bonitos como este, né?". eu concordava, sorridentemente. Vivien Leigh está soberba e a trilha musical é adotada com charme emocionante. Porém, algo na lógica honorífica incomodou, enquanto tragédia previsível para o destino das mulheres. Seja como for, um filme que possui os melhores apanágios da era de ouro hollywoodiana; Pressinto que o reverei mais vezes, inclusive: minha mãe é realmente obcecada por este filme! (WPC>)
A Última Noite
3.2 78Bela despedida do Robert Altman: há algo de ostensivamente anacrônico e arrítmico no filme, mas isso foi proposital, no sentido de que temas de filmes anteriores do diretor são convocados. Não é por acaso que o narrador chama-se Guy Noir. E que elenco! Kevin Kline e Lindsay Lohan demoram um tanto para encontrar o tom, mas Meryl Streep e Lily Tomlin cativam a nossa atenção, sempre que estão em cena. A dupla formada por John C. Reilly e Woody Harrelson também é muito boa (ri na canção das piadas!) e quis saber mais sobre a trajetória de Garrison Keillor. Muito fofo este filme - e o agradecimento em destaque para o Paul Thomas Anderson, nos créditos finais, não foi casual: ele aceitou com fervor a empreitada continuadora! (WPC>)
Parting Glances - Olhares de Despedida
3.5 10 Assista AgoraCaramba, que grata surpresa! Como sou fã absoluto dos filmes iniciais de Will Stillman, achei o estilo do precocemente falecido Bill Sherwood bastante semelhante: ótimo o registro de época da 'intelligentsia' nova-iorquina, com diálogos inteligentes e personagens mui carismáticos. Os atores são bonitos e expressivos, e também cônscios de seus benefícios de classe. Mas é Steve Buscemi quem chama a atenção a cada aparição: 'rocker' e sardônico, lidando com a AIDS de maneira não comiserativa, como tornou-se padrão noutras obras, Neste sentido, este filme, além de criativo e divertido, é também inovador na exposição não estereotipada dos homossexuais: aqui, eles são, sobretudo, pessoas (não tão) comuns, artistas e cidadãos, reinventores de seu cotidiano, quando necessário (vide a seqüência do taxista homofóbico). Adorei! (WPC>)
Almas em Leilão
4.0 22Ainda que, sim, o filme seja merecedor dos prêmios roteirísticos que recebeu, admitamos que a trama é até óbvia naquilo que apregoa, visto que os parâmetros machistas seguem pouco modificados até hoje. Como tal, quando o protagonista masculino passa a se relacionar com ambas as mulheres, sabemos de imediato qual o destino das duas, afinal confirmados pelos preconceitos sociais arraigados. Para além disso, a trilha musical de Mario Nascimbene possui acordes plangentes e a interpretação de Simone Signoret é deslumbrante, acachapante, emocionante... Pitoresco é constatar que, mesmo não tendo completado sequer 40 anos de idade (no enredo e fora dela), a mulher é julgada como "velha" de maneira tão inclemente. A relação que desenvolvemos com o protagonista é truncada por seus valores cegados pela ambição rancorosos. Mas ele esforça-se por alguma redenção. A fotografia em preto-e-branco é belíssima e é facilmente perceptível o impacto do filme, à época! (WPC>)