Narrado por Ryan Reynolds, este Origem Secreta: A História da DC Comics acaba se revelando como um documentário interessante, envolvente e curioso até para os não entusiastas da mídia de histórias em quadrinhos. A obra faz um levantamento geral sobre a criação deste importante suporte artístico e as influências que provocou em outros formatos midiáticos - como a televisão e o cinema -, além de também tratar do contexto histórico inerente às histórias impressas, comentando o fato de que as famosas aventuras de seus personagens serviam como espelho da sociedade ao mesmo tempo em que atuavam como um espelho para a sociedade, na criação de heróis, anti-heróis e vilões que surgiam e se desenvolviam conforme as aspirações de uma época e as esperanças e sonhos que seus leitores cultivavam.
Dizer que “Super 8” é uma obra nostálgica já é cair no lugar comum. Esta nova realização de J.J. Abrams tem um propósito recordativo notável; e ainda que seu filme fique aquém dos grandes clássicos que emula, cumpre perfeitamente seu papel e constrói uma narrativa divertida e envolvente que, além de evocativa, dispõe de alguns momentos memoráveis e ainda clama, em suas entrelinhas, pelo resgate de um tipo de cinema consagrado e caracterizado nos idos anos oitenta. Ainda assim, pode parecer que o longa queira, além de homenagear, também rivalizar com as produções que o inspiram. A influência mais clara, e que se manifesta de forma visual (algumas vezes) e principalmente temática é a obra-prima de Spielberg “E.T.: The Extra-Terrestrial”. O que faz de “Super 8” um filme (muito) aquém desta obra é especialmente seu subtexto, que aqui recicla o daquele filme de modo bem menos impactante e central. Mas se isso enfraquece o longa em comparação (algo um tanto quanto injusto, embora pertinente neste caso), o fortifica quando analisado sozinho, já que “Super 8”, em sua individualidade, parece se comunicar com aqueles filmes, interagir com aquelas tradições aventurescas oitentistas e assim se estabelecer como um suspiro clássico no presente, ainda que permaneça tão firme em seu propósito meramente evocativo e emulativo. Além de se instalar num período mais do que apropriado (final dos anos setenta, começo dos anos oitenta), “Super 8” acerta logo na concepção do miolo de personagens, um grupo de crianças em busca da realização de um filme curta-metragem sobre zumbis. A dinâmica do grupo gira em torno deste objetivo, a princípio; e o roteiro confere a cada um deles personalidades distintas que, assim como, por exemplo, “The Goonies”, os retratam não apenas como uma unidade, mas também como um conjunto de indivíduos que podem ser distinguidos separadamente e cujos valores individuais podem ser somados às aventuras do grupo como um todo. Os adultos, por suas vezes, são aqui reduzidos a muletas emocionais, costumeiramente obstruindo os jovens personagens em suas ações, porém não os impedindo por completo de realizá-las, além de - o mais importante - não os auxiliando (diretamente, ao menos) na tarefa de alcançarem os objetivos que dão corda às suas peripécias. Os jovens de “Super 8” estão por si só, e o longa resgata o tema do empoderamento das crianças, que mesmo em um mundo mais caótico do que o nosso (leia-se: “povoado por ameaças militares iminentes e um monstro alienígena”), conseguem ser mais destemidas e suficientes do que os adultos e do que o permitido a elas na realidade. Já no tratamento da mitologia, J.J. Abrams reproduz um método eficiente que Spielberg empregou em “Jaws” e que ele mesmo repetiu em produções de sua assinatura, como o filme “Cloverfield” e a série “Lost”. A criatura de “Super 8” é gradualmente exposta, se mantendo escondida durante boa parte da projeção até que, no momento mais conveniente, seja revelada em sua forma integral. Fazendo isso, Abrams não só estabelece na narrativa uma aura misteriosa de peso, como também torna as ações paralelas do monstro muito mais interessantes de se assistir, uma vez que nosso desconhecimento sobre a forma e as propriedades da criatura torna tudo muito mais tenso, e as descobertas que fazemos junto dos personagens muito mais empolgantes. E embora o monstro deste filme não tenha a mesma carga emocional do pequeno E.T., e nem seja tão devastadora quanto o tubarão de “Jaws” e o monstro de “Cloverfield”, ou até mesmo tão misteriosa quanto o Monstro de Fumaça de “Lost”, o ser alienígena que aqui temos compensa no que remete ao desenvolvimento dos personagens, em especial o do casal central da narrativa, que compartilham uma marcante e emotiva cena final - mesmo que esta, muito semelhante à de “E.T.”, empalideça por comparação, embora apresente um significado consideravelmente (e acertadamente) diferente daquela obra. Afinal, “Super 8” tem, sim, sua força individual (principalmente se considerarmos a sensibilidade de gênio do compositor Michael Giacchino e a fantástica atuação de Elle Fanning), ainda que seja mesmo digno de ovações por sua saudável proposta de retrocesso a um cinema tão mítico e mágico que foi eternizado por um tempo que já passou.
Com a trilogia de filmes “Pusher”, o diretor Nicolas Winding Refn comentou sobre o submundo do crime na Dinamarca (sua terra natal) através de uma abordagem crua e honesta, concebendo protagonistas que, em menor ou maior grau, estavam diretamente ligados à teia criminosa com a qual conviviam, e que consequentemente se viam sufocados diante dos impiedosos percalços que surgiam desse cenário. Longe da Dinamarca e longe de se estabelecer em um submundo, Winding transporta seu novo filme para Los Angeles, desenvolvendo o mesmo tema sob a luz mais estilizada do mundo habitado por seu protagonista, o piloto-dublê de filmes hollywoodianos convenientemente conhecido apenas como “Motorista”. Embora em “Driver” a teia criminosa seja mais omissa, o diretor faz questão de estabelecer o subtexto já na abertura filme, antes mesmo dos créditos surgirem. É uma cold-open tensa, de tirar o fôlego. Nela, podemos reconhecer de imediato a natureza friamente profissional de seu protagonista, cuja outra fonte de renda consiste em conduzir, com seu carro, criminosos em seus roubos. Ele é bem direto: “Diga a hora e o lugar e te dou um tempo de 5 minutos”. “Haja o que houver nesses 5 minutos, estou à disposição”. “Mas o que houver após esses 5 minutos, está por sua conta”. Além de piloto-dublê e chofer de roubos, o motorista é também um mecânico, fechando seu total envolvimento profissional com veículos de quadro rodas. É como se o protagonista fosse um conduíte, consertando carros para os outros, dirigindo carros para os outros e conduzindo outros em seu carro. Ele estabelece uma distância profissional para a própria preservação individual, o que acaba moldando sua maneira de ser nos momentos em que de fato vive sua vida, longe do volante, além de também comprometer suas realizações pessoais. Como bem dizem: o muro que construímos a nossa volta para nos proteger, é o mesmo que impede nossa felicidade. O grande conflito do filme se origina do envolvimento do protagonista com sua vizinha, Irene, e seu filho pequeno. Cautelosamente, o personagem de Ryan Gosling (em uma atuação meticulosa, que une expressões remansadas e intimidantes) se aproxima dela, como que violando o modo como opera. Ele busca uma experiência mais honesta ao desenvolver algum tipo de relacionamento, colocando em prática seu interesse amoroso. Mas eis que essa sua vizinha tem um marido na prisão, que é libertado e logo pressionado a pagar certa dívida. Percebendo que sua natureza é mesmo a de um conduíte, o Motorista recebe com resigno a presença dominante do marido de Irene, e eventualmente decide oferecer seus serviços para que o sujeito possa roubar uma loja de penhores e pagar o que deve para os chefões do crime - tudo pelo bem de sua família, por quem tem grande afeto. É a primeira vez que o Motorista executa um trabalho de cunho pessoal. Pouco antes de efetuá-lo, vemos uma cena onde o personagem se encontra em um café com um criminoso qualquer que já havia conduzido antes. Quando este lhe oferece um novo trabalho, o personagem de Gosling encurta a conversa sumariamente, descartando a oferta do sujeito sem nem mesmo ouvi-la, ainda se certificando de ameaçá-lo para deixar suas intenções bem claras: ele não presta serviços para alguém que já conheça. No entanto, num esforço de humanidade, ele coloca em risco sua preservação para ajudar aqueles por quem se importa. Em certa altura da narrativa, o Motorista diz para Irene que estar do lado dela foi a melhor coisa que já lhe aconteceu. Os dois não chegaram a partilhar momentos marcantes; apenas alguns encontros básicos e fugazes. Até onde sabemos, nem mesmo Irene cultivava sentimentos tão fortes pelo Motorista. Mas de alguma forma nós acreditamos em suas palavras, pois por mais que tenham sido mínimos e ordinários os momentos de afeto do protagonista por essa mulher e seu filho, eles pareciam ser os únicos que de fato o faziam derrubar o muro que construiu ao seu redor e finalmente ter o contato humano e afetivo que nunca - ou quase nunca - experimentou. Mas é claro que, enriquecendo o subtexto já muito abordado por Nicolas Winding Refn em seus outros filmes, nada é uma maravilha no final, e o protagonista, embora mais humano, não deixa de se afundar em sua infectada natureza e na infectada realidade que habita.
A impressão que tive é a de que “Bad Teacher” foi inicialmente idealizado como uma sátira à fórmula de filmes protagonizados por professores e que se focam na relação deles com seus alunos. Geralmente, tais filmes percorrem um caminho manjado em que o professor, inicialmente rejeitado por seus alunos, acaba, aos poucos, conquistando o respeito deles, ensinando-os e, claro, também aprendendo com eles no final. “Bad Teacher” não segue exatamente uma fórmula; mas o filme consegue ser tão ruim, asqueroso e vergonhoso que realmente pensei em atribuir a sua ruindade às aspirações criativas de seus realizadores, que talvez, na tentativa de conceber uma sátira, foram incrivelmente malsucedidos na tarefa. Saber disso importa pois implica no exame das raízes do filme, o que talvez nos ajude a entender o porquê esta coisa... Digo, “Bad Teacher”, saiu tão errado. Mas mergulhar em uma obra deste naipe bem que poderia se revelar como um esforço desnecessário, já que basta olharmos para sua superfície para encontrarmos a suficiente quantidade de defeitos; defeitos dos mais óbvios e que qualquer um poderia identificar. A protagonista, Elizabeth, uma fútil e superficial loura interpretada por Cameron Diaz, é, como indica o título do filme, uma má professora. Entretanto, ela não é má por falta de capacitação. O roteiro dá a entender que quando ela quer, ela sabe lecionar e auxiliar seus alunos, embora seu passado ou suas iniciais investidas para se tornar uma professora jamais sejam exploradas durante o longa. Tudo o que sabemos é que ela não tem praticamente nenhuma experiência, e que dar aulas era um bico provisório até que o casamento entre ela e seu endinheirado noivo fosse consumado. O conflito inicial da trama se desenvolve quando seu marido, ao notar os excessivos gastos de Elizabeth, conclui que ela só queria seu dinheiro, e então pede o divórcio. Três meses se passam e a personagem se vê obrigada a voltar para a escola onde lecionara anteriormente. Seu objetivo? Conseguir dinheiro para pagar uma cirurgia de implante de seios para que possa conquistar um novo marido disposto a bancar suas supérfluas e demasiadas despesas. Elizabeth, eventualmente, nota que não chegará lá tão cedo, e assim decide fazer de tudo - até mesmo roubar, enganar e simplesmente ser a pessoa desprezível e baixa que é -, para que possa conseguir dinheiro o suficiente e pagar seus silicones. Não é fácil gostar de Elizabeth; o filme não nos dá razões. Há, no entanto, uma tentativa pedestre de humanizar a personagem e transformá-la em algo um pouco melhor no final. A professora chega a dar conselhos para um de seus alunos, que sofre de uma paixonite por uma colega de sala. Este é o único ato de bondade da personagem em todo o filme; e se resume basicamente em dizer para o garoto que ele nunca irá conquistar a popular menina de quem gosta, pois simplesmente não se encaixa nos padrões que atraem o tipo dela. No final, obviamente, Elizabeth deixa de ser aquela professora desleixada, irresponsável e perversa que antes era: desiste de sua cirurgia; volta para as aulas com um sorriso gracioso no rosto e decide ficar com o humilde professor de Educação Física, vivido por Jason Segel, em vez do engomado, influenciável e riquinho professor de Matemática vivido por Justin Timberlake. Se não bastasse a obrigatória e artificial mudança de índole da protagonista no final, toda a narrativa é construída de forma embaraçosamente irreal. Indo dos exagerados personagens e seus dispensáveis maneirismos, às ilógicas e inorgânicas passagens, “Bad Teacher” é um constrangedor desastre cômico, seja como uma sátira mal resolvida ou como qualquer que tenha sido a intenção de seus realizadores ao produzi-lo. De qualquer forma, é um filme absolutamente medíocre que, assim como sua protagonista, merece ser sumariamente cuspido fora.
“Winnie the Pooh” é um filme bastante infantil. E por “infantil”, eu não diria “feito para o público infantil”, embora este seja, provavelmente, o alvo demográfico do filme. É um infortúnio que este conceito de “entretenimento para crianças” ainda exista, pois é geralmente uma desculpa para obras preguiçosas, bobas e pueris (“os adultos acharão chato, mas as crianças vão adorar”). Mas “Winnie the Pooh”, suspeito seguindo essa noção, ainda possui seu charme, pois sua forma é diferente, sua forma é convincente, e embora não seja um grande filme de animação, é um bom passatempo para crianças e adultos - e apenas quando nenhum deles é excluído é que podemos chamar algo de bom. Com menos de uma hora de duração (excluindo os créditos, que, entretanto, são divertidos de se assistir), “Winnie the Pooh” apresenta uma narrativa bem miúda, que é adequada ao seu tempo de projeção e que gira em torno de pequenas vinhetas, números musicais e situações que seguem um motivo bem simples - que poderíamos encarar como sua “trama”. Os personagens, todos bichinhos de pelúcia vivos, são charmosos, mas não particularmente carismáticos. O roteiro faz um bom trabalho ao distinguir suas personalidades e seus simplistas costumes idiossincráticos. Pooh, o personagem principal, é um urso com um cérebro pequeno e um estômago grande, insaciável. Ele está constantemente pensando e desejando sua comida favorita: mel. Há também a eloquente Coruja que gosta de se gabar e chamar a atenção para si; o medroso Porco; a mãe Canguru e seu filhote; o preguiçoso e melancólico Bisonho; o Coelho esperto; o solitário e quero-ser-bravo Tigre; e até o garoto humano, chamado Christopher Robin. Com exceção do garoto, que não faz tanto no filme quanto seus amigos pelúcias, todos os personagens possuem uma forte e predominante característica: eles são todos burros - até mesmo o esperto Coelho. Muito humor é derivado disso, e com essa abordagem o filme consegue convincentemente nos contar uma pequena história sobre bichos de pelúcia que tentam resolver pequenas questões com a parca destreza cerebral e dominante ingenuidade que possuem - questões que, aliás, são causadas por suas próprias burrices. As rotinas cômicas, diferente de algumas pequenas e engraçadas gags, não são muito inspiradas, e já que o objetivo é produzir risadas, os realizadores poderiam investir em situações mais espertas e imaginativas, em vez de empregar óbvias ideias - como quando o Bisonho se esconde do intrometido Tigre em um lago, com um canudo conectando sua boca e a superfície para que ele possa respirar sem ser visto. Por outro lado, os números musicais, ainda que não espetaculares ou essenciais, são divertidos e realçam a encantadora e hipnotizante animação da película. As canções entoadas pelos personagens são divertidas, também, embora da mesma forma careçam de mais imaginação. Mas é mesmo no caráter de livro de historinhas infantis que o filme aplica em sua narrativa (fazendo com que personagens e ambientes interajam com as letras e frases do livro, bem como com o próprio narrador da história), e nas canções adicionais na voz de Zooey Deschanel (e sua banda She & Him), que “Winnie the Pooh” lança um feitiço e assume novos ares, fortificando seu propósito e modulando sua forma. Até mesmo a moral da história (indispensável pela própria natureza do filme) é acertadamente simples e levemente vinculada no final da animação. Para um filme com praticamente nenhuma trama e personagens tão bobos e básicos, “Winnie the Pooh” se sai bem na tarefa de convencer e extrair charme de seu pequeno conto - que, no entanto, assim como pequenos livros infantis, serve mais como passatempo para fazer dormir do que qualquer outra coisa. A diferença é que o filme permite que não só crianças, como também adultos caiam no sono após seu término.
“One Day” tem uma interessante atitude: a de contar, partindo de uma diferente abordagem, uma tradicional história de encontros e desencontros sentimentais entre dois amigos apaixonados que, devido às intempéries da vida e principalmente à própria resistência de ambos em consumar um relacionamento amoroso, acabam perdendo diversas oportunidades de serem felizes juntos. Para dar novos ares a esse tipo de história, é adotada uma curiosa estrutura que narra a história dos personagens ao focar-se exclusivamente em uma data específica de cada ano: o dia 15 de Julho. Este “um dia” foi o primeiro em que os amigos de fato estabeleceram uma conexão amorosa, quando dividiram um quarto logo após a graduação deles, em 1988. É, também, o dia em que a garota, Emma, dezoito anos depois, morreu acidentada, para a devastação de seu agora marido Dexter. A princípio, unir uma estrutura fresca a um tema batido soa interessante, mas a impressão final é a de que o esforço da originalidade foi um insucesso, já que a estrutura de “Onde Day”, se por um lado curiosa, por outro se revela incrivelmente desinteressante e aborrecida para o desenvolvimento da história, além de também não camuflar as obviedades do longa. Jim Sturgess e Anne Hathaway vivem o casal de protagonistas; eles possuem uma estranha química, que de alguma forma funciona; afinal de contas, mesmo que pareçam errados um para o outro, uma das óbvias observações que o filme faz é a de que os opostos se atraem. Isso é ressaltado pela própria forma como o casal é pintado: o personagem de Sturgess, Dexter, é, durante boa parte do filme, um típico sujeito espertinho e atrevido, que se arrasta por uma vida regada de hábitos prejudiciais e comportamentos imprudentes, enquanto Emma, por sua vez, exibe uma prudência tão regulada que, ao contrário de Dexter, quase nunca se entrega aos impulsos ou coloca em prática seus desejos - algo exemplificado pela própria dinâmica do casal, que se resume a investidas de Dexter e resistências por parte de Emma. No entanto, embora tonalmente corretos, o casal carece de vibração, o que põe a perder boa parte de nosso interesse por seus encontros. Muito tempo de suas vidas é omitido, já que tudo que vemos se limita ao 15 de julho. A justificativa final para toda a atenção voltada a esse dia é tematicamente e retrospectivamente relevante, porém não suficiente. Durante o filme, o pensamento que pulsa é o de que a narrativa poderia nos mostrar diferentes datas que não faria a menor diferença, e que o filme seria tão óbvio quanto já é. A obviedade, aliás, é algo notório em “One Day”. O próprio arco narrativo de Dexter, assim como o personagem em si, é absolutamente gasto - e se sua antipatia patente é curada quando este se casa e tem uma filha, tornando-se um sujeito muito mais suave e agradável, sua história não deixa de soar óbvia e previsível. Até mesmo quando o longa se esforça para dramatizar o personagem por outras tangentes - como no relacionamento com seus pais -, este ainda recai em clichês, vide a mãe que sofre, claro, de câncer. Apesar de tudo, “Onde Day” consegue nos ganhar gradualmente, assim que sua narrativa ruma para o trágico final, e assim que apresenta uma razão para ser do jeito que é (embora, repito, seja insuficiente). O filme finalmente adquiri vibração em seus instantes finais, e nos oferece uma visão realmente bonita e reflexiva sobre a experiência que seus personagens partilharam durante os anos que puderam ficar juntos, casados ou como amigos. E mesmo que tente adocicar um pouco seu amargo desfecho, o longa expressa uma tristeza cortante que se torna ainda mais intensa quando percebemos o quanto poderia ser diferente para ambos os personagens se agissem de outra forma. Mas é fato que o adiamento dessa união amorosa foi influenciado muito mais pelas escolhas pessoais do casal do que pelas interferências do acaso, e que se fossem pra ficar efetivamente juntos, deveria ser mesmo dessa forma, e por esse período de tempo. É só uma pena que, embora “Onde Day” recompense no final, seja, ainda, um filme tão desinteressante de se assistir.
Pode parecer que, por se estabelecer em um intrincado cenário político, “The Ides of March” é um filme sobre polícica. Mas a política que nós vemos no filme não é a verdadeira política, ou ao menos não aquela fundamentada por seu significado semântico. O que os personagens efetuam em “The Ides of March” não é a ciência da política, de governar; é um jogo competitivo de invariáveis consequências emocionais, embora a maioria delas - senão todas - sejam reprimidas; enquanto isso, a teoricamente verdadeira política, aquela que nossos governantes devem executar quando estão no poder, é espremida aqui em forma de enunciados, promessas, de discursos chavões que todo tipo de candidato oferece quando sobe no palanque. E ainda que este filme proporcione uma realista e incisiva - se abstendo do ambiente artificialmente cínico - visão dos bastidores de uma campanha de um dos prováveis candidatos democrata à presidência dos EUA, “The Ides of March” é, na verdade, sobre o que é expelido de tudo isso: o delicado efeito dominó que se situa no interior de tal cenário; a hipocrisia e os instintos elementares que conduzem o mundo; e, mais importante, o grande tema do filme: a culpa reprimida. Em uma astuta sacada, os argumentistas do filme estabelecem aqui um inteligente, simpático democrata liberal como centro de toda a história, em vez de um óbvio republicano cínico de ideias reacionárias. Vivido por George Clooney, que também dirige o longa, o candidato Morris é um homem perito com as palavras e que sabe como apetecer as mentes progressivas com o que tem a dizer; na realidade, seu personagem é até bom demais para ser verdade, embora o roteiro jamais coloque em dúvida suas nobres ideologias, porque, claro, isso não é um filme óbvio “sobre” política, e o podre parte de outras direções. Entretanto, é fantástico como o roteiro ainda consegue introduzir um convincente contraponto nos discursos do democrata, que aqui e ali se revela um candidato com lustradas e sedutoras aspirações liberais, mas que de fato falha na tarefa de dizer como suas ideias podem ser traduzidas em ações práticas e funcionais. Mas Morris, de certa forma, é um coadjuvante no filme, pois o longa é dotado de outro interessante e bem mais ambíguo personagem, encarnado pelo excelente Ryan Gosling em uma memorável performance. O ator interpreta o diretor de comunicações da campanha de Morris, chamado Stephen Meyers, um jovem que diz acreditar nos ideais de seu chefe e que assume isso como a única razão para o qual desempenha seu trabalho - de uma maneira bastante eficiente, diga-se. Contudo, seja pelas controladas expressões cínicas de Gosling, pela forma como ele exprime seus diálogos ou pelo fato de que seu personagem realmente se encontrou com o diretor da campanha do candidato da oposição, Stephen nunca deixa de soar dúbio - e nós esperamos que venha dele, o personagem com maior tempo de tela, o grande podre prestes a explodir na narrativa. “The Ides of March”, porém, não é um filme sobre a culpa de um homem, mas sim sobre a culpa de vários homens e mulheres responsáveis por uma tragédia que emerge e é rapidamente suprimida pela forma como opera a política por trás da verdadeira política. Como mencionado no discurso de um personagem em um funeral; “...Um mundo onde todo erro é ampliado”. As razões para que todo erro seja ampliado todos sabemos: hipocrisia, poder, o zelo pela aparência em detrimento da transparência, e assim por diante. Clooney, por trás das câmeras, perfaz um filme realista no que tange o ambiente político e igualmente realista no que tange os temas emocionais de sua trama. Ele escolhe por expor o que todos sabemos de uma forma não-óbvia, e ainda faz com que seu filme funcione como um thriller absolutamente envolvente. Quanto ao seu dúbio protagonista, o longa demonstra mais um indicativo de sua qualidade, tornando o que era ambíguo em complexo, e nos fornecendo uma das retratações mais impressionantes do conflito emocional de um personagem em meio a um cenário como este.
“Insidious” é o exemplo perfeito de um terror tradicional arruinado pela mentalidade de um roteiro e de uma direção equivocadas e infectadas pela concepção moderna do conceito de “perturbação”. Propondo assustar o espectador e o envolver numa narrativa sombria, os realizadores do longa mais se preocupam com a forma dos estímulos imagéticos e sonoros de seu filme do que de fato com o conteúdo deles, ou até em construir uma trama coesa e bem trabalhada. A destruição do filme se dá aos poucos, gradativamente, conforme a história avança e, como de costume no gênero, suas raízes sobrenaturais se desabrocham. Durante todo seu primeiro ato, entretanto, “Insidious” é um filme até que decente. Ainda que bastante ordinário no uso dos elementos clássicos que permeiam as películas do tipo “casa mal assombrada”, o longa consegue reproduzi-los de forma eficiente e tensa, investindo numa fotografia de cor morta, puxado para o cinza, que estabelece um tom característico e pungente às imagens. Da mesma forma, a textura que remete a filmagens caseiras e os movimentos de câmera e cortes documentais surgem como reforços para que o filme passe uma impressão fresca e mais real. Tudo se inicia com os indícios de que um fenômeno poltergeist se manifestou no casarão para onde os personagens acabaram de se mudar. Habitada por uma família, formada pelos personagens de Rose Byrne, Patrick Wilson e seus três filhos, a casa é uma típica residência para abrigar tal evento. Além dos movimentos involuntários de objetos, portas e janelas da casa, a personagem de Byrne, Renai, passa a ter estranhas visões assim que o filho mais velho do casal entra em um repentino e misterioso coma. Eles mudam de casa, sem nenhum percalço, e logo no dia de mudanças Renai passa a perceber estranhar manifestações na nova residência, o que já atesta algo dedutível: de que isso não se tratava de um fenômeno poltergeist, e sim de alguma manifestação sobrenatural que envolvia o garoto. Mas ainda assim o filme precisava afirmar isso, ao trazer à nova casa uma dupla inapropriadamente cômica de caçadores de fantasmas que iniciam uma investigação em busca de atividades paranormais no lugar. Os seguindo, o filme também introduz a velha médium com poderes cognitivos que ajuda a explicar todo o mistério que ronda aquela família. A partir daí, o enigma é despido, e o filme entra em um processo absolutamente desinteressante que põe a perder todo o vigor, energia e tensão construídos até então. É revelado que o personagem de Wilson, Josh, possuía o mesmo problema do filho quando era criança - uma espécie de habilidade com projeção astral que quando executada, deixaria o corpo físico como um recipiente vazio, atraindo assim espíritos malignos e demoníacos. Apontado como o único capaz de salvar seu filho, Josh embarca numa passagem para uma dimensão espiritual que nos revela imagens estranhas e “perturbadoras”, destinadas apenas a causar a pura reação de assombro e susto no espectador. Para isso, o diretor dilui completamente sua abordagem técnica realista em benefício da experiência surreal de Josh, que dura um ato completo e jamais transmite qualquer sentido por trás daquela dimensão enevoada, repleta de figuras imóveis de traços idosos e pesada maquiagem e bonecos ventríloquos que existem apenas para assustar, e que eventualmente levam o personagem a resgatar seu filho. Não há sentido, nem místico, nem mitológico que explique a veneração do diretor pelas imagens que aqui vemos. Praticamente de um ato para o outro, o filme transita entre um interessante e eficiente clássico de terror para um exemplar do gênero que atira fora os fundamentos de sua mitologia e as implicações psicológicas sofridas pelos personagens (aliás, como puderam desaparecer com os dois outros filhos do casal após o primeiro ato?) para dar lugar à ação infantil, tola e estúpida que deveria nos causar calafrios. Não é à toa que o final do filme, concebido com a clara intenção de soar impactante, é absolutamente inconclusivo (o que para alguns vai parecer “ousado”), uma vez que concluir uma história como essa de modo a lhe conferir sentido iria requerer não só um reparo no fim, como também em todo o miolo do longa e na mentalidade de seus realizadores.
“Horrible Bosses” é dotado de uma fascinação cômica que raramente funciona. O filme nos oferece um cenário amoral, repleto de personagens cujas relações, pelo bem ou pelo mal, são fundadas em sentimentos e interesses condenáveis e nefastos. Os três amigos principais, Kurt, Nick e Dale, vividos, respectivamente, pelos ótimos Jason Sudeikis, Jason Bateman e Charlie Day, se conhecem desde colégio. Sabemos, então, que são amigos de longa data e que compartilham a raiva que possuem por seus abusivos e desprezíveis chefes. Embora tenham uma sólida amizade, o trio se ata durante a narrativa por outro motivo, o de matar seus chefes e encerrar de uma vez por todas a agonia e os abusos que sofrem no local de trabalho. A decisão que tomam frente a tal insatisfação é tão repreensível quanto os comportamentos de seus alvos. No entanto, o roteiro toma um cuidado especial para que os três amigos não pareçam arbitrariamente ruins e imorais como seus chefes. Ao conferir um fundo à amizade deles (mencionando que se conhecem desde o colegial), o roteiro nos permite enxergá-los como adultos imaturos que, ao menos quando estão juntos, ainda demonstram uma linguagem solta e rude, além de comportamentos estúpidos e irracionais que são remanescentes de seus idos tempos de colegial - algo que se contrasta inteligentemente com a postura consideravelmente madura e profissional que desempenham quando estão em seus empregos; traço que, inclusive, os fazem ainda mais tolerantes e vulneráveis diante da postura boçal daqueles a quem respondem. Por outro lado, os horríveis chefes são verdadeiros deleites cômicos justamente por dispensarem qualquer esboço de simpatia, dando ao seus interpretes, Kevin Spacey, Jennifer Aniston e Colin Farrell, uma oportunidade única para se divertirem na composição de tais criaturas irreais, tornando-as tão horríveis quanto o título do filme sugere, mas ainda assim lúdicas e preciosas para fins de humor negro. Bastam apenas algumas visitas ao trabalho dos personagens (e são poucas, considerando que o filme tem a maior parte de sua ação desenvolvida em outros cenários) para que se possa legitimar, diegeticamente, a escolha do assassinato como alternativa para cessar o conflito dos personagens principais. Mas é especialmente nas trocas de diálogos triviais, bem como nas impensáveis atitudes de seus protagonistas, que “Horrible Bosses” se revela eficaz na tarefa de arrancar risadas. Sudeikis, Bateman e Day exibem um entrosamento cômico exemplar; a troca de diálogos é hábil, com um ar de improvisação; e a camaradagem de um personagem com o outro é tão palpável quanto o egoísmo dos mesmos - algo que o roteiro reconhece sabiamente nos momentos mais oportunos, rendendo passagens impagáveis como aquela em que o trio se encontra na delegacia medindo os crimes que até então cometeram e tentando se safar (ao jogar a culpa no outro) da responsabilidade por tudo o que aconteceu. Além de ainda contar com personagens menores inspirados (como o ex-colega do trio vitimado pela crise econômica, e o ex-presidiário - e conselheiro de assassinato - vivido por Jamie Foxx), o filme ainda conta com algumas piadas recorrentes engraçadas e importantes para uma compreensão maior de seus personagens - e aqui, destaca-se especialmente a tendência azarada de Dale em se envolver em todo o tipo de negatividade envolvendo sexo. (O personagem faz parte da lista de agressores sexuais por ter urinado em um parquinho sem crianças (algo que realmente pode acontecer), além de ser vítima de abusos e até de estupro por parte de sua atraente chefe dentista - sofrimento que aos olhos de seus amigos jamais rivaliza com o que aguentam dos outros chefes). Os amigos acabam não matando ninguém, ao menos não de forma direta. Suas intenções jamais se materializam da forma como visionaram, e as repreensíveis peripécias dos três são regadas de momentos absolutamente hilários que mais residem nas consequências de suas inexperiências e da estupidez adolescente que possuem do que no resultado imoral que seus atos visam. E no final, não há nenhuma moral pra combater a amoralidade, há apenas um personagem fazendo o que ele gostaria de fazer desde o início, só que de uma forma menos reprovável, já que simplesmente não conseguiu por meio do assassinato.
Os Lanternas Verdes são icônicos; possuem símbolos, totens, uniformes, valores e estão por todos os lugares, por todo o universo, compreendendo toda a bizarra coleção de criaturas intergalácticas concebidas pela mente de seus criadores. Basicamente, os Lanternas Verdes são um produto de propaganda, que tenta convencer e que raramente recompensa com algo de valor. Em “Green Lantern”, o filme, tudo o que nós vemos é a divulgação, o básico, o plano. As complexidades do universo revestido pelos Lanternas Verdes - estas sim, interessantes em conceito e que já renderam boas histórias em outras mídias -, são rebaixadas ao geral, ao convencional, ao puramente introdutório, com todos os seus dizeres morais e a veneração em torno de seus símbolos, descartando absolutamente aquilo que realmente envolve e torna este universo decente e interessante. Hal Jordan, o Lanterna Verde humano, possui todo o charme e o carisma de seu interprete, o engraçado Ryan Reynolds, que aqui se esforça ao máximo para tornar o personagem no mínimo agradável, vertendo para o lado cômico e ingênuo que ao menos rende algumas risadas. Pois Hal é aquele herói com embalagem bonita (musculoso, sedutor) e morais e sentimentos arranhados. O roteiro, ao moldar as sementes dramáticas do personagem, opta pelo genérico. Quando criança, Hal viu seu pai morrer na explosão de sua aeronave. Anos mais tarde, o garoto é também um piloto, mas um imprudente, irresponsável e, sem que todos possam notar, medroso. Isso, claro, vai de encontro com todo o compromisso exigido pelo anel, que enxergando neste ser humano imperfeito algo de aproveitável, o escolhe como primeiro Lanterna Verde da Terra. Tudo o que acontece adiante é fácil de presumir. Para um filme que lida com uma mitologia tão fantástica, repleta de conceitos a serem introduzidos, entendidos e desenvolvidos, “Green Lantern” é um longa demasiadamente comum, batido, convencional. Os diálogos são encomendados em forma de discursos morais, por mínimos que sejam. As intempéries do personagem se rendem a ocorrências formulaicas e clichês. E enquanto isso tudo se desenvolve, Hal Jordan tem de resolver sua crise interna, um duelo pessoal entre a vontade e o medo (inspirado pela ideologia do compromisso que lhe fora designado), e decidir mudar, para eventualmente salvar o mundo. Não, o universo inteiro. “Green Lantern” tem um vilão. Este é uma entidade cósmica chamada Parallax, que se alimenta do medo de todos os seres do universo, assim como a energia verde se alimenta da vontade dos mesmos. Mas é claro que, embora esta curiosa entidade seja a essência maléfica de toda a narrativa, um filme formulaico como este não poderia recusar um vilão terreno, unidimensional e caricato como o nerd incompreendido pelo pai que é infectado pela energia amarela de Parallax e se transforma numa aberração patética e risível - que logo é aniquilada sem ressentimentos. Em certo momento de “Green Lantern”, Hal Jordan, depois de resolver seus problemas internos na Terra, volta para o lar dos Lanternas a fim de convencê-los de como lutar contra a energia que os ameaça. Para isso, o protagonista profere um discurso aparentemente humilde e corajoso, mas que não deixa de soar arrogante e egocêntrico, como se as particularidades humanas de Hal oferecessem toda a perícia e aptidão moral necessária para combater a ameaça mor do universo. Há, aqui, um esforço do roteiro em defender, ainda que de modo recatado, a importância humana, no intuito de conferir a Hal uma saliência maior frente a todas as outras criaturas do universo. Não me surpreende que um dos motivos maiores do filme seja ser categórico, básico e simplista. Vontade versus medo; tudo se resume a isso. Disso é extraído a cura para os problemas do protagonista e para os de todo o universo. Eu sinto como se o filme quisesse me vender ideias batidas em um pacote interessante e sedutor, como nas propagandas. “Green Lantern” (o filme, em específico), afinal, não convence, e tampouco recompensa pelo aborrecimento alastrado por sua narrativa e o vazio deixado por seu final. É, como muitos produtos, absolutamente descartável.
Eu não sou muito versado em animações. Das feitas para o cinema, conferi um número significativamente baixo de produções animadas, a maioria delas norte-americanas. Se tratando de animações japonesas, o que me vem em mente são os velhos animes que costumava acompanhar descompromissadamente (ou ao menos de forma menos sistemática e crítica) quando criança - e me lembro que apesar de ter gostado de muitas produções televisivas animadas norte-americanas, era fascinado especialmente pelos animes orientais, talvez pela forma como combinavam o humor fácil e caricato de desenhos clássicos com temas e gráficos mais ousados e maduros, ainda que o alvo demográfico não deixasse de ser o público infantil, o que, em retrospecto, explica o porquê de achar algumas séries animadas de minha infância tão pueris e aborrecidas. Sim, elas eram mais maduras, mas costumavam ser, narrativamente falando, de um terrível mau gosto.
Assistir a “Take Me Home Tonight” é com assistir a uma folha de papel ser impressa em outra folha por meio de papel carbono: a impressão nunca é perfeita, embora seja mais do que justo ressaltar que um papel químico oferece um desempenho muito mais satisfatório do que este filme do diretor Michael Dowse. Se revelando como uma comédia sem graça que limita seu humor ao comportamento estúpido de seus personagens e a situações manjadas, o longa ainda tenta se lançar como um drama - algo que nunca é equilibrado de forma destra e que, reforçando a analogia, é também como um papel carbono, copiando de outros filmes coisas que já vimos antes, só que de uma forma totalmente precária e que, em detrimento das reações e emoções que o filme deseja despertar no espectador, apenas se faz constrangedor e desprezível. O principal lema que a trama de “Take Me Home Tonight” tenta colar é a de que devemos fazer e não pensar. Tal sentença deriva do problema de seus personagens, todos estagnados em vidinhas que não lhes apetecem ou orgulham, embora ainda se confortem com elas, por medo de “fazer”, quando preferem “pensar”. Na verdade, o que o filme nos mostra é algo completamente oposto a isto, fazendo da relação entre personagens e temática incongruente: eles são estúpidos, agem por impulso e não parecem ter noção do peso de suas ações. Para o roteiro, a mentira que o protagonista conta para sua paixonite dos idos tempos de colegial, a fim de ganhar seu interesse, é o maior sinal de fraqueza possível. Pense comigo: o protagonista vivido por Topher Grace, Matt, rouba um carro com seu amigo para que pudesse impressionar sua paquera (até se vangloriando do ato pouco depois), mas quando deve revelar a ela algo importante sobre si mesmo, após o consumado sexo, ele apenas confessa que trabalha em uma locadora de vídeos e não na Goldman Sachs, como tinha antes afirmado. A garota se sente ofendida, reagindo da forma mais mecânica e clichê possível, contestando sua honestidade. Ao final, Matt tenta provar sua virilidade e sua coragem ao fazer algo que põe sua vida em risco, e quando sai ileso da situação também se vangloria daquilo, para a aprovação da garota, que levando em conta seu pedido de piedade em forma de discurso clichê pouco antes da execução do ato de tolice, acaba perdoando-o e dando a ele seu número de telefone. Mesmo se achando tão boa para perdoar logo de cara alguém que mente sobre sua profissão, e mesmo tendo um gosto por demonstrações de valor idiotas, a garota de Matt deixaria mesmo passar a questão do carro roubado? Talvez sim, já que até o pai do protagonista - e policial - não repreende tanto o garoto, incentivando-o a fazer mais coisas impulsivas. É muito provável que “Take Me Home Tonight”, ao investir tanto nas loucuras desproporcionais de seus personagens, queira apenas arrancar algumas risadas. Personagens fazendo coisas tolas e estúpidas só pra ganharem nosso riso é um golpe muito baixo, mas que funciona quando a estupidez é tratada como algo patológico, como parte consistente de uma personalidade, ou ao menos quando é dado um bom motivo externo para ela se manifestar. Mas aqui isso não acontece: o personagem de Dan Fogler parece ser impetuoso e irracional apenas porque sua persona cômica muito lembra a de Zach Galifianakis: suas tolices nunca convencem, e o personagem não encontra um eixo na trama; existe apenas pela finalidade de nos oferecer um humor mais “ousado”, mas que só oferece situações cômicas batidas e reproduzidas no filme de forma totalmente gratuita - como seu envolvimento com drogas, uma disputa de dança e um sexo a três. Ainda se revelando pontualmente constrangedor (como na expectativa construída em torno do beijo entre o protagonista e a mocinha) e absolutamente piegas em suas cenas mais dramáticas (vide o próprio drama de Matt e de sua irmã), “Take Me Home Tonight” é um desastre repetitivo, clichê, inconsistente e que se distingue apenas por uma coisa: em vez de oferecer uma resolução para o arco dos personagens que por pior que seja ao menos trate de “consertá-los”, prefere exaltar e perpetuar a estupidez deles como resolução de seus problemas - ignorando que a estupidez é a própria causa dos piores comportamentos que os personagens têm durante o filme.
Margin Call - O Dia Antes do Fim, assim como o subtítulo nacional já anuncia, desenvolve sua narrativa a 24 horas da crise econômica de 2008 explodir para todo o mundo. O longa nos situa dentro de um banco de investimentos financeiros claramente inspirado no Lehman Brothers, uma das principais empresas bancárias a ser afetada pela crise na época. Assim sendo, o filme não nos oferece a explosão; retém-se a um dia dela e nos confidencia a implosão, aquela que se deu primeiro e que afetou internamente os responsáveis por causá-la.
Os Smurfs são criaturinhas adoráveis que possuem um mundo próprio. Um mundo repleto de azul, um elemento de cor do nosso mundo, que para essas mágicas criaturas é o grande elemento, a quintessência que define o tom de suas peles e o tom de todo o resto de seu universo, sem falar que “azul” é também uma palavra de significado vago (um verbo e também um adjetivo) presente em praticamente todas as frases que pronunciam. Dito isso, a possibilidade de integrar tais criaturas (no filme animadas por computador) em nosso mundo (com figuras em carne e osso) é fascinante, pois revela um interessante conjunto de gags e trocadilhos pra serem trabalhados, e a quase alienígena experiência de receber criaturas tão mágicas e inconcebíveis em nosso lar, no mundo real. E é curioso como o filme trabalha isso, de fato estabelecendo um mundo real ao inserir os personagens Smurfs em uma realidade onde eles realmente são figuras fictícias criadas por Peyo. Além disso, o filme lança mão de muitos anúncios publicitários, e o diretor os usa de modo esperto a fim de criar algumas gags engraçadas, como quando os Smurfs se colocam em frente de um anuncio de um show do Blue Man Group, ou quando são visto à frente de um anuncio de Blu-rays. Outras vezes, porém, a publicidade é somente gratuita, embora possa reforçar a “realidade” de mundo - como quando uma peça de videogame da marca Yamaha é exibida em uma montagem musical igualmente gratuita. O choque entre as criaturas Smurfs e as criaturas de nossa realidade permanece interessante por algum tempo, mas se dilui rapidamente, pois este não é um filme interessado em mudar a maneira como longas do tipo são feitos. “The Smurfs” quer apenas ser um filme, como qualquer outro do gênero, mas um com Smurfs entre seus personagens. Portanto, tudo o que nos resta são as personalidades de cada Smurf e as piadas extraídas disso. Cada um deles possui uma personalidade definida, e que também os dá nome. (Eles são nomeados assim que nascem ou conforme suas características depois que crescem? Alguém de fato faz essa pergunta no filme, mas nós não recebemos a resposta, pois seria ainda mais inconsequente se questões tão mitológicas fossem exploradas, embora talvez pudesse render um filme mais interessante). Nós também temos dois protagonistas humanos que acidentalmente assumem a responsabilidade pelos Smurfs, conforme as criaturas fazem de suas vidas uma loucura mas também algo mais doce. O paralelo criado entre o Papai Smurf e o futuro papai do filme (Patrick Harris) é tão óbvio que resulta apenas em cenas piegas e num desenvolvimento frouxo dos personagens humanos. Enquanto “The Smurfs” dispõe de inúmeros conflitos convencionais, ao mesmo tempo carece dos mesmos conflitos, uma vez que estes já nascem tão gastos que nós podemos facilmente deduzir suas resoluções, e portanto dificilmente virarmos nossa atenção para suas qualidades “conflitantes”. Ignorando completamente este fator, tudo o que sobra são as pequenas piadas, gags visuais e a maior coisa que salva o longa do total aborrecimento: seu vilão, o feiticeiro Gargamel. Enquanto não confere a Gargamel nenhum senso de profundidade ou razão por trás de seus atos vilanescos contra os Smurfs, o filme sobrepõe esse defeito ao caçoar do vilão e meramente assumir que ele é o vilão e ponto final. Mas é mesmo a impressionante e incrivelmente divertida e engraçada composição de Gargamel pelo ator Hank Azaria que faz cada cena com o personagem valer a pena, embora toda as sequências dedicadas à figura soem mais como um “vamos-mostrar-o-que-o-vilão-está-fazendo-por-alguns-segundos”. No entanto, é também justo conceder créditos ao roteiro no sentido de permitir ao personagem ser ridiculamente malvado, consciente de suas imperfeições e ao mesmo tempo muito ingênuo diante delas, além de eventualmente se tornar a base de muitas boas piadas. Entre algumas banais sequências de ação e uma narrativa deplorável, “The Smurfs” ajuda a perpetuar o tipo de filme que é: comum, não inventivo e que apenas vale em diminutos e isolados momentos. Mas os Smurfs são adoráveis; eles são azuis e agem de forma doce. E é esse tipo de coisa que os realizadores do filme sabem que o público engolirá; e assim eles fazem não um filme com erros, mas um filme naturalmente errado, porque eles pensam que um filme banal recheado de Smurfs é o suficiente - e eles estão certos, de certa maneira.
Além de Jim Carrey, não há outro ator mais afável, carismático e simpático do que Tom Hanks. Ele é um verdadeiro conquistador, ele pode cativar o espectador como poucos, não importa o personagem que represente. Em filmes ruins ou abaixo da média, a presença de atores como Carrey e Hanks acabam se revelando compensatórias apesar da má qualidade de toda a obra; e quando se envolvem em produções boas, geralmente são os maiores responsáveis pelo sucesso delas. “Larry Crowne”, filme protagonizado, co-escrito e dirigido por Hanks, é um longa abaixo da média. Mas a presença de Hanks no papel do personagem título faz a diferença, transformando o que era pra ser um filme ruim e aborrecido em algo ao menos simpático, ainda que, sem dúvidas, ruim. Todo o filme gira em torno de pessoas boas, com alguns problemas momentâneos em suas vidas. Seus problemas são comuns: Larry, o protagonista, é demitido de uma loja de departamentos após anos de trabalho diligente, apenas porque não possuía uma graduação, o que o força a reaver sua vida financeira e ingressar em um curso superior. Sua professora, interpretada por Julia Roberts, oscila entre expressões de tédio e desgosto, tanto diante de sua classe de oratória quanto em casa, onde atura um casamento insatisfatório com um escritor/blogueiro que passa as tardes apreciando pornografia no computador. Seus problemas são universais, comuns, e isso já deveria ser o bastante para nos identificarmos com eles em algum grau; são também problemas consertáveis, como o filme nos faz acreditar. É basicamente uma história sobre mudanças e aprimoramentos que fazemos (individual ou em conjunto) para que possamos seguir em frente de uma maneira melhor. Não à toa, o longa assume um tom leve e cômico, que realmente não se esforça para que possamos enxergar seus personagens para além do que meramente são diante das câmeras - todos são bons, simpáticos e bem humorados, e isso, para o filme, é julgado com o bastante. Por outro lado, o longa se esforça para arrancar risadas de pequenos momentos constrangedores que se revelam tão fracos e sem inspiração que causam mais vergonha em quem assiste do que nos próprios personagens. Da mesma forma, a boba tensão criada entre Crowne e o namorado de sua nova amiga de classe serve apenas ao propósito cômico, embora inicialmente dê indícios de que poderá ser mais do que isso, apenas para o filme executar uma reviravolta convencional e aproximar Crowne de sua professora, que imediatamente se apaixonam - não porque faz sentido, apenas porque Tom Hanks e Julia Roberts não poderiam terminar o filme sem ficarem juntos e se revelarem como a solução para o problema do outro; e porque não há espaço para maldade no filme, de modo que todo o casinho que ele poderia ter com sua amiga seja resolvido no bom humor. A narrativa de “Larry Crowne”, além de convencional, ainda se mostra incrivelmente burocrática: é só notarmos, por exemplo, como o filme organiza as aulas de oratória da personagem de Roberts e as de economia do personagem de Takei viciosamente, nunca encontrando outro espaço para desenvolver seus personagens, mesmo que boa parte das cenas nas aulas de economia sejam dispensáveis e valham apenas por algumas piadinhas. Carismático Hanks é, a ponto até de compensar pela falta de carisma da personagem superficial de Roberts. Aliás, pode-se dizer com segurança que todos os personagens de “Larry Crowne” são superficiais, e o filme parece se contentar com isso. É por isso que escalar (ou se auto-escalar, neste caso) Hanks em um filme como este é certeiro para que possamos aturar essa obra esquecível e ao menos dizer: “Olha, como Tom Hanks é simpático e divertido. Adoro esse cara!”.
Possuidor de interessantes qualidades, Ganhar ou Ganhar - A Vida é um Jogo é o tipo de filme que vez ou outra durante o curso de sua narrativa nos faz perguntar o que, afinal, sua história quer atingir. Dono de um enredo de notável simplicidade e de personagens idem, o filme se compromete com um retrato autêntico tanto em termos de personagens quanto de tom narrativo - que revela-se simultaneamente sério e leve, o que possibilita a inclusão de cenas e personagens mais bem-humoradas sem abandonar a naturalidade de sua trama. E embora tenha seus pontos fracos, Ganhar ou Ganhar ainda deixa uma impressão positiva em seu final, que talvez nos dê mais indicações do que, afinal, a história do filme quer atingir - e reconhecendo o que a história quer atingir, digo que sim, ela de fato atingiu.
Conan O’Brien é um cara extremamente cativante. Ele começou como um roteirista do humorístico Saturday Night Live, escrevendo e participando de pontuais esquetes do programa; passou três temporadas roteirizando para o seriado The Simpsons e finalmente substituiu David Letterman como apresentador do Late Night da NBC (o talk-show número dois da emissora) depois da aposentadoria do lendário Johnny Carson, que deu lugar a Jay Leno, para a insatisfação de Letterman que rumou direto para a CBS. Alto e de estranha aparência ruivo-irlandesa, O’Brien é um palhaço; ele efetua imitações de poucos segundos, emprega exagero ao emitir uma piada previsível e é ocasionalmente genial na composição de suas piadas e trocadilhos, além de colocar seu físico desconjuntado totalmente em prova ao desempenhar suas rotinas de humor físico e sua incessante sede por entreter - um conjunto de características que nas palavras de Conan O’Brien se reduzem apenas a “divertir”; conceito suficiente o bastante para conquistar o público médio, os entusiastas e profissionais da comédia e os críticos televisivos. Em “Conan O’Brien Can’t Stop” nós acompanhamos a jornada do comediante após deixar o Tonight Show, a mais conceituada franquia televisiva norte-americana que O’Brien conquistou de Jay Leno após quatro anos de espera, para perder em apenas cinco meses. Os arranjos de programação da emissora e a passividade de Leno fizeram com que Conan não aceitasse continuar à frente de seu bem-sucedido programa. Ao deixar a emissora, Conan recebeu cerca de 40 milhões de dólares - quantia que embora muito recompensadora financeiramente, parece não ter feito a diferença para o Conan artista, o Conan palhaço, aquele que não consegue parar, nem mesmo quando é contratualmente impedido de aparecer na televisão, rádio ou internet por sete meses. Sua solução? Aparecer ao vivo, para uma platéia, assim como fazia na televisão, com a diferença de que as únicas câmeras agora seriam as do público e a da equipe deste documentário, que nos confidencia O’Brien em momentos antes e depois do palco, nos dando breves vislumbres de seus shows e principalmente de seus momentos íntimos com sua equipe de roteiristas, seu companheiro de performances Andy Richter e sua assistente Sona Movsesian. Rodman Flender, o diretor do filme, bem como o próprio O’Brien, deixam as coisas transparentes, francas. Conan não se acanha diante da presença íntima da câmera, e Flender não hesita em registrar, por exemplo, a insatisfação do protagonista com a exaustiva atenção que insiste em dar aos fãs (tanto antes quanto depois de seus já exaustivos shows); incômodo que em alguns momentos leva o comediante a culpar sua equipe por permitir tantas pessoas em seu camarim, enquanto noutros o leva a revelar sua própria natureza atenciosa para aqueles que o prestigiam, insistindo, por exemplo, em saldar os fãs e conceder alguns autógrafos mesmo quando aconselhado a não fazer isso e no fundo pouco disposto para tal atividade. Apesar de tudo isso, o Conan O’Brien que vemos neste documentário jamais deixa de ser aquele cara extremamente cativante de quem falei acima; ele é naturalmente engraçado com aqueles ao seu redor; quando faz exigências ou demonstra insatisfação com algo, o faz de forma engraçada, irônica, tirando sarro, contando uma piada - mesmo que seja notável a diferença entre o Conan no palco e o Conan nos bastidores, permitindo assim com que enxerguemos uma figura humana e por isso mesmo ainda mais fascinante do que costuma ser quando vista dos palcos ou da televisão. Conan O’Brien possui uma qualidade que corre em suas veias: a de fazer aquilo que gosta, para grandes públicos ou pequenos públicos. Ele sente a necessidade de organizar tudo aquilo que naturalmente vibra em sua pessoa e transmitir - seja na forma de shows ao vivo, esquetes, episódios, entrevistas ou monólogos de talk-shows - aquilo que podemos facilmente identificar em sua essência: a diversão. Uma que conquista a todos, e que faz de O’Brien um artista indispensável e que por isso mesmo não pode, nunca, parar.
Alguns anos antes de conquistar a Palma de Ouro no Festival de Cannes por seu divisor de opiniões Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, o diretor Apichatpong Weerasethakul (ou apenas Joe, com pode ser facilmente chamado no ocidente) realizou o filme Eternamente Sua, seu segundo longa-metragem e primeiro a ser notavelmente aplaudido pelas esquinas do “cinema arte”. Não é minha intenção entrar aqui na discussão sobre o cinema de Joe ser mais “arte” do que outros; para mim isso não importa. Se de um lado defendem que este seu filme em questão é uma experiência subversiva e transcendental, do outro há aqueles que até encontram dificuldades em considerá-lo como um “filme” ou como possuidor de uma “estória”. Mas Eternamente Sua não é nada dessas duas coisas (talvez um pouco da primeira, confesso). Não é mais arte do que, digamos, um A Origem, porém tampouco pode ser desconsiderado como obra fílmica tal como, por exemplo, um Jackass. Eternamente Sua é apenas um filme diferente. E um muito bom.
Em Eu Matei a Minhã Mãe, o debute cinematográfico do jovem canadense Xavier Dolan (que escreveu, dirigiu e estrelou o filme quando tinha 19 anos de idade), o prodígio cineasta concebeu um autêntico e exaustivo retrato do relacionamento conturbado entre uma mãe e um filho, que ressaltava, acima de tudo, a volubilidade de sentimentos e a forma instável como estes são expressos em uma relação do tipo. Já neste seu segundo filme, o igualmente eficaz Amores Imaginários, Dolan mais uma vez pinta um retrato corrosivo, mas desta vez sobre relacionamentos amorosos - ou, como melhor poderíamos dizer, sobre paixões e obsessões amorosas que jamais se consumam de verdade, e cujo principal ressalte temático reside não na volubilidade antes comentada pelo cineasta, mas no aspecto circular dos chamados amores imaginários.
É muito difícil se importar com um filme como “30 Minutes or Less” depois de assisti-lo. Não é o tipo de filme que permanece na sua memória. Na verdade, em certo ponto da narrativa, você até torce para que a trama do longa mova-se mais rápido para que tudo aquilo termine logo e você possa definitivamente esquecer o que viu. A comédia não é ofensiva, aborrecida e nem chega a ser tão terrível, mas as poucas risadas que produz não compensam por seu vazio, que se faz presente tanto durante quanto depois do filme acabar. “30 Minutes or Less”, apesar de tudo, possui um elenco bastante atraente: Jesse Eisenberg e seu estilo frenético de pronunciar falas é divertido à sua maneira; Aziz Ansari, por sua vez, é escalado em um papel ideal para sua persona cômica; bem como Danny McBride, que por sempre interpretar tipos impudicos e boçais conquistou a antipatia de muitas pessoas, mas é, sem dúvida, o melhor ator para representar um papel desse tipo. Ainda contando com a presença do sempre interessante Michael Peña, que aqui, no entanto, não surge tão divertido, o filme ao menos possui uma aparência bonita, um elenco chamativo. Mas mesmo que seus atores passem pelo teste de aprovação, seus personagens é que são difíceis de engolir. Todos eles, com exceção de um ou outro menos importante, são criminosos sem nuances, o que acaba suprimindo as chances de desenvolvermos qualquer simpatia por suas figuras. A dupla encarnada por Eisenberg e Ansari, os amigos Nick e Dwayne, a princípio, não são criminosos, mas eventualmente - e obrigatoriamente - se tornam como tais. E por incrível que pareça, a situação em que se encontram - forçados a assaltarem um banco para dois sujeitos que precisam de cem mil dólares - não isentam o rótulo negativo que assumem, uma vez que apesar de desesperados com a situação e teoricamente vítimas dela, até desenvolvem certo prazer ao executarem as inúmeras atividades criminosas ao longo do caminho. Eles não se sentem infortunados com a circunstância em que se metem mais do que se sentem determinados a cumprir a missão; ao mesmo tempo, também parecem não se importar com a discrição, já que são extravagantes e descuidados, e ao invés de usarem o limitado tempo que possuem para cumprirem a tarefa criminosa ou pensarem em um jeito de se safarem seguramente daquilo (sério, poderia imaginar muitas alternativas enquanto assistia), o gastam com coisas estúpidas como gritar na cara do chefe, se despedir da garota amada ou ainda se engajarem em intermináveis discussões triviais, que são obviamente inseridas no filme com a finalidade de parecerem engraçadas, ainda expondo a negligência e estupidez dos personagens como traços cômicos - algo que apenas arranca algumas risadas e ajuda a aumentar nossa descrença diante de suas figuras. A sequência mais engraçada de todo o filme, e que em tese seria a principal, mas que acaba não sendo, é o assalto ao banco. Para se roubar um lugar daqueles é preciso de estratégia, ou no mínimo experiência. Não é qualquer um que consegue se virar e assaltar um banco, e por isso a cena é engraçada, porque ali não eram suas personalidades tolas em ação, e sim inexperientes. Os arcos narrativos desenvolvidos pelo roteiro são todos rasos, mas para um filme de comédia deste naipe poderia muito bem render uma narrativa boa e conferir mais nuances aos personagens, mas isso não acontece em “30 Minutes or Less”. Nick gosta da irmã de seu amigo e quer ter um relacionamento com ela, porém Dwayne não aprova, mas ele, um professor substituto, aprova assaltar um banco com o parceiro sob a condição de que ele nunca mais veja ou fale com sua irmã (dá pra acreditar?!). O último ato do filme é o menos inspirado; vários conflitos são iniciados (alguns de forma forçada, como aquele entre o assassino feito por Peña e o personagem de McBride) e o desfecho se dá em um mesmo local, quando todos os personagens se reúnem (típico) e onde os supostos heróis (os vitimados pela situação) saem ganhando - a não ser por uma gag engraçadinha no final do filme que contraria isso. Funcionando apenas por uma ou outra piada e falhando em estabelecer qualquer simpatia entre personagens e espectador, de que outra forma “30 Minutes or Less” pode prestar?
Quando visualizamos Will Ferrell no papel de um personagem que tem sua vida arruinada e passa a viver no gramado de sua casa por vários dias consecutivos, pensamos especificamente que essa situação será no mínimo lúdica e no máximo muito engraçada. Não que não seja divertido acompanhar a rotina de um cara que vive em seu gramado, com todas as suas coisas espalhadas pelo local, e não que Pronto Para Recomeçar não seja engraçado em momentos modestos e ocasionais, mas é que nada disso é tão interessante neste filme quanto o que há por trás de sua premissa. Pois Pronto Para Recomeçar, longa de estreia do diretor e roteirista Dan Rush, revela-se como um poderoso drama, com bons personagens e uma baita demonstração do que Will Ferrell pode extrair de um papel mais dramático.
“Habemus Papam” é certamente um filme curioso. Desinteressado em articular qualquer tipo de comentário sobre as controversas da Igreja Católica e sua inerente religiosidade em si, o diretor e também ator do filme Nanni Moretti prefere explorar as figuras de sua trama, os cardeais papáveis e o próprio Papa, de uma maneira mais humana, sem julgamentos e até bem humorada. Aliás, é sensato dizer que “Habemus Papam” funciona muito mais como uma comédia do que como um drama, embora nunca deixe de ser interessante a proposta do diretor em se abster das enredadas polêmicas religiosas que cercam o Vaticano e toda a Igreja e tratar seus personagens primariamente como indivíduos humanos. No entanto, o que seria uma oportunidade e tanto para abordar esse mundo sobre um outro prisma, acaba por se mostrar consideravelmente decepcionante, já que a narrativa do filme é desequilibrada, frágil e nunca se resolve. As gags que o diretor concebe, por exemplo, são impagáveis. Muito do humor do filme reside no fato de presenciarmos as figuras religiosas fazendo e dizendo coisas ou passando por situações incomuns que dificilmente as veríamos fazer/falar - e nesse sentido é de suma importância o cuidado com que o diretor emprega a inusitada comédia dentro do respeitado e sacrossanto Palácio do Vaticano, calibrando o absurdo com o moderado e jamais usando a profanação - uma vertente fácil para se produzir humor com esse tema - como catalisador do riso. O filme faz um bom uso do humor cotidiano e coletivo dos cardeais para dar forma à sua camada cômica. Embasando-se nas possibilidades cotidianas, por exemplo, Nanni Moretti cria hilários momentos como o que precede o conclave para a eleição de um novo Papa, quando um inesperado blecaute ocorre e os cardeais ficam sem luz e impossibilitados de acender velas, já que estas são proibidas no local; e também não deixa de registrar uma piada envolvendo a confusão dos repórteres de plantão na Praça São Pedro com a cor da fumaça responsável por comunicar a eleição de um novo Papa. Por sua vez, o humor coletivo é uma manifestação recorrente no filme, já que o roteiro não retrata nenhum dos cardeais de modo particularmente engraçado, embora cada um tenha sua personalidade bem definida. Em vez disso, o longa busca o que pode surgir de engraçado de suas interações, e assim consegue criar inusitados e lúdicos momentos de humor, entre eles os dois que se dão durante a votação - o das canetas e o do acumulo de pensamentos dos cardeais que suplicam para não serem os escolhidos para o cargo -; passando pela “sessão” de terapia do Papa; além das sequências onde os cardeais se embalam com a música que o suposto Pontífice estava ouvindo e em que participam do torneio de vôlei organizado pelo psicanalista responsável por tratar do novo Papa. Por falar no psicanalista, que é interpretado por Nanni Moretti, este é introduzido na trama para resolver o problema psicológico do recém eleito Papa, que desenvolve um repentino estado de depressão e insegurança após ser escolhido como novo representante da Igreja. O personagem de Moretti ajuda na construção de alguns momentos de humor, mas sua presença acaba perdendo o sentido inicial (além de carecer de um desfecho) - afinal, se sua confinação no Palácio do Vaticano era tão crucial, devido ao possível vazamento de segredos que ele poderia promover se fosse liberado, qual a razão ilógica (e muito mal explicada no filme, diga-se) de levar o Papa para se tratar com sua ex-mulher, que também é psicanalista? Só pode haver mesmo uma razão: conceder ao Papa Melville uma chance de sair do confinamento e fugir para uma viajem de descobrimento pela cidade de Roma, onde revive seus desejos pelo teatro e basicamente apenas anda, anda e anda pela cidade - algo que consome praticamente metade do filme e se mostra completamente artificial e ineficiente na tarefa de dramatizar a situação do Papa, embora o personagem ainda conquiste olhares cativados devido a ótima atuação de Michel Piccoli. Reforçando ainda mais a fragilidade com que executa o drama principal de sua narrativa, o desfecho não nos diz nada, apenas coloca um ponto final inócuo e inconcluso no que foi desenvolvido, ainda que pudesse ter mais impacto se todo o drama do filme fosse mais bem trabalhado e equilibrado com sua comédia. E mesmo que o intuito de todo o longa, tanto no aspecto cômico quanto no dramático, seja interessante e único, ele só compensa mesmo por um deles.
Reencontrando a Felicidade
3.5 622O filme "Reencontrando a Felicidade" foi nomeado para 2 categorias no Prêmio Lumi7. Confira mais nomeações e os PRÊMIOS dados aos participantes:
Um Sonho de Amor
3.5 180"Um Sonho de Amor" foi indicado para 1 categoria no Prêmio Lumi7. Confira a premiação e os PRÊMIOS dados aos participantes:
Origem Secreta: A História da DC Comics
4.3 55Narrado por Ryan Reynolds, este Origem Secreta: A História da DC Comics acaba se revelando como um documentário interessante, envolvente e curioso até para os não entusiastas da mídia de histórias em quadrinhos. A obra faz um levantamento geral sobre a criação deste importante suporte artístico e as influências que provocou em outros formatos midiáticos - como a televisão e o cinema -, além de também tratar do contexto histórico inerente às histórias impressas, comentando o fato de que as famosas aventuras de seus personagens serviam como espelho da sociedade ao mesmo tempo em que atuavam como um espelho para a sociedade, na criação de heróis, anti-heróis e vilões que surgiam e se desenvolviam conforme as aspirações de uma época e as esperanças e sonhos que seus leitores cultivavam.
Leia a crítica completa no Lumi7:
Super 8
3.6 2,5K Assista AgoraDizer que “Super 8” é uma obra nostálgica já é cair no lugar comum. Esta nova realização de J.J. Abrams tem um propósito recordativo notável; e ainda que seu filme fique aquém dos grandes clássicos que emula, cumpre perfeitamente seu papel e constrói uma narrativa divertida e envolvente que, além de evocativa, dispõe de alguns momentos memoráveis e ainda clama, em suas entrelinhas, pelo resgate de um tipo de cinema consagrado e caracterizado nos idos anos oitenta. Ainda assim, pode parecer que o longa queira, além de homenagear, também rivalizar com as produções que o inspiram. A influência mais clara, e que se manifesta de forma visual (algumas vezes) e principalmente temática é a obra-prima de Spielberg “E.T.: The Extra-Terrestrial”. O que faz de “Super 8” um filme (muito) aquém desta obra é especialmente seu subtexto, que aqui recicla o daquele filme de modo bem menos impactante e central. Mas se isso enfraquece o longa em comparação (algo um tanto quanto injusto, embora pertinente neste caso), o fortifica quando analisado sozinho, já que “Super 8”, em sua individualidade, parece se comunicar com aqueles filmes, interagir com aquelas tradições aventurescas oitentistas e assim se estabelecer como um suspiro clássico no presente, ainda que permaneça tão firme em seu propósito meramente evocativo e emulativo. Além de se instalar num período mais do que apropriado (final dos anos setenta, começo dos anos oitenta), “Super 8” acerta logo na concepção do miolo de personagens, um grupo de crianças em busca da realização de um filme curta-metragem sobre zumbis. A dinâmica do grupo gira em torno deste objetivo, a princípio; e o roteiro confere a cada um deles personalidades distintas que, assim como, por exemplo, “The Goonies”, os retratam não apenas como uma unidade, mas também como um conjunto de indivíduos que podem ser distinguidos separadamente e cujos valores individuais podem ser somados às aventuras do grupo como um todo. Os adultos, por suas vezes, são aqui reduzidos a muletas emocionais, costumeiramente obstruindo os jovens personagens em suas ações, porém não os impedindo por completo de realizá-las, além de - o mais importante - não os auxiliando (diretamente, ao menos) na tarefa de alcançarem os objetivos que dão corda às suas peripécias. Os jovens de “Super 8” estão por si só, e o longa resgata o tema do empoderamento das crianças, que mesmo em um mundo mais caótico do que o nosso (leia-se: “povoado por ameaças militares iminentes e um monstro alienígena”), conseguem ser mais destemidas e suficientes do que os adultos e do que o permitido a elas na realidade. Já no tratamento da mitologia, J.J. Abrams reproduz um método eficiente que Spielberg empregou em “Jaws” e que ele mesmo repetiu em produções de sua assinatura, como o filme “Cloverfield” e a série “Lost”. A criatura de “Super 8” é gradualmente exposta, se mantendo escondida durante boa parte da projeção até que, no momento mais conveniente, seja revelada em sua forma integral. Fazendo isso, Abrams não só estabelece na narrativa uma aura misteriosa de peso, como também torna as ações paralelas do monstro muito mais interessantes de se assistir, uma vez que nosso desconhecimento sobre a forma e as propriedades da criatura torna tudo muito mais tenso, e as descobertas que fazemos junto dos personagens muito mais empolgantes. E embora o monstro deste filme não tenha a mesma carga emocional do pequeno E.T., e nem seja tão devastadora quanto o tubarão de “Jaws” e o monstro de “Cloverfield”, ou até mesmo tão misteriosa quanto o Monstro de Fumaça de “Lost”, o ser alienígena que aqui temos compensa no que remete ao desenvolvimento dos personagens, em especial o do casal central da narrativa, que compartilham uma marcante e emotiva cena final - mesmo que esta, muito semelhante à de “E.T.”, empalideça por comparação, embora apresente um significado consideravelmente (e acertadamente) diferente daquela obra. Afinal, “Super 8” tem, sim, sua força individual (principalmente se considerarmos a sensibilidade de gênio do compositor Michael Giacchino e a fantástica atuação de Elle Fanning), ainda que seja mesmo digno de ovações por sua saudável proposta de retrocesso a um cinema tão mítico e mágico que foi eternizado por um tempo que já passou.
Drive
3.9 3,5K Assista AgoraCom a trilogia de filmes “Pusher”, o diretor Nicolas Winding Refn comentou sobre o submundo do crime na Dinamarca (sua terra natal) através de uma abordagem crua e honesta, concebendo protagonistas que, em menor ou maior grau, estavam diretamente ligados à teia criminosa com a qual conviviam, e que consequentemente se viam sufocados diante dos impiedosos percalços que surgiam desse cenário. Longe da Dinamarca e longe de se estabelecer em um submundo, Winding transporta seu novo filme para Los Angeles, desenvolvendo o mesmo tema sob a luz mais estilizada do mundo habitado por seu protagonista, o piloto-dublê de filmes hollywoodianos convenientemente conhecido apenas como “Motorista”. Embora em “Driver” a teia criminosa seja mais omissa, o diretor faz questão de estabelecer o subtexto já na abertura filme, antes mesmo dos créditos surgirem. É uma cold-open tensa, de tirar o fôlego. Nela, podemos reconhecer de imediato a natureza friamente profissional de seu protagonista, cuja outra fonte de renda consiste em conduzir, com seu carro, criminosos em seus roubos. Ele é bem direto: “Diga a hora e o lugar e te dou um tempo de 5 minutos”. “Haja o que houver nesses 5 minutos, estou à disposição”. “Mas o que houver após esses 5 minutos, está por sua conta”. Além de piloto-dublê e chofer de roubos, o motorista é também um mecânico, fechando seu total envolvimento profissional com veículos de quadro rodas. É como se o protagonista fosse um conduíte, consertando carros para os outros, dirigindo carros para os outros e conduzindo outros em seu carro. Ele estabelece uma distância profissional para a própria preservação individual, o que acaba moldando sua maneira de ser nos momentos em que de fato vive sua vida, longe do volante, além de também comprometer suas realizações pessoais. Como bem dizem: o muro que construímos a nossa volta para nos proteger, é o mesmo que impede nossa felicidade. O grande conflito do filme se origina do envolvimento do protagonista com sua vizinha, Irene, e seu filho pequeno. Cautelosamente, o personagem de Ryan Gosling (em uma atuação meticulosa, que une expressões remansadas e intimidantes) se aproxima dela, como que violando o modo como opera. Ele busca uma experiência mais honesta ao desenvolver algum tipo de relacionamento, colocando em prática seu interesse amoroso. Mas eis que essa sua vizinha tem um marido na prisão, que é libertado e logo pressionado a pagar certa dívida. Percebendo que sua natureza é mesmo a de um conduíte, o Motorista recebe com resigno a presença dominante do marido de Irene, e eventualmente decide oferecer seus serviços para que o sujeito possa roubar uma loja de penhores e pagar o que deve para os chefões do crime - tudo pelo bem de sua família, por quem tem grande afeto. É a primeira vez que o Motorista executa um trabalho de cunho pessoal. Pouco antes de efetuá-lo, vemos uma cena onde o personagem se encontra em um café com um criminoso qualquer que já havia conduzido antes. Quando este lhe oferece um novo trabalho, o personagem de Gosling encurta a conversa sumariamente, descartando a oferta do sujeito sem nem mesmo ouvi-la, ainda se certificando de ameaçá-lo para deixar suas intenções bem claras: ele não presta serviços para alguém que já conheça. No entanto, num esforço de humanidade, ele coloca em risco sua preservação para ajudar aqueles por quem se importa. Em certa altura da narrativa, o Motorista diz para Irene que estar do lado dela foi a melhor coisa que já lhe aconteceu. Os dois não chegaram a partilhar momentos marcantes; apenas alguns encontros básicos e fugazes. Até onde sabemos, nem mesmo Irene cultivava sentimentos tão fortes pelo Motorista. Mas de alguma forma nós acreditamos em suas palavras, pois por mais que tenham sido mínimos e ordinários os momentos de afeto do protagonista por essa mulher e seu filho, eles pareciam ser os únicos que de fato o faziam derrubar o muro que construiu ao seu redor e finalmente ter o contato humano e afetivo que nunca - ou quase nunca - experimentou. Mas é claro que, enriquecendo o subtexto já muito abordado por Nicolas Winding Refn em seus outros filmes, nada é uma maravilha no final, e o protagonista, embora mais humano, não deixa de se afundar em sua infectada natureza e na infectada realidade que habita.
Professora Sem Classe
2.7 2,0K Assista AgoraA impressão que tive é a de que “Bad Teacher” foi inicialmente idealizado como uma sátira à fórmula de filmes protagonizados por professores e que se focam na relação deles com seus alunos. Geralmente, tais filmes percorrem um caminho manjado em que o professor, inicialmente rejeitado por seus alunos, acaba, aos poucos, conquistando o respeito deles, ensinando-os e, claro, também aprendendo com eles no final. “Bad Teacher” não segue exatamente uma fórmula; mas o filme consegue ser tão ruim, asqueroso e vergonhoso que realmente pensei em atribuir a sua ruindade às aspirações criativas de seus realizadores, que talvez, na tentativa de conceber uma sátira, foram incrivelmente malsucedidos na tarefa. Saber disso importa pois implica no exame das raízes do filme, o que talvez nos ajude a entender o porquê esta coisa... Digo, “Bad Teacher”, saiu tão errado. Mas mergulhar em uma obra deste naipe bem que poderia se revelar como um esforço desnecessário, já que basta olharmos para sua superfície para encontrarmos a suficiente quantidade de defeitos; defeitos dos mais óbvios e que qualquer um poderia identificar. A protagonista, Elizabeth, uma fútil e superficial loura interpretada por Cameron Diaz, é, como indica o título do filme, uma má professora. Entretanto, ela não é má por falta de capacitação. O roteiro dá a entender que quando ela quer, ela sabe lecionar e auxiliar seus alunos, embora seu passado ou suas iniciais investidas para se tornar uma professora jamais sejam exploradas durante o longa. Tudo o que sabemos é que ela não tem praticamente nenhuma experiência, e que dar aulas era um bico provisório até que o casamento entre ela e seu endinheirado noivo fosse consumado. O conflito inicial da trama se desenvolve quando seu marido, ao notar os excessivos gastos de Elizabeth, conclui que ela só queria seu dinheiro, e então pede o divórcio. Três meses se passam e a personagem se vê obrigada a voltar para a escola onde lecionara anteriormente. Seu objetivo? Conseguir dinheiro para pagar uma cirurgia de implante de seios para que possa conquistar um novo marido disposto a bancar suas supérfluas e demasiadas despesas. Elizabeth, eventualmente, nota que não chegará lá tão cedo, e assim decide fazer de tudo - até mesmo roubar, enganar e simplesmente ser a pessoa desprezível e baixa que é -, para que possa conseguir dinheiro o suficiente e pagar seus silicones. Não é fácil gostar de Elizabeth; o filme não nos dá razões. Há, no entanto, uma tentativa pedestre de humanizar a personagem e transformá-la em algo um pouco melhor no final. A professora chega a dar conselhos para um de seus alunos, que sofre de uma paixonite por uma colega de sala. Este é o único ato de bondade da personagem em todo o filme; e se resume basicamente em dizer para o garoto que ele nunca irá conquistar a popular menina de quem gosta, pois simplesmente não se encaixa nos padrões que atraem o tipo dela. No final, obviamente, Elizabeth deixa de ser aquela professora desleixada, irresponsável e perversa que antes era: desiste de sua cirurgia; volta para as aulas com um sorriso gracioso no rosto e decide ficar com o humilde professor de Educação Física, vivido por Jason Segel, em vez do engomado, influenciável e riquinho professor de Matemática vivido por Justin Timberlake. Se não bastasse a obrigatória e artificial mudança de índole da protagonista no final, toda a narrativa é construída de forma embaraçosamente irreal. Indo dos exagerados personagens e seus dispensáveis maneirismos, às ilógicas e inorgânicas passagens, “Bad Teacher” é um constrangedor desastre cômico, seja como uma sátira mal resolvida ou como qualquer que tenha sido a intenção de seus realizadores ao produzi-lo. De qualquer forma, é um filme absolutamente medíocre que, assim como sua protagonista, merece ser sumariamente cuspido fora.
O Ursinho Pooh
3.5 195 Assista Agora“Winnie the Pooh” é um filme bastante infantil. E por “infantil”, eu não diria “feito para o público infantil”, embora este seja, provavelmente, o alvo demográfico do filme. É um infortúnio que este conceito de “entretenimento para crianças” ainda exista, pois é geralmente uma desculpa para obras preguiçosas, bobas e pueris (“os adultos acharão chato, mas as crianças vão adorar”). Mas “Winnie the Pooh”, suspeito seguindo essa noção, ainda possui seu charme, pois sua forma é diferente, sua forma é convincente, e embora não seja um grande filme de animação, é um bom passatempo para crianças e adultos - e apenas quando nenhum deles é excluído é que podemos chamar algo de bom. Com menos de uma hora de duração (excluindo os créditos, que, entretanto, são divertidos de se assistir), “Winnie the Pooh” apresenta uma narrativa bem miúda, que é adequada ao seu tempo de projeção e que gira em torno de pequenas vinhetas, números musicais e situações que seguem um motivo bem simples - que poderíamos encarar como sua “trama”. Os personagens, todos bichinhos de pelúcia vivos, são charmosos, mas não particularmente carismáticos. O roteiro faz um bom trabalho ao distinguir suas personalidades e seus simplistas costumes idiossincráticos. Pooh, o personagem principal, é um urso com um cérebro pequeno e um estômago grande, insaciável. Ele está constantemente pensando e desejando sua comida favorita: mel. Há também a eloquente Coruja que gosta de se gabar e chamar a atenção para si; o medroso Porco; a mãe Canguru e seu filhote; o preguiçoso e melancólico Bisonho; o Coelho esperto; o solitário e quero-ser-bravo Tigre; e até o garoto humano, chamado Christopher Robin. Com exceção do garoto, que não faz tanto no filme quanto seus amigos pelúcias, todos os personagens possuem uma forte e predominante característica: eles são todos burros - até mesmo o esperto Coelho. Muito humor é derivado disso, e com essa abordagem o filme consegue convincentemente nos contar uma pequena história sobre bichos de pelúcia que tentam resolver pequenas questões com a parca destreza cerebral e dominante ingenuidade que possuem - questões que, aliás, são causadas por suas próprias burrices. As rotinas cômicas, diferente de algumas pequenas e engraçadas gags, não são muito inspiradas, e já que o objetivo é produzir risadas, os realizadores poderiam investir em situações mais espertas e imaginativas, em vez de empregar óbvias ideias - como quando o Bisonho se esconde do intrometido Tigre em um lago, com um canudo conectando sua boca e a superfície para que ele possa respirar sem ser visto. Por outro lado, os números musicais, ainda que não espetaculares ou essenciais, são divertidos e realçam a encantadora e hipnotizante animação da película. As canções entoadas pelos personagens são divertidas, também, embora da mesma forma careçam de mais imaginação. Mas é mesmo no caráter de livro de historinhas infantis que o filme aplica em sua narrativa (fazendo com que personagens e ambientes interajam com as letras e frases do livro, bem como com o próprio narrador da história), e nas canções adicionais na voz de Zooey Deschanel (e sua banda She & Him), que “Winnie the Pooh” lança um feitiço e assume novos ares, fortificando seu propósito e modulando sua forma. Até mesmo a moral da história (indispensável pela própria natureza do filme) é acertadamente simples e levemente vinculada no final da animação. Para um filme com praticamente nenhuma trama e personagens tão bobos e básicos, “Winnie the Pooh” se sai bem na tarefa de convencer e extrair charme de seu pequeno conto - que, no entanto, assim como pequenos livros infantis, serve mais como passatempo para fazer dormir do que qualquer outra coisa. A diferença é que o filme permite que não só crianças, como também adultos caiam no sono após seu término.
Um Dia
3.9 3,5K Assista Agora“One Day” tem uma interessante atitude: a de contar, partindo de uma diferente abordagem, uma tradicional história de encontros e desencontros sentimentais entre dois amigos apaixonados que, devido às intempéries da vida e principalmente à própria resistência de ambos em consumar um relacionamento amoroso, acabam perdendo diversas oportunidades de serem felizes juntos. Para dar novos ares a esse tipo de história, é adotada uma curiosa estrutura que narra a história dos personagens ao focar-se exclusivamente em uma data específica de cada ano: o dia 15 de Julho. Este “um dia” foi o primeiro em que os amigos de fato estabeleceram uma conexão amorosa, quando dividiram um quarto logo após a graduação deles, em 1988. É, também, o dia em que a garota, Emma, dezoito anos depois, morreu acidentada, para a devastação de seu agora marido Dexter. A princípio, unir uma estrutura fresca a um tema batido soa interessante, mas a impressão final é a de que o esforço da originalidade foi um insucesso, já que a estrutura de “Onde Day”, se por um lado curiosa, por outro se revela incrivelmente desinteressante e aborrecida para o desenvolvimento da história, além de também não camuflar as obviedades do longa. Jim Sturgess e Anne Hathaway vivem o casal de protagonistas; eles possuem uma estranha química, que de alguma forma funciona; afinal de contas, mesmo que pareçam errados um para o outro, uma das óbvias observações que o filme faz é a de que os opostos se atraem. Isso é ressaltado pela própria forma como o casal é pintado: o personagem de Sturgess, Dexter, é, durante boa parte do filme, um típico sujeito espertinho e atrevido, que se arrasta por uma vida regada de hábitos prejudiciais e comportamentos imprudentes, enquanto Emma, por sua vez, exibe uma prudência tão regulada que, ao contrário de Dexter, quase nunca se entrega aos impulsos ou coloca em prática seus desejos - algo exemplificado pela própria dinâmica do casal, que se resume a investidas de Dexter e resistências por parte de Emma. No entanto, embora tonalmente corretos, o casal carece de vibração, o que põe a perder boa parte de nosso interesse por seus encontros. Muito tempo de suas vidas é omitido, já que tudo que vemos se limita ao 15 de julho. A justificativa final para toda a atenção voltada a esse dia é tematicamente e retrospectivamente relevante, porém não suficiente. Durante o filme, o pensamento que pulsa é o de que a narrativa poderia nos mostrar diferentes datas que não faria a menor diferença, e que o filme seria tão óbvio quanto já é. A obviedade, aliás, é algo notório em “One Day”. O próprio arco narrativo de Dexter, assim como o personagem em si, é absolutamente gasto - e se sua antipatia patente é curada quando este se casa e tem uma filha, tornando-se um sujeito muito mais suave e agradável, sua história não deixa de soar óbvia e previsível. Até mesmo quando o longa se esforça para dramatizar o personagem por outras tangentes - como no relacionamento com seus pais -, este ainda recai em clichês, vide a mãe que sofre, claro, de câncer. Apesar de tudo, “Onde Day” consegue nos ganhar gradualmente, assim que sua narrativa ruma para o trágico final, e assim que apresenta uma razão para ser do jeito que é (embora, repito, seja insuficiente). O filme finalmente adquiri vibração em seus instantes finais, e nos oferece uma visão realmente bonita e reflexiva sobre a experiência que seus personagens partilharam durante os anos que puderam ficar juntos, casados ou como amigos. E mesmo que tente adocicar um pouco seu amargo desfecho, o longa expressa uma tristeza cortante que se torna ainda mais intensa quando percebemos o quanto poderia ser diferente para ambos os personagens se agissem de outra forma. Mas é fato que o adiamento dessa união amorosa foi influenciado muito mais pelas escolhas pessoais do casal do que pelas interferências do acaso, e que se fossem pra ficar efetivamente juntos, deveria ser mesmo dessa forma, e por esse período de tempo. É só uma pena que, embora “Onde Day” recompense no final, seja, ainda, um filme tão desinteressante de se assistir.
Tudo pelo Poder
3.8 764 Assista AgoraPode parecer que, por se estabelecer em um intrincado cenário político, “The Ides of March” é um filme sobre polícica. Mas a política que nós vemos no filme não é a verdadeira política, ou ao menos não aquela fundamentada por seu significado semântico. O que os personagens efetuam em “The Ides of March” não é a ciência da política, de governar; é um jogo competitivo de invariáveis consequências emocionais, embora a maioria delas - senão todas - sejam reprimidas; enquanto isso, a teoricamente verdadeira política, aquela que nossos governantes devem executar quando estão no poder, é espremida aqui em forma de enunciados, promessas, de discursos chavões que todo tipo de candidato oferece quando sobe no palanque. E ainda que este filme proporcione uma realista e incisiva - se abstendo do ambiente artificialmente cínico - visão dos bastidores de uma campanha de um dos prováveis candidatos democrata à presidência dos EUA, “The Ides of March” é, na verdade, sobre o que é expelido de tudo isso: o delicado efeito dominó que se situa no interior de tal cenário; a hipocrisia e os instintos elementares que conduzem o mundo; e, mais importante, o grande tema do filme: a culpa reprimida. Em uma astuta sacada, os argumentistas do filme estabelecem aqui um inteligente, simpático democrata liberal como centro de toda a história, em vez de um óbvio republicano cínico de ideias reacionárias. Vivido por George Clooney, que também dirige o longa, o candidato Morris é um homem perito com as palavras e que sabe como apetecer as mentes progressivas com o que tem a dizer; na realidade, seu personagem é até bom demais para ser verdade, embora o roteiro jamais coloque em dúvida suas nobres ideologias, porque, claro, isso não é um filme óbvio “sobre” política, e o podre parte de outras direções. Entretanto, é fantástico como o roteiro ainda consegue introduzir um convincente contraponto nos discursos do democrata, que aqui e ali se revela um candidato com lustradas e sedutoras aspirações liberais, mas que de fato falha na tarefa de dizer como suas ideias podem ser traduzidas em ações práticas e funcionais. Mas Morris, de certa forma, é um coadjuvante no filme, pois o longa é dotado de outro interessante e bem mais ambíguo personagem, encarnado pelo excelente Ryan Gosling em uma memorável performance. O ator interpreta o diretor de comunicações da campanha de Morris, chamado Stephen Meyers, um jovem que diz acreditar nos ideais de seu chefe e que assume isso como a única razão para o qual desempenha seu trabalho - de uma maneira bastante eficiente, diga-se. Contudo, seja pelas controladas expressões cínicas de Gosling, pela forma como ele exprime seus diálogos ou pelo fato de que seu personagem realmente se encontrou com o diretor da campanha do candidato da oposição, Stephen nunca deixa de soar dúbio - e nós esperamos que venha dele, o personagem com maior tempo de tela, o grande podre prestes a explodir na narrativa. “The Ides of March”, porém, não é um filme sobre a culpa de um homem, mas sim sobre a culpa de vários homens e mulheres responsáveis por uma tragédia que emerge e é rapidamente suprimida pela forma como opera a política por trás da verdadeira política. Como mencionado no discurso de um personagem em um funeral; “...Um mundo onde todo erro é ampliado”. As razões para que todo erro seja ampliado todos sabemos: hipocrisia, poder, o zelo pela aparência em detrimento da transparência, e assim por diante. Clooney, por trás das câmeras, perfaz um filme realista no que tange o ambiente político e igualmente realista no que tange os temas emocionais de sua trama. Ele escolhe por expor o que todos sabemos de uma forma não-óbvia, e ainda faz com que seu filme funcione como um thriller absolutamente envolvente. Quanto ao seu dúbio protagonista, o longa demonstra mais um indicativo de sua qualidade, tornando o que era ambíguo em complexo, e nos fornecendo uma das retratações mais impressionantes do conflito emocional de um personagem em meio a um cenário como este.
Sobrenatural
3.4 2,4K Assista Agora“Insidious” é o exemplo perfeito de um terror tradicional arruinado pela mentalidade de um roteiro e de uma direção equivocadas e infectadas pela concepção moderna do conceito de “perturbação”. Propondo assustar o espectador e o envolver numa narrativa sombria, os realizadores do longa mais se preocupam com a forma dos estímulos imagéticos e sonoros de seu filme do que de fato com o conteúdo deles, ou até em construir uma trama coesa e bem trabalhada. A destruição do filme se dá aos poucos, gradativamente, conforme a história avança e, como de costume no gênero, suas raízes sobrenaturais se desabrocham. Durante todo seu primeiro ato, entretanto, “Insidious” é um filme até que decente. Ainda que bastante ordinário no uso dos elementos clássicos que permeiam as películas do tipo “casa mal assombrada”, o longa consegue reproduzi-los de forma eficiente e tensa, investindo numa fotografia de cor morta, puxado para o cinza, que estabelece um tom característico e pungente às imagens. Da mesma forma, a textura que remete a filmagens caseiras e os movimentos de câmera e cortes documentais surgem como reforços para que o filme passe uma impressão fresca e mais real. Tudo se inicia com os indícios de que um fenômeno poltergeist se manifestou no casarão para onde os personagens acabaram de se mudar. Habitada por uma família, formada pelos personagens de Rose Byrne, Patrick Wilson e seus três filhos, a casa é uma típica residência para abrigar tal evento. Além dos movimentos involuntários de objetos, portas e janelas da casa, a personagem de Byrne, Renai, passa a ter estranhas visões assim que o filho mais velho do casal entra em um repentino e misterioso coma. Eles mudam de casa, sem nenhum percalço, e logo no dia de mudanças Renai passa a perceber estranhar manifestações na nova residência, o que já atesta algo dedutível: de que isso não se tratava de um fenômeno poltergeist, e sim de alguma manifestação sobrenatural que envolvia o garoto. Mas ainda assim o filme precisava afirmar isso, ao trazer à nova casa uma dupla inapropriadamente cômica de caçadores de fantasmas que iniciam uma investigação em busca de atividades paranormais no lugar. Os seguindo, o filme também introduz a velha médium com poderes cognitivos que ajuda a explicar todo o mistério que ronda aquela família. A partir daí, o enigma é despido, e o filme entra em um processo absolutamente desinteressante que põe a perder todo o vigor, energia e tensão construídos até então. É revelado que o personagem de Wilson, Josh, possuía o mesmo problema do filho quando era criança - uma espécie de habilidade com projeção astral que quando executada, deixaria o corpo físico como um recipiente vazio, atraindo assim espíritos malignos e demoníacos. Apontado como o único capaz de salvar seu filho, Josh embarca numa passagem para uma dimensão espiritual que nos revela imagens estranhas e “perturbadoras”, destinadas apenas a causar a pura reação de assombro e susto no espectador. Para isso, o diretor dilui completamente sua abordagem técnica realista em benefício da experiência surreal de Josh, que dura um ato completo e jamais transmite qualquer sentido por trás daquela dimensão enevoada, repleta de figuras imóveis de traços idosos e pesada maquiagem e bonecos ventríloquos que existem apenas para assustar, e que eventualmente levam o personagem a resgatar seu filho. Não há sentido, nem místico, nem mitológico que explique a veneração do diretor pelas imagens que aqui vemos. Praticamente de um ato para o outro, o filme transita entre um interessante e eficiente clássico de terror para um exemplar do gênero que atira fora os fundamentos de sua mitologia e as implicações psicológicas sofridas pelos personagens (aliás, como puderam desaparecer com os dois outros filhos do casal após o primeiro ato?) para dar lugar à ação infantil, tola e estúpida que deveria nos causar calafrios. Não é à toa que o final do filme, concebido com a clara intenção de soar impactante, é absolutamente inconclusivo (o que para alguns vai parecer “ousado”), uma vez que concluir uma história como essa de modo a lhe conferir sentido iria requerer não só um reparo no fim, como também em todo o miolo do longa e na mentalidade de seus realizadores.
Quero Matar Meu Chefe
3.4 1,7K Assista Agora“Horrible Bosses” é dotado de uma fascinação cômica que raramente funciona. O filme nos oferece um cenário amoral, repleto de personagens cujas relações, pelo bem ou pelo mal, são fundadas em sentimentos e interesses condenáveis e nefastos. Os três amigos principais, Kurt, Nick e Dale, vividos, respectivamente, pelos ótimos Jason Sudeikis, Jason Bateman e Charlie Day, se conhecem desde colégio. Sabemos, então, que são amigos de longa data e que compartilham a raiva que possuem por seus abusivos e desprezíveis chefes. Embora tenham uma sólida amizade, o trio se ata durante a narrativa por outro motivo, o de matar seus chefes e encerrar de uma vez por todas a agonia e os abusos que sofrem no local de trabalho. A decisão que tomam frente a tal insatisfação é tão repreensível quanto os comportamentos de seus alvos. No entanto, o roteiro toma um cuidado especial para que os três amigos não pareçam arbitrariamente ruins e imorais como seus chefes. Ao conferir um fundo à amizade deles (mencionando que se conhecem desde o colegial), o roteiro nos permite enxergá-los como adultos imaturos que, ao menos quando estão juntos, ainda demonstram uma linguagem solta e rude, além de comportamentos estúpidos e irracionais que são remanescentes de seus idos tempos de colegial - algo que se contrasta inteligentemente com a postura consideravelmente madura e profissional que desempenham quando estão em seus empregos; traço que, inclusive, os fazem ainda mais tolerantes e vulneráveis diante da postura boçal daqueles a quem respondem. Por outro lado, os horríveis chefes são verdadeiros deleites cômicos justamente por dispensarem qualquer esboço de simpatia, dando ao seus interpretes, Kevin Spacey, Jennifer Aniston e Colin Farrell, uma oportunidade única para se divertirem na composição de tais criaturas irreais, tornando-as tão horríveis quanto o título do filme sugere, mas ainda assim lúdicas e preciosas para fins de humor negro. Bastam apenas algumas visitas ao trabalho dos personagens (e são poucas, considerando que o filme tem a maior parte de sua ação desenvolvida em outros cenários) para que se possa legitimar, diegeticamente, a escolha do assassinato como alternativa para cessar o conflito dos personagens principais. Mas é especialmente nas trocas de diálogos triviais, bem como nas impensáveis atitudes de seus protagonistas, que “Horrible Bosses” se revela eficaz na tarefa de arrancar risadas. Sudeikis, Bateman e Day exibem um entrosamento cômico exemplar; a troca de diálogos é hábil, com um ar de improvisação; e a camaradagem de um personagem com o outro é tão palpável quanto o egoísmo dos mesmos - algo que o roteiro reconhece sabiamente nos momentos mais oportunos, rendendo passagens impagáveis como aquela em que o trio se encontra na delegacia medindo os crimes que até então cometeram e tentando se safar (ao jogar a culpa no outro) da responsabilidade por tudo o que aconteceu. Além de ainda contar com personagens menores inspirados (como o ex-colega do trio vitimado pela crise econômica, e o ex-presidiário - e conselheiro de assassinato - vivido por Jamie Foxx), o filme ainda conta com algumas piadas recorrentes engraçadas e importantes para uma compreensão maior de seus personagens - e aqui, destaca-se especialmente a tendência azarada de Dale em se envolver em todo o tipo de negatividade envolvendo sexo. (O personagem faz parte da lista de agressores sexuais por ter urinado em um parquinho sem crianças (algo que realmente pode acontecer), além de ser vítima de abusos e até de estupro por parte de sua atraente chefe dentista - sofrimento que aos olhos de seus amigos jamais rivaliza com o que aguentam dos outros chefes). Os amigos acabam não matando ninguém, ao menos não de forma direta. Suas intenções jamais se materializam da forma como visionaram, e as repreensíveis peripécias dos três são regadas de momentos absolutamente hilários que mais residem nas consequências de suas inexperiências e da estupidez adolescente que possuem do que no resultado imoral que seus atos visam. E no final, não há nenhuma moral pra combater a amoralidade, há apenas um personagem fazendo o que ele gostaria de fazer desde o início, só que de uma forma menos reprovável, já que simplesmente não conseguiu por meio do assassinato.
Lanterna Verde
2.4 2,4K Assista AgoraOs Lanternas Verdes são icônicos; possuem símbolos, totens, uniformes, valores e estão por todos os lugares, por todo o universo, compreendendo toda a bizarra coleção de criaturas intergalácticas concebidas pela mente de seus criadores. Basicamente, os Lanternas Verdes são um produto de propaganda, que tenta convencer e que raramente recompensa com algo de valor. Em “Green Lantern”, o filme, tudo o que nós vemos é a divulgação, o básico, o plano. As complexidades do universo revestido pelos Lanternas Verdes - estas sim, interessantes em conceito e que já renderam boas histórias em outras mídias -, são rebaixadas ao geral, ao convencional, ao puramente introdutório, com todos os seus dizeres morais e a veneração em torno de seus símbolos, descartando absolutamente aquilo que realmente envolve e torna este universo decente e interessante. Hal Jordan, o Lanterna Verde humano, possui todo o charme e o carisma de seu interprete, o engraçado Ryan Reynolds, que aqui se esforça ao máximo para tornar o personagem no mínimo agradável, vertendo para o lado cômico e ingênuo que ao menos rende algumas risadas. Pois Hal é aquele herói com embalagem bonita (musculoso, sedutor) e morais e sentimentos arranhados. O roteiro, ao moldar as sementes dramáticas do personagem, opta pelo genérico. Quando criança, Hal viu seu pai morrer na explosão de sua aeronave. Anos mais tarde, o garoto é também um piloto, mas um imprudente, irresponsável e, sem que todos possam notar, medroso. Isso, claro, vai de encontro com todo o compromisso exigido pelo anel, que enxergando neste ser humano imperfeito algo de aproveitável, o escolhe como primeiro Lanterna Verde da Terra. Tudo o que acontece adiante é fácil de presumir. Para um filme que lida com uma mitologia tão fantástica, repleta de conceitos a serem introduzidos, entendidos e desenvolvidos, “Green Lantern” é um longa demasiadamente comum, batido, convencional. Os diálogos são encomendados em forma de discursos morais, por mínimos que sejam. As intempéries do personagem se rendem a ocorrências formulaicas e clichês. E enquanto isso tudo se desenvolve, Hal Jordan tem de resolver sua crise interna, um duelo pessoal entre a vontade e o medo (inspirado pela ideologia do compromisso que lhe fora designado), e decidir mudar, para eventualmente salvar o mundo. Não, o universo inteiro. “Green Lantern” tem um vilão. Este é uma entidade cósmica chamada Parallax, que se alimenta do medo de todos os seres do universo, assim como a energia verde se alimenta da vontade dos mesmos. Mas é claro que, embora esta curiosa entidade seja a essência maléfica de toda a narrativa, um filme formulaico como este não poderia recusar um vilão terreno, unidimensional e caricato como o nerd incompreendido pelo pai que é infectado pela energia amarela de Parallax e se transforma numa aberração patética e risível - que logo é aniquilada sem ressentimentos. Em certo momento de “Green Lantern”, Hal Jordan, depois de resolver seus problemas internos na Terra, volta para o lar dos Lanternas a fim de convencê-los de como lutar contra a energia que os ameaça. Para isso, o protagonista profere um discurso aparentemente humilde e corajoso, mas que não deixa de soar arrogante e egocêntrico, como se as particularidades humanas de Hal oferecessem toda a perícia e aptidão moral necessária para combater a ameaça mor do universo. Há, aqui, um esforço do roteiro em defender, ainda que de modo recatado, a importância humana, no intuito de conferir a Hal uma saliência maior frente a todas as outras criaturas do universo. Não me surpreende que um dos motivos maiores do filme seja ser categórico, básico e simplista. Vontade versus medo; tudo se resume a isso. Disso é extraído a cura para os problemas do protagonista e para os de todo o universo. Eu sinto como se o filme quisesse me vender ideias batidas em um pacote interessante e sedutor, como nas propagandas. “Green Lantern” (o filme, em específico), afinal, não convence, e tampouco recompensa pelo aborrecimento alastrado por sua narrativa e o vazio deixado por seu final. É, como muitos produtos, absolutamente descartável.
O Castelo no Céu
4.2 326 Assista AgoraEu não sou muito versado em animações. Das feitas para o cinema, conferi um número significativamente baixo de produções animadas, a maioria delas norte-americanas. Se tratando de animações japonesas, o que me vem em mente são os velhos animes que costumava acompanhar descompromissadamente (ou ao menos de forma menos sistemática e crítica) quando criança - e me lembro que apesar de ter gostado de muitas produções televisivas animadas norte-americanas, era fascinado especialmente pelos animes orientais, talvez pela forma como combinavam o humor fácil e caricato de desenhos clássicos com temas e gráficos mais ousados e maduros, ainda que o alvo demográfico não deixasse de ser o público infantil, o que, em retrospecto, explica o porquê de achar algumas séries animadas de minha infância tão pueris e aborrecidas. Sim, elas eram mais maduras, mas costumavam ser, narrativamente falando, de um terrível mau gosto.
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Uma Noite Mais Que Louca
3.0 420 Assista AgoraAssistir a “Take Me Home Tonight” é com assistir a uma folha de papel ser impressa em outra folha por meio de papel carbono: a impressão nunca é perfeita, embora seja mais do que justo ressaltar que um papel químico oferece um desempenho muito mais satisfatório do que este filme do diretor Michael Dowse. Se revelando como uma comédia sem graça que limita seu humor ao comportamento estúpido de seus personagens e a situações manjadas, o longa ainda tenta se lançar como um drama - algo que nunca é equilibrado de forma destra e que, reforçando a analogia, é também como um papel carbono, copiando de outros filmes coisas que já vimos antes, só que de uma forma totalmente precária e que, em detrimento das reações e emoções que o filme deseja despertar no espectador, apenas se faz constrangedor e desprezível. O principal lema que a trama de “Take Me Home Tonight” tenta colar é a de que devemos fazer e não pensar. Tal sentença deriva do problema de seus personagens, todos estagnados em vidinhas que não lhes apetecem ou orgulham, embora ainda se confortem com elas, por medo de “fazer”, quando preferem “pensar”. Na verdade, o que o filme nos mostra é algo completamente oposto a isto, fazendo da relação entre personagens e temática incongruente: eles são estúpidos, agem por impulso e não parecem ter noção do peso de suas ações. Para o roteiro, a mentira que o protagonista conta para sua paixonite dos idos tempos de colegial, a fim de ganhar seu interesse, é o maior sinal de fraqueza possível. Pense comigo: o protagonista vivido por Topher Grace, Matt, rouba um carro com seu amigo para que pudesse impressionar sua paquera (até se vangloriando do ato pouco depois), mas quando deve revelar a ela algo importante sobre si mesmo, após o consumado sexo, ele apenas confessa que trabalha em uma locadora de vídeos e não na Goldman Sachs, como tinha antes afirmado. A garota se sente ofendida, reagindo da forma mais mecânica e clichê possível, contestando sua honestidade. Ao final, Matt tenta provar sua virilidade e sua coragem ao fazer algo que põe sua vida em risco, e quando sai ileso da situação também se vangloria daquilo, para a aprovação da garota, que levando em conta seu pedido de piedade em forma de discurso clichê pouco antes da execução do ato de tolice, acaba perdoando-o e dando a ele seu número de telefone. Mesmo se achando tão boa para perdoar logo de cara alguém que mente sobre sua profissão, e mesmo tendo um gosto por demonstrações de valor idiotas, a garota de Matt deixaria mesmo passar a questão do carro roubado? Talvez sim, já que até o pai do protagonista - e policial - não repreende tanto o garoto, incentivando-o a fazer mais coisas impulsivas. É muito provável que “Take Me Home Tonight”, ao investir tanto nas loucuras desproporcionais de seus personagens, queira apenas arrancar algumas risadas. Personagens fazendo coisas tolas e estúpidas só pra ganharem nosso riso é um golpe muito baixo, mas que funciona quando a estupidez é tratada como algo patológico, como parte consistente de uma personalidade, ou ao menos quando é dado um bom motivo externo para ela se manifestar. Mas aqui isso não acontece: o personagem de Dan Fogler parece ser impetuoso e irracional apenas porque sua persona cômica muito lembra a de Zach Galifianakis: suas tolices nunca convencem, e o personagem não encontra um eixo na trama; existe apenas pela finalidade de nos oferecer um humor mais “ousado”, mas que só oferece situações cômicas batidas e reproduzidas no filme de forma totalmente gratuita - como seu envolvimento com drogas, uma disputa de dança e um sexo a três. Ainda se revelando pontualmente constrangedor (como na expectativa construída em torno do beijo entre o protagonista e a mocinha) e absolutamente piegas em suas cenas mais dramáticas (vide o próprio drama de Matt e de sua irmã), “Take Me Home Tonight” é um desastre repetitivo, clichê, inconsistente e que se distingue apenas por uma coisa: em vez de oferecer uma resolução para o arco dos personagens que por pior que seja ao menos trate de “consertá-los”, prefere exaltar e perpetuar a estupidez deles como resolução de seus problemas - ignorando que a estupidez é a própria causa dos piores comportamentos que os personagens têm durante o filme.
Margin Call: O Dia Antes do Fim
3.4 223 Assista AgoraMargin Call - O Dia Antes do Fim, assim como o subtítulo nacional já anuncia, desenvolve sua narrativa a 24 horas da crise econômica de 2008 explodir para todo o mundo. O longa nos situa dentro de um banco de investimentos financeiros claramente inspirado no Lehman Brothers, uma das principais empresas bancárias a ser afetada pela crise na época. Assim sendo, o filme não nos oferece a explosão; retém-se a um dia dela e nos confidencia a implosão, aquela que se deu primeiro e que afetou internamente os responsáveis por causá-la.
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Os Smurfs
3.1 1,4K Assista AgoraOs Smurfs são criaturinhas adoráveis que possuem um mundo próprio. Um mundo repleto de azul, um elemento de cor do nosso mundo, que para essas mágicas criaturas é o grande elemento, a quintessência que define o tom de suas peles e o tom de todo o resto de seu universo, sem falar que “azul” é também uma palavra de significado vago (um verbo e também um adjetivo) presente em praticamente todas as frases que pronunciam. Dito isso, a possibilidade de integrar tais criaturas (no filme animadas por computador) em nosso mundo (com figuras em carne e osso) é fascinante, pois revela um interessante conjunto de gags e trocadilhos pra serem trabalhados, e a quase alienígena experiência de receber criaturas tão mágicas e inconcebíveis em nosso lar, no mundo real. E é curioso como o filme trabalha isso, de fato estabelecendo um mundo real ao inserir os personagens Smurfs em uma realidade onde eles realmente são figuras fictícias criadas por Peyo. Além disso, o filme lança mão de muitos anúncios publicitários, e o diretor os usa de modo esperto a fim de criar algumas gags engraçadas, como quando os Smurfs se colocam em frente de um anuncio de um show do Blue Man Group, ou quando são visto à frente de um anuncio de Blu-rays. Outras vezes, porém, a publicidade é somente gratuita, embora possa reforçar a “realidade” de mundo - como quando uma peça de videogame da marca Yamaha é exibida em uma montagem musical igualmente gratuita. O choque entre as criaturas Smurfs e as criaturas de nossa realidade permanece interessante por algum tempo, mas se dilui rapidamente, pois este não é um filme interessado em mudar a maneira como longas do tipo são feitos. “The Smurfs” quer apenas ser um filme, como qualquer outro do gênero, mas um com Smurfs entre seus personagens. Portanto, tudo o que nos resta são as personalidades de cada Smurf e as piadas extraídas disso. Cada um deles possui uma personalidade definida, e que também os dá nome. (Eles são nomeados assim que nascem ou conforme suas características depois que crescem? Alguém de fato faz essa pergunta no filme, mas nós não recebemos a resposta, pois seria ainda mais inconsequente se questões tão mitológicas fossem exploradas, embora talvez pudesse render um filme mais interessante). Nós também temos dois protagonistas humanos que acidentalmente assumem a responsabilidade pelos Smurfs, conforme as criaturas fazem de suas vidas uma loucura mas também algo mais doce. O paralelo criado entre o Papai Smurf e o futuro papai do filme (Patrick Harris) é tão óbvio que resulta apenas em cenas piegas e num desenvolvimento frouxo dos personagens humanos. Enquanto “The Smurfs” dispõe de inúmeros conflitos convencionais, ao mesmo tempo carece dos mesmos conflitos, uma vez que estes já nascem tão gastos que nós podemos facilmente deduzir suas resoluções, e portanto dificilmente virarmos nossa atenção para suas qualidades “conflitantes”. Ignorando completamente este fator, tudo o que sobra são as pequenas piadas, gags visuais e a maior coisa que salva o longa do total aborrecimento: seu vilão, o feiticeiro Gargamel. Enquanto não confere a Gargamel nenhum senso de profundidade ou razão por trás de seus atos vilanescos contra os Smurfs, o filme sobrepõe esse defeito ao caçoar do vilão e meramente assumir que ele é o vilão e ponto final. Mas é mesmo a impressionante e incrivelmente divertida e engraçada composição de Gargamel pelo ator Hank Azaria que faz cada cena com o personagem valer a pena, embora toda as sequências dedicadas à figura soem mais como um “vamos-mostrar-o-que-o-vilão-está-fazendo-por-alguns-segundos”. No entanto, é também justo conceder créditos ao roteiro no sentido de permitir ao personagem ser ridiculamente malvado, consciente de suas imperfeições e ao mesmo tempo muito ingênuo diante delas, além de eventualmente se tornar a base de muitas boas piadas. Entre algumas banais sequências de ação e uma narrativa deplorável, “The Smurfs” ajuda a perpetuar o tipo de filme que é: comum, não inventivo e que apenas vale em diminutos e isolados momentos. Mas os Smurfs são adoráveis; eles são azuis e agem de forma doce. E é esse tipo de coisa que os realizadores do filme sabem que o público engolirá; e assim eles fazem não um filme com erros, mas um filme naturalmente errado, porque eles pensam que um filme banal recheado de Smurfs é o suficiente - e eles estão certos, de certa maneira.
Larry Crowne: O Amor Está de Volta
3.0 714 Assista AgoraAlém de Jim Carrey, não há outro ator mais afável, carismático e simpático do que Tom Hanks. Ele é um verdadeiro conquistador, ele pode cativar o espectador como poucos, não importa o personagem que represente. Em filmes ruins ou abaixo da média, a presença de atores como Carrey e Hanks acabam se revelando compensatórias apesar da má qualidade de toda a obra; e quando se envolvem em produções boas, geralmente são os maiores responsáveis pelo sucesso delas. “Larry Crowne”, filme protagonizado, co-escrito e dirigido por Hanks, é um longa abaixo da média. Mas a presença de Hanks no papel do personagem título faz a diferença, transformando o que era pra ser um filme ruim e aborrecido em algo ao menos simpático, ainda que, sem dúvidas, ruim. Todo o filme gira em torno de pessoas boas, com alguns problemas momentâneos em suas vidas. Seus problemas são comuns: Larry, o protagonista, é demitido de uma loja de departamentos após anos de trabalho diligente, apenas porque não possuía uma graduação, o que o força a reaver sua vida financeira e ingressar em um curso superior. Sua professora, interpretada por Julia Roberts, oscila entre expressões de tédio e desgosto, tanto diante de sua classe de oratória quanto em casa, onde atura um casamento insatisfatório com um escritor/blogueiro que passa as tardes apreciando pornografia no computador. Seus problemas são universais, comuns, e isso já deveria ser o bastante para nos identificarmos com eles em algum grau; são também problemas consertáveis, como o filme nos faz acreditar. É basicamente uma história sobre mudanças e aprimoramentos que fazemos (individual ou em conjunto) para que possamos seguir em frente de uma maneira melhor. Não à toa, o longa assume um tom leve e cômico, que realmente não se esforça para que possamos enxergar seus personagens para além do que meramente são diante das câmeras - todos são bons, simpáticos e bem humorados, e isso, para o filme, é julgado com o bastante. Por outro lado, o longa se esforça para arrancar risadas de pequenos momentos constrangedores que se revelam tão fracos e sem inspiração que causam mais vergonha em quem assiste do que nos próprios personagens. Da mesma forma, a boba tensão criada entre Crowne e o namorado de sua nova amiga de classe serve apenas ao propósito cômico, embora inicialmente dê indícios de que poderá ser mais do que isso, apenas para o filme executar uma reviravolta convencional e aproximar Crowne de sua professora, que imediatamente se apaixonam - não porque faz sentido, apenas porque Tom Hanks e Julia Roberts não poderiam terminar o filme sem ficarem juntos e se revelarem como a solução para o problema do outro; e porque não há espaço para maldade no filme, de modo que todo o casinho que ele poderia ter com sua amiga seja resolvido no bom humor. A narrativa de “Larry Crowne”, além de convencional, ainda se mostra incrivelmente burocrática: é só notarmos, por exemplo, como o filme organiza as aulas de oratória da personagem de Roberts e as de economia do personagem de Takei viciosamente, nunca encontrando outro espaço para desenvolver seus personagens, mesmo que boa parte das cenas nas aulas de economia sejam dispensáveis e valham apenas por algumas piadinhas. Carismático Hanks é, a ponto até de compensar pela falta de carisma da personagem superficial de Roberts. Aliás, pode-se dizer com segurança que todos os personagens de “Larry Crowne” são superficiais, e o filme parece se contentar com isso. É por isso que escalar (ou se auto-escalar, neste caso) Hanks em um filme como este é certeiro para que possamos aturar essa obra esquecível e ao menos dizer: “Olha, como Tom Hanks é simpático e divertido. Adoro esse cara!”.
Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo
3.6 97Possuidor de interessantes qualidades, Ganhar ou Ganhar - A Vida é um Jogo é o tipo de filme que vez ou outra durante o curso de sua narrativa nos faz perguntar o que, afinal, sua história quer atingir. Dono de um enredo de notável simplicidade e de personagens idem, o filme se compromete com um retrato autêntico tanto em termos de personagens quanto de tom narrativo - que revela-se simultaneamente sério e leve, o que possibilita a inclusão de cenas e personagens mais bem-humoradas sem abandonar a naturalidade de sua trama. E embora tenha seus pontos fracos, Ganhar ou Ganhar ainda deixa uma impressão positiva em seu final, que talvez nos dê mais indicações do que, afinal, a história do filme quer atingir - e reconhecendo o que a história quer atingir, digo que sim, ela de fato atingiu.
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Conan O'Brien Can't Stop
4.2 4Conan O’Brien é um cara extremamente cativante. Ele começou como um roteirista do humorístico Saturday Night Live, escrevendo e participando de pontuais esquetes do programa; passou três temporadas roteirizando para o seriado The Simpsons e finalmente substituiu David Letterman como apresentador do Late Night da NBC (o talk-show número dois da emissora) depois da aposentadoria do lendário Johnny Carson, que deu lugar a Jay Leno, para a insatisfação de Letterman que rumou direto para a CBS. Alto e de estranha aparência ruivo-irlandesa, O’Brien é um palhaço; ele efetua imitações de poucos segundos, emprega exagero ao emitir uma piada previsível e é ocasionalmente genial na composição de suas piadas e trocadilhos, além de colocar seu físico desconjuntado totalmente em prova ao desempenhar suas rotinas de humor físico e sua incessante sede por entreter - um conjunto de características que nas palavras de Conan O’Brien se reduzem apenas a “divertir”; conceito suficiente o bastante para conquistar o público médio, os entusiastas e profissionais da comédia e os críticos televisivos. Em “Conan O’Brien Can’t Stop” nós acompanhamos a jornada do comediante após deixar o Tonight Show, a mais conceituada franquia televisiva norte-americana que O’Brien conquistou de Jay Leno após quatro anos de espera, para perder em apenas cinco meses. Os arranjos de programação da emissora e a passividade de Leno fizeram com que Conan não aceitasse continuar à frente de seu bem-sucedido programa. Ao deixar a emissora, Conan recebeu cerca de 40 milhões de dólares - quantia que embora muito recompensadora financeiramente, parece não ter feito a diferença para o Conan artista, o Conan palhaço, aquele que não consegue parar, nem mesmo quando é contratualmente impedido de aparecer na televisão, rádio ou internet por sete meses. Sua solução? Aparecer ao vivo, para uma platéia, assim como fazia na televisão, com a diferença de que as únicas câmeras agora seriam as do público e a da equipe deste documentário, que nos confidencia O’Brien em momentos antes e depois do palco, nos dando breves vislumbres de seus shows e principalmente de seus momentos íntimos com sua equipe de roteiristas, seu companheiro de performances Andy Richter e sua assistente Sona Movsesian. Rodman Flender, o diretor do filme, bem como o próprio O’Brien, deixam as coisas transparentes, francas. Conan não se acanha diante da presença íntima da câmera, e Flender não hesita em registrar, por exemplo, a insatisfação do protagonista com a exaustiva atenção que insiste em dar aos fãs (tanto antes quanto depois de seus já exaustivos shows); incômodo que em alguns momentos leva o comediante a culpar sua equipe por permitir tantas pessoas em seu camarim, enquanto noutros o leva a revelar sua própria natureza atenciosa para aqueles que o prestigiam, insistindo, por exemplo, em saldar os fãs e conceder alguns autógrafos mesmo quando aconselhado a não fazer isso e no fundo pouco disposto para tal atividade. Apesar de tudo isso, o Conan O’Brien que vemos neste documentário jamais deixa de ser aquele cara extremamente cativante de quem falei acima; ele é naturalmente engraçado com aqueles ao seu redor; quando faz exigências ou demonstra insatisfação com algo, o faz de forma engraçada, irônica, tirando sarro, contando uma piada - mesmo que seja notável a diferença entre o Conan no palco e o Conan nos bastidores, permitindo assim com que enxerguemos uma figura humana e por isso mesmo ainda mais fascinante do que costuma ser quando vista dos palcos ou da televisão. Conan O’Brien possui uma qualidade que corre em suas veias: a de fazer aquilo que gosta, para grandes públicos ou pequenos públicos. Ele sente a necessidade de organizar tudo aquilo que naturalmente vibra em sua pessoa e transmitir - seja na forma de shows ao vivo, esquetes, episódios, entrevistas ou monólogos de talk-shows - aquilo que podemos facilmente identificar em sua essência: a diversão. Uma que conquista a todos, e que faz de O’Brien um artista indispensável e que por isso mesmo não pode, nunca, parar.
Eternamente Sua
3.9 33Alguns anos antes de conquistar a Palma de Ouro no Festival de Cannes por seu divisor de opiniões Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, o diretor Apichatpong Weerasethakul (ou apenas Joe, com pode ser facilmente chamado no ocidente) realizou o filme Eternamente Sua, seu segundo longa-metragem e primeiro a ser notavelmente aplaudido pelas esquinas do “cinema arte”. Não é minha intenção entrar aqui na discussão sobre o cinema de Joe ser mais “arte” do que outros; para mim isso não importa. Se de um lado defendem que este seu filme em questão é uma experiência subversiva e transcendental, do outro há aqueles que até encontram dificuldades em considerá-lo como um “filme” ou como possuidor de uma “estória”. Mas Eternamente Sua não é nada dessas duas coisas (talvez um pouco da primeira, confesso). Não é mais arte do que, digamos, um A Origem, porém tampouco pode ser desconsiderado como obra fílmica tal como, por exemplo, um Jackass. Eternamente Sua é apenas um filme diferente. E um muito bom.
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Amores Imaginários
3.8 1,5KEm Eu Matei a Minhã Mãe, o debute cinematográfico do jovem canadense Xavier Dolan (que escreveu, dirigiu e estrelou o filme quando tinha 19 anos de idade), o prodígio cineasta concebeu um autêntico e exaustivo retrato do relacionamento conturbado entre uma mãe e um filho, que ressaltava, acima de tudo, a volubilidade de sentimentos e a forma instável como estes são expressos em uma relação do tipo. Já neste seu segundo filme, o igualmente eficaz Amores Imaginários, Dolan mais uma vez pinta um retrato corrosivo, mas desta vez sobre relacionamentos amorosos - ou, como melhor poderíamos dizer, sobre paixões e obsessões amorosas que jamais se consumam de verdade, e cujo principal ressalte temático reside não na volubilidade antes comentada pelo cineasta, mas no aspecto circular dos chamados amores imaginários.
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30 Minutos ou Menos
3.0 539 Assista AgoraÉ muito difícil se importar com um filme como “30 Minutes or Less” depois de assisti-lo. Não é o tipo de filme que permanece na sua memória. Na verdade, em certo ponto da narrativa, você até torce para que a trama do longa mova-se mais rápido para que tudo aquilo termine logo e você possa definitivamente esquecer o que viu. A comédia não é ofensiva, aborrecida e nem chega a ser tão terrível, mas as poucas risadas que produz não compensam por seu vazio, que se faz presente tanto durante quanto depois do filme acabar. “30 Minutes or Less”, apesar de tudo, possui um elenco bastante atraente: Jesse Eisenberg e seu estilo frenético de pronunciar falas é divertido à sua maneira; Aziz Ansari, por sua vez, é escalado em um papel ideal para sua persona cômica; bem como Danny McBride, que por sempre interpretar tipos impudicos e boçais conquistou a antipatia de muitas pessoas, mas é, sem dúvida, o melhor ator para representar um papel desse tipo. Ainda contando com a presença do sempre interessante Michael Peña, que aqui, no entanto, não surge tão divertido, o filme ao menos possui uma aparência bonita, um elenco chamativo. Mas mesmo que seus atores passem pelo teste de aprovação, seus personagens é que são difíceis de engolir. Todos eles, com exceção de um ou outro menos importante, são criminosos sem nuances, o que acaba suprimindo as chances de desenvolvermos qualquer simpatia por suas figuras. A dupla encarnada por Eisenberg e Ansari, os amigos Nick e Dwayne, a princípio, não são criminosos, mas eventualmente - e obrigatoriamente - se tornam como tais. E por incrível que pareça, a situação em que se encontram - forçados a assaltarem um banco para dois sujeitos que precisam de cem mil dólares - não isentam o rótulo negativo que assumem, uma vez que apesar de desesperados com a situação e teoricamente vítimas dela, até desenvolvem certo prazer ao executarem as inúmeras atividades criminosas ao longo do caminho. Eles não se sentem infortunados com a circunstância em que se metem mais do que se sentem determinados a cumprir a missão; ao mesmo tempo, também parecem não se importar com a discrição, já que são extravagantes e descuidados, e ao invés de usarem o limitado tempo que possuem para cumprirem a tarefa criminosa ou pensarem em um jeito de se safarem seguramente daquilo (sério, poderia imaginar muitas alternativas enquanto assistia), o gastam com coisas estúpidas como gritar na cara do chefe, se despedir da garota amada ou ainda se engajarem em intermináveis discussões triviais, que são obviamente inseridas no filme com a finalidade de parecerem engraçadas, ainda expondo a negligência e estupidez dos personagens como traços cômicos - algo que apenas arranca algumas risadas e ajuda a aumentar nossa descrença diante de suas figuras. A sequência mais engraçada de todo o filme, e que em tese seria a principal, mas que acaba não sendo, é o assalto ao banco. Para se roubar um lugar daqueles é preciso de estratégia, ou no mínimo experiência. Não é qualquer um que consegue se virar e assaltar um banco, e por isso a cena é engraçada, porque ali não eram suas personalidades tolas em ação, e sim inexperientes. Os arcos narrativos desenvolvidos pelo roteiro são todos rasos, mas para um filme de comédia deste naipe poderia muito bem render uma narrativa boa e conferir mais nuances aos personagens, mas isso não acontece em “30 Minutes or Less”. Nick gosta da irmã de seu amigo e quer ter um relacionamento com ela, porém Dwayne não aprova, mas ele, um professor substituto, aprova assaltar um banco com o parceiro sob a condição de que ele nunca mais veja ou fale com sua irmã (dá pra acreditar?!). O último ato do filme é o menos inspirado; vários conflitos são iniciados (alguns de forma forçada, como aquele entre o assassino feito por Peña e o personagem de McBride) e o desfecho se dá em um mesmo local, quando todos os personagens se reúnem (típico) e onde os supostos heróis (os vitimados pela situação) saem ganhando - a não ser por uma gag engraçadinha no final do filme que contraria isso. Funcionando apenas por uma ou outra piada e falhando em estabelecer qualquer simpatia entre personagens e espectador, de que outra forma “30 Minutes or Less” pode prestar?
Pronto para Recomeçar
3.0 163 Assista AgoraQuando visualizamos Will Ferrell no papel de um personagem que tem sua vida arruinada e passa a viver no gramado de sua casa por vários dias consecutivos, pensamos especificamente que essa situação será no mínimo lúdica e no máximo muito engraçada. Não que não seja divertido acompanhar a rotina de um cara que vive em seu gramado, com todas as suas coisas espalhadas pelo local, e não que Pronto Para Recomeçar não seja engraçado em momentos modestos e ocasionais, mas é que nada disso é tão interessante neste filme quanto o que há por trás de sua premissa. Pois Pronto Para Recomeçar, longa de estreia do diretor e roteirista Dan Rush, revela-se como um poderoso drama, com bons personagens e uma baita demonstração do que Will Ferrell pode extrair de um papel mais dramático.
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Habemus Papam
3.6 194 Assista Agora“Habemus Papam” é certamente um filme curioso. Desinteressado em articular qualquer tipo de comentário sobre as controversas da Igreja Católica e sua inerente religiosidade em si, o diretor e também ator do filme Nanni Moretti prefere explorar as figuras de sua trama, os cardeais papáveis e o próprio Papa, de uma maneira mais humana, sem julgamentos e até bem humorada. Aliás, é sensato dizer que “Habemus Papam” funciona muito mais como uma comédia do que como um drama, embora nunca deixe de ser interessante a proposta do diretor em se abster das enredadas polêmicas religiosas que cercam o Vaticano e toda a Igreja e tratar seus personagens primariamente como indivíduos humanos. No entanto, o que seria uma oportunidade e tanto para abordar esse mundo sobre um outro prisma, acaba por se mostrar consideravelmente decepcionante, já que a narrativa do filme é desequilibrada, frágil e nunca se resolve. As gags que o diretor concebe, por exemplo, são impagáveis. Muito do humor do filme reside no fato de presenciarmos as figuras religiosas fazendo e dizendo coisas ou passando por situações incomuns que dificilmente as veríamos fazer/falar - e nesse sentido é de suma importância o cuidado com que o diretor emprega a inusitada comédia dentro do respeitado e sacrossanto Palácio do Vaticano, calibrando o absurdo com o moderado e jamais usando a profanação - uma vertente fácil para se produzir humor com esse tema - como catalisador do riso. O filme faz um bom uso do humor cotidiano e coletivo dos cardeais para dar forma à sua camada cômica. Embasando-se nas possibilidades cotidianas, por exemplo, Nanni Moretti cria hilários momentos como o que precede o conclave para a eleição de um novo Papa, quando um inesperado blecaute ocorre e os cardeais ficam sem luz e impossibilitados de acender velas, já que estas são proibidas no local; e também não deixa de registrar uma piada envolvendo a confusão dos repórteres de plantão na Praça São Pedro com a cor da fumaça responsável por comunicar a eleição de um novo Papa. Por sua vez, o humor coletivo é uma manifestação recorrente no filme, já que o roteiro não retrata nenhum dos cardeais de modo particularmente engraçado, embora cada um tenha sua personalidade bem definida. Em vez disso, o longa busca o que pode surgir de engraçado de suas interações, e assim consegue criar inusitados e lúdicos momentos de humor, entre eles os dois que se dão durante a votação - o das canetas e o do acumulo de pensamentos dos cardeais que suplicam para não serem os escolhidos para o cargo -; passando pela “sessão” de terapia do Papa; além das sequências onde os cardeais se embalam com a música que o suposto Pontífice estava ouvindo e em que participam do torneio de vôlei organizado pelo psicanalista responsável por tratar do novo Papa. Por falar no psicanalista, que é interpretado por Nanni Moretti, este é introduzido na trama para resolver o problema psicológico do recém eleito Papa, que desenvolve um repentino estado de depressão e insegurança após ser escolhido como novo representante da Igreja. O personagem de Moretti ajuda na construção de alguns momentos de humor, mas sua presença acaba perdendo o sentido inicial (além de carecer de um desfecho) - afinal, se sua confinação no Palácio do Vaticano era tão crucial, devido ao possível vazamento de segredos que ele poderia promover se fosse liberado, qual a razão ilógica (e muito mal explicada no filme, diga-se) de levar o Papa para se tratar com sua ex-mulher, que também é psicanalista? Só pode haver mesmo uma razão: conceder ao Papa Melville uma chance de sair do confinamento e fugir para uma viajem de descobrimento pela cidade de Roma, onde revive seus desejos pelo teatro e basicamente apenas anda, anda e anda pela cidade - algo que consome praticamente metade do filme e se mostra completamente artificial e ineficiente na tarefa de dramatizar a situação do Papa, embora o personagem ainda conquiste olhares cativados devido a ótima atuação de Michel Piccoli. Reforçando ainda mais a fragilidade com que executa o drama principal de sua narrativa, o desfecho não nos diz nada, apenas coloca um ponto final inócuo e inconcluso no que foi desenvolvido, ainda que pudesse ter mais impacto se todo o drama do filme fosse mais bem trabalhado e equilibrado com sua comédia. E mesmo que o intuito de todo o longa, tanto no aspecto cômico quanto no dramático, seja interessante e único, ele só compensa mesmo por um deles.