Sendo o primeiro trabalho de Sam Peckinpah para o cinema, é compreensível a maior falha desse filme: a falta de uma direção forte. Diversos problemas simples acontecem durante todo o filme que nos tiram da história, seja as subtramas que não agregam em nada ao contexto geral, como é o caso dos Apaches, ou algumas decisões equivocadas, como por exemplo a trilha sonora alegre em momentos de tensão. São alguns erros bem amadores que, tendo um diretor que batesse o pé e falasse para ser mudado, seriam facilmente retirados, algo que Peckinpah aprende e passa a aplicar nos demais filmes de sua carreira. Assim, mesmo sendo uma história interessante ela é confusa, com personagens que não nos importamos.
Uma grata surpresa. Western teoricamente simples, mas que consegue inserir o espectador na paranoia da cidade em que você, igual os moradores, também quer descobrir qual é a vítima escolhida por Gant e se pergunta do porquê que as pessoas simplesmente não deixam passar as provocações, já que todos tem conhecimento de que essa é a forma que ele utiliza para poder cometer seus assassinatos sem que se torne um criminoso.
Jack Arnold ainda é muito inteligente ao manipular a narrativa para que não tenhamos apego a Gant e, ao mesmo tempo, gostemos do personagem, fazendo-o ter atos contraditórios logo de início para que não saibamos se ele é herói ou vilão: surge vestido de preto e um cachorro late para ele, automaticamente nos fazendo pensar que ele é um ser cruel para, logo em seguida, chegar à cidade e mostrar preocupação com o seu cavalo sem ferradura, um ato bondoso. E é nessas contradições para não nos dar respostas prontas que o filme vai nos ganhando.
O ponto negativo é que, por sua curta duração, as discussões filosóficas que ele insere vez ou outra parecem vazias, rápidas demais. Daria um bom remake de 120 minutos, ampliando esses momentos.
Uma trama característica dos faroestes italianos, com o sujeito que vai em busca de resolver algo pendente em seu passado e, nesse meio tempo, se vê imerso em uma trama muito maior, até mesmo com uma revolução a caminho. É muito agradável de assistir porque vai sempre direto ao ponto, com seus poucos personagens bem definidos. Você sabe o que esperar deles e mesmo assim não são rasos. Não à toa os canais de televisão se utilizavam dos westerns para as tardes dos finais de semana. São um entretenimento de qualidade.
Uma delícia de assistir. Claro que é preciso ter muito em mente do que foi o western spaghetti e do próprio estilo até mesmo nos quadrinhos no período, como por exemplo Tex Willer, já que a história não está nem um pouco preocupada em ser realista (basta observar um dos tiros de Django de costas à um homem no balcão do bar, com a arma de ponta cabeça). Tendo isso em mente, você consegue apreciar muito essa história que se preocupa, ao menos na cenografia, em trazer um Oeste mais palpável, sujo, com lama e poeira. Nesse aspecto, de fato o filme tem seu ponto mais interessante. É lindo ver essa cidade "torta", um forte de pedras brancas ou a ponte de cordas, com o espectador sentindo que aquilo tudo é real. Não à toa chamou tanto a atenção que o nome Django foi "roubado" em uma série de produções que não tinham nada a ver com o original.
Ele consegue trazer toda a ambientação dos quadrinhos, a sujeira causada pela superpopulação, o descaso e a violência. Ele não é um filme "bonito", seus personagens tem os dentes tortos, tem cicatrizes, estão o tempo todos suados para mostrar como é sufocante viver naquela sociedade e toda a efervescência que leva ao crime. Karl Urban está excelente como Dredd, mesmo nos momentos mais caricatos com sua boca curvada para baixo. Seu problema é que não cria tensão suficiente, tendo vários momentos cansativos. Apesar de, no momento inicial, você prender a respiração e pensar "Como é que vão sair dessa?", em nenhum momento seguinte você teme pelos personagens, não apresentando nenhum risco. Ainda, a repetição dos efeitos da droga, mesmo criando uma fotografia bem semelhante aos desenhos de Colin Macneil, prejudicam muito o ritmo da história.
Primeiro filme de John Ford que temos acesso, considerando que todos os anteriores foram perdidos e, apesar de não conseguirmos, com isso, mensurar como foi o seu crescimento como diretor (ainda assinando como Jack Ford), ainda assim ele é impactante por ser um filme de um iniciante em 1917, época em que até mesmo alguns grandes do cinema ainda pecavam na ambientação de suas produções (Chaplin, por exemplo, somente lançou O Garoto em 1921, período que inaugura suas obras melhor trabalhadas).
Assim o que mais nos fascina é como John Ford consegue trazer toda a grandeza do Oeste à tela, focando em cenários reais, com grandes pradarias e penhascos, mas também se dedicando em muitos locais construídos, como por exemplo todo um saloon/hotel em uma cena de chuva pesada, elementos estes que dão muito realismo à história se você reparar que o que separam aqueles atores do "Oeste Selvagem" é um período de 30 a 40 anos.
A história, ainda, segue a trama mais básica do Velho Oeste: os colonos que serão expulsos pelo criador de gado ganancioso que contrata um pistoleiro. É faroeste puro e que funciona até hoje, não tendo ficado datado.
Recomendo a versão restaurada pelo John Ford Film Archive que consta no youtube (sem legendas).
Apesar de visualmente bonito, é um dos mais fracos da dupla, trazendo a homenagem ao circo como é comum de todos os comediantes dessa fase inicial do cinema (Chaplin, Irmãos Marx, Trapalhões, Cantinflas), gratos por terem recebido essa bagagem dos picadeiros e do vaudeville. O problema é que acaba sendo um filme vazio com muitas ideias que servem somente para ser poéticas mas sem muita utilidade à trama, como por exemplo o próprio final do palhaço que chora. Os números musicais estão muito bons e é divertido ver Jerry Lewis interagindo com os animais mas, afora isso, é bem cansativo.
P.S.: Uma das coisas que mais chama a atenção é, em certo momento, tocar a música que posteriormente seria utilizada na abertura original de Chaves.
Não sei dizer como adaptação literária porque, mesmo sendo um grane fã de Agatha Christie e tendo iniciado a missão de ler seus livros em ordem de lançamento, ainda não cheguei em Morte no Nilo.
No entanto, como uma obra vinda de Agatha Christie considero bem competente. Apesar da modernização necessária às histórias de Poirot para o público atual, em que mesmo ele não sendo uma máquina sem emoções como um Sherlock ainda assim não é um sujeito muito ativo, o que foi mudado aqui, você consegue perceber todo o cerne dos costumes ingleses que consta nas obras da Autora. Então você consegue ver a autora nos diálogos, nas conversas sobre problemas financeiros (o maior horror para um inglês), as traições e corações partidos, com um ressentimento latente entre personagens que só a morte consegue desvanecer. É Agatha Christie, e você a sente mesmo quando comete a heresia de mostrar um Poirot sem bigode, ou algumas danças bem sensuais.
Gal Gadot domina o filme, e é uma decisão bem inteligente adiar a morte para além da primeira hora, já que aumenta o suspense e nos faz ter um apego maior aos personagens. Russel Brand, um sujeito que nunca gostei (e isso antes mesmo dele ser casado com a Katy Perry), entrega uma atuação magnífica, algo digno de indicação ao Oscar.
Claro que o filme peca por alguns efeitos muito ruins, principalmente nas pirâmides, e umas frases de efeito bem capengas. No entanto, vale muito a pena assistir. E que trilha sonora!
Uma pena ser tão difícil de encontrar porque é um filme excelente. Após uma série de produções mal desenvolvidas, unicamente para cumprir um cronograma de lançamentos (e mesmo sendo obras com um orçamento cada vez maior), finalmente voltam a lançar uma história coesa, percebendo que não há a menor necessidade de criar diversas subtramas para contar uma boa comédia. Com isso, segue a trama básica dos vigaristas que tentam convencer alguém de determinada situação, ao estilo Um Morto muito louco, e o filme acaba sendo hilário justamente por entrarmos nessa proposta e até querermos ajudar os personagens na farsa. Em diversos momentos você quer gritar com Jerry Lewis para ele ser um doente mais convincente, já que o seu "golpe", ao final, é apenas uma tentativa de fazer algo diferente da vida. Tem a primeira vez que Jerry se caracteriza para interpretar personagens diferentes (a sequência com os especialistas), bem como sua imitação do cientista maluco, coisas que utilizaria em O Professor Aloprado.
Interessante que os números musicais (não todos), estão bem melhores, seja na primeira sequência, com um Dean Martin cantando uma canção ao estilo de Bob Dylan (e isso quase 10 anos antes do primeiro album de Bob Dylan), ou o número final, que recria, ainda que em miniatura, locais de Nova York com uma canção em homenagem à cidade (e, novamente, quase 25 anos antes do lançamento de New York New York no filme do Scorsese).
Primeiro filme colorido da dupla Dean e Jerry (isso se não levar em consideração a pequena participação feita em De Tanga e Sarongue, filme que na realidade é da dupla Bob Hope e Bing Crosby).
Mesmo sendo visualmente bonito, aproveitando bem essa nova técnica para o estilo da dupla, acaba sendo apenas um filme comum de sessão da tarde, com exceção da sua última meia hora que não apenas é engraçada, mas também tensa, nos deixando apreensivos sobre quem irá vencer a corrida. Dean Martin também tem uma boa alteração na sua persona, deixando de ser o sujeito perfeito para ser alguém cheio de problemas para resolver, mas de bom coração.
Jerry tem um ótimo personagem, o veterinário bondoso, ideia que ele começou a esboçar em That's My Boy com seu personagem que, em determinado momento, afirma que tem o sonho de ser veterinário para curar aqueles que não conseguem falar onde dói. Infelizmente o personagem, tão cativante, desaparece em alguns momentos dentro de seu próprio roteiro. Poderia ter focado mais nesse aspecto gentil.
Ele se aproveita de um elemento que gerou um dos melhores filmes da dupla (The Stooge), colocando novamente Dean Martin e Jerry Lewis interpretando personagens que se assemelham à eles na vida real, com shows de música com humor e arrastando multidões, e nesse meio coloca a melhor piada do filme, inserindo um efeito que já havia sido utilizado em Morrendo de Medo (e não vou dizer qual é por ser a última cena do filme, um spoiler). Fora isso, para contar a história dessa dupla acaba se utilizando de um longo flashback, no qual se situa toda a trama principal. Esta, por sua vez, não funciona. Se a graça é vermos Jerry e Dean como amigos, um defendendo o outro como sempre foi, é desagradável vermos os diversos momentos de arrogância em que inserem Dean Martin e sem qualquer arrependimento ou redenção, mesmo problema existente em outros filmes da dupla como That's My Boy e O Palhaço do Batalhão. Com isso, ficamos esperando por uma conclusão que nunca chega, parecendo um filme vazio. De fato, vale mesmo pela última piada.
Apesar de ser longo em excesso, tendo que incluir várias subtramas que, ao menos para mim, seriam melhor trabalhadas se fossem feitas em filmes distintos (o castelo assombrado e a perseguição pelo mafioso), ainda assim tem um bom resultado final. Ele se aproveita do renascimento do interesse pelos filmes de terror, que havia se exaurido 10 anos antes com os Monstros da Universal, e ressurgiria com O Monstro da Lagoa Negra e Vampiros de Almas. Tem algumas boas piadas, principalmente nos números musicais, e conversa muito com a gente por ser o último filme de Carmen Miranda. Infelizmente, por esse excesso na sua duração, acaba sendo um filme esquecível, mesmo que divertido.
P.S.: Complementando a participação especial feita em De Tanga e Sarongue, agora é Bob Hope e Bing Crosby que fazem uma curta aparição aqui.
É um bom filme, mas com uma primeira metade bem ruim, mais preocupada em criar uma imagem de mulherengos aos protagonistas do que em desenvolver sua história ou criar piadas.
No entanto a segunda metade, após a chegada na ilha deserta, é incrível, com o filme assumindo o aspecto da comédia e fazendo piada de si mesmo, quebrando a quarta parede, interagindo com a tela e o espectador, fazendo pouco caso de suas próprias músicas falando coisas como "Agora é a hora em que você pode ir comprar pipoca ou ir ao banheiro" e até mesmo fazendo referências a outros filmes, como Uma Aventura na África. Vale muito a pena por essa segunda parte quando de fato se torna uma obra de alto nível.
P.S.: Para quem for ver por fazer parte da filmografia de Jerry Lewis, saiba que sua participação dura cerca de 10 segundos.
É bem fraco, sendo visível como foi feito às pressas, resultando em um amontado de cenas e gags em uma trama bem fraca, que sequer nos atrai. Acaba sendo um filme para cumprir com o cronograma de três lançamentos ao ano de Dean e Jerry, tanto que tem uma base já utilizada: criar um enredo envolvendo as forças armadas, tal qual O Palhaço do Batalhão (Exército), O Marujo foi na Onda (Marinha) e agora Os Malucos do Ar (Paraquedistas/PQD), algo que ainda se repetiria outras vezes. Até mesmo os números musicais são bem semelhantes aos já realizados nos filmes anteriores. Mesmo tendo a liberdade de gravar em locações e mostrar as inovações técnicas (tanques, aviões e aparelhos de treinamento de salto), sequer chega a ser interessante, tal qual o filme anterior o fez ao mostrar os submarinos. Diverte em alguns momentos, mas é bem esquecível. Talvez o ponto do alto do filme seja o Sargento, personagem de Robert Strauss (que também interpretou outro comandante no filme anterior), sendo divertido ver como ele considera Hap um grande soldado e não admite que esteja errado.
Já formando uma equipe específica para os filmes, trazendo de volta Corinne Calvet (My Friend Irma Goes West), Mary Treen e Marion Marshall (The Stooge), aqui é possível perceber como Dean Martin e Jerry Lewis já se encontravam consolidados na indústria, com um filme de maior orçamento e tendo até mesmo a autorização da Marinha para gravar em seus quartéis, navios e submarinos (talvez o ambiente mais interessante de todo o filme, mostrando locais que até mesmo documentários não mostram, como por exemplo as camas).
Tem alguns momentos que é o mero amontoado de gags, como por exemplo a cena do aquecimento no pátio ou a luta de boxe, talvez a melhor parte do filme. Esses momentos nos fazem rir, óbvio, e é até engraçado ver os outros marinheiros não se aguentando e rindo junto, vazando as gargalhadas em um momento ou outro, mas perdem um pouco do valor quando se percebe que tais momentos não possuem um valor para o total da história tal qual feito em The Stooge e That's My Boy, os filmes anteriores.
Ainda assim é maravilhoso de assistir, principalmente por focarem muito na amizade e camaradagem entre Dean Martin e Jerry Lewis, nos dando vontade de ser amigos deles.
Depois de um filme em que Jerry Lewis é o protagonista, agora o estúdio investe em uma história protagonizada pelo Dean Martin, usando de boa parte do elenco anterior. Como Dean era um ato muito mais limitado, e isso não apenas por causa das técnicas de atuação mas também por ser uma estrela da música, tendo que tomar cuidado para que não participasse de um roteiro que prejudicasse sua imagem, acaba interpretando ele próprio, no antigo estilo dos estúdios em criar um filme com diversos números musicais para que pudesse, junto com a bilheteria, faturar na venda de LP, mesma técnica que seria utilizada anos depois pelo Coronel Parker com Elvis.
E é uma delícia de assistir, talvez só não sendo perfeito justamente por esse problema de não poder criar um roteiro que prejudicasse a imagem de Dean, com o filme podendo focar muito mais nessa arrogância e esnobismo pois, em determinados momentos, não compramos a ideia do afastamento natural feito pelos amigos, algo que só começa a funcionar mais próximo ao final.
Mesmo assim o filme é magnífico, lindo e com o estilo de personagem que eu amo em Jerry Lewis, o sujeito inocente e de bom coração, ao estilo de um Chaves (e inclusive em certos momentos fazendo uma gag que seria repetida anos depois pelo Chespirito, de levantar parte do corpo após abaixar outra, algo que Chaplin já fazia), te dando uma alegria somente em vê-lo na tela.
Fiquei impressionado em como esse filme funcionou comigo, a ponto de me ver chorando em diversos momentos. Não é uma comédia, mas sim um drama com alguns momentos de alívio cômico. É interessante a forma como trazem o Jerry Lewis com o personagem cativante de seus papeis anteriores, sendo visível no personagem todo o afeto e respeito que tem por seu pai, a bondade em seu coração em discursos como o de ser veterinário, e corrigem todos os problemas com Dean Martin dos outros três filmes: ele deixa de ser aquele sujeito arrogante, que menospreza Jerry. Há a rivalidade, sim, mas ambos são amigos e você acredita nessa amizade.
Traz a psicologia para o cinema, algo que ainda era pouco utilizado, talvez com o caso mais notório sendo Quando Fala o Coração, de Hitchcock, lançado 6 anos antes, e tem bons usos para explicar as doenças psicossomáticas e introversões. Claro que, da mesma forma como nos filmes anteriores, ainda acaba falhando por não trazer algumas punições a certos personagens, mas ainda assim o resultado geral é delicioso, um dos filmes para levar para a vida.
P.S.: A Boneca Anabelle original aparece no quarto de Terry.
Com a dupla assumindo agora o protagonismo dos filmes, é visível que os produtores à época ainda não viam o peso de Jerry Lewis em conduzir uma história, sendo mero coadjuvante, um alívio cômico, enquanto prefere focar no galã Dean Martin (o que seria revisto posteriormente e resultou no fim da dupla pelo empresário acabar desvinculando cada vez mais Jerry de Dean). Dean, sinceramente, sequer tem um bom personagem. Torcermos contra ele, querendo que se ferre não só por fugir das responsabilidades, mas também pela forma como trata o personagem de Jerry, que tem o nosso carisma. Boa parte do filme foca em mostrar as divisões do quartel com piadas que não funcionam, só engrenando na sua última hora final quando adota uma postura ao estilo "comédia de erros", com diversos mal entendidos que nos deixam apreensivos e nos fazem rir.
Bem mais fraco que o anterior, o problema da franquia em si é que, com exceção da dupla Dean Martin e Jerry Lewis (e ainda com ressalvas sobre eles em alguns momentos), apresenta personagens desprezíveis. Al é um picareta profissional, mas nunca próximo da figura do Bom Malandro, impedindo que nos afeiçoemos a ele. Irma, que poderia ser agradável como a clássica pessoa burrinha mas de bom coração, sequer tem este último aspecto, fazendo coisas desprezíveis na sua ingenuidade a ponto de nos perguntarmos porque Jane continua sendo amiga dela. Por sorte o trio principal tem uma boa relação, principalmente Jerry Lewis que, de tanto que roubou a cena no filme anterior, aqui tem uma participação maior. Ainda que tenha uma série de piadas de mau gosto até mesmo para mim, que sou defensor do politicamente incorreto e de que qualquer assunto pode ser alvo de piadas (Algumas piadas sobre os índios são ridículas até mesmo para a época, por sorte se recuperando logo em seguida com uma cena de dança indígena feita pelo Jerry Lewis), acaba sendo dele os momentos mais agradáveis do filme, talvez por ser visível como ele está se divertindo em atuar.
É um bom filme no geral. Considerando que é uma adaptação de um programa de rádio (e que depois gerou um programa de televisão e um quadrinho escrito pelo próprio Stan Lee), ele segue no início bem o estilo das sitcons, com a apresentação de personagens estereotipados, situações irrelevantes que se tornam grandes discussões e piadas bem simples. Por sorte, após sua primeira meia hora o filme muda seu tom e passa a ser uma verdadeira comédia dos anos 40, intercalando romance e números musicais. Cria uma piada que vai sendo trabalhada o filme todo, a do concurso no rádio, e quando esta chega ao ápice da "mulher com 32 filhos" é hilária. De fato é Jerry Lewis quem rouba a cena, sendo o melhor momento de todo o filme seu primeiro número musical com Dean Martin.
Apesar de seguir basicamente o estilo de As férias do Sr. Hulot, tem uma melhora significativa na sua condução, ou ao menor na maior parte dele. Ele ainda segue a característica de contar uma história sem um roteiro específico, sendo um amontoado de gags sobre determinado local ou situação. No entanto, a forma como o filme acaba sendo dividido faz com que boa parte dessas gags funcionem e tornem a trama fluída. Basicamente ele possui três momentos: a parte inicial, de cerca de 50 minutos, voltada à relação do tio com o menino; a segunda parte, com cerca de 40 minutos, voltada a um almoço realizado na casa; e a parte final, voltada à fábrica.
Com exceção da primeira parte, mais lenta e cansativa, com diversas mudanças de cenários, o filme acaba tendo um ritmo incrível. As piadas vão sendo interligadas e funcionam, com o espectador se surpreendendo ao se ver gargalhando por um convidado afirmar que consertaria um furo no cano, como se fosse algo simples, e na cena seguinte aparecer dentro de um buraco atolado até o pescoço. E esse ritmo e as gags vão melhorando, com Tati criando um "moderno Tempos Modernos", já na fase tecnológica e eletrônica. Sua ambientação lembra muito o que Woody Allen fez posteriormente em O Dorminhoco.
Tem muitas piadas técnicas, tal qual o anterior, feitas com auxílio de efeitos práticos como a casa que aparenta ter olhos ou a mangueira que parece uma cobra, e se antes Tati se dedicava muito à fotografia, aqui ele passa a aperfeiçoar a sua composição, colocando elementos em primeiro plano, como postes e estátuas, com os personagens fazendo piadas ao fundo.
Uma delícia de assistir. Mesmo já estando nos anos 50 Jacques Tati cria um filme que, teoricamente, é mudo. Tal qual um Mr. Bean, seu personagem não pronuncia qualquer outra palavra exceto o próprio nome, criando um filme que sequer possui um enredo, criando um amontoado de gags sobre um único tema: as férias. Assim, aborda um período de 7 dias, desde a sua chegada ao resort até a sua partida, inserindo diversas piadas sobre cada situação: um jogo de tênis, um baile, um piquenique, a praia, o almoço, dentre outros, tal qual Chaplin fazia nos seus primeiros longas (em O Circo, por exemplo, ia mudando seu personagem de ambiente no circo para aproveitar ao máximo todas as piadas que poderia gerar). O interessante é que muitas das gags criadas são técnicas, e você fica impressionado assistindo e tentando descobrir como foram feitas com tanta naturalidade, como por exemplo o balde de tinta que vem e vai na maré, mudando de lado e com o espectador se esforçando para procurar onde estão os fios que possibilitaram aquilo. Repete o estilo do carro barulhento, já utilizado em Domingo Alegre, e faz uma sutil referência ao seu personagem anterior, o carteiro, ao erguer fogos de artifício no formato de um quadro de bicicleta.
Mesmo sendo uma comédia "teoricamente muda", normalmente mais simples, não é um filme para ser visto a qualquer momento. Além do mais, o filme pode variar sua duração dependendo da versão que se assista. A última lançada, editada pelo Tati no final dos anos 70, tem 88 minutos.
A intenção do documentário é mais para apresentar a história de Polanski para o público atual, aproveitando o período em que estava em prisão domiciliar na Suiça. No entanto, tem que ter a plena consciência de que Polanski não é um narrador confiável, questão esta que consta em todas as suas biografias, sendo pacífico que por vezes suas histórias misturam datas, fatos ou sequer aconteceram, contando uma história somente para entreter o público. Coisas assim podem ser vistas na constante repetição de "Esse foi o momento mais feliz da minha vida", "foi a coisa mais linda que já vi", sempre dizendo isso para fatos diferentes.
Ainda assim há vários momentos em que você observa uma tristeza genuína, como quando ele narra o assassinato de Sharon Tate e visualmente você vê o homem definhar diante da tela, sendo impressionante como o fato ainda o abala. Também achei interessante como respeita Samantha Geimer, que há tempos vinha lutando para encerrar o processo e perdoara publicamente Polanski (e até mesmo o visitou neste ano).
Não é um documentário completo, tem várias reticências, como as acima descritas, mas é bom de acompanhar ao ver essa história sendo contada junto com Andy, que esteve com Polanski em boa parte dos acontecimentos da sua vida. Apesar do título ser "a vida em filmes", pouco fala de seu cinema.
Ele tem uma meia hora inicial bem complicada, mas necessária para expor quem são aqueles personagens e sua ligação com o caso Dreyfus. No entanto, somente quando Picquart entra na investigação que a história começa a funcionar: quando ele passa a se interessar pelo caso é que nós passamos a nos interessar pelo filme.
Apesar de grande parte da crítica acreditar que Polanski realizou o filme de maneira autobiográfica em razão de seu processo, não acredito que em nenhum momento ele tenha se comparado a Dreyfus ou Picquart, sendo visível o cuidado que ele tem para permanecer neutro nessa questão e tratar os acontecimentos com precisão histórica, até mesmo em prejuízo ao ritmo. No entanto, me pareceu que ele se compara à Zola, artista, o sujeito que sabe que cometeu um crime mas, mesmo assim, denuncia cada um que cometeu as regularidades, razão pelo qual ele dá especial atenção à carta J'accuse.
Impecável na caracterização do período, algo que Polanski já havia demonstrado talento desde os anos 70 com Macbeth e Tess, passando por O Pianista e Oliver Twist mas aqui, de uma maneira mais econômica, fazendo uso de efeitos especiais (e de uma forma bem mais eficaz do que em trabalhos anteriores, como O último portal).
Parceiros da Morte
3.4 13 Assista AgoraSendo o primeiro trabalho de Sam Peckinpah para o cinema, é compreensível a maior falha desse filme: a falta de uma direção forte. Diversos problemas simples acontecem durante todo o filme que nos tiram da história, seja as subtramas que não agregam em nada ao contexto geral, como é o caso dos Apaches, ou algumas decisões equivocadas, como por exemplo a trilha sonora alegre em momentos de tensão. São alguns erros bem amadores que, tendo um diretor que batesse o pé e falasse para ser mudado, seriam facilmente retirados, algo que Peckinpah aprende e passa a aplicar nos demais filmes de sua carreira. Assim, mesmo sendo uma história interessante ela é confusa, com personagens que não nos importamos.
Balas Que Não Erram
3.7 9 Assista AgoraUma grata surpresa. Western teoricamente simples, mas que consegue inserir o espectador na paranoia da cidade em que você, igual os moradores, também quer descobrir qual é a vítima escolhida por Gant e se pergunta do porquê que as pessoas simplesmente não deixam passar as provocações, já que todos tem conhecimento de que essa é a forma que ele utiliza para poder cometer seus assassinatos sem que se torne um criminoso.
Jack Arnold ainda é muito inteligente ao manipular a narrativa para que não tenhamos apego a Gant e, ao mesmo tempo, gostemos do personagem, fazendo-o ter atos contraditórios logo de início para que não saibamos se ele é herói ou vilão: surge vestido de preto e um cachorro late para ele, automaticamente nos fazendo pensar que ele é um ser cruel para, logo em seguida, chegar à cidade e mostrar preocupação com o seu cavalo sem ferradura, um ato bondoso. E é nessas contradições para não nos dar respostas prontas que o filme vai nos ganhando.
O ponto negativo é que, por sua curta duração, as discussões filosóficas que ele insere vez ou outra parecem vazias, rápidas demais. Daria um bom remake de 120 minutos, ampliando esses momentos.
Adeus, Texas
3.9 13 Assista AgoraUma trama característica dos faroestes italianos, com o sujeito que vai em busca de resolver algo pendente em seu passado e, nesse meio tempo, se vê imerso em uma trama muito maior, até mesmo com uma revolução a caminho. É muito agradável de assistir porque vai sempre direto ao ponto, com seus poucos personagens bem definidos. Você sabe o que esperar deles e mesmo assim não são rasos. Não à toa os canais de televisão se utilizavam dos westerns para as tardes dos finais de semana. São um entretenimento de qualidade.
Django
3.9 202 Assista AgoraUma delícia de assistir. Claro que é preciso ter muito em mente do que foi o western spaghetti e do próprio estilo até mesmo nos quadrinhos no período, como por exemplo Tex Willer, já que a história não está nem um pouco preocupada em ser realista (basta observar um dos tiros de Django de costas à um homem no balcão do bar, com a arma de ponta cabeça). Tendo isso em mente, você consegue apreciar muito essa história que se preocupa, ao menos na cenografia, em trazer um Oeste mais palpável, sujo, com lama e poeira. Nesse aspecto, de fato o filme tem seu ponto mais interessante. É lindo ver essa cidade "torta", um forte de pedras brancas ou a ponte de cordas, com o espectador sentindo que aquilo tudo é real. Não à toa chamou tanto a atenção que o nome Django foi "roubado" em uma série de produções que não tinham nada a ver com o original.
Dredd
3.6 1,4K Assista AgoraEle consegue trazer toda a ambientação dos quadrinhos, a sujeira causada pela superpopulação, o descaso e a violência. Ele não é um filme "bonito", seus personagens tem os dentes tortos, tem cicatrizes, estão o tempo todos suados para mostrar como é sufocante viver naquela sociedade e toda a efervescência que leva ao crime. Karl Urban está excelente como Dredd, mesmo nos momentos mais caricatos com sua boca curvada para baixo. Seu problema é que não cria tensão suficiente, tendo vários momentos cansativos. Apesar de, no momento inicial, você prender a respiração e pensar "Como é que vão sair dessa?", em nenhum momento seguinte você teme pelos personagens, não apresentando nenhum risco. Ainda, a repetição dos efeitos da droga, mesmo criando uma fotografia bem semelhante aos desenhos de Colin Macneil, prejudicam muito o ritmo da história.
O Último Cartucho
3.3 5Primeiro filme de John Ford que temos acesso, considerando que todos os anteriores foram perdidos e, apesar de não conseguirmos, com isso, mensurar como foi o seu crescimento como diretor (ainda assinando como Jack Ford), ainda assim ele é impactante por ser um filme de um iniciante em 1917, época em que até mesmo alguns grandes do cinema ainda pecavam na ambientação de suas produções (Chaplin, por exemplo, somente lançou O Garoto em 1921, período que inaugura suas obras melhor trabalhadas).
Assim o que mais nos fascina é como John Ford consegue trazer toda a grandeza do Oeste à tela, focando em cenários reais, com grandes pradarias e penhascos, mas também se dedicando em muitos locais construídos, como por exemplo todo um saloon/hotel em uma cena de chuva pesada, elementos estes que dão muito realismo à história se você reparar que o que separam aqueles atores do "Oeste Selvagem" é um período de 30 a 40 anos.
A história, ainda, segue a trama mais básica do Velho Oeste: os colonos que serão expulsos pelo criador de gado ganancioso que contrata um pistoleiro. É faroeste puro e que funciona até hoje, não tendo ficado datado.
Recomendo a versão restaurada pelo John Ford Film Archive que consta no youtube (sem legendas).
O Rei do Circo
3.8 14Apesar de visualmente bonito, é um dos mais fracos da dupla, trazendo a homenagem ao circo como é comum de todos os comediantes dessa fase inicial do cinema (Chaplin, Irmãos Marx, Trapalhões, Cantinflas), gratos por terem recebido essa bagagem dos picadeiros e do vaudeville. O problema é que acaba sendo um filme vazio com muitas ideias que servem somente para ser poéticas mas sem muita utilidade à trama, como por exemplo o próprio final do palhaço que chora. Os números musicais estão muito bons e é divertido ver Jerry Lewis interagindo com os animais mas, afora isso, é bem cansativo.
P.S.: Uma das coisas que mais chama a atenção é, em certo momento, tocar a música que posteriormente seria utilizada na abertura original de Chaves.
Morte no Nilo
3.1 353 Assista AgoraNão sei dizer como adaptação literária porque, mesmo sendo um grane fã de Agatha Christie e tendo iniciado a missão de ler seus livros em ordem de lançamento, ainda não cheguei em Morte no Nilo.
No entanto, como uma obra vinda de Agatha Christie considero bem competente. Apesar da modernização necessária às histórias de Poirot para o público atual, em que mesmo ele não sendo uma máquina sem emoções como um Sherlock ainda assim não é um sujeito muito ativo, o que foi mudado aqui, você consegue perceber todo o cerne dos costumes ingleses que consta nas obras da Autora. Então você consegue ver a autora nos diálogos, nas conversas sobre problemas financeiros (o maior horror para um inglês), as traições e corações partidos, com um ressentimento latente entre personagens que só a morte consegue desvanecer. É Agatha Christie, e você a sente mesmo quando comete a heresia de mostrar um Poirot sem bigode, ou algumas danças bem sensuais.
Gal Gadot domina o filme, e é uma decisão bem inteligente adiar a morte para além da primeira hora, já que aumenta o suspense e nos faz ter um apego maior aos personagens. Russel Brand, um sujeito que nunca gostei (e isso antes mesmo dele ser casado com a Katy Perry), entrega uma atuação magnífica, algo digno de indicação ao Oscar.
Claro que o filme peca por alguns efeitos muito ruins, principalmente nas pirâmides, e umas frases de efeito bem capengas. No entanto, vale muito a pena assistir. E que trilha sonora!
A Farra dos Malandros
3.6 8Uma pena ser tão difícil de encontrar porque é um filme excelente. Após uma série de produções mal desenvolvidas, unicamente para cumprir um cronograma de lançamentos (e mesmo sendo obras com um orçamento cada vez maior), finalmente voltam a lançar uma história coesa, percebendo que não há a menor necessidade de criar diversas subtramas para contar uma boa comédia. Com isso, segue a trama básica dos vigaristas que tentam convencer alguém de determinada situação, ao estilo Um Morto muito louco, e o filme acaba sendo hilário justamente por entrarmos nessa proposta e até querermos ajudar os personagens na farsa. Em diversos momentos você quer gritar com Jerry Lewis para ele ser um doente mais convincente, já que o seu "golpe", ao final, é apenas uma tentativa de fazer algo diferente da vida. Tem a primeira vez que Jerry se caracteriza para interpretar personagens diferentes (a sequência com os especialistas), bem como sua imitação do cientista maluco, coisas que utilizaria em O Professor Aloprado.
Interessante que os números musicais (não todos), estão bem melhores, seja na primeira sequência, com um Dean Martin cantando uma canção ao estilo de Bob Dylan (e isso quase 10 anos antes do primeiro album de Bob Dylan), ou o número final, que recria, ainda que em miniatura, locais de Nova York com uma canção em homenagem à cidade (e, novamente, quase 25 anos antes do lançamento de New York New York no filme do Scorsese).
A Barbada do Biruta
3.6 12 Assista AgoraPrimeiro filme colorido da dupla Dean e Jerry (isso se não levar em consideração a pequena participação feita em De Tanga e Sarongue, filme que na realidade é da dupla Bob Hope e Bing Crosby).
Mesmo sendo visualmente bonito, aproveitando bem essa nova técnica para o estilo da dupla, acaba sendo apenas um filme comum de sessão da tarde, com exceção da sua última meia hora que não apenas é engraçada, mas também tensa, nos deixando apreensivos sobre quem irá vencer a corrida. Dean Martin também tem uma boa alteração na sua persona, deixando de ser o sujeito perfeito para ser alguém cheio de problemas para resolver, mas de bom coração.
Jerry tem um ótimo personagem, o veterinário bondoso, ideia que ele começou a esboçar em That's My Boy com seu personagem que, em determinado momento, afirma que tem o sonho de ser veterinário para curar aqueles que não conseguem falar onde dói. Infelizmente o personagem, tão cativante, desaparece em alguns momentos dentro de seu próprio roteiro. Poderia ter focado mais nesse aspecto gentil.
Sofrendo da Bola
3.5 14Ele se aproveita de um elemento que gerou um dos melhores filmes da dupla (The Stooge), colocando novamente Dean Martin e Jerry Lewis interpretando personagens que se assemelham à eles na vida real, com shows de música com humor e arrastando multidões, e nesse meio coloca a melhor piada do filme, inserindo um efeito que já havia sido utilizado em Morrendo de Medo (e não vou dizer qual é por ser a última cena do filme, um spoiler). Fora isso, para contar a história dessa dupla acaba se utilizando de um longo flashback, no qual se situa toda a trama principal. Esta, por sua vez, não funciona. Se a graça é vermos Jerry e Dean como amigos, um defendendo o outro como sempre foi, é desagradável vermos os diversos momentos de arrogância em que inserem Dean Martin e sem qualquer arrependimento ou redenção, mesmo problema existente em outros filmes da dupla como That's My Boy e O Palhaço do Batalhão. Com isso, ficamos esperando por uma conclusão que nunca chega, parecendo um filme vazio. De fato, vale mesmo pela última piada.
Morrendo de Medo
3.5 26 Assista AgoraApesar de ser longo em excesso, tendo que incluir várias subtramas que, ao menos para mim, seriam melhor trabalhadas se fossem feitas em filmes distintos (o castelo assombrado e a perseguição pelo mafioso), ainda assim tem um bom resultado final. Ele se aproveita do renascimento do interesse pelos filmes de terror, que havia se exaurido 10 anos antes com os Monstros da Universal, e ressurgiria com O Monstro da Lagoa Negra e Vampiros de Almas. Tem algumas boas piadas, principalmente nos números musicais, e conversa muito com a gente por ser o último filme de Carmen Miranda. Infelizmente, por esse excesso na sua duração, acaba sendo um filme esquecível, mesmo que divertido.
P.S.: Complementando a participação especial feita em De Tanga e Sarongue, agora é Bob Hope e Bing Crosby que fazem uma curta aparição aqui.
De Tanga e Sarongue
3.4 2 Assista AgoraÉ um bom filme, mas com uma primeira metade bem ruim, mais preocupada em criar uma imagem de mulherengos aos protagonistas do que em desenvolver sua história ou criar piadas.
No entanto a segunda metade, após a chegada na ilha deserta, é incrível, com o filme assumindo o aspecto da comédia e fazendo piada de si mesmo, quebrando a quarta parede, interagindo com a tela e o espectador, fazendo pouco caso de suas próprias músicas falando coisas como "Agora é a hora em que você pode ir comprar pipoca ou ir ao banheiro" e até mesmo fazendo referências a outros filmes, como Uma Aventura na África. Vale muito a pena por essa segunda parte quando de fato se torna uma obra de alto nível.
P.S.: Para quem for ver por fazer parte da filmografia de Jerry Lewis, saiba que sua participação dura cerca de 10 segundos.
Malucos do Ar
3.3 7É bem fraco, sendo visível como foi feito às pressas, resultando em um amontado de cenas e gags em uma trama bem fraca, que sequer nos atrai. Acaba sendo um filme para cumprir com o cronograma de três lançamentos ao ano de Dean e Jerry, tanto que tem uma base já utilizada: criar um enredo envolvendo as forças armadas, tal qual O Palhaço do Batalhão (Exército), O Marujo foi na Onda (Marinha) e agora Os Malucos do Ar (Paraquedistas/PQD), algo que ainda se repetiria outras vezes. Até mesmo os números musicais são bem semelhantes aos já realizados nos filmes anteriores. Mesmo tendo a liberdade de gravar em locações e mostrar as inovações técnicas (tanques, aviões e aparelhos de treinamento de salto), sequer chega a ser interessante, tal qual o filme anterior o fez ao mostrar os submarinos. Diverte em alguns momentos, mas é bem esquecível. Talvez o ponto do alto do filme seja o Sargento, personagem de Robert Strauss (que também interpretou outro comandante no filme anterior), sendo divertido ver como ele considera Hap um grande soldado e não admite que esteja errado.
O Marujo Foi na Onda
3.6 7 Assista AgoraJá formando uma equipe específica para os filmes, trazendo de volta Corinne Calvet (My Friend Irma Goes West), Mary Treen e Marion Marshall (The Stooge), aqui é possível perceber como Dean Martin e Jerry Lewis já se encontravam consolidados na indústria, com um filme de maior orçamento e tendo até mesmo a autorização da Marinha para gravar em seus quartéis, navios e submarinos (talvez o ambiente mais interessante de todo o filme, mostrando locais que até mesmo documentários não mostram, como por exemplo as camas).
Tem alguns momentos que é o mero amontoado de gags, como por exemplo a cena do aquecimento no pátio ou a luta de boxe, talvez a melhor parte do filme. Esses momentos nos fazem rir, óbvio, e é até engraçado ver os outros marinheiros não se aguentando e rindo junto, vazando as gargalhadas em um momento ou outro, mas perdem um pouco do valor quando se percebe que tais momentos não possuem um valor para o total da história tal qual feito em The Stooge e That's My Boy, os filmes anteriores.
Ainda assim é maravilhoso de assistir, principalmente por focarem muito na amizade e camaradagem entre Dean Martin e Jerry Lewis, nos dando vontade de ser amigos deles.
O Biruta e o Folgado
3.5 11Depois de um filme em que Jerry Lewis é o protagonista, agora o estúdio investe em uma história protagonizada pelo Dean Martin, usando de boa parte do elenco anterior. Como Dean era um ato muito mais limitado, e isso não apenas por causa das técnicas de atuação mas também por ser uma estrela da música, tendo que tomar cuidado para que não participasse de um roteiro que prejudicasse sua imagem, acaba interpretando ele próprio, no antigo estilo dos estúdios em criar um filme com diversos números musicais para que pudesse, junto com a bilheteria, faturar na venda de LP, mesma técnica que seria utilizada anos depois pelo Coronel Parker com Elvis.
E é uma delícia de assistir, talvez só não sendo perfeito justamente por esse problema de não poder criar um roteiro que prejudicasse a imagem de Dean, com o filme podendo focar muito mais nessa arrogância e esnobismo pois, em determinados momentos, não compramos a ideia do afastamento natural feito pelos amigos, algo que só começa a funcionar mais próximo ao final.
Mesmo assim o filme é magnífico, lindo e com o estilo de personagem que eu amo em Jerry Lewis, o sujeito inocente e de bom coração, ao estilo de um Chaves (e inclusive em certos momentos fazendo uma gag que seria repetida anos depois pelo Chespirito, de levantar parte do corpo após abaixar outra, algo que Chaplin já fazia), te dando uma alegria somente em vê-lo na tela.
O Filhinho do Papai
3.5 10Fiquei impressionado em como esse filme funcionou comigo, a ponto de me ver chorando em diversos momentos. Não é uma comédia, mas sim um drama com alguns momentos de alívio cômico. É interessante a forma como trazem o Jerry Lewis com o personagem cativante de seus papeis anteriores, sendo visível no personagem todo o afeto e respeito que tem por seu pai, a bondade em seu coração em discursos como o de ser veterinário, e corrigem todos os problemas com Dean Martin dos outros três filmes: ele deixa de ser aquele sujeito arrogante, que menospreza Jerry. Há a rivalidade, sim, mas ambos são amigos e você acredita nessa amizade.
Traz a psicologia para o cinema, algo que ainda era pouco utilizado, talvez com o caso mais notório sendo Quando Fala o Coração, de Hitchcock, lançado 6 anos antes, e tem bons usos para explicar as doenças psicossomáticas e introversões. Claro que, da mesma forma como nos filmes anteriores, ainda acaba falhando por não trazer algumas punições a certos personagens, mas ainda assim o resultado geral é delicioso, um dos filmes para levar para a vida.
P.S.: A Boneca Anabelle original aparece no quarto de Terry.
O Palhaço do Batalhão
3.4 8 Assista AgoraCom a dupla assumindo agora o protagonismo dos filmes, é visível que os produtores à época ainda não viam o peso de Jerry Lewis em conduzir uma história, sendo mero coadjuvante, um alívio cômico, enquanto prefere focar no galã Dean Martin (o que seria revisto posteriormente e resultou no fim da dupla pelo empresário acabar desvinculando cada vez mais Jerry de Dean). Dean, sinceramente, sequer tem um bom personagem. Torcermos contra ele, querendo que se ferre não só por fugir das responsabilidades, mas também pela forma como trata o personagem de Jerry, que tem o nosso carisma.
Boa parte do filme foca em mostrar as divisões do quartel com piadas que não funcionam, só engrenando na sua última hora final quando adota uma postura ao estilo "comédia de erros", com diversos mal entendidos que nos deixam apreensivos e nos fazem rir.
Minha Amiga Maluca
3.1 5Bem mais fraco que o anterior, o problema da franquia em si é que, com exceção da dupla Dean Martin e Jerry Lewis (e ainda com ressalvas sobre eles em alguns momentos), apresenta personagens desprezíveis. Al é um picareta profissional, mas nunca próximo da figura do Bom Malandro, impedindo que nos afeiçoemos a ele. Irma, que poderia ser agradável como a clássica pessoa burrinha mas de bom coração, sequer tem este último aspecto, fazendo coisas desprezíveis na sua ingenuidade a ponto de nos perguntarmos porque Jane continua sendo amiga dela. Por sorte o trio principal tem uma boa relação, principalmente Jerry Lewis que, de tanto que roubou a cena no filme anterior, aqui tem uma participação maior. Ainda que tenha uma série de piadas de mau gosto até mesmo para mim, que sou defensor do politicamente incorreto e de que qualquer assunto pode ser alvo de piadas (Algumas piadas sobre os índios são ridículas até mesmo para a época, por sorte se recuperando logo em seguida com uma cena de dança indígena feita pelo Jerry Lewis), acaba sendo dele os momentos mais agradáveis do filme, talvez por ser visível como ele está se divertindo em atuar.
A Amiga da Onça
3.1 5É um bom filme no geral. Considerando que é uma adaptação de um programa de rádio (e que depois gerou um programa de televisão e um quadrinho escrito pelo próprio Stan Lee), ele segue no início bem o estilo das sitcons, com a apresentação de personagens estereotipados, situações irrelevantes que se tornam grandes discussões e piadas bem simples. Por sorte, após sua primeira meia hora o filme muda seu tom e passa a ser uma verdadeira comédia dos anos 40, intercalando romance e números musicais. Cria uma piada que vai sendo trabalhada o filme todo, a do concurso no rádio, e quando esta chega ao ápice da "mulher com 32 filhos" é hilária. De fato é Jerry Lewis quem rouba a cena, sendo o melhor momento de todo o filme seu primeiro número musical com Dean Martin.
Meu Tio
4.1 115Apesar de seguir basicamente o estilo de As férias do Sr. Hulot, tem uma melhora significativa na sua condução, ou ao menor na maior parte dele. Ele ainda segue a característica de contar uma história sem um roteiro específico, sendo um amontoado de gags sobre determinado local ou situação. No entanto, a forma como o filme acaba sendo dividido faz com que boa parte dessas gags funcionem e tornem a trama fluída. Basicamente ele possui três momentos: a parte inicial, de cerca de 50 minutos, voltada à relação do tio com o menino; a segunda parte, com cerca de 40 minutos, voltada a um almoço realizado na casa; e a parte final, voltada à fábrica.
Com exceção da primeira parte, mais lenta e cansativa, com diversas mudanças de cenários, o filme acaba tendo um ritmo incrível. As piadas vão sendo interligadas e funcionam, com o espectador se surpreendendo ao se ver gargalhando por um convidado afirmar que consertaria um furo no cano, como se fosse algo simples, e na cena seguinte aparecer dentro de um buraco atolado até o pescoço. E esse ritmo e as gags vão melhorando, com Tati criando um "moderno Tempos Modernos", já na fase tecnológica e eletrônica. Sua ambientação lembra muito o que Woody Allen fez posteriormente em O Dorminhoco.
Tem muitas piadas técnicas, tal qual o anterior, feitas com auxílio de efeitos práticos como a casa que aparenta ter olhos ou a mangueira que parece uma cobra, e se antes Tati se dedicava muito à fotografia, aqui ele passa a aperfeiçoar a sua composição, colocando elementos em primeiro plano, como postes e estátuas, com os personagens fazendo piadas ao fundo.
As Férias do Sr. Hulot
3.8 44Uma delícia de assistir. Mesmo já estando nos anos 50 Jacques Tati cria um filme que, teoricamente, é mudo. Tal qual um Mr. Bean, seu personagem não pronuncia qualquer outra palavra exceto o próprio nome, criando um filme que sequer possui um enredo, criando um amontoado de gags sobre um único tema: as férias. Assim, aborda um período de 7 dias, desde a sua chegada ao resort até a sua partida, inserindo diversas piadas sobre cada situação: um jogo de tênis, um baile, um piquenique, a praia, o almoço, dentre outros, tal qual Chaplin fazia nos seus primeiros longas (em O Circo, por exemplo, ia mudando seu personagem de ambiente no circo para aproveitar ao máximo todas as piadas que poderia gerar). O interessante é que muitas das gags criadas são técnicas, e você fica impressionado assistindo e tentando descobrir como foram feitas com tanta naturalidade, como por exemplo o balde de tinta que vem e vai na maré, mudando de lado e com o espectador se esforçando para procurar onde estão os fios que possibilitaram aquilo. Repete o estilo do carro barulhento, já utilizado em Domingo Alegre, e faz uma sutil referência ao seu personagem anterior, o carteiro, ao erguer fogos de artifício no formato de um quadro de bicicleta.
Mesmo sendo uma comédia "teoricamente muda", normalmente mais simples, não é um filme para ser visto a qualquer momento. Além do mais, o filme pode variar sua duração dependendo da versão que se assista. A última lançada, editada pelo Tati no final dos anos 70, tem 88 minutos.
Roman Polanski: A Vida em Filmes
3.9 29 Assista AgoraA intenção do documentário é mais para apresentar a história de Polanski para o público atual, aproveitando o período em que estava em prisão domiciliar na Suiça. No entanto, tem que ter a plena consciência de que Polanski não é um narrador confiável, questão esta que consta em todas as suas biografias, sendo pacífico que por vezes suas histórias misturam datas, fatos ou sequer aconteceram, contando uma história somente para entreter o público. Coisas assim podem ser vistas na constante repetição de "Esse foi o momento mais feliz da minha vida", "foi a coisa mais linda que já vi", sempre dizendo isso para fatos diferentes.
Ainda assim há vários momentos em que você observa uma tristeza genuína, como quando ele narra o assassinato de Sharon Tate e visualmente você vê o homem definhar diante da tela, sendo impressionante como o fato ainda o abala. Também achei interessante como respeita Samantha Geimer, que há tempos vinha lutando para encerrar o processo e perdoara publicamente Polanski (e até mesmo o visitou neste ano).
Não é um documentário completo, tem várias reticências, como as acima descritas, mas é bom de acompanhar ao ver essa história sendo contada junto com Andy, que esteve com Polanski em boa parte dos acontecimentos da sua vida. Apesar do título ser "a vida em filmes", pouco fala de seu cinema.
O Oficial e o Espião
3.7 70 Assista AgoraEle tem uma meia hora inicial bem complicada, mas necessária para expor quem são aqueles personagens e sua ligação com o caso Dreyfus. No entanto, somente quando Picquart entra na investigação que a história começa a funcionar: quando ele passa a se interessar pelo caso é que nós passamos a nos interessar pelo filme.
Apesar de grande parte da crítica acreditar que Polanski realizou o filme de maneira autobiográfica em razão de seu processo, não acredito que em nenhum momento ele tenha se comparado a Dreyfus ou Picquart, sendo visível o cuidado que ele tem para permanecer neutro nessa questão e tratar os acontecimentos com precisão histórica, até mesmo em prejuízo ao ritmo. No entanto, me pareceu que ele se compara à Zola, artista, o sujeito que sabe que cometeu um crime mas, mesmo assim, denuncia cada um que cometeu as regularidades, razão pelo qual ele dá especial atenção à carta J'accuse.
Impecável na caracterização do período, algo que Polanski já havia demonstrado talento desde os anos 70 com Macbeth e Tess, passando por O Pianista e Oliver Twist mas aqui, de uma maneira mais econômica, fazendo uso de efeitos especiais (e de uma forma bem mais eficaz do que em trabalhos anteriores, como O último portal).