Esse filme tem muito em comum, a meu ver, com o "In the mouth of madness (1994)" do Carpenter. É o "Depois de horas (1985)" do Fincher, um thriller que cria um atrito entre a visão materialista do diretor, com o aspecto "surrealista" que a trama impõe. Essa obsessão por "autoconsciência", de enxergar o mundo como representação, também foi levado à tona por Peter Weir em seu "Show de Truman (1998)", filme lançado em época próxima, e que demonstrava conexões temáticas com esse também ótimo "The Game". Assim como em "Seven", Fincher parece repudiar a perca da razão- e a sequência a qual esse comentário aparece com mais força, é justamente parecido com o do personagem de Pitt, no filme de 1995. É na tentativa de racionalização desse absurdo desconhecido que o personagem se vê confrontado com a loucura- e seu hilário desfecho rima bastante com a cena final do Carpenter de 94-, a curiosidade o estimula, e ele parece aceitar o desconhecido, não o compreende, mas continua a esmiuçar. Nosso natural caminho.
Filme sofrível de Zack Snyder. Certamente, o pior de sua filmografia: mal- ritmado, permeado de excessos e pontas soltas; falta de envolvimento e a quase nula empatia com determinados personagens. O filme abraça a grandiloquência e se rende À "estética de videogame" no terço final. Lamentável.
Atualização interessante: transpõe o longa anterior em um novo formato, claramente palatável às novas necessidades "realísticas" do público moderno e que, incrivelmente, consegue manter alguma essência do filme clássico, despertando certo valor nostálgico. O senso de perigo aqui aumenta e a floresta artificialmente criada tem certo brilho. Favreau se demonstra um bom diretor "por encomenda". Uma boa surpresa.
"Um zootrópio numa tenda". Cheio de sequências bem engendradas, aonde Wan domina o espectador, suspendendo as emoções e controlando os tons. Entonando a narrativa nessa montanha- russa fustigante que te prende e solta continuamente. Hitchcock aplaudiria.
Essa terna sensação que o filme provoca, me traz à lembrança aquela "doçura" vista em filmes como "Meu Primeiro Amor", além daquele ar onírico de "O Jardim Secreto". A exuberância visual (usual do Ghibli), somada à tocante trilha resulta em um filme com desejos contidos, aonde os devaneios ganham pouca representação "externa" dentro do filme (embora exista). Sendo assim, é um filme que se aproxima mais daquele "neorrealismo" dos filmes de Takahata, afastando-se do tom "aventuresco" de muitos dos filmes de Miyazaki. Esse aspecto dual do longa, de "filme- espelho", a qual a idealização quer se tornar nosso "eu- concreto" (e vice- versa); se demonstra possível para Yonebayashi, que sabe que podemos descobrir sobre nós quando nos materializamos em algum suporte artístico. Para ele, é exatamente aí que os sonhos compartilham-se.
Dizem que a melhor forma de avaliar o caráter de determinada pessoa, seria dando-lhe "poder". Mesmo a pessoa mais altruísta e simples poderia facilmente entrar em dilemas existenciais fortes, declinando quanto à sua própria moral. O homem é facilmente corruptível assim? Jesus e as tentações no deserto. Ao nos mostrar a Ascensão e Queda de Larry Rhodes, Elia Kazan põe isso à prova, aonde o vivaz e pacato homem se vê aglutinado ao sistema que costumava criticar. Será que esse processo de "despersonalização" teria um efeito inverso? Aonde as facilidades e artimanhas de "se estar" no Poder ajudam a Larry desvendar, cada vez mais, o que está abaixo da superfície, o lado sórdido, a carne viva do seu ser (?). A megalomania cresce e o desejo de ser amado por essa massa abstrata se torna cada vez mais sem sentido. Rhodes se distancia gradativamente do que costumava ser, e Márcia (Patricia Neal, encantadora) indaga-se sobre a "criatura" que concebeu. O fascínio dela pela simplicidade de Rhodes, que foi 'digerida' pela sociedade do espetáculo, destituída de seu apelo local em prol de massificar e perder toda a autenticidade para o apelo vendível, corrompidamente atrelada aos interesses econômicos/políticos de pequenos grupos detentores do tal Poder... E claro, o fascismo sempre presente. Esse está desligado, esperando o furor de energia dos ególatras, que no curto tempo que manejam o maquinário superior, vociferam contra os que julgam serem seus subordinados. Está aí, eis o homem(!).
Aplausos. Risadas esganiçadas. Cortinas se fecham.
Realmente duro observar essa situação, que parece estar se tornando cada vez menos insólita. Duro também pensar que mesmo o apoio de entidades como o "fome zero", não parecem ajudar para que a situação se reverta inteiramente. É um auxílio que até acrescenta, mas não parece preencher 1/3 do problema...É uma situação realmente lamentável e o filme registra isso de forma seca, nua e crua. Aconselho assistirem.
"Mockumentary" inventivo aonde P. Jackson homenageia- à sua maneira- o cinema e seus primórdios. Interessante reparar que este filme é pouco citado em sua filmografia, sendo um título mais obscuro, provavelmente por ter sido lançado para TV. A abordagem em tom documental é conduzida de maneira muito eficaz a meu ver, tornando este bastante verossímeis os depoimentos e quase nos fazendo acreditar nos feitos admiráveis de Mckenzie. Sendo assim, "Forgotten Silver" é uma pequena pérola na já virtuosa filmografia do cineasta neo-zelandês. Uma espécie de ode à criação cinematográfica e aos grandes precursores da técnica e de sua linguagem.
Com certeza, uma das experiências mais inusitadas que se podem ter com um filme, daqueles que causam um leve impacto devido à estranheza inicial pelo modo que é conduzido. Este "Branca de Neve" do J. César Monteiro flerta, pelo que percebi, abertamente com a literatura, pois a sensação que me passou logo de início foi que eu estava "assistindo" uma representação teatral de uma obra shakesperiana- só que de luzes apagadas. Talvez a sacada do realizador seja justamente a de reivindicar algo supremo na 7° Arte, que é a imagem, em prol de sua ausência. Só que a ausência é entre aspas, pois nossa imaginação ajuda a preencher esse vácuo no filme. Ou seja, o próprio espectador faz parte do processo criativo para a concepção do filme e isso é realmente algo interessante, a meu ver. Meu único porém é em relação à sua duração que, apesar de ser relativamente curta para os padrões de tempo de um filme comum, me gerou uma certa fadiga. Não querendo desmerecer o longa, mas confesso que me seria mais interessante se fosse um pouco menor, ainda mais pela proposta exigir tanto do espectador.
Filme produzido seguindo à risca da "política da boa vizinhança" (a pedido do próprio presidente). Disney veio dar o ar da graça aqui na América Latina, criando uma bela homenagem, apresentando o icônico personagem Zé Carioca. Cheio de belos momentos, como a sequência acompanhada de "aquarela do brasil" e a hilária sequência final em que Donald conhece a famosa "caipirinha. O filme é divertido e uma obra pouco comum nos estúdios do produtor. Curiosamente, Disney parecia andar com uma espécie de bloqueio criativo no período, por insistência de seu irmão acabou por vir parar por aqui, era mais ou menos no período da greve dos animadores e tal. Também a título de curiosidade: o filme "Dumbo" estava sendo produzido paralelamente no estúdio, sendo este o primeiro filme a 'simular' um filme de Disney em toda sua fórmula, pois o realizador estava ausente, obviamente.
Ótimo filme dos Wachowski e do diretor alemão Tom Tykwer. Seguindo a estrutura de história interligadas já visto em filmes como "Babel" ou até mesmo "Magnólia", o filme se mostra mais ambicioso, neste sentido, pelo fato dos personagens estarem em tempos distintos. A partir disso, o trio de diretores estruturam uma narrativa ambiciosa que une conceitos como o inconsciente coletivo, por causa da noção de herança de vivências acumuladas pelas gerações; além do conceito nietzscheano do "Eterno Retorno e talvez outras idéias que podem ter passado na projeção, mas eu prontamente não captei. A idéia de inserir os mesmos atores nas diversas tramas acredito ter sido certeira, nos passa uma sensação de 'reencarnação' interessante além da brincadeira de tentar descobrir qual ator está disfarçado nos quilos de maquiagem- e concordo que em alguns personagens a maquiagem acaba por acentuar um momento cômico, mas é muito óbvio para que os realizadores não tenham notado, acho que a intenção devia ser a comicidade mesmo. Já ouvi comentários de que os filmes dos Wachowski são obras vazias com filosofia barata, mas acho meio errado definir de tal forma: acho que eles sempre passam por almejar um espetáculo com um conteúdo interessante, filosófico embutido; Em "Cloud Atlas" e no primeiro "Matrix" encontro um bom equilíbrio entre o espetáculo e suas idéias filosóficas, acusando-os de superficiais somente nas sequências do filme que os consagrou. Sendo assim, "Cloud Atlas" é um bom bom blockbuster e provavelmente irá atrair o espectador alheio por causa da genérica tradução brasileira, mas engana-se os que pensam que vai ser um mero filme da aventura que lhe exige pouco. Tem que ter um pouco de força de vontade para melhor apreciá-lo. Não que seja difícil, mas sabe como é o povo : quer tudo 'explicadinho'.
Muita gente deve acabar por criticar ou rotular de alguma forma esse filme e provavelmente outros do Dario Argento, mas talvez seja por causa que não se integram ao grupo que o enxergam como um exímio elaborador de atmosferas: ou seja, seu trabalho aqui é pura "mise en scène". Ele está mais preocupado com a forma do filme do que de seu conteúdo, e isso fica claro na fotografia, que usa-se de cores improváveis que fogem do realismo e acentuam a dramaticidade da situação. Argento parece estar mais interessado em espetacularizar e consegue fazer isso muito bem. O que ele acaba por fazer aqui é algo puramente cinematográfico. Não consigo imaginar "Suspiria" mais interessante caso estivesse em outra mídia.
Esta busca mítica de três personagens distintos, atrás de algo em comum. O tal mistério que com ambos flertam, somados à esperança de que este lugar os traga à felicidade, a algo que os possa inspirar de alguma forma. Na realidade, é bem dificil tentar achar uma definição clara do que é a tal zona concebida, mas não creio que seja importante uma resposta "científica" já que a idéia da zona é algo basicamente religiosa, pelo menos na visão de Tarkovsky, eu acho. O filme ainda tem ótimos planos sequências,principalmente um contido mais próximo do fim, onde os personagens se posicionam mais ao centro da imagem e a câmera se esgueira para trás emoldurando-os, enquanto uma textura chuvosa surge acentuando ainda mais a sensação "úmida" que permeia o filme inteiro. "Stalker" é cheio desses momentos contemplativos, de imensa poesia.O colocaria no topo de minha lista de melhores do diretor, caso este não tivesse também realizado "Andrei Rublev". Então o farei dividir o pódio por dificuldade na decisão.
Considero este "Os miseráveis" um bom filme, mas nem um pouco impressionante. Embora cercado por um grande elenco, que incluem ótimos nomes como Hugh Jackman e Sacha Baron Cohen, o filme de Tom Hooper me soou pouco inspirado. Possui músicas interessantes e momentos tocantes, como o de Hathaway em "I dreamed i dream", mas o filme só acaba por se ancorar, de fato, em suas atuações. Sem contar que, para mim, a duração excessiva deixou-me um pouco fatigado e o filme possui poucos momentos "não-musicados"(confesso que adoraria respirar um pouco), senti uma certa irregularidade em seu ritmo, mas gostei do fato das tramas estarem relacionadas entre si. Sendo assim, considero um filme bem abaixo do que eu esperava, embora bom. Mas não sei por que botei muita fé nesse projeto, pois tbm tinha achado "O discurso do rei"( também de Hooper) apenas 'correto'.
Gostei bastante do fato de a direção de arte trazer um aspecto oitentista (ou seria setentista?) ao filme, os personagens tem um design muito bacana, suas cores tem um aspecto fúnebre, que nos remetem já a coisas sem vida... Basta reparar suas peles. Meu único porém só diz respeito ao roteiro, que encontra soluções que julgo pouco eficazes
( Norman precisava mesmo atropelar um desafeto seu para poder trazê-lo de volta à trama?)
, além de eu sentir que eles não tiraram bom proveito de sua fonte satírica. No geral é um ótimo filme, mas não julgo impecável como o último trabalho do estúdio Laika, que foi "Coraline". Sem mais a acrescentar, é um filme que recomendo com entusiasmo. :)
É bem provável que a cinebiografia mais inventiva que vi até então tenha sido "Não estou lá", a qual o diretor Todd Haynes conduz uma espécie de desconstrução da persona retratada- no caso deste filme, a figura do músico Bob Dylan. Bom, não é o que acontece com este " Sede de Viver" de Vincent Minelli. Pelo contrário, o diretor adota uma tradicional estrutura linear para narrar sua história, tudo com simplicidade e eficiência e sem muitas complexidades (aproveito para deixar claro que não ignorei a distância entre os dois filmes citados, é deveras natural que a linguagem se reinvente com o tempo). Quanto ao encargo de desempenhar tão enigmática figura, se encontra Kirk Douglas, que nos oferece um ótimo desempenho. Já havia visto outras representações do pintor -uma delas com o brilhante Andy Serkis no papel-, e agora também coloco essa performance como digna do pintor. No começo desse texto quis sugerir um contraponto entre a forma do filme e Van Gogh, justamente por causa da natureza do pintor e do que o movia. A busca por seu aprimoramento artístico estava longe de ser só uma busca de uma formalidade estética, de ser vanguarda por ser. Era algo vísceral que tinha em seu propósito a autodescoberta, era algo intimista, puramente subjetivo. Aproveito para dizer que adorei o filme como está, isso só são comentários 'a parte', por assim dizer. O filme é idealista e belo, romantiza Van Gogh, e isso funciona. Mas confesso que gostaria de ver um dia uma espécie de interpretação dele mais ousada, uma que tente buscar sua subjetividade. Só que no cinema isso é difícil- mas não impossível- do que jamais seria na pintura, que acredito, seja a mais subjetiva das artes. Acho que "Sonhos" de Kurosawa se aproxima do que estou querendo dizer
Pequena bomba nacional que costura diversos clichês comuns, típicos de esquetes televisivos, apresentando diversas figuras conhecidas -que poderiam facilmente serem descartadas- como 'atrações' para o público. Atores como Marcelo Adnet e Maria Clara Gueiros tem um bom desempenho- pena que são mal aproveitados no filme, principalmente a última. Enfim, não recomendo.
Quando meu irmão me chamou para assistir, fiquei relutante por achar que era só uma biografia de Schwarzenegger, mas fiquei contente em saber que não se tratava estritamente disso. O filme tem mais a intenção de contextualizar o universo dos fisiculturistas, mostrando a visão de figuras como Lou Ferrigno (e o próprio Arnold) em relação ao esporte. Além de mostrar suas expectativas para o concurso "Mister Olimpo", que viria a seguir.
O discurso tem como foco a crítica cinematográfica, mas poderia facilmente ser adequado a outros meios artísticos, afinal essa relação de observador/artista é muito abrangente. A compilação desses diversos depoimentos, sendo personalidades de diferentes etnias e visões, entre os que concebem a obra e aqueles que analisam, foi a escolha óbvia (e certeira) que Kleber Mendonça optou para analisar a "análise cinematográfica". Inúmeras questões interessantes são 'jogadas no ar', podendo se ver os '2 lados da moeda': a dos 'atiradores' e as de seus 'vitimados'. Esse ataque pode ser por muitas vezes infundado. Infundado em uma crítica preguiçosa que pode 'antecipar' uma revisão através de conceitos pré-concebidos". O que é muito natural. Aliás, diversos cineastas parecem comentar a mesma coisa em certos momentos deste documentário. Pois é muito comum nos valermos de conceitos próprios e desconsiderar de quem os faz. Um dos entrevistados- que não lembro quem foi- faz uma ótima definição, definindo esse tipo de pessoa como um "crítico ideológico". E aprecio muito a definição: nos identificamos facilmente com símbolos que são comuns para nós, mais propriamente o que provém de nossa cultura. Mas no caso do espectador preguiçoso ( o tal crítico ideológico), o etnocentrismo é mais forte. Fazendo com que nem ao menos se esforcem para tentar entender o que estão vendo, o que seu realizador propõe. Esse 'desinteresse' e falta de eficácia é bastante ressaltado- e vivenciado- por muitos dos aqui entrevistados... não são poucos os momentos que criticam o mal- jornalismo, criticam uma platéia alheia aos aspectos da arte que apreciam, neste caso, a sintaxe da arte cinematográfica. Quanto ao 'mal- jornalismo', o que me irrita é o ato alheio e a falta de interesse. Um suposto desprezo que pode ser facilmente observado em coletivas de imprensa através de perguntas orais genéricas e pouco eficazes, isso quando não são equívocas! Como mostrado em um fragmento com Samuel L. Jackson a qual um entrevistador lhe pergunta como foi sua experiência no terceiro capítulo da saga "Matrix"- A graça se encontra no fato de que o ator entrevistado não é Laurence Fishburne, diga-se de passagem... Não é o único momento bacana do ator no longa, em outro momento ele nos insinua obscuramente que a falta de conhecimento de um espectador sobre os componentes da arte cinematográfica, pode prejudicar não só a experiência do próprio espectador quanto do artista realizador. No caso de Jackson, sendo ator, acabou por receber críticas de uma atuação que afirma ter sido fruto do modo de como um diretor queria, não fazendo parte do que o mesmo planejava. É um detalhe que resulta em um leque de sub-discussões a respeito de onde começa o trabalho de um ator e onde acaba a de um diretor. Acontece que um estudo amplo no "pós-filme" poderia resultar na melhor análise do filme visto, trazendo a idéia de compartilhamento necessário para nossa educação, e é este, o papel principal da crítica. Não acredito que um crítico tenha que ser um guia de consumação- daqueles que se 'vendem' a grandes estúdios- daqueles que te dizem o que assistir. Tem que ser primeiramente alguém que ama a arte que analisa, que não se limita a descrever suas emoções com um "emocionante" ou "impressionante" e pronto, já defini. Mas sim o que busca tentar compreender os mecanismos usados por um diretor para manipular nossas emoções, em tentar descobri como ele fez essa alquimia. Essa é a essência da crítica para mim. Aliás, essa essência é muito bem representada na figura do crítico gastronômico Anton Ego em "Ratatouille, do Brad Bird. Que no começo parece um crítico ranzinza autoritário, de idéias pré- concebidas. Mas no final se mostra um verdadeiro amante da arte por si criticada, fazendo do objeto analisado a ponte para que uma barreira cultural seja quebrada, e demonstrando integridade por valorizar o artista independente de sua origem- no caso de "Ratatouille", o chef de cozinha é um rato. Para mim, são a Integridade e a força no argumento que irão valorizar mais uma análise, seja positiva ou negativa. Comentários extasiantes, desprovidos de argumento, para um filme- poderia até ser um que adoro!-, são por mim facilmente descartados. Prefiro abraçar tristemente uma crítica negativa bem argumentada. Nem que este filme fosse "Ratatouille"!!!
Delírios de Um Anormal
3.2 31 Assista AgoraCinema de vísceras.
Vidas em Jogo
3.8 726 Assista AgoraEsse filme tem muito em comum, a meu ver, com o "In the mouth of madness (1994)" do Carpenter. É o "Depois de horas (1985)" do Fincher, um thriller que cria um atrito entre a visão materialista do diretor, com o aspecto "surrealista" que a trama impõe. Essa obsessão por "autoconsciência", de enxergar o mundo como representação, também foi levado à tona por Peter Weir em seu "Show de Truman (1998)", filme lançado em época próxima, e que demonstrava conexões temáticas com esse também ótimo "The Game". Assim como em "Seven", Fincher parece repudiar a perca da razão- e a sequência a qual esse comentário aparece com mais força, é justamente parecido com o do personagem de Pitt, no filme de 1995. É na tentativa de racionalização desse absurdo desconhecido que o personagem se vê confrontado com a loucura- e seu hilário desfecho rima bastante com a cena final do Carpenter de 94-, a curiosidade o estimula, e ele parece aceitar o desconhecido, não o compreende, mas continua a esmiuçar.
Nosso natural caminho.
À Beira da Loucura
3.6 403 Assista AgoraEm um mundo de loucos, manter a sanidade que é a verdadeira loucura. Afinal, como racionalizar o absurdo? Carpenter e a "verdade" atrás da superfície.
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraUm século de cinema ignorado.
Batman vs Superman - A Origem da Justiça
3.4 5,0K Assista AgoraFilme sofrível de Zack Snyder. Certamente, o pior de sua filmografia: mal- ritmado, permeado de excessos e pontas soltas; falta de envolvimento e a quase nula empatia com determinados personagens. O filme abraça a grandiloquência e se rende À "estética de videogame" no terço final.
Lamentável.
Mogli: O Menino Lobo
3.8 1,0K Assista AgoraAtualização interessante: transpõe o longa anterior em um novo formato, claramente palatável às novas necessidades "realísticas" do público moderno e que, incrivelmente, consegue manter alguma essência do filme clássico, despertando certo valor nostálgico. O senso de perigo aqui aumenta e a floresta artificialmente criada tem certo brilho.
Favreau se demonstra um bom diretor "por encomenda".
Uma boa surpresa.
Invocação do Mal 2
3.8 2,1K Assista Agora"Um zootrópio numa tenda".
Cheio de sequências bem engendradas, aonde Wan domina o espectador, suspendendo as emoções e controlando os tons. Entonando a narrativa nessa montanha- russa fustigante que te prende e solta continuamente.
Hitchcock aplaudiria.
As Memórias de Marnie
4.3 668 Assista AgoraEssa terna sensação que o filme provoca, me traz à lembrança aquela "doçura" vista em filmes como "Meu Primeiro Amor", além daquele ar onírico de "O Jardim Secreto". A exuberância visual (usual do Ghibli), somada à tocante trilha resulta em um filme com desejos contidos, aonde os devaneios ganham pouca representação "externa" dentro do filme (embora exista). Sendo assim, é um filme que se aproxima mais daquele "neorrealismo" dos filmes de Takahata, afastando-se do tom "aventuresco" de muitos dos filmes de Miyazaki. Esse aspecto dual do longa, de "filme- espelho", a qual a idealização quer se tornar nosso "eu- concreto" (e vice- versa); se demonstra possível para Yonebayashi, que sabe que podemos descobrir sobre nós quando nos materializamos em algum suporte artístico. Para ele, é exatamente aí que os sonhos compartilham-se.
Um Rosto na Multidão
4.3 42Dizem que a melhor forma de avaliar o caráter de determinada pessoa, seria dando-lhe "poder". Mesmo a pessoa mais altruísta e simples poderia facilmente entrar em dilemas existenciais fortes, declinando quanto à sua própria moral. O homem é facilmente corruptível assim? Jesus e as tentações no deserto.
Ao nos mostrar a Ascensão e Queda de Larry Rhodes, Elia Kazan põe isso à prova, aonde o vivaz e pacato homem se vê aglutinado ao sistema que costumava criticar. Será que esse processo de "despersonalização" teria um efeito inverso? Aonde as facilidades e artimanhas de "se estar" no Poder ajudam a Larry desvendar, cada vez mais, o que está abaixo da superfície, o lado sórdido, a carne viva do seu ser (?). A megalomania cresce e o desejo de ser amado por essa massa abstrata se torna cada vez mais sem sentido. Rhodes se distancia gradativamente do que costumava ser, e Márcia (Patricia Neal, encantadora) indaga-se sobre a "criatura" que concebeu. O fascínio dela pela simplicidade de Rhodes, que foi 'digerida' pela sociedade do espetáculo, destituída de seu apelo local em prol de massificar e perder toda a autenticidade para o apelo vendível, corrompidamente atrelada aos interesses econômicos/políticos de pequenos grupos detentores do tal Poder... E claro, o fascismo sempre presente. Esse está desligado, esperando o furor de energia dos ególatras, que no curto tempo que manejam o maquinário superior, vociferam contra os que julgam serem seus subordinados. Está aí, eis o homem(!).
Aplausos. Risadas esganiçadas. Cortinas se fecham.
Lovelace
3.4 548 Assista AgoraTema transgressor. Execução conservadora.
Garapa
4.3 153 Assista AgoraRealmente duro observar essa situação, que parece estar se tornando cada vez menos insólita. Duro também pensar que mesmo o apoio de entidades como o "fome zero", não parecem ajudar para que a situação se reverta inteiramente. É um auxílio que até acrescenta, mas não parece preencher 1/3 do problema...É uma situação realmente lamentável e o filme registra isso de forma seca, nua e crua.
Aconselho assistirem.
Forgotten Silver
4.2 3"Mockumentary" inventivo aonde P. Jackson homenageia- à sua maneira- o cinema e seus primórdios. Interessante reparar que este filme é pouco citado em sua filmografia, sendo um título mais obscuro, provavelmente por ter sido lançado para TV. A abordagem em tom documental é conduzida de maneira muito eficaz a meu ver, tornando este bastante verossímeis os depoimentos e quase nos fazendo acreditar nos feitos admiráveis de Mckenzie.
Sendo assim, "Forgotten Silver" é uma pequena pérola na já virtuosa filmografia do cineasta neo-zelandês. Uma espécie de ode à criação cinematográfica e aos grandes precursores da técnica e de sua linguagem.
Branca de Neve
3.5 9Com certeza, uma das experiências mais inusitadas que se podem ter com um filme, daqueles que causam um leve impacto devido à estranheza inicial pelo modo que é conduzido.
Este "Branca de Neve" do J. César Monteiro flerta, pelo que percebi, abertamente com a literatura, pois a sensação que me passou logo de início foi que eu estava "assistindo" uma representação teatral de uma obra shakesperiana- só que de luzes apagadas. Talvez a sacada do realizador seja justamente a de reivindicar algo supremo na 7° Arte, que é a imagem, em prol de sua ausência. Só que a ausência é entre aspas, pois nossa imaginação ajuda a preencher esse vácuo no filme. Ou seja, o próprio espectador faz parte do processo criativo para a concepção do filme e isso é realmente algo interessante, a meu ver. Meu único porém é em relação à sua duração que, apesar de ser relativamente curta para os padrões de tempo de um filme comum, me gerou uma certa fadiga. Não querendo desmerecer o longa, mas confesso que me seria mais interessante se fosse um pouco menor, ainda mais pela proposta exigir tanto do espectador.
Alô Amigos
3.5 79 Assista AgoraFilme produzido seguindo à risca da "política da boa vizinhança" (a pedido do próprio presidente). Disney veio dar o ar da graça aqui na América Latina, criando uma bela homenagem, apresentando o icônico personagem Zé Carioca. Cheio de belos momentos, como a sequência acompanhada de "aquarela do brasil" e a hilária sequência final em que Donald conhece a famosa "caipirinha. O filme é divertido e uma obra pouco comum nos estúdios do produtor. Curiosamente, Disney parecia andar com uma espécie de bloqueio criativo no período, por insistência de seu irmão acabou por vir parar por aqui, era mais ou menos no período da greve dos animadores e tal. Também a título de curiosidade: o filme "Dumbo" estava sendo produzido paralelamente no estúdio, sendo este o primeiro filme a 'simular' um filme de Disney em toda sua fórmula, pois o realizador estava ausente, obviamente.
A Viagem
3.7 2,5K Assista AgoraÓtimo filme dos Wachowski e do diretor alemão Tom Tykwer. Seguindo a estrutura de história interligadas já visto em filmes como "Babel" ou até mesmo "Magnólia", o filme se mostra mais ambicioso, neste sentido, pelo fato dos personagens estarem em tempos distintos. A partir disso, o trio de diretores estruturam uma narrativa ambiciosa que une conceitos como o inconsciente coletivo, por causa da noção de herança de vivências acumuladas pelas gerações; além do conceito nietzscheano do "Eterno Retorno e talvez outras idéias que podem ter passado na projeção, mas eu prontamente não captei.
A idéia de inserir os mesmos atores nas diversas tramas acredito ter sido certeira, nos passa uma sensação de 'reencarnação' interessante além da brincadeira de tentar descobrir qual ator está disfarçado nos quilos de maquiagem- e concordo que em alguns personagens a maquiagem acaba por acentuar um momento cômico, mas é muito óbvio para que os realizadores não tenham notado, acho que a intenção devia ser a comicidade mesmo.
Já ouvi comentários de que os filmes dos Wachowski são obras vazias com filosofia barata, mas acho meio errado definir de tal forma: acho que eles sempre passam por almejar um espetáculo com um conteúdo interessante, filosófico embutido; Em "Cloud Atlas" e no primeiro "Matrix" encontro um bom equilíbrio entre o espetáculo e suas idéias filosóficas, acusando-os de superficiais somente nas sequências do filme que os consagrou. Sendo assim, "Cloud Atlas" é um bom bom blockbuster e provavelmente irá atrair o espectador alheio por causa da genérica tradução brasileira, mas engana-se os que pensam que vai ser um mero filme da aventura que lhe exige pouco. Tem que ter um pouco de força de vontade para melhor apreciá-lo. Não que seja difícil, mas sabe como é o povo : quer tudo 'explicadinho'.
Suspiria
3.8 981 Assista AgoraMuita gente deve acabar por criticar ou rotular de alguma forma esse filme e provavelmente outros do Dario Argento, mas talvez seja por causa que não se integram ao grupo que o enxergam como um exímio elaborador de atmosferas: ou seja, seu trabalho aqui é pura "mise en scène". Ele está mais preocupado com a forma do filme do que de seu conteúdo, e isso fica claro na fotografia, que usa-se de cores improváveis que fogem do realismo e acentuam a dramaticidade da situação. Argento parece estar mais interessado em espetacularizar e consegue fazer isso muito bem.
O que ele acaba por fazer aqui é algo puramente cinematográfico. Não consigo imaginar "Suspiria" mais interessante caso estivesse em outra mídia.
Stalker
4.3 504 Assista AgoraEsta busca mítica de três personagens distintos, atrás de algo em comum. O tal mistério que com ambos flertam, somados à esperança de que este lugar os traga à felicidade, a algo que os possa inspirar de alguma forma. Na realidade, é bem dificil tentar achar uma definição clara do que é a tal zona concebida, mas não creio que seja importante uma resposta "científica" já que a idéia da zona é algo basicamente religiosa, pelo menos na visão de Tarkovsky, eu acho.
O filme ainda tem ótimos planos sequências,principalmente um contido mais próximo do fim, onde os personagens se posicionam mais ao centro da imagem e a câmera se esgueira para trás emoldurando-os, enquanto uma textura chuvosa surge acentuando ainda mais a sensação "úmida" que permeia o filme inteiro.
"Stalker" é cheio desses momentos contemplativos, de imensa poesia.O colocaria no topo de minha lista de melhores do diretor, caso este não tivesse também realizado "Andrei Rublev". Então o farei dividir o pódio por dificuldade na decisão.
Os Miseráveis
4.1 4,2K Assista AgoraConsidero este "Os miseráveis" um bom filme, mas nem um pouco impressionante. Embora cercado por um grande elenco, que incluem ótimos nomes como Hugh Jackman e Sacha Baron Cohen, o filme de Tom Hooper me soou pouco inspirado. Possui músicas interessantes e momentos tocantes, como o de Hathaway em "I dreamed i dream", mas o filme só acaba por se ancorar, de fato, em suas atuações. Sem contar que, para mim, a duração excessiva deixou-me um pouco fatigado e o filme possui poucos momentos "não-musicados"(confesso que adoraria respirar um pouco), senti uma certa irregularidade em seu ritmo, mas gostei do fato das tramas estarem relacionadas entre si.
Sendo assim, considero um filme bem abaixo do que eu esperava, embora bom. Mas não sei por que botei muita fé nesse projeto, pois tbm tinha achado "O discurso do rei"( também de Hooper) apenas 'correto'.
O Espírito da Colméia
4.2 145 Assista AgoraÁs vezes, 5 estrelas não são o bastante.
ParaNorman
3.6 845 Assista AgoraGostei bastante do fato de a direção de arte trazer um aspecto oitentista (ou seria setentista?) ao filme, os personagens tem um design muito bacana, suas cores tem um aspecto fúnebre, que nos remetem já a coisas sem vida... Basta reparar suas peles. Meu único porém só diz respeito ao roteiro, que encontra soluções que julgo pouco eficazes
( Norman precisava mesmo atropelar um desafeto seu para poder trazê-lo de volta à trama?)
Sem mais a acrescentar, é um filme que recomendo com entusiasmo. :)
Sede de Viver
4.1 67 Assista AgoraÉ bem provável que a cinebiografia mais inventiva que vi até então tenha sido "Não estou lá", a qual o diretor Todd Haynes conduz uma espécie de desconstrução da persona retratada- no caso deste filme, a figura do músico Bob Dylan. Bom, não é o que acontece com este " Sede de Viver" de Vincent Minelli. Pelo contrário, o diretor adota uma tradicional estrutura linear para narrar sua história, tudo com simplicidade e eficiência e sem muitas complexidades (aproveito para deixar claro que não ignorei a distância entre os dois filmes citados, é deveras natural que a linguagem se reinvente com o tempo). Quanto ao encargo de desempenhar tão enigmática figura, se encontra Kirk Douglas, que nos oferece um ótimo desempenho. Já havia visto outras representações do pintor -uma delas com o brilhante Andy Serkis no papel-, e agora também coloco essa performance como digna do pintor.
No começo desse texto quis sugerir um contraponto entre a forma do filme e Van Gogh, justamente por causa da natureza do pintor e do que o movia. A busca por seu aprimoramento artístico estava longe de ser só uma busca de uma formalidade estética, de ser vanguarda por ser. Era algo vísceral que tinha em seu propósito a autodescoberta, era algo intimista, puramente subjetivo. Aproveito para dizer que adorei o filme como está, isso só são comentários 'a parte', por assim dizer.
O filme é idealista e belo, romantiza Van Gogh, e isso funciona. Mas confesso que gostaria de ver um dia uma espécie de interpretação dele mais ousada, uma que tente buscar sua subjetividade. Só que no cinema isso é difícil- mas não impossível- do que jamais seria na pintura, que acredito, seja a mais subjetiva das artes.
Acho que "Sonhos" de Kurosawa se aproxima do que estou querendo dizer
Muita Calma Nessa Hora
3.0 1,4K Assista AgoraPequena bomba nacional que costura diversos clichês comuns, típicos de esquetes televisivos, apresentando diversas figuras conhecidas -que poderiam facilmente serem descartadas- como 'atrações' para o público. Atores como Marcelo Adnet e Maria Clara Gueiros tem um bom desempenho- pena que são mal aproveitados no filme, principalmente a última.
Enfim, não recomendo.
O Homem dos Músculos de Aço
3.7 80 Assista AgoraQuando meu irmão me chamou para assistir, fiquei relutante por achar que era só uma biografia de Schwarzenegger, mas fiquei contente em saber que não se tratava estritamente disso. O filme tem mais a intenção de contextualizar o universo dos fisiculturistas, mostrando a visão de figuras como Lou Ferrigno (e o próprio Arnold) em relação ao esporte. Além de mostrar suas expectativas para o concurso "Mister Olimpo", que viria a seguir.
Crítico
4.0 31 Assista AgoraO discurso tem como foco a crítica cinematográfica, mas poderia facilmente ser adequado a outros meios artísticos, afinal essa relação de observador/artista é muito abrangente. A compilação desses diversos depoimentos, sendo personalidades de diferentes etnias e visões, entre os que concebem a obra e aqueles que analisam, foi a escolha óbvia (e certeira) que Kleber Mendonça optou para analisar a "análise cinematográfica". Inúmeras questões interessantes são 'jogadas no ar', podendo se ver os '2 lados da moeda': a dos 'atiradores' e as de seus 'vitimados'. Esse ataque pode ser por muitas vezes infundado. Infundado em uma crítica preguiçosa que pode 'antecipar' uma revisão através de conceitos pré-concebidos". O que é muito natural. Aliás, diversos cineastas parecem comentar a mesma coisa em certos momentos deste documentário. Pois é muito comum nos valermos de conceitos próprios e desconsiderar de quem os faz. Um dos entrevistados- que não lembro quem foi- faz uma ótima definição, definindo esse tipo de pessoa como um "crítico ideológico". E aprecio muito a definição: nos identificamos facilmente com símbolos que são comuns para nós, mais propriamente o que provém de nossa cultura. Mas no caso do espectador preguiçoso ( o tal crítico ideológico), o etnocentrismo é mais forte. Fazendo com que nem ao menos se esforcem para tentar entender o que estão vendo, o que seu realizador propõe.
Esse 'desinteresse' e falta de eficácia é bastante ressaltado- e vivenciado- por muitos dos aqui entrevistados... não são poucos os momentos que criticam o mal- jornalismo, criticam uma platéia alheia aos aspectos da arte que apreciam, neste caso, a sintaxe da arte cinematográfica.
Quanto ao 'mal- jornalismo', o que me irrita é o ato alheio e a falta de interesse. Um suposto desprezo que pode ser facilmente observado em coletivas de imprensa através de perguntas orais genéricas e pouco eficazes, isso quando não são equívocas! Como mostrado em um fragmento com Samuel L. Jackson a qual um entrevistador lhe pergunta como foi sua experiência no terceiro capítulo da saga "Matrix"- A graça se encontra no fato de que o ator entrevistado não é Laurence Fishburne, diga-se de passagem... Não é o único momento bacana do ator no longa, em outro momento ele nos insinua obscuramente que a falta de conhecimento de um espectador sobre os componentes da arte cinematográfica, pode prejudicar não só a experiência do próprio espectador quanto do artista realizador. No caso de Jackson, sendo ator, acabou por receber críticas de uma atuação que afirma ter sido fruto do modo de como um diretor queria, não fazendo parte do que o mesmo planejava. É um detalhe que resulta em um leque de sub-discussões a respeito de onde começa o trabalho de um ator e onde acaba a de um diretor. Acontece que um estudo amplo no "pós-filme" poderia resultar na melhor análise do filme visto, trazendo a idéia de compartilhamento necessário para nossa educação, e é este, o papel principal da crítica. Não acredito que um crítico tenha que ser um guia de consumação- daqueles que se 'vendem' a grandes estúdios- daqueles que te dizem o que assistir. Tem que ser primeiramente alguém que ama a arte que analisa, que não se limita a descrever suas emoções com um "emocionante" ou "impressionante" e pronto, já defini. Mas sim o que busca tentar compreender os mecanismos usados por um diretor para manipular nossas emoções, em tentar descobri como ele fez essa alquimia. Essa é a essência da crítica para mim. Aliás, essa essência é muito bem representada na figura do crítico gastronômico Anton Ego em "Ratatouille, do Brad Bird. Que no começo parece um crítico ranzinza autoritário, de idéias pré- concebidas. Mas no final se mostra um verdadeiro amante da arte por si criticada, fazendo do objeto analisado a ponte para que uma barreira cultural seja quebrada, e demonstrando integridade por valorizar o artista independente de sua origem- no caso de "Ratatouille", o chef de cozinha é um rato.
Para mim, são a Integridade e a força no argumento que irão valorizar mais uma análise, seja positiva ou negativa. Comentários extasiantes, desprovidos de argumento, para um filme- poderia até ser um que adoro!-, são por mim facilmente descartados. Prefiro abraçar tristemente uma crítica negativa bem argumentada.
Nem que este filme fosse "Ratatouille"!!!