No encerramento da trilogia “Kung Fu Panda”, Po finalmente encontra suas origens, encerrando uma importante etapa do processo de autoconhecimento, tão necessário à paz interior. Porém, ao mesmo tempo, ele deverá enfrentar mais um poderoso vilão, Kai (voz de J.K. Simmons), um enorme touro que retorna do mundo dos espíritos destinado a derrotar todos os mestres de Kung Fu, vivos ou mortos. Se quiser enfrentar este vilão sobrenatural, Po deverá dominar o poder do chi, uma técnica transcendental, espécie de energia vital que o possibilitará transitar entre diferentes dimensões. Para conquistar a energia do chi, entretanto, é necessário muita concentração e paciência, atributos aparentemente incondizentes com a impulsividade e afobamento do mestre panda.
Como se não bastasse todas as atribulações causadas pelo aparecimento de Kai, o Mestre Shifu (voz de Dustin Hoffman) ainda incumbe Po, o Dragão Guerreiro, de substituí-lo no treinamento de seus discípulos, os Cinco Furiosos. O panda, porém, não tem a menor noção de como ensinar quem quer que seja. A última lição de Shifu: somente um ser que conhece a si mesmo será capaz de ensinar os outros. É com este ensinamento em vista que Po partirá numa jornada existencial; juntamente com seu pai biológico, ele remontará a suas origens. Entretanto, a iminência do aparecimento de Kai, o forçará a acelerar o processo de se tornar um treinador kung fu.
Em termos visuais, “Kung Fu Panda 3” segue a excelência dos filmes anteriores: é visualmente impecável. O design visual da trilogia impressiona, sobretudo, por reproduzir muito bem as paisagens e os elementos da cultura chinesa. Além disso, a montagem dinâmica e vibrante e a fotografia baseada em cores quentes associam-se livremente ao espírito otimista e positivo do protagonista.
Não restam dúvidas de que Po é verdadeiramente o Dragão Guerreiro da profecia. Porém, ele ainda precisa alcançar a paz interior, um estágio que, dada a sua impulsividade e indelicadeza, parece ser incompatível com sua personalidade. Juntamente com Os Cinco Furiosos, que ele agora lidera, Po se tornou uma celebridade local, atuando ativamente na defesa do Vale da Paz. Contudo, não bastasse o desafio de encontrar a paz interior, toda a China e o Kung Fu encontram-se ameaçados por um vilão que detém uma arma poderosíssima: Lord Shen (voz de Gary Oldman), um pavão malvado e excêntrico, que empenhou tempo e poder na construção de um canhão de alta destrutibilidade. Po precisará correr contra o tempo se quiser salvar a China e o Kung Fu.
A narrativa de “Kung Fu Panda 2” é introduzida por um preâmbulo em 2D que simula um teatro de sombras. Logo descobrimos que Lord Shen era o Príncipe Pavão que, após tomar conhecimento de uma profecia que previa sua derrota por um ser preto e branco, mandara matar todos os pandas do reino da China. Além de ser o ponto de partida para a narrativa, este preâmbulo também lança as bases para a confusão dramática que acomete Po e que somente terá desfecho no terceiro volume da franquia: os questionamentos acerca de sua origem familiar. Sem solucionar este imbróglio, Po encontrará obstáculos em sua busca pela paz interior.
Equilibrando uma dramaticidade moderada e alívios cômicos pontuais, é em torno da ação que a narrativa melhor se desenvolve. Obviamente, trata-se de uma ação modalizada de acordo com o público-alvo (primordialmente, o infantojuvenil) e os objetivos da história. Nesse sentido, embora seja simples, o enredo é bastante regular, com começo, meio e um fim que encerra uma narrativa, mas deixa pistas do que será desenvolvido no filme subsequente.
Lançado em 2008, “Kung Fu Panda” é uma simpática animação de comédia e ação. Protagonizada por Po (voz de Jack Black), um urso panda gordo e completamente desajeitado que sonha em treinar kung fu, o filme se aproveita da comédia para atualizar referências da cultura chinesa, principalmente em relação à arte e às artes marciais. Valendo-se sobretudo da fábula e da prosopopeia como recursos narrativos, o filme personifica animais e atribui, a cada um deles, características virtuosas que são valorizadas no kung fu. Porém, escapando a simplificações, os personagens também concentram em si aspectos idiossincráticos, que precisam ser domados, transformados ou tão somente aproveitados em favor da arte marcial. Além disso, o filme trata da quebra de estereótipos: o herói da narrativa é um urso panda gordo que, surpreendentemente, revela-se como o eleito para cumprir uma profecia milenar. Sob a incredulidade de todos, Po parece ser um caso perdido, mas, aos poucos, ele vai aprendendo a utilizar suas características pessoais em favor de si e do kung fu.
Em relação à história: nos sonhos de Po, ele é um mestre de kung fu que luta ao lado de seus ídolos, Os Cinco Furiosos: Mestre Macaco (voz de Jackie Chan), Mestre Tigresa (voz de Angelina Jolie), Mestre Garça (voz de David Cross), Mestre Louva-Deus (voz de Seth Rogen) e Mestre Víbora (Lucy Liu). A realidade, no entanto, não poderia ser mais diversa: ele trabalha na loja de macarrão de seu pai. Inesperadamente, contudo, o sonho de Po se torna realidade quando ele cai – literalmente – dos céus no momento exato em que o ancião, Mestre Oogway (Randall Duk Kim), anunciava o guerreiro destinado a cumprir a profecia do dragão. Eleito, Po passa a ser treinado por Mestre Shifu (voz de Dustin Hoffman), que não deposita nenhuma confiança na capacidade de aprendizagem do novo discípulo. Porém, há um perigo à vista: Tai Lung (voz de Ian McShane), um traiçoeiro leopardo da neve, que ameaça destruir a paz daquele povoado.
Sylvester Stallone vinha de uma série de más escolhas de personagens e envolvimento em projetos não muito vultosos quando, em 2009, anunciou que escreveria, dirigiria e estrelaria um filme de ação que remetesse a seus grandes sucessos do passado. Apesar da desconfiança de público e crítica, o filme foi bem sucedido e fez com que todos aguardassem novidades nas sucessivas sequências: nomes somados ao elenco, mais frases de efeito, mais ação, mais explosões etc. Assim, ao elenco do primeiro filme, que já contava com nomes como os de Jason Statham, Terry Crews, Jet Li, Dolph Lundgren, dentre outros, somaram-se nomes como os de Jean-Claude Van Damme e Chuck Norris, para o delírio do público mais ávido por nostalgia oitentista e noventista. Em termos de elenco, a novidade no terceiro volume da franquia foram os nomes de Antonio Banderas, Harrison Ford, Wesley Snipes e Mel Gibson, que interpretou o vilão.
Sem perder o bom humor dos filmes anteriores, “Os Mercenários 3” continua apostando na nostalgia para cativar o público. Com este intuito, o enredo novamente passa ao lado, pois o que interessa ao filme são os pretextos para as demonstrações acrobáticas de ação. E, neste quesito, o filme vai muito bem. Principalmente quando se aproxima do final, quando o grupo dos mercenários precisa lutar contra um exército inteiro.
Em relação aos filmes anteriores, “Os Mercenários 3” talvez seja o que tenha um arco dramático mais bem desenvolvido. O vilão, Conrad Stonebanks (Mel Gibson), foi quem fundou, anos atrás, juntamente com Barney Ross (Stallone), o grupo dos Mercenários. Anos depois, ele retorna como um poderoso traficante de armas, tentando convencer o antigo colega de que fazer o trabalho sujo para a Justiça talvez não seja um serviço tão recompensador.
Não fosse o perfeccionismo intransigente de James Cameron e sua devoção às possibilidades tecnológicas, o mundo não conheceria a obra-prima impecável que é “Titanic”. Os mais de 200 milhões de dólares gastos em sua produção apenas atestaram que para se produzir um filme sem defeitos, foi necessário desembolsar muito dinheiro. O resultado, obviamente, foi recompensador, pois “Titanic” tornou-se um marco cultural de sua época e uma forte influência para todo o cinema produzido depois dele. Utilizar-se de um material histórico (que já havia sido explorado no cinema, embora não suficientemente) e recheá-lo com um drama romântico ficcional arrebatador – e de desfecho tão trágico quanto o naufrágio em si mesmo – foi a fórmula do sucesso para James Cameron. Em termos práticos: o filme já arrecadou, até hoje, mais de 2 bilhões de dólares nas bilheterias, e levou para casa 11 Oscars, tornando-se recordista e empatando com “Ben-Hur” (1959).
Para remontar à madruga de 15 de abril de 1912, data do naufrágio do Titanic, o filme utiliza um interessante pretexto: um “caçador de tesouros” (Bill Paxton) empreende uma expedição submarina aos destroços do Titanic, em busca do Coração do Oceano, um corte de diamante azul em formato de coração e que teria naufragado junto com o navio. Porém, ele encontra apenas o retrato de uma jovem mulher usando somente, no pescoço, o tal diamante. O achado aparece na televisão e Rose Dawson (Gloria Stuart), assistindo, reconhece a si mesma como a garota do retrato. Desse ponto em diante, ela, de seus quase cem anos, narra a história de como embarcara no navio, vivera um romance proibido e arrebatador e sobrevivera ao naufrágio. Durante a narração, o romance proibido entre Rose (Kate Winslet), uma jovem socialite da primeira classe, e Jack (Leonardo DiCaprio), um pobretão que ganhou uma passagem de terceira classe numa mão de pôquer, vêm à tona e assume o cerne da narrativa. Até que o navio bate num iceberg e naufraga.
Em termos técnicos, James Cameron utilizou-se abundantemente de efeitos visuais, além de ter submetido a equipe e o elenco a condições insalubres, como água em temperatura de congelamento, para reconstituir, da forma mais realista possível, o naufrágio mais famoso de todos os tempos. O resultado: “Titanic” é, hoje, o clássico moderno por excelência.
Apesar de continuar com o mesmo propósito de seu predecessor, qual seja, o de homenagear o cinema de ação dos anos oitenta através de uma reunião de astros musculosos desse nicho cinematográfico, “Os Mercenários 2” consegue em alguma medida superar o primeiro volume da trilogia (que, muito em breve, será quadrilogia). O filme, agora dirigido por Simon West, consegue não apenas capturar melhor a atmosfera oitentista – reativando, inclusive, um embate típico do período da Guerra Fria: EUA vs. vilões do Leste Europeu e corridas nucleares –, mas, também, apresenta uma maior qualidade técnica, principalmente em relação aos efeitos visuais (e há muito tiro, porrada, bomba e explosão no filme) e aos diálogos.
O que mais vale em “Os Mercenários 2” continua sendo, tal qual no caso do filme anterior, o apelo nostálgico em se reunir num mesmo filme os grandes astros que povoaram o universo cultural de aficionados por cinema de ação nos anos 1980. Sylvester Stallone, Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger, Chuck Norris (numa participação pequena, mas muito bem humorada) e Jean-Claude Van Damme que, dessa vez, encarna o vilão. Nesse contexto de reunião nostálgica, o enredo passa ao lado... e efetivamente nem faz tanta falta, servindo apenas de pretexto para que os brucutus musculosos realizem suas acrobacias impactantes.
Este pretexto pode ser assim resumido: um mapa que leva a uma mina de plutônio caiu nas mãos de Jean Vilain (Van Damme), um criminoso que deseja explorar o produto para produzir armas nucleares. A fim de impedi-lo, o Agente Church (Bruce Willis) recorre ao auxílio dos Mercenários liderados por Barney Ross (Stallone). Um fato, porém, continua sem explicação: o retorno de Gunnar (Dolph Lundgren) à ação, pois ele havia sido morto por Ross no filme anterior.
Em “Os Mercenários”, Sylvester Stallone reúne os maiores canastrões da história recente do cinema de ação num filme que é, ao mesmo tempo, homenagem e pastiche dos filmes de ação da década de 1980, em que homens-músculos, com expressões de raiva e munidos de equipamentos bélicos gigantescos, derrotavam inclusive exércitos inteiros. Nomes como os de Dolph Lundgren, Jet Li, Jason Statham, Steve Austin, Terry Crews, Bruce Willis etc. marcam presença em “Os Mercenários”, além de uma participação intertextual e bem humorada de Arnold Schwarzenegger, que remete à disputa informal de bilheteria que seus filmes suscitavam com os de Stallone na década de 1980. Até mesmo os efeitos visuais d’“Os Mercenários” sugerem a insipidez da técnica computadorizada oitentista. Resumidamente, “Os Mercenários” é um filme despretensioso, mas divertido, cujo enredo fraco é apenas um pretexto para reunir em tela alguns dos grandes nomes do cinema de ação, que por bastante tempo figuraram como referência ao universo cultural masculino.
No filme, Barney Ross (Stallone) lidera um grupo de mercenários que presta serviço sujo á agência de inteligência americana. Quando a instituição não pode se comprometer publicamente, Mr. Church (Bruce Willis) entra em contato com Ross e designa a missão aos mercenários. Desta vez, a missão está localizada num pequeno país latino-americano cujo presidente militar submete a população a uma violenta ditadura. O cenário de Vilena, o fictício país latino-americano, não é estranho ao público brasileiro. Isto porque uma parte do filme foi filmada em Mangaratiba, no Rio de Janeiro; inclusive, a sede do governo que vemos em tela é, na verdade, o Parque Lage (que já serviu de cenário a muitos filmes brasileiros, incluindo “Terra em Transe” e “Macunaíma”), famoso ponto turístico carioca. Outra curiosidade brasuca: a Stallone girl Sandra, filha do ditador de Vilena, é (pessimamente) interpretada pela atriz brasileira Giselle Itié.
Enfim, “Os Mercenários” é um filme nostálgico, descerebrado, mas divertido.
Através de uma revisão sobre um material bruto que havia sido desprezado em outra época, João Moreira Salles apresenta um vigoroso trabalho de metalinguagem e, ao mesmo tempo, realiza um ácido e desconcertante exercício de autocrítica. Além disso, ao lançar luz sobre um material filmado no passado, o filme constrói uma reflexão acerca da ação do tempo sobre uma obra e sobre os pensamentos em redor e por trás dela. Assim, quem se deslinda diante de nós é o próprio autor, mediado por transformações de ordem pessoal que resultaram, em sua maioria, de transformações sociais que na contemporaneidade afetaram as concepções e as relações entre as classes. Embora a personagem central do filme seja Santiago, o mordomo estrangeiro que servira à família de João por anos a fio, é o próprio João quem se revela através da onipresença na narração e nos comandos que dá ao mordomo aposentado, revelando seu pertencimento em crise a uma classe que oprime e devora pessoas como Santiago.
Em 1992, um primeiro impulso leva João Moreira Salles ao apartamento do antigo mordomo de sua família a fim de filmar um longo depoimento em que Santiago apresentar-se-ia em primeira pessoa. Devido à sua incapacidade de realizar os cortes necessários às cenas filmadas, o longa-metragem nunca foi lançado. Em 2005, porém, João retorna ao material bruto explorando um outro foco narrativo sobre o mesmo produto. Desta vez, como num grande making off, evidencia-se ao público que o suposto depoimento prestado por Santiago fora manipulado através das interferências do realizador que, sem constrangimentos, não se furtou em interromper, cortar ou orientar o fluxo de fala do mordomo. Porém, ainda que o retrato de uma burguesia autoritária e exploradora fique claro à medida que o filme se desenvolve, a personagem de Santiago também burla as orientações e revela toda a dimensão de sua humildade e sabedoria, além de sua irremediável solidão: resultado de uma vida dedicada ao (e perdida no) serviço.
A autora britânica Emily Brontë publicou apenas um romance, “O Morro dos Ventos Uivantes” que, embora não tenha sido bem compreendido à época, tornou-se, com o passar do tempo, uma das principais obras da literatura em língua inglesa. A impressionante história de romance e vingança envolvendo o misterioso e estrangeiro Heathcliff e sua irmã-adotiva Catherine Earnshaw é capaz de causar consternação e impressão até os dias de hoje. Não por acaso, o argumento de “O Morro dos Ventos Uivantes” já serviu a sucessivas adaptações cinematográficas e televisivas. Na história da recepção da obra literária de Brontë, uma discussão sempre revolvida diz respeito à origem étnica de Heathcliff. Porém, existe um consenso: trata-se de um personagem não-branco. A maioria das adaptações dramáticas da obra, no entanto, vem escalando atores brancos para o papel – o que, considerando a origem estrangeira do personagem e o tratamento que recebera de Hindley Earnshaw, o irmão-adotivo, traz prejuízos significativos à compreensão da obra.
A principal novidade que Andrea Arnold imprime à sua interpretação pessoal do romance de Brontë é apresentar-nos a um Heathcliff negro, papel que os atores Solomon Glave e James Howson assumem com competência – nas idades jovem e adulta, respectivamente. Além disso, o filme de Arnold se distancia da narrativa cinematográfica hollywoodiana clássica e se aproxima do cinema de arte. Afinal, a diretora utiliza recursos como câmeras de mão, visão subjetiva em alguns momentos, muitos planos detalhados, um formato de filmagem de proporção 1.37:1 (aquele aspecto quadrado, em detrimento do Widescreen) etc. Adicionalmente, Arnold privilegia a imagem ao diálogo, transformando a experiência em algo muito mais contemplativo e imersivo que verborrágico. Nesse sentido, as sensações dos protagonistas são demonstradas através de flashbacks remissivos e metáforas visuais.
Assim, Andrea Arnold entrega um corajoso retrato da crueldade humana, que sufoca a maturação do amor, ao contrário daquelas leituras que realçam apenas o aspecto romântico trágico da clássica narrativa de Emily Brontë.
Wade Whitehouse (Nick Nolte), o protagonista de “Temporada de Caça”, é um sujeito ordinário, mas que ambiciona ser mais do que é. E, justamente no processo de tentar concretizar seus objetivos pretensiosos, acaba se embarafustando numa trama policial um tanto quanto paranoica e conspiratória que o leva à completa derrocada. Poderia tratar-se de um personagem comum ao universo dos Irmãos Coen, porém despido de qualquer alívio cômico, sarcasmo ou ironia, pois Paul Schrader imprime sua austeridade típica à trama. Através do infortúnio de Wade, Schrader apresenta o diagnóstico de um espécime comum à sociedade estadunidense: aquele que busca o extraordinário em contextos e situações completamente comezinhas.
Os personagens de “Temporada de Caça” encontram-se abafados e afetados pelo cotidiano moroso de Lawford, uma cidadezinha onde nada acontece. Wade é uma espécie de policial local; divorciado, ele tem uma filha de quem deseja conseguir legalmente a guarda, embora não tenha um relacionamento saudável com ela. A chegada do inverno a Lawford marca o início da temporada de caça e, durante uma caçada guiada, um rico homem de negócios é acidentalmente baleado e morre. Embora todos os indícios apontem para um acidente, Wade desconfia de que houve um crime. Sem provas, ele tenta juntar os cacos da ocorrência a fim de confirmar sua hipótese. Em meio a uma obsessão cada vez mais violenta pelo caso, Wade é forçado ainda a se reaproximar do pai, um sujeito violento e arrogante que acabara de ficar viúvo. Aos poucos, todas as relações de Wade vão sendo afetadas por sua transformação e, por fim, ele se apresenta mais parecido com o pai do que poderia supor.
Em “Como Nossos Pais”, Belchior já dava a nota: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Ao tratar não apenas da história de um homem medíocre destruído pela ambição, mas também da sina em repetir os desvios paternos, Paul Schrader registra a tragédia de um homem que perde completamente a identidade ao perceber-se como um perpetuador de uma estrutura assentada na violência.
Baseado na graphic novel homônima de Daniel Clowes (que também assina o roteiro, ao lado do diretor Terry Zwigoff), “Ghost World” é um coming-of-age que mostra o cotidiano de Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson), duas jovens recém-egressas do ensino médio e prestes a encarar o universo rigoroso e formal da vida adulta. Elas, no entanto, não são como as outras garotas: munidas de um sarcasmo rascante, recusam-se a adotar modismos que subtrairiam suas individualidades; por isso mesmo, o final da adolescência as assusta. A falta de perspectiva das duas fica clara numa frase dita por Enid, após a formatura: “We graduated high school. How totally amazing”, sem qualquer empolgação ou entusiasmo. Porém, a chegada da maturidade é inevitável e cada uma a seu modo passará a lidar com a carga de responsabilidades que esta nova etapa traz – o que, de certa forma, as afastará: Enid conhece e passa a se relacionar com Seymour (Steve Buscemi), um sujeito estranho e introspectivo que coleciona vinis raros e antiguidades, enquanto Rebecca começa a trabalhar num café, pois vai aos poucos acalentando o sonho de vida adulta de alugar um apartamento e sair da casa dos pais.
“Ghost World” equilibra muito bem a comédia e o drama neste recorte da vida da dupla de protagonistas. Trata-se, simplesmente, de um filme sobre duas amigas e a maneira peculiar como elas encaram o mundo neste momento de transição da adolescência para a vida adulta: há inconformismo, mas há também a incômoda sensação de impotência diante da inevitabilidade de se aderir a uma lógica contra a qual não se pode lutar – e essa melancolia, de certo modo, paira na atmosfera do filme.
Em qualquer lista de maiores fracassos de bilheteria que se consulte, “A Ilha da Garganta Cortada” certamente constará. Até muito recentemente, o filme era reconhecido pelo Guinness Book como o maior fracasso comercial do cinema estadunidense: dos US$ 98 milhões gastos em sua produção, apenas US$ 10 milhões foram recuperados. Como resultado, a produtora Carolco Pictures foi à falência e a equipe envolvida na produção amargou a mácula de ter seu nome associado a este filme. Vários fatores contribuíram para o fracasso, dentre eles, o roteiro incoerente, as más condições de filmagem, a falta de química entre o casal de protagonistas, a resistência do público conservador a um filme de pirataria protagonizado por uma mulher etc. Atualmente, “A Ilha da Garganta Cortada” tem ganhado status de filme cult, atraindo um público interessando num entretenimento não-propositalmente trash.
Lançado em 1995, o filme é sobre a busca por um tesouro escondido na temida Ilha da Garganta Cortada. Existe um mapa, que, entretanto, foi cortado em três partes por um velho pirata e dividido entre seus três filhos. Vários anos depois, um destes filhos, no leito de morte, passa a sua parte do mapa (que estava tatuada em seu couro cabeludo) à filha, Morgan Adams (Geena Davis), uma destemida aventureira. Contando com o apoio de sua tripulação, ela decide reunir as outras partes do mapa e encontrar o tesouro perdido. Porém, o mapa está em latim e, para traduzi-lo, ela decide comprar um prisioneiro culto, William Shaw (Matthew Modine), que estava para ser vendido como escravo. A partir daí, ela precisará decidir se Shaw merece ou não a sua confiança, ao mesmo tempo em que outros piratas e até mesmo um governador de província demonstram interesse no tesouro.
Na época, “A Ilha da Garganta Cortada” chegou a ser acusado de ter matado o gênero “pirataria”; que, entretanto, ressuscitou em grande estilo em 2003, quando foi iniciada a franquia “Piratas do Caribe”.
Protagonizado por David Bowie e Jennifer Connelly e dirigido por Jim Henson, o pai dos Muppets, “Labirinto, a Magia do Tempo” tinha tudo para ser um sucesso: excelente produção, boa história, trilha sonora memorável e bonecos não muito simpáticos, mas, no mínimo, interessantes. O filme, entretanto, fracassou na bilheteria, desmoralizando quase completamente o legado de Henson. O problema talvez tenha sido o tempo de seu lançamento: final da década de 1980, um filme de fantoches teve que concorrer com produções que já ensaiavam bons usos de recursos visuais computadorizados. Não que eles não tenham sido empregados em “Labirinto”, mas o aspecto dos bonecos parecia muito pouco tecnológico para as aspirações do público daquela época. Hoje, no entanto, talvez por causa da nostalgia que evoca, “Labirinto” foi alçado à seleta categoria de filme cult.
A trama gira em torno de Sarah (Jennifer Connelly), uma adolescente que deve cuidar do irmão bebê enquanto o pai e a madrasta saem de casa numa determinada noite. Irritada com o choro da criança e querendo se ver livre da responsabilidade, ela expressa o desejo de que a criança desapareça ao Rei dos Duendes, Jareth (David Bowie), monarca de um universo fantástico que ela própria idealizara. Ela, porém, se arrepende do pedido logo após Jareth aparecer e levar a criança para a distante terra dos duendes. Para resgatar o irmão, Sarah terá doze horas para atravessar um labirinto cheio de obstáculos e provações. Neste percurso, ela deverá se tornar amiga dos duendes e bolar um plano para enganar Jareth.
Repleto de referências literárias e visuais (“O Mágico de Oz”, “Alice no País das Maravilhas”, a tela “Relatividade”, de M.C. Escher etc. são algumas das mais evidentes que compõem o inventário referencial do autor), “Labirinto”, num plano menos superficial de significados, simboliza a dificultosa transição da infância para a juventude, com todas as dores e delícias que este processo traz.
“Vigaristas” foi apenas o segundo longa-metragem autoral de Rian Johnson e já é possível identificar nele seu estilo desafiador e não-conformista, que se manifesta em tramas não-lineares, repletas de reviravoltas e surpresas. No filme, Adrien Brody e Mark Ruffalo interpretam os Irmãos Bloom – Bloom e Stephen, respectivamente –, órfãos que passaram a infância transitando entre adoções e casas de acolhimento até que decidiram tomar as rédeas da vida sobrevivendo através da aplicação de sucessivos golpes. O que os diferencia, porém, de salafrários comuns é que Stephen elabora planos intrincados para seus golpes, com roteiros complexos e arcos dramáticos, como se fossem um romance cujo protagonista é sempre Bloom. Bloom, contudo, enfrenta uma crise de personalidade, pois se cansou de ter seu verdadeiro “eu” elipsado pelos papeis determinados nos roteiros de Stephen. Antes de abandonar a vida de crime, porém, ele é convencido a participar de um último golpe, que envolve a milionária solitária Penelope Stamp (Rachel Weisz). No intuito de atrai-la para a trama, Bloom acaba se apaixonando e desejando cada vez mais viver uma vida sem roteiro prescrito.
O que mais chama a atenção em “Vigaristas” é o roteiro extremamente criativo: as tramas hiper-elaboradas de Stephen criam um interessante recurso narrativo de ficção dentro da ficção, embora sejamos forçadamente transformados em cúmplices dos golpes, mesmo que não saibamos ao certo seus objetivos e possíveis desfechos. O último estratagema de Stephen, contudo, pega-nos completamente de surpresa: mérito exclusivo do roteiro, assinado por Rian Johnson, que também é o responsável pela ótima condução do longa. Além disso, as atuações perfeitamente coordenadas de Adrien Brody e Mark Ruffalo registram uma dupla que, embora improvável, é cheia de química, contribuindo muito para a sustentação da atmosfera de fabulação e dúvida.
Considerado por muitos um exemplar obscuro na carreira de Brian De Palma, “Síndrome de Caim” foi, de algum modo, vítima da repercussão negativa de seu filme anterior, o fracassado “Fogueira das Vaidades” (1990). Faltou à crítica e ao público a força de vontade de contemplá-lo a partir de um olhar isento dos preconceitos que vieram a reboque do filme de 1990. Nem mesmo um retorno à entonação hitchcockiana, que pode ser encontrada nos melhores filmes do diretor, aproximou público e crítica de “Síndrome de Caim”. Trata-se, portanto, de uma obra subestimada, pois De Palma entrega um filme bastante interessante e peculiar, sobretudo ao estabelecer um jogo psicológico entre o protagonista e o espectador recorrendo-se principalmente ao formato.
Durante toda a projeção do longa, somos apresentados a tramas e situações sobrepostas que confundem nossa interpretação do fio narrativo: não dá pra distinguir efetivamente o que é sonho e o que é realidade. Em termos estruturais, De Palma recorre ao trabalho de edição e à fotografia para sustentar uma atmosfera de perturbação da realidade: o que causa tanto um mal-estar quanto o desejo de solucionar o mistério. Assim como em algumas das melhores obras de Hitchcock, o tema central de “Síndrome de Caim” gira em torno de obsessões psicológicas. O protagonista, o psicólogo de crianças Carter Nix (brilhantemente interpretado por John Lithgow), é acometido por um transtorno que o faz assumir diferentes personalidades, sem que isso seja consciente. Porém, este fato não é imediatamente comunicado ao espectador, que acompanha atônito as aparentes mudanças de humor da personagem até que o quebra-cabeça vai aos poucos se solucionando para revelar a trama.
Em alguma medida, em “Síndrome de Caim” a forma parece se sobressair ao conteúdo narrativo. Neste filme, contudo, a história, vítima de algumas inverossimilhanças em alguns momentos, parece importar menos que a maneira como De Palma a conta (essa sim, brilhante).
O ditado diz que “um raio não cai duas vezes num mesmo lugar”, o que também pode ser entendido que um mesmo erro não deve ser cometido mais de uma vez. Não é, porém, o caso de “Fenômenos Paranormais 2”. E nisso consiste o seu maior furo de roteiro: se existem evidências de que um lugar é perigoso e de que pessoas que entraram nele nunca mais foram vistas, qual é a justificativa plausível para se adentrar nele? No filme, o estudante de cinema Alex Wright (Richard Harmon) assistiu ao filme “Fenômenos Paranormais” e ficou obcecado por seu desfecho. Acreditando na veracidade do filme – afinal, tratava-se da gravação de um episódio de um reality show –, ele decide, junto com alguns colegas de faculdade, repetir a experiência: passar uma noite no mesmo hospital psiquiátrico abandonado munidos de equipamentos caseiros de filmagem, a fim de desvendar o mistério do paradeiro dos protagonistas do filme anterior. Obviamente, a experiência sai do controle, como se isso já não fosse esperado.
A parte os recursos narrativos de metalinguagem e de ficção dentre da ficção, que tornam a sequência bem mais interessante que o filme anterior, “Fenômenos Paranormais 2” é vítima dos mesmos vícios estruturais que identificam a estrutura básica do found fotage. Infelizmente, acaba sendo mais do mesmo.
Desde o surpreendente sucesso de “A Bruxa de Blair” (1999) e, posteriormente, da franquia “Atividade Paranormal”, o found fotage, que consiste numa simulação de documentário filmado apenas com equipamentos caseiros e câmeras de mão, tornou-se um dos principais e mais rentáveis nichos do cinema de terror. O problema deste formato, entretanto, é que ele apresenta pouca possibilidade de inovação, constituindo um padrão que se repete em quase todas as produções deste tipo, caracterizadas pela ausência de trilha sonora a fim estabelecer verossimilhança, a falta de edição, câmeras tremidas etc. Em “Fenômenos Paranormais”, a repetição da estrutura básica do found fotage não é compensada por uma trama interessante; ao contrário, embora o filme promova alguma diversão em alguns momentos, ele redunda tanto em clichês que se tem a sensação de que aquilo que se vê na tela já foi visto anteriormente. Em diversos momentos, a previsibilidade da trama causa a sensação de perda de tempo. Além disso, e o que é pior, o filme não provoca medo (e isso é imperdoável, tratando-se de um filme de terror).
A narrativa de “Fenômenos Paranormais” é bastante simplória: os realizadores de um reality show que investiga situações paranormais iniciam a produção do sexto episódio, cujo script consiste em passar a noite num hospital psiquiátrico abandonado que, de acordo com falsas testemunhas, é assombrado. O enorme edifício abrigou o hospital até a década de 1930, quando foi descoberta a prática de experimentos ilegais, lobotomias e torturas. Os responsáveis pelo programa, entretanto, não acreditam na paranormalidade do local, mas, em nome da audiência, forjam situações estranhas e escalam um falso médium para comentar o episódio. Porém, quando uma entidade espiritual maligna se manifesta, as coisas saem do controle e a noite acaba sendo mais longa do que eles esperavam, custando a sanidade dos envolvidos.
Ou seja, não há nada de novo e tudo é muito previsível.
Com produção executiva do veterano checo Miloš Forman, “Nômade” é um filme épico de nacionalidade cazaquistanesa. Sua narrativa histórica descreve a trajetória de Mansur (Kuno Becker), um guerreiro descendente do poderoso Gengis Khan que, no século XVIII, quando o país ainda se encontrava dividido em diversas tribos nômades, unificou os povos e liderou um exército na defesa do Cazaquistão e contra um inimigo comum.
Após a conquista de Gengis Khan, durante a Idade Média, a diferentes tribos que habitavam a região permaneceram nômades, lutando contra inimigos e, eventualmente, contra si mesmas. Mesmo quando os Jungars – liderados por Galdan (Doshkn Zholzhxynov) – invadiram o território, as diferentes tribos não conseguiram se unir para derrotar o inimigo comum. A esperança repousa numa profecia que prevê o empenho de um jovem chamado Mansur, descendente de Khan, que uniria as tribos cazaques em um só povo e expurgaria a ameaça Jungar. Galdan, porém, conhece a profecia e decide assassinar a criança ainda no berço. Afim de proteger o filho, o sultão Wali coloca Mansur sob os cuidados de Oraz, o sábio (Jason Scott Lee), para que seja treinado e para que assuma o papel do guerreiro da profecia.
A produção de “Nômade” custou aproximadamente U$ 40,000, transformando-a na maior e mais cara produção cinematográfica do país. Em termos técnicos, o filme aposta numa fotografia que contempla as belezas naturais do Cazaquistão, além de acertar numa direção de arte que reconstitui trajes e cenários históricos com grande atenção a detalhes. Além disso, o filme reproduz ótimas cenas de batalha. Por outro lado, porém, a dimensão dramática da narrativa não é tão bem desenvolvida, prevalecendo pontas soltas e diálogos ruins. Outro ponto negativo é a escalação de atores estrangeiros para os papéis principais: Kuno Becker, por exemplo, é mexicano... Ainda assim, “Nômade” é um filme que merece ser visto, sobretudo por causa de sua importância histórica para o cinema oriental.
Embora esteja associado ao Cinema Novo, “Os Cafajestes”, filme de estreia de Ruy Guerra, antecipa algumas características que seriam exploradas pelo cinema experimental do final da década de 1960. Nesse sentido, a influência da Nova Onda do cinema francês – identificada em ambos os movimentos brasileiros, é palpável em diversos momentos do longa: nas perambulações aparentemente sem rumo dos protagonistas, na atmosfera de inconformismo e inadequação social, na liberdade associada aos movimentos da câmera etc. Lançado em 1962, “Os Cafajestes” enfrentou forte resistência da moral conservadora brasileira, afinal, foi um dos primeiros filmes nacionais a enfocar a violência sexual como uma das temáticas nucleares, trazendo, inclusive, a primeira nudez frontal às telas – protagonizada por Norma Bengell. O filme, que não tem a pretensão de estabelecer um diagnóstico social e cultural sobre o Brasil, desempenha, contudo, uma contundente crítica à alienação da classe média nacional, que, dois anos depois, estrelaria a infame parcela civil do Golpe de 1964. Nesse sentido, a resistência pública ao longa ilustra indiretamente esta alienação de classe que o filme ataca impiedosamente.
Entre a perversão e o moralismo, “Os Cafajestes” desenvolve uma história de humilhação de mulheres por dois cafajestes inescrupulosos que se armam da sexualidade feminina como moeda de troca para uma chantagem indecente. Como plano de fundo, as inconsistências de um país profundamente marcado por desigualdades de classe, raça e gênero. No filme, Jece Valadão e Daniel Filho interpretam, respectivamente, Jandir, um malandro pobretão e ambicioso que não tem nada a perder, e Vavá, um playboy fraco e covarde que está prestes a perder a mesada diante da falência iminente do pai. Os dois levam Leda (Norma Bengell), amante do tio rico de Vavá, a uma praia deserta e convencem-na a ficar nua; depois disso, roubam a sua roupa e fotografam-na exposta e frágil à beira-mar (num longo plano-sequência rodopiante que causa indignação e mal-estar). O objetivo: chantagear o tio rico em troca das fotografias da amante. A partir daí, os três estarão ligados a circunstâncias que evidenciarão suas incompatibilidades, pretensões e fraquezas.
“Barba, Cabelo & Bigode”, filme de Rodrigo França, traz o preto e periférico para o centro da narrativa; e não há, aqui, brigas de facções, cadeias ou retratação de situações de racismo: a narrativa, escapando do lugar-comum do negro no cinema brasileiro moderno, opta por uma representatividade que contemple as relações sociais casuais estabelecidas num subúrbio carioca. Nesse sentido, o filme de França é uma comédia de costumes protagonizada quase inteiramente por personagens negros. Aparentemente despretensiosa, a narrativa se desenvolve em tom afirmativo, evidenciando um certo orgulho de pertencimento que o narrador vai combinando, dialogicamente, com as ações e falas do protagonista. Porém, numa outra dimensão significativa, algumas ações e frases apresentadas no filme afirmam um apelo militante; é nesses momentos que o filme perde força, pois, embora sejam politicamente necessárias e socialmente relevantes, estas situações não são suficientemente desenvolvidas, resvalando o discurso político do filme para o âmbito da caricatura mais superficial.
Em termos estruturais, o filme sofre de outro problema: não consegue escapar da estrutura estereotipada que predomina nas comédias brasileiras dos últimos anos, e que é herdeira direta dos esquetes televisivos. Em diversos momentos, tem-se a sensação de se estar assistindo a uma telenovela de apelo cômico da Rede Globo. Por outro lado, o formato, ainda que viciado, consegue ser bem aproveitado por Rodrigo França, que entrega um filme coerente com aquilo que propõe.
Quase totalmente ambientado num salão de beleza, “Barba, Cabelo & Bigode” narra a trajetória de Richardsson (Lucas Penteado, excelente), um jovem recém-egresso do ensino médio e em meio a uma crise vocacional. Na tentativa de ajudar sua mãe, a cabeleireira Cristina (Solange Couto), a saldar dívidas, Richardsson acaba descobrindo seu verdadeiro talento.
Lançado em 1995, “Jenipapo” é um filme brasileiro e estadunidense dirigido por Monique Gardenberg a partir de um roteiro seu, escrito em parceria com Cyrus Nowrasteh. Surpreendentemente pouco conhecido, “Jenipapo” trata de conflitos éticos em torno da disputa pela terra. No filme, Michael (Henry Czerny) é um jornalista estadunidense que trabalha para um jornal progressista bilíngue. Em meio às disputas políticas acerca de uma polêmica lei agrária prestes a ser aprovada, Michael é designado para entrevistar o Padre Louis Stephen (Patrick Bauchau), um famoso missionário católico, líder de uma comunidade do Nordeste e associado à defesa ativa do direito à terra. Antes de proceder à entrevista, Michael desenvolve uma verdadeira obsessão pela figura do sacerdote; lê, vê e ouve tudo sobre e padre, tornando-se um conhecedor a fundo de seus ideais. Porém, existe um problema: desde algum tempo, o padre vem se recusando a conceder entrevistas ou a se posicionar publicamente, mesmo diante da aprovação da lei que certamente prejudicará os trabalhadores rurais sem terra. Michael, entretanto, vai até Jenipapo, uma comunidade rural do recôncavo baiano, a fim de se encontrar pessoalmente com o Padre Louis; lá, confronta-se com um clima de tensão que envolve crimes fundiários, jaguncismo e o silêncio impassível do Padre, o que o leva a abandonar a ética profissional no intuito de publicar a entrevista antes que a lei seja aprovada.
Apesar de ter contado com poucos recursos financeiros, o filme apresenta uma produção caprichada, o que é um grande mérito levando-se em conta o fato de que marcou a estreia da diretora baiana à frente da direção de longas. Além disso, “Jenipapo” desenvolve – e desenvolve bem – uma boa história, em que a disputa pela terra, uma questão social imprescindível no panorama histórico e político do Brasil, serve de catalizadora à dicotomia “ética” vs. “falha moral” (embora, nesse caso, o desvio moral desemboque num bem-estar coletivo). Nesse sentido, o argumento de Monique Gardenberg é fortíssimo: é necessário lembrar que, à época, a questão fundiária era a grande questão social a ser discutida no país. De um modo geral, o filme apresenta algumas falhas no roteiro, mas que não prejudicam o bom encadeamento da história. “Jenipapo” merece ser redescoberto.
Em 1947, num rancho próximo à cidade de Roswell, Novo México, foram recuperados destroços de um balão que supostamente teria vindo de fora da Terra. A Base Aérea local alegou se tratar de resquícios de um disco voador, porém, após a interferência da Força Aérea Americana, foi determinado que os destroços provinham de um balão meteorológico. A história, contudo, despertou o interesse de ufólogos e suscitou diversas teorias da conspiração. É a partir deste caso e do ponto de vista da conspiração que o filme para televisão “O Caso Roswell” se desenvolve. A defesa do ponto de vista conspiratório fica clara desde o início do filme, em que há depoimentos de pessoas que supostamente presenciaram os eventos que cercam o incidente.
No filme, situado temporalmente na década de 1970, Jesse Marcel (Kyle McLachlan) é um major que, ao longo de 30 anos conserva a amargura de ter sido calado pelo Exército ao tentar provar a verdadeira natureza dos destroços de Roswell. Durante um reencontro do pessoal de seu quartel, ele procura investigar a procedência das ordens que o fizeram calar por 30 anos, ao mesmo tempo em que ainda enfrenta a pressão de oficiais superiores.
Tratando-se de um filme para televisão e, consequentemente, de uma produção com menos recursos financeiros em relação às produções cinematográficas, “O Caso Roswell” não consegue sustentar a atmosfera de suspense e questionamento a que se propõe, sobretudo por causa da inconsistência dos recursos visuais, que não transmitem credibilidade: a presença dos seres extraterrestres, por exemplo, é quase risível. Além disso, narrativamente, a defesa do ponto de vista conspiratório é tão incisiva que o filme mais se parece com um tratado militante de ovnilogia. Mesmo as atuações, de nomes ímpares como Kyle MacLachlan e Martin Sheen, são inconsistentes devido ao mal desenvolvimento das personagens: a presença de Townsend (Sheen), por exemplo, parece nem ter razão de ser.
Influenciado por “Taxi Driver” (1976), “O Abutre” se parece com um noir pós-moderno que satiriza contundentemente o jornalismo hiper sensacionalista que pulula nas grandes metrópoles do mundo. Narrativamente, o filme abraça a objetividade, a secura e a ironia ao desenvolver a trajetória de Lou Bloom (Jake Gyllenhaal), um jovem aparentemente compenetrado, mas antissociável num nível que se assemelha à patologia. Desde o início do longa, Bloom nos é apresentado como uma espécie de caçador noturno, um abutre que, além de capturar bens que não lhe pertencem, também absorve conhecimentos por onde passa. No intuito de abandonar a vida de pequenos furtos que leva, ele busca incessantemente por uma área profissional capaz de suprir suas necessidades; é quando se depara com uma equipe de cinegrafistas ávidos por incidentes noturnos que possam causar furor nos noticiários televisivos das manhãs. Notívago e um tanto quanto misantropo, Lou arranja uma câmera e sai a caça de acidentes, incêndios, assassinatos e outras desgraças que possam interessar aos nightcrawlings – cinegrafistas freelances que competem pelo melhor ângulo: quanto maior a desgraça e melhor a filmagem, mais valor as emissoras atribuem à captura. Aos poucos, este ofício vai se transformando numa obsessão para Lou Bloom.
Sem recorrer a simplificações didáticas, um dos aspectos que mais valorizam o filme é a exímia atuação de Jake Gyllenhaal. O ator trabalha milimetricamente na entrega deste personagem que é uma verdadeira esponja ambulante, capaz de absorver tudo e interferir em tudo por onde passa, ainda que na maioria das vezes passe despercebido. Embora os traços da personalidade duvidosa de Lou não sejam completamente verbalizados, é através de atitudes que ele vai aos poucos se desvelando, num esforço que somente se torna possível a partir da dedicação de Gyllenhaal. Nesse sentido, o roteiro e a direção de Dan Gilroy mostram-se extremamente eficazes ao desenvolver a narrativa em torno dessa personagem, extraindo dela a maior parte do significado do filme.
Inspirado em fatos, “Resgate Abaixo de Zero” é um filme familiar regular e despretensioso, mas que encanta e emociona devido ao protagonismo da relação entre cães e humanos. O fato (que já havia sido adaptado para a televisão japonesa), porém, diz respeito a uma expedição japonesa de 1958 à Antártida, o que, levado às telas por um estúdio estadunidense, foi transformado numa jornada norte-americana. Porém, mesmo com a inadequação histórica e geográfica, há certa graciosidade na adaptação, sobretudo no que concerne ao comportamento dos animais em cena: bem treinados, as “atuações” dos Huskies chama atenção devido à naturalidade com que se relacionam com as câmeras.
No filme, Jerry Sheperd (Paul Walker) é um guia que trabalha para uma equipe de cientistas estadunidenses baseados na Antártida. Seu trabalho consiste em, além de treinar os cães, conduzir os cientistas em trabalhos de campo nos trenós puxados pelos cães. Após uma expedição particularmente dificultada por uma nevasca sem precedentes, a base precisa ser evacuada ante a aproximação do período de intensificação do frio. Porém, há um acidente de percurso e, na pressa, os cães são deixados para trás. Profundamente afeito a eles, Jerry não medirá esforços para conduzir uma operação de resgate, ainda que não haja verba disponível e que o inverno persista. Durante este período, os cães estarão abandonados à sorte.
A direção do filme ficou por conta de Frank Marshall, mais conhecido por seu trabalho como produtor. Sem ousar muito, ele acerta em conduzir o longa com regularidade, demonstrando competência na disposição do elenco e na relação do filme com o cenário, em que predomina a paisagem gélida infinita do Polo Sul.
Kung Fu Panda 3
3.6 309 Assista AgoraNo encerramento da trilogia “Kung Fu Panda”, Po finalmente encontra suas origens, encerrando uma importante etapa do processo de autoconhecimento, tão necessário à paz interior. Porém, ao mesmo tempo, ele deverá enfrentar mais um poderoso vilão, Kai (voz de J.K. Simmons), um enorme touro que retorna do mundo dos espíritos destinado a derrotar todos os mestres de Kung Fu, vivos ou mortos. Se quiser enfrentar este vilão sobrenatural, Po deverá dominar o poder do chi, uma técnica transcendental, espécie de energia vital que o possibilitará transitar entre diferentes dimensões. Para conquistar a energia do chi, entretanto, é necessário muita concentração e paciência, atributos aparentemente incondizentes com a impulsividade e afobamento do mestre panda.
Como se não bastasse todas as atribulações causadas pelo aparecimento de Kai, o Mestre Shifu (voz de Dustin Hoffman) ainda incumbe Po, o Dragão Guerreiro, de substituí-lo no treinamento de seus discípulos, os Cinco Furiosos. O panda, porém, não tem a menor noção de como ensinar quem quer que seja. A última lição de Shifu: somente um ser que conhece a si mesmo será capaz de ensinar os outros. É com este ensinamento em vista que Po partirá numa jornada existencial; juntamente com seu pai biológico, ele remontará a suas origens. Entretanto, a iminência do aparecimento de Kai, o forçará a acelerar o processo de se tornar um treinador kung fu.
Em termos visuais, “Kung Fu Panda 3” segue a excelência dos filmes anteriores: é visualmente impecável. O design visual da trilogia impressiona, sobretudo, por reproduzir muito bem as paisagens e os elementos da cultura chinesa. Além disso, a montagem dinâmica e vibrante e a fotografia baseada em cores quentes associam-se livremente ao espírito otimista e positivo do protagonista.
⭐ 3.6 / 5.0
Kung Fu Panda 2
3.5 836 Assista AgoraNão restam dúvidas de que Po é verdadeiramente o Dragão Guerreiro da profecia. Porém, ele ainda precisa alcançar a paz interior, um estágio que, dada a sua impulsividade e indelicadeza, parece ser incompatível com sua personalidade. Juntamente com Os Cinco Furiosos, que ele agora lidera, Po se tornou uma celebridade local, atuando ativamente na defesa do Vale da Paz. Contudo, não bastasse o desafio de encontrar a paz interior, toda a China e o Kung Fu encontram-se ameaçados por um vilão que detém uma arma poderosíssima: Lord Shen (voz de Gary Oldman), um pavão malvado e excêntrico, que empenhou tempo e poder na construção de um canhão de alta destrutibilidade. Po precisará correr contra o tempo se quiser salvar a China e o Kung Fu.
A narrativa de “Kung Fu Panda 2” é introduzida por um preâmbulo em 2D que simula um teatro de sombras. Logo descobrimos que Lord Shen era o Príncipe Pavão que, após tomar conhecimento de uma profecia que previa sua derrota por um ser preto e branco, mandara matar todos os pandas do reino da China. Além de ser o ponto de partida para a narrativa, este preâmbulo também lança as bases para a confusão dramática que acomete Po e que somente terá desfecho no terceiro volume da franquia: os questionamentos acerca de sua origem familiar. Sem solucionar este imbróglio, Po encontrará obstáculos em sua busca pela paz interior.
Equilibrando uma dramaticidade moderada e alívios cômicos pontuais, é em torno da ação que a narrativa melhor se desenvolve. Obviamente, trata-se de uma ação modalizada de acordo com o público-alvo (primordialmente, o infantojuvenil) e os objetivos da história. Nesse sentido, embora seja simples, o enredo é bastante regular, com começo, meio e um fim que encerra uma narrativa, mas deixa pistas do que será desenvolvido no filme subsequente.
⭐ 3.5 / 5.0
Kung Fu Panda
3.5 803 Assista AgoraLançado em 2008, “Kung Fu Panda” é uma simpática animação de comédia e ação. Protagonizada por Po (voz de Jack Black), um urso panda gordo e completamente desajeitado que sonha em treinar kung fu, o filme se aproveita da comédia para atualizar referências da cultura chinesa, principalmente em relação à arte e às artes marciais. Valendo-se sobretudo da fábula e da prosopopeia como recursos narrativos, o filme personifica animais e atribui, a cada um deles, características virtuosas que são valorizadas no kung fu. Porém, escapando a simplificações, os personagens também concentram em si aspectos idiossincráticos, que precisam ser domados, transformados ou tão somente aproveitados em favor da arte marcial. Além disso, o filme trata da quebra de estereótipos: o herói da narrativa é um urso panda gordo que, surpreendentemente, revela-se como o eleito para cumprir uma profecia milenar. Sob a incredulidade de todos, Po parece ser um caso perdido, mas, aos poucos, ele vai aprendendo a utilizar suas características pessoais em favor de si e do kung fu.
Em relação à história: nos sonhos de Po, ele é um mestre de kung fu que luta ao lado de seus ídolos, Os Cinco Furiosos: Mestre Macaco (voz de Jackie Chan), Mestre Tigresa (voz de Angelina Jolie), Mestre Garça (voz de David Cross), Mestre Louva-Deus (voz de Seth Rogen) e Mestre Víbora (Lucy Liu). A realidade, no entanto, não poderia ser mais diversa: ele trabalha na loja de macarrão de seu pai. Inesperadamente, contudo, o sonho de Po se torna realidade quando ele cai – literalmente – dos céus no momento exato em que o ancião, Mestre Oogway (Randall Duk Kim), anunciava o guerreiro destinado a cumprir a profecia do dragão. Eleito, Po passa a ser treinado por Mestre Shifu (voz de Dustin Hoffman), que não deposita nenhuma confiança na capacidade de aprendizagem do novo discípulo. Porém, há um perigo à vista: Tai Lung (voz de Ian McShane), um traiçoeiro leopardo da neve, que ameaça destruir a paz daquele povoado.
⭐ 3.7 / 5.0
Os Mercenários 3
3.2 916 Assista AgoraSylvester Stallone vinha de uma série de más escolhas de personagens e envolvimento em projetos não muito vultosos quando, em 2009, anunciou que escreveria, dirigiria e estrelaria um filme de ação que remetesse a seus grandes sucessos do passado. Apesar da desconfiança de público e crítica, o filme foi bem sucedido e fez com que todos aguardassem novidades nas sucessivas sequências: nomes somados ao elenco, mais frases de efeito, mais ação, mais explosões etc. Assim, ao elenco do primeiro filme, que já contava com nomes como os de Jason Statham, Terry Crews, Jet Li, Dolph Lundgren, dentre outros, somaram-se nomes como os de Jean-Claude Van Damme e Chuck Norris, para o delírio do público mais ávido por nostalgia oitentista e noventista. Em termos de elenco, a novidade no terceiro volume da franquia foram os nomes de Antonio Banderas, Harrison Ford, Wesley Snipes e Mel Gibson, que interpretou o vilão.
Sem perder o bom humor dos filmes anteriores, “Os Mercenários 3” continua apostando na nostalgia para cativar o público. Com este intuito, o enredo novamente passa ao lado, pois o que interessa ao filme são os pretextos para as demonstrações acrobáticas de ação. E, neste quesito, o filme vai muito bem. Principalmente quando se aproxima do final, quando o grupo dos mercenários precisa lutar contra um exército inteiro.
Em relação aos filmes anteriores, “Os Mercenários 3” talvez seja o que tenha um arco dramático mais bem desenvolvido. O vilão, Conrad Stonebanks (Mel Gibson), foi quem fundou, anos atrás, juntamente com Barney Ross (Stallone), o grupo dos Mercenários. Anos depois, ele retorna como um poderoso traficante de armas, tentando convencer o antigo colega de que fazer o trabalho sujo para a Justiça talvez não seja um serviço tão recompensador.
⭐ 3.5 / 5.0
Titanic
4.0 4,6K Assista AgoraNão fosse o perfeccionismo intransigente de James Cameron e sua devoção às possibilidades tecnológicas, o mundo não conheceria a obra-prima impecável que é “Titanic”. Os mais de 200 milhões de dólares gastos em sua produção apenas atestaram que para se produzir um filme sem defeitos, foi necessário desembolsar muito dinheiro. O resultado, obviamente, foi recompensador, pois “Titanic” tornou-se um marco cultural de sua época e uma forte influência para todo o cinema produzido depois dele. Utilizar-se de um material histórico (que já havia sido explorado no cinema, embora não suficientemente) e recheá-lo com um drama romântico ficcional arrebatador – e de desfecho tão trágico quanto o naufrágio em si mesmo – foi a fórmula do sucesso para James Cameron. Em termos práticos: o filme já arrecadou, até hoje, mais de 2 bilhões de dólares nas bilheterias, e levou para casa 11 Oscars, tornando-se recordista e empatando com “Ben-Hur” (1959).
Para remontar à madruga de 15 de abril de 1912, data do naufrágio do Titanic, o filme utiliza um interessante pretexto: um “caçador de tesouros” (Bill Paxton) empreende uma expedição submarina aos destroços do Titanic, em busca do Coração do Oceano, um corte de diamante azul em formato de coração e que teria naufragado junto com o navio. Porém, ele encontra apenas o retrato de uma jovem mulher usando somente, no pescoço, o tal diamante. O achado aparece na televisão e Rose Dawson (Gloria Stuart), assistindo, reconhece a si mesma como a garota do retrato. Desse ponto em diante, ela, de seus quase cem anos, narra a história de como embarcara no navio, vivera um romance proibido e arrebatador e sobrevivera ao naufrágio. Durante a narração, o romance proibido entre Rose (Kate Winslet), uma jovem socialite da primeira classe, e Jack (Leonardo DiCaprio), um pobretão que ganhou uma passagem de terceira classe numa mão de pôquer, vêm à tona e assume o cerne da narrativa. Até que o navio bate num iceberg e naufraga.
Em termos técnicos, James Cameron utilizou-se abundantemente de efeitos visuais, além de ter submetido a equipe e o elenco a condições insalubres, como água em temperatura de congelamento, para reconstituir, da forma mais realista possível, o naufrágio mais famoso de todos os tempos. O resultado: “Titanic” é, hoje, o clássico moderno por excelência.
⭐ 5.0 / 5.0
Os Mercenários 2
3.5 2,3K Assista AgoraApesar de continuar com o mesmo propósito de seu predecessor, qual seja, o de homenagear o cinema de ação dos anos oitenta através de uma reunião de astros musculosos desse nicho cinematográfico, “Os Mercenários 2” consegue em alguma medida superar o primeiro volume da trilogia (que, muito em breve, será quadrilogia). O filme, agora dirigido por Simon West, consegue não apenas capturar melhor a atmosfera oitentista – reativando, inclusive, um embate típico do período da Guerra Fria: EUA vs. vilões do Leste Europeu e corridas nucleares –, mas, também, apresenta uma maior qualidade técnica, principalmente em relação aos efeitos visuais (e há muito tiro, porrada, bomba e explosão no filme) e aos diálogos.
O que mais vale em “Os Mercenários 2” continua sendo, tal qual no caso do filme anterior, o apelo nostálgico em se reunir num mesmo filme os grandes astros que povoaram o universo cultural de aficionados por cinema de ação nos anos 1980. Sylvester Stallone, Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger, Chuck Norris (numa participação pequena, mas muito bem humorada) e Jean-Claude Van Damme que, dessa vez, encarna o vilão. Nesse contexto de reunião nostálgica, o enredo passa ao lado... e efetivamente nem faz tanta falta, servindo apenas de pretexto para que os brucutus musculosos realizem suas acrobacias impactantes.
Este pretexto pode ser assim resumido: um mapa que leva a uma mina de plutônio caiu nas mãos de Jean Vilain (Van Damme), um criminoso que deseja explorar o produto para produzir armas nucleares. A fim de impedi-lo, o Agente Church (Bruce Willis) recorre ao auxílio dos Mercenários liderados por Barney Ross (Stallone). Um fato, porém, continua sem explicação: o retorno de Gunnar (Dolph Lundgren) à ação, pois ele havia sido morto por Ross no filme anterior.
⭐ 3.5 / 5.0
Os Mercenários
3.2 1,9K Assista AgoraEm “Os Mercenários”, Sylvester Stallone reúne os maiores canastrões da história recente do cinema de ação num filme que é, ao mesmo tempo, homenagem e pastiche dos filmes de ação da década de 1980, em que homens-músculos, com expressões de raiva e munidos de equipamentos bélicos gigantescos, derrotavam inclusive exércitos inteiros. Nomes como os de Dolph Lundgren, Jet Li, Jason Statham, Steve Austin, Terry Crews, Bruce Willis etc. marcam presença em “Os Mercenários”, além de uma participação intertextual e bem humorada de Arnold Schwarzenegger, que remete à disputa informal de bilheteria que seus filmes suscitavam com os de Stallone na década de 1980. Até mesmo os efeitos visuais d’“Os Mercenários” sugerem a insipidez da técnica computadorizada oitentista. Resumidamente, “Os Mercenários” é um filme despretensioso, mas divertido, cujo enredo fraco é apenas um pretexto para reunir em tela alguns dos grandes nomes do cinema de ação, que por bastante tempo figuraram como referência ao universo cultural masculino.
No filme, Barney Ross (Stallone) lidera um grupo de mercenários que presta serviço sujo á agência de inteligência americana. Quando a instituição não pode se comprometer publicamente, Mr. Church (Bruce Willis) entra em contato com Ross e designa a missão aos mercenários. Desta vez, a missão está localizada num pequeno país latino-americano cujo presidente militar submete a população a uma violenta ditadura. O cenário de Vilena, o fictício país latino-americano, não é estranho ao público brasileiro. Isto porque uma parte do filme foi filmada em Mangaratiba, no Rio de Janeiro; inclusive, a sede do governo que vemos em tela é, na verdade, o Parque Lage (que já serviu de cenário a muitos filmes brasileiros, incluindo “Terra em Transe” e “Macunaíma”), famoso ponto turístico carioca. Outra curiosidade brasuca: a Stallone girl Sandra, filha do ditador de Vilena, é (pessimamente) interpretada pela atriz brasileira Giselle Itié.
Enfim, “Os Mercenários” é um filme nostálgico, descerebrado, mas divertido.
⭐ 3.3 / 5.0
Santiago
4.1 134Através de uma revisão sobre um material bruto que havia sido desprezado em outra época, João Moreira Salles apresenta um vigoroso trabalho de metalinguagem e, ao mesmo tempo, realiza um ácido e desconcertante exercício de autocrítica. Além disso, ao lançar luz sobre um material filmado no passado, o filme constrói uma reflexão acerca da ação do tempo sobre uma obra e sobre os pensamentos em redor e por trás dela. Assim, quem se deslinda diante de nós é o próprio autor, mediado por transformações de ordem pessoal que resultaram, em sua maioria, de transformações sociais que na contemporaneidade afetaram as concepções e as relações entre as classes. Embora a personagem central do filme seja Santiago, o mordomo estrangeiro que servira à família de João por anos a fio, é o próprio João quem se revela através da onipresença na narração e nos comandos que dá ao mordomo aposentado, revelando seu pertencimento em crise a uma classe que oprime e devora pessoas como Santiago.
Em 1992, um primeiro impulso leva João Moreira Salles ao apartamento do antigo mordomo de sua família a fim de filmar um longo depoimento em que Santiago apresentar-se-ia em primeira pessoa. Devido à sua incapacidade de realizar os cortes necessários às cenas filmadas, o longa-metragem nunca foi lançado. Em 2005, porém, João retorna ao material bruto explorando um outro foco narrativo sobre o mesmo produto. Desta vez, como num grande making off, evidencia-se ao público que o suposto depoimento prestado por Santiago fora manipulado através das interferências do realizador que, sem constrangimentos, não se furtou em interromper, cortar ou orientar o fluxo de fala do mordomo. Porém, ainda que o retrato de uma burguesia autoritária e exploradora fique claro à medida que o filme se desenvolve, a personagem de Santiago também burla as orientações e revela toda a dimensão de sua humildade e sabedoria, além de sua irremediável solidão: resultado de uma vida dedicada ao (e perdida no) serviço.
⭐ 4.4 / 5.0
O Morro dos Ventos Uivantes
2.6 397A autora britânica Emily Brontë publicou apenas um romance, “O Morro dos Ventos Uivantes” que, embora não tenha sido bem compreendido à época, tornou-se, com o passar do tempo, uma das principais obras da literatura em língua inglesa. A impressionante história de romance e vingança envolvendo o misterioso e estrangeiro Heathcliff e sua irmã-adotiva Catherine Earnshaw é capaz de causar consternação e impressão até os dias de hoje. Não por acaso, o argumento de “O Morro dos Ventos Uivantes” já serviu a sucessivas adaptações cinematográficas e televisivas. Na história da recepção da obra literária de Brontë, uma discussão sempre revolvida diz respeito à origem étnica de Heathcliff. Porém, existe um consenso: trata-se de um personagem não-branco. A maioria das adaptações dramáticas da obra, no entanto, vem escalando atores brancos para o papel – o que, considerando a origem estrangeira do personagem e o tratamento que recebera de Hindley Earnshaw, o irmão-adotivo, traz prejuízos significativos à compreensão da obra.
A principal novidade que Andrea Arnold imprime à sua interpretação pessoal do romance de Brontë é apresentar-nos a um Heathcliff negro, papel que os atores Solomon Glave e James Howson assumem com competência – nas idades jovem e adulta, respectivamente. Além disso, o filme de Arnold se distancia da narrativa cinematográfica hollywoodiana clássica e se aproxima do cinema de arte. Afinal, a diretora utiliza recursos como câmeras de mão, visão subjetiva em alguns momentos, muitos planos detalhados, um formato de filmagem de proporção 1.37:1 (aquele aspecto quadrado, em detrimento do Widescreen) etc. Adicionalmente, Arnold privilegia a imagem ao diálogo, transformando a experiência em algo muito mais contemplativo e imersivo que verborrágico. Nesse sentido, as sensações dos protagonistas são demonstradas através de flashbacks remissivos e metáforas visuais.
Assim, Andrea Arnold entrega um corajoso retrato da crueldade humana, que sufoca a maturação do amor, ao contrário daquelas leituras que realçam apenas o aspecto romântico trágico da clássica narrativa de Emily Brontë.
⭐ 3.9 / 5.0
Temporada de Caça
3.5 23Wade Whitehouse (Nick Nolte), o protagonista de “Temporada de Caça”, é um sujeito ordinário, mas que ambiciona ser mais do que é. E, justamente no processo de tentar concretizar seus objetivos pretensiosos, acaba se embarafustando numa trama policial um tanto quanto paranoica e conspiratória que o leva à completa derrocada. Poderia tratar-se de um personagem comum ao universo dos Irmãos Coen, porém despido de qualquer alívio cômico, sarcasmo ou ironia, pois Paul Schrader imprime sua austeridade típica à trama. Através do infortúnio de Wade, Schrader apresenta o diagnóstico de um espécime comum à sociedade estadunidense: aquele que busca o extraordinário em contextos e situações completamente comezinhas.
Os personagens de “Temporada de Caça” encontram-se abafados e afetados pelo cotidiano moroso de Lawford, uma cidadezinha onde nada acontece. Wade é uma espécie de policial local; divorciado, ele tem uma filha de quem deseja conseguir legalmente a guarda, embora não tenha um relacionamento saudável com ela. A chegada do inverno a Lawford marca o início da temporada de caça e, durante uma caçada guiada, um rico homem de negócios é acidentalmente baleado e morre. Embora todos os indícios apontem para um acidente, Wade desconfia de que houve um crime. Sem provas, ele tenta juntar os cacos da ocorrência a fim de confirmar sua hipótese. Em meio a uma obsessão cada vez mais violenta pelo caso, Wade é forçado ainda a se reaproximar do pai, um sujeito violento e arrogante que acabara de ficar viúvo. Aos poucos, todas as relações de Wade vão sendo afetadas por sua transformação e, por fim, ele se apresenta mais parecido com o pai do que poderia supor.
Em “Como Nossos Pais”, Belchior já dava a nota: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Ao tratar não apenas da história de um homem medíocre destruído pela ambição, mas também da sina em repetir os desvios paternos, Paul Schrader registra a tragédia de um homem que perde completamente a identidade ao perceber-se como um perpetuador de uma estrutura assentada na violência.
⭐ 3.7 / 5.0
Ghost World: Aprendendo a Viver
3.7 540Baseado na graphic novel homônima de Daniel Clowes (que também assina o roteiro, ao lado do diretor Terry Zwigoff), “Ghost World” é um coming-of-age que mostra o cotidiano de Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson), duas jovens recém-egressas do ensino médio e prestes a encarar o universo rigoroso e formal da vida adulta. Elas, no entanto, não são como as outras garotas: munidas de um sarcasmo rascante, recusam-se a adotar modismos que subtrairiam suas individualidades; por isso mesmo, o final da adolescência as assusta. A falta de perspectiva das duas fica clara numa frase dita por Enid, após a formatura: “We graduated high school. How totally amazing”, sem qualquer empolgação ou entusiasmo. Porém, a chegada da maturidade é inevitável e cada uma a seu modo passará a lidar com a carga de responsabilidades que esta nova etapa traz – o que, de certa forma, as afastará: Enid conhece e passa a se relacionar com Seymour (Steve Buscemi), um sujeito estranho e introspectivo que coleciona vinis raros e antiguidades, enquanto Rebecca começa a trabalhar num café, pois vai aos poucos acalentando o sonho de vida adulta de alugar um apartamento e sair da casa dos pais.
“Ghost World” equilibra muito bem a comédia e o drama neste recorte da vida da dupla de protagonistas. Trata-se, simplesmente, de um filme sobre duas amigas e a maneira peculiar como elas encaram o mundo neste momento de transição da adolescência para a vida adulta: há inconformismo, mas há também a incômoda sensação de impotência diante da inevitabilidade de se aderir a uma lógica contra a qual não se pode lutar – e essa melancolia, de certo modo, paira na atmosfera do filme.
⭐ 4.3 / 5.0
A Ilha da Garganta Cortada
3.1 194Em qualquer lista de maiores fracassos de bilheteria que se consulte, “A Ilha da Garganta Cortada” certamente constará. Até muito recentemente, o filme era reconhecido pelo Guinness Book como o maior fracasso comercial do cinema estadunidense: dos US$ 98 milhões gastos em sua produção, apenas US$ 10 milhões foram recuperados. Como resultado, a produtora Carolco Pictures foi à falência e a equipe envolvida na produção amargou a mácula de ter seu nome associado a este filme. Vários fatores contribuíram para o fracasso, dentre eles, o roteiro incoerente, as más condições de filmagem, a falta de química entre o casal de protagonistas, a resistência do público conservador a um filme de pirataria protagonizado por uma mulher etc. Atualmente, “A Ilha da Garganta Cortada” tem ganhado status de filme cult, atraindo um público interessando num entretenimento não-propositalmente trash.
Lançado em 1995, o filme é sobre a busca por um tesouro escondido na temida Ilha da Garganta Cortada. Existe um mapa, que, entretanto, foi cortado em três partes por um velho pirata e dividido entre seus três filhos. Vários anos depois, um destes filhos, no leito de morte, passa a sua parte do mapa (que estava tatuada em seu couro cabeludo) à filha, Morgan Adams (Geena Davis), uma destemida aventureira. Contando com o apoio de sua tripulação, ela decide reunir as outras partes do mapa e encontrar o tesouro perdido. Porém, o mapa está em latim e, para traduzi-lo, ela decide comprar um prisioneiro culto, William Shaw (Matthew Modine), que estava para ser vendido como escravo. A partir daí, ela precisará decidir se Shaw merece ou não a sua confiança, ao mesmo tempo em que outros piratas e até mesmo um governador de província demonstram interesse no tesouro.
Na época, “A Ilha da Garganta Cortada” chegou a ser acusado de ter matado o gênero “pirataria”; que, entretanto, ressuscitou em grande estilo em 2003, quando foi iniciada a franquia “Piratas do Caribe”.
⭐ 3.0 / 5.0
Labirinto: A Magia do Tempo
3.9 609Protagonizado por David Bowie e Jennifer Connelly e dirigido por Jim Henson, o pai dos Muppets, “Labirinto, a Magia do Tempo” tinha tudo para ser um sucesso: excelente produção, boa história, trilha sonora memorável e bonecos não muito simpáticos, mas, no mínimo, interessantes. O filme, entretanto, fracassou na bilheteria, desmoralizando quase completamente o legado de Henson. O problema talvez tenha sido o tempo de seu lançamento: final da década de 1980, um filme de fantoches teve que concorrer com produções que já ensaiavam bons usos de recursos visuais computadorizados. Não que eles não tenham sido empregados em “Labirinto”, mas o aspecto dos bonecos parecia muito pouco tecnológico para as aspirações do público daquela época. Hoje, no entanto, talvez por causa da nostalgia que evoca, “Labirinto” foi alçado à seleta categoria de filme cult.
A trama gira em torno de Sarah (Jennifer Connelly), uma adolescente que deve cuidar do irmão bebê enquanto o pai e a madrasta saem de casa numa determinada noite. Irritada com o choro da criança e querendo se ver livre da responsabilidade, ela expressa o desejo de que a criança desapareça ao Rei dos Duendes, Jareth (David Bowie), monarca de um universo fantástico que ela própria idealizara. Ela, porém, se arrepende do pedido logo após Jareth aparecer e levar a criança para a distante terra dos duendes. Para resgatar o irmão, Sarah terá doze horas para atravessar um labirinto cheio de obstáculos e provações. Neste percurso, ela deverá se tornar amiga dos duendes e bolar um plano para enganar Jareth.
Repleto de referências literárias e visuais (“O Mágico de Oz”, “Alice no País das Maravilhas”, a tela “Relatividade”, de M.C. Escher etc. são algumas das mais evidentes que compõem o inventário referencial do autor), “Labirinto”, num plano menos superficial de significados, simboliza a dificultosa transição da infância para a juventude, com todas as dores e delícias que este processo traz.
⭐ 3.8 / 5.0
Vigaristas
3.5 215 Assista Agora“Vigaristas” foi apenas o segundo longa-metragem autoral de Rian Johnson e já é possível identificar nele seu estilo desafiador e não-conformista, que se manifesta em tramas não-lineares, repletas de reviravoltas e surpresas. No filme, Adrien Brody e Mark Ruffalo interpretam os Irmãos Bloom – Bloom e Stephen, respectivamente –, órfãos que passaram a infância transitando entre adoções e casas de acolhimento até que decidiram tomar as rédeas da vida sobrevivendo através da aplicação de sucessivos golpes. O que os diferencia, porém, de salafrários comuns é que Stephen elabora planos intrincados para seus golpes, com roteiros complexos e arcos dramáticos, como se fossem um romance cujo protagonista é sempre Bloom. Bloom, contudo, enfrenta uma crise de personalidade, pois se cansou de ter seu verdadeiro “eu” elipsado pelos papeis determinados nos roteiros de Stephen. Antes de abandonar a vida de crime, porém, ele é convencido a participar de um último golpe, que envolve a milionária solitária Penelope Stamp (Rachel Weisz). No intuito de atrai-la para a trama, Bloom acaba se apaixonando e desejando cada vez mais viver uma vida sem roteiro prescrito.
O que mais chama a atenção em “Vigaristas” é o roteiro extremamente criativo: as tramas hiper-elaboradas de Stephen criam um interessante recurso narrativo de ficção dentro da ficção, embora sejamos forçadamente transformados em cúmplices dos golpes, mesmo que não saibamos ao certo seus objetivos e possíveis desfechos. O último estratagema de Stephen, contudo, pega-nos completamente de surpresa: mérito exclusivo do roteiro, assinado por Rian Johnson, que também é o responsável pela ótima condução do longa. Além disso, as atuações perfeitamente coordenadas de Adrien Brody e Mark Ruffalo registram uma dupla que, embora improvável, é cheia de química, contribuindo muito para a sustentação da atmosfera de fabulação e dúvida.
⭐ 3.8 / 5.0
Síndrome de Caim
3.3 64 Assista AgoraConsiderado por muitos um exemplar obscuro na carreira de Brian De Palma, “Síndrome de Caim” foi, de algum modo, vítima da repercussão negativa de seu filme anterior, o fracassado “Fogueira das Vaidades” (1990). Faltou à crítica e ao público a força de vontade de contemplá-lo a partir de um olhar isento dos preconceitos que vieram a reboque do filme de 1990. Nem mesmo um retorno à entonação hitchcockiana, que pode ser encontrada nos melhores filmes do diretor, aproximou público e crítica de “Síndrome de Caim”. Trata-se, portanto, de uma obra subestimada, pois De Palma entrega um filme bastante interessante e peculiar, sobretudo ao estabelecer um jogo psicológico entre o protagonista e o espectador recorrendo-se principalmente ao formato.
Durante toda a projeção do longa, somos apresentados a tramas e situações sobrepostas que confundem nossa interpretação do fio narrativo: não dá pra distinguir efetivamente o que é sonho e o que é realidade. Em termos estruturais, De Palma recorre ao trabalho de edição e à fotografia para sustentar uma atmosfera de perturbação da realidade: o que causa tanto um mal-estar quanto o desejo de solucionar o mistério. Assim como em algumas das melhores obras de Hitchcock, o tema central de “Síndrome de Caim” gira em torno de obsessões psicológicas. O protagonista, o psicólogo de crianças Carter Nix (brilhantemente interpretado por John Lithgow), é acometido por um transtorno que o faz assumir diferentes personalidades, sem que isso seja consciente. Porém, este fato não é imediatamente comunicado ao espectador, que acompanha atônito as aparentes mudanças de humor da personagem até que o quebra-cabeça vai aos poucos se solucionando para revelar a trama.
Em alguma medida, em “Síndrome de Caim” a forma parece se sobressair ao conteúdo narrativo. Neste filme, contudo, a história, vítima de algumas inverossimilhanças em alguns momentos, parece importar menos que a maneira como De Palma a conta (essa sim, brilhante).
⭐ 3.8 / 5.0
Fenômenos Paranormais 2
2.5 407 Assista AgoraO ditado diz que “um raio não cai duas vezes num mesmo lugar”, o que também pode ser entendido que um mesmo erro não deve ser cometido mais de uma vez. Não é, porém, o caso de “Fenômenos Paranormais 2”. E nisso consiste o seu maior furo de roteiro: se existem evidências de que um lugar é perigoso e de que pessoas que entraram nele nunca mais foram vistas, qual é a justificativa plausível para se adentrar nele? No filme, o estudante de cinema Alex Wright (Richard Harmon) assistiu ao filme “Fenômenos Paranormais” e ficou obcecado por seu desfecho. Acreditando na veracidade do filme – afinal, tratava-se da gravação de um episódio de um reality show –, ele decide, junto com alguns colegas de faculdade, repetir a experiência: passar uma noite no mesmo hospital psiquiátrico abandonado munidos de equipamentos caseiros de filmagem, a fim de desvendar o mistério do paradeiro dos protagonistas do filme anterior. Obviamente, a experiência sai do controle, como se isso já não fosse esperado.
A parte os recursos narrativos de metalinguagem e de ficção dentre da ficção, que tornam a sequência bem mais interessante que o filme anterior, “Fenômenos Paranormais 2” é vítima dos mesmos vícios estruturais que identificam a estrutura básica do found fotage. Infelizmente, acaba sendo mais do mesmo.
⭐ 2.4 / 5.0
Fenômenos Paranormais
2.8 786Desde o surpreendente sucesso de “A Bruxa de Blair” (1999) e, posteriormente, da franquia “Atividade Paranormal”, o found fotage, que consiste numa simulação de documentário filmado apenas com equipamentos caseiros e câmeras de mão, tornou-se um dos principais e mais rentáveis nichos do cinema de terror. O problema deste formato, entretanto, é que ele apresenta pouca possibilidade de inovação, constituindo um padrão que se repete em quase todas as produções deste tipo, caracterizadas pela ausência de trilha sonora a fim estabelecer verossimilhança, a falta de edição, câmeras tremidas etc. Em “Fenômenos Paranormais”, a repetição da estrutura básica do found fotage não é compensada por uma trama interessante; ao contrário, embora o filme promova alguma diversão em alguns momentos, ele redunda tanto em clichês que se tem a sensação de que aquilo que se vê na tela já foi visto anteriormente. Em diversos momentos, a previsibilidade da trama causa a sensação de perda de tempo. Além disso, e o que é pior, o filme não provoca medo (e isso é imperdoável, tratando-se de um filme de terror).
A narrativa de “Fenômenos Paranormais” é bastante simplória: os realizadores de um reality show que investiga situações paranormais iniciam a produção do sexto episódio, cujo script consiste em passar a noite num hospital psiquiátrico abandonado que, de acordo com falsas testemunhas, é assombrado. O enorme edifício abrigou o hospital até a década de 1930, quando foi descoberta a prática de experimentos ilegais, lobotomias e torturas. Os responsáveis pelo programa, entretanto, não acreditam na paranormalidade do local, mas, em nome da audiência, forjam situações estranhas e escalam um falso médium para comentar o episódio. Porém, quando uma entidade espiritual maligna se manifesta, as coisas saem do controle e a noite acaba sendo mais longa do que eles esperavam, custando a sanidade dos envolvidos.
Ou seja, não há nada de novo e tudo é muito previsível.
⭐ 2.4 / 5.0
Nômade
2.8 19Com produção executiva do veterano checo Miloš Forman, “Nômade” é um filme épico de nacionalidade cazaquistanesa. Sua narrativa histórica descreve a trajetória de Mansur (Kuno Becker), um guerreiro descendente do poderoso Gengis Khan que, no século XVIII, quando o país ainda se encontrava dividido em diversas tribos nômades, unificou os povos e liderou um exército na defesa do Cazaquistão e contra um inimigo comum.
Após a conquista de Gengis Khan, durante a Idade Média, a diferentes tribos que habitavam a região permaneceram nômades, lutando contra inimigos e, eventualmente, contra si mesmas. Mesmo quando os Jungars – liderados por Galdan (Doshkn Zholzhxynov) – invadiram o território, as diferentes tribos não conseguiram se unir para derrotar o inimigo comum. A esperança repousa numa profecia que prevê o empenho de um jovem chamado Mansur, descendente de Khan, que uniria as tribos cazaques em um só povo e expurgaria a ameaça Jungar. Galdan, porém, conhece a profecia e decide assassinar a criança ainda no berço. Afim de proteger o filho, o sultão Wali coloca Mansur sob os cuidados de Oraz, o sábio (Jason Scott Lee), para que seja treinado e para que assuma o papel do guerreiro da profecia.
A produção de “Nômade” custou aproximadamente U$ 40,000, transformando-a na maior e mais cara produção cinematográfica do país. Em termos técnicos, o filme aposta numa fotografia que contempla as belezas naturais do Cazaquistão, além de acertar numa direção de arte que reconstitui trajes e cenários históricos com grande atenção a detalhes. Além disso, o filme reproduz ótimas cenas de batalha. Por outro lado, porém, a dimensão dramática da narrativa não é tão bem desenvolvida, prevalecendo pontas soltas e diálogos ruins. Outro ponto negativo é a escalação de atores estrangeiros para os papéis principais: Kuno Becker, por exemplo, é mexicano... Ainda assim, “Nômade” é um filme que merece ser visto, sobretudo por causa de sua importância histórica para o cinema oriental.
⭐ 3.2 / 5.0
Os Cafajestes
3.5 57Embora esteja associado ao Cinema Novo, “Os Cafajestes”, filme de estreia de Ruy Guerra, antecipa algumas características que seriam exploradas pelo cinema experimental do final da década de 1960. Nesse sentido, a influência da Nova Onda do cinema francês – identificada em ambos os movimentos brasileiros, é palpável em diversos momentos do longa: nas perambulações aparentemente sem rumo dos protagonistas, na atmosfera de inconformismo e inadequação social, na liberdade associada aos movimentos da câmera etc. Lançado em 1962, “Os Cafajestes” enfrentou forte resistência da moral conservadora brasileira, afinal, foi um dos primeiros filmes nacionais a enfocar a violência sexual como uma das temáticas nucleares, trazendo, inclusive, a primeira nudez frontal às telas – protagonizada por Norma Bengell. O filme, que não tem a pretensão de estabelecer um diagnóstico social e cultural sobre o Brasil, desempenha, contudo, uma contundente crítica à alienação da classe média nacional, que, dois anos depois, estrelaria a infame parcela civil do Golpe de 1964. Nesse sentido, a resistência pública ao longa ilustra indiretamente esta alienação de classe que o filme ataca impiedosamente.
Entre a perversão e o moralismo, “Os Cafajestes” desenvolve uma história de humilhação de mulheres por dois cafajestes inescrupulosos que se armam da sexualidade feminina como moeda de troca para uma chantagem indecente. Como plano de fundo, as inconsistências de um país profundamente marcado por desigualdades de classe, raça e gênero. No filme, Jece Valadão e Daniel Filho interpretam, respectivamente, Jandir, um malandro pobretão e ambicioso que não tem nada a perder, e Vavá, um playboy fraco e covarde que está prestes a perder a mesada diante da falência iminente do pai. Os dois levam Leda (Norma Bengell), amante do tio rico de Vavá, a uma praia deserta e convencem-na a ficar nua; depois disso, roubam a sua roupa e fotografam-na exposta e frágil à beira-mar (num longo plano-sequência rodopiante que causa indignação e mal-estar). O objetivo: chantagear o tio rico em troca das fotografias da amante. A partir daí, os três estarão ligados a circunstâncias que evidenciarão suas incompatibilidades, pretensões e fraquezas.
⭐ 4.3 / 5.0
Barba, Cabelo & Bigode
2.6 23 Assista Agora“Barba, Cabelo & Bigode”, filme de Rodrigo França, traz o preto e periférico para o centro da narrativa; e não há, aqui, brigas de facções, cadeias ou retratação de situações de racismo: a narrativa, escapando do lugar-comum do negro no cinema brasileiro moderno, opta por uma representatividade que contemple as relações sociais casuais estabelecidas num subúrbio carioca. Nesse sentido, o filme de França é uma comédia de costumes protagonizada quase inteiramente por personagens negros. Aparentemente despretensiosa, a narrativa se desenvolve em tom afirmativo, evidenciando um certo orgulho de pertencimento que o narrador vai combinando, dialogicamente, com as ações e falas do protagonista. Porém, numa outra dimensão significativa, algumas ações e frases apresentadas no filme afirmam um apelo militante; é nesses momentos que o filme perde força, pois, embora sejam politicamente necessárias e socialmente relevantes, estas situações não são suficientemente desenvolvidas, resvalando o discurso político do filme para o âmbito da caricatura mais superficial.
Em termos estruturais, o filme sofre de outro problema: não consegue escapar da estrutura estereotipada que predomina nas comédias brasileiras dos últimos anos, e que é herdeira direta dos esquetes televisivos. Em diversos momentos, tem-se a sensação de se estar assistindo a uma telenovela de apelo cômico da Rede Globo. Por outro lado, o formato, ainda que viciado, consegue ser bem aproveitado por Rodrigo França, que entrega um filme coerente com aquilo que propõe.
Quase totalmente ambientado num salão de beleza, “Barba, Cabelo & Bigode” narra a trajetória de Richardsson (Lucas Penteado, excelente), um jovem recém-egresso do ensino médio e em meio a uma crise vocacional. Na tentativa de ajudar sua mãe, a cabeleireira Cristina (Solange Couto), a saldar dívidas, Richardsson acaba descobrindo seu verdadeiro talento.
⭐ 2.8 / 5.0
Jenipapo
3.0 7Lançado em 1995, “Jenipapo” é um filme brasileiro e estadunidense dirigido por Monique Gardenberg a partir de um roteiro seu, escrito em parceria com Cyrus Nowrasteh. Surpreendentemente pouco conhecido, “Jenipapo” trata de conflitos éticos em torno da disputa pela terra. No filme, Michael (Henry Czerny) é um jornalista estadunidense que trabalha para um jornal progressista bilíngue. Em meio às disputas políticas acerca de uma polêmica lei agrária prestes a ser aprovada, Michael é designado para entrevistar o Padre Louis Stephen (Patrick Bauchau), um famoso missionário católico, líder de uma comunidade do Nordeste e associado à defesa ativa do direito à terra. Antes de proceder à entrevista, Michael desenvolve uma verdadeira obsessão pela figura do sacerdote; lê, vê e ouve tudo sobre e padre, tornando-se um conhecedor a fundo de seus ideais. Porém, existe um problema: desde algum tempo, o padre vem se recusando a conceder entrevistas ou a se posicionar publicamente, mesmo diante da aprovação da lei que certamente prejudicará os trabalhadores rurais sem terra. Michael, entretanto, vai até Jenipapo, uma comunidade rural do recôncavo baiano, a fim de se encontrar pessoalmente com o Padre Louis; lá, confronta-se com um clima de tensão que envolve crimes fundiários, jaguncismo e o silêncio impassível do Padre, o que o leva a abandonar a ética profissional no intuito de publicar a entrevista antes que a lei seja aprovada.
Apesar de ter contado com poucos recursos financeiros, o filme apresenta uma produção caprichada, o que é um grande mérito levando-se em conta o fato de que marcou a estreia da diretora baiana à frente da direção de longas. Além disso, “Jenipapo” desenvolve – e desenvolve bem – uma boa história, em que a disputa pela terra, uma questão social imprescindível no panorama histórico e político do Brasil, serve de catalizadora à dicotomia “ética” vs. “falha moral” (embora, nesse caso, o desvio moral desemboque num bem-estar coletivo). Nesse sentido, o argumento de Monique Gardenberg é fortíssimo: é necessário lembrar que, à época, a questão fundiária era a grande questão social a ser discutida no país. De um modo geral, o filme apresenta algumas falhas no roteiro, mas que não prejudicam o bom encadeamento da história. “Jenipapo” merece ser redescoberto.
⭐ 3.8 / 5.0
O Caso Roswell
3.4 38Em 1947, num rancho próximo à cidade de Roswell, Novo México, foram recuperados destroços de um balão que supostamente teria vindo de fora da Terra. A Base Aérea local alegou se tratar de resquícios de um disco voador, porém, após a interferência da Força Aérea Americana, foi determinado que os destroços provinham de um balão meteorológico. A história, contudo, despertou o interesse de ufólogos e suscitou diversas teorias da conspiração. É a partir deste caso e do ponto de vista da conspiração que o filme para televisão “O Caso Roswell” se desenvolve. A defesa do ponto de vista conspiratório fica clara desde o início do filme, em que há depoimentos de pessoas que supostamente presenciaram os eventos que cercam o incidente.
No filme, situado temporalmente na década de 1970, Jesse Marcel (Kyle McLachlan) é um major que, ao longo de 30 anos conserva a amargura de ter sido calado pelo Exército ao tentar provar a verdadeira natureza dos destroços de Roswell. Durante um reencontro do pessoal de seu quartel, ele procura investigar a procedência das ordens que o fizeram calar por 30 anos, ao mesmo tempo em que ainda enfrenta a pressão de oficiais superiores.
Tratando-se de um filme para televisão e, consequentemente, de uma produção com menos recursos financeiros em relação às produções cinematográficas, “O Caso Roswell” não consegue sustentar a atmosfera de suspense e questionamento a que se propõe, sobretudo por causa da inconsistência dos recursos visuais, que não transmitem credibilidade: a presença dos seres extraterrestres, por exemplo, é quase risível. Além disso, narrativamente, a defesa do ponto de vista conspiratório é tão incisiva que o filme mais se parece com um tratado militante de ovnilogia. Mesmo as atuações, de nomes ímpares como Kyle MacLachlan e Martin Sheen, são inconsistentes devido ao mal desenvolvimento das personagens: a presença de Townsend (Sheen), por exemplo, parece nem ter razão de ser.
⭐ 2.7 / 5.0
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraInfluenciado por “Taxi Driver” (1976), “O Abutre” se parece com um noir pós-moderno que satiriza contundentemente o jornalismo hiper sensacionalista que pulula nas grandes metrópoles do mundo. Narrativamente, o filme abraça a objetividade, a secura e a ironia ao desenvolver a trajetória de Lou Bloom (Jake Gyllenhaal), um jovem aparentemente compenetrado, mas antissociável num nível que se assemelha à patologia. Desde o início do longa, Bloom nos é apresentado como uma espécie de caçador noturno, um abutre que, além de capturar bens que não lhe pertencem, também absorve conhecimentos por onde passa. No intuito de abandonar a vida de pequenos furtos que leva, ele busca incessantemente por uma área profissional capaz de suprir suas necessidades; é quando se depara com uma equipe de cinegrafistas ávidos por incidentes noturnos que possam causar furor nos noticiários televisivos das manhãs. Notívago e um tanto quanto misantropo, Lou arranja uma câmera e sai a caça de acidentes, incêndios, assassinatos e outras desgraças que possam interessar aos nightcrawlings – cinegrafistas freelances que competem pelo melhor ângulo: quanto maior a desgraça e melhor a filmagem, mais valor as emissoras atribuem à captura. Aos poucos, este ofício vai se transformando numa obsessão para Lou Bloom.
Sem recorrer a simplificações didáticas, um dos aspectos que mais valorizam o filme é a exímia atuação de Jake Gyllenhaal. O ator trabalha milimetricamente na entrega deste personagem que é uma verdadeira esponja ambulante, capaz de absorver tudo e interferir em tudo por onde passa, ainda que na maioria das vezes passe despercebido. Embora os traços da personalidade duvidosa de Lou não sejam completamente verbalizados, é através de atitudes que ele vai aos poucos se desvelando, num esforço que somente se torna possível a partir da dedicação de Gyllenhaal. Nesse sentido, o roteiro e a direção de Dan Gilroy mostram-se extremamente eficazes ao desenvolver a narrativa em torno dessa personagem, extraindo dela a maior parte do significado do filme.
⭐ 4.2 / 5.0
Resgate Abaixo de Zero
3.4 292 Assista AgoraInspirado em fatos, “Resgate Abaixo de Zero” é um filme familiar regular e despretensioso, mas que encanta e emociona devido ao protagonismo da relação entre cães e humanos. O fato (que já havia sido adaptado para a televisão japonesa), porém, diz respeito a uma expedição japonesa de 1958 à Antártida, o que, levado às telas por um estúdio estadunidense, foi transformado numa jornada norte-americana. Porém, mesmo com a inadequação histórica e geográfica, há certa graciosidade na adaptação, sobretudo no que concerne ao comportamento dos animais em cena: bem treinados, as “atuações” dos Huskies chama atenção devido à naturalidade com que se relacionam com as câmeras.
No filme, Jerry Sheperd (Paul Walker) é um guia que trabalha para uma equipe de cientistas estadunidenses baseados na Antártida. Seu trabalho consiste em, além de treinar os cães, conduzir os cientistas em trabalhos de campo nos trenós puxados pelos cães. Após uma expedição particularmente dificultada por uma nevasca sem precedentes, a base precisa ser evacuada ante a aproximação do período de intensificação do frio. Porém, há um acidente de percurso e, na pressa, os cães são deixados para trás. Profundamente afeito a eles, Jerry não medirá esforços para conduzir uma operação de resgate, ainda que não haja verba disponível e que o inverno persista. Durante este período, os cães estarão abandonados à sorte.
A direção do filme ficou por conta de Frank Marshall, mais conhecido por seu trabalho como produtor. Sem ousar muito, ele acerta em conduzir o longa com regularidade, demonstrando competência na disposição do elenco e na relação do filme com o cenário, em que predomina a paisagem gélida infinita do Polo Sul.
⭐ 3.6 / 5.0